Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apoio - Historiografia - e - Modos - de - Fazer - Historia
Apoio - Historiografia - e - Modos - de - Fazer - Historia
1
Historiografia SOMESB
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
FTC - EaD
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância
Diretor Geral ♦ Waldeck Ornelas
Diretor Acadêmico ♦ Roberto Frederico Merhy
Diretor de Tecnologia ♦ Reinaldo de Oliveira Borba
Diretor Administrativo e Financeiro ♦ André Portnoi
Gerente Acadêmico ♦ Ronaldo Costa
Gerente de Ensino ♦ Jane Freire
Gerente de Suporte Tecnológico ♦ Jean Carlo Nerone
Coord. de Softwares e Sistemas ♦ Romulo Augusto Merhy
Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦ Osmane Chaves
Coord. de Produção de Material Didático ♦ João Jacomel
♦ PRODUÇÃO ACADÊMICA ♦
Gerente de Ensino ♦ Jane Freire
Autor (a) ♦ Sandra Regina Barbosa da Silva
Supervisão ♦ Ana Paula Amorim
Coordenação de Curso ♦ Jorge Bispo
♦ PRODUÇÃO TÉCNICA ♦
Revisão Final ♦ Carlos Magno
2
Sumário
3
Os Modos de Escrever História: alguns Debates Existentes ao
Redor da História e Narrativa e as Principais Tendências 46 ○ ○
Historiografia
Atividade Orientada ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 72
Glossário ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 74
Referências Bibliográficas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 76
4
Apresentação da Disciplina
Amigo (a) aluno (a),
5
Historiografia
6
POSITIVISMO, MARXISMO E A
REVOLUÇÃO DOS ANNALES
7
Em pleno século XV nasce uma
nova historiografia. Os homens da
Historiografia Renascença, os humanistas, lançam
olhares sobre os historiadores gregos
e romanos. A consciência histórica se
afirma. Os filósofos iluministas
lançaram as bases da historiografia e
o momento da filosofia sobre a História. Nesse
momento há uma reflexão sobre o objeto da
historiografia. A ela cabe descrever de maneira global
o percurso da natureza e das sociedades humanas.
Podemos analisar o pensamento de David Hume
(1711-1776), filósofo e historiador escocês, responsável pelo fenomenismo, o qual afirma:
“História é o lugar onde a imutável natureza dos homens se cruza com a poeira dos
acontecimentos”. Vemos aí a historiografia das luzes abrindo atalhos para o século XIX.
O pensamento do século XIX não foi apenas influenciado por mudanças econômicas
e sociais, também deve ser compreendido de acordo com o momento em que se
encontravam a filosofia e a ciência. No século XVIII, Kant havia desenvolvido importantes
reflexões sobre as possibilidades e limites da razão. Neste mesmo século, diferentes linhas
filosóficas interpretaram o pensamento kantiano, entre elas encontra-se o Positivismo.
No século XIX, Comte formaliza as idéias positivistas. Quando Comte falou da
importância do conhecimento científico não estava apenas defendendo uma orientação
epistemológica, estava apresentando uma maneira de pensar e de realizar as
transformações sociais. “O pensamento positivista poderia garantir a organização racional
da sociedade”, dizia ele. O pensamento de Comte apresenta as seguintes preocupações
fundamentais: uma filosofia da história na qual encontram-se as bases de sua filosofia
positivista e as três fases da evolução do pensamento humano: o teológico, o metafísico e
o positivo. Após passar pelos três estágios históricos, no estágio científico abandona-se a
referência às causas últimas, ou seja, às não-observáveis.
O século XIX foi influenciado pela Revolução Francesa, pelo triunfo da burguesia,
pela consolidação dos Estados Nacionais e pela Revolução Industrial. O liberalismo e a
ideologia liberal tentaram justificar a revolução antimonárquica e pró-burguesia. Como
historiadores desta corrente, temos François Guizot (1787-1874) e Augusto Thierry
(1795-1856), que explicaram os fatos históricos em função da visão burguesa. Eram
formadores de ideais historiográficos liberais.
O filósofo e matemático francês, Auguste Comte, (1798-1857) criador do
Positivismo, vê na historiografia a necessidade de dotar a História de método científico,
técnico e objetivo. Sabemos que a História se faz a partir de documentos, e o historiador
não deve somente interpretá-los, mas analisá-los, colocá-los em ordem para melhor
compreensão, já que a História, em sentido geral, pode ser considerada “Ciência em
Construção”, uma vez que a conquista de seu método científico ainda não é completa.
Na concepção positivista, a história é submetida à metodologia das ciências exatas
e biológicas. Das atitudes intelectuais derivadas ou próximas do ideal positivista das ciências
sociais, nascem as teorias científicas do racismo e do preconceito social, como as que
conseguem encontrar relações entre a medida do crânio e a delinqüência de negros e
mulatos, ou mesmo de algumas etnias caucasianas. É também o caso do darwinismo social.
8
Ou então a obra de Alfredo Ellis Jr., em que a superioridade racial do paulista é dada pela
ausência do elemento negro nos séculos iniciais e a influência das variações climáticas do
planalto sobre a “Raça de Gigantes”. Ou ainda, como já foi colocado acima, os determinismos
geográficos que explicam formações econômicas e sociais inteiras e, principalmente, o
“caráter nacional” – pelas determinações do clima e/ ou do relevo.
a) os eventos políticos;
b) administrativos;
c) diplomáticos;
d) religiosos;
9
que uma vez reconstituído, “fala por si”, a não se que aparecessem novos
documentos que alterassem a sua descrição. A esse historiador não competiria
o trabalho de problematizar, de construir hipóteses, de reler os fatos, ou seja,
Historiografia a interpretação.
O materialismo histórico é outra
corrente da historiografia que surge com
o socialismo e se desenvolve com a
filosofia de Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895).
No século XIX, o proletariado toma consciência
como classe social e os historiadores a interpretaram,
colocando-a no centro de seu modelo. A História
econômica nasce com a economia política burguesa,
junto ao capitalismo e à Revolução Industrial.
Para Karl Marx, a finalidade da História não é
apenas interpretar os fatos, mas transformar a sociedade, já que para ele a História é a
transformação da natureza humana. É na sociedade que se faz a história, com a finalidade
de dar respostas a problemas concretos. A História deve centrar-se nas análises dos modos
de produção existentes em cada etapa do desenvolvimento. Marx introduz conceitos básicos,
entre eles, o conflito humano ou lutas de classes, que é resultante das desigualdades
econômicas. O ponto chave das desigualdades é a sociedade industrial moderna, juntamente
com o modo, a forma ideológica de manipular as idéias para que o povo não perceba o
vínculo entre poder econômico e poder político e sua influência na qualidade de vida de
todos (alienação política e cultural). Não há dúvida que a ideologia marxista influenciou
sobremaneira a historiografia. (REIS, 2004).
Sobre o marxismo falaremos mais adiante.
a) apego ao documento
b) esforço obsessivo em separar o falso do
verdadeiro
c) medo de se enganar sobre as fontes
d) a falta de interpretação
e) o culto do fato histórico que é dado “bruto” nos
documentos
10
em si, brutos, e não poderiam ser recortados e construídos, mas, sim, apanhados em sua
integridade, para se atingir a sua verdade objetiva, ou seja, eles deverão aparecer “tais
como são”. Significa dizer que o historiador deve manter-se isento, imparcial,
emocionalmente frio e não se deixar condicionar pelo seu ambiente sócio-político-cultural
(contexto). Já adiantando o próximo assunto (marxismo), na historiografia marxista, a
produção do conhecimento é fruto de um contexto social do qual carrega seus pressupostos.
Dessa forma, para o materialismo histórico-dialético (marxismo) não existe verdade
única em História, porque a mesma é resultante da postura do sujeito. O historiador deveria
refletir/interpretar sobre e os fatos, tomando, assim, uma posição, e produzindo um
conhecimento, embora parcial. Essa postura do historiador, para alguns, teria criado
problemas ao caráter “científico” da história marxista.
No Positivismo, portanto, o conhecimento é visto como reflexo do objeto. Aquele que
conhece – o sujeito – se apresenta imune a paixões ou outro qualquer sentimento e convive
com uma separação em relação àquele que é conhecido – o objeto. Nesta concepção a
história, enquanto objeto de estudo, é considerada como uma estrutura já dada, de fatores
cujo conhecimento dependa apenas de descobrir e colecionar um grande número de
acontecimentos com base em documentos confiáveis.
Nesse modelo, baseado no Positivismo, o sujeito (historiador) reduz-se a captar o
que ele, passiva, objetiva e acriticamente observa, sem emoção, sem interferência, e,
conforme dito, sem paixão. Dessa forma, uma história científica, produzida por um sujeito
que se neutraliza enquanto sujeito para fazer aparecer o seu objeto. Os historiadores
seguidores da filosofia Positivista acreditavam que, se adotassem uma atitude de
distanciamento de seu objeto, sem manter relações de interdependência, obteriam um
conhecimento histórico objetivo, um reflexo fiel dos fatos do passado, puro de toda distorção
e subjetividade.
Dito de outra maneira, o sujeito, no processo de conhecimento, na perspectiva
positivista, busca uma postura de neutralidade e os documentos históricos são julgados
como objetos neutros pelo pesquisador. Imagina-se que o sujeito/historiador não interfere
com sua postura teórica na pesquisa por ele desenvolvida. Considera-se, assim que os
resultados obtidos com ela sejam neutros e imparciais.
O resultado disso é que a sociedade, ao ser analisada do ponto de vista positivista,
é perfeitamente enquadrada num princípio lógico de identidade que busca a ordem, o
consenso, a estabilidade e a funcionalidade social: a proclamada “Ordem e Progresso”. Na
concepção positivista, os historiadores e pesquisadores produzem a História como
conhecimento, e o professor a repassa para o aluno. O sujeito da História é sempre o ‘herói”,
o governante, aquele que se destaca na sociedade de classes. O homem comum não
participa da construção do processo histórico, apenas os grandes heróis produziram os
grandes feitos. (REIS, 2004).
