Você está na página 1de 11

CÁLCULO DA TAXA DE SUBSTITUIÇÃO PARA

BIOMASSAS*
Vitor Fraga1
Alex M. A. Camposr2
Ana L. B. Nascimento1
Lucas V. Cruz1
Leticia D. Batista1
Mariana L. S. Silva1
Matheus Avila1
Paulo S. Assis3

Resumo
A injeção de materiais pulverizados no alto-forno é uma técnica já consolidada e
aplicada na maioria dos altos-fornos ao redor do mundo. Um indicador importante do
desempenho do processo é a taxa de substituição, que nada mais é do que a
quantidade de combustível sólido que é economizado ao se injetar certa quantidade
de material pulverizado pelas ventaneiras. Devido às demandas ambientais e
acordos firmados com o objetivo de reduzir a emissão de dióxido de carbono nos
últimos anos, a biomassa vem ganhando força como um potencial substituto do
carvão mineral por ser considerada neutra nas emissões de CO2. Nesse sentido,
este trabalho tem como objetivo apresentar um cálculo estimado para a taxa de
substituição em altos-fornos para algumas biomassas de forma que seja possível
fazer uma análise crítica da troca de carvão mineral, pelo menos parcialmente, por
biomassas.
Palavras-chave: Taxa de substituição; Carvão Vegetal; Siderurgia; Alto-forno; Meio
Ambiente; Biomassa.

BLAST FURNACE REPLACEMENT RATE FOR BIOMASS INJECTION


Abstract
The injection of pulverized materials in the blast furnace is a technique already
consolidated and applied in most blast furnaces around the world. An important
indicator of the process performance is the replacement rate, which is nothing more
than the amount of solid fuel that is carried over top by the amount of material that is
injected through the tuyers. Due to the environmental demands signed in the last
years by countries, with the goal of reducing carbon dioxide emission, biomass has
been gaining strength as a potential substitute for coal as it is considered neutral in
CO2 emissions. In this sense, this work aims to present an estimated calculation for
the replacement rate of blast furnaces for some biomasses so that it is possible to
make a critical analysis of the exchange of coal, at least partially, for biomasses.
Keywords: Replacement ratio; Ironmaking; Steelmaking; Blast furnace;
Environment; Biomass.

1 Undergraduate Sutudent in Metallurgical Engineer at Federal University of Ouro Preto;


2 Metallurgical Engineer, Msc., PhD student at REDEMAT (Federal University of Ouro Preto);
3 Full Professor at Metallurrgical and Materials Engineerinhg at Federal University of Ouro Preto

