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RESUMO
Para que os processos de suprimento em um sistema de produção puxada possam ser integrados e
acompanhados de modo autônomo é necessário conhecê-los em detalhes, o que pode ser feito utilizando o
modelo de referência para operações nas cadeias de suprimentos – Supply Chain Operations Reference
(SCOR). Este trabalho propõe uma abordagem baseada em agentes para o controle das operações nas
cadeias de suprimento, em um caso específico de uma empresa OEM (Original Equipment Manufacturer)
que adota um sistema de produção puxada. Para tanto, os agentes recebem um planejamento inicial e,
durante as operações, devem adaptar-se a mudanças percebidas no ambiente, negociando ajustes a fim de
garantir que as tarefas sejam executadas de forma adequada. Esta abordagem, através dos processos
SCOR identificados, orienta a automação de processos integrados na cadeia de suprimentos.
ABSTRACT
In order to integrate and manage autonomously the supply processes in a make-to-order approach, it is
necessary to achieve a detailed knowledge of these operations. So this article will make use of the
reference model for operations in the supply chain – Supply Chain Operations Reference (SCOR). This
paper proposes an agent-based approach to control of supply chain operations, doing an application in an
OEM company, where the company works in a make-to-order production approach. The agents start the
operations with an initial planning defined, but during the execution of the plan these agents facing
changes in the environment and must adapt the plan in order to hold a feasible schedule. So, the agents
must negotiate adjustments in the initial planning to ensure that tasks are performed. This approach,
through identified SCOR processes, presents a strategy for guide the process automation integrated
supply chain.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Gunasekaran e Ngai (2009), os sistemas de manufatura podem ser
classificados da seguinte forma: produção empurrada (make-to-stock), montagem
empurrada (assemble-to-stock), produção puxada (make-to-order), e montagem puxada
(engineer-to-order). Em um sistema de produção empurrada, a produção é iniciada
antes que a demanda ocorra, de maneira que os produtos finalizados passam pelo
estoque antes de serem vendidos aos clientes. Por sua vez, no sistema de produção
puxada, a fabricação é iniciada apenas após a demanda ser conhecida, dessa maneira os
produtos fabricados devem ser entregues diretamente aos clientes, sem a necessidade de
armazenamento de produtos finalizados na indústria. A produção puxada é
especialmente interessante quando é necessário realizar customizações em massa, onde
os clientes fazem pedidos que atendam às suas necessidades específicas (Zhang et al.,
2013). Na montagem puxada, os componentes que serão utilizados em um produto são
fabricados antecipadamente à demanda dos clientes, porém a montagem destes apenas
se dá após o conhecimento da demanda. A montagem puxada pode ser vista como uma
forma de postergação de algumas operações (Bowersox et al., 2002). Por fim, na
montagem empurrada, tanto os componentes utilizados na fabricação dos produtos
quanto os próprios produtos são fabricados e enviados primeiramente ao estoque, antes
do recebimento do pedido dos clientes.
O conhecimento detalhado das operações de suprimento em um sistema de produção
puxada é necessário para que os processos possam ser integrados e acompanhados de
modo autônomo. Para isto, pode ser utilizado o modelo de referência para operações nas
cadeias de suprimentos – Supply Chain Operations Reference (SCOR) – proposto pelo
Supply-Chain Council (2009), visto que tal modelo traz uma descrição detalhada de tais
processos. O objetivo deste trabalho é apresentar uma abordagem baseada em agentes
para o controle das operações em um sistema de produção puxada, utilizando-se o
modelo de referência para operações em cadeias de suprimentos.
Dado que o modelo SCOR é projetado para diferentes contextos e indústrias, este
aborda os níveis estratégico e tático de gestão, não detalhando a implementação dos
processos operacionais das empresas. Portanto, cada organização precisa estender o
modelo de modo a incorporar seus requisitos de negócio e sistemas de informações
existentes. Este artigo apresenta os processos SCOR relacionados com o sistema de
produção puxada, propondo uma abordagem para controle autônomo por agentes
envolvidos em tais processos.