O positivismo busca justificar e consolidar a ordem social liberal-burguesa, uma ordem
fortemente marcada pela luta de classes e pelas contradições sociais criadas pelo
capitalismo. É principalmente nos setores econômico, político ou nos científicos, que a
concepção positivista sustenta essa idéia de ordem e progresso.
Nesse modelo de história, o historiador quer ver os “fatos” e não a sua própria idéia
deles; melhor dizendo, somente escreve e pensa segundo os documentos, negando assim
a especulação e a interpretação. O conhecimento “verdadeiro”, o da objetividade “absoluta”,
conquistada pela imparcialidade, pela ausência de paixões ou de quaisquer a priori e pela
extração do fato “em si”, contido nos documentos conceitue os principais elementos da
historiografia positivista. O historiador reconstituiria o fato descritivamente, “tal como se
passou”, e não caberia ao historiador, a problematização, a construção de hipóteses, a
releitura dos fatos.
11
Para Thompson, um dos mais significativos representantes de um
marxismo não-ortodoxo – e que nisso expressa também o pensamento de
outras linhas não comprometidas com o positivismo ou com o tradicionalismo
Historiografia – as evidências só podem informar (e significar) a partir de nossas perguntas,
apesar de terem o poder de limitar todas as teorias, anulando a validade das
que forem de encontro às mencionadas evidências. Os significados não são
revelados pela evidência, portanto, mas pela interrogação de mentes atentas
e desconfiadas, treinadas na articulação da “lógica histórica”, ou seja, no
manejo adequado das evidências e as teorias na composição de um discurso explicativo
coerente em que não haja predominância de nenhuma das duas.
12
de cima, ou é a história de seus descendentes nos países conquistados. É uma história de
conquistadores, para os quais a própria ciência da história é uma arma de dominação.
Romântica, a história tradicional procura a sua lógica na ação dos indivíduos: os grandes
homens são, a exemplo de Jesus Cristo (o grande divisor de águas da história), redentores
de seus grupos. Não é tão diferente na doutrina positivista (excetuando-se a sua reserva
quanto à importância dos grandes homens), para a qual a transformação da sociedade, da
desordem para a ordem, parte da conversão pessoal e do convencimento cognitivo de
cada um, desprezando-se as diferenciações de classe.
Positivismo e educação
13
teve uma presença marcante. A valorização da ciência como forma de
conhecimento objetivo, passível de verificação rigorosa por meio da
observação e da experimentação, foi importante para a fundamentação da
Historiografia escola tecnicista no Brasil. Para esta escola o elemento primordial é a
tecnologia.
Na escola tecnicista, professores e alunos ocupam papel secundário
dando lugar à organização racional dos meios. Professores e alunos relegados
à condição de executores de um processo cuja concepção, planejamento,
coordenação e controle, ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros,
objetivos, imparciais (SAVIANI, 1993, p.24). Portanto, pode-se perceber pelas palavras de
Saviani que neutralidade e objetividade são típicas do positivismo.
O Positivismo como doutrina sobre a sociedade e sobre as normas necessárias
para reformar a sociedade foi um movimento que dominou uma parte significativa da cultura
européia tanto no âmbito filosófico, historiográfico como político e pedagógico. A
necessidade expressa por Comte de se estabelecer uma relação fundamental entre a ciência
e a técnica concretizou-se de maneira significativa por gerações.
Na educação houve contribuições significativas no campo do planejamento escolar,
uso da tecnologia, ensino profissionalizante e aplicação do conhecimento científico. Por
outro lado, uma concepção puramente profissionalizante pode afetar o talento intelectual do
aluno. Segundo PAVIANNI, 1991, “a concepção profissionalista dos cursos universitários é
o principal entrave à existência de uma verdadeira formação universitária que tem a função
de desenvolver a versatilidade intelectual da pessoa, de criar homens de mentalidade e
sensíveis às necessidades dos outros homens de seu tempo” (PAVIANNI, 1991, p.53).
A educação, influenciada pelos ideais positivistas, carece de incentivo ao
desenvolvimento do pensamento crítico. A educação tecnicista apoiada nos ideais positivistas
não deve reduzir-se apenas ao ensino técnico, mas deve preocupar-se também em buscar
a razão do próprio procedimento técnico. Aceitar a ciência como o único conhecimento,
como queria o positivismo, é algo reducionista que perde uma considerável parcela de
conhecimento que não estão no dado; fica prejudicada tanto a criação como a dedução. A
história positivista, influenciada por Ranke, tende a projetar no Ensino de História o papel
de formador de um cidadão cívico, enquanto os segmentos afinados com a idéia de conflito
social, desigualdade social, etc., presentes em um amplo espectro marxista, desde Althusser
até Thompson, vêem no ensino de história uma possibilidade de gestação de um senso
crítico, isto é, de um cidadão revolucionário. Na educação cívica, os fatos históricos e os
grandes homens são cuidadosamente reconstituídos para a instrução da juventude. Faz-se
uma “história comemorativa”, que legitima os rituais cívicos, realizados nas datas (dia e
mês) que coincidem com as do evento passado, quando os grandes heróis produziram os
seus grandes feitos. (REIS, 2004)
O positivismo, ao buscar as regularidades da vida social, encarando-as como se
fossem naturais, universais e, portanto, não históricas (a-históricas), sob a ótica da
neutralidade, supõe uma ciência, uma concepção e um conhecimento descomprometidos.
A abordagem positivista implica uma metodologia fundamentada na aula expositiva onde
os alunos são ouvintes passivos e contemplativos. O sujeito da aprendizagem é um
receptáculo que deve registrar os conteúdos transmitidos pelo professor e reproduzi-los
posteriormente de modo o mais fiel possível.
Os conteúdos são apresentados como fatos prontos e acabados não passíveis de
uma reflexão e interpretação por parte dos alunos. O conteúdo escolhido se refere à história
factual e seqüencial. Subjacente a essa escolha seqüencial está o pressuposto de que só
se entende o presente a partir dos fatos passados. Os trabalhados escolares na perspectiva
positivista se referem, principalmente, a temas de conciliação, integração, consenso,
14
cordialidade e não violência, ou seja, os temas relacionam-se com a “Ordem”, pregada
pelo Positivismo. Os temas que deixam aflorar a contradição, o conflito, as tensões e
violências tendem a ser minimizados ou eliminados dos conteúdos apresentados em classe.
Várias análises dos livros didáticos atestam que o conteúdo se refere a uma história abstrata,
alienante e ideológica que expressa o interesse de classe dos grupos dominantes.
15
a) as classes sociais, cuja luta constitui a própria trama da história, não se
define pela capacidade de consumo e pela renda e sim pela sua situação no
processo produtivo (uma concepção de história que tem como base o
desenvolvimento do processo real da produção, concretamente a produção
Historiografia da vida material imediata);
b) a correspondência entre forças produtivas e relações de produção,
constituindo o principal objeto da história-ciência, ligada ao conceito de “modo
de produção” e “formação social” (concebe a forma das relações humanas
ligadas a este modo de produção e por ele engendrada, isto é, a sociedade civil
nos seus diferentes estágios, como sendo o fundamento de toda sua história);
c) a produtividade é a condição necessária da transformação histórica (se as
forças produtivas não se modificam, a capacidade de criação da vida humana
se imobiliza, e se elas se modificam tudo se move); (REIS, 2004)
16
O marxismo, enquanto concepção de história esteve, especialmente a partir da
hegemonização política da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no Leste Europeu,
submetido a uma leitura reducionista que impunha, à referida concepção, a responsabilidade
pela versão dos debatidos “estágios do desenvolvimento histórico”. No Manifesto Comunista
pode ser visto uma concepção evolutiva e continuísta da história, na qual o modo de produção
capitalista é o resultado da sucessão dos modos de produção anteriores, por exemplo, o
escravista. O próximo modo de produção, para Marx, traria a superação, exclusão da luta
entre os homens, ou seja, não teria como motor a luta de classes: seria o modo de produção
socialista e este evoluiria para o comunismo, o qual na visão marxista seria o modelo de
sociedade justa, livre e comunitária.
Segundo esta versão o pensamento marxista se assentaria exclusivamente no
conceito de “Modo de Produção”. Um dos responsáveis por esta versão seria o ditador
Stálin, que com a publicação, em 1938, do texto Sobre o Materialismo Histórico e o
Materialismo Dialético, teria aberto caminho para uma versão sobre a concepção marxista
da história que transformou-se – pelo emprego do esquema unilinear das cinco etapas –
em uma vulgar filosofia da história, uma entidade metafísica que determinava, do exterior ,
o curso do devir histórico, não restando outro remédio aos dados concretos, salvo entrarem,
bem ou mal, no dito esquema. A pesquisa histórica passava a ser ‘ilustração’ das ‘verdades’
consagradas. (CARDOSO, 1979, p.71).
No sentido de contribuir para esta discussão epistemológica cuja importância
acadêmica é indiscutível, é conveniente, mais uma vez, dar voz a Marx, a fim de que ele,
pessoalmente, defina “modo de produção”:
Com o início das críticas ao Stalinismo, a partir dos anos 50, conceitos como o de
Modo de Produção, começaram a ser rediscutidos. Houve também, a partir daí, uma
significativa troca de influências do marxismo com historiadores ocidentais em congressos
internacionais de história. Destacaram-se, nesta fase, nomes como os de Witold Kula, na
Polônia; Pierre Vilar, Charles Parain, J. Bouvier e Albert Soboul, na França; Eric Hobsbawm,
Maurice Dobb, Cristopher Hill e R. Hilton, na Inglaterra; E.Sereni, na Itália, K. Takahashi, no
Japão, etc.
