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Morfologia da

Língua
Portuguesa

Profª. Rosangela Marçolla

Indaial – 2021
3a Edição
Elaboração:
Profª. Rosangela Marçolla

Copyright © UNIASSELVI 2021

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

M321m

Marçolla, Rosangela

Morfologia da língua portuguesa. / Rosangela Marçolla –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

214 p.; il.

ISBN 978-65-5663-685-6
ISBN Digital 978-65-5663-684-9

1. Língua portuguesa. - Brasil. II. Centro Universitário


Leonardo da Vinci.
CDD 469

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico! Estamos iniciando os estudos de Morfologia da Língua
Portuguesa, na modalidade de ensino a distância, em nível de graduação. É uma ótima
oportunidade para você ter uma formação acadêmica de alta qualidade, dominando os
conteúdos necessários para o seu campo de aprendizagem.

O estudo traz os conceitos fundamentais para a compreensão dos aspectos


morfológicos da Língua Portuguesa, com leituras e atividades que auxiliarão na fixação
do conteúdo.

O material será apresentado em três unidades, contendo três tópicos em


cada uma delas e ainda as divisões por assunto. Todos os pontos serão explicados,
exemplificados para que você entenda de modo fácil, principalmente, na hora de resolver
as questões relativas ao conteúdo.

A Unidade 1 apresenta os conceitos de Morfologia, o significado dos termos


palavra e vocábulo, os estudos de morfologia gerativa, que alterou a forma que se
conhecia tradicionalmente e encerramos essa parte com os neologismos, a dinâmica
da nossa língua sempre se atualizando.

A Unidade 2 aborda as classes gramaticais: substantivo, adjetivo, verbo e


advérbio, seus conceitos, flexões, gênero, número e grau. É de suma importância, nessa
parte, o conhecimento detalhado dessas classes de palavras e o acompanhamento de
leituras e práticas para o melhor entendimento.

A Unidade 3 traz mais classes gramaticais: numeral, artigo, pronome, preposi-


ção, conjunção e interjeição e, da mesma forma, o estudo minucioso de cada elemento,
seus conceitos, tipos, formas, flexões e classificações. Mais uma vez, lembramos que
fazem parte do aprendizado as práticas e as leituras para a fixação do conteúdo.

Temos a certeza de que vamos caminhar muito bem, lado a lado. Aproveite a leitura!

Bons estudos!

Profª. Rosangela Marçolla


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - ESTRUTURA DAS PALAVRAS: PROCESSOS DE FORMAÇÃO
DE PALAVRAS......................................................................................................................... 1

TÓPICO 1 - ESTUDOS DE MORFOLOGIA................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 CONCEITOS DE MORFOLOGIA.............................................................................................3
2.1 PALAVRA E VOCÁBULO........................................................................................................................8
3 MORFOLOGIA GERATIVA E TEORIA GERATIVA TRANSFORMACIONAL...........................11
4 NEOLOGISMO..................................................................................................................... 15
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 19

TÓPICO 2 - APORTES TEÓRICOS DE MORFOLOGIA........................................................... 23


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 23
2 FORMAÇÃO DE PALAVRAS.............................................................................................. 23
3 MORFEMA.......................................................................................................................... 24
3.1 TIPOS DE MORFEMAS ........................................................................................................................ 27
3.2 MORFEMA, MORFE E ALOMORFE....................................................................................................28
4 FORMAS LIVRES, FORMAS PRESAS E FORMAS DEPENDENTES.................................. 29
5 ELEMENTOS MORFOLÓGICOS ......................................................................................... 32
5.1 RADICAL E RAIZ....................................................................................................................................32
5.1.1 Radicais gregos e latinos...........................................................................................................32
5.2 VOGAIS TEMÁTICAS............................................................................................................................34
5.3 DESINÊNCIAS.......................................................................................................................................35
5.4 VOGAIS E CONSOANTES DE LIGAÇÃO (INFIXOS) .......................................................................36
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 38
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 40

TÓPICO 3 - PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS.................................................. 43


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 43
2 COMPOSIÇÃO.................................................................................................................... 44
2.1 OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS................................................................44
2.1.1 Hibridismo.....................................................................................................................................44
2.1.2 Onomatopeias.............................................................................................................................45
2.1.3 Sigla...............................................................................................................................................46
3 DERIVAÇÃO........................................................................................................................47
3.1 TIPOS DE DERIVAÇÃO.........................................................................................................................49
3.1.1 Afixos: prefixos e sufixos............................................................................................................49
3.1.2 Parassíntese................................................................................................................................52
3.1.3 Derivação regressiva.................................................................................................................53
3.1.4 Derivação imprópria .................................................................................................................53
LEITURA COMPLEMENTAR..................................................................................................57
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 58
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................59

