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CENTRO UNIVERSITÁRIO ALVES FARIA

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

LUCIANA LOURENÇO RIOS

Noções de saúde mental em Goiás:


Reflexões a partir de uma pesquisa bibliográfica

GOIÂNIA,
2021
LUCIANA LOURENÇO RIOS

Noções de saúde mental em Goiás:


Reflexões a partir de uma pesquisa bibliográfica

Artigo apresentado ao Centro Universitário


Alves Faria como requisito parcial para obtenção
do título de Psicóloga.

Orientador: Profª. Ma. Ana Terra Sudário


Gonzaga.

GOIÂNIA,
2021
LUCIANA LOURENÇO RIOS

Noções de saúde mental em Goiás:


Reflexões a partir de uma pesquisa bibliográfica

Artigo apresentado ao Centro Universitário


Alves Faria como requisito parcial para obtenção
do título de Psicóloga.

Orientador: Profª. Ma. Ana Terra Sudário


Gonzaga.

____________________________________________________________
Profª. Ma. Ana Terra Sudário Gonzaga – Centro Universitário Alves Faria

____________________________________________________________
Profª. Ma. Marina Magalhães David – Centro Universitário Alves Faria

____________________________________________________________
Profº. Me. Mayk Diego da Glória Machado – SMS Aparecida de Goiânia

Goiânia, 17 de Junho de 2021.


Em memória daquela que me ensinou sobre a dor e o amor, minha mãe, Célia.
Agradecimentos

Esse pequeno espaço e, as palavras aqui contidas, por mais belas que possam ser não

conseguem traduzir o sentimento de gratidão a todas as pessoas, seres e momentos que foram

vivenciados nesse processo difícil, porém necessário à minha formação acadêmica.

Em primeiro lugar agradeço ao meu Deus! Um Deus que não habita igrejas, templos,

terreiros ou, qualquer outro lugar que os homens designam como sendo Dele. Agradeço ao

Deus que me permite respirar, que alimenta as células do meu corpo com a energia vital. Sou

grata por me dar o privilégio de estar em um curso superior e, assim poder usar o

conhecimento adquirido em prol de uma sociedade mais justa e humana.

Seguindo uma linha lógica daquilo que denominamos amor, agradeço também aos

meus pais. Para eles, papai e mamãe, Cristovam e Célia: obrigada!

Agradeço a mamãe por sua dureza comigo durante todo tempo em que estivemos

juntas nessa Terra, a memória de seus ensinamentos me fortaleceram e, me ajudaram em mais

uma etapa de crescimento pessoal e profissional. Sem ela, eu não estaria aqui.

Ao papai que me viu chorando tantas vezes, me sentindo incapaz, obrigada pelas

palavras de otimismo. Elas me fizeram não desistir. Obrigada pela admiração representada

em seu olhar que, só pude ver em nossas conversas online, nos intervalos dos estudos. Seu

carinho e amor me mantiveram firmes em direção ao meu objetivo. Sem ele, eu não estaria

aqui.

Ao meu “beija-flor”, obrigada por todas as palavras de otimismo e confiança.

Agradeço pelo cuidado e pelas preocupações, pelo auxilio importante nos problemas do dia-

a-dia que, me propiciou tempo e condições para conclusão desta atividade.


À minha orientadora Ana Terra, agradeço a caminhada ao longo desse ano de

trabalho. Gratidão à paciência, aos conselhos tecidos no decorrer de todo o processo e, as

palavras de ânimo e confiança nos momentos em que mais tive medo. Obrigada!

Gratidão à Instituição da qual faço parte, na pessoa da coordenadora Hérica Landi, de

todos os professores e dos demais funcionários que contribuíram para que esse momento se

tornasse realidade, proporcionando ao longo desses cinco anos de formação condições para

que o conhecimento técnico-cientificio se tornasse parte de minha vida.

Agradeço ainda, aos professores constituintes dessa banca de avaliação, professora

Marina Magalhães e ao professor Mayk Machado, por aceitarem o convite realizado pela

minha orientadora, dispondo de parte do seu tempo para lerem o material dessa aspirante a

psicóloga e, trazerem suas contribuições para o meu crescimento e desenvolvimento

profissional.

Por fim, dedico um último, mas não menos importante parágrafo para os meus

amigos, animais de estimação (Caramelo e Neguinho), colegas, profissionais da psicologia,

supervisores, professores de cursos realizados fora da faculdade, ex-chefes, chefes atuais (em

especial a Janaína), que de uma forma ou outra fizeram parte disso, me ouvindo, me

ajudando, me dando oportunidades, me chamando atenção, me dando carinho, me colocando

pra cima, me levando pra sair e “descansar a cabeça” quando eu já não via uma luz no fim do

túnel.

Todos vocês serão para sempre parte do que sou e, do que eu vier a ser amanhã.

Obrigada!
“... Não preciso de remédio
Eu só quero conversar
Não estou doente!
Você pode me escutar?...”
(Leandrino dos Santos)
Resumo

Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica na qual, a partir da análise de artigos
científicos publicados em bases de dados nacionais, discutiremos as diferentes noções de
saúde mental nas pesquisas realizadas no estado de Goiás. Partindo das divergências entre a
realidade objetiva e as práticas psicossociais predominantes em saúde mental adotadas
atualmente, queremos conhecer quais têm sido os sentidos abordados nas pesquisas realizadas
em torno dessa temática no Estado de Goiás pela psicologia. Para isso será preciso investigar
quais os locais em que têm sido realizadas as pesquisas; quais os temas têm sido discutidos
junto à saúde mental e quais as terminologias mais utilizadas e associadas à saúde mental
nesses trabalhos. Foram selecionados quinze artigos em duas bases de dados nacionais e, seus
dados foram separados em quatro tópicos, sendo eles: os municípios em que as pesquisas
foram realizadas; as instituições onde os dados foram coletados; os modelos de cuidados que
embasaram as discussões das pesquisas e, as terminologias associadas à saúde mental.
Pudemos então, perceber que em nosso estado pouco tem sido publicado em relação ao tema
da saúde mental pela psicologia, o que pode causar uma dificuldade no processo de mudança
de visões dos profissionais e da sociedade em relação ao processo existência-sofrimento.

Palavras-chave: Saúde mental; Goiás; Psicologia

Abstract

This work is a literature review in which, based on the analysis of scientific articles published
in national databases, we will discuss the different notions of mental health in research
carried out in the state of Goiás. Predominant psychosocial practices in mental health
currently adopted, we want to know what meanings have been addressed in research carried
out on this theme in the State of Goiás by psychology. For this it will be necessary to
investigate where the researches have been carried out; which themes have been discussed
with mental health and which terminologies are most used and associated with mental health
in these studies. Fifteen articles were selected from two national databases, and their data
were separated into four topics, namely: the municipalities where the research was carried
out; the institutions where the data was collected; the care models that supported the research
discussions and the terminologies associated with mental health. We could then see that in
our state little has been published in relation to the topic of mental health by psychology,
which can cause difficulties in the process of changing the views of professionals and society
in relation to the existence-suffering process.

Keywords: Mental health; Goiás; Psychology.


