Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
em foco
4
20 anos
1991 .2011
Catalogação na publicação
Biblioteca Dante Moreira Leite
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Comportamento em foco 4
Nicodemos Batista Borges ... [et al.]. – São Paulo: Associação Brasileira de
Psicologia e Medicina Comportamental - ABPMC, 2014.
250 p.
ISBN: 978-85-65768-03-0
Setembro 2014
4 COM
POR
TAM
ENT
O em
foco
Apresentação
3
Lista de Colaboradores [Pareceristas Doutores]
Sumár
io
20 anos
1991 . 2011
COMPO
RTAME
NTO em
foco 4
Sumár
io
20 anos
1991 . 2011
Procedimentos de observação e registro: da clínica à pesquisa aplicada
Priscila Benitez1
Carolina Coury Silveira
Chayene Hackbarth
Luziane de Fátima Kirchner
Universidade Federal de São Carlos
Resumo
7
Para explicar um fenômeno comportamental de maneira científica, é necessário que ocorra uma
observação prévia, um registro minucioso e uma descrição detalhada de tal fenômeno. A partir da
observação e registro criterioso dos fenômenos comportamentais, é possível classificar relações
complexas, encontrar possíveis variáveis interferentes em cada um deles e realizar uma análise das
unidades básicas destes comportamentos (Britto, Oliveira & Souza, 2003).
A observação e o registro se tornam necessários em outros âmbitos, além dos experimentos
controlados típicos da pesquisa básica. Cano e Sampaio (2007) ensinam que estas são ferramentas
fundamentais, desde que aplicadas de maneira estruturada e sistemática, nas práticas clínicas e
pesquisas aplicadas.
Garantir um registro confiável na atividade clínica e na pesquisa aplicada é condição necessária
para que o pesquisador e/ou terapeuta possa identificar os efeitos da intervenção implementada, bem
como investigar a interferência de potenciais variáveis intervenientes. Contudo, diferentemente da
pesquisa experimental, nestes contextos, muitas vezes não é possível realizar um controle rígido de
todas as variáveis que poderiam influenciar no procedimento proposto.
Este capítulo pretende apresentar de maneira didática o que é a observação e o registro de
comportamentos no âmbito da Análise do Comportamento, para que servem e como podem ser
realizados em situações costumeiramente desafiadoras. Para isso, foram propostos três tópicos de
discussão: (1) apresentação dos pressupostos básicos de observação e registro de comportamentos,
(2) a possibilidade da realização de observação direta e registro de comportamentos no processo
de atendimento de um caso clínico, e (3) apresentação de dados de observação e registro de
comportamentos numa pesquisa aplicada.
O termo “observar” traz conotações que divergem, de acordo com o fenômeno observado e o
propósito da investigação. A observação é algo inerente ao indivíduo, é a maneira pela qual ele avalia
e aprende sobre o mundo ao seu redor (Danna, & Mattos, 2006). Observar, para o senso comum,
pode ser o ato de “olhar cuidadosamente para algo ou alguém”, bem como sinônimo de examinar,
Comportamento em Foco 4 | 2014
8
1972) e a Análise do Comportamento, como no caso dos estudos sobre a interação mãe-criança
(Marturano, 1972; Sollitto, 1972), autocontrole do comportamento alimentar (Kerbauy, 1972) e
modificação do comportamento pré-escolar (Mejias, 1973).
Atualmente, estudos observacionais contam com tecnologia audiovisual avançada para captar
som e imagem com qualidade e técnicas de registro capazes de coletar dados mais fidedignos acerca
dos fenômenos investigados (Steiner et al., 2013). Autores contemporâneos defendem a observação
direta como principal método de investigação (Benitez & Domeniconi, 2012; Löhr; 2003; Steiner
et al., 2013), porém, na prática clínica, este recurso ainda é pouco explorado (Britto et al., 2003;
Sturmey, 1996).
De acordo com Sturmey (1996), pesquisadores e clínicos ainda optam por medidas de autorrelato,
como fonte de investigação do comportamento, pela praticidade e baixo custo que estas medidas
oferecem. Entretanto, como apontam Danna e Matos (1996; 2006), a observação do comportamento
é o recurso mais eficaz para identificar diferentes dimensões do comportamento (e.g. frequência,
duração, desempenho) e avaliar, em situação natural ou ambiente de laboratório, as relações existentes
entre o comportamento e certas circunstâncias ambientais, de modo a prevê-las e modificá-las.
