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XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção

Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002

UMA ANÁLISE DOS SISTEMAS DE PLANEJAMENTO E


CONTROLE DA PRODUÇÃO EM UMA GRANDE EMPRESA
DE MATERIAIS DE ESCRITA

Moacir Godinho Filho


UFSCar - Universidade Federal de São Carlos – e-mail: moacir_godinho@uol.com.br
Endereço p/ correspondência: Rua Dona Alexandrina, 1904 – 13.560-290 São Carlos-SP

Flavio César Faria Fernandes


UFSCar - Universidade Federal de São Carlos – e-mail: dfcf@power.ufscar.br
Endereço p/ correspondência: Rua Dona Alexandrina, 1904 – 13.560-290 São Carlos-SP

Abstract: This paper analyses the production planning and control systems (PPCSs) in a
large company that produces items for writing. This analysis is based on the comparison
between the PPCSs used in the company and the PPCSs recommended by a recent
methodology published on the Production Planning and Control journal. From this
comparison we observed some differences between the theory and practice. These
differences can be explained by two main factors: (i) due to operational simplicity,
companies tend to choose a small number of PPCSs, even not all of them are the best
option for some processing units; (ii) manufacturing strategy influences the choice of the
PPCSs. This study shows that the methodology and the analysis are very useful for
understanding in depth the operational characteristics of a production system.
Key-words: Production Control system choose; production system; manufacturing strategy

1. Introdução
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise dos sistemas de
planejamento e controle da produção (SPCP) utilizados no setor de canetas esferográficas
de uma grande empresa de materiais de escrita. Esta análise é feita à luz de dois fatores
que, em nosso entender, são de extrema importância na escolha do SPCP mais adequado a
um sistema de produção: um bom conhecimento do sistema de produção que será
gerenciado pelo SPCP e as estratégias de produção da empresa.
Para o conhecimento das estratégias de produção da empresa, foram realizadas
entrevistas com gerentes sobre os SPCP que a empresa utiliza, foram coletados dados in
loco. Para se conhecer os sistemas de produção da área de canetas da empresa, foram feitas
várias visitas ás suas unidades de produção e então classificou-se este setor como um todo,
de acordo com um sistema de classificação desenvolvido por MACCARTHY &
FERNANDES (2000). A importância da realização desta classificação dos sistemas de
produção reside no fato de que esta classificação, além de proporcionar um melhor
entendimento do funcionamento dos sistemas de produção, serve de base para se projetar e
ou selecionar um SPCP adequado ao sistema de produção em questão. Muitos outros
trabalhos têm buscado resposta para a questão de como escolher ou projetar sistemas de
PCP adequados a diversas situações, por exemplo: VAN DER LINDEN & GRÜNWALD
(1980); GODDARD (1982); AGGARWAL (1985); PTAK (1991); CORRÊA & GIANESI

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(1993); PIRES (1995); GSTETTNER & KUHN (1996); MILTENBURG (1997), HUANG
& KUSIAK (1998), dentre outros. Nenhuma delas, no entanto, vai tão a fundo quanto à
proposta de MACCARTHY & FERNANDES (2000) em tratar sistemas híbridos que é a
tendência dos sistemas de produção reais atuais.
A estrutura deste trabalho é a que segue; na seção 2 é apresentado primeiramente
um referencial teórico sobre Estratégia de Produção, de acordo com SLACK et al (1997).
Também nessa seção é apresentado, de maneira simplificada, o modelo de classificação
multidimensional dos sistemas da produção, de acordo com MACCARTHY &
FERNANDES (2000). Na seção 3 os resultados de nosso estudo de caso é apresentado;
tanto os resultados do estudo sobre estratégia de produção quanto os resultados da
classificação dos sistemas de produção e a posterior escolha do SPCP adequado. Ainda na
seção 3 são apresentados os resultados da comparação entre os SPCP encontrados na
prática e os SPCP ideais de acordo com o metodologia de classificação. Na seção 4 são
tecidas análises e conclusões a respeito dos SPCP, as quais se baseiam em 2 pontos
principais: as diferenças encontradas entre os SPCP na teoria e na prática e as estratégias
de produção da empresa.