Do mesmo modo, nomes como os de Louis Althusser, Antonio Gramsci, George
Lukács, Walter Benjamim, Agnes Heller, dentre outros, representaram etapas importantes
da trajetória do pensamento marxista. Louis Althusser, de acordo com Flamarion,
concretamente não contribuiu para a História, enquanto ciência, pois desconhecia a natureza
do trabalho do historiador. Apesar disto tem seu mérito no fato de concentrar-se em temas
fundamentais na epistemologia marxista, antes postos de lado. (CARDOSO, 1979, p.80)
O conjunto das obras de Antonio Gramsci, por sua vez, representam um momento de
revisão e questionamentos em relação ao marxismo. Gramsci reestuda e introduz conceitos
como os de Estado, hegemonia, teoria política nas sociedades industrializadas do ocidente
moderno, cultura, acumulação política em processos de longo curso, todos fundamentais
para uma teoria de história, do ponto de vista marxista. O objetivo de Gramsci apontava
17
para uma crítica ao economicismo, reduzindo o papel não apenas da
‘consciência de classe’, como da própria luta de classes.
A concepção materialista da história, portanto, pressupõe em primeiro
Historiografia lugar que a experiência é o eixo central da história, enquanto, ao mesmo tempo,
concebe uma identidade fechada e coletiva: os humanos experimentariam o
mundo através da classe social a que pertencem.
Enquanto “ciência” da história o marxismo, dá ênfase nas “contradições”
e prioriza o estudo dos “conflitos sociais”. De acordo com Hobsbawm, 1982,
esta seria a contribuição mais original de Marx para a historiografia, uma vez que as teorias
anteriores (principalmente o positivismo) davam prioridade a harmonia, unidade, entre as
diversas esferas sociais, ou melhor, entre as classes sociais.
Questão 1 [ ]
Agora é hora de
TRABALHAR
18
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Questão 2
Após a leitura do trecho abaixo de Durval Muniz Albuquerque acerca da “imaginação
histórica”, redija algumas considerações sobre a problemática apresentada.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
19
A REVOLUÇÃO PROPOSTA PELOS
Historiografia ANNALES
20
A HISTORIOGRAFIA NO SÉCULO XX: A REVOLUÇÃO DOS
ANNALES
Novos Objetos
21
Os fundadores criadores da chamada Escola dos Annales, Lucien
Febvre e Marc Bloch, lideraram, na França, o movimento da La nouvelle
Historiografia histoire ou “Nova História”, possuíam uma nova visão da disciplina história, os
quais consideravam que a “história-ciência” ainda em construção tinha como
características:
E mais, a narrativa foi minimizada em função do rigor científico.
Uma característica marcante do estudo de Lucien Febvre era a
introdução geográfica, um perfil da região estudada. Posteriormente, Braudel retomará a
ênfase no geográfico no seu famoso livro sobre o Mediterrâneo.
Essa abertura e ampliação do campo dos objetos, das fontes e técnicas históricas,
estão associadas à inovadora proposta teórica da história-problema. Se para Langlois e
Seignobos “sem documentos não há história”, para os Annales, “sem problema não há
história”.
Dito de outra maneira é o problema e não a documentação que está na origem da
pesquisa, isto é, sem um sujeito que pesquisa, sem o historiador que procura respostas
para questões bem formuladas, não há documentação e não há história.
É o problema posto que dará a direção para o acesso e construção do corpus
necessário à verificação das hispóteses que ele terá suscitado. Melhor dizendo, a história-
problema devolve ao historiador a liberdade na exploração do material empírico. O fato
histórico não está presente “bruto” na documentação. O historiador não é um colecionador
e empilhador de fatos. Ele é um construtor, recortador, leitor e intérprete de processos
históricos Portanto, a grande renovação teórica propiciada pela reconstrução do tempo
histórico pelos Annales foi a história-problema. Ela veio se opor ao caráter narrativo da
história tradicional. Veio reconhecer a impossibilidade de se “narrar os fatos tal como se
passaram”. Que não há história sem teoria. A pesquisa histórica é a verificação de respostas-
hipóteses possíveis a problemas postos no início.
1. documentos
2. construção das séries de eventos relevantes para a construção das hipóteses
22
Rompendo com a narração, a história tornou-se uma empresa teórica, seguindo o
caminho de toda a ciência põe problemas e levanta hipóteses e demonstra-as com uma
documentação bem criticada e com uma argumentação conceitual rigorosa.
Essa nova história reabre o passado, em vez de reconstituí-lo definitivamente. Ela
retoma-o, remaneja-o, rediscute-o, estimulada pelas experiências do presente, que é sempre
novo e exige a reabertura constante do passado.
A história conduzida por problemas e hipóteses fez o historiador mudar de posição e
de disposição: se antes ele era proibido, em tese, de aparecer na pesquisa, o que é
impossível de ser cumprido, agora, ele é obrigado a “aparecer” e a explicitar a sua estrutura
teórica, documental e técnica e o seu lugar social e institucional. Atingindo algum grau de
“intersubjetividade”.
A comunidade de historiadores é capaz de acompanhar e controlar as pesquisas
históricas, pois foi posta a par dos pressupostos, dos documentos e seus meios de
processamento, sabe o que o pesquisador quis demonstrar e onde ele pode chegar.
1. Não sendo mais movida pelo fim, mas articulação de permanências e mudança, a história é
mais representada como um progresso. A pesquisa histórica conduzida por problemas
é uma “reconstrução temporal”, que polemiza com o passado-presente, mas não chega a
“reconstruí-los”, tal como se passaram. O conhecimento histórico constrói e tematiza o seu
objeto, formula problemas e hipóteses, sob a influência do presente, se referir a valores
teleológicos.
2. Há uma outra periodização – ela é agora temática e definida pelo problema a ser tratado.
As periodizações demográfica, econômica, social, lingüística e antropológica não são grandes
cortes na história da humanidade, mas uma flutuação cíclica no interior de uma estrutura.
3. Há uma outra relação passado-presente – são diferentes que dialogam reciprocamente.
O presente não continua e nem é superior ao passado, é “outro”. O método retrospectivo não
leva o historiador à busca das “origens”. Este vai do presente ao passado e retorna do
passado ao presente.
23
escrita como uma reação deliberada contra o ‘paradigma’ tradicional, [...] que
será conveniente descrever como ‘História rankeana’ [...]”.
Fazendo aqui uma breve recapitulação, a historiografia tradicional ou
Historiografia positivista refere-se essencialmente à política, adota a narrativa como forma
de transmissão de conhecimento, e interessa-se principalmente pelos feitos
dos “grandes homens”, utiliza como fontes os documentos emanados do
governo e preservados em arquivos, condicionando as explicações a uma
relação mecânica de causa e efeito, conforme Ranke, “como eles realmente
aconteceram”. Em oposição, a Nova História interessa-se praticamente por toda atividade
humana, preocupando-se com as pessoas comuns e com as mentalidades coletivas,
substituindo ou complementando a narrativa com a análise das estruturas. Sobre as fontes,
a Nova História, considera todo tipo de vestígio deixado pelo homem, além de criticar as
fontes oficiais, as quais expressam o ponto de vista oficial.
24
sintéticas, com grande ênfase nos aspectos sócio-econômico, relacionadas ao meio
geográfico.
Nessa fase também abre um campo de objetos, fortemente ligados a demografias e
“civilizações”, porém com a permanência dos temas econômicos-socais. Temos como
exemplo o livro de Braudel, Gramática das Civilizações.
Ainda Reis, 2004, nos apresenta alguns temas desta fase: as moedas e a civilização;
a miséria e o banditismo; as reflexões sobre o equilíbrio demográfico; a educação nazista;
as migrações; a Idade Média e a história estatística; a França rural; os movimentos de
preços e salários; os milagres no Brasil (notem que este tema muito vinculado à terceira
geração); o Islã e a África do Norte; a América pré-colombiana, etc.
O tema político voltou, devido ao seu crescimento e papel nas sociedades modernas;
porém, modificado em “política econômica”, “política demográfica”, ou “política cultural”. Esta
história política, não está ligada aos grandes indivíduos e ao Estado, agora, representada
em setores da sociedade, sindicatos, são as “micropolíticas”. Temos como exemplo os
estudos de Michel Foucault sobre os “micro-poderes”, o poder da história política não se
25
encontra em único espaço: o Estado. E sim distribuído em uma rede de micro-
poderes, ou seja, a luta pelo poder no interior da família, da escola, das fábricas.
Juntamente com Georgs Duby, Le Goff foi um dos mais destacados
Historiografia historiadores das mentalidades. Sua contribuição veio com a história do
“imaginário medieval” com a obra La naissance du Purgatoire (O nascimento
do Purgatório), refere-se às mudanças das representações da vida depois
da morte. Em relação a Duby, renomado historiador social e econômico da
França Medieval, era inspirado na teoria social neomarxista, ligou-se a história
das ideologias, da representação cultural e também do imaginário social. Seu importante
livro foi Les trois ordres (As três ordens), no qual investigou “as relações entre o mental e o
material no decorrer da mudança social”, Duby abordou a sociedade medieval dividida em
três grupos: padres, cavaleiros e camponeses, ou seja, os que rezam os que guerreiam e
os que trabalham.
Também vinculado a esta terceira geração, Michel Vovelle, um historiador estudioso
do século XVIII, especificamente da Revolução Francesa, como fez Duby, buscou fundir a
história das mentalidades coletivas com ideologia do tipo marxista. Vovelle teve interesse
pela “descristianização”, as atitudes diante da morte e do além, que estavam reveladas nos
testamentos. Por exemplo, em sua tese sobre a Provença, pesquisou cerca de 30.000
testamentos a procura de evidências sobre a proteção dos padroeiros, número de missas
encomendadas para salvação da alma, arranjos para os funerais, assim como o peso das
velas acendidas durante o funeral. (BURKE, 1997).
26
as barreiras socioculturais que separavam os homens da montanha dos da planície. (BURKE,
1997).
O historiador francês Fernand Braudel dividiu em três momentos diversos o tempo
histórico:
Para Braudel, todas as “estruturas” estão sujeitas a mudanças, mesmo que lentas.
