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SOBRE O AMOR: Mateus 5:43,44

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei
bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que
sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
Ao estudar esta passagem, primeiro devemos averiguar o que é que Jesus
verdadeiramente disse, e o que foi o que exigiu de seus seguidores. Se tivermos que
procurar pôr em prática este ensino, a primeira coisa, evidentemente, é ter bem claro o
que é que exige de nós. O que quer dizer Jesus quando nos ordena amar a nossos
inimigos? O grego é um idioma muito rico em palavras com significados muito
similares, ou sinônimos; frequentemente encontramos neste idioma palavras que
possuem matizes de significado impossíveis de traduzir. Por exemplo, em grego há
quatro palavras diferentes que equivalem a nosso substantivo "amor".
(1) Temos o substantivo storge, com o verbo stergo. Estas palavras descrevem
o amor familiar.
(2) Temos o substantivo eros, e o verbo erán. Estas palavras denotam o amor
de um homem por uma mulher; sempre indicam a existência de alguma
medida de paixão. Sempre se trata do amor sexual.
(3) Temos o substantivo filia, com seu verbo correspondente fileo. Descreve o
verdadeiro amor, o verdadeiro afeto. É a expressão que descreve aos
verdadeiros amigos de uma pessoa, os mais íntimos. O verbo (fileo) também
pode significar acariciar ou beijar. É a palavra que denota um amor tenro,
carinhoso, quente, a forma mais elevada de amor.
(4) E Temos o substantivo ágape, com o verbo agapao. Ágape é a palavra que
se usa em nosso texto. O verdadeiro significado de ágape é benevolência
invencível, infinita boa vontade. Se considerarmos uma pessoa com ágape,
esta classe de "amor", não nos importará o que essa pessoa possa fazer ou
nos fazer, não importará a maneira em que nos trate, se nos insulta ou
injuria ou ofende: nunca permitiremos que nos invada o coração outro
sentimento que a melhor e mais elevada boa vontade, sempre a olharemos
com essa benevolência indescritível que busca, em toda situação, o melhor bem
para o outro.
A partir destas quatro palavras, podemos extrair algumas conclusões:
(1) Jesus nunca nos pediu que amássemos a nossos inimigos do mesmo modo
que amamos a nossos seres amados, ha aqueles que estão mais perto de nós
ou aos que nos são mais queridos.
(2) No caso dos que estão muito perto de nós por razões de parentesco ou de
outro tipo e constituem o grupo de nossos seres amados, não poderíamos deixar
de amá-los. Não é algo que não poderíamos evitar, é algo que devemos nos
propor a fazer.
(3) O ágape não é um sentimento do coração, que nasce espontaneamente,
sem que o peçamos nem procuremos; significa uma determinação da
mente, graças a qual obtemos essa invencível boa vontade até para com
aqueles que nos ferem e insultam. Disse alguém que se trata do poder de amar
aqueles que não gostam de nós e aqueles de quem não gostamos. Na verdade,
só podemos ter ágape quando Jesus nos capacita a vencer nossa tendência
natural para a ira e o ressentimento, e para alcançar essa inquebrantável boa
vontade para todos os homens.
(4) O ágape, o amor cristão, não significa permitir que todo mundo faça e
seja o que tenha vontade, sem exercer controle algum sobre eles. Se
experimentarmos boa vontade para com uma pessoa, pode ser que tenhamos
que castigá-la, restringi-la ou discipliná-la, que devamos protegê-la contra si
mesma. Mas também significará que nunca a castigaremos para satisfazer
nosso desejo de vingança, mas sim e sempre, para conseguir que seja uma
pessoa melhor. Toda disciplina e todo castigo administrado por um cristão deve
procurar, não obter retribuição ou vingança, mas curar. Nunca se tratará de um
castigo meramente retributivo, sempre será uma forma de procurar o remédio da
situação.
(5) Deve notar-se que só os cristãos podem obedecer este mandamento.
Somente a graça de Jesus Cristo pode pôr alguém em condições de
experimentar uma benevolência invencível para com todos os seus
semelhantes, na relação quotidiana com eles. Somente quando Cristo vive
em nosso coração desaparece o ressentimento, e floresce o amor.
(6) Por último – mas possivelmente isto seja o mais importante de tudo –,
devemos notar que este mandamento não só implica deixar que outros nos
tratem como querem; também inclui o que deve ser nosso comportamento
com respeito aos outros. Nos ordena orar por eles. Ninguém pode orar a
favor de outro ser humano e seguir odiando-o. Quando se apresenta ante Deus
junto com o outro a quem se sente tentado a odiar, acontece algo em seu
interior. Não podemos seguir odiando a outro ser humano na presença de Deus.
A forma mais segura que eliminar o ressentimento é orar por aquele a quem nos
sentimos tentados a odiar.
Vimos o que Jesus quis dizer quando nos ordenou ter esse amor cristão. Agora
devemos seguir mais adiante, e ver por que nos ordenou isso.
Por que Jesus exige que alguém tenha esse amor, essa benevolência
indescritível, essa invencível boa vontade?
A razão é tão simples como tremenda: Porque tal amor faz com que o homem
seja como Deus: Jesus assinalou a ação de Deus no mundo, e esta é precisamente
uma ação de indescritível benevolência. Deus faz que o Sol se levante sobre bons e
maus. Envia a chuva sobre justos e injustos.
Em Deus há uma benevolência universal, que se aplica até ao homem que
quebrantou sua lei e lhe quebrantou o coração. Jesus diz que devemos ter este
amor para que possamos chegar a ser "filhos de nosso Pai que está no céu". O
hebreu não é um idioma rico em adjetivos e por essa razão frequentemente se
usa a expressão "filho de... (com um substantivo abstrato) nos lugares onde nós
disporíamos de um adjetivo adequado. Por exemplo, filho da paz quer dizer
pacífico, e filho da consolação quer dizer consolador. Portanto filho de Deus
significa alguém que é semelhante a Deus, como Deus.
A razão por que devemos possuir essa indescritível benevolência e invencível
boa vontade é que Deus as tem; e se nós podemos chegar a possuí-las,
poderemos nos tornar nada menos que em filhos de Deus, ou seja em seres
humanos de um caráter similar ao de Deus.

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