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
1 INTRODUÇÃO

Em um passado não muito longínquo a sociedade pouco se preocupava com a


poluição gerada por suas atividades rotineiras: alimentação, comércio, produção
industrial, entre as mais diversas atividades realizadas no dia a dia. Porém, como o
homem é fruto do seu tempo, à medida que mudanças no planeta em que habitamos
passaram a ser visíveis, tais como o aumento da temperatura global, diversas
medidas começaram a ser tomadas pelos países ao redor de todo o globo.
Exemplos dessas medidas são as diversas conferências que aconteceram e vêm
acontecendo periodicamente, como: Conferência de Estocolmo (1972), Protocolo de
Montreal (1987), ECO-92 (1992), Protocolo de Kyoto (1997), Rio+10(2002),
Rio+20(2012) e o Acordo de Paris (2015). Neste último, foi acordado entra os países
membros da ONU a reduzirem a emissão de gases de efeito estufa (GEE), tendo em
vista que são os maiores causadores do aquecimento global. Sendo assim, a
indústria metalúrgica é afetada diretamente, pois somente a siderurgia é responsável
por cerca de 6-9% das emissões totais e aproximadamente 1/3 das emissões
industriais de carbono no mundo (Holappa, 2020).
Na siderurgia, o processo que mais emite CO2 (cerca de 70%) é o alto-forno devido
ao grande consumo de combustíveis fosseis. Uma técnica amplamente utilizada,
que visa reduzir o consumo de coque, que é um combustível fóssil de fonte não
renovável, é a injeção de materiais pulverizados conhecida como PCI (Campos,
2018). Está técnica tem função estratégica para as siderúrgicas pois além de reduzir
o consumo de redutor via topo, ajuda na operação do reator devido ao curto tempo
de resposta. Um indicador de qualidade do processo importante para a escolha do
material a ser injetado e análise do desempenho deste é a taxa de substituição, que
nada mais é que a quantidade de material que você deixa de carregar no topo a
medida que injeta materiais pelas ventaneiras. O material comumente usado hoje
em dia é o carvão mineral, porém muitos trabalhos e pesquisas vem sendo
desenvolvidas para o uso de outros materiais, principalmente rejeitos de outros
processos.
Uma das alternativas que vêm sendo estudadas para amenizar tamanho impacto no
meio ambiente é a injeção de biomassas nos altos-fornos. Com isto, haveria a
redução da emissão de CO2 na atmosfera e benefícios para a indústria metalúrgica,
uma vez que há possibilidade de uma diminuição considerável no preço da produção
do aço, tendo em vista a diferença de preços entre o carvão mineral e as biomassas.
Em termos comparativos, obtemos valores como: custo da tonelada do carvão
mineral a R$ 577,5 e a mesma medida de biomassa variando de R$ 120 a 140,
demonstrando um pouco da diferença expressiva do custo para a obtenção de cada
uma delas e como a injeção da biomassa se torna atrativo em termos econômicos,
além de ser menos poluente (Campos, 2018).
Contudo, há algumas limitações na injeção das biomassas em altos-fornos, a
principal delas são os baixos teores de carbono fixo, altos conteúdos de voláteis e a
umidade relativamente alta, o que não é benéfico de ser introduzido no Alto-Forno.
Mas é importante considerar que esta biomassa pode passar por processos como a
torrefação, aquecimento do material em temperaturas próximas a 300 oC na
ausência de oxigênio, onde suas propriedades são melhoradas podem se tornar
altamente adequadas ao uso na injeção.
Sendo assim, este trabalho vem com o propósito de apresentar um pouco da técnica
de injeção de materiais pulverizados no alto-forno, assim como pesquisas que vêm
sendo feitas utilizando biomassas neste processo para obter ganhos econômicos e

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
ambientais. Além disso será mostrado cálculos da taxa de substituição para
biomassas utilizando fórmulas encontradas na literatura que utilizam as
propriedades químicas dos materiais. Será possível ver que os valores encontrados
para a taxa de substituição das biomassas são menores que as taxas para carvões
minerais, porém é preciso considerar que há ganhos econômicos e ambientais na
substituição parcial ou total do carvão por biomassa.

2 METODOLOGIA

Na primeira parte será apresentada uma breve revisão da literatura para


compreender os fatos relacionados à injeção de materiais pulverizados e a taxa de
substituição, bem como os possíveis usos da biomassa na injeção. A seguir, a partir
de diversos dados coletados na literatura, será apresentado o cálculo da taxa de
substituição de algumas biomassas e de carvões comumente usados. Serão
utilizadas duas equações para este cálculo, a primeira apresentada por Brouwer et.
al. (1992) e a segunda sugerida por Brouwer and Troxopeus (1991), conforme
mostrado abaixo.
(𝟐𝒙%𝑪𝒂𝒓𝒃𝒐𝒏𝒐+𝟐,𝟓𝒙%𝑯𝒊𝒅𝒓𝒐𝒈ê𝒏𝒊𝒐+𝟎,𝟗𝒙%𝒄𝒊𝒏𝒛𝒂𝒔−%𝑼𝒎𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆−𝟖𝟔)
𝑻𝑺 = (1)
𝟏𝟎𝟎

(−𝟏𝟏𝟖,𝟗+𝟐,𝟑%𝑪+𝟒,𝟓%𝑯+𝟎,𝟗𝟕%𝑪𝑰𝑵𝒁𝑨𝑺)
𝑻𝑺 = (2)
𝟏𝟎𝟎

A equação (1) foi proposta para o alto-forno da KNHS em Hoogogens, Holanda. Já a


equação 2 foi demostrada para o alto-forno da mesma empresa em Ijmuiden,
Holanda.
Ao final, os dados obtidos serão discutidos e vários cenários serão mostrados com
diversas possibilidades do uso da biomassa na injeção de materiais pulverizados
nos altos-fornos.

