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COMPORTAMENTO

em foco

4
20 anos

1991 .2011
Catalogação na publicação
Biblioteca Dante Moreira Leite
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Comportamento em foco 4
Nicodemos Batista Borges ... [et al.]. – São Paulo: Associação Brasileira de
Psicologia e Medicina Comportamental - ABPMC, 2014.
250 p.

ISBN: 978-85-65768-03-0

1. Comportamento 2. Cognição 3. Análise do Comportamento


4. Behaviorismo
I. Título.
BF199

Organização | Nicodemos Batista Borges


Lívia Ferreira Godinho Aureliano
Jan Luiz Leonardi

Instituição organizadora | Associação Brasileira de Psicologia e


Medicina Comportamental - ABPMC

Projeto gráico e diagramação | Mila Santoro

Revisão ortográica | Rodrigo R. C. Boavista

Revisão normas APA | Mariana Rezende

Setembro 2014
4 COM
POR
TAM
ENT
O em
foco

Apresentação

Em continuidade ao compromisso de difusão de conhecimento com a qual Associação


Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) está comprometida ao
longo desses mais de 20 anos de existência, apresentamos o quarto volume da coleção
Comportamento em Foco.
Comportamento em Foco foi a publicação criada pela ABPMC para substituir
e dar continuidade à coleção Sobre Comportamento e Cognição, a qual foi de grande
importância para o desenvolvimento de nossa comunidade no Brasil. Visando elevar a
importância cientíica dessa publicação, o Volume 4 contou com uma avaliação por parte
de proissionais doutores em suas áreas, prática esta que os atuais editores defendem que
deve ser mantida nos próximos volumes.
Esta publicação caracteriza-se pela compilação de capítulos de alguns dos trabalhos
apresentados no XXII encontro anual promovido pela ABPMC em 2013. Como dito
anteriormente, todo o material enviado pelos autores foi submetido a revisões por
proissionais doutores reconhecidos em suas áreas de atuação, além de passar por revisão
gramatical e de normas da APA, com o objetivo de torná-lo mais claro e preciso. Por
im, antes de enviar para editoração, os capítulos contaram, ainda, com a leitura dos
organizadores. Todo esse trâmite não teve o caráter de recusa à publicação, icando
os autores livres para atender ou não as sugestões enviadas. Assim, os conteúdos dos
capítulos não expressam, necessariamente, a opinião dos organizadores, nem tampouco
da nossa associação, sendo de total responsabilidade dos autores.
Na organização do volume, tentamos elaborar uma sequência entre os capítulos de
modo a contribuir com seus leitores. Deste modo, dividimos o material em conjuntos,
iniciando por um que discute a prática clínica e as “psicopatologias”, na sequência
apresentamos capítulos que versam a respeito de comportamento verbal (tanto
conceituais quanto relatos de pesquisa) e encerramos com capítulos que tratam de temas
como educação, comportamento de escolha e autocontrole.
Um outro esforço feito por esses organizadores foi de lançar esse volume juntamente
com o nosso XXIII encontro, visando instigar mais autores a submeterem seus capítulos
para os próximos números.
Por acreditarmos que o desenvolvimento da área passa pelo debate de ideias, sendo
esse o caminho para o aperfeiçoamento de nossas práticas, agradecemos imensamente
a contribuição dos doutores que aceitaram nos ajudar nessa empreitada, os quais estão
listados a seguir. Agradecemos aos nossos revisores queridos que, assim como nós,
aceitaram essa tarefa por amor à nossa associação. Queremos parabenizar a Mila Santoro
pelo excelente trabalho de editoração. Por último, porém não menos importante,
queremos agradecer à atual diretoria por terem coniado a nós essa missão, a qual
esperamos ter cumprido a contento.
Um abraço a todos,
Nicodemos Borges
Lívia Aureliano
20 anos
Jan Luiz Leonardi
1991 . 2011 Organizadores

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Lista de Colaboradores [Pareceristas Doutores]

Adriana Cunha Cruvinel Centro Universitário UNA


Alexandre Dittrich Universidade Federal do Paraná
Ana Karina Leme Arantes Universidade Federal de São Carlos
Ana Carmen de Freitas Oliveira Universidade Presbiteriana Mackenzie
Bruno Strapasson Universidade Federal do Paraná
Cássia Roberta da Cunha Thomaz Universidade Presbiteriana Mackenzie
Cristina Belotto da Silva Instituto de Terapia e Ensino do Comportamento Humano
Denise de Lima Oliveira Vilas Boas Universidade de Fortaleza
Diego Zilio Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Bauru)
Fernando Albregard Cassas Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento
Giovana Del Prette Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento
Hélder Lima Gusso Universidade Positivo
João Henrique de Almeida Universidade Norte do Paraná
Juliana Cristina Donadone Universidade Federal de Mato Grosso
Paulo Roberto Abreu Instituto de Análise do Comportamento de Curitiba
Ricardo Corrêa Martone Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento
Robson Nascimento da Cruz Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Rodrigo Araújo Caldas Faculdade Santíssimo Sacramento
Saulo Missiaggia Velasco Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento
William Ferreira Perez Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento
COMPO
RTAME
NTO em
foco 4