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 62
UNIDADE 2 — CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO, ADJETIVO,
VERBO E ADVÉRBIO..............................................................................................................67

TÓPICO 1 — SUBSTANTIVO E ADJETIVO............................................................................ 69


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 69
2 FLEXÃO NOMINAL............................................................................................................. 69
2.1 MORFEMAS FLEXIONAIS (DESINÊNCIAS)....................................................................................... 72
3 SUBSTANTIVO...................................................................................................................75
3.1 CONCEITO DE SUBSTANTIVO............................................................................................................ 75
3. 2 FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS ........................................................................................................ 76
3.3 GRAU DOS SUBSTANTIVOS..............................................................................................................78
4 ADJETIVO...........................................................................................................................79
4.1 CONCEITO DE ADJETIVO................................................................................................................... 80
4.2 FLEXÃO DOS ADJETIVOS..................................................................................................................82
4.3 GRAU DOS ADJETIVOS......................................................................................................................83
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................87
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 88

TÓPICO 2 - VERBO: ESTRUTURA, FLEXÃO E CONJUGAÇÃO............................................. 91


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 91
2 ASPECTO VERBAL............................................................................................................. 91
3 ESTRUTURA VERBAL ....................................................................................................... 94
4 FLEXÃO VERBAL................................................................................................................96
5 PADRÃO GERAL DE FLEXÃO VERBAL ............................................................................ 101
6 FORMAS NOMINAIS DOS VERBOS..................................................................................103
7 CONJUGAÇÃO VERBAL...................................................................................................105
7.1 VERBOS REGULARES ....................................................................................................................... 107
8 MODO INDICATIVO...........................................................................................................109
9 MODO SUBJUNTIVO........................................................................................................ 110
10 VERBOS IRREGULARES................................................................................................. 113
11 VERBOS REGULARES E IRREGULARES: TEMPOS COMPOSTOS................................. 114
12 MODO IMPERATIVO........................................................................................................ 116
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................120
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................122

TÓPICO 3 - ADVÉRBIO: VALORES MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS..............................125


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................125
2 CONCEITO DE ADVÉRBIO................................................................................................125
3 CLASSIFICAÇÃO DOS ADVÉRBIOS.................................................................................129
4 O GRAU DO ADVÉRBIO.................................................................................................... 131
5 LOCUÇÃO ADVERBIAL ....................................................................................................132
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................134
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................135
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................136

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................138
UNIDADE 3 — CLASSES DE PALAVRAS: NUMERAL, ARTIGO, PRONOME,
PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO................................................................... 141

TÓPICO 1 — NUMERAL E ARTIGO.......................................................................................143


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................143
2 NUMERAL.........................................................................................................................143
2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NUMERAIS...................................................................................................146
2.2 FLEXÃO DOS NUMERAIS................................................................................................................. 147
2.3 UTILIZAÇÃO DOS NUMERAIS..........................................................................................................148
3 ARTIGOS...........................................................................................................................150
3.1 ARTIGOS DEFINIDOS...........................................................................................................................151
3.2 ARTIGOS INDEFINIDOS..................................................................................................................... 152
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................ 157
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................158

TÓPICO 2 - PRONOMES...................................................................................................... 161


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 161
2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRONOMES................................................................................. 161
2.1 PRONOMES INDEFINIDOS ................................................................................................................167
2.2 PRONOMES PESSOAIS.....................................................................................................................168
2.3 PRONOMES POSSESSIVOS ............................................................................................................. 171
2.4 PRONOMES DEMONSTRATIVOS..................................................................................................... 172
2.5 PRONOMES DE TRATAMENTO........................................................................................................ 175
2.6 PRONOMES INTERROGATIVOS........................................................................................................177
2.7 PRONOMES RELATIVOS.................................................................................................................... 178
3 PRONOMES ADJETIVOS E PRONOMES SUBSTANTIVOS.............................................. 179
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................182
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................183

TÓPICO 3 - PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO................................................187