Sumário

Noções de saúde mental em Goiás: reflexões a partir de uma revisão bibliográfica .........1
Introdução. .............................................................................................................................10
Metodologia.............................................................................................................................14
Resultados e Discussões..........................................................................................................15
Regiões onde as pesquisas foram realizadas. ...........................................................................17
Locais das coletas de dados. ....................................................................................................18
Perspectivas de cuidados em saúde mental. .............................................................................20
Terminologias/palavras associadas à noção de saúde mental. .................................................31
Considerações finais...............................................................................................................33
Referências..............................................................................................................................37
10

Noções de saúde mental em Goiás:


Reflexões a partir de uma pesquisa bibliográfica
Luciana Lourenço Rios
Ana Terra Sudário Gonzaga
Centro Universitário Alves Faria - UNIALFA

Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica na qual, a partir da análise de

artigos científicos publicados em bases de dados nacionais, discutiremos as diferentes noções

de saúde mental nas pesquisas realizadas no estado de Goiás.

Ainda hoje, após a instituição da Reforma Psiquiátrica, o conceito de saúde mental

tem sido comumente utilizado para designar a ausência de algum tipo de sofrimento psíquico

patológico pela sociedade em geral. Foi então, a partir desse olhar que nos voltamos para tal

tema uma vez que observamos ao longo de trabalhos realizados na graduação, bem como no

papel de cidadãos residentes deste estado, a discrepância entre o modelo de atenção e

cuidados psicossociais em saúde mental proposto pela Reforma Psiquiátrica e a realidade

prática nos hospitais psiquiátricos, nas ruas e nas instituições que lidam diretamente com os

sujeitos que estão em sofrimento mental.

Foi essa dualidade que nos gerou questionamentos em relação aos sentidos que têm

sido empregados teoricamente ao conceito de saúde mental, uma vez que ele é o responsável

por dirigir a prática e os objetivos de pesquisas nessa área, sendo esse então o objetivo central

da presente pesquisa. Para tanto, é preciso contextualizar o cenário histórico e o atual que

envolve a construção e manutenção desses sentidos.

Historicamente foram-se construindo duas perspectivas acerca do que seria a saúde

mental. Para Frayze-Pereira (1984) o entendimento sobre saúde mental foi construído a partir

da normatização do que seria a saúde. Ou seja, para que exista o adoecimento psíquico,
11

remetido muitas vezes à loucura, é preciso existir algo que represente o oposto, no caso, o

sentido de normalidade.

O normal estaria ligado à origem de seu próprio radical, normalizar. Assim dizendo, o

parâmetro utilizado para definição do anormal seguiria uma lógica de exclusão da diferença e

negação de si mesma, uma vez que se colocaria fora da norma. Segundo Frayze-Pereira

(1984) a norma cria o inverso de si mesma. Para o autor, o normal poderia ser definido como

um conjunto de normas constituído a partir da exclusão das diferenças, formando um modelo

padrão. A saúde mental por esse ângulo é a adequação a esse conjunto, onde o oposto dá lugar

à patologia. Nesse sentido, a saúde mental seria então o oposto de doença mental.

O apontamento desse autor pode ser percebido nas categorizações contidas em livros

de psicopatologia utilizados atualmente em cursos de psicologia, onde as definições mais

modernas de normalidade e anormalidade remetem a terminologias, como: ausência de

doença; normalidade ideal; normalidade estatística; normalidade como bem-estar;

normalidade funcional; normalidade como processo; normalidade subjetiva; normalidade

como liberdade e normalidade operacional (Dalgalarrondo, 2008). Segundo Dalgalarrondo

(2008), a adoção de determinada definição ou de suas associações, dependem do olhar

daquele que tem a autoridade para dar o diagnóstico, além da observação dos fenômenos

característicos com os quais o especialista em saúde mental deve lidar.

Em contraponto à noção biomédica, onde saúde mental e normalidade são

indissociáveis, sendo o produto final do diagnóstico de anormalidade dado pelo médico a

chamada doença mental, Szasz, (1974) defende a inexistência do que se entende por doença

mental. Para esse autor, esse é mais um conceito carregado pelas influências daqueles que o

estudam, em que seu propósito principal é o de controle do comportamento humano. Em sua

perspectiva crítica da psiquiatria clássica, enquanto as doenças físicas devem ser comprovadas
12

pela ciência através de rigorosos métodos, a chamada doença mental é uma declaração, uma

vez que se fez necessário a criação de novos critérios diagnósticos, cuja observação do

comportamento baseado nas alterações da função corpórea é o elemento determinante da

doença. Sendo assim, para essa vertente, a doença mental é uma criação da psiquiatria envolta

por questões sócio-políticas.

Seguindo essa linha de pensamento, as doenças mentais muitas vezes sob os títulos

diagnósticos de esquizofrenia, histeria, bipolaridade seriam, senão, ferramentas de coerção

moral com poder excludente que, serviria as classes dominantes da sociedade (Szasz, 1978).

Para a psicologia social, o interesse em compreender a relação entre os indivíduos e a

sociedade é tema comum às diferentes visões teóricas da própria área, (Bock, Furtado &

Teixeira, 2008) Com base nos conceitos dessa vertente da psicologia saúde mental é enxergar

o ser humano de maneira integral, considerando todos os aspectos que possam lhe

proporcionar “... bem-estar físico, mental e social.” (Bock, Furtado & Teixeira, 2008, p. 350)

Como afirma Bock, Furtado e Teixeira (2008), a saúde mental não é apenas fenômeno

das ciências médicas e psicológicas, mas é também da área política, de interesse social.

Devem-se considerar os fenômenos sociais que envolvem a vida humana, como a pobreza,

violência, educação, competitividade, desumanização etc.

No Estado de Goiás, alcançado pela Reforma Psiquiátrica brasileira, temos para os

cuidados em saúde mental ainda alguns hospitais psiquiátricos, além de um Pronto Socorro

Psiquiátrico e os Centros de Assistência Psicossociais (CAPS), pertencentes à rede do Sistema

Único de Saúde (SUS), cujo trabalho é direcionado às pessoas que apresentem necessidade de

acompanhamento médico e psicológico devido a algum sintoma de sofrimento psíquico.


13

A Reforma Psiquiátrica, atual modelo de política pública em relação à saúde mental,

foi instituída oficialmente a partir da promulgação da lei 10.216 de 6 de Abril de 2001

(Barroso & Silva, 2011). A presente lei, em seus 13 artigos, altera as diretrizes da saúde

pública do Brasil no que tange aos cuidados com os portadores de sofrimento psíquico,

carentes de acompanhamento por especialistas em saúde mental (Brasil, 2001). Na essência

desse processo de mudanças em relação à abordagem dos transtornos mentais, a lei se fez

marco de um movimento que já ocorria em prol da desinstitucionalização psiquiátrica no

Brasil, desde a década de 1970 (Barroso & Silva, 2011) e, que perdura até os dias atuais, após

quase 20 (vinte) anos de sua publicação.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) (2020),

Goiás possui uma população de 7.113.540 (Sete milhões, cento e treze mil e quinhentos e

quarenta) habitantes, em que sua capital Goiânia abarca 1.536.097 (Um milhão, quinhentos e

trinta e seis mil e noventa e sete) desse total. Em tese, atualmente o estado possui 44 (quarenta

e quatro) unidades do CAPS funcionando, 17 (dezessete) em fase de implantação (Goiás,

2020) e 6 (seis) hospitais psiquiátricos vinculados ao SUS com o total de 560 (quinhentos e

sessenta) leitos (CFP, 2019) para atender a população.