Sumár
io

7 Procedimentos de observação e registro: da clínica à pesquisa aplicada


Priscila Benitez . Carolina Coury Silveira . Chayene Hackbarth . Luziane de Fátima Kirchner .
Paulo Sérgio Teixeira do Prado

19 Demandas Sociais versus Repertórios Básicos de Comportamentos:


suas implicações à instalação das psicopatologias
Gina Nolêto Bueno . Guliver Rebouças Nogueira . Lohanna Nolêto Bueno

27 Psicopatologias de acordo com as abordagens tradicional e funcional


Gina Nolêto Bueno . Letícia Guedes Nobrega . Maíra Ribeiro Magri . Lohanna Nolêto Bueno

39 Depressão sob o enfoque comportamental


Lohanna Nolêto Bueno . Ilma A. Goulart de Souza Britto

47 Sobre o comportamento do esquizofrênico


Ilma A. Goulart de Souza Britto . Gina Nolêto Bueno . Roberta Maia Marcon

55 Transtorno de personalidade borderline:


contribuições da clínica comportamental
Rodrigo R. C. Boavista

65 Variáveis de controle dos comportamentos culturalmente denominados


de idealização e possibilidades clínicas
Rhuam Gabriel Cavalcante Brandão

73 Terapia de exposição ao estímulo fóbico com uso de realidade virtual:


uma revisão bibliográfica
João Ilo Coelho Barbosa . Lindomário Sousa Lima

83 Fobia social e terapia analítico - comportamental: contribuições do


acompanhamento terapêutico
Luciana Leão Moreira . Ana Luiza Santos Braga

91 Atendimento psicoterápico comportamental de uma mulher adulta com


comportamentos característicos de dependência afetiva
Paula Alcântara Bastos . Milena Mendonça Dos Santos . Silvia Canaan Stein

107 Relatos sobre comportamentos associados à manutenção da perda de peso


em famílias após intervenção comportamental
Doralice Oliveira Pires Dias . Larissa Andrade Bento . Sônia Maria Mello Neves .
Ricardo Rodrigues Borges

20 anos

1991 . 2011
Procedimentos de observação e registro: da clínica à pesquisa aplicada

Priscila Benitez1
Carolina Coury Silveira
Chayene Hackbarth
Luziane de Fátima Kirchner
Universidade Federal de São Carlos

Paulo Sérgio Teixeira do Prado


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Resumo

A observação sistemática é um recurso importante para os psicólogos, modiicadores do


comportamento e pesquisadores. É considerada um dos instrumentos mais satisfatórios para a
obtenção de dados que, entre outras coisas, aumenta a compreensão a respeito do comportamento a
ser investigado, facilita o levantamento de hipóteses diagnósticas e permite acompanhar o desenrolar
de uma intervenção e testar a sua eicácia. Apesar disso, é um recurso que pode vir a ser mal utilizado
tanto em pesquisas aplicadas quanto na prática clínica. O presente capítulo aborda a observação
e o registro de comportamentos no âmbito clínico e na pesquisa aplicada. Primeiramente, são
apresentados os pressupostos básicos sobre observação e registro. Na sequência, a possibilidade de
aplicabilidade da observação e registro em situação clínica e, por último, são apresentados dados de
observação direta e registro de comportamentos numa pesquisa aplicada. Pôde-se concluir que o uso
dos estudos observacionais é bastante restrito e assim, a preferência por medidas de autorrelato como
fonte de investigação deve ser a preocupação central para pesquisadores e terapeutas comprometidos
com a efetividade das intervenções que propõem. Deste modo, torna-se imprescindível que a prática
da observação e do registro sistemático de comportamentos, especialmente no âmbito da pesquisa
aplicada e da prática clínica, seja aperfeiçoada e conduzida de modo sistemático e minucioso.

