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Jennifer Tavares Jacon Freitas

Métodos de avaliação do impacto do polimorfismo na qualidade físico-química de fármacos


e medicamentos

Trabalho apresentado
como requisito para o
Exame de Qualificação
Geral do Programa de Pós
Graduação em Ciências
Farmacêuticas da
Universidade Federal de
Alfenas-MG

Alfenas - Minas Gerais


2016
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

API Active Pharmaceutical Ingredient - Insumo Farmacêutico Ativo


FDA Food and Drug Administration
ICH International Conference on Harmonisation
SXRD Single X-ray Diffraction – Difração de raios X por monocristal
PXRD Powder X-ray Diffraction – Difração de raios X por policristais
DSC Differential Scanning Calorimetry – Calorimetria Exploratória Diferencial
TG Thermogravimetry - Termogravimetria
DTA Differential thermal analysis – Análise Térmica Diferencial
SSNMR Solid State Nuclear Magnetic Resonance Spectroscopy – Ressonância
Magnética Nuclear do estado sólido
SEM Scanning Electron Microscopy – Microscopia Eletrônica de Varredura
HSM Hot State Microscopy- Microscopia com aquecimento
Fourier Transform Infrared Spectroscopy – Espectroscopia na região do
FT-IR
Infravermelho com Transformada de Fourier
Infrared Spectroscopy -Attenuated Total Reflection Mode –
IR-ATR
Espectroscopia Infravermelho com Reflectância Total Atenuada
UV-Vis Absorption Spectroscopy – Espectroscopia na região do
UV
Ultravioleta-Visível
Biopharmaceutics Classification System - Sistema de Classificação
BCS Biofarmacêutica

HPLC High Performance Liquid Chromatography – Cromatografia Líquida de


Alta Eficiência
GC Gas Chromatography – Cromatografia Gasosa

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1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O polimorfismo em fármacos pode ser definido como a capacidade de um composto sólido


apresentar-se em duas ou mais formas cristalinas (HALEBLIAN; MCCRONE, 1969; BYRN, 1995;
DESIRAJU, 2008). Os polimorfos têm diferentes arranjos e/ou conformações das moléculas na
estrutura de cristal (LEE; ERDEMIR; MYERSON, 2011; ATICI, KARLIGA, 2015). Os polimorfos de
ingredientes farmacêuticos ativos (do inglês: Active Pharmaceutical Ingredients (APIs)) devem ser
abordados como sólidos monocomponente (quando constituído por uma única molécula) e
multicomponente (quando constituído por mais de um componente) (AITIPAMULA et al., 2012).
Se a variação da estrutura cristalina de uma forma for devido à inclusão de uma ou mais
moléculas de solvente, o termo para designar tal fenômeno é solvato. Se o solvente incorporado é
a água, este é denominado hidrato. O termo amorfo designa um sólido que não tem estrutura
cristalina definida por não possuir periodicidade do seu arranjo cristalino a longo alcance
(HILKIFER, 2006; BRITTAIN, 2009). E co-cristais são sólidos farmacêuticos definidos como
cristais moleculares multicomponentes, em que pelo menos um dos componentes é o API (BOND,
2007; SCHULTHEISS; NEWMAN, 2009; MIROSHNYK; MIRZA; SANDLER, 2009). Os sais se
diferenciam dos co-cristais por serem cristais formados por multicomponentes iônicos (MOHAMED
et al., 2009). Portanto, podem existir polimorfos de APIs anidros, polimorfos de hidratos e/ou
solvatos, polimorfos de sais ou de cocristais.
Segundo estudo de Stahly (2007) cerca de 80-90% dos compostos orgânicos podem existir
em várias formas cristalinas (polimorfos, hidratos, solvatos), e mais da metade dos APIs presentes
em medicamentos na forma farmacêutica sólida (como por exemplo: comprimidos e cápsulas)
podem apresentar polimorfismo (CHAWLA; BANSAL, 2004; KARPINSKI, 2006; STAHLY, 2007;
SANTOS et al., 2014a).
O polimorfismo e seus diferentes efeitos nos fármacos sólidos são explicados pelas
diferentes ligações intermoleculares existentes. Essas ligações de natureza não covalente, tais
como ligações de hidrogênio, van der Waals, ligações π-π e interações eletrostáticas determinam
o arranjo das moléculas em um cristal (DESIRAJU; STEINER, 2001; MOULTON; ZAWOROTKO,
2001; PUROHIT; VENUGOPALAN, 2009; DEY et al., 2016).
As propriedades que podem se alterar com o polimorfismo de fármacos são:
compressibilidade, dureza, fluxo de pó, condutividade, densidade, higroscopicidade, índice de
refração, cor, morfologia de partículas, entalpia e entropia, capacidade calorífica, temperaturas de
fusão e ebulição, pressão de vapor, estabilidade, solubilidade, taxa de dissolução entre outros
(LEE; ERDEMIR; MYERSON, 2011; SUZUKI; TERADA, 2012; EDDLETON et al., 2013; LEE,
2014; TICEHURST; MARZIANO, 2015; CENSI; DI MARTINO, 2015). Estas propriedades podem
ter um efeito direto sobre a fabricação do fármaco ou no processamento do medicamento, bem
como sobre a estabilidade, dissolução e biodisponibilidade do produto farmacêutico. Assim, o