Informações extraídas do relatório de inspeção nacional realizado em hospitais

psiquiátricos do Brasil pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), Mecanismo Nacional de

Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), Conselho Nacional do Ministério Público

(CNMP) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), Goiás chama a atenção pelo alto

número de internações psiquiátricas ao lado do estado do Nordeste (CFP, 2019). Este dado vai

em direção contrária ao proposto pela Reforma Psiquiátrica, que visa a desinstitucionalização

do usuário em saúde mental, o que caracteriza a discrepância apontada como motivação para

o desenvolvimento deste trabalho.


14

Sendo assim, a partir dessas divergências entre a realidade objetiva e as práticas

psicossociais predominantes em saúde mental adotadas atualmente, queremos conhecer quais

têm sido os sentidos abordados nas pesquisas realizadas pela psicologia, em torno dessa

temática, no Estado de Goiás em que, para tanto, serão investigados em quais locais as

pesquisas foram realizadas; quais os temas foram discutidos junto à saúde mental; quais os

modelos de cuidados adotados no estado e refletidos nas pesquisas analisadas e, quais as

terminologias mais utilizadas e associadas à saúde mental nesses trabalhos.

Metodologia

A metodologia aplicada para obtenção dos dados foi a pesquisa bibliográfica, que tem

como ponto positivo propiciar ao pesquisador uma coleta maior de informações de

determinado local (Gil, 2002). Esse fato justifica por si só a escolha de tal método, uma vez

que seria impossível e, não atenderia ao objetivo proposto a aplicação de outra metodologia.

O estudo se desenvolveu a partir do levantamento de material em duas bases de dados

digitais: Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Portal de Periódicos Eletrônicos de

Psicologia (PePSIC) resultando em um total de trinta e três artigos, inicialmente.

O processo de seleção, inclusão e exclusão dos artigos se deu primeiro realizando a

filtragem dos materiais nas plataformas definidas escritos em língua portuguesa. Não foram

estipulados períodos de tempo específicos inicialmente, pois ao aplicar determinado critério

houve considerável redução de materiais, o que tornaria inviável a pesquisa.

Em um segundo momento, que será descrito adiante, foram realizadas as leituras dos

resumos dos artigos resultantes da combinação das palavras-chave “saúde mental and Goiás”.
15

Desta feita somaram-se quinze artigos passíveis de serem analisados e discutidos sob a ótica

da psicologia social.

Em sintonia com o que determina a literatura científica no que tange a fidedignidade

da pesquisa e, com atenção ao objetivo do trabalho, foram determinados nessa segunda etapa,

alguns critérios para seleção do material definitivo para nossa análise: 1) a pesquisa ter sido

realizada no e, somente, Estado de Goiás; 2) serem pesquisas publicadas em revistas de

psicologia e/ou realizadas por psicólogos e 3) fazerem uso da terminologia “saúde mental” ao

longo do desenvolvimento do trabalho.

É importante salientar que alguns artigos da base de dados SciELO foram excluídos

por estarem repetidos. Foram quatro no total. Na base de dados PEPSIC, não houveram

materiais em duplicidade, sendo excluídos apenas aqueles que não atenderam aos três critérios

de inclusão determinados para essa etapa.

Resultados e Discussões

Visando responder ao objetivo da pesquisa, os quinze artigos selecionados após a

leitura exploratória foram analisados e, seus dados foram separados em quatro tópicos, sendo

eles: os municípios em que as pesquisas foram realizadas; as instituições onde os dados foram

coletados; os modelos de cuidados que embasaram as discussões das pesquisas e, as

terminologias associadas à saúde mental.

Na Tabela 1 apresentamos as informações iniciais coletadas do material pesquisado,

tais como título do artigo, ano de publicação, relação dos autores, nome da revista onde o

artigo foi publicado e o local onde foi realizada a pesquisa.


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Tabela 1
Artigos selecionados de acordo com título, ano, autores, revista, local e região da pesquisa.
Título Autores Revista Local da pesquisa

A percepção e a prática dos Pereira, R. M. P.; Interface – RAPS -Estratégia


profissionais da Atenção Primária à Amorim, F. F. & Comunicação, Saúde da Família
Saúde sobre a Saúde Mental (2020) Gondim, M. F. N. Saúde, (ESF)
Educação Itumbiara/GO

Matriciamento em saúde mental Pegoraro, R. F.; Psicologia em CAPS Beija-Flor e


segundo profissionais da estratégia Cassimiro, T. J. L. estudo ESF Goiânia/GO
da saúde da família (2014) & Leão, N. C.

O profissional de referência em Silva, E. A. & Revista Centros de Atenção


Saúde Mental: das Costa, I. I. Latinoamerica Psicossocial
responsabilizações ao sofrimento na de (CAPS)
psíquico (2010) Psicopatologia Goiãnia/GO
Fundamental
A confusão de línguas e os desafios Campos, D. T. F.; Psicologia Centros de Atenção
da psicanálise de grupo em Campos, P. H. F. Ciência e Psicossocial
instituição (2010) & Rosa, C. M. Profissão (CAPS)
Goiânia/GO

Concepções sobre o modo de Silva, G. M.; Revista Centros de Atenção


Atenção Psicossocial de profissionais Zanini, D. S.; Psicologia e Psicossocial
da saúde mental de um CAPS (2015) Rabelo, I. V. M. & Saúde (CAPS)
Pegoraro, R. F. Goiânia/GO

Desinstitucionalização na rede de Vaz, B. C.; NUFEN: Rede de Atenção


atenção psicossocial: práticas e Bessoni, E. A.; phenomenolog Psicossocial
perspectivas no estado de Goiás Nunes, F. C. & y and (RAPS) Estado de
(2019) Silva, N. S. interdisciplinar Goiás
ity

Estratégias de enfrentamento de Lima, M. F. & Pesquisas e Centros de Atenção


pacientes com transtornos mentais Ferreira, C. B. Práticas Psicossocial
(2018) Psicossociais (CAPS) Município
do Interior de Goiás

Grupo de ouvidores de vozes no Egito, M. A. T. & NUFEN: Serviço de


enfrentamento de estigmas e Silva, E. A. phenomenolog Psicologia Aplicada
preconceitos (2019) y and da Faculdade
interdisciplinar Estácio de Sá
ity Goiânia/GO

Intervenção cognitivo- Pedrosa, K. M.; Revista Rede de Atenção


comportamental em grupo para Couto, G. & Psicologia: Primária à Saúde
ansiedade: avaliação de resultados Luchesse, R. Teoria e (UBS) Catalão/GO
na atenção primária (2017) Prática

Movimento da Reforma Psiquiátrica Arantes, D. J. & Revista Bases de dados


em Goiânia, GO: trajetória histórica Toassa, G. Psicologia e (SciELO, LILACS,
e implantação dos primeiros serviços Saúde PePSIC, BVS-Psi e
substitutivos (2017) Ministério da
Saúde) Goiânia/GO
17

