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Caderno Profissional de Administração – UNIMEP

Mestrado Profissional e Doutorado em Administração

“PADARIAS QUE VENDEM ATÉ PÃEZINHOS?”: CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO


ORGANIZACIONAL NO SEGMENTO GOURMET

Carlos César de Oliveira Lacerda


E-mail: cesarlacerda.adm@hotmail.com
Universidade Federal de Pernambuco

Sérgio Carvalho Benício de Mello


E-mail: sergio.benicio@gmail.com
Universidade Federal de Pernambuco

Maria Christianni Coutinho Marçal


E-mail: chrismarcal@hotmail.com
Universidade Federal de Pernambuco

Artigo Recebido em: 26/10/2017; Ajustes em 31/05/2018; Aceito em: 16/08/2018

RESUMO

O objetivo deste texto é ampliar o conhecimento sobre os processos de criatividade e inovação no


contexto organizacional do segmento gourmet. Para isso foi realizado uma pesquisa em um dos eixos
estratégicos da economia criativa (o setor gastronômico – panificação e confeitaria). Em termos
metodológicos trata-se de uma pesquisa descritiva de caráter exploratório, conduzida sob a forma de
estudo de caso com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados a partir de entrevistas semi-
estruturadas baseadas na literatura sobre a temática, além de observação in loco. Foram criadas
categorias e subcategorias visando a atender ao objetivo da pesquisa para encontrar semelhanças e
diferenças e produzir uma descrição sobre como a criatividade e a inovação são abordadas neste tipo
de organização. Os resultados indicam que o trabalho criativo pode ser gerado nos mais diversos
ambientes organizacionais. Para isso, faz-se necessário o estímulo à criatividade além da criação de
espaços para que essa geração aconteça. A criatividade é essencialmente produto da interação social
colaborativa.

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“Padarias Que Vendem Até Pãezinhos?”: Criatividade e Inovação Organizacional no Segmento Gourmet

Palavras-chave: Criatividade; Inovação; Gourmet; Economia Criativa. Interação Social.

ABSTRACT

The purpose of this paper is to expand knowledge about creativity and innovation processes in the
organizational context of the gourmet segment. For this, a investigation was performed on one of the
strategic axes of creative economy (the gastronomic sector - bakery and confectionery).
Methodologically speaking, a descriptive exploratory case study was conducted within a qualitative
approach. Data were collected from semi-structured interviews based on the literature on the subject
and on-site observation. Categories and subcategories were created in order to meet the objective of
the research that aimed to find similarities and differences and produce a description of how
creativity and innovation are addressed in this type of organization. Results indicate that creative
work may be generated in various organizational settings. However, it is necessary stimulate
creativity and provide spaces for this generation to happen. Creativity is essentially the product of
collaborative social interaction..

Keyword: Creativity; Innovation; Gourmet; Creative economy. Social Interaction.

1 INTRODUÇÃO

No contexto atual as empresas de panificação e confeitaria do segmento gourmet precisam se


reinventar para sobreviver no mercado globalizante. Elas estão deixando de ser um estabelecimento
tradicional apenas do pãozinho e estão inserindo nas suas vendas uma variedade de produtos
(SOARES, 2002), se tornando verdadeiros espaços de convivência entre seu publico e na maioria das
vezes sendo usado para uma gama de eventos sociais (RUGAI; PAULA, 2007), ou seja, o espaço é
visto como algo simbólico, sendo modificado ao passar dos tempos.
Algumas estratégias são fundamentais para a alavancagem do desempenho organizacional e
as constantes mudanças no cenário organizacional têm suscitado mudanças nas estratégias
empresariais. Nesse sentindo, uma das formas que as organizações de uma forma geral têm utilizado
para lidar com a complexidade dessas mudanças é a geração de conhecimentos através da criatividade
para promover a inovação, maximizando os potenciais da localidade, fortalecendo a economia e a
sociedade (KING; SCHLICKSUPP, 1999).

