Você está na página 1de 36

[22] Dez Mundos | Estudo • BM • 26/10/2022 • ()

BM

ESTUDO

[22] Dez Mundos


Capítulo 1: “Teoria dos dez mundos”
Os Fundamentos do Budismo Nichiren para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial,
v. 1, p. 32-38

“Teoria dos dez mundos”

Os “dez mundos”, também conhecidos como “dez estados da vida”,


compõem a base da filosofia de vida elucidada pelo Budismo de Nichiren
Daishonin. É uma teoria profunda e prática que esclarece com simplicidade
as complicadas questões da vida. Por meio do estudo do conceito de “dez
mundos”, pode-se compreender o correto direcionamento de que a
transformação da própria condição de vida está ao alcance de todas as
pessoas.

A denominação de cada um dos “dez mundos” é: 1) mundo do inferno; 2)


mundo dos espíritos famintos; 3) mundo dos animais; 4) mundo dos asura;
5) mundo dos seres humanos; 6) mundo dos seres celestiais; 7) mundo dos
ouvintes da voz; 8) mundo dos que despertaram para a causa; 9) mundo dos
bodisatvas; e 10) mundo dos budas.

Os seis primeiros são conhecidos como os “seis caminhos” e os quatro


últimos como “quatro nobres mundos”. O conceito de “seis caminhos” é
originário da concepção de mundo da Índia antiga segundo a qual todos os
seres vivos repetiam o ciclo de vida e morte por seis mundos distintos. Por
outro lado, os “quatro nobres mundos” correspondem às condições de vida
que podem ser conquistadas por meio de exercícios budistas.
Os ensinamentos budistas, exceto o Sutra do Lótus, pregavam que os dez
mundos eram cada qual condições de vida fixas e imutáveis.

Todavia, o Sutra do Lótus apresentou uma visão fundamentalmente


diferente ao elucidar que os seres dos nove mundos, do inferno ao do
bodisatva, isto é, dos dez mundos, exceto o dos budas, possuem inerentes o
mundo do buda. Além disso, elucidou que o Buda, que havia alcançado a
iluminação, também continha em seu interior os demais nove mundos.
Assim, revelou que os dez mundos não são, cada qual, um mundo físico fixo
e distinto, mas, sim, condições que se encontram inerentes a cada vida.
Dessa forma, mesmo uma vida que evidencia em dado momento o aspecto
de um dos dez mundos possui inerentemente os dez mundos. Portanto, no
instante seguinte, ela será capaz de manifestar outra condição dos dez
mundos em função do relacionamento externo. O princípio que indica a
existência dos dez mundos em cada um dos dez mundos é chamado
“possessão mútua dos dez mundos”.

Nichiren Daishonin afirma que: “Nem a terra pura nem o inferno existem fora
de nós, ambos se encontram apenas em nosso coração. Aquele que
desperta para isso é chamado de buda, e aquele que ignora é chamado de
mortal comum” (CEND, v. I, p. 477).

O pensamento de que os dez mundos são inerentes à vida leva à conclusão


de que mesmo uma condição de vida de sofrimento do inferno pode ser
transformada em uma condição de plena felicidade chamada “estado de
buda”. Portanto, a “teoria dos dez mundos”, embasada no Sutra do Lótus, é
um princípio filosófico para a dinâmica transformação da própria vida.

A seguir, vamos descrever cada um dos dez mundos. Em relação aos seis
caminhos inerentes à nossa vida, Daishonin escreveu em O Objeto de
Devoção para Observar a Mente: “Quando observamos o rosto de alguém em
momentos diferentes, vemos que, algumas vezes, essa pessoa está alegre;
em outras, irada e, em outras, tranquila. Em certas circunstâncias,
percebemos que o rosto de uma pessoa reflete ganância; em outras,
estupidez; e em outras, perversidade. O ódio indica o mundo de inferno; a
ganância, o mundo dos espíritos famintos; a estupidez, o mundo da
animalidade; a perversidade, o mundo dos asura; a alegria, o mundo dos
seres celestiais; e a tranquilidade, o mundo dos seres humanos” (Ibidem, p.
375).

Com base nessa frase dos escritos, vamos descrever cada um dos seis
caminhos.

Mundo do inferno

Originalmente, inferno possui o significado de “prisão debaixo da terra”. Os


sutras budistas descrevem vários tipos de inferno, como os “oito infernos
escaldantes” e “oito infernos gelados”.

O mundo do inferno representa a mais baixa condição de vida, o estado de


inferno, de extremo sofrimento em que a pessoa se sente sem liberdade.
Conforme consta na Carta para Niike — “O inferno é uma morada terrível de
fogo” (CEND, v. II, p. 293) —, o mundo do inferno é uma condição de vida em
que a pessoa sente que o mundo lhe traz sofrimentos como as chamas que
a envolvem completamente. Em O Objeto de Devoção para Observar a Mente,
Daishonin afirmou: “O ódio indica o mundo de inferno” (CEND, v. I, p. 375).
Esse “ódio” mostra o sentimento manifestado pela pessoa em relação à
própria condição de sofrimento. O “ódio” é também o gemido pela dor dos
sofrimentos que dominam a pessoa nesse estado. Portanto, o mundo do
inferno indica uma condição de vida em que “o próprio fato de viver lhe traz
sofrimento” e “tudo na vida lhe invoca um sentimento de infelicidade”.

Mundo dos espíritos famintos

O mundo dos espíritos famintos indica a condição de vida do estado de


fome, caracterizada pela obsessão de realizar os desejos e pela
incapacidade de satisfazê-los. Em sua origem na Índia antiga, “espírito
faminto” designava os mortos. Pelo fato de indicar o desejo descontrolado
pelo alimento dos mortos pela inanição, o “mundo dos espíritos famintos”
representa uma condição de vida em que a intensa e desenfreada chama
dos desejos acaba destruindo a própria vida. Daishonin afirma: “A ganância
[é] o mundo dos espíritos famintos” (CEND, v. I, p. 375) e “o mundo dos
espíritos famintos é um lugar deplorável onde estes seres, impulsionados
pela fome extrema, devoram os próprios filhos” (CEND, v. II, p. 293). Assim, o
mundo dos espíritos famintos indica uma condição de vida de sofrimento e
sem liberdade, dominada pelo desejo incontrolável, em que as pessoas
devoram até os próprios filhos.

Naturalmente, em termos de desejos, há duas faces, uma do bem e a outra


do mal. Por exemplo, o ser humano não poderá sobreviver se não houver o
desejo por alimentação. Há também diversas situações em que o desejo
promove o progresso e o desenvolvimento das pessoas. O mundo dos
espíritos famintos indica uma condição de vida, de estado de fome, em que
não se consegue direcionar os desejos rumo ao próprio desenvolvimento,
mas, ao contrário, a pessoa acaba se tornando escrava desses mesmos
desejos, causando sofrimentos para si mesma.

Mundo dos animais1

O que caracteriza o mundo dos animais é a ausência da razão e a busca


somente por interesses imediatos. Portanto, o mundo dos animais indica
uma condição de vida, o estado de animalidade, em que as pessoas são
conduzidas unicamente por seus instintos, sem conseguir discernir o certo
do errado. Daishonin ressalta: “A estupidez [é] o mundo da animalidade”
(CEND, v. I, p. 375); “É da natureza dos animais ameaçar os fracos e temer os
fortes” (Ibidem, p. 318) e “...dos animais, pelo princípio de matar ou morrer”
(CEND, v. II, p. 293). Na condição de vida do mundo dos animais, as pessoas
agem compulsivamente, de forma irracional e sem moralidade. O critério de
suas ações é se aproveitar dos mais fracos e bajular os mais fortes. Não
conseguem visualizar o futuro e ficam presas somente às coisas imediatas
e, no final, destroem a si mesmas.
De toda forma, os mundos do inferno, dos espíritos famintos e dos animais
representam condições de vida de terrível agonia e, portanto, conhecidos
como “três maus caminhos”.

Mundo dos asura

Originalmente, asura referia-se a um demônio da mitologia da Índia antiga


descrito como beligerante e hostil por natureza. Assim, o mundo dos asura
representa a condição de vida no estado de ira que se caracteriza pelo
constante e desenfreado desejo de superar os outros. Indivíduos nesse
estado vivem se comparando a outros. Assim, quando uma pessoa no
estado de ira se defronta com alguém que considera inferior, ela manifesta
arrogância e menospreza o outro. Diante de alguém considerado de
sabedoria superior, não consegue manifestar o sentimento de respeito e,
diante de outro de capacidade comprovada, se torna subserviente e
bajuladora e procura se mostrar humilde, porém, em seu íntimo, mantém
apenas o sentimento de inveja e decepção. Por isso, a ambiguidade entre as
ações e o coração caracteriza o estado de ira. Daishonin também descreve:
“A perversidade [é] o mundo dos asura” (CEND, v. I, p. 375). Em suma, com o
sentimento distorcido, procura aparentar um aspecto que nada tem a ver
com a sua verdadeira natureza.