Oficina terapêutica, psicologia e Picasso, R.; Silva, NUFEN: Centro de Atenção


arte: experiência de estágio no centro E. A. & Arantes, phenomenolog Psicossocial
de atenção psicossocial (2020) D. J. y and (CAPS)
interdisciplinar Goiânia/GO
ity
Projetos pedagógicos de psicologia Picasso, R.; & NUFEN: Ambiente virtual de
em Goiás: apontamentos sobre a Tavares, N. O. phenomenolog Universidades
formação em saúde mental (2019) y and públicas e
interdisciplinar particulares de
ity Goiás Goiânia/GO

Psicodinâmica do trabalho: da Macêdo, K. B. & Estudos de Base de dados


França ao Estado de Goiás: sua Miranda, F. J. Psicologia (Sucupira-Capes)
inserção na comunidade (2019) Estado de Goiás

Repercussões de determinantes Lima, M. R. A.; NUFEN: Comunidade


sociais na saúde mental das Souza, M. R. & phenomenolog Aparecida de
migrantes haitianas em Goiás (2020) Nunes, F. C. y and Goiânia / GO
interdisciplinar
ity

Saúde mental dos trabalhadores em Silva, E. A. & Psicologia em Centros de Atenção


saúde mental: estudo exploratório Costa, I. I. Revista Psicossocial
com os profissionais dos Centros de (CAPS)
Atenção Psicossocial de Goiânia/Go Goiânia/GO
(2008)

Regiões onde as pesquisas foram realizadas

A partir de leituras dos artigos selecionados, buscando encontrar em quais municípios

as pesquisas foram realizadas percebemos que, dos quinze artigos da amostra nove foram

pesquisas realizadas na capital Goiânia, o que corresponde ao total de 60% dos trabalhos e, os

demais, 40% foram realizados em municípios que compõe a região metropolitana de Goiânia,

bem como no interior do Estado de Goiás.

Alguns fatores podem ser contribuintes para esses números, como o fato do processo

de desinstitucionalização em saúde mental ter iniciado pela capital (Arantes & Toassa, 2017)

o que por sua vez, exigiria uma maior demanda por pesquisas na área.

Outro fator possível, ao qual hipotetizamos, é a diferença de acesso da população ao

ensino superior. Goiânia possui hoje trinta e oito instituições de ensino superiores ativas junto
18

ao Ministério da Educação. Dessas, apenas três são públicas. Os municípios de Itumbiara/Go

(5), Catalão/Go (6), Santa Helena/Go (0) e Aparecida de Goiânia/Go (6), responsáveis pelas

amostras fora da capital, têm juntos dezessete instituições de ensino superior, das quais apenas

uma, em Catalão/Go, é pública. (Brasil, 2021)

Enquanto na capital, o alto grau de industrialização estimula a geração de emprego e

renda possibilitando o acesso a universidades e faculdades privadas, nos interiores o baixo

índice de universidades públicas restringe o acesso da população ao conhecimento cientifico,

impactando nas produções de pesquisas e conseqüentemente nas críticas e implantações de

novos modelos de cuidados em saúde mental.

Uma busca rápida nas mesmas plataformas utilizadas para coleta de nossa amostra,

SciELO e PEPSIC, usando a combinação de palavras “saúde mental and Brasil” obtivemos

um total de 2.007 artigos publicados. Se compararmos com a quantidade de amostras que

obtivemos na primeira etapa para pesquisa em Goiás, temos apenas 1.64% de publicações

sobre o tema no Estado, o que é muito pouco visto a vasta produção nacional. É claro que

aspectos como ano devem ser considerados, mas a não observância dessa dimensão nesse

momento, não anula a discussão proposta nesta pesquisa.

Locais das coletas de dados

Outro fator importante, diz respeito às instituições onde foram coletados os dados para

realização dessas pesquisas. Dez delas foram realizadas em algum âmbito da Rede de Atenção

Psicossocial (RAPS), seja na Estratégia de Saúde da Família (ESF), nos Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS) ou em Unidade Básica de Saúde (UBS); duas tiveram suas amostras

extraídas de bases de dados virtuais; outras duas se trataram de pesquisas realizadas em

universidades/faculdades e apenas uma foi realizada em uma comunidade especifica, de um


19

bairro situado em Aparecida de Goiânia. Destas realizadas em alguma das dimensões da

RAPS, seis foram em Goiânia e quatro em diferentes municípios do estado.

Com o advento da Reforma Psiquiátrica, fez-se necessário a implantação dos

chamados serviços substitutivos que, precisavam ser normatizados, ampliados e direcionados

a fim de terem êxito em seus objetivos. Para tanto, cria-se a RAPS, como ferramenta de

implantação e fiscalização da Política Nacional de Saúde Mental (PNSM) (Brasil, 2021;

Brasil, 2014; Brasil, 2011)

A RAPS, sigla para Rede de Atenção Psicossocial, é instituída em 2011, através da

portaria nº 3.088 “... cuja finalidade é a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção

à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental...” (Brasil, 2011) Trata-se de uma

rede estratégica de cuidados em saúde mental, para melhor atender as necessidades da

sociedade, composta por diversos dispositivos/componentes como, por exemplo: as Unidades

Básicas de Saúde (UBS); Equipe de consultório na rua; Centros de Convivência; Centros de

Atenção Psicossocial (CAPS); atenção de urgência e emergência (SAMU, UPA); atenção

hospitalar; Serviços Residências Terapêuticos (SRT) etc. (Brasil, 2011)

A rede tem seus princípios, diretrizes e objetivos alinhados aos do Sistema Único de

Saúde (SUS), onde se observam as peculiaridades das regiões de atendimento, busca-se o

cuidado com a participação da comunidade e atenta-se para um cuidado que respeite as

diferenças de necessidades de cada indivíduo. (Brasil, 2021)

A partir desses dados, percebe-se então, a ênfase que se deu nas pesquisas analisadas

às instituições públicas no cuidado em saúde mental, tendo em sua maioria pesquisas

realizadas em algum âmbito da saúde pública. Não há, como vimos, nenhum trabalho em

clinicas ou hospitais psiquiátricos particulares, tampouco em consultórios médicos ou

psicológicos onde geralmente se encontram pessoas com poder aquisitivo maior.


20

Diante disso, algumas perguntas nos surgem, como: a saúde mental no modelo

psicossocial só diz respeito às políticas públicas? Por quê? A ausência de pesquisas em

instituições particulares se dá pela negativa das próprias instituições aos pesquisadores ou, os

pesquisadores goianos é que não tem tido interesse no tema? Essa situação ocorre somente

nas pesquisas em Goiás, ou no Brasil também faltam pesquisas nesses locais?

Para a psicologia social a atividade propicia ao homem a internalização da realidade

exterior, do qual ele criará idéias e imagens acerca de suas experiências com o mundo e,

poderá contribuir com sua transformação. ( Bock, Furtado & Teixeira, 2008) A ausência de

trabalhos em outros âmbitos que envolvem a saúde mental, contribui para dificuldade de

transformação da realidade nos cuidados com aqueles que sofrem, pois as instituições perdem

as contribuições que poderiam ser oferecidas por esses pesquisadores e, esses últimos, deixam

de conhecer as diferentes realidades a nível particular, nos cuidados em saúde mental que,

poderiam contribuir em algum aspecto com a rede pública, pensando em um movimento de

construção dialético.