2. Referencial Teórico
2.1 Estratégia de Produção
De acordo com SLACK et al (1997) a estratégia de produção determina quais são
os objetivos de desempenho mais significativos para a empresa. Estes objetivos de
desempenho são: custo, qualidade, flexibilidade, confiabilidade de entrega (pontualidade),
rapidez, dentre outros. A importância relativa de cada um destes objetivos é influenciada
pela preferência dos clientes, pela ação dos concorrentes e pelo estágio do produto em seu
ciclo de vida. É claro que muitos gerentes podem argumentar que todos estes objetivos
competitivos são importantes para os clientes, porém com certeza alguns objetivos terão
maior relevância do que outros, de acordo com estes três fatores que vimos acima.
Em nosso estudo de caso tentamos descobrir como a empresa prioriza seus
objetivos de desempenho e a partir daí descrever sucintamente como são as estratégias da
empresa . Para ajudar os gerentes a responder esta questão, desdobramos as estratégias em:
Estratégias que influenciam o projeto: estratégia de desenvolvimento de novos
produtos/serviços; estratégias de integração vertical e estratégias de tecnologia;
Estratégias que influenciam o planejamento e controle: estratégia de ajuste de capacidade;
estratégia de desenvolvimento de fornecedores; estratégias de estoques e estratégia de
sistemas de planejamento e controle;
Estratégias que influenciam a melhoria: estratégia de processo de melhoria e estratégia de
prevenção e recuperação de falhas.

2.2 O modelo de Classificação Multi-dimensional dos Sistemas de Produção


(MCMSP)
Para MACCARTHY & FERNANDES (2000), sistema de produção industrial pode
ser definido como sendo um conjunto de elementos inter-relacionados que são projetados
para se obter produtos finais, cujo valor comercial supere o total dos custos incorridos para
obtê-los.
Vamos passar agora a descrição do modelo de classificação multi-dimensional
proposto por esses autores. MACCARTHY & FERNANDES (2000) identificam quatro
grupos principais de características (caracterização geral, caracterização do produto,
caracterização do processo e caracterização da montagem) as quais englobam doze
variáveis. A tabela 1 mostra resumidamente quais são os atributos que cada uma destas
dimensões e variáveis pode assumir.

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CARACTERIZAÇÃO GERAL CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO