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polimorfismo pode afetar a qualidade, segurança e eficácia do medicamento (FDA, 2007; LIN,
2014; SANTOS et al, 2014a; SANTOS et al, 2014b; CENSI; DI MARTINO, 2015; QIU et al., 2015).
A possibilidade de estudo do polimorfismo de fármacos pode ser visto em dois sentidos:
como um risco de falha clínica quando ocorre uma conversão indesejada no estado cristalino, ou
como uma vantagem quando polimorfos mais solúveis podem ser selecionados para superar os
problemas de biodisponibilidade. Assim, a indústria farmacêutica deve apreciar cuidadosamente a
presença do fenômeno do polimorfismo para cada fármaco sob desenvolvimento. Portanto, a
investigação de polimorfismo em fármacos de dosagem sólida bem como o acompanhamento
adequado das formas cristalinas no estado sólido, tanto qualitativa e quantitativa, vem se tornando
práticas comuns em rotinas de controle de qualidade industrial (CHIENG; RADES; AALTONEN,
2011; LIN, 2014; THIRUVENGADAM; VELLAISAMY, 2014; LEE, 2014; ATICI; KARLIGA, 2015;
CENSI; DI MARTINO, 2015; QIU et al., 2015).
Nos últimos anos, os órgãos reguladores, como o Food and Drug Administration (FDA) e
International Conference on Harmonization (ICH) têm pressionado a indústria farmacêutica a
adotar metodologias e técnicas analíticas inovadoras as quais devem fornecer uma melhor
compreensão do fenômeno do polimorfismo para cada fármaco em desenvolvimento, como ativar
a qualidade dos serviços de controle para avaliar adequadamente o estado sólido de lotes
produzidos do medicamento e prever conversões não desejadas durante a vida de prateleira do
medicamento (QIU et al, 2015).
Segundo FDA, ICH Q8 define a qualidade como "A adequabilidade de qualquer substância
de um fármaco ou medicamento para o uso pretendido. Esse termo inclui atributos como a
identidade, força e pureza." Segundo Decreto nº 79.094 de 1977 da Agência de Vigilância
Sanitária (ANVISA), controle de qualidade é o conjunto de medidas destinadas a verificar a
qualidade de cada lote de medicamentos e substâncias relacionadas para que satisfaçam às
normas de atividade, pureza, eficácia e inocuidade (BRASIL, 1977).
A avaliação do impacto do polimorfismo na qualidade físico-química de fármacos e
medicamentos pode ser obtida por vários métodos ou por associação deles, a escolha do método
ou conjunto de métodos depende da propriedade intrínseca do fármaco e seus polimorfos no
estado sólido. Entretanto, antes de se avaliar o impacto na qualidade de fármacos e
medicamentos é necessário realizar a caracterização da forma cristalina que pode ser realizada
por vários métodos como: difração de raios X por policristais, IR, Raman, DSC, TG, DTA, NMR
entre outros.
A difração de raios X fornece acesso à estrutura tridimensional de uma molécula, pois a
faixa de comprimentos de onda desta radiação está na mesma dimensão dos comprimentos das
ligações químicas, isto é, em angstrons (Å) (HASEGAWA, 2012).
Para análise de difração de raios X por pó (DRXP), a amostra deve ser policristalina. O
padrão de difração gerado deve obedecer a Lei de Bragg (nλ= 2d senθ), onde λ é o

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comprimento de onda da radiação de raios X, e d é o espaço interplanar que reflete as
dimensões da cela unitária. Assim, esta técnica permite a identificação de polimorfos de um
mesmo API pois estes podem adotar diferentes conformações ou padrões de empacotamento
dentro da rede cristalina.
A grande vantagem da difração de raios X é que são técnicas não destrutivas de amostra e
geram informações geométricas precisas ao nível intra e intermoleculares.
A espectroscopia de infravermelho tem seus fundamentos baseados em efeitos de
absorção da radiação. A espectroscopia Raman é governada por processos de espalhamento de
luz pela matéria. E a espectroscopia na região do ultravioleta ou visível está relacionada com as
transições eletrônicas (RODRIGUES; GALZERANI, 2012).
A região do espectro vibracional de infravermelho mais utilizada é o médio (400 a 4000
cm-1) pois os modos vibracionais desta porção representam a impressão digital do espectro
vibracional da molécula em estudo (AYALA; SIESLER; CUFFINI, 2008).
Diferentes grupos funcionais normalmente apresentam frequências de absorção bastantes
características (grupo de frequências) e, assim, o espectro é obtido de acordo com os grupos
funcionais presentes na amostra (PAJANDER et al., 2013). Além da identificação de grupos
funcionais, a técnica também é sensível a ligações intermoleculares fortes (ligação de hidrogênio)
desde que apresentem efeito nas vibrações intramoleculares (AALTONEN et al., 2009). Com isso,
é uma técnica bastante utilizada na diferenciação e no monitoramento de transição de fase de
alguns polimorfos.
As principais vantagens do dispositivo de Reflectância Total Atenuada (ATR) aclopado ao
infravermelho são que as amostras não necessitam de nenhum preparo inicial; é um método não
destrutivo, e, como não é utilizada nenhuma pressão sob a amostra, diferentemente da produção
das pastilhas, é preferido em análises de sistemas polimórficos, pois a aplicação de pressão pode
alterar a fase cristalina presente (CHIENG, RADES; AALTONEN, 2011; BONFILIO e al., 2014).
A espectroscopia Raman está baseada no efeito de espalhamento da luz pela matéria. O
interessante é que a diferença de energia entre a radiação incidente e a espalhada corresponde à
energia com que átomos presentes na área estudada estão vibrando e essa frequência de
vibração permite descobrir como os átomos estão ligados, ter informação sobre a geometria
molecular, sobre como as espécies químicas presentes interagem entre si e com o ambiente. É
por esse motivo que essa ferramenta é tão poderosa, permitindo a diferenciação de polimorfos (LI;
CHOW; TAN, 2011). Ela é feita sem necessidade de preparações ou manipulações de qualquer
natureza, como pulverização ou moagem e não sofre influência da presença de água (LÁNG et
al., 2013).
A espectroscopia pulsada (TPS) ou espectroscopia no domínio do tempo terahertz (THz-
TDS) é outra técnica espectroscópica vibracional que pode ser utilizada para caracterização de
polimorfos (TADAY et al., 2003). Ao contrário das espectroscópicas acima mencionados a TPS é