Palavras-chave: clínica, observação, registro, pesquisa aplicada


Comportamento em Foco 4 | 2014

1 Bolsista FAPESP (Processo nº 2010/16701-0). Contato: pribenitez@yahoo.com.br

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Para explicar um fenômeno comportamental de maneira cientíica, é necessário que ocorra uma
observação prévia, um registro minucioso e uma descrição detalhada de tal fenômeno. A partir da
observação e registro criterioso dos fenômenos comportamentais, é possível classiicar relações
complexas, encontrar possíveis variáveis interferentes em cada um deles e realizar uma análise das
unidades básicas destes comportamentos (Britto, Oliveira & Souza, 2003).
A observação e o registro se tornam necessários em outros âmbitos, além dos experimentos
controlados típicos da pesquisa básica. Cano e Sampaio (2007) ensinam que estas são ferramentas
fundamentais, desde que aplicadas de maneira estruturada e sistemática, nas práticas clínicas e
pesquisas aplicadas.
Garantir um registro coniável na atividade clínica e na pesquisa aplicada é condição necessária
para que o pesquisador e/ou terapeuta possa identiicar os efeitos da intervenção implementada, bem
como investigar a interferência de potenciais variáveis intervenientes. Contudo, diferentemente da
pesquisa experimental, nestes contextos, muitas vezes não é possível realizar um controle rígido de
todas as variáveis que poderiam inluenciar no procedimento proposto.
Este capítulo pretende apresentar de maneira didática o que é a observação e o registro de
comportamentos no âmbito da Análise do Comportamento, para que servem e como podem ser
realizados em situações costumeiramente desaiadoras. Para isso, foram propostos três tópicos de
discussão: (1) apresentação dos pressupostos básicos de observação e registro de comportamentos,
(2) a possibilidade da realização de observação direta e registro de comportamentos no processo
de atendimento de um caso clínico, e (3) apresentação de dados de observação e registro de
comportamentos numa pesquisa aplicada.

1 Pressupostos básicos sobre observação e registro de comportamentos


Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

O termo “observar” traz conotações que divergem, de acordo com o fenômeno observado e o
propósito da investigação. A observação é algo inerente ao indivíduo, é a maneira pela qual ele avalia
e aprende sobre o mundo ao seu redor (Danna, & Mattos, 2006). Observar, para o senso comum,
pode ser o ato de “olhar cuidadosamente para algo ou alguém”, bem como sinônimo de examinar,
Comportamento em Foco 4 | 2014

analisar ou veriicar (Ferreira, 1988).


Enquanto método cientíico, a observação envolve mais do que o ato de “olhar cuidadosamente”,
deve envolver recursos - apresentados adiante - para tornar os registros de observação mais coniáveis
e idedignos ao fenômeno estudado.
De acordo com Hutt (1974), os estudos observacionais foram muito frequentes na década de 1920
e as técnicas de observação sistemática do comportamento são reconhecidas desde os estudos de
Charles Darwin sobre o comportamento do homem e outros animais. Exemplos importantes de
abordagens teóricas que inluenciaram enormemente a realização de estudos observacionais foram
a Etologia, com estudos sobre o comportamento animal (e.g. Carvalho, 1972; Cunha, 1967; Ades,

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1972) e a Análise do Comportamento, como no caso dos estudos sobre a interação mãe-criança
(Marturano, 1972; Sollitto, 1972), autocontrole do comportamento alimentar (Kerbauy, 1972) e
modiicação do comportamento pré-escolar (Mejias, 1973).
Atualmente, estudos observacionais contam com tecnologia audiovisual avançada para captar
som e imagem com qualidade e técnicas de registro capazes de coletar dados mais idedignos acerca
dos fenômenos investigados (Steiner et al., 2013). Autores contemporâneos defendem a observação
direta como principal método de investigação (Benitez & Domeniconi, 2012; Löhr; 2003; Steiner
et al., 2013), porém, na prática clínica, este recurso ainda é pouco explorado (Britto et al., 2003;
Sturmey, 1996).
De acordo com Sturmey (1996), pesquisadores e clínicos ainda optam por medidas de autorrelato,
como fonte de investigação do comportamento, pela praticidade e baixo custo que estas medidas
oferecem. Entretanto, como apontam Danna e Matos (1996; 2006), a observação do comportamento
é o recurso mais eicaz para identiicar diferentes dimensões do comportamento (e.g. frequência,
duração, desempenho) e avaliar, em situação natural ou ambiente de laboratório, as relações existentes
entre o comportamento e certas circunstâncias ambientais, de modo a prevê-las e modiicá-las.
Dentre as vantagens da observação direta, enquanto método de investigação, Fagundes (2006)
mostra contribuições como: (a) aumentar a compreensão a respeito do comportamento a ser
investigado, (b) facilitar o levantamento de hipóteses acerca do problema, e (c) acompanhar uma
intervenção, avaliando seus efeitos e eicácia. Além disso, pode ser utilizado por psicólogos em
diferentes situações de aplicação (clínica, escola, empresa) e em pesquisas.
Embora existam muitas vantagens, alguns procedimentos devem ser adotados com o intuito de
minimizar vieses dos dados coletados. Um dos principais cuidados é a neutralidade do observador,
isto é, ele deve se ater aos fatos efetivamente observados, sem fazer interpretações pessoais (Danna
& Matos, 1996). Além disso, o observador deve estabelecer o local e os sujeitos a serem observados,
as situações e os comportamentos que serão observados e, por im, deinir a técnica de registro a ser
utilizada (Batista, 1985; Hutt, 1974).
No tópico subsequente, segue uma discussão acerca da aplicação da observação e registro no
âmbito clínico.