Seus temas ultrapassam a história tradicional econômica (agricultura, comércio, indústria)
e enfatiza “a vida diária”, o povo a as “coisas que a humanidade produz ou consome”,
alimentos, vestuários, habitação, ferramentas, moedas. Assim, aparecem os conceitos de
“vida diária” e “civilização material”, este último conceito ligado ao seu outro livro Civilização
material e capitalismo.
A partir destes pressupostos, do novo olhar, do desprezo nos fatos e ênfase nos
problemas, houve a possibilidade da ampliação da noção de fonte, trazendo informações
acerca do cotidiano, da civilização material, das crenças, de tudo aquilo que compõe a
cultura, a política, a economia, de uma determinada sociedade num dado tempo.
27
Para refletir...
· O que vocês acham
Historiografia dessas definições da história?
· Vocês definem história
para seus alunos? Como?
· Em busca de uma
interdisciplinaridade para a
história.
A I-N-T-E-R-D-I-S-C-I-P-L-I-N-A-R-I-D-A-D-E
28
a) multiplicação de pesquisa particulares e
localizadas
b) a história fragmentou-se em infinitas
histórias, bem distante da tão anunciada pelo Annales,
visão global do homem social.
Do que foi exposto até aqui, vocês poderão se questionar, qual era o modelo proposto por
esses historiadores “revolucionários”? Vamos em frente...
29
Atenção!
Historiografia
Não deixem de ler o texto “A trajetória da
Escola dos Annales” no link www.2.uol.com.br/
cultvox/novos/novos_artigos/
trajetória_annales.pdf
1. psicológicos
2. orais
3. estatísticos
4. musicais
5. literários
6. poéticos
7. religiosos
30
Como se deve manusear adequadamente as fontes históricas?
Vejam alguns exemplos de fontes:
31
Historiografia
Burke ainda acrescenta que depois do movimento dos Annales, a historiografia nunca
mais foi a mesma.
Entretanto, Reis (2000) considera que a grande mudança produzida pelos Annales
foi a nova representação do tempo, exigida pela prática da interdisciplinaridade. (Braudel,
Escritos sobre a História, 1978).
As ciências sociais opõem-se à visão da história como a construção linear e acelerada
do futuro. Contra a abordagem teleológica, as ciências sociais preferirão uma “abordagem
estrutural” do tempo histórico.
32
2. A representação do tempo histórico é condição subjetiva do historiador e da sua sociedade,
sobre a qual todas as experiências se tornam inteligíveis.
3. O tempo histórico enquanto tal é uma abstração. Ele só existe em relação a uma época
histórica determinada e a uma construção simbólica determinada.
4. Não se tem o “tempo histórico enquanto tal”, mas um “tempo histórico do qual se fala”.
5. O tempo histórico se dá a uma representação histórica.
33
história política. Em terceiro lugar, visando completar os dois primeiros objetivos, a
colaboração com outras disciplinas, tais como a Geografia, a sociologia, a psicologia,
a economia, a linguística, a antropologia social, e tantas outras.”. (BURKE, 1997.
p.11-12)
Historiografia
Vimos que sob a proclamação de que “a história é filha de seu tempo”
e defendendoa necessidade de “uma história mais abrangente e totalizante”,
os franceses Marc Bloch e Lucien Febvre lideraram a fundação da revista
Annales, a qual terminou por promover uma verdadeira revolução no fazer
historiográfico, resultando no aparecimento de uma outra concepção de história: a História
Nova. É certo que o termo História Nova é problemático, na medida em que ignora as
contribuições dos antecessores de Bloch e Febvre e, principalmente, porque propõe uma
unidade que não existe. Como já foi apontado, sob o guarda-chuva da Nova História são
enquadradas e igualadas propostas historiográficas não apenas diferentes como conflitantes,
do que são exemplos os postulados de Le Goff e Vovelle sobre mentalidades ou, mesmo,
os modelos de História Cultural de Thompson e Foucault. Os conflitos e as desavenças
entre historiadores da escola marxista ortodoxa e os herdeiros da Escola dos Annales –
ainda que entre estes estejam marxistas da estirpe de Michel Vovelle – têm obscurecido e
prejudicado o debate historiográfico.
É comum associar-se a herança historiográfica de Bloch e Febvre à História das
Mentalidades e/ou à História do Cotidiano, entretanto é mais correto considerar que é
bastante vasto o campo abarcado hoje pela renovação historiográfica que se iniciou nos
anos trinta. Normalmente estas novas correntes são, todas, enquadradas no grande ícone
“História Cultural” ou, quando muito, “História Sócio-Cultural”.
Observamos anteriormente que a terceira geração dos Annales – década de 60 a 80
– se consentram os estudos nos hábitos, costumes, crenças, rituais, bem como do amor, do
sexo, do casamento, da magia, da religião, da morte. Esse é um momento de preocupação
com a história que mudava lentamente, e é a essa geração que ficou denominado Nouvelle
Histoire, (Nova História) apesar de a idéia de uma história renovada já estar presente nos
textos-manifestos dos primeiros momentos da revista, ainda no tempo de Bloch e Febvre.
Franceses como Jacques Le Goff, George Duby, Jean-Louis Fladrim, Philippe Ariés
traduzem nas suas obras a preocupação latente com uma historiografia do cotidiano, com
uma história das mentalidades. Esse quadro de renovação não se limita à França. Na
Inglaterra outros autores como E. P. Thompson, Christopher Hill, Eric Hobsbawm procuraram
pontos de ligação entre a antropologia e categorias marxistas, assim como na tradição
socialista de uma história dos movimentos sociais. (SOUZA, 1986).
É dessa forma que o estudo do cotidiano e das mentalidades vai ganhando o estatuto
da análise das ações humanas enquanto repetição, manutenção e entraves, muitas vezes
de transformações mais radicais das sociedades, o cidadão comum, independentemente
de raça, credo ou condição econômica, passa a ser visto como um agente histórico.
Contemporaneamente o ensino da História, articulado a estas inovações teóricas,
convive com a possibilidade de trazer para o ambiente da sala de aula novas temáticas,
como a história da infância, a família, as “minorias”, a festa, a moda, a culinária, o cotidiano
e as “mentalidades coletivas”. O mercado editorial, também acompanhando estas mudanças,
tem oferecido livros didáticos que já contemplam estas novas temáticas. Para esta pesquisa,
o desafio de articular práticas pedagógicas a estas novas referências esteve vinculado ao
papel que as referências pós-estruturalistas reservam para o ensino de história:
Estes assuntos poderão ser estudados de maneira mais aprofundada, no Tema 4.
Resumidamente, Marc Bloch clamava por uma história-problema, profunda e total.
Esta história seria alcançada pela formulação de perguntas pertinentes por parte do
34
pesquisador, a partir das quais ele questionaria o passado, através da aliança com as
ciências sociais.
Considere-se que a intenção de abordar aspectos relativos à vida dos homens em
sociedade, que transcendem a esfera política e exige métodos e técnicas de investigação
e análise dos quais a história absolutamente não dispunha, tornando portanto fundamental
essa “aliança a serviço da história”, com o intuito de incorporar metodologias compatíveis
para investigar novos temas e objetos.
Lembramos que uma das principais contribuições dos Annales assim como da Nova
História foi a INTERDISCIPLINARIDADE
A primeira fase dos Annales que se inicia em 1929 mostrou um certo domínio de
diálogo com a Sociologia. No segundo momento, período Braudel, a aproximação maior foi
com a Economia. E no terceiro momento os diálogos foram com a Antropologia.
A Antropologia e a Histórica, uma das principais junções interdisciplinares da nova
escrita da história.
Por exemplo, Cliford Geertz com a sua “descrição densa” no livro “A Interpretação
das Culturas”. Analisa-se um microfenômeno, um ritual, uma obra, um evento buscando
características que definem a sociedade da qual estão inseridos via mediação dos
significados da cultura. Um método parecido com o da etnografia.
Esta história está inserida na “Nova História Cultural”, sucesso nos EUA e destaque
para os historiadores Natalie Zenon Davies e Robert Darnton. Metodologicamente estes
historiadores fazem uma aproximação entre a história e a antropologia, mas também refletem
uma reação contra a velha histórica política que não dava espaço ao povo, assim como a
história de alguns historiadores dos Annales que privilegiava as dimensões econômicas,
demográficas e sociais em detrimento da cultura.
Altera-se também a noção de temporalidade, com ênfase na longa duração, ou no
tempo longo, na sucessão sem mudança.
José Carlos Reis, 2000, considera que Bloch foi o primeiro dos “novos historiadores”
a ter inserido a dimensão da permanência na história e a romper com a noção de tempo
histórico tradicional, na qual o fato, o acontecimento imediato ocupa lugar central.
35
O tempo “quase imóvel” das estruturas, que ocupa posição de destaque
em suas obras. Ainda que não exclua o evento situando-o em um nível de
menor importância.
Historiografia A década de 1960 foi marcada por vários conflitos sociais, e segmentos
como
O conhecimento histórico
produzido nesse período enfatiza a
interdisciplinariedade, porém não propicia
uma história total e globalizante,
defendida pelas gerações anteriores, e
sim uma história fragmentada, cuja crítica
está no livro de François Dosse “História
em Migalhas”.
Peter Burke (1997) e em artigo intitulado “Gilberto Freyre a Nova História” afirma que
Freyre antecipa a “Nova História”, ao passo que já nos anos 30 ele “trabalha com tópicos
como a família, sexualidade, infância e cultura material (alimentação, vestimenta e
habitação)”. (Revista Tempo Social, 1997). Esta antropologia histórica de Gilberto Freyre e
seu interesse pelas mentalidades foram reconhecidas por Braudel quando descobriram a
obra e Freyre “Casa Grande e Senzala”, no fim dos anos 30.
O interesse por acontecimentos imediatos, assim como por personagens individuais,
reaparece, além da preocupação com o aspecto literário da escrita da história. Dessa forma
questões como totalidade social, globalidade, recorte territorial, longa duração, ênfase na
perspectiva social, são progressivamente abandonadas dando espaço para novas
concepções.