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uma técnica no nível de partículas. TPS pode ser particularmente útil na investigação de amostras
com pequenas diferenças estruturais que podem ser difíceis de detectar com outras técnicas
analíticas do estado sólido (TADAY et al., 2003; ZEITLE et al., 2007).
A Ressonância Magnética Nuclear (NMR) é uma técnica analítica que permite obter
informação estrutural e dinâmica sobre a matéria, e que se baseia na detecção das propriedades
magnéticas dos núcleos. Os deslocamentos químicos no espectro de NMR são muito sensíveis à
estrutura e conformação da molécula, às interações intermoleculares, à troca química, mudanças
de conformação e os tempos de relaxação são sensíveis à dinâmica molecular. Por estes motivos,
Ressonância Magnética Nuclear do estado sólido ssNMR é uma espectroscopia muito útil ao
estudo de polimorfos (CHIENG, RADES; AALTONEN, 2011; THIRUVENGADAM; VELLAISAMY,
2014; LEE, 2014). A técnica requer pouca preparação da amostra com análise não destrutiva e
também boa seletividade. A desvantagem desta técnica é que o tempo de medição é bastante
longo (SPERGER; MUNSON, 2010; LEE, 2014).
Análises térmicas são definidas como um grupo de métodos pelos quais as propriedades
físicas ou químicas de uma substância, uma mistura e / ou um reativo são medidas como funções
de temperatura ou tempo, enquanto a amostra está sujeita a um programa de temperatura
controlada. O programa pode consistir em aquecer ou resfriar (dinâmico), ou manter a
temperatura constante (isotérmica), ou qualquer sequencia destes (ARAÚJO et al., 2003). Os
métodos térmicos são técnicas multicomponentes e incluem Termogravimetria, Análise Térmica
Diferencial e Calorimetria Exploratória Diferencial. Estes métodos são de grande utilidade para o
controle da qualidade principalmente para identificar a faixa de fusão de diferentes formas
cristalinas, transição de fase entre polimorfos induzidas por aquecimento e ter acesso a qualquer
perda de massa durante o aquecimento (LI; CHOW; TAN, 2011; LÁNG et al., 2013; LIN et al.,
2014).
A técnica de DSC mede a perda ou ganho de calor resultante das alterações físicas ou
químicas dentro de uma amostra (THIRUVENGADAM; VELLAISAMY, 2014). A técnica envolve a
aplicação de aquecimento ou resfriamento para uma amostra e uma referência. Quando a
amostra sofre um evento térmico, a diferença em um fluxo de aquecimento para uma amostra e
para uma referência é monitorada contra o tempo ou temperatura, enquanto a temperatura é
programada em uma atmosfera especificada. As propriedades físico-químicas como a
temperatura de transição (isto é, para determinar as relações entre os polimorfos monotrópicos/
enantiotrópicos) ou temperatura de fusão pode ser facilmente observado como um evento
endotérmico/ exotérmica nas curvas de DSC (HILKIFER, 2006).
Já a TG é uma técnica de análises térmicas na qual a mudança na massa da amostra é
determinada como uma função da temperatura e/ou tempo enquanto a amostra é submetida a um
programa de temperatura controlada (ARAÚJO et al., 2003; THIRUVENGADAM; VELLAISAMY,
2014). A Análise Térmica Diferencial (DTA) monitoriza a diferença de temperatura existente entre

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uma amostra e uma referência, em função da temperatura (THIRUVENGADAM; VELLAISAMY,
2014).
A observação visual usando Microscopia de luz (com ou sem polarizadores) também é
demonstrada ser uma ferramenta útil na identificação de várias formas de estado sólido, desde
que haja diferenças distintivas em morfologia ou hábito cristalino entre os polimorfos (CHIENG,
RADES; AALTONEN, 2011; THIRUVENGADAM; VELLAISAMY, 2014; ATICI, KARLIGA, 2015).
Como diferentes polimorfos podem apresentar diferentes energias de rede (e entropia),
propriedades como solubilidade e taxas de dissolução podem se alterar podendo causar grande
impacto na absorção do API na sua forma farmacêutica (SAIFEE et al., 2009; CENSI; DI
MARTINO, 2015).
A seguir são descritos alguns dos métodos de avaliação do impacto na qualidade como
solubilidade, dissolução intrínseca e perfil de dissolução.
A solubilidade é uma propriedade essencial de medicamentos, porque eles têm que se
dissolver, a fim de serem absorvidos através das membranas e alcançar o local de ação. Por
conseguinte, a solubilidade é um dos mais críticos e importantes parâmetros que influenciam a
biodisponibilidade do fármaco, isto é, a capacidade de um fármaco para estar disponível numa
concentração apropriada no local de ação, independentemente da forma de dosagem
farmacêutica e via de administração (CENSI; DI MARTINO, 2015). A importância do parâmetro de
solubilidade é confirmado no Sistema de classificação biofarmacêutica (BCS) (FDA, 2000;
BENET, 2013; KHADKA et al., 2014). A BCS leva em conta três fatores principais que governam a
taxa e extensão da absorção do fármaco a partir de formas de dosagem sólidas orais de
libertação imediata: (1) dissolução; (2) solubilidade; e (3) a permeabilidade intestinal.
Geralmente, a solubilidade de polimorfos metaestáveis é cineticamente mais elevada do
que a de um polimorfo termodinamicamente mais estável (HILFIKER, R.; BLATTER, F.; VON
RAUMER, 2006) esta propriedade poderia ser uma solução para os problemas de
biodisponibilidade dos fármacos desde que assegurado a integridade das propriedades físico-
químicas do polimorfo escolhido como também um problema se o polimorfo administrado for uma
forma diferente do que foi previamente preconizado para exercer o efeito terapêutico desejado
(KHADKA et al., 2014). Dessa forma, o estudo de solubilidade de polimorfos em diferentes meios
que simulam o local de absorção dos fármacos pH 1 a 7,5 podem ser uma saída para desenvolver
ou controlar a forma que deve estar presente nas formulações sólidas.
Enquanto a solubilidade é um parâmetro estático, que se refere ao equilíbrio
termodinâmico, a taxa de dissolução é um conceito dinâmico, representando a quantidade do
fármaco que dissolve-se por unidade de tempo (SHARGEL; YU, 2007). Assim, a determinação da
velocidade de dissolução (especialmente em relação ao procedimento de dissolução intrínseca)
permite uma melhor correlação in vivo uma vez que permite a previsão de potenciais problemas
de biodisponibilidade (UNITED STATES PHARMACOPEIA, 2015).