• Tamanho da Organização • Tipos de layout
(L) => grande número de funcionários; (S): estação de trabalho simples
(M) => médio número de funcionários ; (P): layout por produto.
(S) => pequeno número de funcionários. (F): layout funcional ou layout por processo.
• Tempo de Resposta (G): layout por grupo.
(SL + PL + DL) => se o sistema produz para ordem (FP): layout por posição fixada: os recursos (homens,
(DLa (P%)) => se o sistema produz para estoque com um nível de serviço igual equipamentos ) movem-se e não o produto.
a P% • Tipos de estoques de segurança
(DLb (P%)) => se o sistema não produz (somente compra, estoca, vende e (1): estoques antes do primeiro estágio de produção.
entrega o item) e o nível de serviço é igual a P% (2): estoques intermediários entre os estágios de produção.
(PL + DL) => se o sistema produz para ordem mas mantêm estoque de matéria (3): estoques depois do último estágio de produção.
prima • Tipos de fluxo
(SL + DL) => se o sistema não produz mas vende para ordem (F1): estágio simples, por exemplo, uma máquina no centro.
• Nível de Repetitividade (F2): estágio simples com máquinas idênticas em paralelo.
(PC): sistema contínuo puro. (F3): estágio simples com máquinas não idênticas em paralelo.
(SC): sistema semi – contínuo: cada unidade de processo é contínuo puro e há (F4): processo multi-estágios unidirecional, por exemplo, o
combinações das rotas entre os diferentes processos. Esse processo é conhecido clássico sistema flow-shop.
como sistema de produção de batelada. (F5): processo multi-estágios unidirecional, que permite que
(MP): produção em massa . Maioria dos itens são repetitivos. estágios sejam pulados (overflow ).
(RP) : Sistema de produção repetitivo. Se pelo menos 75% dos itens são (F6): processo multi-estágios unidirecional, com máquinas iguais
repetitivos, nesse caso a industria metal/mecânica é um típico RP. em paralelo.
(SR) : Sistema de produção semi- repetitivo. É considerado assim se um (F7): processo multi-estágios unidirecional com máquinas
número considerável de peças repetitiva e não repetitiva, as indústrias de peças idênticas em paralelo mas permitindo que estágios sejam pulados
para automóveis são um caso típico de SR. (overflow).
(NR) : Sistema de produção não repetitivo. A maioria dos itens são não (F8): processo multi-estágios unidirecional com máquinas não
repetitivos. idênticas em paralelo.
(LP): Projetos grandes. (F9): processo multi-estágios unidirecional com máquinas não
• Nível de Automação idênticas em paralelo, permitindo que estágios sejam pulados
(N): automação normal: compreende todo tipo de mecanização onde o ser (overflow).
humano tem um alto grau de participação na operação ou nível de execução. (F10): processo multi-estágios multi-direcional, por exemplo, o
(F): automação flexível: tem, na operação ou nível de execução, o controle por clássico sistema job-shop.
computador no papel principal, trabalhando em rede com controle numérico, (F11): processo multi-estágios multi-direcional com máquinas
normalmente com alguma forma de tecnologia FMS. idênticas em paralelo.
(R): automação rígida: é o tipo encontrado em linhas de transferência com (F12): processo multi-estágios multi-direcional com máquinas
equipamento altamente especializado e dedicado. não idênticas em paralelo.
(M): automação mista: ocorre onde o sistema de produção processa unidades
com diferentes níveis de automação.
CARACTERIZAÇÃO DO PRODUTO CARACTERIZAÇÃO DA MONTAGEM
• Descrição do Produto • Tipos de Montagem
• Estrutura do produto (A1): Mista ( ingredientes químicos, por exemplo ).
(SL): nível simples de produtos que não requerem montagem. (A2): Montagem de um grande projeto
(ML): nível de multi-produtos que requerem montagem. (A3): Montagem de produtos pesados
• Nível de Customização (A4): Montagem de produtos leves ( equipamentos médicos) em
(1): produtos customizados, quando os clientes definem todos os um posto de trabalho ou em um conjunto de postos de trabalho
parâmetros de design do produto. paralelos.
(2): produtos semi-customizados, quando os clientes definem parte do (A5): Linha de montagem ritmada, onde a linha nunca pára.
design do produto. (A6): Linha de montagem ritmada, onde a linha para por um
(3): customização “mushroom”. Mather (1998) descreve esse conceito número de unidades de tempo
como o atraso na diferenciação do produto tão tarde quanto possível no sistema (A7): Linha de montagem semi-ritmada, onde a linha não pára
de produção. Há um número de componentes ou módulos padrões que são A8: Linha de montagem não ritmada do tipo I
combinados de várias formas nos estágios finais do sistema de produção com (A9): Linha de montagem não ritmada do tipo II
poucas operações adicionais. • Tipos de organização do trabalho
(4): produto padrão, quando os clientes não interferem no design do (I): Trabalhadores individuais
produto. (T): Times de trabalho
• Número de produtos (G): Grupos de trabalho
(S): para um simples produto.
(M): para múltiplos produtos
Tabela 1: Atributos possíveis das dimensões e variáveis do MCMSP
Fonte: MACCARTHY & FERNANDES (2000)

A tabela 2 mostra uma relação entre as variáveis e a escolha do SPCP adequado.


Segundo MACCARTHY E FERNANDES (2000), todas as 12 variáveis consideradas nesta
classificação multi-dimensional têm impacto direto na complexidade das atividades de um
SPCP. A variável repetitividade é uma variável importante nesta classificação e acredita-se
ser a variável chave para a escolha da estrutura global de um SPCP. A última linha da
tabela 2 mostra os SPCP ideais de acordo com este modelo proposto. Enquanto o nível de
repetitividade tem um forte impacto na escolha do SPCP básico, as outras variáveis tem
impacto significante sobre a complexidade do detalhamento do SPCP.