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Existem na literatura estudos que exploram a relevância dessa criatividade para o contexto
organizacional a partir da interação social e assim, contribuindo para o aumento da vantagem
competitiva (PARJANEN, 2012; WILSON, 2010; EREZ e NOURI, 2010). A criatividade para a
promoção da inovação serve para viabilizar uma melhor resposta das organizações à complexidade
do ambiente organizacional para sua própria sobrevivência no mercado (GIRARDI, 2002).
O presente trabalho foca sua análise na criatividade e na inovação sob uma perspectiva
organizacional, onde criatividade pode ser definida como a geração de novas ideias que são úteis e
apropriadas (AMABILE, 1996). Ainda sendo como necessidades básicas humanas de exploração
(KASHDAN; ROSE e FINCHAM, 2004). A inovação é algo inerente a criatividade e pode ser
definido como o resultado de um conjunto de atividades que usam o conhecimento para criar novo
valor àqueles que se beneficiam de seu uso (DE SOUSA, 2006). Para Gondim et al. (2015) ambas as
perspectivas passam a ser promovidas por meio de novas configurações nos processos
organizacionais, necessitando de um olhar mais holístico e profundos para seus conceitos.
Atualmente não se discute a criatividade apenas no âmbito individual e sim no âmbito da
coletividade como sendo o resultado de um processo social a partir das interações. Assim, criatividade
coletiva pode ser definida como processos criativos que são resultados da interação entre duas ou
mais pessoas, assim é impossível de rastrear a origem de novas ideias para um indivíduo, em vez
disso, a atividade criativa emerge a partir da colaboração e contribuição de diversos indivíduos
(PARJANEN, 2012).
A inovação nesse caso seria um resultado do processo criativo a partir das interações dos
indivíduos no contexto organizacional (AGUIAR; ARAÚJO, 2013). O setor cultural tem ganhado
espaço diante dos novos desafios na questão econômica. A cultura nesse caso, sendo observado de
uma maneira mais ampla, indo além de manifestações, chegando até a gastronomia como elemento
de questão simbólica, ou seja, além do valor enquanto setor econômico, a questão da criatividade é
considerada um principal canal de inovação, por isso esta incluindo numa economia baseada na
criatividade (PERTILE; GASTAL, 2014).
Nesse sentido, o objeto de estudo desse trabalho foi uma empresa privada de panificação no
segmento gourmet pela sua relevância no contexto local onde atua situada na cidade de médio porte
que exerce influência sobre um vasto número de municípios à sua volta. A escolha deveu-se ao fato
de que o setor gastronômico através do segmento gourmet fazer parte de um dos eixos estratégicos
da economia criativa e dada as características do segmento faz-se necessário à utilização de
estratégias que viabilizem o incremento das vantagens competitivas, ou seja, a organização precisa
ser criativa e inovadora para sobreviver no contexto local.

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A empresa também passou recentemente por processos de mudanças na sua produção (do
forno tradicional a lenha para o forno elétrico), além do atendimento e inovação dos produtos. Essas
mudanças fizeram com que a criatividade e a inovação fossem pontos chaves para a adaptação e
desempenho organizacional.
De acordo com o relatório final realizado pelo SEBRAE sobre o “Estudo de tendências:
perspectivas para a panificação e confeitaria” (2009), o setor tem se destacado e indica que
movimentou R$ 76,405 bilhões. A participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) cresceu de
1,53% em 2010 para 1,66% no ano de 2011. Desse modo, a inquietação da pesquisa se pauta no
seguinte problema: Como se dá os processos criativos e de inovação no âmbito organizacional no
segmento gourmet gastronômico? O presente estudo realizou entrevistas semi-estruturadas com
funcionários da referida organização para compreender como se dão esses processos no âmbito
organizacional tendo como objetivo ampliar o conhecimento sobre os processos de criatividade e
inovação no contexto organizacional desse tipo de segmento, investigando os processos no contexto
organizacional.
O relatório ainda discute que essas organizações estão se transformando em autênticos centros
de convivência para o consumidor brasileiro. Esse fenômeno é atribuído à necessidade de o setor se
reinventar, como resposta ao processo de expansão. Assim, torna-se oportuno analisar os processos
criativos para a promoção da inovação, contribuindo para a elaboração de estratégias por parte das
empresas para fortalecimento do segmento na região, fortalecendo inclusive a literatura sobre gestão
de pessoas, inovação e economia criativa.
Como forma de melhor compreensão da pesquisa, este trabalho está dividido em cinco partes,
primeiro esta introdutória, depois é apresentada uma discussão teórica que envolve Criatividade
individual e coletiva – Conceito e abordagens; e, Inovação nas organizações. Posteriormente, são
apresentados os aspectos metodológicos que nortearam a pesquisa. Em seguida são apresentados os
resultados e discussões, sendo possível a realização, por fim, as considerações finais da pesquisa.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Nessa seção, é realizada uma revisão da literatura sobre criatividade individual e coletiva a
partir do âmbito organizacional e inovação nas organizações com o objetivo de identificar conceitos,
modelos e princípios fundamentais em seus fatores constituintes que permitam produzir um
conhecimento e fundamentar a pesquisa.

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2.1 Criatividade individual e coletiva: conceito e abordagens