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O teste de dissolução intrínseca pode ser definido como a taxa de dissolução de um API
puro sob condições constantes de área de superfície, velocidade de rotação, pH e força iônica do
meio de dissolução (UNITED STATES PHARMACOPEIA, 2015; ZAKERI-MILANI, BARZEGAR-
JALALI; AZIMI; VALIZADEH, 2009; RIEKES et al., 2015). Este ensaio se aplica a polimorfos, pois
está relacionado à determinação dos parâmetros termodinâmicos associados com diferentes
fases cristalinas e suas transformações de fase quando em solução (ZHOU et al., 2014; RIEKES et
al., 2015).
O teste de dissolução é o mais completo para comparação de formas farmacêuticas
sólidas, pois avalia a liberação do API de sua forma farmacêutica, isto é, na presença de
excipientes. A dissolução pode ser definida como a transferência de moléculas ou íons de um
estado sólido para a solução. Os APIs sólidos precisam ser dissolvidos para que possam ser
absorvidos. Uma vez que o API tenha passado com êxito para o estado de solução, encontra-se
disponível para ser absorvido (AULTON, 2005).
Devido à natureza crítica da liberação da forma farmacêutica e da dissolução, a dissolução
in vitro pode ser relevante para prever o desempenho in vivo. Com base nestas considerações, os
ensaios de dissolução in vitro para formas farmacêuticas sólidas orais de liberação imediata, tais
como comprimidos e cápsulas, são utilizados para garantir a qualidade lote-a-lote, orientar o
desenvolvimento de novas formulações e assegurar a uniformidade da qualidade e do
desempenho do medicamento após determinadas alterações (BRASIL, 2003).
Condições de estocagem dos medicamentos (temperatura e umidade) e o método
analítico para quantificação também podem influenciar na avaliação do polimorfismo em formas
farmacêuticas de dosagem sólida (BONFILIO et al., 2014; LIN, 2014, SANTOS et al., 2016).
Portanto, para que o ensaio seja eficiente em diferenciar polimorfos deve possuir poder
discriminatório entre elas, isto é, o meio e as condições do ensaio devem garantir que pequenas
alterações no perfil possam ser facilmente observadas (SWANEPOEL; LIEBENBERG; DE
VILLIERS, 2003).

2. ANÁLISE CRÍTICA

A maioria dos medicamentos na forma sólida apresenta polimorfismo. Segundo um


levantamento realizado por mim e colaboradores em 2012 (SANTOS, et al., 2014a) 70% dos
medicamentos distribuídos na Farmácia Popular Rede Própria era na forma de dosagem sólida,
destes medicamentos 65% apresentavam dois polimorfos ou mais descritos na literatura. Portanto
podemos compreender quão importante é obter ferramentas diversificadas na análise qualitativa e
quantitativa de polimorfos que podem estar presentes tanto nos APIs quanto nos produtos

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farmacêuticos. E dessa maneira, podemos monitorar e controlar este fenômeno a fim de evitar
anomalias nos medicamentos dispensados à população, assegurando a sua eficácia terapêutica.
Se o fenômeno do polimorfismo nas formas sólidas não é bem compreendido e estudado,
as consequências podem ser graves. Além de gerar falhas na eficácia terapêutica do
medicamento quando este já foi lançado no mercado pode também acarretar custos financeiros
para a empresa fabricante. Um exemplo bastante conhecido do impacto do polimorfismo na
indústria farmacêutica é o caso do Norvir® (ritonavir) que é usado para o controle da Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida. Durante o desenvolvimento de Norvir®, apenas um polimorfo foi
identificado. Dois anos após seu lançamento no mercado, vários lotes não passaram no teste de
dissolução usado no controle de qualidade, devido ao aparecimento de um novo polimorfo
(denotado forma II) que se formou durante o processo de fabricação. Este novo polimorfo era mais
estável e muito pouco solúvel (CHEMBURKAR et al., 2000; BAUER et al., 2001). Assim, o
medicamento foi retirado do mercado até que a empresa conseguisse controlar a fabricação da
forma desejada (polimorfo I) (LEE; ERDEMIR; MYERSON, 2011).
Dez anos mais tarde, a rotigotina, um API usado em adesivos transdérmicos para tratar da
doença de Parkinson (GOLDBEK; PIDCOK; GROOM, 2011), sofreu a mesma repercussão que o
ritonavir: a rotigotina (Neupro®) foi removido do mercado devido ao aparecimento de um polimorfo
cristalino mais estável e menos solúvel do que o utilizado na formulação o qual não estava sendo
absorvido pela pele (GOLDBEK; PIDCOK; GROOM, 2011;. FDA, 2008; RIETVELD; RENÉ, 2015).
Rietveld e René (2015) utilizaram de dados publicados em patentes após o caso do novo
polimorfo da rotigotina para estabelecer o diagrama de fases de pressão-temperatura das duas
formas sólidas conhecidas e então concluírem que a forma II era a fase sólida estável e a forma I
era a forma metastável. Assim, o medicamento de rotigotina teve que ser reformulado
(RIETVELD; RENÉ, 2015).
Mebendazol um fármaco antiparasitário apresenta três polimorfos A, B e C, os quais
apresentam distintas propriedades físico-químicas e biofarmacêuticas. O polimorfo B é o mais
solúvel, porém estudo de Costa et al. (1991) demonstrou que o polimorfo B deve ser evitado até
que uma estratégia para assegurar a dosagem correta do fármaco no organismo possa ser
desenvolvida permitindo que ele exerça o efeito desejado sem nenhum efeito tóxico (COSTA et
al., 1991). O polimorfo C é uma forma metaestável sendo a forma farmacêutica preferida devido à
sua adequada solubilidade em água (RODRIGUEZ-CAABEIRO et al., 1987; CHAROENLARP et
al., 1993) e o polimorfo A é a forma mais estável, menos solúvel e não apresenta eficácia
terapêutica (RODRIGUEZ-CAABEIRO et al., 1987). Com respeito à estabilidade, a presença de
pequenas quantidades do polimorfo A em comprimidos resulta em um aumento rápido de
transformação em outras formas. Portanto, a eficácia de mebendazol é altamente dependente do
polimorfismo (MARTINS et al.,2009).