Perspectivas de cuidados em saúde mental

Para discutirmos as perspectivas de cuidados em saúde mental as quais alicerçaram as

pesquisas analisadas, optamos por apresentar uma breve síntese de resumos dos trabalhos e,

ao final tecermos nossas considerações sobre os achados. Escolhemos agrupá-los dentro dos

modelos encontrados para que o leitor tenha uma melhor visualização das características que

os aproximam e os afastam.

Modelo psicossocial
21

Nas perspectivas de saúde mental dentro do modelo psicossocial, observam-se uma

ampla defesa pelas diretrizes propostas na Reforma Psiquiátrica. Percebe-se a saúde mental

enquanto processo compartilhado entre, indivíduo, família, sociedade e profissionais de

saúde.

Em aproximação à idéia de Martín-Baró (2017) acerca da importância das relações

entre pessoas e grupos para saúde mental, pode-se pensar que nesse víeis ela é tida como um

estado transitório e não uma condição, que pode estar ligada ou não a aspectos biológicos,

mas que sempre há outras dimensões que a envolvem, por isso quando se pensa aqui em

cuidados em saúde mental deve-se analisar o caso de modo individual, no sentido das

especificidades que envolvem cada indivíduo e seu meio, porém deve-se sempre considerar a

relação desse indivíduo e os diversos grupos sociais em que ele se insere, percebendo as

dinâmicas e suas interações em torno do sujeito.

Dentro do modelo psicossocial, o conceito de saúde encontra-se em consonância ao

apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (Picasso & Tavares; 2019), que aponta

a saúde não mais como ausência de doenças, mas como resultado da interação das várias

dimensões sociais, biológicas, espirituais e psicológicas que constituem o ser humano e, são

responsáveis por um estado de bem-estar (Picasso & Taveres, 2019 citando OMS, 2001)

como veremos nos trabalhos a seguir.

Em uma pesquisa descritiva e exploratória com um grupo de migrantes haitianas

residentes em Aparecida de Goiânia, Lima, Souza e Nunes (2020) adotam uma perspectiva de

saúde mental onde o sujeito e suas dimensões subjetivas e emocionais são ponto central do

olhar do pesquisador. Assumindo uma postura contrária ao modelo patologizante, apontam

para importância dos aspectos relativos ao processo migratório, bem como as questões

culturais, de gênero, raça, religião como possíveis fatores de risco para o adoecimento
22

psíquico. As autoras demonstram preocupação com a dificuldade de acesso aos serviços de

saúde que elas encontram e, defendem o investimento em políticas públicas que possibilitem a

consolidação das redes de apoio e capacitação dos profissionais. Destacam também a

importância da comunicação e da empatia dentro das redes de apoio como fator expressivo

para saúde mental e, o desemprego com suas sequelas como, maior gerador de sofrimento

psíquico para as migrantes.

Picasso, Silva e Arantes (2020) realizaram uma pesquisa do tipo relato de experiência

em um CAPS II, da cidade de Goiânia. Trata-se de uma pesquisa cujo objeto em questão são

as oficinas de arte como recurso terapêutico no campo de saúde mental. Nela apontam

aspectos concernentes às dificuldades do trabalho no campo de saúde mental devido a

questões de instalações, recursos financeiros, dentre outros, bem como dificuldades nos

cuidados com usuários e relacionamento entre funcionários. Porém, ainda assim ressaltam os

resultados positivos do uso da arte nas oficinas terapêuticas como recurso importante a ser

usado nos CAPS, pois possibilitam a expressão de dificuldades, a integração social e

promovem o defendido no modelo psicossocial, que é a reabilitação social dos usuários com

transtornos graves e severos.

Com o objetivo de compreender as concepções sobre o modo de atenção psicossocial

dos profissionais de saúde mental, Silvia, Zanini, Rabelo e Pergoraro (2015), realizaram uma

pesquisa descritiva e exploratória em um CAPS de Goiânia. As autoras defendem critérios

para distinção entre o que seria a Reforma Psiquiátrica e o modo psicossocial e, perceberam

que há uma dificuldade por parte dos profissionais em diferenciar tal modo apontado, das

diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Relataram ainda a associação do termo saúde

mental a cura e, defenderam que o ensino pautado no modo asilar é influenciador na

permanência dessa visão biomédica, bem como na dificuldade de compreensão dos

pressupostos psicossociais. Há ainda critica nesse sentido, onde o modo asilar permanece
23

devido à necessidade mercadológica, pois seguem a lógica dos serviços privados. Por fim,

chamam atenção para necessidade de discussão sobre o conceito de atenção psicossocial entre

os profissionais de saúde mental visando à clarificação de que se trata de um paradigma de

prática coletiva em saúde mental e sua prática não tem vistas apenas ao pobre, ao louco, mas a

todos os cidadãos em diferentes lugares.

Em um trabalho pautado no movimento de ouvidores de vozes criado na Holanda em

1980, Egito e Silva (2019) buscaram através de um relato de experiência entender o papel do

grupo de ouvidores de vozes em relação ao preconceito e estigma enfrentados por aqueles que

ouvem vozes, identificar as crenças deles e como lidam com as vozes. Ao final do trabalho

perceberam que alguns dos sujeitos da pesquisa conseguiram ser participantes ativos,

identificando traumas e relacionando vivências com as vozes e seus conteúdos. As autoras

apresentaram dificuldades na análise de alguns aspectos, devido aos poucos encontros,

precisando de mais tempo para chegar a alguma conclusão. Contudo, assentiram que a

experiência mostrou a importância de um olhar integral em relação ao ser humano quando se

trata de saúde mental e o quanto o olhar patologizante pode ser gerador de estigmas e

preconceitos.

Na pesquisa histórica realizada por Arantes e Toassa (2017), procurou-se levantar o

percurso do movimento da Reforma Psiquiátrica em Goiânia no período de 2000 à 2004, bem

como da implantação dos serviços substitutivos. Evidenciou-se que as transformações nas

políticas e práticas em saúde mental em Goiás acompanharam a promulgação da lei

10.216/2001 e a constituição do SUS, diferentemente de outras regiões do país. Constataram a

importância da luta de movimentos sociais regionais para mudança de paradigmas em saúde

mental; as resistências impostas por profissionais ainda pautados no modelo biomédico de

cuidados durante esse processo; as dificuldades no âmbito estrutural e material para

instauração dos serviços substitutivos e a manutenção de instituições que não atendem aos
24

pressupostos da Reforma Psiquiátrica por ausência da implantação de locais apropriados para

assumir a demanda atendida nessas instituições.

Pegoraro, Cassimiro e Leão (2014), buscaram compreender o sentido que profissionais

da Estratégia de Saúde da Família (ESF) davam ao apoio matricial. Para tanto, realizaram

uma pesquisa qualitativa em três Unidades Básicas de Saúde de Goiânia, apoiadas

matricialmente pelo CAPS Beija-Flor. Os autores chamam a atenção para a importância e

contribuição do matriciamento na Atenção Básica para desafogar a demanda dos CAPS,

todavia contribuindo com o modelo biomédico de atenção, pois o simples encaminhamento e

as consultas com especialistas médicos e psiquiatras não atendem aos pressupostos de um

modelo de cuidados psicossocial, centralizam na doença e abrem mão da possibilidade do uso

de recursos disponíveis para um trabalho dialógico e integralizador de saberes, onde muitas

são as especialidades capacitadas a contribuir de forma igual e/ou complementar nos cuidados

em saúde mental.