Este artigo está organizado como segue: a introdução, que apresenta o problema e a
forma como este será tratado; a seção 2 onde é apresentado o modelo SCOR, e descritas
as relações desse modelo com a produção puxada; a aplicação proposta é apresentada na
seção 3, e por fim, a seção 4 traz as discussões finais, com as conclusões e
considerações finais da aplicação proposta.
2. Modelo SCOR
Estabelecido para avaliação e comparação de atividades e do desempenho de uma
cadeia de suprimento, o modelo SCOR é estruturado em cinco macroprocessos:
planejamento, fornecimento, fabricação, entrega e retorno (SCC, 2009). Cada um
desses, por sua vez, é formado por categorias. Dentro destas últimas estão os processos
e como estes se relacionam uns com os outros. Os níveis relacionados com a
implementação dos processos não são abordados pelo modelo, de maneira que a
decomposição dos processos em tarefas, das tarefas em atividades, além dos papéis
relacionados à realização destas atividades não estão presentes no modelo. A Tabela 1
sintetiza a estruturação do modelo SCOR, apresentando a organização dos diferentes
níveis de gerenciamento.
3. APLICAÇÃO PROPOSTA
Esta seção descreve um MAS para realizar o controle das operações de suprimento num
sistema de produção puxada. Para tanto é delineada uma aplicação em um cenário
operacional de uma empresa Original Equipment Manufacturer – OEM. Nestas
operações de suprimento, uma empresa montadora conta com diferentes fornecedores
de componentes ou subprodutos para atender aos pedidos de seus clientes. Assim, o
MAS proposto deve lidar com esse cenário, onde os agentes devem simular a realização
dos processos SCOR.
A aplicação aqui descrita baseia-se nas características propostas por Aragão Jr. et al.
(2012), onde o foco era tratar adequadamente eventos não planejados durante a
execução de uma programação de transportes. Ou seja, o objetivo era garantir por meio
de um MAS respostas autônomas e em tempo hábil visando evitar falhas que possam
ser geradas por estes eventos. No modelo proposto considera-se que:
A demanda é criada pelos clientes no início do período, ao colocar os pedidos à
empresa OEM que, por sua vez, a partir destes pedidos dá inicio a um
planejamento para atendimento dos mesmos (processo M3.1);
O MAS busca maximizar o número de tarefas atendidas com o mínimo de custo
de produção e transporte para a empresa OEM. Para atender tal objetivo, a
produção é programada através do processo M3.2, sendo inicialmente planejada
de forma estática pela empresa OEM, quando esta faz os pedidos de
componentes a seus fornecedores admitindo as condições normais de operações,
o planejamento inicial das atividades de produção é executado sob condições
normais de operação;
Ao realizar o pedido aos fornecedores, a empresa OEM também realiza o
planejamento da entrega desses componentes através do processo D3,
estabelecendo-se que os limites de capacidades dos fornecedores restringem a
capacidade da empresa OEM;
No processo de selecionar transportadores (D3.7), se as unidades próprias não
tiverem condições de atender as demandas planejadas ou novas demandas,
podem ser utilizados veículos de terceiros. A seleção prioritária de veículos
próprios dá-se pelo interesse em reduzir custos, uma vez que a utilização de
veículos terceirizados tem custos mais elevados;
A comunicação entre todas as entidades que compõem o MAS (transportadores,
veículos, indústrias, máquinas) é admitida como possível a qualquer instante;
Para a realização do processo de transporte dos produtos aos clientes (D3.12), os
veículos próprios devem iniciar e terminar suas jornadas de trabalho no pátio do
operador logístico, sendo que o planejamento de cada veículo deve levar em
conta ciclos de 8h de serviço diário, não sendo permitidas horas extras além da
jornada padrão;
Um teste de viabilidade durante a execução de um roteiro é verificada ao final de
cada entrega, representada pelo processo D3.14, momento em que se pode delegar
parte das tarefas a outros veículos a fim de garantir a viabilidade da rota.