No mundo dos asura, diferentemente dos três maus caminhos do inferno,


fome e animalidade em que a pessoa é completamente dominada pelos
desejos fundamentais dos “três venenos” — avareza, ira e estupidez —, ela
possui consciência dos seus atos, mas é baseada num forte sentimento de
egoísmo. Mesmo assim, é também uma condição de vida de sofrimento e
de infelicidade. Por essa razão, o mundo dos asura, junto com os três maus
caminhos, formam as “quatro tendências maléficas” ou os “quatro maus
caminhos”.

Mundo dos seres humanos


O mundo dos seres humanos representa uma condição de vida denominada
estado de tranquilidade ou de humanidade em que a pessoa manifesta paz e
serenidade como um verdadeiro ser humano. Daishonin assegura:
“...tranquilidade [é] o mundo dos seres humanos” (CEND, v. I, p. 375).

Nesse estado, a pessoa conhece o princípio de causa e efeito, a razão se


manifesta claramente no julgamento do bem e do mal e ela consegue
manter o autocontrole, assim como Daishonin afirma: “Os sábios podem ser
chamados de humanos, mas os tolos não são mais que animais” (CEND, v. II,
p. 113).

No entanto, não se consegue manter essa condição de vida digna de um ser


humano sem esforço. Na realidade, em meio a circunstâncias altamente
negativas, é extremamente difícil, se não impossível, viver dignamente como
ser humano se não houver um esforço permanente visando ao progresso de
si mesmo. O estado de tranquilidade é o primeiro passo para conquistar a
vitória sobre si, ou seja, vencer a si mesmo. Assim, o mundo dos seres
humanos pode ser interpretado também como uma espécie de receptáculo
para a própria iluminação. Esse estado contém em si o perigo de a pessoa,
num instante, cair nos maus caminhos, ao mesmo tempo em que possui o
potencial para avançar para os quatro nobres mundos com a dedicação à
prática budista.

Mundo dos seres celestiais

Originalmente, o mundo dos seres celestiais indicava um local, nos céus,


onde se acreditava residirem deuses com poderes sobre-humanos. Na Índia
antiga, acreditava-se que as pessoas de boas ações na vida presente
nasceriam na próxima existência nos céus. No Budismo de Nichiren
Daishonin, esse “mundo dos seres celestiais” indica a condição de vida,
chamada estado de alegria, que se caracteriza pelo contentamento oriundo
da concretização dos desejos, resultado de esforços. Daishonin afirma no
Gosho: “...alegria [é] o mundo dos seres celestiais” (CEND, v. I, p. 375).
O estado de alegria nasce da concretização dos mais variados tipos de
desejo, tais como: instintivos, de dormir ou comer; materiais, de um carro ou
uma casa; sociais, da conquista de fama e posição; espirituais, como os de
conhecer lugares desconhecidos ou criar uma nova forma de arte; entre
outros. Todavia, a alegria desse estado é efêmera e desaparece com o
passar do tempo ou com a mudança das circunstâncias. Por esse motivo,
não se pode considerar o estado de alegria como uma condição de
verdadeira felicidade a ser almejada na vida.

Dos seis caminhos aos quatro nobres mundos

Os seis caminhos — do mundo do inferno ao mundo dos seres celestiais —


indicam condições de vida em que as pessoas são arrastadas pelas
influências externas. Ao concretizarem casualmente os desejos pessoais,
manifestam o estado de alegria e, quando o seu ambiente é pacífico, podem
experimentar o estado de tranquilidade. Porém, no momento em que essas
circunstâncias desaparecem, imediatamente manifestam-se os sofrimentos,
tais como dos estados de inferno e de fome. Portanto, na condição de vida
dos seis caminhos, as pessoas são dependentes das circunstâncias
externas, privadas da verdadeira liberdade e de independência.

O objetivo da prática budista é o de edificar uma condição de felicidade com


total independência dos fatores externos, ultrapassando os estados dos seis
caminhos. A condição de vida iluminada que se conquista por meio do
exercício budista é denominada quatro nobres mundos — dos ouvintes da
voz, dos que despertaram para a causa, dos bodisatvas e dos budas.

Mundo dos ouvintes da voz e mundo dos que despertaram para a causa

O mundo dos ouvintes da voz e o mundo dos que despertaram para a causa
são conhecidos como dois veículos. Correspondem aos estados de erudição
e de autorrealização, respectivamente, e são condições de vida que podem
ser conquistadas com a prática do budismo Hinayana. O mundo dos
ouvintes da voz corresponde a uma condição de vida, o estado de erudição,
de iluminação parcial alcançada ouvindo os ensinamentos do Buda. O
mundo dos que despertaram para a causa se refere a uma condição de vida,
o estado de autorrealização, também de iluminação parcial sobre o budismo,
porém, alcançada por si só com base na observação de diversos
fenômenos. Essa iluminação parcial dos dois veículos corresponde à
percepção sobre a impermanência ou a transitoriedade da vida. Com o
passar do tempo, tudo o que existe no universo sofre transformações e
acaba em extinção. Na condição de vida dos dois veículos, a pessoa
ultrapassa o apego às coisas transitórias, com uma visão objetiva tanto de si
própria como do mundo e com a consciência de que tudo está em constante
transformação até a extinção.

Em nossa vida diária, há ocasiões em que sentimos fortemente o aspecto de


transitoriedade de nós próprios e de tudo ao nosso redor. Daishonin nos
mostra que os dois veículos estão presentes também no estado de
tranquilidade (humanidade) na seguinte frase: “O fato de que todas as
coisas deste mundo são transitórias está perfeitamente claro para nós. A
razão disso não seria porque os mundos dos dois veículos estão presentes
no mundo humano?” (CEND, v. I, p. 375).

Do ponto de vista da iluminação do Buda, a percepção alcançada pelas


pessoas dos dois veículos é apenas parcial. Entretanto, sentindo-se
satisfeitas com a pequena percepção alcançada, as pessoas dos dois
veículos deixam de buscar a verdadeira iluminação do Buda. Mesmo
reconhecendo a grandiosidade do estado de vida do Buda, que é o seu
mestre, elas acabam se restringindo à percepção parcial alcançada, sem
acreditar na possibilidade da iluminação. E acabam se fechando nessa
percepção com um sentimento egoístico e não se empenham em beneficiar
as outras pessoas. Assim, a condição de vida das pessoas dos dois veículos
se limita ao egocentrismo.

Mundo dos bodisatvas

A palavra bodisatva possui o significado de “pessoas que se esforçam


ininterruptamente em busca da percepção do Buda”. As pessoas dos dois
veículos, apesar de considerarem o Buda como seu mestre, não acreditam
que possam atingir a mesma condição de estado de buda. Em contrapartida,
o bodisatva busca conquistar a mesma condição de vida do Buda que é seu
mestre. Além disso, o bodisatva almeja a felicidade das pessoas
transmitindo-lhes e expandindo o ensinamento do Buda.

Portanto, o que caracteriza a condição de vida do bodisatva é o espírito de


procura ao mais elevado estado de vida do Buda, ao mesmo tempo em que
se empenha pelo bem de outras pessoas, compartilhando os benefícios
conquistados por meio da prática budista. No coração do bodisatva está
contida a busca pela própria felicidade e a de outras pessoas realizando a
prática de “extrair o sofrimento e conceder a felicidade” em meio à realidade
social, e sentindo empatia pelos sofrimentos e tristezas alheias.

Enquanto as pessoas nos dois veículos se fecham em um coração


egocêntrico, satisfeitas com a percepção parcial alcançada, na condição de
vida do bodisatva predomina a ação em prol da Lei e das pessoas, com forte
senso de missão.

A base fundamental do estado de bodisatva é a compaixão. Nichiren


Daishonin afirma em O Objeto de Devoção para Observar a Mente: “Até um
terrível criminoso ama sua esposa e seus filhos. Ele também possui dentro
de si uma parte do mundo de bodisatva” (CEND, v. I, p. 375). Originalmente, a
vida contém o sentimento de compaixão; mesmo uma pessoa que não
demonstra a menor preocupação com as outras pessoas ama a esposa ou o
marido e os filhos. Portanto, o mundo dos bodisatvas representa uma
condição de vida, o estado de bodisatva, baseada na compaixão voltada
para o bem de todos.