2 Observação e registro na perspectiva da Análise do Comportamento


no contexto clínico

A observação direta dos comportamentos do cliente em sessão e a maneira como eles são
registrados têm fundamental importância para a análise de contingências que vigoram na rotina
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

daquele indivíduo. A observação direta é uma técnica utilizada na investigação cientíica que permite
ao clínico registrar detalhes da interação terapêutica e classiicar relações complexas, por exemplo,
criando categorias de classes de respostas ocorridas durante a sessão (Britto et al., 2003).
De Rose (1997) ressalta a relevância do relato verbal como fonte de dados. O autor chama a
atenção para a importância do estudo da presença de controle de estímulos sobre respostas verbais
Comportamento em Foco 4 | 2014

dos indivíduos. Segundo Britto, Oliveira e Sousa (2003) são poucos os estudos que correlacionam e/
ou analisam métodos de observação direta e descrição de medidas de comportamento em contextos
clínicos. Esta seção visa descrever, de modo sucinto, um caso clínico de terapia comportamental
infantil e apresentar como a observação direta e o método de registro empregado permitiram
análises efetivas para a modiicação de variáveis ambientais que exerciam controle direto nos
comportamentos-problema do cliente.

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Apresentação do caso

a. Cliente

Sexo masculino, sete anos de idade, possui uma irmã de três anos. Caracterizava-se por ser uma
criança sorridente que não falava muito, mas seguia todas as orientações que a terapeuta fornecia sem
questionar, entretanto, de maneira lenta e distraindo-se com muita facilidade. O cliente demorava
muito para realizar qualquer atividade solicitada e costumava justiicar tudo que realizava, por
exemplo, “acertei o que escrevi porque eu sou muito bom”, ou “porque a borracha estava aqui” (sic).
Os pais relataram diiculdades para disciplinar o ilho. Disseram que ele sempre os “corrigia”, dava
broncas nos dois, estava frequentemente irritado e chorava com muita facilidade. Contaram que o
ilho era muito distraído, se esquecia de tudo muito rapidamente e ainda que o ilho sempre estivesse
sozinho nas saídas da escola, não contava muito sobre amigos e que acreditavam que ele não os tinha.
A mãe ressaltou que o cliente fantasiava muito, não com brinquedos convencionais, mas com
alguns materiais especíicos como barbantes, ios, papel, terra e trens. Por im, relataram que o ilho
criava muitas regras para brincar e acabava não brincando, apenas icava ditando as regras do jogo
inventado aos pais.

b. Procedimento

Foi solicitada aos pais a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que autorizava
a divulgação dos dados e assegurava o sigilo da identidade do cliente. Foram realizadas 55 sessões de
terapia com duração média de 60 minutos cada, em consultório particular. Durante o atendimento, a
terapeuta registrava os comportamentos verbais do cliente em uma tabela e possíveis antecedentes e
consequências produzidas pelo cliente no ambiente. A Tabela 1 apresenta alguns exemplos de como
a tríade comportamental foi registrada nas primeira e segunda metade do processo terapêutico.

Tabela 1
Exemplos de registro de contingências de três termos dos comportamentos problemas
do cliente na primeira e segunda metade do processo terapêutico

Primeira metade do processo terapêutico

SD R SC

Ar condicionado Interrompe o que está falando, e T. conversa sobre o ar


Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

fala sobre o ar condicionado condicionado

Lápis, mesa e restos de borracha Interrompe a atividade, e limpa a Mesa limpa


mesa sete vezes

Atividade: “Adivinhe qual é a “Cara de sono” (sic) T. diz “a emoção é felicidade” (sic).
emoção?” – Apresentação de T. dá exemplos de situações que
face alegre. lhe provocam felicidade
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Segunda metade do processo terapêutico

SD R SC

Presença da T. Conta histórias sobre ios e T. inicia nova atividade


barbantes

Presença da T. e de “RG” de Diz “RG, retirado de Gustavo” T. solicita que fale a mesma coisa
brinquedo (sic) de três maneiras diferentes

Timer toca sinalizando im da Guarda os brinquedos T. sinaliza que ele pode escolher
brincadeira qual será a próxima atividade

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c. Resultados e discussões sobre os dados

O registro frequente de comportamentos e dos seus possíveis determinantes (estímulos