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Nível de Repetitividade dos sistemas de produção


Outras variáveis contínuo semi- produção repetitivo semi- não-repetitivo grandes
puro contínuo em massa repetitivo projetos
Tamanho da Para todos os níveis de repetitividade, quanto maior a empresa, mais complexas são as atividades
Empresa de PCP
Tempo de Resposta DL(a-P%) DL(a-P%) DL(a-P%) DL(a-P%) PL+DL PL+DL ou SL+PL+DL
SL+PL+DL
Nível de Automação Rígido Rígido Rígido Normal ou Normal ou Normal ou Normal
Flexível Flexível Flexível
Estrutura dos Para todos os níveis de repetitividade, as atividades de PCP para multi níveis de produtos são
Produtos muito mais complicadas do que para produtos de nível único
Nível de Produtos Padronizado Padronizado Padronizado Mushroom Semi- Customizado
Customização Padronizad s ou s ou s ou ou semi customizado
os mushroom mushroom mushroom customizad ou
os customizado
Número de Produtos Para todos os níveis de repetitividade, as atividades de PCP para multi produtos são muito mais
complexas do que para produtos de nível único
Tipos de Layout Layout de Layout de Layout de Layout em Layout em Layout Layout de
Produto Produto Produto Grupo Grupo Funcional Posições fixas
Tipos de Estoque de (1) e (3) (1), (2) e (3) (1), (2) e (3) (1), (2) e (3) (1), (2) ou (1), (2) ou (2) Sem estoque
Segurança (1) de segurança
Tipos de Fluxo A complexidade das atividades de PCP aumentam de (F1) em direção a (F12)
Tipos de Montagem (A1) ou (A1) ou (A5) ou (A5) ou (A7) ou (A3) ou (A4) (A2)
desmonta desmonta (A6) ou (A6) ou (A8) ou ou não
gem gem (A7) ou não (A7) ou não (A9) ou não montagem
montagem montagem montagem
Tipos de Se existe montagem, o tipo de organização do trabalho tem um impacto direto na maneira a qual
organização do será feito o balanceamento do trabalho na montagem
trabalho
Sistemas básicos de Uma Uma Kanban Kanban ou PBC ou MRP PERT / CPM
controle da planilha planilha PBC OPT
produção possíveis para para
de serem escolhidos controlar a programar o
taxa de trabalho
fluxo
Tabela 2: As variáveis e a escolha de um sistema de PCP
Fonte: MACCARTHY & FERNANDES (2000)

3. Resultados
3.1 A Estratégia de Produção da Empresa
Segundo os gerentes, todos os objetivos de desempenho são importantes, porém a
qualidade e a pontualidade dos produtos preponderam. Buscando estes objetivos, algumas
estratégias da empresa podem ser identificadas:
Atividades de Projeto de Produtos:
- Estratégia de Desenvolvimento de novos produtos: a Faber possui equipe multifuncional
que trabalha no desenvolvimento de novos produtos, a partir de orientação de Marketing
com participação da área técnica.
- Estratégia de integração vertical: A integração vertical na área de esferográficas não é tão
acentuada quanto na área de lápis, onde até mesmo as atividades de plantio e
reflorestamento da madeira estão a cargo da empresa. Porém a empresa estuda no
momento a aquisição de um importante fornecedor de tintas.

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- Estratégias de Tecnologia: a empresa trabalha na maioria das vezes com tecnologia