Mundo dos budas

O mundo dos budas corresponde à mais digna e respeitável condição de


vida personificada pelo Buda. A palavra “buda” significa “iluminado” e indica
alguém que despertou e alcançou a percepção da Lei Mística como a Lei
fundamental da vida e do universo. De forma concreta, refere-se a
Shakyamuni, nascido na Índia. Por outro lado, os sutras budistas mencionam
diversos budas como o buda Amida. Esses budas são mitológicos e
simbolizam o aspecto maravilhoso e grandioso da condição de vida do
mundo dos budas.

Com o propósito de salvar todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei,


Nichiren Daishonin manifestou a mais nobre condição de vida do mundo dos
budas em sua própria vida de ser humano comum, estabelecendo assim o
caminho do mundo dos budas para todos. Por essa razão, Daishonin é o
Buda dos Últimos Dias da Lei.

O mundo dos budas representa uma condição de vida chamada estado de


buda, repleta de boa sorte alcançada com a percepção de que a origem da
própria vida é a Lei Mística. O Buda, que estabeleceu essa condição de vida,
prossegue em sua contínua batalha a fim de que todas as pessoas
conquistem esse mesmo estado de buda, incorporando em si a mais
suprema compaixão e sabedoria.

O mundo dos budas é originalmente inerente à vida de todos nós. Porém,


manifestá-lo em meio à realidade da vida diária repleta de sofrimentos é
uma tarefa extremamente difícil. E, como um meio para que as pessoas
evidenciassem esse estado de buda, Nichiren Daishonin inscreveu o
Gohonzon. Daishonin incorporou no Gohonzon a sua vida como Buda dos
Últimos Dias da Lei cuja essência é o Nam-myoho-renge-kyo. Manifestamos
o estado de buda em nossa vida no momento que perseveramos na
recitação do daimokupara nós e para os outros com fé no Gohonzon.

A profunda relação entre a vida do estado de buda e a prática da fé é


descrita por Daishonin na seguinte passagem de O Objeto de Devoção para
Observar a Mente: “O fato de pessoas comuns que nasceram nesta última
era acreditarem no Sutra do Lótus se deve ao mundo do estado de buda
estar presente no mundo humano” (Ibidem, p. 376). O Sutra do Lótus é um
ensinamento que revela a possibilidade de todas as pessoas atingirem o
estado de buda. Porém, só se consegue acreditar nesse ponto pelo fato de,
como ser humano, possuir originalmente inerente à vida o estado de buda.
Em relação a essa afirmação de Daishonin, Nichikan Shonin fez a seguinte
interpretação: “O estado de buda é a denominação dada ao sentimento de
forte fé no Sutra do Lótus”. Aqui, “Sutra do Lótus” indica o Sutra do Lótus
dos Últimos Dias da Lei, isto é, o próprio Gohonzon do Nam-myoho-renge-
kyo. Portanto, o estado de buda nada mais é que a vida de forte prática da fé
embasada na crença ao Gohonzon.

Em termos contemporâneos, podemos dizer que a condição de vida do


estado de buda é a da “felicidade absoluta”, que não é influenciada por nada.
O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, afirmava que esse estado
alcançado com a prática da fé é uma condição de vida em que uma pessoa
se sente feliz pelo simples fato de estar viva.

A condição do estado de buda, inabalável e de paz e segurança na vida, pode


ser comparada ao rei leão que não teme a nada, seja quais forem as
circunstâncias.

Capítulo 2: Trechos do Gosho


Budismo do Sol — Iluminando o Mundo: A Religião da Revolução Humana
Parte 9 [de 12]

Terceira Civilização, ed. 625, set. 2020, p. 50-65

Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda


[29] Budismo do povo (parte 1 de 2) — despertar para a dignidade da


própria vida

Explanação

Aqueles que mais sofreram têm o direito de ser mais felizes. O povo mais
desprezado e oprimido tem o direito de entoar a canção do triunfo com
maior orgulho. O Budismo de Nichiren Daishonin existe para realizar essa
grande transformação e para cada pessoa, que vem sofrendo por seu
destino, abrir o caminho de sua felicidade eterna. Essas são as convicções
que gravei no fundo do coração como discípulo de unicidade do meu
venerado mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda.

Contribuir para o bem-estar do povo e para a felicidade da humanidade


depende, em última análise, de conseguir transmitir ou não coragem e
esperança para uma única pessoa com sofrimento diante dos olhos,
empoderando-a a viver com felicidade.

Um aliado dos que mais sofrem

Certa ocasião, ao participar de uma reunião, Mahatma Gandhi (1869–1948),


líder do movimento da independência da Índia, notou que os membros da
casta dos intocáveis, a mais discriminada na sociedade indiana, estavam
segregados a um canto. Sem sequer olhar para o assento preparado para
ele, Gandhi foi se sentar com eles e conduziu a atividade de lá.2 Desse
modo, demonstrou, de forma categórica, que não apenas estava do lado
desse grupo oprimido, mas que o centro do palco pertencia a esses
integrantes.

O primeiro-ministro indiano Jawaharlal Nehru (1889–1964), sucessor de


Gandhi, afirmou: “Mahatma Gandhi julgava todas as questões utilizando um
simples critério — ele se perguntava: ‘De que modo isso beneficiaria os
desfavorecidos da Índia?’”.3

A Soka Gakkai se posicionará eternamente ao lado do povo, ajudará aqueles


que mais sofrem e isso continuará sendo o parâmetro norteador das nossas
lutas.

O Budismo Nichiren é o budismo do povo.

“Povo”, nesse contexto, abrange todos os seres vivos. Não se restringe a


alguma classe em particular. Indica a pessoa bem diante de nós, não
excluindo nem discriminando ninguém, não importando quem seja,
independentemente de gênero, nacionalidade, procedência étnica, do
histórico familiar ou classe social, idade ou profissão, não obstante o
problema ou o sofrimento que possa estar enfrentando, abarca todos os
seres vivos.

A mensagem expressa agora pela Organização das Nações Unidas (ONU)


para a comunidade internacional de “não deixar ninguém para trás”
reverbera profundamente os ideais do Budismo Nichiren.

Nesta parte e na seguinte, refletiremos sobre o espírito do budismo do povo,


o ensinamento que Nichiren Daishonin estabeleceu com o espírito de não
poupar a própria vida para libertar as pessoas do sofrimento.

Vamos iniciar estudando o significado do Gohonzon, objeto de devoção do


“abraçar é, em si, observar a mente” (juji soku kanjin) para salvar uma única
pessoa diante dos olhos.

Trecho 1 do escrito

O Objeto de Devoção para Observar a Mente

“Observar a mente” significa contemplar a própria vida e nela encontrar os


dez mundos.4 Esse é o significado de observar a mente. Por exemplo,
embora possamos enxergar os seis órgãos dos sentidos5 nas outras
pessoas, não conseguimos ver os nossos próprios. Somente quando
olhamos num espelho limpo conseguimos ver, pela primeira vez, que
possuímos todos os seis órgãos dos sentidos. De maneira semelhante,
vários sutras mencionam num trecho ou outro os seis caminhos e os quatro
nobres mundos6 [que constituem os dez mundos]; no entanto, somente no
espelho cristalino do Sutra do Lótus e da obra Grande Concentração e
Discernimento,7 do grande mestre Tiantai,8 é que podemos ver em nós
próprios os dez mundos, os cem mundos, os mil fatores e os três mil
mundos num único momento da vida.9 (CEND, v. I, p. 373)10
Um espelho que reflete nossa vida exatamente como ela é

Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, primeiro e segundo presidentes da


Soka Gakkai, sublinharam essa passagem, respectivamente, em seu
exemplar do Gosho, a Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin.

O ponto central do Budismo de Daishonin, o budismo do povo, consiste em


revelar a dignidade inerente aos seres humanos e indicar concretamente
uma forma de prática acessível a todas as pessoas e que seja capaz de
valorizar ao máximo o ser humano que se encontra bem diante dos olhos.

O Gohonzon inscrito por Nichiren Daishonin compõe a essência do budismo


do povo, o ensinamento que capacita as pessoas a atingir o estado de buda,
com base no princípio de “abraçar é, em si, observar a mente”. Isso é
explicado claramente no escrito O Objeto de Devoção para Observar a Mente,
de Nichiren Daishonin: “‘Observar a mente’ significa contemplar a própria
vida e nela encontrar os dez mundos” (CEND, v. I, p. 373).

A visão do budismo é voltada para a dimensão interna da vida, analisando


profundamente a verdadeira natureza da existência humana, e por isso é
denominada “caminho interior”. Assim, podemos observar a mente e
examinar o próprio eu, de modo que possamos compreender a natureza
humana essencial do nosso ser.