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Em 2005, uma análise das matérias-primas e medicamentos contendo mebendazol no
mercado brasileiro revelou os seguintes resultados alarmantes: a forma C (recomendada) não foi
encontrado em nenhuma matéria prima analisada, incluindo o padrão de referência USP. A partir
dos 10 medicamentos analisados, cinco continham o polimorfo A, três continham o polimorfo C, e
dois continham uma mistura dos polimorfos B e C, com B sendo o polimorfo marjoritário. No
medicamento referência de mebendazol também não foi detectado o polimorfo C. Este também
continha diferentes polimorfos em diferentes lotes (FROEHLICH; GASPAROTTO, 2005).
Como método de fiscalização e controle dos pesquisadores para com as indústrias
farmacêuticas, estudo parecido foi aplicado para comprimidos genéricos de mebendazol por
Honorato e colaboradores (2012). Neste trabalho amostras com concentrações que variaram de 0
a 100% da forma C foram submetidos a testes de dissolução, utilizando dois meios, o
farmacopeico de HCl 0,1M com 1% de lauril sulfato de sódio(LSS) e um meio modificado (HCl
0,1M). Os resultados confirmaram que o teste de dissolução fixado por várias farmacopeias não
foi capaz de distinguir o carácter polimórfico de mebendazol em comprimidos comerciais. Assim, a
falta de especificações de controle de qualidade confiável principalmente nos medicamentos
genéricos, poderiam levar à utilização de misturas polimórficas, segundo o qual, os efeitos
terapêuticos ainda não são bem compreendidos. Os autores deste trabalho desenvolveram um
meio de dissolução modificado que foi capaz de discriminar os diferentes polimorfos em
comprimidos comerciais de mebendazol (HONORATO et al., 2012).
Estudo mais recente de Garbuio e colaboradores (2014), verificaram que os dados obtidos
nos testes de dissolução e de solubilidade mostraram que a forma A é menos solúvel do que a
forma B que é menos solúvel que a forma de C, quando se utilizou o meio de dissolução sem
surfactante (HCl 0,1M). Reiteraram também que em alguns comprimidos de mebendazol continha
uma mistura de polimorfos A e C, e que as matérias-primas também apresentaram as duas
formas (GARBUIO et al., 2014).
Além dos ensaios de solubilidade e perfil de dissolução, outros métodos também foram
utilizados com êxito na avaliação de polimorfos de mebendazol presentes em matérias-primas e
comprimidos. Como as técnicas de FTIR, DSC, e XRPD (HONORATO et al., 2012; GARBUIO et
al., 2014) e também por espectroscopias Raman, MIR e NIR (AYALA; SIESLER; CUFFINI, 2008).
Entre os métodos de caracterização, verificou-se que as espectroscopias Raman e na região do
infravermelho permitiram a detecção mais rápida e seletiva, de mais do que um polimorfo nas
misturas de formas de mebendazol nas amostras de matérias-primas e comprimidos, devido a
presença de bandas características dos grupos funcionais de cada polimorfo (AYALA; SIESLER;
CUFFINI, 2008; GARBUIO et al., 2014).
Os trabalhos envolvendo o mebendazol evidenciam que muita atenção deve ser dirigida
para os métodos de controle de qualidade que são capazes de discriminar polimorfos e
principalmente detectar a forma presente na medicação a fim de assegurar se é realmente a

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forma recomendada. A este respeito, as técnicas de caracterização tem apresentado grande
utilidade.
A carbamazepina é um fármaco de baixa solubilidade e é utilizado no tratamento da
epilepsia. No trabalho de Sehic e colaboradores (2010) são relatados pelo menos quatro
polimorfos anidros da molécula e uma forma di-hidrato. É conhecido que os polimorfos da
carbamazepina têm diferentes estruturas cristalinas e apresentam diferentes pontos de fusão,
reatividade química, solubilidade e compactabilidade. Estas propriedades podem contribuir para
as diferenças na sua biodisponibilidade (MURPHY et al, 2002;. ONO et al., 2002). A forma anidra
III é a forma termodinamicamente estável à temperatura ambiente e é a forma utilizada na
fabricação dos medicamentos. Por outro lado, a forma diidratada é a forma mais estável em
solução aquosa. Sehic e colaboradores (2010) avaliaram lotes comerciais de carbamazepina por
vários métodos como PXRD, SEM, DSC e solubilidade. Um dos resultados mais importantes está
relacionado à transformação da forma III anidra à forma diidratada de carbamazepina durante o
processo de dissolução intrínseca e dissolução de comprimidos genéricos em meio aquoso. A
cinética desta transformação foi um ponto crítico para a biodisponibilidade porque resulta numa
redução de dissolução e biodisponibilidade podendo levar a falhas clínicas. Portanto eles
sugeriram que a forma anidra seja convertida a forma diidratada antes da formulação para
diminuir a variabilidade nas taxas de dissolução de comprimidos e, por conseguinte a solubilidade
da forma diidratada fosse melhorada por outros métodos. Dessa forma o teste de dissolução
intrínseca poderia ser sugerido como uma ferramenta de monitorização simples na transformação
de fase cristalina (SEHIC et al., 2010).
Outros grupos de pesquisadores também utilizaram do método de dissolução intrínseca
para avaliar o fenômeno do polimorfismo em fármacos como para o fármaco antiretroviral
efavirenz (FANDARUFF et al., 2014) e para a nimodipina, um anti-isquémico (RIEKES et al.,
2014). Para os polimorfos I e II de efavirenz, as técnicas PXRD, DSC, SEM, Microscopia com
aquecimento (HSM), FT-IR, espectroscopia Raman e ss-RMN foram utilizados para completar a
caracterização das formas. Os estudos termodinâmicos mostraram que os polimorfos I e II são
enantiotropicamente relacionados com o ponto isoenergético entre 35 e 40 °C. O polimorfo II
mostrou-se mais estável e 10 vezes mais solúvel que o polimorfo I, devido a modificações na sua
morfologia. O perfil de dissolução intrínseca do polimorfo II foi 10 vezes mais elevado do que a do
polimorfo I e as análises por XPRD e DSC realizados antes e depois dos ensaios de dissolução
intrínseca indicaram que não houve transição de fase polimórfica. Portanto, o polimorfo II de
efavirenz poderia ser um excelente candidato com vantagens significativas para as formulações
farmacêuticas (FANDARUFF et al., 2014). Riekes e colaboradores (2014) desenvolveram e
validaram uma proposta para avaliar polimorfos de nimodipina utilizando as técnicas de PXRD e
DSC e o método de dissolução intrínseca para avaliar a transição de fase polimórfica para os
polimorfos I e II de nimodipina. Os resultados mostraram que a taxa e a velocidade de dissolução