A temática sobre criatividade se mostra como abrangente devido a sua aplicação a diversas
ciências. O autor Martínez (1997) compreende que a importância pelo estudo e ampliação da
criatividade tem sido aumentada em virtude do progresso e da complexidade que a humanidade
alcançou no âmbito social, econômico, nas artes e nas ciências. A globalização e concorrência têm
exigido posturas estratégicas do potencial humano para sobrevivência no mercado atual e tem mudado
a própria estrutura do cotidiano fazendo com que as organizações se adéquem às novas estruturas
para garantir minimamente sua sobrevivência, assim se observa a ascensão de uma classe criativa
(FLORIDA, 2011).
Dessa forma, um novo desafio se coloca à sociedade: o desenvolvimento de novas formas de
coesão social adequadas à era criativa, pois as mudanças econômicas operadas pela classe criativa
vêm alterando a estrutura do cotidiano, através da ascensão de uma nova sociedade, de uma nova
cultura e de um novo estilo de vida totalmente nova. Florida (2011) destaca que as empresas têm de
se adaptar a essas mudanças e se esforçarem para criarem novos ambientes que sejam suscetíveis ao
trabalho criativo, sob pena de sua extinção.
Assim, percebe-se que essas novas estruturas têm modificado o modo de produção a partir das
experiências dos envolvidos e o compartilhamento das informações como um processo social a partir
da criatividade individual. No que diz respeito à criatividade individual percebe-se que ela está mais
voltada para o âmbito cognitivo, ou seja, algo mais voltado para a psicologia e filosofia. De acordo
com a pesquisa de Santos e Tudda (2011) a criatividade individual é apontada como um processo
psicanalítico a partir dos estudos de Freud.
As autoras fazem um resgate histórico demonstrando como as diversas ciências consideram a
criatividade individual. Além dessa criatividade do âmbito psíquico existem alguns autores na
literatura que discutem a criatividade como um processo social, ou seja, uma criatividade coletiva. É
nesse aspecto que se pauta a discussão desse trabalho, em uma criatividade sob o contexto
organizacional. Os autores Bharadwaj e Menon (2000), discutem a criatividade individual e coletiva
e refletem que ambos podem levar a inovação nas empresas. Ou seja, a criatividade coletiva não
diminui a importância da criatividade individual. Para os autores sem criatividade individual, não há
nenhum contexto de criatividade coletiva e vice-versa.
Nesse sentido, de acordo com Parjanen (2012) criatividade coletiva pode ser definida como
processos criativos, levando a produtos criativos que são resultados da interação entre duas ou mais
pessoas. Percebe-se que na criatividade coletiva, é muito difícil identificar a origem das ideias de um

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único individuo, ao contrário disso a perspectiva criativa nasce do compartilhamento e colaboração


de vários indivíduos na criação das ideias. A literatura se mostra relevante quando se discute a
criatividade coletiva como é percebido no quadro 01 a seguir:

Quadro 01: Literatura sobre criatividade coletiva


Estudo Dados Resultados
Woodman, Análise teórica A compreensão plena da criatividade em contextos sociais
Sawyer complexos exige ir além do foco em atores individuais e examinar
e Griffin o contexto situacional em que o processo criativo ocorre. Uma
variedade de influências sociais e contextuais afetam a
(1993)
criatividade para os níveis de grupo e organizacional. Muitas
dessas influências querem restringir ou aumentar o desempenho
criativo de indivíduos e grupos.
Oldham e A pesquisa foi realizada De acordo com os resultados, os empregados produziam o
Cummings em duas instalações de trabalho com mais criatividade quando eles se apropriavam de
(1996) fábricas que produzem características criativas-relevantes, trabalhavam com
componentes para complexidade e trabalhos desafiadores, e eram supervisionados
equipamentos técnicos de forma solidária, não controladora.
(171 trabalhadores).
Drazin, Glynn, Análise teórica A proposta dos autores sustenta a relevância de processos
and contínuos de interação em criatividade destinados a estabelecer
Kazanjian os padrões comuns de referência e significados compartilhados
necessários para superar momentos de crise em ações coletivas.
(1999)
Bharadwaj e Os dados foram coletados O estudo constata que o mecanismo de criatividade
Menon (2000) através de um organizacional é um mecanismo de criatividade individual que
questionário por e-mail a pode levar à inovação nas empresas. O estudo sugere que níveis
respondentes chave de elevados de mecanismo de criatividade organizacional aumentam
750 unidades de negócios significativamente o desempenho superior da inovação do que
de 500 empresas. baixos níveis de mecanismo de criatividade organizacional e
individual.
Taggar (2002) O desempenho de 94 O estudo mostra que, embora seja necessário que um grupo
grupos em 13 diferentes contenha membros que são criativos, equipes com processos de
tarefas sem-data de criatividade-relevantes que surgem como parte da interação do
finalização foram grupo também são importantes. Com efeito, sem esse último tipo
estudadas. de comportamento, os benefícios de montar um grupo de
profissionais altamente criativos são neutralizados.
Hargadon e O modelo é O estudo confirma a relevância de investigar os processos que
Bechky fundamentado em levam a significativos e valiosos resultados de criatividade
(2006) observações, entrevistas, coletiva e demonstra quatro conjuntos de atividades inter-
conversas informais e relacionadas adotadas pela criatividade coletiva (buscar ajuda, dar
dados arquivados ajuda, reenquadrar reflexivamente e reforçar).
reunidos no campo
intensivo de estudos do
trabalho profissional em
empresas de serviços.
Bissola e A projeto de pesquisa foi Os resultados confirmam que a criatividade não é apenas sobre o
Imperatori fundamentado através de gênio criativo, e projetar o potencial de criatividade não é uma
(2011) seis grupos de discussão questão de correlação linear, mas inclui uma abordagem mais
formados por 24 gestores sofisticada e integrativa de acordo com a qual o indivíduo com
de 17 empresas de design habilidades criativas, as dinâmicas de equipe e as soluções
e moda italiana e 12 organizacionais interagem umas com as outras para produzir um
acadêmicos. desempenho criativo coletivo.
Fonte: Adaptado de Parjanen (2012, p. 13-14).