antecedentes e consequentes) possibilitou que a terapeuta identiicasse um padrão de respostas do
cliente que, de acordo com a literatura, é característico da síndrome de Asperger (DSM IV, 1994).
A síndrome caracteriza-se, principalmente, pela apresentação de distúrbios sociais, de maneira
diferente do transtorno do espectro autista, pois mantém preservadas a linguagem e capacidade
intelectual do indivíduo. Como estas habilidades encontram-se preservadas, muitas vezes os déicits
de socialização e de lexibilização cognitiva podem icar mascarados, o que favorece o diagnóstico
tardio, ou até mesmo ausência de diagnóstico.
A Síndrome de Asperger é descrita por uma série de critérios diagnósticos no DSM IV (Diagnostic
and Statistical Manual for Mental Disorders, 1994), alguns deles são: (a) interesses restritos por um
assunto, (b) interpretação literal, isto é, incapacidade para interpretar ironias, mentiras e metáforas,
(c) pensamento concreto, (d) diiculdade para entender e expressar emoções, (e) diiculdade com
comunicação não verbal, (f) falta de autocensura (falar tudo que venha à cabeça), (g) atraso no
desenvolvimento motor e coordenação motora (inclusive escrita), (h) diiculdades para generalizar
aprendizado, (i) diiculdades com organização e execução de tarefas e (j) apego a rotinas e rituais.
Alguns destes comportamentos foram observados em sessão pela terapeuta e registrados pelos
pais. Exemplos dessa situação: arrumar os lápis repetidamente durante as atividades, pedir para
limpar a mesa repetidamente, apresentar costumeiramente verbalizações de autorregras, como
“precisa fazer o que é preciso” (sic), ou apresentar uma explicação elaborada de algo irrelevante
(exemplo, explicar por que o pingo na letra “i” deve ser feito apenas com um ponto e não com um
círculo preenchido e pintado), procurar erros irrelevantes na escrita e querer arrumá-los (exemplo,
deixar todas as letras “l” com igual tamanho e com outra cor), caligraia precária, falta de pontuação
e espaço entre palavras, falta de noção espacial na escrita de um texto, diiculdades com escolhas
(exemplo, levantava prós e contras para decidir com qual cor iria pintar um desenho), gritava e
dava chutes no ar quando os pais solicitavam interrupção de algum comportamento, ou sem motivo
aparente, compreensão literal de falas e situações, apresentando diiculdades para compreender
abstrações e metáforas, com explicações sempre pautadas em raciocínios ilógicos para as outras
pessoas (exemplo, explicava longamente e de maneira confusa porque naquele dia decidiu colocar
chinelo e não sandália), dentre outros.
Na Tabela 1, nota-se que alguns destes critérios foram observados no padrão de responder do
cliente, aparecendo desde a primeira sessão até os últimos atendimentos. A partir da identiicação
deste padrão comportamental, a terapeuta pôde desenvolver e implementar intervenções especíicas
que facilitaram a relação do cliente com os pais, com ela mesma e ainda com outros indivíduos que
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

conviviam com ele, como colegas de escola, tios e avós. Alguns dos objetivos terapêuticos estabelecidos
foram: (a) desenvolver habilidades sociais, (b) ensinar o cliente a organizar seu tempo para a realização
de atividades cotidianas, (c) ensinar expressões faciais e emoções, (d) ajudá-lo a identiicar variáveis
responsáveis por acontecimentos pelos quais dava explicações ilógicas, (e) modelar e dar modelo de
como se comportar para estabelecer interações sociais efetivas, dentre outros.
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A partir da análise das tríades comportamentais registradas ao longo do processo terapêutico, foi
possível identiicar que o cliente não entendia os pedidos e explicações dos pais em cada situação.
De modo semelhante, não entendia algumas explicações e solicitações da terapeuta em sessão.
Esta diiculdade estava diretamente relacionada com pedidos que exigissem abstrações verbais e
que concorriam com autorregras do cliente, impossibilitando-o de seguir as regras dos pais ou da
terapeuta. Esta conclusão facilitou a compreensão do caso de maneira geral, pois os pais e a terapeuta
passaram a compreender a topograia desses comportamentos, sem identiicá-los em uma categoria
de opositor-desaiante, mas sim em um aspecto mais geral, no que concerne à falta de repertório
comportamental mais lexível e variável, a depender do contexto em vigor.

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Após esta análise, foram propostas as estratégias abaixo para a intervenção clínica:

a. Construção com o cliente e os pais de um quadro de atividades rotineiras e horários que


o cliente deveria seguir (escovar os dentes, se trocar para ir à escola e outros), tendo como
objetivo ensiná-lo a organizar o tempo que ele tinha disponível para realizar cada atividade
cotidiana. Os pais foram instruídos a registrar os dias em que o cliente não completou
as atividades e qual foi a instrução dada. Estes registros eram discutidos em sessões de
orientação aos pais, possibilitando identiicar melhores maneiras dos pais instruírem o ilho,
certiicando-se para a utilização de regras mais curtas e claras que evitassem distrações para
o que era irrelevante.
b. Elaboração de histórias em quadrinhos junto ao cliente. A cada sessão deveriam ser
desenhadas, pintadas e escritas duas falas de dois quadrinhos. Essa estratégia foi utilizada
como recurso para desenvolvimento de repertório de prontidão, atenção, concentração,
comportamento criativo, comportamentos de fantasiar e brincar sem concorrer com
autorregras do cliente.
c. Construção de um quadro em que o cliente deveria responder perguntas sobre ele mesmo
com desenhos, colagens ou escrita.
d. Brincadeiras com carrinhos, bonecas e animais para observar diiculdades em fantasiar. A
terapeuta dava modelos e modelava comportamentos relacionados ao brincar, tanto com o
cliente, quanto com os pais nas sessões de orientação. Por exemplo, pegar na mão do ilho,
olhar para ele e dizer “o que será que seu bonequinho vai responder agora?”. A intervenção
tinha como objetivo facilitar a interação do cliente com outros colegas de sua idade.
e. Atividade em que o cliente deveria tentar identiicar em iguras de expressões faciais
quais sentimentos expressavam e em quais situações o cliente sentia-se daquela forma.
A terapeuta também dava modelos de como expressar sentimentos e pensamentos, bem
como auxiliava o cliente a relacionar eventos de sua vida com possíveis comportamentos
privados emitidos por ele.
f. A terapeuta explicava peculiaridades de interações sociais que o cliente demonstrava não
entender. A partir da explicação, modelava novas respostas que poderiam aumentar a chance
de reforçamento em cada contexto. Foram utilizadas situações relatadas pelos pais e pelo
cliente para perguntar a ele se sabia o que tinha acontecido na situação e juntos pensavam
em comportamentos alternativos que poderiam ser mais efetivos na mesma situação. Por
exemplo, o pai relatou que o cliente não se trocou para ir à escola porque precisou ir ao
banheiro e quando perguntou “por que você ainda não está pronto?” (sic), o ilho respondeu
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