3 DESENVOLVIMENTO

3.1 Injeção de Materiais Pulverizados

A Injeção Pulverizada de Carvão (PCI), tem sido muito importante para a


sobrevivência do setor siderúrgico pela produtividade e menor custo com redução de
matéria-prima, associada à possibilidade de enriquecimento do ar com oxigênio,
produzindo mais com baixo consumo de coque ou carvão vegetal (Oliveira, 2007).
Hoje o número de altos-fornos que utilizam a técnica de injeção gira em torno de 800
e alguns atingem taxas de injeção acima de 200 kg / t de gusa, o que pode gerar
economia significativa no consumo de coque.
A injeção de combustíveis auxiliares é uma das principais variáveis de controle
térmico em altos-fornos e é utilizada devido ao curto tempo de resposta. Sua
disponibilidade é limitada na faixa inferior pela taxa mínima de injeção e na faixa
superior pela temperatura mínima aceitável de chama, ou seja, existe uma
quantidade mínima a ser injetada e uma quantidade máxima para que não haja
diminuição significativa na temperatura da chama (Mourão, 2011).
Para que o material seja injetado no alto-forno é necessário passar por alguns
processos que irão adaptá-lo para injeção na zona de combustão. Primeiro, a
moagem é realizada para atingir a granulometria ideal e a secagem para eliminar a
umidade. Em seguida, o material deve ser fluidizado misturando-o com um gás, ar

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
ou nitrogênio, e transportado pneumaticamente em tubulações distribuídas pelas
ventaneiras.

Figura X Etapas de preparação de materiais para injeção em altos-fornos (Assis, 2008).

O material é injetado no alto-forno dentro da chamada raceway onde sofre


desvolatização e queima, gerando energia e gases necessários ao processo.
Os principais benefícios desta técnica estão listados abaixo (Mourão, 2011):
• Redução de custos com substituição de redutor (carvão e coque) por materiais de
baixo custo, além de reduzir o consumo de energia;
• Aumento da produtividade, devido à possibilidade de enriquecimento do ar soprado
com oxigênio juntamente com os materiais injetados;
• Pode aumentar a vida útil das baterias de coque devido à menor demanda de
coque;
• Auxilia na estabilidade da qualidade do metal quente e no controle do teor de
silício;
• Possibilidade de injeção de biomassa, gerando redução na emissão de gases de
efeito estufa (GEE).
Aspectos relacionados à qualidade do material injetado também influenciam os
parâmetros de operação do alto-forno, não só no controle térmico, mas em outras
condições como permeabilidade, distribuição de carga e outras.

3.2 Taxa de Substituição

A taxa de substituição mede a eficiência da injeção, em outras palavras, é a


quantidade de coque substituída pela quantidade de material injetado. De maneira
industrial, a taxa de substituição é calculada da seguinte forma (Fernandes, 2008):
𝐶𝐸𝐶𝑅 − 𝐶𝐸𝐶𝐴
γ= (3)
𝑇𝐼𝑃

Sendo que CECR é o consumo especifico de redutor via topo sem injeção (kg/t
gusa), ou seja, é a quantidade de coque (ou carvão vegetal) que é consumida
quando se produz sem utilizar a técnica de injeção. O CECA é o consumo específico
de redutor via topo com injeção (kg/t gusa), de maneira análoga é a quantidade de
redutor que é utilizado quando o forno opera utilizando a injeção. A TIP é a taxa de
injeção que está sendo praticada, ou seja, quanto de material é injetado por tonelada
de gusa pruduzido.

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
Está formula é utilizada pelas indústrias para obterem a taxa de substituição
operacional, é medida com dados práticos. A título de exemplo podemos fazer uma
conta simples:
Um alto-forno consome 500 kg/t de gusa de coque quando a injeção não é utilizada
e 350kg/ t de gusa quando se injeta 180kg/ t de gusa de material pulverizado, logo:
CECR= 500; CECE=350; TIP=180. Sendo assim a taxa de substituição é γ= 0,83.
Este valor nos diz que a cada quilo de material injetado é economizado 0,8 quilos de
coque via topo, ou seja, é deixado de usar 0,8 quilos de coque no processo.
Está pode ser considerada uma excelente taxa de substituição uma vez que as
taxas de substituições para carvões comumente usados na injeção variam de 0,75 a
0,95. Conforme é mostrado na tabela 1 para dados calculados pela Tyssenkrupp na
década de 90.