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A observação do quadro nos permite inferir que a criatividade coletiva é relevante para os
processos organizacionais, pois de alguma forma, atuam e interferem no desempenho organizacional.
De acordo com Paiva Júnior, Muzzio e Bispo (2014) essa criatividade no âmbito da gestão abrange
aspectos da cultura organizacional que envolve o surgimento de novas articulações integrando
lideranças, condições sociais e competências individuais e coletivas. Essa criatividade no âmbito
organizacional é também observada nos argumentos da autora Amabile (1999).
Para a autora, na relação de empresas e negócios, ela considera que as práticas gerenciais que
estimulam a criatividade se dividem em seis categorias gerais, que são: desafio, liberdade, recursos,
características dos grupos de trabalho, encorajamento da supervisão e apoio organizacional. Ainda
para a autora, as práticas gerenciais que comumente podem matar a criatividade são: não dar aos
funcionários trabalhos adequados, os resultados acabam sendo insatisfatórios para todos; a mudança
ou falta de definição clara de objetivos, prazos falsos ou impossíveis de cumprir; falta de elogios a
esforços criativos dos subordinados (DE SOUZA PINTO E BLATTMANN, 2005).
Nesse sentido, observa-se que ambas as criatividades (individual e coletiva) fazem parte de
um processo mais geral e estratégico da organização, pois a própria literatura demonstra argumentos
que considera a importância dessa criatividade para alavancar a vantagem competitiva a partir,
inclusive das interações sociais dos funcionários. Dessa forma, o ambiente organizacional se mostra
favorável a essa criatividade uma vez que permite espaços de interações e compartilhamento de
informações e experiências a partir do nível individual e coletivo.

2.2 Inovação nas organizações

O tema da inovação é algo bastante discutido no contexto organizacional, uma vez que, é uma
ação voltada para garantir uma vantagem competitiva (SANTOS; ARAÚJO; CHRISTO, 2014). A
inovação está intrinsecamente voltada para a questão do conhecimento, pois é através do saber fazer
algo que a inovação pode atuar. Segundo Ocde (2005), inovação é a implementação de um produto
(bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou mesmo um novo processo, método de
marketing, ou método organizacional nas práticas de negócios na organização do local de trabalho ou
nas relações externas.
Schumpeter (1934) discute que as empresas inovam, pois estão em busca de sustentabilidade
e mercado. O autor sugeriu uma relação de inovações: a) introdução de um novo produto ou mudança
qualitativa em produto existente; b) inovação de processo novo para uma indústria; c) abertura de um
novo mercado; d) desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matéria prima ou outros
insumos; e) mudanças na organização industrial.

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Os autores Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p. 30) corroboram com os estudos de Schumpeter e
apontam quatro categorias abrangentes, que são os “4Ps” da inovação, os quais estão explicados no
quadro 02 a seguir:

Quadro 02: Os “4Ps” da inovação


Inovação Abordagem
Mudança nas coisas (produtos/serviços) que uma
Inovação de produto
empresa oferece;
Mudanças na forma que produtos/serviços são criados
Inovação de processo
e entregues;
Mudança no contexto em que produtos/serviços são
Inovação de posição
introduzidos;
Mudanças nos modelos mentais subjacentes que
Inovação de paradigma
orientam o que a empresa faz.
Fonte: Organizado pelos autores a partir de Tidd, Bessant e Pavitt (2008).

Assim, pode-se inferir sobre as várias mudanças que ocorrem no que diz respeito a inovação
e as suas formas. Dessa forma, a inovação não significa apenas a venda de um grande avanço, mas
também inclui as mudanças numa melhoria ou até mesmo no contexto que os produtos são
produzidos, visando otimizar os resultados. No setor de panificação e confeitaria a temática sobre
inovação permeia os diversos setores da organização, tendo em vista o mercado que esse setor atua.
Esses ambientes são espaços de criatividade e as mudanças nas preferências dos consumidores
têm feito com que os empresários mudem suas estratégias de sobrevivência. O consumidor exige uma
certa mobilidade, qualidade, frescor e compromisso. Muitos deles estão bem informados sobre leis e
produtos. Nesse sentido, a inovação pode acontecer nos diversos setores como a implementação do
food service, inovação na matéria prima especializada (qualidade e bem estar), tecnologia de
equipamentos (otimização e elevação da produção), layout e ferramentas para redução dos impactos
ambientais. Os próprios consumidores são exigentes e procuram ambientes mais inovadores com mais
variedades e novidades, assim se torna um desafio para essas organizações devido aos concorrentes
para criar seus processos de inovação que pode ser definido como:

Inovação é o processo de várias etapas através do qual as organizações transformam


ideias em produtos novos ou melhorados, serviços ou processos, a fim de avançar,
competir e diferenciar-se com sucesso em seu mercado (BAREGHEH, ROWLEY e
SAMBROOK, 2009, p. 1334).