Com vistas a apontar práticas para desinstitucionalização e descrever parte dos

processos ocorridos em Goiás entre 2012 e 2018, Vaz, Bessoni, Nunes e Silva (2019)

destacam a importância de algumas estratégias de reabilitação nesse processo como: as

residências terapêuticas e o auxilio de reabilitação psicossocial, promovedores de autonomia.

Apresentam as diferenças de desenvolvimento da rede de cuidados em alguns municípios e na

capital, chamando atenção para um influenciador positivo no aperfeiçoamento das equipes: a

participação em projetos de Percurso Formativo. A inserção dos usuários na vida social do

município também foi percebida como ação positiva no processo de desinstitucionalização.

Defendem as articulações intersetoriais no cuidado em saúde mental e, assentem que a

desinstitucionalização ainda está em curso em Goiás, que ela não se finda com a retirada das

pessoas dos manicômios e que é preciso haver pesquisas apresentando os resultados desse

processo para que o modelo de cuidado psicossocial se fortaleça.


25

Picasso e Tavares (2019), em estudo sobre os projetos pedagógicos da formação em

saúde mental na psicologia, através de uma pesquisa bibliográfica documental, atentam para

grande quantidade de universidades particulares e o pouco tempo de abertura dos cursos

nelas, bem como o fato de terem as disciplinas de saúde mental espalhadas nas grades

curriculares e, muitas vezes associadas à matérias como Psicopatologia como fatores

contribuintes para manutenção de um modelo clinico tradicional na prática dos futuros

profissionais. Defendem que para uma prática em saúde mental dentro da proposição dos

modelos psicossociais é preciso que haja parcerias entre universidades e os serviços de saúde

mental, em que os estudantes possam aliar a teoria à prática dentro da RAS e da RAPS,

desenvolvendo habilidades de reflexão sobre suas práxis e percebendo a importância da

atuação do psicólogo em campos para além da clínica.

Partindo de uma pesquisa exploratória e qualitativa realizada em Itumbiara-GO,

Pereira, Amorim e Gondim (2020) entendem a saúde mental como produto da relação entre

diversos aspectos como o contexto social, político, histórico e ambiental que permeiam o

indivíduo. Entendem que apesar da Reforma Psiquiátrica, os serviços em saúde mental ainda

distanciam-se de um modelo psiquiátrico comunitário. Apontam para postura dos

profissionais que por vezes buscam a cura dos usuários e trazem pra si responsabilidades que

não conseguirão ter êxito, ocasionando sofrimento e desmotivação quanto ao campo de saúde

mental. Evidenciam o sentimento de incapacidade desses profissionais e o medo em relação

aos usuários, fortalecendo estigmas e preconceitos. E, enfatizam a Educação Permanente

como uma das ações passiveis de contribuição para o modelo de cuidados em saúde mental

preconizado pela reforma psiquiátrica, garantido o que já foi conquistado e construindo as

melhorias que se fazem necessárias para atuação profissional, para o usuário e para sociedade.

No estudo qualitativo-descritivo de Lima e Ferreira (2018), realizado em um CAPS do

interior de Goiás, os autores se propuseram a conhecer as estratégias de enfrentamento de


26

pacientes com transtornos mentais, onde apontaram uma discrepância entre diagnóstico

emitido pelo médico e diagnóstico verbalizado pelos pacientes, remetendo isso a lógica do

modelo asilar. Com relação às estratégias, pontuam a medicação, a busca por auxilio

multiprofissional, as atividades artísticas expressivas oferecidas pelo CAPS, a evasão, a

reavaliação cognitiva, a espiritualidade e o suporte familiar; esse último em alguns casos não

atuavam de maneira positiva, mas exerciam força contrária potencializando o sofrimento,

conforme alguns entrevistados relataram aos pesquisadores. E, por fim, concluem com a

importância de ouvir o usuário em saúde mental, uma vez que ele detém capacidade de

contribuir ativamente em seu projeto terapêutico a partir da comunicação de suas formas de

lidar com seu sofrimento.

Os autores Silva e Costa (2008) se detiveram a pesquisar a saúde mental de

trabalhadores em saúde mental. Para tanto realizaram uma pesquisa-ação em três CAPS de

Goiânia/Go. Em seu estudo eles apontam as dificuldades encontradas pelos profissionais em

relação a aspectos objetivos da prática profissional que influenciam suas subjetividades,

afetando sua saúde mental. Tais aspectos dizem respeito a questões relacionadas: as vivencias

de cuidados do profissional no ambiente de trabalho, as relações interpessoais entre a equipe,

o sofrimento psíquico nas relações entre profissionais-usuários/instituição/profissionais e, em

relação ao modelo de atenção psicossocial. Defendem então, a importância de capacitação das

equipes, as supervisões e a regulamentação e sistematização de políticas públicas que de fato

amparem o profissional de saúde mental. E, ressaltam como importante os serviços

substitutivos instituídos com a Reforma Psiquiátrica, mas também chamam atenção para que o

profissional em saúde mental receba um olhar integral no trabalho, sendo amparado nas

diversas dimensões laborais que afetam sua saúde mental.

Pôde-se, então perceber através dos resumos que o modelo psicossocial presente nesse

primeiro grupo dos artigos analisados tem como núcleo estrutural o sentido de integralidade.
27

Essa integralidade diz respeito à visão do indivíduo como uma totalidade compartilhada, ou

seja, quando se fala em integralidade em saúde quer-se dizer que é preciso atentar-se não

somente aos processos psíquicos das pessoas, mas também ao seu contexto social, em todas as

dimensões que influenciam o exercício de sua cidadania e o desenvolvimento de sua

autonomia. (Brasil, 2014; Arantes & Toassa, 2017)

Nesse sentido ganha espaço uma visão inclusiva, na qual se espera que o indivíduo

através de um processo de reinserção social planejado e praticado pela Rede de Atenção

Psicossocial receba cuidados humanizados que possibilitem o resgate de sua autonomia, de

seus direitos enquanto cidadãos e da possibilidade de construção de um futuro. Esse aspecto,

corrobora com a ideia da psicologia social apresentada por Bock, Furtado e Teixeira (2008)

em citação à Sawaia (2002) na qual aponta a exclusão como responsável pela geração de

sofrimento, pois remove das pessoas a possibilidade de realização de suas potencialidades.

Modelo Individualizado

O modelo individualizado que usamos aqui é também chamado modelo biomédico.

Ele se caracteriza pelo cuidado focado no sintoma ou doença. Esse tipo de abordagem não

considera o sujeito de maneira integral em suas relações com o corpo social, com sua história

de vida e com o trabalho, como faz o modelo defendido pela reforma psiquiátrica descrito e

usado nas pesquisas apontadas no tópico anterior.

O modelo biomédico volta seu olhar para o indivíduo, mas de maneira em que ele é

apenas o portador de algum transtorno, doença, síndrome, ou qualquer substantivo que o

profissional especialista prefira usar. O indivíduo é apenas portador de uma condição da qual

ele precisa se curar e, esta condição se dá prioritariamente por alguma desorganização

psíquica, problema genético ou alteração fisiológica, em que um fator isolado foi

desencadeante (Frayze-Pereira, 1984; Dalgalarrondo, 2008; Szasz, 1974).