Dentre as vantagens da observação direta, enquanto método de investigação, Fagundes (2006)
mostra contribuições como: (a) aumentar a compreensão a respeito do comportamento a ser
investigado, (b) facilitar o levantamento de hipóteses acerca do problema, e (c) acompanhar uma
intervenção, avaliando seus efeitos e eficácia. Além disso, pode ser utilizado por psicólogos em
diferentes situações de aplicação (clínica, escola, empresa) e em pesquisas.
Embora existam muitas vantagens, alguns procedimentos devem ser adotados com o intuito de
minimizar vieses dos dados coletados. Um dos principais cuidados é a neutralidade do observador,
isto é, ele deve se ater aos fatos efetivamente observados, sem fazer interpretações pessoais (Danna
& Matos, 1996). Além disso, o observador deve estabelecer o local e os sujeitos a serem observados,
as situações e os comportamentos que serão observados e, por fim, definir a técnica de registro a ser
utilizada (Batista, 1985; Hutt, 1974).
No tópico subsequente, segue uma discussão acerca da aplicação da observação e registro no
âmbito clínico.
A observação direta dos comportamentos do cliente em sessão e a maneira como eles são
registrados têm fundamental importância para a análise de contingências que vigoram na rotina
daquele indivíduo. A observação direta é uma técnica utilizada na investigação científica que permite
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado
ao clínico registrar detalhes da interação terapêutica e classificar relações complexas, por exemplo,
criando categorias de classes de respostas ocorridas durante a sessão (Britto et al., 2003).
De Rose (1997) ressalta a relevância do relato verbal como fonte de dados. O autor chama a
atenção para a importância do estudo da presença de controle de estímulos sobre respostas verbais
Comportamento em Foco 4 | 2014
dos indivíduos. Segundo Britto, Oliveira e Sousa (2003) são poucos os estudos que correlacionam e/
ou analisam métodos de observação direta e descrição de medidas de comportamento em contextos
clínicos. Esta seção visa descrever, de modo sucinto, um caso clínico de terapia comportamental
infantil e apresentar como a observação direta e o método de registro empregado permitiram
análises efetivas para a modificação de variáveis ambientais que exerciam controle direto nos
comportamentos-problema do cliente.
9
Apresentação do caso
a. Cliente
Sexo masculino, sete anos de idade, possui uma irmã de três anos. Caracterizava-se por ser uma
criança sorridente que não falava muito, mas seguia todas as orientações que a terapeuta fornecia sem
questionar, entretanto, de maneira lenta e distraindo-se com muita facilidade. O cliente demorava
muito para realizar qualquer atividade solicitada e costumava justificar tudo que realizava, por
exemplo, “acertei o que escrevi porque eu sou muito bom”, ou “porque a borracha estava aqui” (sic).
Os pais relataram dificuldades para disciplinar o filho. Disseram que ele sempre os “corrigia”, dava
broncas nos dois, estava frequentemente irritado e chorava com muita facilidade. Contaram que o
filho era muito distraído, se esquecia de tudo muito rapidamente e ainda que o filho sempre estivesse
sozinho nas saídas da escola, não contava muito sobre amigos e que acreditavam que ele não os tinha.
A mãe ressaltou que o cliente fantasiava muito, não com brinquedos convencionais, mas com
alguns materiais específicos como barbantes, fios, papel, terra e trens. Por fim, relataram que o filho
criava muitas regras para brincar e acabava não brincando, apenas ficava ditando as regras do jogo
inventado aos pais.
b. Procedimento
Foi solicitada aos pais a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que autorizava
a divulgação dos dados e assegurava o sigilo da identidade do cliente. Foram realizadas 55 sessões de
terapia com duração média de 60 minutos cada, em consultório particular. Durante o atendimento, a
terapeuta registrava os comportamentos verbais do cliente em uma tabela e possíveis antecedentes e
consequências produzidas pelo cliente no ambiente. A Tabela 1 apresenta alguns exemplos de como
a tríade comportamental foi registrada nas primeira e segunda metade do processo terapêutico.