10
intrínseca da forma II foi menor do que a forma I de nimodipina em todas as condições testadas.
Porém ocorria transformação de fase mediada por solução do polimorfo I (metaestável) para o
polimorfo II. Esses resultados mostraram que o controle de diferentes fases cristalinas e os seus
comportamentos de dissolução intrínseca, deveriam ser considerados como um fator importante
em estudos de pré-formulação e nas especificações de controle de qualidade em matérias-primas
de nimodipina (RIEKES et al., 2014).
Para o fármaco mesilato de imatinibe um medicamento usado para tratar certos tipos de
câncer como a Leucemia Mielóide Crônica (LMC) dois polimorfos α e β foram determinados por
Difração de Raios X por monocristais (SXRPD) por Grillo, Polla e Vega (2012). Neste trabalho,
foram avaliadas as propriedades físicas dos polimorfos por meio das técnicas de PXRD, DSC e
espectroscopia UV e verificou-se que a forma β de mesilato de imatinibe tem maior estabilidade
(GRILLO; POLLA; VEGA, 2012). Atici e Karliga (2015) desenvolveram e validaram um método de
quantificação e avaliação de controle de qualidade completo para os dois polimorfos de mesilato
de imatinibe. A forma α foi dada como a forma metaestável á temperatura ambiente e até o
momento deste estudo não era aplicável para o desenvolvimento de formulações. Eles
conseguiram quantificar diferentes proporções da forma β em formulações de comprimidos que
continham a forma α de mesilato de imatinibe como também testar a pureza polimórfica do
ingrediente farmacêutico ativo (API) do medicamento utilizando testes de controle de qualidade e
de estabilidade do medicamento como o HPLC e GC. Os polimorfos foram analisados segundo o
seu teor de água pelo método de Karl-Fischer e ambos foram considerados anidros. Para
caracterizar os polimorfos foram usadas as técnicas de PXRD, DSC, FTIR-ATR e SEM.
Posteriormente, aplicaram os métodos para as formulações de comprimidos correspondentes
contendo os dois polimorfos, e, finalmente, selecionaram o método de quantificação (PXRD). O
método validado de PXRD foi utilizado para os testes de estabilidade de comprimidos e os
resultados mostraram que a forma α de mesilato de imatinibe é estável na formulação de
comprimidos utilizado nestes estudos e que nenhuma conversão foi observada à forma cristalina
β. O estudo ainda conclui que ambos os polimorfos foram termodinamicamente estáveis e
mostraram características semelhantes de solubilidade aquosa, assim ambos poderiam ser
usados na fabricação do medicamento. O perfil de dissolução in vitro dos comprimidos fabricados
usando polimorfo α foi semelhante ao medicamento comercializado usando polimorfo β. Mesilato
de imatinibe forma α é mais higroscópico em comparação com β, mas isto não afetou a sua
estabilidade quando a forma α estava na forma pura. Na presença de umidade uma pequena
quantidade de forma α no API tem tendência a uma conversão polimórfica para a forma β. Mas
neste estudo a formulação de comprimidos foi monitorizada em várias condições de estabilidade
por vários meses e nenhuma alteração foi observada (ATICI; KARLIGA, 2015).
Outro medicamento utilizado no tratamento de câncer e que apresenta polimorfismo é o sal
de cloridrato de erlotinibe. Pelo menos sete polimorfos têm sido descritos na literatura entre eles

11
A, B, E, L, M, N e P, em que o polimorfo B é a forma atualmente utilizada como forma medicinal
(LU et al., 2014). Lu e colaboradores (2014) quantificaram a solubilidade de dois polimorfos A e B
do sal de cloridrato de erlotinib em isopropanol e acetona por meio de cromatografia líquida de
alta eficiência (HPLC) na faixa de temperaturas de 0 a 30°C. Os resultados mostraram que a
solubilidade de ambos os polimorfos geralmente aumenta com a temperatura, e o polimorfo A tem
uma solubilidade mais elevada do que o polimorfo B (LU et al. 2014). Assim o polimorfo A do
cloridrato de imatinibe pode ser um candidato para compor as formulações farmacêuticas.
Outro pré candidato à fármaco foi também avaliado quanto ao polimorfismo (LANG et al.,
2013). Neste estudo 8 polimorfos (I, II, III, IV, IV-B, V, VI, VII) foram obtidos por métodos de
cristalização e transformação de fase. Em seguida, foram caracterizados por PXRD, DSC,
espectroscopia Raman, microscopia eletrônica de varredura e microscopia de luz. Os resultados
do estudo de estabilidade relativa mostraram que os polimorfos I, III, IV, V, VI, VII eram formas
metaestáveis e que os polimorfos II e IV-B apresentaram estabilidades termodinâmicas
semelhantes, os quais foram mais altos do que os outros polimorfos. Um meio de dissolução
desenvolvido pelos autores foi discriminatório para os oito polimorfos. Uma dissolução mais rápida
e de maior quantidade de composto dissolvido foi observado para o polimorfo V, ao passo que o
polimorfo III apresentou dissolução mais lenta e a forma com menor quantidade dissolvida foi a
forma IV. Neste estudo o pó remanescente não dissolvido após a dissolução foi verificado por
PXRD e segundo as conclusões dos autores, nenhuma alteração das fases dos polimorfos foi
detectada (LANG et al., 2013).
Clortalidona é um fármaco anti hipertensivo e apresenta quatro formas cristalinas I, II, III e
IV relatadas. A ocorrência de polimorfos de clortalidona foi avaliada em matérias-primas e em
comprimidos disponíveis no mercado e as propriedades de solubilidade e dissolução das formas I
e II foram estudas por Bonfilio e colaboradores (2014). Pela análise de PXRD e FT-IR verificou-se
que quatro formulações de comprimidos comerciais e o medicamento referência continham a
forma I de clortalidona, outros três lotes continham predominantemente a forma II e um único lote
apresentou uma mistura de ambas as formas I e II. Os ensaios de solubilidade mostraram que a
forma II era 49% mais solúvel do que a forma I e os estudos de dissolução mostraram efeito
significativo do polimorfismo na dissolução de comprimidos de clortalidona. Os comprimidos que
continham a forma II tiveram uma velocidade de dissolução mais rápida e maior quantidade de
fármaco liberado. Portanto a clortalidona é um fármaco dose-dependente e pode causar
hipocalemia. Concluiu-se então que apenas a forma I era aceitável para a preparação de
comprimidos (BONFILIO et al., 2014). Portanto este trabalho foi acessível em verificar o impacto
do polimorfismo em matérias-primas e comprimidos de clortalidona como meio de assegurar a
qualidade dos medicamentos disponíveis no mercado.
A famotidina, um antiulceroso, também pertence a classe de fármacos de baixa
solubilidade. Na literatura há relatos de três polimorfos A, B e C. A forma mais estável é a forma A