Embora possamos enxergar a aparência física dos outros, não conseguimos


ver a nossa, a menos que utilizemos um espelho. No entanto, um espelho
não nos mostra o que reside dentro de nós. É por essa razão que, para
“observar a própria mente”, necessitamos de um “espelho limpo” que reflita
nossa vida com exatidão pela sabedoria do buda. O Sutra do Lótus e o
tratado Grande Concentração e Discernimento, de Tiantai, são esse espelho,
afirma Daishonin nesse trecho.

O que se torna visível nesse espelho cristalino é a vida de cada um que está
se empenhando e lutando fervorosamente para alcançar a felicidade neste
mundo saha11 infestado de sofrimentos de nascimento, envelhecimento,
doença e morte. Essa é a vida da “possessão mútua dos dez mundos”12 que
todas as pessoas, indistintamente, manifestam.
Todos são a entidade da “possessão mútua dos dez mundos”

Todos, sem exceção, são a entidade da “possessão mútua dos dez


mundos”. Se adotarmos essa verdade como paradigma ao interagirmos com
os outros, jamais passará pela nossa cabeça abandonar alguém ou negar a
humanidade de qualquer pessoa. Essencialmente, todas as pessoas são
merecedoras de respeito. Cada indivíduo é precioso e insubstituível.

O poeta americano Walt Whitman (1819–1892) conclamou a esse


“indivíduo”: “Toda teoria do universo refere-se impreterivelmente a uma única
pessoa — ou seja, a ti”.13 Seja quem for, é um ser humano nobre e precioso.
Esse é o ponto central para o qual converge todo o universo, declara o poeta.

Trecho 2 do escrito

O Objeto de Devoção para Observar a Mente

A possessão mútua dos dez mundos é tão difícil de acreditar quanto a


existência de fogo dentro de uma pedra ou de flores no interior de uma
árvore. Ainda assim, sob condições propícias, tais fenômenos realmente
ocorrem e são críveis. Crer que o estado de buda existe no mundo humano
é algo extremamente difícil — tão difícil quanto crer que a água contém
fogo ou o fogo contém água. Não obstante, dizem que o dragão produz
fogo a partir da água, e água a partir do fogo e, mesmo não compreendendo
como é possível, as pessoas acreditam quando veem isso ocorrer. Como o
senhor agora acredita que o mundo humano contém os outros oito mundos,
por que ainda é incapaz de incluir o estado de buda? Os sábios reis
chineses Yao e Shun14 eram imparciais com todas as pessoas. Eles
manifestavam, no mundo humano, um aspecto do estado de buda. O
bodisatva Jamais Desprezar15 via o Buda em cada pessoa que encontrava,
e o príncipe Siddhartha [Shakyamuni] foi um ser humano que se tornou um
buda. Esses exemplos devem ajudá-lo a acreditar. (CEND, v. I, p. 376-377)
Despertar para nosso pleno potencial

Nichiren Daishonin aponta: “A doutrina dos três mil mundos num único
momento da vida começa com o conceito da possessão mútua dos dez
mundos” (CEND, v. I, p. 233).

A “possessão mútua dos dez mundos” é o alicerce da doutrina dos “três mil
mundos num único momento da vida”. Em particular, Daishonin afirma [em A
Seleção do Tempo]: “Ele [buda Shakyamuni] também expôs a doutrina dos
três mil mundos num único momento da vida, explicando que os nove
mundos contêm o potencial para o estado de buda e que este contém os
nove mundos”16 (Ibidem, p. 563). O ensinamento de que pessoas comuns
nos nove mundos possuem o estado de buda e de que o Buda que atingiu a
iluminação também possui as condições de vida dos nove mundos constitui
o ponto mais importante do Sutra do Lótus. Da perspectiva dos mortais
comuns, em particular, o princípio de que “os nove mundos contêm o
potencial para o estado de buda” é a chave para se atingir o estado de buda.

No trecho de O Objeto de Devoção para Observar a Mente que estamos


estudando, Daishonin esclarece que a causa fundamental para se atingir a
iluminação é “o mundo do estado de buda inerente aos nove mundos” — em
particular, “o estado de buda existe no mundo humano”. Somente quando
estes são estabelecidos como princípios eternos para a prática, torna-se
possível aos mortais comuns atingirem o estado de buda.

Nessa passagem, Nichiren Daishonin apresenta prontamente analogias de


fácil compreensão para ilustrar a “possessão mútua dos dez mundos” e o
princípio de “estado de buda existe no mundo humano”.

Quando considerada como um princípio geral, a “possessão mútua dos dez


mundos” é compreensível — assim como as analogias apresentadas por
Daishonin sobre a existência de fogo dentro de uma pedra e de flores dentro
de uma árvore. Afinal, ao se friccionar uma pedra, é possível produzir uma
fagulha; e as flores de cerejeira e de ameixeira surgem do interior de sua
respectiva árvore.
Entretanto, quando avançamos um passo e examinamos o conceito de
“estado de buda existe no mundo humano”, torna-se mais difícil de entender.
À luz da doutrina budista, o conceito de “estado de buda existe no mundo
humano” estaria inserido na “possessão mútua dos dez mundos”. Contudo,
isso à primeira vista parece algo tão inconcebível quanto a ideia da
existência de fogo na água ou de água no fogo, pois o mundo dos seres
humanos e o mundo dos budas aparentam ser duas coisas essencialmente
diferentes, como o fogo e a água. É difícil acreditar prontamente que o
supremo mundo do estado de buda exista dentro da nossa própria vida de
mortal comum, isto é, a do mundo dos seres humanos.

Embora sejamos capazes de compreender esse conceito de maneira


abstrata ou teórica, é um grande desafio despertar genuinamente para o
nosso potencial e conhecer a verdadeira natureza da própria vida.

Nichiren Daishonin explica isso de forma acessível a todas as pessoas por


meio da “prova real” [do princípio de três provas]”.

Daishonin apresenta três exemplos como provas concretas de que o mundo


dos seres humanos contém o mundo dos budas. O primeiro é a
imparcialidade dos sábios reis chineses da antiguidade Yao e Shun em sua
consideração pelo povo. O segundo é a atitude do bodisatva Jamais
Desprezar de enxergar a natureza de buda até na vida daqueles que o
atacavam e o perseguiam, respeitando e reverenciando a todos. O terceiro é
o fato de Shakyamuni ter abandonado sua posição na realeza e atingido o
estado de buda como ser humano comum.

Adotar a dedicação de “sem poupar a vida” de Daishonin como modelo

No âmbito do Budismo Nichiren, não há maior exemplo do estado de buda


inerente aos outros nove mundos que a vida e as ações de Nichiren
Daishonin ao lutar abnegadamente para propagar a Lei Mística suportando
grandes adversidades.
O epítome disso reside no ato de “abandonar o transitório e revelar o
verdadeiro” por ocasião de sua quase decapitação durante a Perseguição de
Tatsunokuchi. No escrito Abertura dos Olhos, Daishonin registra: “No décimo
segundo dia do nono mês do ano passado [1271], entre as horas do rato e
do boi [entre 23 horas e 3 horas], esta pessoa chamada Nichiren foi
decapitada [em Tatsunokuchi]” (CEND, v. I, p. 281-282). Com essas palavras,
ele ressalta que abandonou sua condição transitória de mortal comum não
iluminado, preso pelos grilhões do carma e do sofrimento e, embora
continuasse sendo mortal comum, revelou sua verdadeira identidade, ou seu
estado de vida original e inerente de buda do tempo sem início.17

Ao fazer isso, demonstrou claramente a dignidade suprema e o potencial


inestimável, tão vasto como o próprio universo, que brilha na vida de um ser
humano comum que se dedica à Lei. Daishonin triunfou sobre a perseguição
que pôs sua vida em risco — a tentativa de assassinato orquestrada por
certas personalidades poderosas do governo militar de Kamakura que
desejavam tirá-lo do caminho — e demonstrou a veracidade da Lei Mística.
Ele apresentou a prova real de que pessoas comuns podem atingir a
suprema condição do estado de buda exatamente como são.

Além disso, o exemplo de Nichiren Daishonin de uma pessoa “abandonar o


transitório e revelar o verdadeiro” encerra em si a promessa de que todas as
pessoas que vierem depois dele também poderão dar plena expressão à sua
dignidade inerente.

Originalmente, todos os indivíduos possuem dentro de si a mesma condição


de vida supremamente nobre de Daishonin. Por meio de ações imbuídas de
profunda compaixão, ele buscou despertar as pessoas para essa verdade,
para que evidenciassem o próprio infinito potencial.

Em outro escrito, A Declaração Unânime dos Budas das Três Existências,


Daishonin ressalta: “Esses dez mundos surgem da mente do indivíduo. (...)
Aqui, um único indivíduo foi usado como exemplo, mas o mesmo se aplica
igualmente a todos os seres vivos” (WND, v. II, p. 844).
Acatando a prova real demonstrada por Nichiren Daishonin como o modelo
a ser seguido por nós, vamos nos empenhar para alcançar sem falta uma
vida vitoriosa.