Dessa forma, observa-se que no contexto da globalização e da competitividade a questão da


inovação faz parte do sucesso empresarial. Por distinguir produtos atribuindo valores através da
geração de conhecimentos e a criatividade, inovar permite às organizações a tão procurada distinção,
alavancando sua competitividade. As empresas ganham vantagens competitivas através de atos de
inovação. Estas encaram a inovação em sentido amplo, incluindo o uso de novas tecnologias e novas

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formas de fazer as tarefas e procedimentos (Porter, 1990). Endesley (2010, p. 64) complementa
afirmando que “o coração da inovação é a geração e o teste de novas ideias”.
A literatura se apresenta bastante abrangente, pois esse assunto é de interesse da administração
e todo gestor tem se preocupado com as questões que envolvem o tema, nesse sentido, tem se buscado
modelos que discutam a inovação e a criatividade no âmbito organizacional a fim de investigar como
se dá esses processos em ambientes altamente complexos e que estão em mudança constante.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com o objetivo de investigar os processos de criatividade e inovação no contexto


organizacional do segmento gourmet foi realizada uma pesquisa que pode ser classificada como
descritiva, de caráter exploratório, conduzida sob a forma de estudo de caso. Segundo Gil (2008)
pesquisas descritivas tem como objetivo descrever as características de determinada população ou
fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis.
Para Yin (2001) o estudo de caso é definido como a investigação empírica de um fenômeno
que dificilmente pode ser isolado ou dissociado do seu contexto. Além de facilitar a verificação de
similaridades ou diferenças, permitindo estabelecer que um estudo seja complementar a outro. Foi
utilizada uma abordagem qualitativa, pois o pesquisador fez anotações de campo sobre o
comportamento e as atividades dos indivíduos no local da pesquisa. A metodologia qualitativa
emprega diferentes concepções filosóficas, estratégias de investigação, método e análise dos dados.
Baseiam-se em dados de textos, entrevistas e imagens, é fundamentalmente interpretativo e permite
ao pesquisador ter uma visão do fenômeno (CRESWELL, 2010).
A metodologia utilizada teve como base a análise de dados primários referente às respostas
dos entrevistados que foram os funcionários da organização (gerentes, balconistas, padeiros e
confeiteiros) e observação participante. A fim de buscar esses dados, foi utilizado como instrumento
de pesquisa um roteiro de entrevista semi-estruturado para nortear melhor o trabalho. O roteiro foi
elaborado com base na revisão da literatura onde é composto por 23 questões abertas divididas entre
o perfil do entrevistado (cargo, escolaridade, idade e tempo na organização) e questões que envolvem
a temática (conceitos e abordagens sobre criatividade e inovação).
Algumas das perguntas foram escolhidas de acordo com as discussões com os funcionários
da empresa para apresentação deste trabalho. Integraram para esta pesquisa 8 funcionários da
organização, entre eles gerentes, balconistas, padeiros e confeiteiros. Alguns entrevistados foram
escolhidos propositadamente para obter a melhor visão possível das ideias dos empregados em seus
determinados cargos para atingir o objetivo da pesquisa.

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Os funcionários que não foram entrevistados possuem cargos iguais aos que foram
entrevistados, nesse caso, foi atingida a totalidade de cargos na empresa. Os entrevistados possuem
entre 28 até 41 anos, estão na organização entre 5 a 16 anos.
Para a análise dos dados obtidos foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. A análise de
conteúdo pode ser conceituada como um “procedimento clássico para analisar materiais de texto de
qualquer origem, de produtos da mídia a dados de entrevista” (FLICK, 2013, p. 134). Assim, visa
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens que
permitam a inferência de conhecimentos.
Nesse sentido, foram estabelecidas categorias e subcategorias, visando a atender ao objetivo
da pesquisa para encontrar semelhanças e diferenças nos dados e produzir uma descrição sobre como
a criatividade e a inovação é abordada na organização. As categorizações foram resultantes do
material empírico a partir das entrevistas sob a lente teórica da temática abordada. As categorias e
subcategorias estão apresentados no quadro 03 a seguir:

Quadro 03: Categorias analisadas


CATEGORIAS SUBCATEGORIAS DESCRIÇÃO
Evidencia como se dá o processo de
Novas ideias novas ideias e a relação com a
gerência.
Indica como acontece a interação
Interação/cooperação entre os membros nos setores da
Criatividade organização.
Relata a institucionalização desse
Conhecimento/experiência processo.
Demonstra a relação da
Cultura subcategoria com a categoria
analisada.
Indica como se dá a incidência de
Novos produtos
novos produtos.
Denota a questão desse processo
Especialização para o setor e sua importância para
inovação.
Inovação Discute a relação entre vantagem
competitiva, criatividade e
Vantagem competitiva
inovação a partir da interação
coletiva.
Demonstra a relação da
Cultura subcategoria com a categoria
analisada.
Fonte: Os autores, 2017.