12
portanto o polimorfo comercializado é o B, uma forma metaestável. Portanto, a famotidina tem
sido uma preocupação da FDA por causa das propriedades físicas, solubilidades,
biodisponibilidades e bioequivalências dos diferentes polimorfos. Este API foi alvo de estudo de
minha dissertação de mestrado (2012-2014) em que lotes de insumos farmacêuticos foram
caracterizados por PXRD, DSC e TG, IR-ATR e realizados ensaios de solubilidade e perfil de
dissolução. Nesta ocasião foram encontrados lotes contaminados com o polimorfos A e B de
famotidina inclusive no padrão de referência USP. A contaminação com o polimorfo A no API,
impactou as propriedades físicas do fármaco, principalmente na diminuição da solubilidade do
API. Portanto sua dissolução não foi prejudicada devido a presença dos excipientes na formulação
de comprimidos (JACON, 2014). Uma revisão de Lin (2014) analisa as características de estado
sólido dos polimorfos A e B de famotidina considerando a termodinâmica, transformação
polimórfica e controle de qualidade em medicamentos (LIN, 2014). Os processos farmacêuticos,
tais como moagem, compressão e temperatura de aquecimento tiveram efeito significativo sobre a
transformação polimórfica de famotidina. A umidade ambiental e o teor de água residual também
devem ser bem controlados para evitar a conversão polimórfica de famotidina polimorfo B em A
durante o processamento farmacêutico. Neste trabalho métodos térmicos utilizando DSC e
espectroscópicos como FT-IR, Raman e Terahertz foram aplicados para avaliar a influência do
polimorfismo tanto nos APIs quanto nos medicamentos.
Outro medicamento que foi investigado na minha dissertação de mestrado foi o meloxicam
um anti-inflamatório não esteroide. Ele também é um fármaco de baixa solubilidade e possui cinco
polimorfos I, II, III, IV( monoidrato) e V relatados na literatura e o polimorfo recomendado para a
comercialização é o polimorfo I de maior estabilidade. Em lotes caracterizados pelas técnicas de
PXRD, IR-ATR, DSC e TG foi possível detectar a contaminação em um dos lotes com o polimorfo
III de meloxicam. Ao avaliar a solubilidade e o perfil de dissolução do lote que continha os
polimorfos I e III com um lote caracterizado como apresentando somente o polimorfo I, foi possível
verificar que o polimorfo III uma fase metaestável de meloxicam aumentou a solubilidade do
fármaco e também influenciou na liberação do fármaco quando avaliado o perfil de dissolução dos
comprimidos formulados (JACON, 2014).
Três polimorfos de piracetam, I, II e III foram passíveis de identificação utilizando técnicas
analíticas, de PXRD, DSC, e FTIR-ATR. A solubilidade dos polimorfos foi testada em quatro
solventes orgânicos diferentes e verificou-se que a solubilidade tende a aumentar com a
temperatura e polaridade do solvente. A solubilidade da forma II, metaestável, foi maior que a da
forma III em todos os solventes e em todas as temperaturas testadas porém sem diferenças
significativas (MAHER et al., 2012).
Aitipamula e colaboradores sintetizaram e elucidaram a estrutura cristalina por SXRD de
dois polimorfos do fármaco haloperidol na forma de sal hidratado com o edulcorante artificial
acessulfame. Também sintetizaram um novo polimorfo denominado polimorfo II do sal hidratado

13
de haloperidol com o edulcorante sacarina (AITIPAMULA et al., 2014). Neste estudo os métodos
de PXRD, FT-IR, e análises térmicas como DSC e HSM foram utilizados para caracterizar o par
de polimorfos do sal de haloperidol com o acessulfame evidenciando as diferenças significativas
nas ligações de hidrogênio e nas conformações da molécula de haloperidol. A estabilidade dos
polimorfos foi deduzida por meio de análise térmica e também pelo estudo de solubilidade em
equilíbrio os quais sugeriram que a forma I do sal de acessulfame é mais estável que a forma II
pois a forma I começa a fundir em 160°C e a forma II tem sua temperatura de fusão inicial em
140°C. Pela análise de PXRD do filtrado seco após o ensaio de solubilidade em equilíbrio revelou
que a forma II converte à forma I indicando que a forma I do sal de haloperidol com o acessulfame
deve ser a forma termodinâmica mais estável em condições ambientais (AITIPAMULA et al.,
2014).
A combinação de várias técnicas têm sido utilizada para quantificar polimorfos de fármacos
e os componentes da formulação. Um método de quantificação de polimorfos usando PXRD foi
desenvolvido e validado por Qiu e colaboradores (2015) para o fármaco febuxostate, utilizado para
o tratamento de hiperuricemia crônica em pacientes com gota. Até o presente momento mais de
20 polimorfos foram relatados para o febuxostate. Segundo a literatura muitas formas são
encontradas como misturas de polimorfos. Este trabalho priorizou quantificar o polimorfo A, uma
forma metaestável, em misturas de polimorfos A e G. Os polimorfos puros e a mistura dos
polimorfos A e G também foram analisados qualitativamente pelas técnicas SEM, FTIR, DSC,
TGA, e PXRD (QIU et al., 2015).
O método de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC) foi capaz de avaliar o
polimorfismo em fármacos dependendo das impurezas detectadas no cromatograma de
quantificação do API fluconazol. Esta relação foi estuda por Bourichi e colaboradores (2012). Este
trabalho foi interessante porque os polimorfos de fluconazol apresentaram impurezas distintas
dependendo da forma avaliada. Foi possível então, distinguir os dois polimorfos de fluconazol (II,
III) como também a mistura de ambos pelo método de HPLC avaliando as impurezas do princípio
ativo (BOURICHI et al., 2012).
O polimorfismo impacta também os excipientes que compõe o medicamento. A lactose, um
excipiente muito utilizado em formulações apresenta polimorfos e o uso de um polimorfo diferente
de lactose poderia alterar as propriedades de compressibilidade do fármaco e a velocidade de
dissolução do medicamento. Em 2007, quatro formas cristalinas de lactose, sendo elas α-Lactose
monoidratada, β-lactose, α-Lactose anidra estável e α-Lactose anidra higroscópica, foram
avaliadas por PXRD, Raman, FTIR, 13
C–1H CP-MASNMR (KIRK, DANN, BLATCHFORD, 2007).
Em 2011, Sperger e Munson investigaram características importantes de excipientes usando
experiências de espectroscopia de ssNMR como a identificação de formas, diferenças estruturais,
variações de teor de água e de cristalinidade de amorfos e cristalinos (SPERGER; MUNSON,
2011). Alguns dos excipientes analisados e que foram diferenciados foram o ácido algínico e o