28

Diferente do tópico anterior, aqui seguirá ao resumo nossas considerações que

suscitaram nessa classificação, uma vez que se tratam de apenas três resumos.

A pesquisa empírica realizada em uma UBS de Catalão/Go por Pedrosa, Couto e

Luchesse (2017) visou abordar a efetividade das intervenções pautadas no modelo teórico da

psicologia cognitivo-comportamental junto a usuários da rede de atenção psicossocial daquele

município. Os autores apontaram os resultados positivos em relação aos métodos e

instrumentos de coleta e análise dos dados obtidos, contudo observaram também que um dos

instrumentos tinha como parâmetro referencial para análise dos dados uma população de

outro país, podendo seu uso ter reflexo nos resultados obtidos por eles.

Nessa pesquisa uma situação que nos chamou atenção, mas que os autores não citaram

é sobre a manutenção dos resultados. As intervenções se deram em um período de 12

semanas, sendo que na primeira aplicaram-se os testes, nas demais realizaram-se as

intervenções e na última reaplicaram-se os testes para avaliar os resultados. A saúde mental

nesse artigo foi abordada em uma perspectiva funcional, cujos resultados avaliativos

incluiriam ou não o sujeito nos grupos funcionais e disfuncionais da população, assumindo

uma postura cujo foco do cuidado é na cura do sintoma, onde o sujeito é visto

individualmente, alienado de seu meio e o tratamento perpassa apenas por reestruturações

psíquicas do indivíduo indo de encontro às abordagens biomédicas, de classificação,

tratamento e cura da doença.

Campos, Campos e Rosa (2010) em uma pesquisa de base psicanalítica, interessada

em verificar a possibilidade de um trabalho em grupo psicoterápico de viés analítico, em

instituições públicas, teceram algumas críticas em relação à imagem predeterminada que

profissionais e sociedade já carregam sobre doença mental, fortalecendo estigmas e


29

preconceitos, além de criticar a busca pelas causas das doenças, pois não ajudam em nada o

cuidado com os usuários. Atentaram para o uso de medicamentos como positivo em relação à

qualidade de vida, mas problemático no cuidado, pois serviu para fortalecer a ideia de que o

sofrimento psíquico seria equivalente a doença, podendo ser analisado a parte do sujeito.

Nesse sentido a ideia adotada pelos autores é de que o cuidado em saúde mental deve

focalizar o sujeito e de que “... o sofrimento psíquico é a expressão do conflito entre o corpo

pulsional e o ser de linguagem e cultura.” (Campo, Campos & Rosa, 2010, p. 508) Deixam

clara a importância constatada com o trabalho realizado em grupo, onde os usuários

retomavam a voz perdida pela exclusão, bem como a não intenção da psicanálise em curar e

em tornar os indivíduos cidadãos novamente.

Saúde mental na perspectiva acima seria então, o equilíbrio entre essas dimensões

conflituosas, que na relação usuário/instituição perpassa pelos conceitos psicanalíticos de

demanda, necessidade e desejo. Em que a necessidade relaciona-se aos aspectos de direitos e

das políticas públicas, que atendem aos pressupostos psicossociais de resgate da cidadania,

mas que institucionalmente muitas vezes não consideram de fato o indivíduo. Já a demanda e

o desejo encontram-se com o sofrimento psíquico do sujeito.

A postura até aqui adquire convergência com o modelo psicossocial no sentido de ir

contra a alienação e buscar a participação do sujeito no processo terapêutico entendendo esses

como fatores importantes para saúde mental. Mas, discorda na intenção de tornar novamente

os sujeitos cidadãos, no sentido de respondentes a expectativas de normalidade aceitável para

reinserção social. Adquirem um víeis individualista, pois o sofrimento insere-se como algo

dentro do indivíduo a ser analisado estruturalmente, aproximando-se de um modelo

biomédico de cuidados. Mesmo que ainda, considerem influências externas como

potencializadoras ou não do sofrimento.


30

Macêdo e Miranda (2019) em pesquisa documental, realizada em Goiás, traçam a

trajetória da psicodinâmica do trabalho e sua chegada nas comunidades de Goiás. Afirmam

que ao longo dos anos essa abordagem mudou seu foco de pesquisa, antes tido no

adoecimento do trabalhador, hoje voltado para as relações entre saúde mental e o trabalho.

Seus maiores impulsionadores estão na academia, sendo ainda, utilizada por várias áreas do

saber cientifico dado seu caráter transdisciplinar. Apontam a importância da Psicologia

Dinâmica do Trabalho (PDT) para prevenção e tratamento do adoecimento psíquico e

afirmam a consonância entre a PDT aplicada no estado e, a proposta realizada pelo seu teórico

Dejours.

Apesar do artigo em questão abordar aspectos como a emancipação, a relação

dialógica, a participação do coletivo e, a prevenção em saúde mental, ele distancia-se do

modelo psicossocial quando aponta pressupostos em que responsabiliza o indivíduo pelo

adoecimento, tendo ele a possibilidade de “... transformar o sofrimento em prazer via

sublimação, ou em adoecimento” (Macêdo & Miranda, 2019, p. 222)

A impressão que se tem é a de que o indivíduo é o principal responsável pela sua

saúde ou sofrimento, apesar dos autores apontarem as influências do trabalho no processo de

sofrimento psíquico, como se, no final das contas, a capacidade estrutural da pisque de criar

estratégias fosse a única forma de afastar a possibilidade daquilo que os autores muitas vezes

chamaram de adoecimento, não considerando outras dimensões externas a ele para isso, como

as redes de apoio e as relações familiares, por exemplo.

Em uma pesquisa qualitativa sobre os efeitos das responsabilizações advindas da nova

política em saúde mental para os profissionais de referência dos CAPS, Silva e Costa (2010)

argumentam que essa nova perspectiva tem acarretado sobrecarga nos profissionais, pois estes

muitas vezes não conseguem se ater ao que seriam de fato suas atribuições clínicas, sendo
31

tomados por diversas responsabilidades burocráticas, administrativas que afetam sua relação

com os usuários, gerando sentimentos de responsabilizações as quais eles não conseguem

corresponder acarretando o sofrimento psíquico desses trabalhadores. Apontam a necessidade

de maior atenção para com esses profissionais pelas políticas públicas. Destacam as

dimensões que devem ser observadas dentro desse modelo onde é solicitada grande

articulação de saberes.

O foco dessa pesquisa é dado na organização do trabalho como propiciador ou não de

saúde mental. Foram enfatizadas as estratégias psíquicas como os mecanismos de defesa,

sendo citado o recalque, como forma de lidar com as sobrecargas emocionais e psicológicas

da prática profissional, voltando o olhar para as estruturas psíquicas.

Pode-se notar nesses aspectos apontados por esses artigos, aos quais destacamos para

o leitor, características de modelos individualizados. O que não necessariamente determina

como os sendo. É importante deixar claro que a categorização aqui, se faz a partir de uma

leitura subjetiva e, por aproximação de aspectos afins entre o que vemos atualmente e, o

conceituado historicamente.