3.1. Classes de agentes
Para realização das tarefas, é proposto neste artigo uma estrutura adaptada de Mes et al.
(2007), a qual utiliza agentes em um problema de transporte para representar:
transportador, veículo, tarefa e embarcador. Neste trabalho a estrutura consiste em
quatro classes de agentes: transportador, veículo, máquina e indústria (Figura 2).
Um agente veículo executa várias tarefas de transporte e deve ser capaz de tomar
decisões de modo autônomo em situações em que falhas forem detectadas, neste caso,
este agente deve negociar com outros agentes veículos a fim de definir qual é o veículo
mais apto a realizar uma ou mais de suas tarefas. Uma vez que um dos objetivos do
agente veículo é reduzir o seu custo de operação, ao mesmo tempo em que atende às
tarefas da rota impostas a ele, esse elemento contribui também para os objetivos do
agente transportador, que podem ser, por exemplo, a maximização do resultado
econômico ou o atendimento dos contratos em obediência ao nível de serviço imposto,
etc.
Neste trabalho será utilizado o mecanismo de negociação de Vickrey (Mes et al., 2007).
De acordo com a argumentação de Ausbel e Milgrom (2006), esse método oferece
diversas vantagens: é rápido, requer menor quantidade de informações e facilita o ajuste
do planejamento em reação às mudanças operacionais. O método de Vickrey é simples e
adequado a aplicações que requeiram decisões durante a jornada de trabalho. Outra
vantagem desse leilão é que o ofertante é estimulado a não exagerar no valor de sua
proposta, visando ganhar a todo custo, e como o serviço de transporte é, no caso, um
sistema fechado, não há interesse em elevar os preços desnecessariamente. O
mecanismo Vickrey faz com que os participantes apresentem em suas ofertas valores
próximos àqueles praticados no mercado (Ausubel e Milgrom, 2006).
( )
Assim, seja o valor de uma oferta de um veículo para a tarefa i, no leilão de
( ) ( )
número = 1,2, … , . Para = 1, serão aceitas ofertas com valor ≤ e para
= , será aceita qualquer oferta.
À medida que vão ocorrendo os leilões, o leiloeiro tende a ampliar o leque de valores
aceitáveis para as ofertas. Uma função que exprime essa ampliação da faixa de variação
dos valores das ofertas é a seguinte (Mes et al., 2007).
( ) ( )
( ) ( )
≤ + ( )
( − 1) , com = 1, … , − 1 e ≥1 (2)
para = 1 a interpolação é linear e, para > 1 tem-se interpolação exponencial.
( ) ( ) ( ) ( )
Assim, para = 1, temos ≤ e para = − 1 tem-se ≤ ,
( )
ampliando assim a faixa de valores admissíveis para à medida que se realizam
novas rodadas.
Por fim, o tempo disponível ( ) é um valor que varia no intervalo [0,8], visto que
mede o tempo ainda disponível para realizar a tarefa. O tempo disponível, forma de um
multiplicador de risco que varia no intervalo [1,2], de maneira que tanto ele pode não
surtir efeito, como ele pode dobrar os custos com o novo atendimento. A partir da
observação da equação (3), pode-se perceber que o multiplicador de risco poderá, no
máximo, fazer com que a proposta para a nova tarefa dobre de valor.
4. CONCLUSÕES
O controle dos processos da cadeia de suprimentos é fundamental para que empresas
OEM possam gerenciar suas operações de forma autônoma. Apesar de o modelo SCOR
ser flexível e aplicável a diferentes contextos empresariais, cada empresa precisa
estendê-lo a fim de atender a requisitos operacionais intrínsecos de cada negócio. Os
processos SCOR relacionados com o sistema de produção puxada, identificados neste
artigo, servem como referência para o controle autônomo por agentes. A abordagem
proposta baseia-se na utilização de agentes para controlar as operações de suprimento
em uma empresa OEM, de maneira que os processos identificados orientam a
automação das atividades de transporte e produção.