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Natanael escreve a Lotário explicando o que vira e tanto o assustara. Parte então de uma
lembrança infantil e começa a descrever a casa de sua infância, uma casa com pai, mãe e filhos,
os quais tinham por hábito, depois do jantar, ficar em torno do pai que fumava seu cachimbo.
Mas, de vez em quando, as crianças eram postas na cama mais cedo, pois o Homem da Areia iria
chegar. Natanael ouvia os passos pesados de um visitante, com o qual o pai estaria ocupado toda
a noite. A babá contara a Natanael que o Homem da Areia era um homem perverso que chegava
quando as crianças não iam para a cama, jogava areia nos olhos delas, fazendo com que
saltassem fora. Ele então colocava os olhos num saco e os levava para alimentar seus filhos na
lua.
Para descobrir mais sobre o Homem da Areia, Natanael se esconde no escritório de seu pai
numa noite em que o visitante era esperado. Reconhece o visitante como o advogado Copéllius.
De seu esconderijo, ele vê o visitante e o pai no que parece ser um experimento alquímico.
Descoberto, Natanael é ameaçado de ter seus olhos arrancados e desmaia.
O Homem da Areia volta uma outra vez a sua casa, e então ocorre uma explosão que mata o pai
de Natanael. Muitos anos depois, Natanael reconhece Copellius no vendedor Copolla. Depois de
um período de férias junto a sua noiva, que tenta tranquilizá-lo, Natanael volta aos estudos e
decide comprar um binóculo de Copolla, para que este o deixe em paz. Com o binóculo ele vê
Olímpia, por quem se apaixona perdidamente apesar de todos os avisos. Natanael enlouquece
ao descobrir que Olímpia é uma boneca, construída por Copolla/Copellius e o seu professor de
física. Depois de internado num manicômio, Natanael parece recuperado, quando tenta jogar a
noiva, Clara, do alto de uma torre, após olhar outra vez pelo binóculo. Pouco depois, Natanael se
atira da torre.
O Homem da areia: um conto fantástico
Italo Calvino (2004), considera o conto fantástico como uma das produções mais características
da narrativa do século XIX e também uma das mais significativas para nós, já que nos diz
muitas coisas sobre a interioridade do indivíduo e sobre a simbologia coletiva. À nossa
simbologia de hoje, o elemento sobrenatural que ocupa o centro desses enredos parece sempre
carregado de sentido, como irrupção do inconsciente, retorno do recalcado, do esquecido, do
que se distanciou de nossa atenção racional.
O tema do conto fantástico do século XIX é a realidade daquilo que se vê: acreditar ou não
acreditar nas aparições fantasmagóricas; perceber, por trás da aparência cotidiana, um outro
mundo, encantado ou infernal. É como se o conto fantástico, mais do que qualquer outro gênero
narrativo, pretendesse dar a ver, concretizando-se numa sequência de imagens e confiando sua
força de comunicação ao poder de suscitar figuras.
O ver é equívoco
O Olhar é invisível
O que constitui a visibilidade para aquele que vê é o olhar. O olhar é um objeto invisível que está
no fundamento da visibilidade: que faz, do sujeito que percebe, objeto percebido. O olhar não é
um olhar do sujeito e sim um olhar que incide sobre o sujeito, é um olhar que o visa: olhar
inapreensível, invisível, pulsional. A pulsão está na base do dar-a-ver do sujeito e o afeta através
de um olhar que o objetiva e ao mesmo tempo se encontra excluído da visão.
Bibliografia
Freud, S. (1987). Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de S. Freud
. Rio de Janeiro: Imago. "O Estranho" (1919h)
Quinet, A. (2002) Um olhar a mais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Calvino, I. (2004) Contos fantásticos do século XIX escolhidos por Italo Calvino. São Paulo:
Companhia das Letras.
Ligações externas
«O Homem de Areia, O Estranho a as Aventuras do Fantástico» (http://www.unicamp.br/iel/
site/alunos/publicacoes/textos/h00001.htm). Por Jefferson Vasques Rodríguez.
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