Tabale 1. Propriedades e Taxa de substituição de alguns carvões utilizados por uma empresa alemã
na década de 90 (Campos 2019)
Taxa de
Carvão % % Taxa de
%C %H Injeção
Cinza Voláteis substituição
(Kg/t de gusa)
Monopol EB 6.60 15.30 83.30 4.20 52.00 0.94
Achenbach 7.80 23.10 81.20 4.70 78.20 0.84
Lohberg 6.60 32.30 79.00 5.00 122.20 0.88
Monopol GFI 11.30 31.20 72.70 4.80 79.00 0.82
Linhito 6.40 51.30 58.30 5.30 97.30 0.47
Carborat 10.00 9.10 81.20 3.60 115.20 0.87
50% Antracito+50%
6.90 19.10 81.80 4.40 140.00 0.84
Lohberg
Furst Leopold 6.20 33.30 77.90 5.20 135.00 0.73
Hew-Acken 7.50 25.20 30.60 4.70 128.00 0.79
50%Hew-Acken
9.40 27.10 77.50 4.70 141.70 0.75
+50%Monopol GFI
70%Hew-Acken+30% Furst
7.50 26.80 80.80 4.80 109.30 0.88
Leopold
30% Hew-Acken+70%
8.60 29.60 77.00 4.90 114.30 0.84
Monopol CK

Na década de 90 alguns pesquisadores associaram a taxa de substituição com o


rank dos carvões e comprovaram seus estudos nos altos-fornos de Ijmuinde e
Hoogovens, na Holanda. Com isso apresentaram as equações (1) e (2) já
apresentadas anteriormente, que nomearam de taxa de substituição corrigida.
Essas equações foram utilizadas para altos-fornos específicos e possivelmente
teriam valores diferentes se aplicados em outros altos-fornos com processos
operacionais diferente, assim como matéria-prima e outros dados relevantes. Porém
com essas equações é possível se ter uma ideia do comportamento de alguns
materiais, uma vez que que a correlação é relevante e a ordem de grandeza seria a
mesma para outros altos-fornos. Concluindo, esta formula pode ser usada para se
ter uma ideia da taxa de substituição que alguns materiais vão ter ao serem
injetados no alto-forno.
Fazendo um simples cálculo:
A injeção de 50% Antracito+50% Lohberg, operacionalmente teve uma TS de 0,84
(ver tabela 1). Utilizando a equação 2 a TS é 0,95, nota-se que o valor é diferente

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
pois neste caso dados operacionais dos fornos são diferentes, como a taxa de
injeção. Provavelmente a taxa de injeção praticada em Ijmuiden é maior que a da
TyssenKrupp pois, como pode ser visto na figura 1 a taxa de substituição aumenta
até certa quantidade de injeção, depois ela se estabiliza e pode vir a diminuir para
altas taxas de injeção.

Figura 1. Taxa de injeção e coke rate de alguns materiais (Assis, 2014)

O consumo de coque tende a diminuir até certo ponto onde, mesmo aumentando a
taxa de injeção, o consumo de coque não diminui e pode até aumentar. Tal
fenômeno pode ser relacionado ao fato de se injetar uma grande quantidade de
material com temperaturas inferiores às temperaturas da zona de combustão, sendo
necessária mais energia no processo. Em outras palavras, o reator precisara de
mais energia para manter a temperatura de chama, que terá que ser compensada
com a adição de mais coque no processo.
Outra ideia importante é que a Taxa de substituição é maior para materiais de maior
poder calorifico, como biomassas tem menor PC é um ponto negativo nesta taxa.
Em contra partida, o teor de cinzas impacta negativamente na taxa de substituição,
quanto maior o teor de cinzas menor será a taxa de substituição. Ponto positivo para
a biomassa que tem menor teor de cinzas. A figura 2 mostra está correlação.

Figura 2. Correlação entre taxa de substituição, poder calorifico e cinzas do material (Fernandes,
2008).

O teor de cinza, por exemplo, pode influenciar fenômenos dentro do reator como o
Birdnest que é o acumulo de material não queimado na zona de combustão. Esta

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
característica está intimamente ligada à qualidade do material injetado, quanto
menor o teor de cinzas mais fácil será trabalhar com este material no alto-forno.
Há outros fatores que influenciam também na taxa de substituição como materiais
voláteis, teor de carbono entre outros, que podem ser explorados e há diversas
literaturas que mostram isso. Qualquer carvão pode ser injetado com os principais
requisitos, do ponto de vista da análise química sendo baixo teor de enxofre, baixo
fósforo, baixo teor de cinzas e mínima flutuação na composição. O principal fator
que influencia o custo-benefício do PCI é a quantidade de coque que pode ser
substituído pelo carvão injetado (Assis, 2014).