Na apresentação e discussão dos resultados utilizaram-se, a título ilustrativo, citações e falas


de alguns trechos dos entrevistados, conforme recomenda Eisenhardt (1989). E para preservar a
identidade dos respondentes, eles são citados como E-01 (entrevistado 1), E-02 (entrevistado 2), e
assim por diante. A sessão da análise e discussão dos resultados foi dividida em dois blocos: O

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primeiro bloco é a caracterização do objeto de estudo como forma de explanar as características do


segmento na referida organização e o segundo bloco é a análise das entrevistas em relação à temática
abordada.

4. APRESENTAÇÂO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 BLOCO I: Caracterização do objeto de estudo

A organização objeto de estudo desse trabalho faz parte do setor de panificação e confeitaria
no segmento gourmet localizada na cidade de Campina Grande – Paraíba. Existem dois pontos
comerciais da empresa na cidade, um que se localiza numa região mais central e o outro em um bairro
mais afastado da cidade. Atua no mercado há mais de 20 anos e é considerada representativa na região
onde atua pelos seus consumidores e concorrentes. Nos últimos cinco anos passou por alguns
processos de mudanças em relação a sua produção, como por exemplo, a substituição do forno
tradicional a lenha para o forno elétrico, no atendimento ao cliente, novidades na pastelaria e
confeitaria.
A empresa faz parte do eixo da economia criativa (gastronomia – gourmet) e precisa se inovar,
se reciclar e se reinventar para se manter no mercado diante dos seus concorrentes. Atualmente é
composta por 15 funcionários. Vale salientar que na cidade existem várias organizações de
panificação e isso aumenta a concorrência, então a questão da inovação e criatividade se torna
relevante para a própria sobrevivência dessas organizações.

4.2 BLOCO II: Análise das entrevistas


A análise foi baseada nas categorias estabelecidas a cerca da criatividade e da inovação, e nos
relatos dos entrevistados. Percebe-se que todos os entrevistados reconhecem a importância da
criatividade no uso das suas atribuições do seu cotidiano e percebem a necessidade de inovar para
não deixar o trabalho monótono e se destacar em suas funções. Os conceitos de criatividade e
inovação também foram abordados e a maioria conseguiu elaborar uma definição a partir de suas
experiências diárias no ambiente organizacional. Nas falas a seguir, observam-se algumas dessas
questões:

“Eu acho importante inovar sempre. Na minha função é muito bom usar a criatividade para
desenvolver novas formas usando cores e pastas... Todas as vezes que surge algum problema
no meu trabalho eu sou obrigado a buscar novas formas para solucionar os desafios. No meu

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cotidiano aqui é necessário usar a criatividade pra quase tudo, então quando você cria algo
ou alguma ideia você está inovando em beneficio da empresa” (E-06).

“Criatividade é colocar em prática suas ideias, inovando algo benéfico para a empresa.
Inovação seria ir atrás de novas ideias para não ficar fora a competitividade dos concorrentes,
tendo a coragem de transformar ações antigas em ações atualizadas, para isso, a empresa
precisa proporcionar um ambiente para aproveitar nossas ideias” (E-03).

Conforme se observa, os respondentes afirmam a necessidade de usar a criatividade em suas


funções devido à exigência do setor e função, entretanto reconhecem também a importância do
ambiente organizacional para promovê-la nesses espaços. Harman e Hormann (1999, p. 37)
constataram entre os empregados no comércio e na indústria “o desejo de terem um ambiente de
trabalho que promova a iniciativa criativa e uma participação significativa”, e que “um dos fatores
mais importantes para atrair e conservar os melhores profissionais será a qualidade do ambiente de
trabalho”. Assim, fica perceptível a importância do ambiente organizacional para o desenvolvimento
e aproveitamento das ideias dos seus colaboradores corroborando com os estudos apontados por
Amabile (1999).
A questão da mudança também foi algo percebido nesta análise. Em algumas falas percebe-
se o uso da criatividade para executar uma função que era feita de uma forma e com a mudança se
precisou mudar o hábito para desenvolver melhor o trabalho. Os respondentes também reconhecem
a importância dos espaços “livres” para uma conversa informal, o famoso “café entre os funcionários”
para geração das novas ideias e inovação. Apenas o dinheiro nunca foi o suficiente para motivar
pessoas criativas, elas trocam suas ideias e energia criativa por dinheiro sim, mas elas também querem
flexibilidade para perseguir outros interesses da maneira que bem entendam (FLORIDA, 2011). As
conversas nos corredores permitem esse tipo de interação e facilita o compartilhamento de
experiências, desenvolvendo novas ideias como se observa na fala a seguir:

“Na hora do café podemos contar como foi o nosso dia, se estamos com alguma dificuldade
e assim um ajudar ao outro. Esse tempo livre é muito bom pra gente trocar ideias sobre como
fazer a tarefa melhor e quando estamos juntos aprendemos um com o outro, mas aqui na
empresa não temos muito esse tempo e isso prejudica um pouco. Às vezes são muitas tarefas
e o tempo é pouco pra se parar e conversar, aqui não tem muito isso. É ruim “né”, como
vamos pensar em algo pra inovar se não tem um momento pra isso? Fica complicado assim,
pois é só quando estamos juntos que isso pode acontecer” (E-08).