“porque eu não me troquei” (sic). Uma resposta alternativa dada pela terapeuta como modelo
para o cliente foi “porque me deu vontade de ir ao banheiro e isso me atrasou”, em seguida a
terapeuta solicitava que o cliente desse outras respostas alternativas.

d. Considerações finais do caso


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Os pais relataram melhoras signiicativas do cliente em relação à obediência e aceitação de regras


deinidas por eles. Também relataram melhora nas interações do cliente com outras crianças, além
de que percebiam que o ilho estava se posicionando mais nas brincadeiras, conseguindo brincar
(não apenas formando regras das brincadeiras) e estava mais habilidoso (aceitando brincar com o
que a outra criança queria e colocando condições de como gostaria que fosse a brincadeira). Os pais
comentaram também que os ataques de “irritação e birra” (sic) não aconteciam mais.
Em contexto clínico, a terapeuta também conseguiu observar evoluções importantes. O cliente
conseguia completar suas atividades dentro do tempo esperado (o que também foi observado pela

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professora de sala de aula), passou a identiicar de maneira efetiva expressões e verbalizações e
apresentou melhora expressiva na qualidade de suas interações interpessoais (com seus pais, colegas
de sala de aula e terapeuta).
A observação direta e o registro sistemático das sessões terapêuticas foram estratégias primordiais
para a identiicação do padrão de respostas do cliente. Esta identiicação possibilitou a implementação
de intervenções especíicas, individuais e, portanto, mais efetivas para os comportamentos-problema
deste. A falta de registro da observação da terapeuta, neste caso clínico, poderia acarretar na
identiicação incorreta da função dos comportamentos-alvo do cliente e assim, em intervenções mal
sucedidas. Fica evidente a relevância do registro das respostas do cliente em sessão e em ambiente
natural e dos possíveis determinantes para estas respostas, como essencial no sucesso das intervenções
implementadas e na expressiva melhora na qualidade das interações interpessoais deste.
O tópico a seguir trata da observação e registro no contexto de pesquisa aplicada.

3 Observação e registro de comportamentos na pesquisa aplicada

A observação pode ser realizada de modo informal, ou seja, sem considerar uma sistematização
especíica, ou pode respeitar um conjunto de normas e/ou protocolos. Quando utilizada para
ins de pesquisa cientíica é nomeada de observação cientíica e tem o propósito de viabilizar
a consecução do objetivo da investigação a ser realizada (Cano & Sampaio, 2007; Ferreira &
Mousquer, 2004). É importante destacar que a observação assistemática também pode servir à
coleta de dados em pesquisas cientíicas, todavia, tal condição dependerá do objetivo traçado para
o estudo (Murta, 2005).
Na pesquisa aplicada, a observação e o registro não devem ser suscetíveis a qualquer
inferência, visto que o fenômeno (unidade de análise, por exemplo, o comportamento) deverá ser
observado e registrado tal como ocorre na situação de investigação. Com base nos pressupostos
comportamentais, recomenda-se que o registro seja elaborado a partir da observação e transcrição
de cada comportamento, ou melhor, a partir da observação e registro de diferentes respostas em suas
relações funcionais (Danna & Mattos, 2006).
Nessa perspectiva, Todorov (1982) sugere que o trabalho de pesquisa desenvolvido com
base nos achados comportamentais deveria, fundamentalmente, contemplar a observação e o
registro contínuo do comportamento. Ademais, o autor destaca a importância de observações
casuais, observações controladas de campo, observações clínicas e observações controladas do
comportamento em instituições.
No que concerne à metodologia observacional, Cano e Sampaio (2007) realizaram um mapeamento
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

de estudos cientíicos publicados em âmbito nacional, identiicando 116 estudos, publicados entre
1970 e 2006, com diferentes temáticas de investigação, como a observação de crianças nos mais
diferentes ambientes, a relação mãe-bebê, além de estudos que contemplaram a observação na
formação de psicólogo. Os autores apresentaram, por im, uma proposta de construção de protocolos
de pesquisa, cujo objetivo seria auxiliar a observação sistematizada, por exemplo, a partir do uso de
Comportamento em Foco 4 | 2014

recursos audiovisuais no momento da coleta de dados.