conhecida. Um exemplo foi a aquisição, há dois anos, do sistema integrado de gestão R-3
da SAP.
Atividades de Planejamento e Controle da Produção:
- Estratégia de Ajuste de Capacidade: A demanda é sazonal, portanto a empresa adota uma
estratégia de nivelamento de capacidade ao longo do ano, suavizando a produção.
- Estratégia de desenvolvimento de Fornecedores: São escolhidos muitas vezes em
conjunto por área produtiva, marketing e compras. São monitorados regularmente quanto a
prazos e qualidade. Em alguns casos são de responsabilidade única da equipe de compras.
- Estratégia de Estoques: os estoques são monitorados por seção e buscam seguir médias
estabelecidas levando-se em conta critérios financeiros e comerciais, porém parece não
haver grande preocupação com os estoques por duas razões: os produtos são de baixo valor
agregado e a estratégia de nivelamento da produção (é uma estratégia que com certeza gera
estoques, uma vez que estoca-se nos períodos de baixa demanda para utilizar este estoque
nos períodos de alta demanda)
- Estratégia de Sistemas de Planejamento e Controle: É feita uma análise de capacidade a
longo prazo. Há grande ênfase na previsão de vendas pela demanda ser muito sazonal. Os
sistemas de PCP utilizados são o MRP e o Kanban.
Quanto às decisões estratégicas de melhoria:
- Estratégias de melhorias: o acompanhamento da produção é medido através da
comparação entre previsto e realizado, bem como utilizando-se o nível de atendimento aos
clientes. Este desempenho é controlado e deve seguir metas pré estabelecidas.
- Estratégias de prevenção de falhas: A empresa no momento não utiliza técnicas para
prevenção de falhas. Ela está em um processo de aprendizagem do FMEA.

3.2 Classificação do sistema de produção da área de canetas


O sistema de produção da caneta embalada em estojos foi dividido em 6 unidades
de processamento (UP): processo de fabricação da embalagem (UP1); processo de
fabricação do corpo da caneta (injeção) – (UP2); processo de fabricação da ponta (UP3);
processo de fabricação do tubo da carga (extrusão) – (UP4); processo de fabricação da
carga (UP5) e processo de montagem da caneta e embalagem (UP6). A relativa
independência entre essas unidades é conseguida pela colocação de buffers (figura 1).

UP1 UP6 (unidade


de
UP2 montagem)

UP3

UP4 UP5

Legenda:

=> Buffers

Figura 1: Relações entre as unidades de processamento e os buffers

O processo de fabricação de embalagens é composto basicamente de 5 operações:


corte em formato, impressão, corte e vinco, destaque e colagem. O número de itens que
passa por este processo é de aproximadamente 1000 e o layout é funcional. Os estoques

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existem antes do corte em formato, entre as operações e depois da colagem. Os produtos


são feitos para estoque e para ordem, mantendo-se estoque de matéria-prima disponível em
estoque. O sistema de PCP utilizado neste processo (UP1) é o MRP.
O processo de fabricação do corpo da caneta baseia-se em um processo de injeção
de plástico. O número de itens chega a 600 se levar em conta a cor ou 70 (o que é maisreal
para o controle da produção da UP2) se levar em conta o número de moldes diferentes e o
layout é estágio único (com máquinas paralelas). Os estoques existem antes e depois do
processo. Os produtos são feitos para estoque e para ordem mantendo-se estoque de
matéria-prima. O sistema de PCP utilizado neste processo (UP2) é o Kanban
O processo de fabricação da ponta é composto basicamente de sete operações:
rebubinamento, corte e conformação da ponta, eliminação das rebarbas, centrifugação,
microusinagem, nova centrifugação e lavagem. A segunda centrifugação é feita em uma
máquina diferente da primeira centrifugação. O número de itens produzidos é de apenas
três ( de acordo com o diâmetro da ponta) e o layout é por produto. Existem estoques antes
da primeira operação, após a última e entre as operações. Os produtos são feitos para
estoque, mantendo-se disponível estoques de matéria-prima (latão). O sistema de PCP
utilizado neste caso (UP3) também é o Kanban.
O processo de fabricação do tubo da carga é composto por um processo de
extrusão. O número de itens produzidos é de aproximadamente 12 itens e o layout é o do
tipo estação de trabalho simples. Existem estoques antes e depois do processo, e os
produtos são feitos para estoque. O sistema de PCP utilizado para este caso (UP4) é o
Kanban.
O processo de fabricação da carga é composto de uma célula produtiva, com
características flow shop, composta das seguintes operações: conformação da orla,
colocação da tinta e da ponta no tubo e centrifugação. O número de itens é de
aproximadamente 40. Existem estoques antes da primeira operação, entre as operações e
depois da última operação. Os produtos são feitos para estoque e para ordem. O Kanban é
o sistema de PCP utilizado também para este caso (UP5).
O processo de montagem da caneta e embalagem é bastante automatizado e
compreende: posicionamento das canetas, estampagem das canetas, colocação e aperto do
top, colocação da carga na caneta, colocação da ponteira, encaixe da ponteira, colocação da
tampa e embalagem da caneta nos estojos. Somente esta última operação é manual. O
número de itens chega próximo a 80. Existem estoques antes e depois da operação. Mais
uma vez, também para este processo (UP6) o Kanban é o sistema de PCP utilizado.
A classificação para cada uma das unidades de processamento do sistema de
produção para o sistema de produção da caneta embalada segue abaixo. A metodologia de
MACCARTHY & FERNANDES (2000) usa os símbolos (/) => (barra) para separar
dimensões e (_) => (underscore) para separar variáveis.