Tabela 1
Exemplos de registro de contingências de três termos dos comportamentos problemas
do cliente na primeira e segunda metade do processo terapêutico
SD R SC
Atividade: “Adivinhe qual é a “Cara de sono” (sic) T. diz “a emoção é felicidade” (sic).
emoção?” – Apresentação de T. dá exemplos de situações que
face alegre. lhe provocam felicidade
Comportamento em Foco 4 | 2014
SD R SC
Presença da T. e de “RG” de Diz “RG, retirado de Gustavo” T. solicita que fale a mesma coisa
brinquedo (sic) de três maneiras diferentes
Timer toca sinalizando fim da Guarda os brinquedos T. sinaliza que ele pode escolher
brincadeira qual será a próxima atividade
10
c. Resultados e discussões sobre os dados
conviviam com ele, como colegas de escola, tios e avós. Alguns dos objetivos terapêuticos estabelecidos
foram: (a) desenvolver habilidades sociais, (b) ensinar o cliente a organizar seu tempo para a realização
de atividades cotidianas, (c) ensinar expressões faciais e emoções, (d) ajudá-lo a identificar variáveis
responsáveis por acontecimentos pelos quais dava explicações ilógicas, (e) modelar e dar modelo de
como se comportar para estabelecer interações sociais efetivas, dentre outros.
Comportamento em Foco 4 | 2014
A partir da análise das tríades comportamentais registradas ao longo do processo terapêutico, foi
possível identificar que o cliente não entendia os pedidos e explicações dos pais em cada situação.
De modo semelhante, não entendia algumas explicações e solicitações da terapeuta em sessão.
Esta dificuldade estava diretamente relacionada com pedidos que exigissem abstrações verbais e
que concorriam com autorregras do cliente, impossibilitando-o de seguir as regras dos pais ou da
terapeuta. Esta conclusão facilitou a compreensão do caso de maneira geral, pois os pais e a terapeuta
passaram a compreender a topografia desses comportamentos, sem identificá-los em uma categoria
de opositor-desafiante, mas sim em um aspecto mais geral, no que concerne à falta de repertório
comportamental mais flexível e variável, a depender do contexto em vigor.
11
Após esta análise, foram propostas as estratégias abaixo para a intervenção clínica:
para o cliente foi “porque me deu vontade de ir ao banheiro e isso me atrasou”, em seguida a
terapeuta solicitava que o cliente desse outras respostas alternativas.
12
professora de sala de aula), passou a identificar de maneira efetiva expressões e verbalizações e
apresentou melhora expressiva na qualidade de suas interações interpessoais (com seus pais, colegas
de sala de aula e terapeuta).
A observação direta e o registro sistemático das sessões terapêuticas foram estratégias primordiais
para a identificação do padrão de respostas do cliente. Esta identificação possibilitou a implementação
de intervenções específicas, individuais e, portanto, mais efetivas para os comportamentos-problema
deste. A falta de registro da observação da terapeuta, neste caso clínico, poderia acarretar na
identificação incorreta da função dos comportamentos-alvo do cliente e assim, em intervenções mal
sucedidas. Fica evidente a relevância do registro das respostas do cliente em sessão e em ambiente
natural e dos possíveis determinantes para estas respostas, como essencial no sucesso das intervenções
implementadas e na expressiva melhora na qualidade das interações interpessoais deste.
O tópico a seguir trata da observação e registro no contexto de pesquisa aplicada.
A observação pode ser realizada de modo informal, ou seja, sem considerar uma sistematização
específica, ou pode respeitar um conjunto de normas e/ou protocolos. Quando utilizada para
fins de pesquisa científica é nomeada de observação científica e tem o propósito de viabilizar
a consecução do objetivo da investigação a ser realizada (Cano & Sampaio, 2007; Ferreira &
Mousquer, 2004). É importante destacar que a observação assistemática também pode servir à
coleta de dados em pesquisas científicas, todavia, tal condição dependerá do objetivo traçado para
o estudo (Murta, 2005).
Na pesquisa aplicada, a observação e o registro não devem ser suscetíveis a qualquer
inferência, visto que o fenômeno (unidade de análise, por exemplo, o comportamento) deverá ser
observado e registrado tal como ocorre na situação de investigação. Com base nos pressupostos
comportamentais, recomenda-se que o registro seja elaborado a partir da observação e transcrição
de cada comportamento, ou melhor, a partir da observação e registro de diferentes respostas em suas
relações funcionais (Danna & Mattos, 2006).