3.3 Injeção de Biomassa no Alto-Forno

Segundo Wei (2017), a biomassa pode ser injetada nos altos-fornos de três formas:
sólido pulverizado, bio-óleo ou biogás. Os estudos mais comuns são a utilização de
sólidos pulverizados, principalmente carvão vegetal, podendo ser viável a injeção de
200-225kg / t de gusa em altos-fornos de grande porte.
Algumas propriedades físicas e químicas da biomassa são essenciais para o bom
funcionamento dos altos-fornos, o que influencia na taxa de substituição e a taxa de
injeção. Outras características que podem ser destacadas são: umidade,
granulometria, carbono fixo, materiais voláteis, teor de cinzas, enxofre, entre outras.
A tabela 2 mostra algumas biomassas e suas propriedades.

Tabela 2. Propriedades de algumas biomassas.


Biomassa %C %H %Cinzas %Voláteis %Umidade Referência

Carvão Vegetal 69,7 3,2 7,73 25,8 0,63 Assis,2014a

Casca da Moringa 48,84 6,53 2,36 76,60 1,47 Campos,2018

Casca de Eucalipto 50,1 5,42 2,43 68,73 5,77 Assis,2014a

Bagaço de Cana 46,4 4,68 4,33 75,03 7,03 Du, 2014

Capim Elefante 40 5,36 13,5 69,95 0,1 Assis, 2014a

Casca de Arroz 43,4 4,33 9,55 73,18 0,1 Du, 2014

Sabugo de Milho 45,5 6,7 1,16 81,31 0,79 Ramos e Paula, 2011

Palha de Milho 44,8 6,8 1,58 81,68 0,31 Ramos e Paula, 2011

Bagaço de cana Torrificado 53,33 4,72 12,33 67,38 0,5 Dong (2015)

Casca de Eucalipto Torrificado 55,81 4,87 0,70 75,2 0,05 Dong (2015)

É possível ver que as biomassas possuem uma quantidade de carbono menor que o
carvão mineral, assim como outras características como carbono fixo e poder
calorifico. Porém, é importante perceber também que algumas características são
interessantes para o processo de injeção.
Em primeiro lugar, o baixo teor de cinzas deve ser considerado, pois é importante
devido ao menor tempo de permanência do material na zona de combustão quando
este é injetado. Segundo, a alta quantidade de voláteis pode ser desejada quando a
alta taxa de injeção está sendo praticada. Por último, o teor de enxofre é muito

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
inferior ao do carvão, o que é importante para o próximo passo no processo de
produção de aço.
Outro ponto a se notar é que é que as biomassas torrificadas apresentam
propriedades superiores as in natura. A torrefação de biomassa acontece entre 220-
280 oC na ausência de oxigênio. Nessas condições, a umidade é removida e os
voláteis de baixo poder calorifico são liberados. Com isso, a biomassa adquire
propriedades como alta densidade energética, hidrofobia, moabilidade entre outras
(Cortez, 2008).
Muitos testes foram realizados, principalmente a partir de resíduos do agronegócio,
na Universidade Federal de Ouro Preto, no laboratório de simulação de injeção de
materiais pulverizados onde é possível simular as condições da zona de combustão
do alto-forno. A Figura 3 ilustra alguns resultados obtidos em simulações feitas no
laboratório da Universidade Federal de Ouro Preto para alguns rejeitos do
agronegócio.

Figura 3. Relação de taxa de combustão e taxa de injeção para a moinha de carvão e outras
biomassas (Assis, 2014).

Nestes testes, o gás da combustão é coletado e analisado, e então a taxa de


combustão é calculada. É possível notar que algumas biomassas apresentam uma
boa taxa de combustão, melhor que o carvão, o que pode ser muito importante para
sua aplicação no alto-forno.
Essas características apresentadas são as primeiras análises que devem ser
realizadas para selecionar materiais para injeção em altos-fornos. Estes resultados
mostram que é possível considerar as biomassas para serem usadas no processo
de injeção, mas sugere que esses materiais sejam submetidos ao tratamento de
torrefação para potencializar seu uso.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O cálculo da taxa de substituição foi feito utilizando as equações 1 e 2 mostradas


anteriormente e uma média simples foi feita entre os dois resultados encontrados. A
tabela 3 mostra os valores da taxa de substituição encontrados no cálculo.