a) Processo de fabricação da embalagem (UP1):


L/PL+DL/NR/M/SL_2_M/F_1-2-3_F9

b) Processo de fabricação do corpo da caneta (injeção) – (UP2):


L/PL+DL/NR/M/SL_2_M/S_1-3_F3

c) Processo de fabricação da ponta (UP3):


L/DLa/RP/M/SL_4_M/P_1-2-3_F8

d) Processo de fabricação do tubo da carga (extrusão) – (UP4):


L/DLa/RP/M/SL_4_M/S_1-3_F1

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e) Processo de fabricação da carga (UP5):


L/PL+DL/SR/M/SL_2_M/G_1-2-3_F4

f) Processo de montagem da caneta e embalagem (UP6):


L/PL+DL/SR/F/SL_2_M/P_1-3_F4/A5/T

3.3 Comparação entre os SPCP encontrados na prática e os recomendados pela


metodologia
Na seção 3.2, os SPCP utilizados pela empresa foram apresentados juntamente com
a descrição dos processos de produção da mesma. Para se verificar as diferenças entre os
SPCP encontrados com aqueles propostos pela metodologia, basta verificar a tabela 3.
A análise da tabela 3 deixaremos para as conclusões.

Unidade de Processamento SPCP sugerido pela SPCP utilizado atualmente


metodologia
UP1 MRP MRP
UP2 PBC ou OPT Kanban
UP3 Kanban ou PBC Kanban
UP4 Kanban ou PBC Kanban
UP5 PBC ou OPT Kanban
UP6 PBC ou OPT Kanban
Tabela 3: SPCP indicados pela metodologia e os encontrados na prática: comparação

4. Conclusões

Para as unidades de processamento UP1, UP3 e UP4 houve coincidência entre os


SPCP encontrados na prática e os recomendados pela metodologia. Há uma certa
discrepância para as unidades de processamento UP2, UP5 e UP6. Escolhendo o sistema
mais simples para cada UP, o PBC também seria adotado e teríamos na empresa 3 sistemas
de PCP ao invés de 2. Isso levanta uma difícil questão que pretendemos estudar no futuro,
a saber: (i) é melhor controlar a produção de cada unidade de processamento pelo sistema
de PCP ideal para cada uma ou, (ii) é melhor adotar um número pequeno de sistemas que
em termos médios nos leva a um nível razoável de eficácia (atingimento dos objetivos
estratégicos) e eficiência (boa utilização dos recursos disponíveis) ? Intuitivamente, mas
não comprovadamente, a empresa entende que a alternativa (ii) seja vantajosa.
Portanto a análise dos SPCP encontrados na prática e os sugeridos pela metodologia
de MACCARTHY & FERNANDES (2000) nos levaram a pequenas diferenças. Além das
razões já explicadas acima, acreditamos que a estratégia de produção também tem um
papel importante na escolha do mais adequado SPCP para uma empresa. Esta integração
entre o Planejamento e Controle da Produção (PCP) e a Estratégia de Produção é um
assunto que até o início dos anos 90 permaneceu perdido na literatura da área de Gestão da
Produção (ADAN JR. & SWAMIDAS (1989); LEONG et al (1990)). Porém este assunto
vêm crescendo em importância. Prova disso são os trabalhos de VOLMANN et al (1992),
o qual estuda a necessidade de conceber sistemas PCP que suportem as direções
estratégicas da companhia; de CORRÊA & GIANESI (1993) os quais enfatizam a
necessidade de se escolher estrategicamente os sistemas de administração da produção; e o
de PIRES (1995) o qual também estuda a integração entre a estratégia da produção e PCP.
Em nosso estudo de caso constatamos que os objetivos de desempenho prioritários
para a empresa são a qualidade e pontualidade. É consenso na literatura que o sistema
kanban em nível de controle proporciona benefícios em termos de qualidade e
pontualidade do que os outros sistemas de PCP. Nas palavras de PIRES (1995): “... as