Terminologias/palavras associadas à noção de saúde mental

No que diz respeito às terminologias associadas à saúde mental percebeu-se que

alguns artigos traziam em grande quantidade termos como: adoecimento psíquico; tratamento;

transtornos mentais; processo saúde-doença; adaptação, depressão, bem como: integralidade,

Reforma Sanitária brasileira; estigma; louco; bem-estar psíquico. Esses, em sua totalidade de

abordagens psicossociais.
32

Outros de viés psicodinâmico, psicanalítico e cognitivista possuíam como palavras

associadas à saúde mental: trabalho; amor; comunicação; inconsciente; existência; relação

com o desejo.

Aqui é importante reforçar que foram realizadas leituras sucessivas desses materiais,

sendo observado que apesar de assumirem, em sua maioria o modelo psicossocial como

norteador da pesquisa e, mesmo com bases teóricas diferentes e divergentes em seus

pressupostos, os sentidos atribuídos à saúde mental ainda têm sido remetidos a contraposição

de adoecimento.

O que corrobora a idéia de Bock, Furtado e Teixeira (2008) quando diz que “... o

sentido articula de forma específica o mundo psicológico historicamente configurado do

sujeito com a experiência de um evento atual.” (p.188).

Ou seja, o que se quer dizer é que, as noções de saúde mental construídas sob uma

perspectiva biomédica, repassadas historicamente através da educação formal, das crenças

populares estigmatizadas e, das práticas de exclusão sociais àquele que sofre psiquicamente,

contribuem para que, contraditoriamente sob o modelo psicossocial permaneça a visão

biomédica em relação à saúde mental.

No que tange aos artigos de base psicossociais nota-se isso a partir da constatação de

uma linguagem caracterizada por termos e associações a pressupostos psicopatológicos

construídos historicamente como os citados no início desse tópico.

Analisando apenas a proposição dos trabalhos segundo seus objetivos e considerações

dos seus autores, atentando aos termos utilizados na contextualização da concepção de saúde

mental para essas pesquisas, percebemos a carga histórica ideologizante por trás dos termos

nelas empregados, as quais esses mesmos autores, demonstram buscar transformar.


33

Os trabalhos de viés psicodinâmico, psicanalítico e cognitivista que, apesar de

reconhecerem aspectos sociais inerentes ao sofrimento, atribuem em sua maior parte este a

aspectos estruturais da pisque e/ou da cognição. No qual faz prevalecer a lógica de disfunção,

onde a doença assume o lugar daquilo que se “desestabiliza”, que foge à um padrão

determinado como bom, aceitável, saudável como teorizou Frayze-Pereira (1984).

Nota-se então, que a saúde mental, a partir das terminologias mais empregadas nas

pesquisas, é tomada como oposto ao adoecimento mental de maneira sutil, prevalecendo uma

visão biologicista categorizante no olhar dos autores, paradoxalmente ao uso de uma prática

em sua maioria psicossocial. Salienta-se que não necessariamente os autores têm consciência

disso, uma vez que como já dito, os sentidos são construídos e tomados historicamente,

constituindo subjetividades, sendo muitas vezes replicados através dos signos sem que sejam

percebidos.

Considerações Finais

A instituição da Reforma Psiquiátrica no Brasil tem trazido consigo uma nova forma

de enxergar a saúde mental. Em Goiás, não tem sido diferente esse processo. Assim, o nosso

olhar nesta pesquisa esteve na direção de conhecer e refletir sobre os sentidos que têm sido

abordados em relação à saúde mental, a partir das pesquisas em psicologia, realizadas no

estado.

Conforme os pressupostos da psicologia social, é através da relação entre indivíduo e

meio que o homem e a sociedade se constituem (Gruda, 2016).


34

Com base nisso pudemos perceber que em nosso Estado pouco tem sido publicado em

relação ao tema da saúde mental, o que pode causar uma dificuldade no processo de mudança

de visões dos profissionais e da sociedade em relação ao processo existência-sofrimento.

Há também uma maior produção de pesquisas na capital, sendo ela a região que possui

a maior quantidade de universidades. O que pode se dar devido a maiores incentivos

mercadológicos, bem como pelo fato do processo de desinstitucionalização ter iniciado ali,

fazendo urgir a necessidade de pesquisas para o desenvolvimento de ações na área.

Viu-se que maioria das pesquisas foram realizadas em algum âmbito da Rede de

Atenção Psicossocial, com vistas a análise da práxis dos profissionais em saúde mental e, do

funcionamento dos serviços substitutivos, deixando um vazio no que diz respeito às

perspectivas da população usuária dos serviços de saúde mental.

Constatou-se que, apesar da maioria dos artigos terem abordado os aspectos

psicossociais em relação à saúde mental, considerando o cuidado integral e a importância da

relação dialética na promoção da saúde, eles ainda trazem diversas terminologias de cunho

biomédico e/ou individualizantes que denotam percepções do sofrimento como adoecimento.

As pesquisas no Estado nos levam a questionar vazios que podem ser contribuintes

para dificuldade em por fim a lógica estigmatizante do louco, do ser dasadaptado socialmente,

paradoxalmente apontam a defesa de um cuidado inclusivo e humanizado ligado a aspectos

como a promoção da autonomia e a libertação da alienação propostas no paradigma

psicossocial.

Destaca-se a importância de novos trabalhos com o intuito de investigar a percepção

dos profissionais/pesquisadores acerca do que se entende por saúde mental a fim de comparar

os resultados com essa pesquisa, bem como a realização de novas pesquisas em outras áreas
35

da saúde mental, como clínicas psiquiátricas e consultórios psicológicos, locais nos quais

percebemos uma grande lacuna nesse sentido.

Entende-se a relevância dessa pesquisa, pois defendemos que só será possível

construir uma psicologia com olhar totalizante do homem, se forem desconstruídos e

reconstruídos conceitos cunhados historicamente sob a égide dicotômica da saúde-

doença/bom-mau, a partir de uma práxis crítica e de uma crítica a práxis.

Acredita-se na importância de um olhar que considere todas as dimensões internas e

externas ao sujeito que se apresenta em sofrimento o que, corrobora com a ideia da psicologia

social ao entender a saúde mental como produto das relações entre homem e meio, meio e

homem. (Bock, Furtado & Teixeira, 2008).

Sugerem-se ainda, discussões que visem desconstruir e reconstruir os diversos

conceitos e terminologias que se põe em torno do próprio construto saúde mental, pois é a

partir da linguagem que o homem apreende o mundo exterior, constrói o interior e transforma

a realidade (Bock, Furtado & Teixeira, 2008). Embora, compreendemos que existem diversos

elementos institucionais, históricos e políticos que contribuem para tal utilização desses

conceitos.

Pensamos que muitas podem ser as possibilidades de entender saúde mental e, poucas

são as diferenças encontradas na literatura, prevalecendo como demonstrado, uma dicotomia

de modelos e uma predominância de sentido único nas pesquisas realizadas em Goiás, ainda

que apresentadas sob um modelo psicossocial que visa o “bem-estar” preconizado pela OMS

como produto de uma saúde mental adequada.

Deixamos então uma pergunta que não nos coube responder agora, se saúde mental é

ausência de doença ou, se saúde mental é ausência de um “mau-estar”. Qual seria então, a
36

diferença entre essas concepções se a concepção de disfunção só muda de lugar: uma está no

organismo individual e a outra na organização social. Ambas as concepções não atenderiam a

padrões de normalização? De que forma a psicologia social poderia contribuir com a

construção de novos sentidos para saúde mental?


37

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