É o retorno da narrativa história...
Sites
Vejam o artigo sobre interdisciplinaridade nos links:
www.netflash.com.br/pessoais/cleal/complexidade.html.
www.crmariocovas.sp.gov.br/itd_l.php?t+001
36
Questão 1
[ ]
Agora é hora de
TRABALHAR
Questão 2
A busca do historiador em atravessar as fronteiras das Ciências Sociais, porém
correndo o risco de se perder enquanto disciplina específica. Reflita.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Questão 3
Caro aluno, com base nos textos mencionados acima, responda com base nas suas
práticas atuais na disciplina de história. Veja se você está enquadrado no perfil
TRADICIONAL ou da NOVA HISTÓRIA?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
37
A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
Historiografia
E A HISTORIOGRAFIA
BRASILEIRA
A Escola dos Annales quebrou de uma vez por todas a visão tradicional ao chamar
para si outros eixos históricos: dados econômicos, estatísticas, modelos sociológicos, como
nunca havia sido feito anteriormente. Na verdade, os Annales se reivindicaram e se
posicionaram como a verdadeira Ciência Humana, na medida em que congregaram métodos
e experiências de todas as disciplinas da área:
Atenção!
Para Peter Burke, é possível que fosse mais
correto falar de “movimento” dos Annales em vez
de “escola”.
38
ABERTURA DE NOVAS POSSIBILIDADES DE FONTES, NOVOS
OBJETOS, NOVOS PROBLEMAS, NOVAS ABORDAGENS
Veremos a seguir com a História Nova a utilização, por parte dos historiadores, além
dos documentos escritos fartamente utilizados, o uso de produtos de escavações
arqueológicas, documentos orais (depoimentos).
Vocês estudaram também que Braudel, a frente da “segunda geração dos Annales”,
rejeitou e desprezou o conceito de uma história regionalista e minúscula. Amplia essa visão
ao considerar a História como o conhecimento dos grandes movimentos humanos ao longo
de enormes períodos de tempo e, dessa forma, fazendo com que as mudanças abruptas e
repentinas, as revoluções que constantemente criariam novos mundos, praticamente
desapareçam. Um movimento, lento, largo, abrangente. É a História de Longa Duração.
Entendendo assim, tudo é possível nessa História, com:
a) todos os dados disponíveis (FONTES/EVIDÊNCIAS).
b) todas as ciências conhecidas (INTERDISPLINARIDADE).
c) todos os países do mundo. (HISTÓRIA TOTAL)
A História Nova
39
Alguns problemas da História Nova
41
O que era previamente considerado imutável é agora
encarado como uma ‘construção cultural’, sujeita a
Historiografia variações, tanto no tempo como no espaço [...]. A base
filosófica da nova história é a idéia de que a realidade é
social ou culturalmente constituída.
42
históricos ilustram muito essa questão. Pensem em: “Guerra e Paz” de Tolstoi. 2
1) o primeiro abarca os anos trinta e quarenta, estando ligada ao seu surgimento e afirmação
enquanto disciplina voltada para o estudo da “psicologia histórica”. Neste momento a disciplina
vincula-se aos nomes de Bloch e Febvre, responsáveis pela aproximação da história com a
antropologia de Levy-Brhul, a qual dotará a história do conceito de “outilage mental” ou “mentalidade
pré-lógica”;
3) finalmente, num momento que se inicia nos anos setenta e que ainda não se concluiu, a História
das Mentalidades se transmuta em “História Cultural”, quando então vai conhecer três tendências:
a micro-história de Ginzburg, a história cultural de Chartier e a nova história do trabalho de Thompson.
Na História Nova, métodos como o do emprego de fontes orais sem dúvida ampliaram
o nosso escopo documental e conseqüentemente a expansão de novas temáticas.
Abre-se dessa forma um campo novo.
E vocês podem me questionar. Essa perspectiva cultural é realmente tão nova assim?
Será que essa abordagem é conseqüência do movimento dos Annales?
Peço-lhes que retornem aos historiadores dos séculos XVIII e XIX, por exemplo:
Legrand d’Aussy e Jules Michelet
Ambos, já desprezavam a história factual, dos acontecimentos, e se preocupam em
estudar uma história social dos costumes dos franceses, das
mentalidades; uma história com uma abordagem cultural, mais
estrutural que factual. A busca pela precisão factual com
embasamento em sólido aparato documental não excluía o
estilo, a narrativa, criando assim a ilusão de uma reatualização
do passado e dando a idéia dos “fatos falarem por si mesmos”.
Em 1782, Legrand d’Aussy, por exemplo, já demonstra
a sua insatisfação com o tipo de história que se vinha fazendo
até então, essencialmente política, voltada para os grandes
acontecimentos, para os feitos dos reis e generais.
Observem este trecho de Legrand d’Aussy em sua
História da vida privada dos franceses (3 vol.):
“Obrigado, pelos grandes acontecimentos que deve contar, a estudar o que não se oferece
a ele com certa importância, ele só admite na cena os reis, os ministros, os generais de exército e
toda aquela classe de homens famosos cujos talentos ou erros, esforços ou intrigas produziram a
infelicidade ou a prosperidade do Estado. No entanto, o burguês em sua cidade, o camponês em
sua choupana, o gentil-homem em seu castelo, o francês, enfim, no meio de seus trabalhos, de
seus prazeres, no seio de sua família e de seus filhos, eis o que não nos pode representar.”
44
Vemos nesse trecho a preocupação do autor em inserir nos estudos os chamados
grupos subalternos. Para o historiador cultural contemporâneo dos séculos XX e XXI, parece
algo muito pertinente e até certo ponto natural.
Dessa forma, de acordo com André Burguière (LE GOFF, 2001) essa citação acima
até poderia ser a expressão de Lucien Febvre ou até mesmo de Jacques Le Goff ou
ainda de um George Duby. Entretanto, vemos que se trata de um olhar etnológico no séc.
XVIII, que torna Legrand um historiador além do seu tempo.
Um outro precursor do que hoje conhecemos como nova história cultural é Michelet.
No séc. XIX, em meio a uma história positivista norteada por uma metodologia inspirada
nos moldes das ciências experimentais, onde o elemento básico era o fato histórico, ou
seja, o acontecimento; Michelet surge como um historiador que busca outros modelos de
explicação da sociedade, uma história da moda alimentar, da sensibilidade, do
comportamento das elites francesas no século XVIII, das mentalidades, enfim, uma história
etnológica, sem prescindir de estudar as camadas populares. Michelet defendia uma “história
da perspectiva das classes subalternas”, uma “história daqueles que sofreram, trabalharam,
definharam e morreram sem ter a possibilidade de descrever seus sofrimentos”. (BURKE,
2004, p. 19). O Povo, A Feiticeira, são títulos de dois importantes livros de sua vasta obra.
Representação como objeto histórico tornou-se uma das pedras angulares do
discurso histórico contemporâneo. Na noção de representação trabalhada por Chartier
ele lança mão para designar o modo pelo qual em “diferentes lugares e momentos uma
determinada realidade é construída, pensada, dada a ler” por diferentes grupos sociais
(CHARTIER, 1990, p.16). A construção das identidades sociais seria o resultado de uma
“(...) relação de força entre as representações impostas por aqueles que têm poder de
classificar e de nomear e a definição, submetida ou resistente, que cada comunidade produz
de si mesma”. (CHARTIER, 2002, p. 73).
Chartier (1990), em sua noção de representação, problematizada em suas diferentes
acepções atribui grande importância ao conceito durkheimiano-maussiano de
representações coletivas e à ênfase dada por Bourdieu às lutas por formas de
classificações sociais. Além das representações coletivas, Chartier destaca também a
acepção de representação política. Outras noções importantes são a de apropriação,
em particular cultural, no sentido antropológico. Esse autor está atento às mediações que
diferenciam os grupos sociais através da produção, da apropriação, dos usos e das práticas
culturais. Ele salienta como as estruturas objetivas são culturalmente constituídas ou
construídas, a sociedade sendo ela própria uma representação coletiva.
Essas reflexões consolidaram um campo de possibilidades que podemos chamar
de “História Cultural” e que colocam um problema importante: o modo como as
representações sobre o social são operadas de forma ativa na construção do mundo
objetivo.
Assim sendo, as representações do social - profundamente históricas e políticas –
variam conforme o contexto em que são produzidas e os interesses partilhados pelo grupo
que as forjou. As percepções do social, segundo Chartier (1990), não seriam discursos
neutros, elas produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tenderiam
a construir uma autoridade à custa de outros, legitimando um projeto reformador ou
justificando, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas.
45
Historiografia
Faz-se necessário uma leitura apurada dos textos que seguem, contextualizando-o
dentro do tema proposto, para auxiliá-lo nesta compreensão.
46
A narração clássica, tradicional apresentava os trabalhos historiográficos
centralmente como uma sucessão temporal de acontecimentos descritíveis. Era uma
narrativa de cronistas de viajantes de coisas passadas. A Narrativa histórica trata-se da
junção de uma narrativa em que se privilegia a seleção, descrição e explicação de objetos
e causas históricas, com um trabalho teórico mais complexo de utilização de conceitos e
generalizações histórico-causais. A narrativa história, então, é o resultado do trabalho
historiográfico.
Então, de acordo com a definição de narrativa histórica, podemos perceber que
todo trabalho historiográfico pode ser definido como uma narrativa. Portando, todo historiador
realiza uma narrativa, e o comprometimento desta com o conjunto do seu trabalho poderá
ser essencial ou secundário em relação aos seus objetivos teóricos.
Os precursores dos Annales, (Febvre e Bloch) rejeitavam a “história narrativa”. Na
visão de Febvre o fato histórico identificado como acontecimento encontrado na fonte levaria
o historiador a conceber a realidade histórica como narrativa de ficção, na medida em que
as fontes seriam tomadas acriticamente. Para Bloch a “história narrativa” ou narrativa
histórica seria apenas os fatos fornecidos pelos documentos expressando assim o ponto
de vista dos próprios atores do acontecimento narrado.