Trecho 3 do escrito

O Objeto de Devoção para Observar a Mente

As práticas de Shakyamuni e as virtudes que ele consequentemente


adquiriu estão todas contidas nos cinco ideogramas do Myoho-renge-
kyo.18 Se acreditarmos nesses cinco ideogramas, naturalmente
receberemos os mesmos benefícios obtidos por ele. (...) O capítulo “A
Extensão da Vida” afirma: “Já se passaram imensuráveis, ilimitadas
centenas, milhares, dezenas de milhares e milhões de nayuta de kalpa
desde que eu, de fato, atingi o estado de buda” [LSOC, cap. 16, p. 256-266].
O buda Shakyamuni que existe em nossa vida é o Buda eterno desde o
tempo sem início, que obteve os três corpos num período maior do que
decorridos kalpa de partículas de pó de incontáveis sistemas de mundos. O
capítulo “A Extensão da Vida” afirma: “No início, pratiquei o caminho do
bodisatva, e a extensão de vida que adquiri nessa época ainda não chegou
ao fim; perdurará o dobro dos anos que já se passaram” [LSOC, cap. 16, p.
268]. Ele estava se referindo ao estado de bodisatva que existe em nossa
vida. Os bodisatvas tão numerosos quanto as partículas de pó de mil
mundos, que emergiram da terra, são seguidores do buda Shakyamuni, que
existe em nossa vida. (CEND, v. I, p. 383)

Princípio que concretiza a consecução do estado de buda de todas as


pessoas

Essa passagem explica um dos ensinamentos mais profundos do Budismo


Nichiren, o conceito de “abraçar é, em si, observar a mente”.
Myoho-renge-kyo, a Lei Mística, é o grande ensinamento que abarca tanto a
causa (prática) a que Shakyamuni se devotou desde o remoto passado
como os benefícios (virtude) que ele obteve como resultado.

Shakyamuni tornou-se buda por meio do Myoho-renge-kyo e também


ensinou o Sutra do Lótus fundamentado no Myoho-renge-kyo. Isso não se
aplica apenas a Shakyamuni, mas a todos os budas. A causa e o efeito —
prática e virtude — relacionados à iluminação de todos os budas são
inerentes aos cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo.

Na frase “Se [nós] acreditarmos [abraçarmos] nesses cinco ideogramas”


(CEND, v. I, p. 383), o termo “nós” refere-se a Daishonin e a seus discípulos,
inclusive nós, seus discípulos dos Últimos Dias diretamente ligados a ele.
Também abrange todos os seres humanos.

No trecho “naturalmente receberemos os mesmos benefícios obtidos por


ele”, “naturalmente” indica “com certeza”, no sentido de fato assegurado;
significa que isso se aplica a todos. Qualquer tipo de pessoa pode atingir o
estado de buda com toda a certeza.

Se abraçarmos os cinco ideogramas da Lei Mística, isto é, o Myoho-renge-


kyo, recitarmos daimoku de prática individual e altruística, devotando-nos à
nossa prática budista, seremos agraciados exatamente com a mesma causa
e o mesmo efeito da iluminação do Buda. Nichiren Daishonin estabeleceu e
revelou esse princípio para a prática a fim de que pessoas comuns
atingissem o estado de buda nos Últimos Dias da Lei.

Gohonzon para manifestar o maravilhoso estado de buda

Depois de “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro”, Nichiren


Daishonin inscreveu o Gohonzon, mandala que incorpora os cinco
ideogramas do Myoho-renge-kyo.

Em uma de suas explanações, Toda sensei discorreu sobre a interpretação


profunda dessa passagem: “‘Observar a mente’ significa contemplar a
própria vida e nela encontrar os dez mundos. Esse é o significado de
observar a mente” (CEND, v. I, p. 373).19
Ele explanou:

Da perspectiva do Budismo de Nichiren Daishonin, observar a mente


significa acreditar no Gohonzon, ao passo que nela encontrar os dez
mundos indica recitar Nam-myoho-renge-kyo. Em vista disso, quando
recitamos Nam-myoho-renge-kyo com fé no Gohonzon, os dez mundos
retratados no Gohonzon tornam-se unos com os dez mundos de nossa
própria vida. Em outras palavras, acreditando na Lei Mística e abraçando-a,
seremos agraciados com as práticas e virtudes inerentes ao Gohonzon e
viveremos numa condição de alegria.20

A condição de vida de infinita sabedoria e compaixão de Nichiren Daishonin,


o Buda do Últimos Dias da Lei, revela-se, portanto, em nossa própria vida.
Quando manifestamos uma profunda fé e recitamos Nam-myoho-renge-kyo,
o Gohonzon das profundezas do nosso interior é iluminado e ativado pelo
espelho límpido do Gohonzon físico ao qual dirigimos nossas orações.
Podemos ver o estado de buda de nossa própria vida. Pelo fato de ser um
objeto de devoção de “abraçar é, em si, observar a mente”, o Gohonzon
possui o extraordinário poder de possibilitar que superemos quaisquer
adversidades e solucionemos todos os problemas.

O ensinamento para solucionar todos os sofrimentos da vida

Na época em que o presidente Josei Toda publicou uma coletânea de suas


explanações sobre O Objeto de Devoção para Observar a Mente, em 1955, ele
falou reiteradamente em várias partes do país sobre o princípio de “abraçar
é, em si, observar a mente”.

Numa dessas oportunidades, ele observou que, embora desejemos pensar


que nós, seres humanos, somos todos iguais, na realidade todos possuímos
diferentes problemas e sofrimentos. Mas, se abraçarmos o Gohonzon e
recitarmos Nam-myoho-renge-kyo sinceramente, surgirão efeitos positivos
maravilhosos e “é uma verdade absolutamente indubitável de que
ultrapassaremos todos os sofrimentos da vida, transformando o destino e
superando problemas como pobreza, doença e desarmonia familiar”.21
Em outra ocasião, Toda sensei disse que, abraçando o Gohonzon, podemos
obter imediatamente as causas para a boa sorte, como conforto material,
que não conseguimos criar em existências passadas. “Tudo o que precisam
fazer é conquistar esses resultados por meio da fé e do shakubuku, isto é, da
ação de compartilhar o budismo com outras pessoas”,22 assegurou.

Temos o Gohonzon para praticarmos o ensinamento da iluminação universal


e fazermos a revolução humana.

Evidenciar o mundo dos budas e dos bodisatvas inerente à nossa vida

Nichiren Daishonin, em seguida, cita duas passagens do capítulo 16, “A


Extensão da Vida”, do Sutra do Lótus, sobre a manifestação do mundo dos
budas e dos bodisatvas em nossa própria vida.

Para Daishonin, a condição de vida implícita em expressões como “o mundo


dos budas” ou “natureza de buda” não era apenas um conceito abstrato. O
“buda Shakyamuni, que existe em nossa vida” (CEND, v. I, p. 383), afirma ele,
está “sempre aqui, ensinando a Lei”23 (LSOC, cap. 16, p. 271) desde o tempo
sem início. Esse é o “Buda eterno desde o tempo sem início” (CEND, v. I, p.
383) que luta continuamente para aliviar o sofrimento dos seres vivos deste
mundo saha e para capacitá-los a atingir a iluminação.

O “estado de bodisatva que existe em nossa vida” (Ibidem), por sua vez,
representa uma condição de vida dedicada eternamente em prol da
felicidade do próximo. Da mesma maneira, os “bodisatvas tão numerosos
quanto as partículas de pó de mil mundos, que emergiram da terra” (Ibidem),
simbolizam a condição de vida palpitante de energia dos discípulos do Buda
do remoto passado que se empenham eternamente por seu mestre e por
todos os seres vivos.

Quando firmamos o juramento de devotar a vida ao kosen-rufu, a radiante


condição de vida dos bodisatvas da terra emerge da “terra” de nossa vida.

Gohonzon para a revolução humana


O Budismo de Nichiren Daishonin é a religião da revolução humana que
habilita todos os que a praticam a transformar o destino e a despertar para
sua força e sabedoria interiores.

É uma religião que torna as pessoas fortes e sábias, inabaláveis diante das
tempestades da vida como reis leões. É uma religião que faz cada pessoa
evidenciar o brilho da dignidade suprema e seu ilimitado potencial florescer
à plenitude.

É uma religião que possibilita a todas as pessoas abraçarem o Gohonzon e


recitarem daimoku de prática individual e altruística para assim edificar a
própria felicidade, bem como a felicidade de outras pessoas, num círculo
cada vez mais amplo.