Percebe-se que o tempo é algo primordial para ajudar na geração de ideias e no processo de
inovação. Os respondentes reconhecem a importância desses espaços, entretanto dizem que a empresa
não permite muito esse espaço e isso dificulta esse processo na organização. Segundo Amabile et al.
(2002), um dos fatores mais frequentemente citados necessários para inovação é tempo suficiente
para pensar criativamente e explorar diferentes perspectivas. Atualmente os funcionários têm o tempo
restrito e eles se sentem sobrecarregados nas suas funções. O aumento da carga de trabalho muitas

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“Padarias Que Vendem Até Pãezinhos?”: Criatividade e Inovação Organizacional no Segmento Gourmet

vezes é visto como algo prejudicial para a criatividade e a inovação como foi observado nas falas. A
falta de tempo foi mencionada em todas as entrevistas.
Quando questionados sobre a relação entre a criatividade e o conhecimento através das
experiências, foi observado que eles reconhecem a importância dos cursos para se aperfeiçoar e
enfatizam a questão do conhecimento nas suas atividades para geração das ideias importantes para a
empresa. No caso estudado, eles apontam a necessidade do conhecimento, entretanto demonstram
que essa postura precisa ser melhorada na organização. O conhecimento para a geração de novas
ideias é algo pertinente nas discussões sobre a criatividade e inovação (ENDESLEY, 2010)
Uma das mais notáveis características de pessoas criativas é que eles têm um investimento
substancial em conhecimentos e o desenvolvimento em curso de especialização (MUMFORD ET
AL., 2002). Assim como também apresentam a questão da diversidade dos funcionários para geração
de ideias no âmbito da coletividade, ou seja, vários conhecimentos se entrelaçando. De acordo com
os entrevistados existem incentivos a participação de oficinas e cursos, mas poderia ser com mais
frequência.

“A pessoa tem que saber mesmo fazer suas atividades porque assim tem mais facilidade de
criar novas maneiras de fazer. Aqui na empresa a patroa até nos colocou pra fazer um curso,
mas foi poucas vezes, isso deveria acontecer com mais frequência. Todo dia precisamos nos
reciclar, ainda mais a gente que precisa usar a criatividade quase sempre na confecção dos
pães, bolos e bolachas. Esse mercado tá sempre mudando. A experiência é algo bem mais
importante do que os conhecimentos que aprendemos nos cursos, apesar de ajudar bastante”
(E-01).

“Eu acho que a minha experiência facilita um bocado, mas conhecer as novas maneiras
através dos cursos é muito importante pra gente. Um vai e trás pro restante o que aprendeu e
assim todo mundo sai ganhando. Mas o que acho mais importante é a divulgação do que
aprendeu (...). Ir por ir não adianta. Tem que compartilhar com todos e não ficar só pra si”
(E-04).

“As várias funções dentro da empresa nos permite conhecer um pouco da realidade do outro.
Essa diversidade é importante também para sair as ideias novas pelos nossos encontros, além
do aprendizado que é muito importante também né?!” (E-05).

A partir das falas, percebe-se que a experiência é um fator significativo para geração de ideias
e a inovação. A questão do conhecimento também foi relatada como importante, entretanto essa
prática não é muito vista na organização por parte da gerência. Isso diz respeito também à capacidade
de absorção do funcionário. Maior capacidade de absorção, mais facilmente ele irá assimilar novos
conhecimentos e utilizá-lo na organização. De acordo com Cohen e Levinthal (1990), grandes
capacidades de absorção dão raiz a ideias criativas porque eles alargam a capacidade do funcionário
para identificar novas ligações entre unidades anteriormente.
Nas entrevistas foi identificado que os fatores que mais inibem a criatividade foram: a falta de
liderança, pouca cooperação, a sobrecarga de tarefas e o não reconhecimento da função. Quando

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“Padarias Que Vendem Até Pãezinhos?”: Criatividade e Inovação Organizacional no Segmento Gourmet

questionados sobre o que seria importante para ser considerado um ambiente de trabalho ideal, houve
diversas respostas, entretanto, algo bastante mencionado foi à questão da cultura na empresa como
relatado na fala a seguir:

“Todo mundo quer um ambiente de trabalho agradável né? Então, o que seria importante para
um espaço saudável seria a modificação da cultura organizacional, além da capacitação da
alta gerência, valorização do funcionário e o trabalho em grupo” (E-07).

A questão da cultura foi observada em diversas falas, e isso mostra a importância desse fator
para geração de ideias e a inovação na empresa e a relação que tem com a criatividade e a inovação.
A importância da cultura e dos valores organizacionais na expressão da criatividade é recorrente entre
os teóricos, conforme pode ser visto em Alencar (2005) e Amabile (1997). Alguns aspectos relevantes
foram levando em consideração quando se trata de criatividade coletiva. Por exemplo, em algumas
falas é perceptível que a ação coletiva melhora o desempenho e as formas de executar as funções.