Isso significa que a história narrativa opta por uma crítica a uma ciência histórica
excessivamente concentrada em estruturas e processos, com forte embasamento teórico e
com procedimentos analíticos. Ou seja, uma estrutura temporal de textos e argumentações
históricas.
Dessa forma, narrar pode ser entendido como uma forma de exposição, na qual a
sucessão temporal de acontecimentos descritíveis e de ações compreensíveis ocupem um
lugar central, e não a análise de estrutura e processos, mesmo que se possa tentar lançar
luz sobre estas estruturas e processos através da narração e acontecimentos e ações.
Um retorno à narração?
O filósofo francês Paul Ricoeur, certamente, têm razão quando declara que toda a
história escrita, incluindo a chamada história “estrutural” associada a Braudel,
necessariamente possui algum tipo de forma narrativa.
47
Já nos anos 70 volta uma tendência à história narrativa, porém com
Historiografia nova roupagem, com um viés antropológico, da qual mencionamos em textos
anteriores. Um dos melhores exemplos desta nova forma de escrita da história
– a narrativa - concentra-se no livro do historiador medievalista francês,
Georges Duby, “Guilherme Marechal, ou o Melhor cavaleiro do Mundo”, já
editado no Brasil.
Resumindo:
Constata-se atualmente uma impressionante reativação do
interesse pela história narrativa por parte de um público mais
amplo e ao qual a história profissional, altamente especializada e
com tendência para a história estrutural, analítica, não responderia.
Um outro ponto importante apontado pelos que exigem
mais narração, refere-se às deficiências nas obras historiográficas
mais analítica dos últimos anos, a qual sua ênfase na orientação
teórica, pareciam áridas e desinteressantes para o público não-
profissional. Estas produções são comumente chamadas de “obras
de divulgação”.
Recentemente no Brasil, os livros de Eduardo Bueno “A
Viagem do Descobrimento: A Verdadeira História da Expedição de Cabral”
e “Náufragos, Traficantes e Degredados - As Primeiras Expedições ao
Brasil”.
48
VEJAMOS, DE MANEIRA BREVE, DO QUE
ESSES LIVROS TRATAM:
49
Ressalte-se também que esses livros alcançaram a marca de 300 000
exemplares vendidos.
Historiografia
(...) a linguagem, a costura, é o delineamento dessa história
e o jeito como ela foi apresentada. Eu libertei a história colonial do
banco de escola... para que ela retornasse para lá mais livre e com
mais frescor, fragrância e dinamismo.
Eduardo Bueno
Sites
Consultem o site:
www.nossahistoria.net
50
E as características da forma narrativa de escrever história?
Vejam as principais:
Então, vejamos:
Devemos considerar que uma forma adequada à ciência histórica com orientação
teórica não seria nem tabela nem narração, mas a argumentação histórica.
A narrativa com argumentos históricos, evidencia-se pela leveza de uma bela narração
alicerçada num criterioso trabalho com fontes, com documentos históricos.
Aliado a quê?
51
CONCLUSÃO:
Os novos caminhos da história e da
produção histórica
Historiografia
1. Verdade
2. Objetividade
3. Cientificidade
Sites
Acessar o site:
www.cetico.hpgvip.ig.com.br/ciencia.html
Sites
Leia o artigo de Hayden White “Teoria
literária e escrita da história” no link
www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/132.pdf
As variadas representações e concepções não excluem a exigência do trabalho a
partir da evidência histórica. White, no entanto, não escapa à crítica dos historiadores
profissionais que o acusam de enfatizar o relativismo histórico.
A história, certamente demarca a ficção, pois os historiadores trabalham fatos
acontecidos no passado. Entretanto, segundo White a representação contemporânea desse
passado pode e deve transpor as limitações metodológicas dos legados dos positivistas.
52
Sites
Para aprofundar os conhecimentos sobre a
relação Ciência e História, acesse o texto “Ciência em
uma encruzilhada histórica” no link, www.cb.ufrn.br/
~araujo/Cronica1.html
É o historiador na busca pela interpretação dos fatos de maneira criativa com base
em evidências.
53
Ou a agradável narrativa de Carlo Ginzburg em “O queijo
e os vermes”, criticada por aqueles que não compreendem o
alcance da sua micro-história. Este livro relata minuciosamente
a cosmologia de um humilde moleiro do norte da Itália do
Historiografia início do século XVI, através do qual procurou mostrar a
perturbação intelectual e psicológica a nível popular.
Ótimo exemplo também são as pesquisas de Jean
Delumeau – “História do Medo no Ocidente”.
Eric Hobsbawm – “Rebeldes e Primitivos” – descrição
da vida curta, desagradável e brutal dos rebeldes e bandidos
pelo mundo.
Atenção!
Você saberá muito mais acerca deste livro de
Duby na disciplina História Medieval.
Explicações tradicionais do tipo “as ordens chegaram de Madri, porque Felipe II não
conseguia decidir o que fazer”. Diferem daquelas utilizadas pelos historiadores estruturais
como (citando o famoso exemplo de Braudel) “as ordens chegaram tarde de Madri porque
os navios do século dezesseis demoravam várias semanas para cruzar o Mediterrâneo”.
Diferentemente dos historiadores narrativos tradicionais, esses mencionados acima,
dentre outros, estão interessados nas:
54
1. vidas, sentimentos e comportamentos dos pobres e
obscuros em detrimento dos grandes e poderosos.
2. a análise continua sendo a tônica em seus métodos
assim como a descrição.
3. eles abriram novas fontes (registros de tribunais
penais, visto que trazem transcrições por escrito de
depoimentos das testemunhas, interrogados e examinados).
4. contam suas histórias de maneira diferente, por
exemplo, de um Homero. Sofreram influências do romance
moderno e das idéias freudianas, exploraram com maestria o
subconsciente ao invés de se apegarem aos fatos em si.
5. ao contar a história de uma pessoa, um julgamento
ou um episódio dramático para ampliar o funcionamento de
uma cultura ou de uma sociedade do passado.
James Joyce,
Virgínia Woolf,
Franz Kafka
Sites
Leia mais sobre eles acessando:
www.prossiga.bvgf.fgf.org.br/portugues/
obras/artigos/imprensa/james_joyce.htm
www.suigeneris.pro.br/joyce.htm
Atenção!
O final de uma narrativa ajuda a determinar a
interpretação do leitor. Dessa forma alguns romancistas
apresentam finais alternativos. Fechos alternativos
encorajam os leitores a chegarem às suas próprias
conclusões.
55
Saiba mais...
Os historiadores não são livres para inventar
seus personagens, ou mesmo as palavras e os
Historiografia
pensamentos de seus personagens como
freqüentemente os romancistas o fizeram.
1. a micro-narrativa;
2. narração da história de populares no tempo e no espaço,
observando a presença das estruturas;
3. utilizar várias vozes a fim de captar os conflitos e as
permanências;
4. redigir de trás para frente, mostrando o peso do passado;
5. encontrar o relacionamento dialético entre acontecimento e
estrutura.
· da superficialidade do
acontecimento
· da rigidez temporal de um
discurso analítico.
56
Entendendo ser necessário densificar a narrativa.
Duby também pensava como ele, os fatos são relativos e o essencial é a “animação”.
Ele que buscava compreender o que era para os combatentes que delas participaram os
significados de uma batalha, paz, guerra e honra e para isto apenas a exposição dos “fatos”
não eram suficientes. Este historiador, esforçava-se por encarar os fatos com os olhos desses
guerreiros, buscava se identificar com eles e nessa incorporação imaginativa Duby dava
sua contribuição.
[...] o historiador é obrigado a usar sua própria liberdade, que isto não
deixa de implicar em riscos, mas que ele é forçado a tomar partido, e em
conseqüência seu discurso nunca passa de uma aproximação, na qual se exprime
a reação livre de uma pessoa diante dos vestígios esparsos do passado. (DUBY,
1993, p. 61)
Mais adiante, nessa mesma obra, Duby reitera que na fase de composição o que
prevalece é a razão, os mecanismos da lógica, o senso de equilíbrio. Com essa atitude, na
fase de redação não seria perigoso afastar-se da verdade, já que na escrita a sensibilidade
se apresenta mais.
Resumindo:
Vamos então concluir este curso, de Historiografia
compreendendo que
57
Para refletir...
Caro aluno, você, que também é professor, faz
Historiografia
suas reflexões sobre a História baseadas em quê?
· Antigas retóricas?
· Na crítica dos textos?
· Nas técnicas de análise das estruturas sociais e
econômicas?
· Ou na junção da análise com a arte de contar história?
Resumidamente, para concluir este terceiro tema podemos dizer que nos decênios
de 1970/80 os historiadores entenderam que tudo era possível transformar-se em temas
históricos. Entretanto, o horizonte continua sendo o da globalidade, mas não na síntese, e
sim na busca pela diversidade de objetos, ou temas de investigação.
As características da escrita da história e as novas alianças interdisciplinares foram
fundamentais nesse período. Porém, ressaltamos que, o historiador deve demarcar fronteira
na sua disciplina. A postura interdisciplinar não deve impedir a perda da identidade do
historiado, dito de outra maneira, o historiador não deve se abster da “crítica” ou do seu
“ponto de vista” em relação às demais disciplinas.
Podemos pensar ser perigoso comungar com as correntes culturalistas e pós-
modernas que apagam as fronteiras entre a ficção e a história. Como por exemplo, Hyden
White, 1995 no seu livro “Meta-história” que afirma não haver diferença essencial entre o
discurso literário e o discurso historiográfico.
58
A História narrativa também vê de forma positiva a abordagem
de temas que comportem “pessoas comuns”, ou os “marginalizados”.
A biografia histórica também passa a ser um gênero
valorizado, porém sem exagerar na figura dos feitos de grandes
homens.
Vemos aí um retorno de narrativas voltadas para o sujeito, o
evento, a narração, das nações, da história política, da biografia.