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indústrias que priorizam o desempenho das entregas e a qualidade e que possuem uma
pequena variabilidade no volume e no mix produtivo têm um grande potencial para
usufruir do sistema de controle kanban...”. Concluímos portanto que a empresa busca no
kanban favorecer seus objetivos competitivos prioritários.
Outro fato que favorece a implantação do kanban na empresa também está ligada à
estratégia de produção da empresa, mais especificamente as estratégias ligadas ao
planejamento e controle da empresa: a empresa trabalha com produção suavizada ao longo
do ano, favorecendo em muito o kanban, o qual tem como premissa básica uma demanda
constante. Neste ponto uma observação importante deve ser feita: apesar do sistema
kanban ser favorecido pela estratégia de suavização da produção, este não é usado, na
empresa de acordo com a filosofia just in time (JIT), ou seja produzir apenas quando
necessário, para ordens confirmadas. A empresa se utiliza de um kanban modificado, o
qual produz para previsão de vendas e para estoque.

5. Referências Bibliográficas

ADAN JR., E.E. & SWAMIDAS, P.M.: Assessing Operations Management from a
Strategic Perspective. Journal of Management, v.15, n.2, 1989.
AGGARWAL, S.C.: MRP, JIT, OPT, FMS? Harvard Business Review, Sept/Oct 1985.
CORRÊA, H.L. & GIANESI, I.G.N.: Just in Time, MRP II e OPT – Um enfoque
estratégico. Ed. Atlas, 2a Edição, 1993.
GODDARD, W.: Kanban versus MRPII – which is the best for you? Modern Materials
Handling, Nov 1982.
GSTETTNER, S. & KUHN, H.: Analysis of production control system kanban and
CONWIP. International Journal of Production Research, v.34, n.11, 1996.
HUANG, C.C. & KUSIAK, A.: Manufacturing Control with a push-pull approach.
International Journal of Production Research, v.36, n.1, 1998.
LEONG, G.K. et al : Research in the Process and Content of Manufacturing Strategy.
Omega – The International Journal of Management Science, v.18, n.2, 1990.
MACCARTHY, B.L. & FERNANDES, F.C.: A multidimensional Classification of
Production Systems for the Design and Selection of Production Planning and
Control Systems. Production Planning & Control, v.11, n.5, 2000.
MILTENBURG, J.: Comparing JIT, MRP and TOC, and embedding TOC into MRP.
International Journal of Production Research, v.35, n.4, 1997.
PIRES, S.: Gestão Estratégica da Produção. Editora UNIMEP, 1995.
PTAK, C.A.: MRP, MRPII, OPT, JIT and CIM: succession, evolution or necessary
combination? Production and Inventory Management Journal, v.32, n.2, 1991.
SLACK, N., CHAMBERS, S., HARLAND, C., HARRISON, A., e JOHNSTON, R.:
Administração da Produção. Ed. Atlas, 1997.
VAN DER LINDEN, P.M.J. & GRÜNWALD, H.: On the choice of a production control
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VOLMANN, T.E. et al : Manufacturing Planning and Control Systems. Homewood:
Business one Irwin, 1992.

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