Nessa perspectiva, Todorov (1982) sugere que o trabalho de pesquisa desenvolvido com
base nos achados comportamentais deveria, fundamentalmente, contemplar a observação e o
registro contínuo do comportamento. Ademais, o autor destaca a importância de observações
casuais, observações controladas de campo, observações clínicas e observações controladas do
comportamento em instituições.
No que concerne à metodologia observacional, Cano e Sampaio (2007) realizaram um mapeamento
de estudos científicos publicados em âmbito nacional, identificando 116 estudos, publicados entre
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado
1970 e 2006, com diferentes temáticas de investigação, como a observação de crianças nos mais
diferentes ambientes, a relação mãe-bebê, além de estudos que contemplaram a observação na
formação de psicólogo. Os autores apresentaram, por fim, uma proposta de construção de protocolos
de pesquisa, cujo objetivo seria auxiliar a observação sistematizada, por exemplo, a partir do uso de
Comportamento em Foco 4 | 2014
13
compostos apenas pela descrição do comportamento, sem inferências do observador. Por fim, os
autores sugerem a utilização complementar dos três recursos, a saber, entrevista, observação e
gravação em vídeo.
No que tange à relevância social das metodologias de observação e registro sistemático, defende-se
que seu uso possa gerar descrições detalhadas do comportamento, o que permitiria que diferentes
profissionais dialogassem em paridade de condições sobre o fenômeno observado. Exemplos desses
argumentos são: o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM-IV (1994) e
a Classificação Internacional de Doenças – CID10 (Cano & Sampaio, 2007).
Uma limitação apresentada em relação ao método observacional refere-se à presença do observador
e/ou do local de observação. Alves et al. (1999) consideram que tais variáveis seriam capazes de alterar
o comportamento observado. Outro desafio imposto à observação científica é a possibilidade de
que muitos fatos ocorram simultaneamente, o que dificultaria a observação completa e imediata do
fenômeno sob investigação. Para minimizar este problema, Ferreira e Mousquer (2004) sugerem o uso
de filmagens, ainda que tal procedimento possivelmente possa tornar a investigação mais onerosa.
A adoção do uso de filmagens em situações aplicadas de observação foi documentada no estudo
de Benitez e Domeniconi (2012). As autoras categorizaram e quantificaram os tipos de dicas orais
fornecidas por familiares, enquanto aplicavam um programa de ensino de leitura e escrita (de Rose,
de Souza & Hanna, 1996; de Souza, de Rose & Domeniconi, 2009) com aprendizes com deficiência
intelectual. O procedimento consistiu em supervisões nas residências para orientar os familiares
quanto à aplicação das sessões de ensino, com o uso de filmagem das sessões e observação pela
pesquisadora. A análise de dados ocorreu a partir da revisão de todas as filmagens realizadas ao
longo das supervisões, em busca de verbalizações fornecidas pelos monitores (familiares) para os
aprendizes, durante a aplicação das sessões do programa de ensino de leitura e escrita. A partir da
observação e registro sistemático, os autores quantificaram e categorizaram as verbalizações dos
familiares (adequadas, como: fornecer a instrução da tarefa e elogiar; inadequadas: apontar erros na
resposta do aprendiz e responder por ele), durante a aplicação das sessões. Tais achados contribuíram
para o desenvolvimento de treinamentos futuros de familiares que possam atuar como monitores de
seus filhos, durante a aplicação do programa de ensino de leitura e escrita.
Embora o trabalho de Murta (2005) tenha se dedicado a realizar um mapeamento teórico do campo
do treinamento de habilidades sociais (THS), é importante que seja discutido no presente estudo,
devido à identificação do uso da observação enquanto metodologia para avaliar o resultado dos
treinamentos propostos pelos autores na área em destaque. Conforme descrição da autora, a observação
direta do comportamento, em consonância com o registro de cada evento, são estratégias utilizadas
para auxiliar na avaliação dos comportamentos ensinados em THS, em situações naturalísticas.
Para ilustrar esse debate, o estudo de Lohr (2003) foi conduzido com crianças em situações escolares.
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado
A autora propôs uma entrevista semiestruturada para avaliar o relato dos pais em relação aos progressos
das habilidades sociais de seus filhos. Lohr (2003) comenta ainda que a prática era combinada com a
observação durante as atividades escolares. Esses dados foram ao encontro dos de Murta (2005) e de
Todorov (1982), no sentido de defender a observação contínua do comportamento-alvo.