Da perspectiva dessa religião humanística, o Gohonzon é um objeto de


devoção acessível a todos e existe para permitir que os seres humanos
conquistem a felicidade. O Gohonzon é para o bem do ser humano e é o
objeto de devoção ao qual direcionamos nossas orações e o juramento
seigan de concretizar a paz mundial.

Em sua posse como segundo presidente da Soka Gakkai (maio de 1951),


Toda sensei declarou com ardente devoção: “O sentido atual de kosen-
rufuconsiste em cada pessoa, que se levantou com consciência da missão
(...), realize shakubuku nas pessoas do país inteiro, fazendo com que todos
abracem o Gohonzon”.24 “Isso só poderá ser realizado”, afirmou ele, “por
meio do diálogo de coração a coração”.25

Em outro ensejo, munido da poderosa convicção de que o kosen-rufuse


difundiria por toda a Ásia e pelo mundo inteiro, Toda sensei disse: “Chegou a
hora de propagar o Gohonzon, a hora de fazer o benefício do Gohonzon
resplandecer tão intensamente como o sol do meio-dia”.26

Vamos nos empenhar para compartilhar o Gohonzon com as pessoas,


precisamente porque a vida de cada uma é infinitamente preciosa e digna de
respeito. Não há nenhuma pessoa que possa ser discriminada. Todas
nasceram neste mundo com uma nobre missão.
Os benefícios do Gohonzon são acessíveis, de forma imparcial, a todas as
pessoas. Não há necessidade de intermediários. Tudo o que importa é a fé.
O “objeto de devoção para observar a mente” é o “objeto de devoção da fé”.
O propósito do Gohonzon é permitir a cada indivíduo expandir sua condição
de vida e fazer brilhar ao máximo a própria torre de tesouro.

Em sua obra Comentário sobre “O Objeto de Devoção para Observar a Mente”,


Nichikan Shonin (1665–1726) escreveu: “Quando abraçamos a fé neste
objeto de devoção [o Gohonzon] e recitamos Nam-myoho-renge-kyo, nossa
vida imediatamente se torna o objeto de devoção dos três mil mundos num
único momento da vida; torna-se a vida de Nichiren Daishonin”.27 Aqueles
que abraçam firmemente o Gohonzon e continuam se esforçando em sua
prática budista cultivam uma vida de incomparável nobreza.

Aqueles que mais sofreram merecem ser os mais felizes

Quando cada cidadão comum, cada ser humano, despertar para o potencial
ilimitado que possui, poderá utilizar ao máximo suas abundantes
capacidades inerentes. Esse “empoderamento do ser humano” constitui um
dos temas mais importantes do século 21.

Em resposta a essa tendência, um vívido espírito de procura em relação ao


budismo e à alegria e à emoção da revolução humana está se disseminando
pelo mundo. Um líder da SGI-Estados Unidos observou que as pessoas
estão externando grande interesse por nossa filosofia, a qual expõe a
suprema dignidade de todas as pessoas com base no princípio da
“possessão mútua dos dez mundos” e a prática transformadora do Budismo
Nichiren.

Na África, onde se realizou no ano passado (2016) o 1º Exame de


Capacitação de Budismo do Continente Africano, em 105 locais espalhados
por dezenove países, os membros da organização vêm promovendo
diálogos e compartilhando nossa filosofia humanística com convicção e
dedicação. Um integrante do Quênia citou como é inspirador o ensinamento
de que nós possuímos dentro da nossa própria vida o poder para nos tornar
felizes. Não é nada além do princípio de “abraçar é, em si, observar a mente”.
Aqueles que mais sofreram merecem ser os mais felizes! Tenho certeza de
que Daishonin ficaria exultante ao observar que este grande ensinamento do
Budismo do Sol, o qual possibilita a transformação do destino, está
começando a iluminar, de forma esplêndida, a África e o restante do mundo.

Espalhar as sementes da paz e a luz da esperança

O sol do budismo do povo irradia sua luz, fazendo brilhar novamente na vida
sofrida de pessoas de qualquer parte do mundo.

Meu venerado mestre lutou com todas as suas forças para eliminar a
miséria e o sofrimento da face da Terra. Seguindo os passos dele, vamos
dar nova partida com renovada determinação, plantando as sementes da
paz da Lei Mística em todos os lugares que pudermos, concedendo a luz da
esperança àqueles com quem nos encontrarmos, ampliando as ondas
douradas do kosen-rufu, propagando-as de uma pessoa a outra.

(Publicado em setembro de 2017 na revista Daibyakurenge.)

Com a colaboração/revisão do Departamento de Estudo do Budismo (DEB)


da BSGI

Capítulo 2: Trechos da Nova Revolução


Humana

NRH, cap. “SGI”, v. 21, p. 9-11

Nichiren Daishonin expressa: “Com certeza, a ampla propagação da Lei


[kosen-rufu], um dia se concretizará em todo o Jambudvipa [o mundo
inteiro]” (GZ, p. 816). Nesse trecho, ele declara que o kosen-rufu mundial
definitivamente é algo possível. Isso, é óbvio, não significa que podemos
ficar sentados ociosamente e esperar que as coisas aconteçam. O avanço
monumental do kosen-rufu só pode ocorrer se aqueles que praticam os
ensinamentos de Nichiren Daishonin se empenharem com sinceridade
genuína para tornar realidade as predições dele. Portanto, devemos nos
levantar como protagonistas desse empreendimento, com a profunda
consciência da nossa nobre missão. É o que significa levantar-se como
bodisatva da terra. Quando procedemos desse modo, começamos a
transformar nossa condição de vida, construímos uma felicidade
indestrutível e experimentamos uma vida repleta de alegria.

O budismo ensina que o universo inteiro existe dentro do nosso coração.


Segue-se, portanto, que não devemos praticar a fé com a postura de um
observador passivo. Como aponta Daishonin: “Esse tipo de pessoa, mesmo
que estude o budismo, é considerado não budista” (CEND, v. I, p. 4). Uma
vida passiva é triste e maçante, permeada pela escuridão de um coração
vazio.

As pessoas que se reuniram em Guam eram líderes em sua respectiva


localidade, campeões que haviam se levantado para lutar pelo kosen-rufu
com base num firme senso de missão. Eram pioneiros dos ideais Soka.
Cada um deles havia se oferecido voluntariamente com a decisão de
trabalhar de mãos dadas para construir a SGI, tornando-a uma fortaleza da
paz capaz de unir os povos do mundo.

NRH, cap. “SGI”, v. 21, p. 46

Em qualquer sociedade ou país, as condições mudam constantemente. Por


mais adversas que possam ser as circunstâncias no presente, se
continuarmos semeando assiduamente o kosen-rufu, um dia essas
sementes florescerão sem falta — ou melhor, nossa decisão deve ser a de
garantir que isso aconteça. Devemos orar fervorosamente e aguardar com
paciência o momento certo, além de nos esforçar para que esse dia chegue.
Como afirma Nichiren Daishonin: “Poderia haver alguma dúvida de que a
grande Lei pura do Sutra do Lótus será amplamente propagada no Japão e
nas demais nações de Jambudvipa [o mundo inteiro]?” (CEND, v. I, p. 574).

NRH, cap. “Justiça”, v. 27, p. 89-91


A missão da Soka Gakkai é o kosen-rufu mundial, ou seja, concretizar a paz
perene e a felicidade da humanidade, incutindo no coração das pessoas os
princípios do Budismo de Nichiren Daishonin, que compõem a essência do
Sutra do Lótus e um grandioso ensinamento de iluminação universal.

Nichiren Daishonin bradou: “Eu, Nichiren, ciente da época em que vivemos,


desejo agora propagar amplamente essa doutrina [das três grandes leis
secretas]” (WND, v. II, p. 988) e “Em vista da exatidão dessas profecias,
poderia haver alguma dúvida de que a grande Lei pura do Sutra do Lótus
[Nam-myoho-renge-kyo] será amplamente propagada no Japão e nas demais
nações de Jambudvipa [o mundo inteiro]?” (CEND, v. I, 574).

Daishonin se lançou à propagação da Lei Mística para aliviar o sofrimento


das pessoas dos Últimos Dias da Lei e firmou o juramento de assegurar que
se estendesse para todo o Jambudvipa, isto é, o mundo inteiro. A Soka
Gakkai, uma organização religiosa humanística dedicada à felicidade da
humanidade, surgiu para cumprir esse significativo juramento do Buda.

Nikko Shonin, discípulo direto e sucessor que manteve o ensinamento e as


doutrinas de Nichiren Daishonin, redigiu um documento conhecido como
Vinte e Seis Artigos de Advertência: “Enquanto o kosen-rufunão for realizado,
devem empregar toda a força para a propagação, sem poupar sua vida” (GZ,
p. 1618).