Atualmente a história, sobretudo, com a influência das demais
Ciências Sociais especialmente a antropologia tem-se apresentado
de forma leve, com um toque pessoal e estilístico de cada historiador,
porém sem perder o rigor da pesquisa histórica. Ao historiador não é
permitida a criação livre, abstendo-se da coerência, a este cabe a permanência da realização
responsável entre a imaginação pessoal e as informações contidas nos vestígios do passado.
Em suma, a escrita da história atualmente está empenhada na árdua tarefa de revelar
o relacionamento entre acontecimentos e estruturas, mostrando variados pontos de vista.
Neste intuito alguns historiadores incorporaram novas formas narrativas como a
micronarrativa e a narrativa de frente para trás. Existe também aqueles que se utilizam
técnicas de um romance.
Retorno ao exemplo do livro de Natalie Davies “O retorno de
Martin Guerre”, no qual ela realiza a difícil tarefa de narrar um
evento singular e descrever toda uma época. Seu trabalho
é um grande exemplo da atualidade histórica quando
relaciona a micro-história e narrativa.
Carlo Ginzburg também é um exemplo de autor
que trabalha num nível micro, mas não nega a validade
ou a importância das estruturas. Ou seja, não prescinde
da idéia de que os seres humanos tenham também uma
dimensão para além do individual, coletivista e comunitária.
Diante de tudo que foi apresentado rapidamente até
aqui, vamos concluir este módulo apresentando algumas
questões mais globais em torno das diversas dimensões da História, decisivas para que a
História narrativa tivesse esse “retorno”, ainda que com nova roupagem:
Para refletir...
O que você acha dessas questões?
59
acontecimentos pesquisados e analisados, do apoio de suas fontes,
de seus documentos.
Dessa maneira a função da narrativa, seja ela histórica ou
Historiografia literária está ligada ao narrador e ao método aplicado. A intenção
do literato será, sempre, o de expor um universo de ficção, ao
historiador ficará a tarefa de mostrar o como e o porquê dos
acontecimentos.
Sites
Relatividade da realidade, acesse o texto “Relativismo ou
Objetivismo?” no link www.cfh.ufsc.br/~wfil/relativismo2.htm
Atenção!
Para enriquecer seus argumentos, não deixe de
assistir ao filme: “Uma cidade sem passado”.
Sites
Para saber mais sobre EMPIRISMO vá ao link citado anteriormente e
também www.artnet.com.br/~pmotta/metod_rac_emp_compl.rtf
Questão 1 [ ]
Agora é hora de
TRABALHAR
Diante de tudo que foi estudado, qual a postura que o historiador deve apresentar
durante uma produção historiográfica, considerando a posição do mesmo na sociedade a
qual ele pertence?
Questão 2
A narrativa histórica seria uma ficção no mesmo sentido que a ficção literária?
Questão 3
O que você acha? Na medida em que a história é uma ciência, que preza pelo
argumento, pela interpretação pautada em documentos, ela dispensa o auxílio da arte, da
beleza estilística, da narrativa de um texto?
60
Questão 4
Considerando a flexibilidade dos critérios de cientificidade da produção do
conhecimento da pós-modernidade, não necessariamente compostas por leis e certezas,
o historiador do século XXI pode voltar a enfatizar a sua dimensão literária e artística com
mais liberdade. Leia o trecho abaixo de Georges Duby escreva suas contribuições.
“Há algum tempo que emprego cada vez mais a palavra ‘eu’ em meus
livros. É a maneira que tenho para advertir o leitor. Não tenho a pretensão de
comunicar-lhe a verdade, mas de sugerir-lhe o provável, colocando-o diante
da imagem que eu mesmo tenho, honestamente, do real. Dessa imagem
participa em boa dose aquilo que eu imagino. Cuidei, entretanto, para que as
elasticidades do imaginário permanecessem solidamente presas a esses ganchos
que em caso algum, em nome de uma moral, a do cientista, ousei manipular
ou negligenciar, e que testei em todos os casos minuciosamente, para confirmar-
lhes a solidez. Estou falando dos documentos, minhas ‘provas’”. (DUBY, 1993, p.
62)
Questão 5
Faça uma análise da seguinte passagem do historiador Robert Darnton em seu livro
“O beijo de Lamouret”:
“Como historiador, estou com aqueles que vêem a história como
uma construção imaginativa, acho que precisa ser retrabalhado
interminavelmente. Mas não acho que ela possa ser convertida em qualquer
coisa que impressione a fantasia. Não podemos ignorar os fatos nem nos
poupar ao trabalho de desenterra-los, só porque ouvimos falar que tudo é
discurso”.
61
OS PRINCIPAIS MARCOS E
Historiografia ATUALIDADE DA HISTORIOGRAFIA
BRASILEIRA
62
O objetivo do modelo historiográfico do IGHB era:
Nessa época o IGHB lançou um concurso que contemplaria com 200 mil réis aquele
que apresentasse “um plano para se escrever a história antiga e moderna do Brasil,
organizado de tal modo que nele se compreendessem as partes política, civil, eclesiástica
e literária” (RODRIGUES: 1957, 160). Apresentaram trabalhos apenas dois estudiosos - o
naturalista alemão Karl Friedrich Philipp von Martius e Júlio de Wallenstein.
Já Von Martius apresentou seu “Como se deve escrever a História do Brasil”, escrito
em 1843, e foi publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1845.
Martius foi dado como vencedor em 20 de maio de 1847, com seu trabalho que se situa
entre a inovação e o característico de uma época, “Como se deve escrever...” é fruto de
atenta observação do naturalista enquanto esteve expedicionando pelo interior do Brasil
sob patrocínio do rei da Baviera.
O estudioso alemão apresentou um tratado contendo todos os pontos e problemas
que deveriam conter, segundo seu entendimento, para uma melhor compreensão geral e
ampla do Brasil. Von Martius, nesse tratado, foi o primeiro a salientar a importância do índio
e do negro, e consequentemente a necessidade de se conhecer mais profundamente os
costumes, a língua e a mitologia indígena. O Legado de Martius foram às influências e a
introdução de alguns debates a respeito da forma como se escrevia a história do Brasil até
então.
O que vai caracterizar o Instituto e o tornará um divisor de águas na historiografia
brasileira é a pesquisa. O trabalho anteriormente realizado, desde o século XVII, tinha como
característica principal o autodidatismo e o individualismo, factual e descontínuo. Eram
estudos realizados em sua grande maioria por religiosos, militares, juristas e até médicos.
O IHGB foi responsável por reunir os que pensavam a história e estavam interessados em
discuti-la, mas não em formá-los, uma vez que esta entidade não possuía – e não possui até
hoje – as características de uma universidade. Sua função primordial era direcionar as
discussões por meio da sua Revista e publicar documentos pertinentes aos estudos
históricos.
João Capistrano de Abreu deve ser mencionado devido à sua importância no quadro
mais geral da historiografia brasileira, da qual ele é um marco, definidor de mudanças que
vão ocorrer no início do século XX em relação à historiografia ligada e identificada com o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Capistrano de Abreu é considerado como o
primeiro historiador a dar importância a elementos populares e a escrever uma história
sócio-econômica do Brasil. Este historiador cearense em seu conhecido livro “Capítulos
de História Colonial”, tratou de assuntos tais como o indígena, os franceses e ingleses no
Brasil, a guerra flamenga, a expansão para o sertão e a formação dos limites territoriais,
entre outros. No entanto, sua produção intelectual foi muito mais extensa, produziu
incansavelmente de 1878 a 1927.
O que torna Capistrano até hoje lido e citado? Não restam muitas dúvidas, Capistrano
insere novas problemáticas na História do Brasil e as responde, antecipando o que os
historiadores brasileiros somente discutiriam em suas obras nos anos 30, iniciando-se com
Gilberto Freyre: a diversidade cultural. Capistrano abordou em suas obras sobre o período
colonial, vários Brasis, com suas diferenças muitas vezes inconciliáveis, onde havia pessoas
63
e grupos vivendo de variadas formas. Ou seja, Capistrano enxergava o Brasil
por uma perspectiva que poderíamos atualmente de pluralista.
João Capistrano de Abreu, além de ser o intermediário entre a
Historiografia historiografia tradicional nos moldes do IHGB e a chamada “geração de 1930”,
inaugurou na historiografia brasileira um olhar problematizador baseado no
reconhecimento das diferenças, como elemento formador da realidade social
colonial.
Gilberto Freyre
64
histórica, o que já foi dito anteriormente no texto sobre a Nova História. Para Freyre as
diferenças entre os grupos sociais eram principalmente de natureza cultural e destacava de
maneira original as práticas, crenças e costumes cotidianos, resultados do entrecruzamento
dos três grupos que constituíram o povo brasileiro: o indígena, os portugueses e os africanos.
(SOUZA, IN: FREITAS, 1998).
Gilberto Freyre foi buscar nos diários dos senhores de engenho e na vida
pessoal de seus próprios antepassados a história do homem brasileiro. As
plantações de cana em Pernambuco eram o cenário das relações íntimas e do
cruzamento das três raças: índios, africanos e portugueses. Anteriormente a toda
produção historiográfica da Nova História, Freyre já utilizava como fontes em
Casa Grande e Senzala, anúncios de jornais, diários e a correspndência familiar,
escritos de viajantes estrangeiros, livros de recitas, fotografias, cantigas de rodas
e toda a tradição oral.
65
Em sua análise, Holanda transmite visões muito amplas como:
66
As estruturas da história brasileira teriam sido erguidas sobre os alicerces da
dependência em relação aos ditames da economia internacional, e não sobre as bases de
um projeto para a formação de uma nação autônoma diante de seus colonizadores. Esta
interpretação marxista da história, em Caio Prado provocou uma reconstrução das
referências intelectuais ocorridas na universidade e fora dela.