Comportamento em Foco 4 | 2014
14
e. Uso de filmagens ao longo das observações (Belei et al., 2008; Benitez & Domeniconi, 2012;
Cano & Sampaio, 2007; Dessen & Murta, 1997);
f. Transcrição da observação (ou da filmagem), a partir dos elementos: descrição do
ambiente físico, ambiente social, do sujeito observado, dos eventos físicos e sociais
(Danna & Mattos, 2006);
g. Construção de protocolos de registro para avaliação dos dados observados (Cano &
Sampaio, 2007);
h. Criação de um sistema de categorias, após conhecer o ambiente no qual está desenvolvendo
o estudo, especialmente, no caso de estudos naturalísticos (Alves et al., 1999; Cano &
Sampaio, 2007);
i. Classificação dos tipos de evento (evento físico e social), antecedente, comportamentos e
consequentes do vídeo observado e transcrito e;
j. Análise da classificação, a qual permite identificar de modo sistemático as condições
antecedentes que evocavam determinadas respostas dos sujeitos envolvidos que, por sua vez,
geravam distintas consequências;
k. Análise de fidedignidade ou concordância entre observadores, a partir do teste
intraobservador (Batista, 1985; Dessen, 1995);
l. No que concerne à fidedignidade do observador, ela tem sido extensivamente tratada
pelos autores que atuam em análise do comportamento aplicada (Batista, 1985), visto que
uma observação controlada e sistemática é um instrumento fidedigno de investigação
científica. Ela necessita de planejamento e preparação prévia dos observadores quanto ao(s)
fenômeno(s) observado(s).
4. Conclusões
Considerando que o uso dos estudos observacionais é bastante restrito, o presente trabalho adverte
para a importância da observação e do registro sistemático do comportamento na esfera da prática
clínica e da pesquisa aplicada. O uso recorrente de medidas de autorrelato como fonte de investigação
deve ser a preocupação central para pesquisadores e terapeutas comprometidos com a efetividade de
suas intervenções. Defende-se que avaliar de maneira eficaz a frequência, duração e outras dimensões
do comportamento é possível, apenas, com o uso sistemático de observações e registros.
A partir do exame da literatura, foi possível identificar os aspectos mais relevantes da investigação
científica no contexto clínico e na pesquisa aplicada. Dada a possibilidade de registro, classificação e
da criação de categorias, as observações realizadas nesses contextos devem ser registradas e analisadas
de maneira a primar pela neutralidade do observador a respeito dos comportamentos observados.
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado
15
Espera-se que o presente trabalho contribua para o desenvolvimento de estudos futuros, no
sentido de ampliar as oportunidades de análise de dados de estudos que empreguem a metodologia
observacional. Certamente, a técnica utilizada para o registro sistemático de comportamentos
pode contribuir para o desenvolvimento de análises funcionais ainda mais precisas em relação aos
comportamentos observados. Entretanto, é importante salientar que a subjetividade do observador
estará necessariamente implicada na análise e registro da situação observada, o que influenciará na
validade interna e externa do estudo. Por mais que a técnica apresentada se proponha a ser objetiva,
é importante destacar o papel da subjetividade na interpretação dos resultados, no sentido de obter
controles experimentais que favoreçam a replicação dos dados, especialmente, no que se refere ao
aprimoramento de métodos e técnicas a serem elaborados, conforme a finalidade da observação a ser
conduzida em cada experimento.
Referências
American Psychiatry Association (1994). DSM-IV, Diagnostic and statistical manual for mental
disorders, 4th ed. Washington, DC: APA.
Alves, P. B., Koller, S. H., Silva, S. H., Reppold, C. T., Santos, C. L., Bichinho, G. S., Prade, L. T.,
Silva, M. L. & Tudge, J. (1999). A construção de uma metodologia observacional para o estudo de
crianças em situação de rua criando um manual de codificações de atividades cotidianas. Estudos
de Psicologia, 4(2), 289-310.
Ades, C. (1972). A teia e a caça da aranha Argiope argentata. (Tese de doutorado, não-publicada).
Universidade de São Paulo, São Paulo.
Batista, C. G. (1985). Objetivos da avaliação da fidedignidade em estudos observacionais. Psicologia
Teoria e Pesquisa, 1(3), 205-214.
Belei, R. A., Gimeniz-Paschoal, S. R., Nascimento, E. N. & Matsumoto, P. H. V. R. (2008). O uso da
entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação, 30, 187-199.