A Soka Gakkai hasteia a bandeira desse ensinamento do budismo, a


bandeira da justiça, em total conformidade com essa advertência. O
presidente fundador da organização, Tsunesaburo Makiguchi, lutou contra a
perseguição das autoridades militaristas japonesas durante a Segunda
Guerra Mundial e morreu na prisão; sua vida é o exemplo mais perfeito da
dedicação abnegada à propagação da Lei. Seu discípulo e sucessor,
segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, também passou quase dois
anos na prisão por suas convicções, e durante o encarceramento obteve a
profunda percepção de que era um bodisatva da terra. O Sr. Toda sobreviveu
à provação do cárcere e, dando continuidade ao espírito do seu mestre,
levantou-se só e empreendeu a luta em prol do kosen-rufu.
Nós, da Soka Gakkai, nos reunimos sob a bandeira da verdade e da justiça.
Surgimos neste mundo com a missão de bodisatva da terra — realizar o
kosen-rufu! Empenhando-nos pela nossa própria felicidade e também pela
felicidade dos outros, compartilharemos com muita paixão a grande filosofia
do Budismo Nichiren com aqueles que nos cercam. Nós nos ergueremos
vigorosamente das profundezas do sofrimento e desespero, interpretando
histórias inspiradoras de revitalização pessoal e comprovando o
maravilhoso benefício da fé na Lei Mística. Cultivaremos também força
interior invencível e riqueza de coração, lapidaremos nosso caráter e
viveremos com transbordante alegria.

Finalmente chegou uma nova era do kosen-rufu mundial.

O mundo não se refere a um local distante. O local que estamos neste


instante — nosso lar, trabalho, comunidade — é o magnífico palco onde
desempenhamos nossa missão, esses locais são o núcleo do kosen-
rufumundial.

Vamos atuar com o sol do “tempo sem início” brilhando em nosso coração.

NRH, cap. “Grande Montanha”, v. 30-I, p. 9-10

Nichiren Daishonin bradou: “Meu desejo é que todos os meus discípulos


façam um grande juramento” (CEND, v. II, p. 269) e “O grande desejo se
refere à propagação do Sutra do Lótus” (OTT, p. 82). Então, previu: “...poderia
haver alguma dúvida de que a grande Lei pura do Sutra do Lótus será
amplamente propagada no Japão e nas demais nações de Jambudvipa...?”
(CEND, v. I, p. 574). Jambudvipa corresponde ao mundo inteiro.

Nossos companheiros Soka avançam rápido e com grande ímpeto rumo à


concretização do kosen-rufumundial.

“Farei felizes todas as pessoas com quem tenho relação!” Familiares,


parentes, amigos, vizinhos, pessoas da comunidade local, do trabalho etc.
Os indivíduos se tornam seres humanos verdadeiros por meio dos laços
com outras pessoas com as quais crescem, se desenvolvem, estudam
juntos e se apoiam mutuamente.
Por isso, não existe somente a própria felicidade. É no sentimento de ser
feliz e tornar as demais pessoas felizes que se encontra a genuína
felicidade.

A propagação dos ensinamentos é a manifestação do coração que deseja a


felicidade do outro. Do diálogo dedicadamente a respeito do budismo com
uma pessoa do seu meio social, imbuído de seriedade e sinceridade, amplia-
se a rede da felicidade e abre-se o caminho da paz.

NRH, cap. “Juramento Seigan”, v. 30-II, p. 255-256

As pessoas não existem por causa da religião. É a religião que existe para as
pessoas. A religião existe para a felicidade das pessoas. Interpretar esse
princípio ao contrário leva tudo à insanidade. Apontando para o fato de que
aí se encontrava o erro fundamental do clero, e visualizando o futuro,
Shin’ichi Yamamoto afirmou:

— O Budismo de Nichiren Daishonin é o Budismo do Sol e a religião mundial


a iluminar toda a humanidade. O desenvolvimento da Soka Gakkai como
organização na qual os membros praticam este grandioso budismo deve ser,
sob todos aspectos, global e universal, sem se prender a uma estrutura
feudal estreita e fechada.

Nos escritos de Nichiren Daishonin consta: “Quando o sol nasce no lado


leste do céu, sua intensa luz ilumina todo o firmamento sobre o grande
continente meridional de Jambudvipa” (CEND, v. I, p. 178). O “grande
continente meridional de Jambudvipa” indica o mundo inteiro. O Budismo
Nichiren, o Budismo do Sol, tem o poder de dissipar as nuvens escuras de
todas as formas de sofrimento e de proporcionar o brilho da felicidade para
o mundo todo.

E ainda, com base nos comentários dos intelectuais e pensadores acerca da


problemática do clero enfrentada pela Soka Gakkai, Shin’ichi discorreu sobre
as condições necessárias de uma religião mundial:

1. Administração conduzida de forma aberta e democrática.


2. Rigorosa aderência aos fundamentos da fé, com garantia da liberdade de
expressão.

3. Igualitarismo que promove o respeito mútuo e a participação de todos os


adeptos.

4. Centralização na fé e não no ritual.

5. Liderança aberta embasada nas pessoas de grande valor e não na


hereditariedade.

6. Universalidade da doutrina e propagação apropriada à época.

Ele também compartilhou a orientação do presidente Josei Toda de que “a


Soka Gakkai deve permanecer diretamente ligada a Nichiren Daishonin por
meio do Gosho”. Enfatizou que a Soka Gakkai continua atuando sempre com
base no Gosho, de acordo com a ordem e o desejo de Daishonin, hasteando
o “Grande Desejo pela Concretização do Kosen-rufu, a Propagação
Benevolente da Grande Lei”.

Ele insistiu que não era necessária a presença de nenhum intermediário


entre nós e Daishonin. E, no contexto da Soka Gakkai, a missão dos líderes
era simplesmente de auxiliar cada pessoa a estabelecer uma ligação direta
com Daishonin.

Capítulo 3: Trechos do Diálogo sobre Religião


Humanística
DRH, cap. “O Retorno do Budismo para o Oeste: O Início da Jornada do
Budismo do Sol para o Eterno Futuro dos Últimos Dias da Lei, v. 3, p. 74-76

Pres. Ikeda: No Sutra do Lótus, Shakyamuni faz uma predição da “ampla


propagação [kosen-rufu] no último período de quinhentos anos” e a “ampla
propagação [kosen-rufu] por todo o Jambudvipa” (LSOC, cap. 23, p. 330), e
foi Nichiren Daishonin quem se empenhou incansavelmente para realizar
isso.

A predição feita sobre Daishonin não era outra senão o “retorno do budismo
para o oeste”, o que atualmente a Soka Gakkai está transformando em
realidade. Se a Soka Gakkai não tivesse surgido e propagado amplamente a
Lei Mística para o mundo, as palavras de Daishonin teriam sido
consideradas uma mentira.

O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, costumava dizer: “Este


budismo certamente será propagado para outras partes da Ásia. Se não for
assim, Nichiren Daishonin terá sido um grande mentiroso. Por favor, estejam
convictos de que o budismo se propagará infalivelmente”.

(...)

Pres. Ikeda: Pouco antes de falecer, meu mestre disse: “O mundo é o seu
palco. Vá e percorra o mundo!” Venho me dedicando de corpo e alma para
realizar seus anseios.

O presidente Toda nunca havia viajado para o exterior. No entanto, seus


olhos sempre estavam fixos nos demais países da Ásia e do mundo.
Especialmente em seus encontros com os jovens, ele falava com uma
paixão infatigável sobre o espírito essencial do budismo de compartilhar a
Lei com as pessoas de todos os lugares — em outras palavras, sobre o
kosen-rufu na Ásia e no mundo. Uma dessas ocasiões foi a reunião de
fundação da Divisão Masculina de Jovens.

(...)

Pres. Ikeda: Enfrentando uma chuva torrencial, aproximadamente 180


rapazes se reuniram no antigo prédio da Sede da Soka Gakkai em
Nishikanda, Tóquio. Na reunião, o presidente Toda explicou sobre a missão
dos jovens. Ele disse:
O kosen-rufu é a missão que eu devo realizar infalivelmente. Meus jovens
amigos, espero que cada um de vocês compreenda claramente a honrosa
posição que ocupa....

Os jovens estão sempre movendo a época; estão sempre criando uma nova
época. Meu único desejo é que vocês realizem infalivelmente esta grande e
nobre missão [do kosen-rufu].

Após declarar que o kosen-rufué a missão da Divisão dos Jovens, ele


começou a falar sobre o retorno do budismo para o oeste:

Nosso objetivo não se restringe a um único país — o Japão. Nichiren


Daishonin ordenou que propagássemos a grande Lei pura não somente para
a Coreia, a China e a distante Índia, mas para os lugares mais longínquos da
Terra. A razão disso é que os cinco ou sete ideogramas [da Lei Mística] que
Daishonin revelou incorporam a grande filosofia de vida que permeia e move
o próprio universo.