Em outro estudo de revisão sobre o uso de entrevista e observação, Belei, Gimeniz-Paschoal,
Nascimento e Matsumoto (2008) investigaram adicionalmente o emprego de videogravação, no
período de 1977 até 2005. Inicialmente, o estudo recomenda o desenvolvimento de entrevistas que
permitam a coleta de informações gerais sobre o fenômeno em investigação. O intuito de tal manobra
seria obter um conjunto de dados qualitativos acerca do mesmo. Posteriormente, é proposto o uso
da observação em conjunto com a videogravação como método para garantir a correspondência dos
dados coletados a partir da entrevista com a realidade. Outro benefício da gravação em vídeo seria
a possibilidade de revisão dos comportamentos registrados, o que favoreceria registros imparciais,

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compostos apenas pela descrição do comportamento, sem inferências do observador. Por im, os
autores sugerem a utilização complementar dos três recursos, a saber, entrevista, observação e
gravação em vídeo.
No que tange à relevância social das metodologias de observação e registro sistemático, defende-se
que seu uso possa gerar descrições detalhadas do comportamento, o que permitiria que diferentes
proissionais dialogassem em paridade de condições sobre o fenômeno observado. Exemplos desses
argumentos são: o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM-IV (1994) e
a Classiicação Internacional de Doenças – CID10 (Cano & Sampaio, 2007).
Uma limitação apresentada em relação ao método observacional refere-se à presença do observador
e/ou do local de observação. Alves et al. (1999) consideram que tais variáveis seriam capazes de alterar
o comportamento observado. Outro desaio imposto à observação cientíica é a possibilidade de
que muitos fatos ocorram simultaneamente, o que diicultaria a observação completa e imediata do
fenômeno sob investigação. Para minimizar este problema, Ferreira e Mousquer (2004) sugerem o uso
de ilmagens, ainda que tal procedimento possivelmente possa tornar a investigação mais onerosa.
A adoção do uso de ilmagens em situações aplicadas de observação foi documentada no estudo
de Benitez e Domeniconi (2012). As autoras categorizaram e quantiicaram os tipos de dicas orais
fornecidas por familiares, enquanto aplicavam um programa de ensino de leitura e escrita (de Rose,
de Souza & Hanna, 1996; de Souza, de Rose & Domeniconi, 2009) com aprendizes com deiciência
intelectual. O procedimento consistiu em supervisões nas residências para orientar os familiares
quanto à aplicação das sessões de ensino, com o uso de ilmagem das sessões e observação pela
pesquisadora. A análise de dados ocorreu a partir da revisão de todas as ilmagens realizadas ao
longo das supervisões, em busca de verbalizações fornecidas pelos monitores (familiares) para os
aprendizes, durante a aplicação das sessões do programa de ensino de leitura e escrita. A partir da
observação e registro sistemático, os autores quantiicaram e categorizaram as verbalizações dos
familiares (adequadas, como: fornecer a instrução da tarefa e elogiar; inadequadas: apontar erros na
resposta do aprendiz e responder por ele), durante a aplicação das sessões. Tais achados contribuíram
para o desenvolvimento de treinamentos futuros de familiares que possam atuar como monitores de
seus ilhos, durante a aplicação do programa de ensino de leitura e escrita.
Embora o trabalho de Murta (2005) tenha se dedicado a realizar um mapeamento teórico do campo
do treinamento de habilidades sociais (THS), é importante que seja discutido no presente estudo,
devido à identiicação do uso da observação enquanto metodologia para avaliar o resultado dos
treinamentos propostos pelos autores na área em destaque. Conforme descrição da autora, a observação
direta do comportamento, em consonância com o registro de cada evento, são estratégias utilizadas
para auxiliar na avaliação dos comportamentos ensinados em THS, em situações naturalísticas.
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

Para ilustrar esse debate, o estudo de Lohr (2003) foi conduzido com crianças em situações escolares.
A autora propôs uma entrevista semiestruturada para avaliar o relato dos pais em relação aos progressos
das habilidades sociais de seus ilhos. Lohr (2003) comenta ainda que a prática era combinada com a
observação durante as atividades escolares. Esses dados foram ao encontro dos de Murta (2005) e de
Todorov (1982), no sentido de defender a observação contínua do comportamento-alvo.
Comportamento em Foco 4 | 2014