Benitez, P. & Domeniconi, C. (2012). Verbalizações de familiares durante aprendizagem de leitura e
escrita por deficientes intelectuais. Estudos de Psicologia, 29(4), 553-562.
Britto, I. A. G. S., Oliveira, J. A. & Sousa, L. F. D. (2003). A relação terapêutica evidenciada através
do método de observação direta. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 5(2),
139-149.
Cano, D. S. & Sampaio, I. T. A. (2007). O método de observação na psicologia: considerações sobre a
produção científica. Interação em Psicologia, 11(2), 199-210.
Carvalho, A. M. A (1972). Alguns dados sobre a divisão de trabalho entre obreiras de Atta sexdens
Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado
Danna, M. F. & Matos, M. A. (1996). Ensinando observação: Uma introdução. 3ªed. São Paulo: Edicon.
Danna, M. F. & Matos, M. A. (2006). Aprendendo a observar. 1ªed. São Paulo: Edicon.
de Rose, J. C. C. (1997). O relato verbal segundo a perspectiva da Análise do Comportamento:
Contribuições conceituais e experimentais. Em R. A. Banaco (Org.) Sobre Comportamento e
Cognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia
Cognitiva, (Vol. 1, pp. 148-163). São Paulo: ARBytes.
de Rose, J. C., de Souza, D. G., & Hanna, E. S. (1996). Teaching reading and spelling: Exclusion and
stimulus equivalence. Journal of Applied Behavior Analysis, 29(4), 451-469.
16
de Souza, D. G., de Rose, J. C. & Domeniconi, C. (2009). Applying relational operant’s to reading and
spelling. In: R. A. Rehfeldt & Y. Barnes- Holmes (Eds.) Derived relational responding: Applications
for learners with autism and other developmental disabilities (pp.173-207). Oakland, CA: New
Harbinger Publications.
Dessen, M. A. (1995). Tecnologia de vídeo: registro de interações sociais e cálculos de fidedignidade
em estudos observacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 11(3), 223-227.
Dessen, M. A. & Murta, S. G. (1997). A metodologia observacional na pesquisa em psicologia: Uma
visão crítica. Cadernos de Psicologia, 1, 3-64.
Fagundes, A. J. F. M. (2006). Descrição, definição e registro de comportamento. 14ª Ed. São Paulo: Edicon.
Ferreira, A. B. H. (1988). Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Ferreira, V. R. T. & Mousquer, D. N. (2004). Observação em psicologia clínica. Revista de Psicologia
da UnC, 2(1), 54-61.
Hutt, S. J. (1974). Observação direta e medida do comportamento. ( C. M. Bori, Trad.) 1ªEd.. São
Paulo: EPU.
Kerbauy, R. R. (1972) Autocontrole: Manipulação de condições do comportamento alimentar. (Tese de
doutorado não-publicada). Universidade de São Paulo, São Paulo.
Löhr, S. S. (2003). Estimulando o desenvolvimento de habilidades sociais em idade escolar. Em A. Del
Prette & Z. A. P. Del Prette (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: Questões
conceituais, avaliação e intervenção (pp. 293-310). Campinas, SP: Alínea.
Marturano, E. M. (1972) Estudo da interação verbal criança-mãe. (Tese de doutorado não-publicada).
Universidade de São Paulo, São Paulo.
Mejias, N. P. (1973). Modificação de comportamento em situação escolar. (Tese de doutorado não-
publicada). Universidade de São Paulo, São Paulo.
Murta, S. G. (2005). Aplicações do treinamento em habilidades sociais: Análise da produção nacional.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2), 283-291.
Sollito, N. A. (1972) Observação da interação mãe-nenê em uma situação natural. (Tese de doutorado
não-publicada). Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
Steiner, N. J., Sidhu, T., Rene, K., , K., , E. & Brennan, R. T. (2013) Development and testing of
a direct observation code training protocol for elementary aged students with attention deficit/
hyperactivity disorder. Educational Assessment, Evaluation and Accountability, 25(4), 281-302.
Sturmey, P. (1996). Functional analysis in clinical psychology. England: John Wiley & Sons.
Todorov, J. C. (1982). Behaviorismo e analise experimental do comportamento. Cadernos de Análise
do Comportamento, 3, 10-23. Benitez . Silveira . Hackbarth . Kirchner . Prado
Comportamento em Foco 4 | 2014
17