O presidente Toda clamou aos jovens para tornarem-se líderes de uma


religião mundial com uma força extraordinária para beneficiar a
humanidade.

Acredito que suas observações nessa ocasião revelam perfeitamente o


significado da predição de Daishonin do retorno do budismo para o oeste.
Esse desejo de transmitir a Lei Mística para as pessoas do mundo inteiro é o
próprio coração do Budismo Nichiren e a essência do espírito da Soka
Gakkai.

Notas:

1. O conceito de “animal” adotado para caracterizar esse estado provém da


Índia antiga. Na realidade, há exemplos claros de animais que vivem para o
bem-estar do ser humano, como os cães que guiam pessoas com
deficiência visual. Em contrapartida, há casos de seres humanos que agem
de forma mais selvagem que animais, como numa guerra. Portanto, a
expressão “mundo dos animais” foi empregada em um contexto de
pensamento da época para indicar uma condição de vida em que a pessoa
deixa de agir como um digno ser humano.

2. KRIPALANI, Krishna. Gandhi: A Life [Gandhi: Uma Vida]. Nova Délhi:


National Book Trust, 1968. p. 126.

3. NEHRU, Jawaharlal. Visit to America [Visita à América]. Nova York: The


John Day Company, 1950. p. 144.

4. “Dez mundos”: Classificação de diferentes condições de vida, que forma a


base da visão do budismo sobre a vida. São eles: (1) mundo do inferno; (2)
mundo dos espíritos famintos; (3) mundo dos animais; (4) mundo dos asura;
(5) mundo dos seres humanos; (6) mundo dos seres celestiais; (7) mundo
dos ouvintes da voz; (8) mundo dos que despertaram para a causa; (9)
mundo dos bodisatvas; e (10) mundo dos budas.

5. Seis órgãos dos sentidos: Também denominados seis órgãos sensoriais.


Olhos, orelhas, nariz, língua, pele e mente. O contato entre os seis órgãos e
seus seis correspondentes objetos originam as seis consciências — visão,
audição, olfato, paladar, tato e pensamento.

6. Os seis caminhos e os quatro nobres mundos: Os seis primeiros dos dez


mundos — mundo do inferno, mundo dos espíritos famintos, mundos dos
animais, mundo dos asura, mundo dos seres humanos e mundo dos seres
celestiais — são conhecidos como os “seis caminhos”. Os quatro restantes
— mundo dos ouvintes da voz, mundo dos que despertaram para a causa,
mundo dos bodisatvas e mundo dos budas — são conhecidos como os
“quatro nobres mundos”.

7. Grande Concentração e Discernimento: Uma das três principais obras de


Tiantai. Esclarece a doutrina dos “três mil mundos num único momento da
vida”, baseada no Sutra do Lótus, e elucida o método de meditação para
observar a mente e perceber esse princípio dentro de si.
8. Tiantai (538–597): Também conhecido como grande mestre Tiantai ou
Zhiyi, foi o fundador da escola Tiantai na China. Suas preleções foram
compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra do Lótus, Palavras
e Frases do Sutra do Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Na última
obra, um registro de preleções feitas por ele, Tiantai apresenta a doutrina
dos “três mil mundos num único momento da vida”.

9. Os cem mundos e os mil fatores são princípios componentes dos “três mil
mundos num único momento da vida”, um sistema filosófico estabelecido
por Tiantai com base no Sutra do Lótus. “Cem mundos” indicam a
“possessão mútua dos dez mundos” — o princípio de que cada um dos dez
mundos, do mundo do inferno ao mundo dos budas, possui dentro de si o
potencial para todos os dez, perfazendo, assim, cem mundos possíveis.
Cada um desses cem mundos, por sua vez, abarca os dez fatores —
aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, relação, efeito
latente, efeito manifesto e sua consistência do início ao fim — constituindo,
assim, “mil fatores”. Em contraste com os “três mil mundos num único
momento da vida”, que abrangem tudo no universo, tanto sensíveis como
insensíveis, os “cem mundos e mil fatores” referem-se somente aos seres
sensíveis, pois não incluem o domínio do ambiente ou o dos seres
insensíveis.

10. O Objeto de Devoção para Observar a Mente foi redigido por Nichiren
Daishonin no quarto mês de 1273, enquanto estava exilado na Ilha de Sado.
Nesse escrito, ele esclarece que o Nam-myoho-renge-kyo é a Lei
fundamental para se atingir o estado de buda nos Últimos Dias da Lei.

11. O mundo saha é este mundo repleto de sofrimentos. Traduzido muitas


vezes como o “mundo da paciência”. Em sânscrito, saha indica a terra;
deriva-se do radical “suportar” ou “aguentar”. Por essa razão, nas versões
chinesas das escrituras budistas, saha é interpretado como “paciência”.
Nesse contexto, mundo saha denota um mundo onde as pessoas precisam
suportar pacientemente os sofrimentos.

12. “Possessão mútua dos dez mundos”: Princípio que expõe que cada um
dos dez mundos contém o potencial de todos os dez. “Possessão mútua”
significa que a vida não se fixa a um ou a outro dos dez mundos, mas pode
manifestar qualquer um dos dez — do mundo do inferno ao mundo dos
budas — a qualquer momento. O ponto importante desse princípio reside no
fato de que todos os seres, em qualquer um dos nove mundos, possuem a
natureza de buda. Depreende-se disso que as pessoas abrigam o potencial
para manifestar o estado de buda, e o Buda também possui os nove mundos
e, nesse sentido, não é separado ou diferente dos mortais comuns.

13. WHITMAN, Walt. By Blue Ontario’s Shore [Às Margens do Ontário Azul]. In:
Leaves of Grass [Folhas de Relva]. Nova York: J. M. Dent and Sons, 1968. p.
294.

14. Rei Yao e rei Shun: Também conhecidos como imperador Yao e
imperador Shun. Dois dos cinco imperadores, sábios governantes lendários
da China antiga, altamente respeitados pelo povo por sua liderança
exemplar. O imperador Yao abdicou ao trono em benefício de Shun, um
pobre camponês antes chamado Chonghua, que se extremava em devoção
filial. O imperador Shun, por sua vez, abdicou ao trono em benefício de Yu,
notável engenheiro que obteve êxito em proteger o país da inundação e
demonstrou grande devoção filial em relação ao pai.

15. O bodisatva Jamais Desprezar é descrito no capítulo 20, “Jamais


Desprezar”, do Sutra do Lótus. Esse bodisatva — Shakyamuni numa
existência anterior — curvava-se em reverência a todos com quem se
encontrava, reconhecendo a natureza de buda inata deles.

16. “Nove mundos”: Nove dos “dez mundos”; os outros mundos além do
mundo dos budas, ou estado de buda. Os nove mundos contrapõem-se ao
mundo dos budas para indicar o domínio da ilusão e impermanência.

17. Isso se refere ao Buda eterno que despertou para a Lei suprema,
incorpora essa Lei e emprega livremente seus benefícios. “Tempo sem
início” não indica um ponto específico no distante passado, mas a
eternidade.

18. Myoho-renge-kyo é escrito com cinco ideogramas chineses, ao passo


que Nam-myoho-renge-kyo é escrito com sete (nam, ou namu, é composto
por dois ideogramas). Nichiren Daishonin, porém, muitas vezes emprega
Myoho-renge-kyo como sinônimo de Nam-myoho-renge-kyo em seus
escritos.

19. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Explanações sobre “O Objeto de


Devoção para Observar a Mente”. In: Toda Josei Zenshu [Obras Completas de
Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 7, p. 192, 1987.

20. Ibidem.

21. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas
de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 4, p. 333, 1989.

22. Ibidem, p. 339.

23. Essa frase consta na estrofe do capítulo 16, “A Extensão da Vida”, do


Sutra do Lótus, que recitamos durante o gongyo (Jō jū shi sep-pō). O fato de
o Buda estar sempre aqui pregando a Lei demonstra que o mundo saha
repleto de sofrimentos é a própria Terra da Luz Eternamente Tranquila.

24. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas
de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 430, 1991.

25. Ibidem, p. 431.

26. Ibidem, p. 483.

27. Traduzido do japonês. NICHIKAN. Kanjin no Honzon-sho Mondan


[Comentário sobre “O Objeto de Devoção para Observar a Mente”]. In:
Nichikan Shonin Mondan-shu [Os Comentários de Nichikan Shonin]. Tóquio:
Seikyo Shimbunsha, 1980. p. 548.

Você também pode gostar