14
alginato de sódio; as formas ι, κ e λ- carragenina; amido e derivados e excipientes à base de
celulose, tais como celulose microcristalina, carboximetilcelulose de sódio, hidroxietilcelulose,
hidroxipropilcelulose e hidroxipropilmetilcelulose. Amostras de vários fornecedores foram
avaliadas. Os resultados mostraram que a espectroscopia de ssNMR pode ser potencialmente
utilizada para monitorizar alterações em excipientes na formas de dosagem sólida, sem qualquer
alteração da amostra. Isto pode ser muito útil durante os estudos de pré-formulação e formulação
principalmente quando o excipiente original pode sofrer mudanças, ou quando a fabricação e/ou
condições de armazenagem poderiam alterar a forma do excipiente (SPERGER; MUNSON,
2011).
A técnica de NMR também tinha sido explorada na investigação de polimorfos da vitamina
B12 (MEDEK; FRYDMAN, 2000) em que dois polimorfos foram detectados por NMR do estado
59
sólido de Co, 13C e 15N. Este trabalho revelou por RMN de carbono, uma conformação diferente
envolvendo as posições no anel macrocíclico e um dos substituintes axiais caracterizando
polimorfos da vitamina B12 os quais não tinham sido percebidos anteriormente por análise de
PXRD (MEDEK; FRYDMAN, 2000).
Khanmohammadi e colaboradores (2010) acreditam que a utilização da técnica FT-NIR em
combinação com técnicas quimiométricas em polimorfos de paracetamol demonstrou vantagem
significativa sobre o método de PXRD. Pois concluem que o método fornece uma análise
qualitativa rápida na preparação de polimorfos devido à sua simplicidade, natureza não-destrutiva,
e sensibilidade (KHANMOHAMMADI et al., 2010).
Pesquisas relacionadas com avaliação de polimorfismo por PXRD e análises térmicas
como DSC vem mostrando as vantagens da utilização das duas técnicas simultaneamente.
Diferentes fármacos com a tobultamina (um agente brocodilatador), acyclovir (agente antiviral) e
nedocromil de sódio (antialérgico) foram avaliados com PXRD-DSC e TG/DTA. Para a tolbutamina
foi possível avaliar a transição de fase da forma II para a forma I em 112°C seguida da fusão da
forma I em 129°C quando variou a temperatura de 30 a 140°C. Ao resfriar a amostra de 140 a
30°C, foi possível perceber que após a fusão uma forma amorfa foi predominante até a
temperatura de 78°C em que uma nova fase cristalina de tobultamina foi então cristalizada e sua
estrutura determinada por SXRD. Quando analisado o antiviral aciclovir verificou-se que ele
apresenta três outros polimorfos a partir do aciclovir 2/3 hidratado. A forma 2 anidra de aciclovir já
apresentava estrutura conhecida porém outras duas novas formas 3 e 4 foram identificadas
quando a amostra hidratada era aquecida até 210°C seguida do resfriamento até a temperatura
de 30°C. A análise de PXRD-DSC indicou que após a desidratação em 93°C houve a formação de
uma forma anidra 3 que sofre transição de fase para uma segunda forma metaestável, a forma 4,
em 180°C. O resfriamento dessa amostra leva a uma terceira transição de fase em 164°C em que
a forma 4 leva a formação da forma 2 de acyclovir. A forma 4 foi isolada e seus parâmetros
cristalográficos foram obtidos por SXRD. Já para o nedocromil de sódio, sua forma triidratada foi

15
submetida inicialmente a TG/DTA em que a perda de massa da amostra foi calculada de acordo
com os eventos de desidratação da amostra. Com a utilização de PXRD-DSC, num primeiro
evento ocorre a perda de 2 moléculas de água com consequente formação de nedocromil de
sódio monoidratado na faixa de 100-150°C. A partir de 150°C ocorre a desidratação do
monoidrato formando uma forma anidra pura em aproximadamente 240°C. A reidratação da forma
anidra ao triidrato de nedocromil de sódio também foi investigada e verificou-se que a amostra se
reidrata facilmente na presença de 90% de umidade (NAMATAME; SATO, 2013). A utilização
simultânea das técnicas de XRD e DSC mostrou ser eficiente na avaliação de diferentes fases de
polimorfos de APIs, mesmo que estas sejam metaestáveis a temperatura ambiente.
Outro estudo evidencia como as técnicas de PXRD, espectroscopia Raman, métodos
térmicos e microscopia são importantes para identificar diferentes fases cristalinas. Para um
mesmo API de nome não especificado (peso molecular 398 g/mol) foi identificado 12 fases
cristalinas entre 2 anidras, 5 monoidratadas, 3 monosolvatos e 2 heterosolvatos com água
(DETOISIEN et al., 2011). Este estudo mostrou que a seleção de uma fase cristalina é um passo
muito importante nos estágios iniciais de desenvolvimento farmacêutico de novos fármacos. Pois
é necessário manter um controle do polimorfismo sobre as propriedades físico-químicas durante
os processos de fabricação, transporte e armazenamento do medicamento a ser dispensado à
população.
Portanto, o uso concomitante de várias técnicas provou ser adequada para a identificação
e caracterização do polimorfismo em APIs e excipientes.
Já os ensaios de solubilidade, dissolução intrínseca e perfil de dissolução in vitro são os
mais adequados para avaliação do impacto do polimorfismo na qualidade físico-química
considerando que a eficácia de um fármaco e/ou medicamento está diretamente relacionada com
sua liberação/ dissolução nos fluidos gastrointestinais (tanto em velocidade quanto em
quantidade).

16
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