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
Tabela 3. Cálculo da taxa de substituição para as biomassas
Taxa de Substituição Taxa de Substituição Taxa de Substituição
Biomassa
(Equação 1) (Equação 2) (Média)

Carvão Vegetal 0,67 0,64 0,65

Casca da Moringa 0,28 0,26 0,27

Casca de Eucalipto 0,24 0,23 0,24

Bagaço de Cana 0,15 0,13 0,14

Capim Elefante 0,19 0,11 0,15

Casca de Arroz 0,20 0,10 0,15

Sabugo de Milho 0,22 0,20 0,21

Palha de Milho 0,21 0,17 0,19

Bagaço de cana Torrificado 0,43 0,37 0,40

Casca de Eucalipto Torrificado 0,38 0,32 0,35

Pode-se fazer algumas observações ao analisar os dados da tabela 1, 2 e 3.


A taxa de substituição das biomassas tende a ser menor que a do carvão mineral, o
que, analisando esse ponto, inviabiliza seu uso. Ao analisar biomassas com menor
teor de umidade observa-se uma melhora, porém a grande vantagem é a utilização
dessas biomassas torrificadas. É possível notar que as biomassas que passaram
por algum tipo de processo, como a torrefação no caso do bagaço de cana e a
carbonização no caso do carvão vegetal, foram as que apresentaram maiores
valores para a taxa de substituição.
Segundo Fernandes (2007), a taxa de substituição não depende da taxa de injeção
para a mesma condição operacional, mas mudanças sempre ocorrem quando a taxa
de injeção é aumentada. Isso ocorre porque quando a taxa de injeção é aumentada
eficiência de combustão é reduzida, ou seja, devido ao aumento da quantidade de
material na zona de combustão será necessária mais energia para a queima desse
material e consequente elevação da temperatura de chama.
Outro fato que deve ser considerado é que estes materiais consistem principalmente
nos elementos carbono e oxigênio, sendo o primeiro o principal responsável pela
substituição energética do coque através de sua combustão na raceway, enquanto o
segundo promove uma influência indireta, uma vez que um maior teor de oxigênio,
consequentemente, leva a uma diminuição no teor de carbono. Portanto, quanto
maior o teor de carbono no carvão, menor o oxigênio e maior a taxa de substituição.
A figura 4 mostra a relação do teor de carbono e a taxa de substituição para os
materiais analisados neste trabalho.

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
Figura 4. Relação entre taxa de substituição e teor de carbono do material.

É possível perceber no gráfico da Figura 4 que quando o teor de carbono diminui, a


taxa de reposição diminui. Como em ambas as fórmulas utilizadas o teor de carbono
tem maior valor, é esperada uma queda na taxa de substituição na adição de
biomassa, por ter menor teor de carbono.
O teor de carbono está intimamente ligado ao poder calorifico do material. A queima
do carbono libera energia e essa nada mais é que o poder calorifico do material, a
capacidade de liberar energia. Sendo assim, quanto maior o teor de carbono maior o
poder calorifico e como consequência maior será a taxa de substituição.
A utilização de resíduos agrícolas na mistura com carvão pode gerar um ganho
ambiental, com a redução das emissões de CO2, e um ganho econômico, ao trocar o
carvão mineral mais caro por biomassa de menor valor agregado. Esses fatores
podem compensar uma menor taxa de substituição quando comparado ao carvão
mineral.

5 CONCLUSÃO

Pode-se concluir que a taxa de substituição é uma variável importante, não apenas
na operação do alto-forno, mas na escolha da matéria-prima a ser utilizada no
processo.
Foi possível ver que a taxa de substituição das biomassas é menor que a do carvão
mineral. Este fato pode ser associado ao maior teor de carbono do carvão mineral e,
consequentemente, tem um maior poder calorífico que as biomassas. Com isso,
nota-se que quanto maior o teor de carbono maior será a taxa de substituição do
material.
As formulas utilizadas para o cálculo da taxa de substituição são formulas
desenvolvidas para um determinado alto-forno, pode ser que em outros reatores,
com condições operacionais diferentes, haja uma diferença no valor dessa taxa.
Porém é importante perceber que estas podem ser usadas para se ter uma primeira
opinião dos materiais que se desejam injetar no alto-forno.
O uso da biomassa pode trazer ganhos ambientais e econômicos uma vez que há
uma diminuição na queima de combustíveis fósseis e estes materiais geralmente
têm um baixo valor agregado.