“Quando um ajuda o outro é bem melhor né? O trabalho sozinho é muito complicado porque
parece que nem o tempo passa e isso é ruim na realização das nossas funções. Mas as vezes
é bom ficar um pouco sozinho, porque a gente pensa em como fazer a tarefa e reflete sobre
isso. Ter reuniões é muito bom para que a gente coloque as nossas sugestões e como melhorar
todo o processo. É nessa reunião que observamos as coisas erradas e soluções de melhorias,
porque as vezes sozinhos não olhamos esses pequenos detalhes” (E-03).

Esse trecho revela que a atividade coletiva pode melhorar o desempenho e consequentemente
as formas de executar as funções desempenhadas (PARJANEN, 2012; BHARADWAJ E MENON,
2000). Os pesquisados reconhecem que trabalhar de forma isolada não é muito produtivo, entretanto
os espaços individuais também têm sua importância para desenvolver ideias. Percebe-se também a
relevância das reuniões coletivas e pausas para conversas, e isso favorece a geração de ideias.
No segmento estudado (gourmet) tendo como referência a empresa pesquisada, foi percebido
que não faz parte do plano estratégico da empresa a questão do desenvolvimento da criatividade dos
seus funcionários, entretanto, como foi observado nas entrevistas os mesmos reconhecem a
importância da temática para geração de novas ideias para obter vantagem competitiva. Também vale
salientar que em algumas entrevistas foi mencionada a importância de um líder presente como forma
de motivar a geração de ideias, acompanhar como é realizado o processo e desenvolver ferramentas
estratégicas para alavancar essas questões no ambiente organizacional.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como propósito de investigar os processos de criatividade e inovação


no contexto organizacional do segmento gourmet a fim de ampliar o conhecimento sobre esses

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“Padarias Que Vendem Até Pãezinhos?”: Criatividade e Inovação Organizacional no Segmento Gourmet

processos nesse tipo de contexto específico. Para isso, foi realizada uma pesquisa em um dos eixos
estratégicos da economia criativa que seria a gastronomia. A partir das categorias e subcategorias
estabelecidas foi possível identificar como se dá os processos criativos e de inovação no âmbito
organizacional a partir de uma criatividade coletiva.
De acordo com os resultados deste trabalho, o processo de criatividade baseado em novas
ideias tem muita relação com a interação e a cooperação. Os funcionários reconhecem a importância
da cooperação, entretanto afirmam que o tempo é fundamental para a geração de ideias. A questão
do conhecimento e da experiência também foi algo observado na empresa estudada. Os resultados
indicam que essa subcategoria é um fator significativo para geração de ideias e a inovação. A questão
do conhecimento foi relatada como importante, entretanto essa prática não é muito vista na
organização por parte da gerência.
No que diz respeito à inovação, a pesquisa mostra que novos produtos têm relação com a
questão da especialização. Foi observado que eles reconhecem a importância dos cursos para
aperfeiçoar suas atividades e enfatizam a questão do conhecimento nas suas atividades para geração
das ideias importantes para a empresa como forma de obter vantagem competitiva. Outro fator
mencionado foi à questão da cultura, fator esse relevante de acordo com os funcionários para gerar
um ambiente propício a geração de ideias.
Foi observado que não basta apenas uma inovação de novos produtos. Isso sim é necessário,
entretanto a potência dos funcionários a partir da criatividade também é algo significante nesse
processo. Nesse caso, a criatividade não é algo automática. Ela precisa ser estimulada e esse estímulo
depende de espaços sociais para interação e cooperação. Os resultados demonstram que os
funcionários estão dispostos a participar nos processos de criatividade e inovação, no entanto, ela
precisa ser estimulada a partir das interações sociais no seu cotidiano.
Ainda de acordo com os resultados da pesquisa, a criatividade pode ser percebida nos diversos
setores estudados. As balconistas relatam esse processo, os padeiros e gerência também apontam
sobre como os processos criativos são gerados. Assim, a criatividade coletiva torna-se necessária para
produzir resultados criativos. De acordo com Perry-Smith & Shalley (2003) resultados criativos são
explicados como sendo resultados da interação social colaborativa.
Este trabalho contribuiu com a pesquisa sobre criatividade e inovação em ambientes da
economia criativa, apresentando os resultados do segmento gourmet em uma panificadora. Ainda
contribuiu para identificar aspectos passíveis de melhorias na organização estudada, como exemplo
a atuação de uma liderança e a importância da cultura para promoção de espaços sociais interativos e
assim, colaborar com os processos criativos organizacionais, além de contribuir também para a
elaboração de estratégias coletivas por parte da empresa.

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“Padarias Que Vendem Até Pãezinhos?”: Criatividade e Inovação Organizacional no Segmento Gourmet

Para trabalhos futuros, sugere-se uma pesquisa com os clientes desses ambientes, para se
compreender essa visão a partir de uma perspectiva do consumidor, inclusive de outros segmentos,
como também a comparação dos resultados com outros tipos de organizações que não fazem parte do
eixo criativo. A pesquisa corrobora com a seguinte reflexão: o trabalho criativo pode ser gerado nos
mais diversos ambientes, basta saber como estimular e criar espaços para essa geração, entretanto a
coletividade instiga o processo de geração de ideia por meios de práticas sociais

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