Formação do Brasil Contemporâneo criou uma tradição historiográfica no Brasil,
identificada, sobretudo com o marxismo, buscando dar uma explicação estrutural e da
sociedade colonial. Um dos trabalhos mais filiados à concepção de Caio Prado de “sentido
da colonização” é Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777 – 1808),
de Fernando Antônio Novais, publicado em 1979, texto que impressiona pelo volume de
informações e pelo conceito de Antigo Sistema Colonial, com acumulação externa de capital.
Este sistema este teria o seu fim, segundo a formulação de Novais, com a ascensão das
nações industrializadas.
Na década seguinte, os trabalhos acadêmicos baseados em pesquisa serial como
Homens de Grossa Aventura: Acumulação e Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de Janeiro
de João Fragoso abalariam gravemente as teorias defendidas no trabalho de Novais,
sobretudo aquela que defende a exclusividade da acumulação exógena.
Portanto, a tradição historiográfica iniciada por Caio Prado Júnior só começaria a
ser seriamente revista nos anos 80, na medida em que convergiram vários fatores para
uma mudança no ambiente acadêmico brasileiro.
A partir dos anos 1980, acontece uma grande mudança na historiografia brasileira.
Notamos neste período que há um grande impacto no ambiente historiográfico brasileiro
daquilo que Roger Chartier, 1988 chamou de “A Nova História Cultural”, que retoma aspectos
que estavam presentes nos trabalhos de Bloch e Febvre, como a preocupação com as
mentalidades, tendo no Brasil correspondência nos trabalhos de Gilberto Freyre.
Esta “nova” história cultural teria uma de suas primeiras representantes no Brasil em
Laura de Mello e Souza, com seu livro O Diabo e a Terra de Santa Cruz, livro cuja marca
principal é influência da microhistória de Carlo Ginzburg. A autora utiliza-se de fontes
inquisitoriais, tratados teológicos, fontes literárias e muitas outras, analisando assim a
demonização da América Portuguesa. Seguido a mesma tendência acima mencionada,
Ronaldo Vainfas, insere a América portuguesa no mundo cristão ocidental moderno através
da Companhia de Jesus e do Santo Ofício, com seu Tropico dos Pecados.
Em busca do mesmo sucesso que teve a História da Vida Privada dirigida por
Georges Duby e Philippe Áries, no interior da Nova História Cultural, surge em 1997 na
historiografia brasileira a coleção dirigida por Fernando Novaes, 1997, História da Vida
Privada no Brasil, cujo volume 1 aborda o cotidiano e vida privada na América portuguesa.
Nesta coleção é forte a presença da relação do micro com o macro, os temas
recortados são levados ao conjunto, e articulados numa análise mais fidedigna da História.
Incitando, evidentemente, uma crítica a “generalização estrutural”, da historiografia brasileira.
Seu objeto de estudo no volume citado, é como ele mesmo diz: “esse viver em colônias”.
Novais vai tentar articular manifestações da intimidade cotidiana com as estruturas
básicas da formação colonial. Utilizando-se de diversos elementos, como a miscigenação,
acumulação primitiva de capital autônomo na colônia, diversidade entre colônia e metrópole,
análise das peculiaridades coloniais com relação a esquemas do velho mundo, análise do
privado ao invés do público.
67
HISTORIOGRAFIA E LIVRO DIDÁTICO: PRINCIPAIS
TENDÊNCIAS E CRÍTICAS
68
b) Os conceitos empregados – Procura-se ver como alguns conceitos (trabalho, espaço,
tempo e cotidiano) são explicitados nos livros didáticos, chamando atenção para a
inconsistência e o caráter ideológicos destes conceitos quando formulados nos livros.
69
Historiografia
Questão 1
[ ]
Agora é hora de
TRABALHAR
Leia o trecho a seguir e analise fazendo uma relação com o livro didático que você
trabalha ou conhece.
“A concepção de História e a seleção do que deve ser ensinado foi mantida nos livros
didáticos, passando a idéia de que existe uma História ´correta´, que deve ser mantida na formação
do estudante. Falta, então, a incorporação das idéias transmitidas pelas novas propostas
historiográficas, vistas também não como verdades imutáveis, mas como afirmações possíveis de
revisão na medida em que se repensa e se reescreve constantemente a História.” (ABUD, 1984, p.
87).
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Questão 2
De acordo com o texto do conteúdo 2 – A Geração de 30 e a reinterpretação do
Brasil, apresente, mencione as principais características do pensamento e as obras dos
três autores citados.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
70
Questão 3
Você já leu Casa-Grande e Senzala? Leia atentamente o texto abaixo de Gilberto
Freyre:
“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no
corpo – há muita gente de jenipapo1 ou mancha mongólica pelo Brasil – a sombra, ou pelo menos
a pinta, do indígena ou do negro. [...]
Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na
música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de
vida, trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou.
Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolengando na mão o bolão de
comida. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da
mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor
físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do
moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo.”
(Casa-Grande & Senzala, p. 283).
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Jenipapo
: mancha escura no dorso das crianças
que é sinal de mestiçagem.
71
Atividade
Historiografia
Orientada
Etapa 1
Com base no que foi estudado nos temas 1 e 2 na disciplina Historiografia, responda
a seguinte questão:
· Justificativa;
· Objetivo geral;
· Objetivos específicos;
· Fontes.
Etapa 2
Escreva um de, no mínimo, 10 linhas correlacionando o seu objeto/tema de pesquisa
escolhido (Como você o desenvolveria? Quais fontes utilizaria, relacionando a sua pesquisa
com o trabalho do historiador segundo as perspectivas: Positivista, Marxista, da Escola
dos Annales e da Nova História Cultural.
Sugerimos que o aluno leia atentamente o texto abaixo enquanto inspiração para a
metodologia da sua pesquisa:
72
Etapa 3
Tendo como referencial o que foi estudado na disciplina Historiografia, escolha três
livros didáticos de história (do Ensino Fundamental II ou Ensino Médio) e comente
criticamente (mínimo de 10 linhas) como são apresentadas as classes populares (servos,
camponeses livres, degredados), relacionando-o com as correntes historiográficas estudadas
neste módulo.
CARO ALUNO,
MUITA ATENÇÃO PARA AS
PERGUNTAS.
REFLITA BASTANTE ANTES DE
RESPONDÊ-LAS.
73
Glossário
Historiografia
74
HISTÓRIA DAS MENTALIDADES – enfoca a dimensão da sociedade
relacionada ao mundo mental a aos “modos de pensar” e os “modos de sentir”.
75
Referências
Historiografia
Bibliográficas
COMTE, Agusto. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores).
76
CHARTIER. Roger. A história Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1988.
DOSSE.François. A História em Migalhas: dos Annales á Nova História. Campinas: Editora Ensaio, 1994.
DOSSE, François. A história à prova do tempo: da história em migalhas ao resgate do sentido. S. Paulo:
UNESP, 2001.
ELIAS, Nobert. “O processo civilizador”. Vol. 1 – Uma História dos Costumes. São Paulo: Zahar, 1996.
GEERTZ, Clifford. Capítulo I, “Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura” In: A
Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
HOBSBAWM, Eric. “A volta da narrativa”, IN: Sobre História. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
GINZBURG, Carlo. Relações de força: história, retórica, prova. S. Paulo: Cia das Letras, 2002.
LE GOFF, Jacques et al. A nova história. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre. História: Novos Métodos, Novos Problemas e Novas Abordagens.
Rio de Janeiro: Pioneira, 1977.
MARX, Karl, São Paulo, Abril Cultural, 1978, Coleção “Os Pensadores MARX, Karl”. A miséria da filosofia.
São Paulo: Centauro, 2001.
MARX, Karl. a ideologia alemã. Apud. VOVELLE, Michel. Ideologias e mentalidades. São Paulo, brasiliense,
1991. p. 11.
MAYER, Arno J. A Força da Tradição: a persistência do Antigo Regime, 1848-1914. São Paulo: Companhia
das Letras, 1987.
MALERBA, Jurandir (org.). A velha história: teoria, método e historiografia. Campinas: Papirus: 1996.
MORAIS FILHO, Evaristo de. Augusto Comte. Sociologia. Rio de Janeiros: Ática, 1983.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural, Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
KOCKA, Jurgen. Um retorno à narração? Em defesa de uma argumentação histórica. In: História: Questões
e Debates, Curitiba, v. 13, n. 24, p. 56-77, jul./dez. 1996.
SOUZA, Laura de Melo e - O diabo e a terra de Santa Cruz (Feitiçaria e religiosidade popular no Brasil
colonial). São Paulo, Companhia das Letras, 1986.
STONE, Lawrence. “O ressurgimento da narrativa: reflexões sobre uma nova velha história”. In: Revista de
História, Campinas, n. 2, 1991.
REIS, José Carlos. A História entre a filosofia e ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
77
REIS, José Carlos. A Escola dos Annales: a inovação em História, São Paulo: Paz e Terra,
2000.
Historiografia REIS, José Carlos. Tempo, História e Evasão. Campinas: Papirus, 1994.
WHITE, Hayden. “O texto histórico como artefato literário”, In: Trópicos do Discurso: ensaios
sobre a crítica da cultura. S. Paulo: EDUSP, 1994.
SOUZA, Laura de Melo e - O diabo e a terra de Santa Cruz (Feitiçaria e religiosidade popular
no Brasil colonial). São Paulo, Companhia das Letras, 1986.
DOSSE. François. A História em Migalhas: dos Annales á Nova História. Campinas: Editora
Ensaio, 1994. LE GOFF, Jacques et al. A nova história. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
REIS, José Carlos. A História entre a filosofia e ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
REIS, José Carlos. A Escola dos Annales: a inovação em História, São Paulo: Paz e Terra,
2000.
REIS, José Carlos. A História entre a filosofia e ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
RIBEIRO Jr., João. O que é Positivismo. 7ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Col. Primeiros
Passos).
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 6ª ed., São Paulo: Cortez; Autores Associados,
1985. (Col. Polêmicas do Nosso Tempo).
78
Anotações
79
Historiografia
FTC - EaD
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância
Democratizando a Educação.
www.ftc.br/ead
80
www.ftc.br/ead