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.
Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer a Universidade Federal de Ouro Preto,


REDEMAT, CAPES, EcoEnvirox e todos aqueles que contribuirão para este
trabalho.

REFERÊNCIAS

1 ASSIS, C.F.C. Caracterização de Biomassa para sua injeção em Altos-Fornos. 2014.


112 f. Tese (Doutorado) – Programa de pós-graduação em engenharia de materiais,
Universidade Federal de Ouro Preto.2014.
2 ASSIS, C.F.C. Caracterização de carvão vegetal para a sua injeção em altos-fornos a
carvão vegetal de pequeno porte. 2008. 113f. Dissertação (Mestrado)- Programa de
pós-graduação em engenharia de materiais, Universidade Federal de Ouro Preto.
2008.
3 Assis, C.F.C., Tenório, J.A.S., Assis, P.S., Nath, N.K., 2014. Experimental simulation
and analysis of agricultural waste injection as an alternative fuel for blast furnace. ACS
Energy&Fuels, v.28, p. 7268-7273.2014a.
4 BROUWER, R. C., SCHOONE, E. E., TOXOPEUS, H. L. Coal injection driven to the
limits. Iron and Steel Engineer. Dezembro, 1992, p. 20-25.
5 BROUWER, R. C.; TOXOPEUS, H. L. – Massive coal injection at Hoogovens IJmuiden
BFs. Revue de Metallurgie. Cahiers d’Informations Techniques, v. 88, n. 4, April/1991.
6 CAMPOS, Alex Milton Albergaria; NOVACK, Katia; ASSIS, Paulo Santos. Selection of
materials for blast furnace injection using quality indicators. REM, Int. Eng. J., Ouro
Preto, v.72, n.1, p.119-123, Mar.2019.Available from
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2448-
167X2019000100119&lng=en&nrm=iso>.
7 CORTEZ, L.A. et alli. Biomassa para energia. São Paulo: UNICAMP, 2008. 734p
8 DONG, L. Impact of Torrefaction on Grindability, Hydrophobicity and Fuel
Characteristics of Biomass Relevant to Hawai‘I. 2015. 105f. Master Degree dissertation
in Mechanical Engineering. University Of Hawai‘I at Mānoa. 2015
9 DU, S., CHEN, W., LUCAS, J. Pretreatment of biomass by torrefaction and
carbonization for coal blend used in pulverized coal injection. Bioresource Technology,
v. 161, p. 333-339, 2014.
10 FERNANDES, M.V. Efeito do tipo de carvão injetado nas ventaneiras do alto-forno no
consumo de combustíveis. Dissertação (mestrado) – Curso de pós-graduação em
Engenharia Metalúrgica e de Minas, Universidade Federal de Minas Gerais. 2007.
11 HUNTY, W.P. PRICE, J.T. GRANSDEN, J.F. Evolution of coals for blast furnace
injection using a computer model. Ironmaking Conf. Proc., Pittsburgh, 1990.
12 MOURÃO, Marcelo B. Introdução a siderurgia. 2.ed. São Paulo: Associação Brasileira
de Metalurgia Materiais e Mineração, 2011. 428p.
13 OLIVEIRA, Geraldo. OLIVEIRA, Vani. CÂNDIDO, Lindaura. ASSIS, Paulo. Estudo do
fluxo de materiais pulverizados em simulador de injeção de ventaneiras de altos-fornos
através de vídeo-fotografia. Tecnologia em Metalurgia e Materiais, São Paulo, vol.3, no.
4, p.7-15, abr. jun. 2007.
14 RAMOS e PAULA, L. E. , de et al . Characterization of Residues from Plant Biomass for
Use in energy Generation. Cerne, Lavras , v. 17, n. 2, p. 237-246, abr./jun. 2011.
15 WEI,, R., ZHANG, L., CANG,D., LI, J., LI,X., XU, C.C. Current status and potential of
biomass utilization in ferrous metallurgical industry. Renewable and Sustainable Energy
Reviews, v.68, p. 511-524, 2017.

* Contribuição técnica ao 50º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas e


8º Simpósio Brasileiro de Aglomeração de Minério de Ferro, parte integrante da ABM Week 6ª edição,
realizada de 08 a 10 de junho de 2021, São Paulo, SP, Brasil.

Você também pode gostar