A revisão da literatura - e a consideração dos debates expostos - viabilizou a construção de um


checklist para o melhor emprego da observação e registro de comportamentos no contexto da
pesquisa aplicada. Foram identiicadas 12 condições fundamentais, são elas:

a. Identiicação das atividades propostas, de acordo com cada objetivo de pesquisa;


b. Identiicação dos sujeitos envolvidos;
c. Aplicação de entrevistas (Belei, Gimeniz-Paschoal, Nascimento & Matsumoto, 2008;
Lohr, 2003);
d. Observações (Danna & Mattos, 2006);

14
e. Uso de ilmagens ao longo das observações (Belei et al., 2008; Benitez & Domeniconi, 2012;
Cano & Sampaio, 2007; Dessen & Murta, 1997);
f. Transcrição da observação (ou da ilmagem), a partir dos elementos: descrição do
ambiente físico, ambiente social, do sujeito observado, dos eventos físicos e sociais
(Danna & Mattos, 2006);
g. Construção de protocolos de registro para avaliação dos dados observados (Cano &
Sampaio, 2007);
h. Criação de um sistema de categorias, após conhecer o ambiente no qual está desenvolvendo
o estudo, especialmente, no caso de estudos naturalísticos (Alves et al., 1999; Cano &
Sampaio, 2007);
i. Classiicação dos tipos de evento (evento físico e social), antecedente, comportamentos e
consequentes do vídeo observado e transcrito e;
j. Análise da classiicação, a qual permite identiicar de modo sistemático as condições
antecedentes que evocavam determinadas respostas dos sujeitos envolvidos que, por sua vez,
geravam distintas consequências;
k. Análise de idedignidade ou concordância entre observadores, a partir do teste
intraobservador (Batista, 1985; Dessen, 1995);
l. No que concerne à idedignidade do observador, ela tem sido extensivamente tratada
pelos autores que atuam em análise do comportamento aplicada (Batista, 1985), visto que
uma observação controlada e sistemática é um instrumento idedigno de investigação
cientíica. Ela necessita de planejamento e preparação prévia dos observadores quanto ao(s)
fenômeno(s) observado(s).

4. Conclusões

Considerando que o uso dos estudos observacionais é bastante restrito, o presente trabalho adverte
para a importância da observação e do registro sistemático do comportamento na esfera da prática
clínica e da pesquisa aplicada. O uso recorrente de medidas de autorrelato como fonte de investigação
deve ser a preocupação central para pesquisadores e terapeutas comprometidos com a efetividade de
suas intervenções. Defende-se que avaliar de maneira eicaz a frequência, duração e outras dimensões
do comportamento é possível, apenas, com o uso sistemático de observações e registros.
A partir do exame da literatura, foi possível identiicar os aspectos mais relevantes da investigação
cientíica no contexto clínico e na pesquisa aplicada. Dada a possibilidade de registro, classiicação e
da criação de categorias, as observações realizadas nesses contextos devem ser registradas e analisadas
de maneira a primar pela neutralidade do observador a respeito dos comportamentos observados.
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado

Adicionalmente, é possível veriicar que a categorização e a quantiicação dos comportamentos


apresentados pelos participantes contribuem para o monitoramento e orientação de pais e crianças.
Tais estratégias favoreceram ainda o diagnóstico preciso e precoce, fato este que viabilizou a
modiicação das variáveis ambientais que exerciam controle direto sobre os comportamentos
problema do cliente.
Comportamento em Foco 4 | 2014

O registro de descrições detalhadas do comportamento do cliente realizado ao longo dos


atendimentos clínicos foi fator determinante no sentido de garantir a efetividade e coniabilidade
da técnica. Avalia-se que as constatações derivadas da observação e registro sistemático não seriam
possíveis, caso se adotassem medidas de autorrelato ou relato de terceiros.
Defende-se que é imprescindível que a prática da observação e registro sistemático do
comportamento, especialmente no âmbito da prática clínica e da pesquisa aplicada, seja aperfeiçoada
em relação aos seus métodos e técnicas. Ademais, acrescenta-se que tal desenvolvimento deve
respeitar uma série de fatores, por exemplo, o intuito particular da observação, o contexto de
aplicação, o público alvo, entre outros.

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Espera-se que o presente trabalho contribua para o desenvolvimento de estudos futuros, no
sentido de ampliar as oportunidades de análise de dados de estudos que empreguem a metodologia
observacional. Certamente, a técnica utilizada para o registro sistemático de comportamentos
pode contribuir para o desenvolvimento de análises funcionais ainda mais precisas em relação aos
comportamentos observados. Entretanto, é importante salientar que a subjetividade do observador
estará necessariamente implicada na análise e registro da situação observada, o que inluenciará na
validade interna e externa do estudo. Por mais que a técnica apresentada se proponha a ser objetiva,
é importante destacar o papel da subjetividade na interpretação dos resultados, no sentido de obter
controles experimentais que favoreçam a replicação dos dados, especialmente, no que se refere ao
aprimoramento de métodos e técnicas a serem elaborados, conforme a inalidade da observação a ser
conduzida em cada experimento.

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