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................187
2 VALORES SEMÂNTICOS DAS PREPOSIÇÕES................................................................187
2.1 TIPOS DE PREPOSIÇÕES .................................................................................................................188
2.2 LOCUÇÕES PREPOSITIVAS..............................................................................................................191
2.3 USO DAS PREPOSIÇÕES.................................................................................................................. 192
3 CONJUNÇÕES..................................................................................................................195
3.1 CONCEITO DE CONJUNÇÕES.......................................................................................................... 195
3.2 TIPOS DE CONJUNÇÕES................................................................................................................. 197
3.2.1 Conjunções coordenativas e subordinativas.................................................................... 197
4 INTERJEIÇÕES................................................................................................................201
4.1 CONCEITO.............................................................................................................................................201
4.2 TIPOS DE INTERJEIÇÕES............................................................................................................... 202
4.3 UTILIZAÇÃO DE INTERJEIÇÕES NO TEXTO................................................................................ 203
4.4 INTERJEIÇÕES COMO MARCADORES ORAIS............................................................................ 204
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................... 206
RESUMO DO TÓPICO 3....................................................................................................... 207
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 208

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 211
UNIDADE 1 -

ESTRUTURA DAS PALAVRAS:


PROCESSOS DE FORMAÇÃO
DE PALAVRAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o significado da Morfologia e sua evolução dentro do campo científico;

• aprender a estrutura de palavras da Língua Portuguesa, diferenciando os processos


de flexão, composição e derivação;

• entender os fundamentos da classificação de palavras, formação de palavras e dos


morfemas e conseguir analisar morfologicamente as palavras;

• dominar o conteúdo para utilizá-los em atividades práticas.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ESTUDOS DE MORFOLOGIA


TÓPICO 2 – APORTES TEÓRICOS DE MORFOLOGIA
TÓPICO 3 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
ESTUDOS DE MORFOLOGIA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico! Iniciaremos nossos estudos de morfologia para que você


entenda a dinâmica de nossa língua, perceba a evolução das pesquisas nessa área do
conhecimento, partindo de apontamentos tradicionais até chegar à morfologia gerativa.

Para cumprir a proposta deste tópico, vamos conhecer as características dos


termos “palavra” e “vocábulo”, mostrando suas diferenças e suas especificidades e, em
seguida, mostrar a atualização do modo de expressão da língua portuguesa por meio de
neologismos.

Esperamos que você perceba a importância desses estudos de Morfologia da


Língua Portuguesa e aproveite ao máximo as indicações de leituras para complementar
os conceitos, além de refletir sobre eles por meio dos exercícios propostos.

2 CONCEITOS DE MORFOLOGIA
FIGURA 1 – ESCRITA ANTIGA

FONTE: <https://bit.ly/38Eqi4A>. Acesso em: 2 fev. 2021.

3
A língua portuguesa é dinâmica e se modifica de tempos em tempos. A lín-
gua falada tem uma evolução mais rápida, atualiza-se por meio de expressões novas
com o intuito de comunicar-se com seu público determinado, ao passo que a língua
escrita permanece mais arraigada às suas origens, apesar de também sofrer algumas
mudanças.

É importante lembrar, caro acadêmico, que conhecer o passado das estruturas


formais da língua faz parte da compreensão da forma como nos expressamos hoje. Com
isso, vamos dar início aos nossos estudos.

A morfologia é um campo diferente na área da Linguística porque seu estudo


deriva não só dos fatos da morfologia em si mesma, mas da maneira como ocorre a
interação com os outros ramos da Linguística como o Léxico, a Fonologia e a Sintaxe.

O estudo da morfologia e sua relação com outras áreas da Gramática, como


a Fonologia, a Sintaxe e a Semântica tem sido o principal motivador pelos estudos
morfológicos nos últimos anos. Isso se deve ao fato de não entender o morfema como
elemento isolado sem relacioná-lo a outros termos de diversas naturezas.

Pesquisadores se debruçam sobre os estudos para facilitar a compreensão


dessa interação de áreas, o que faz que surjam controvérsias. Como consequência,
ressalta-se a questão da existência da morfologia como componente autônomo ou
dependente de outros componentes gramaticais. Vamos entender a morfologia como
uma área de estudos da Linguística, com suas ideias tradicionais e, posteriormente,
suas mudanças de concepções.

Morfologia significa morphe, ‘forma’ (do grego) e logos, ‘estudo’, ‘tratado’.


Morfologia é o estudo da forma e, no campo linguístico, a forma das palavras. O termo
morfologia tem registro no século XIX, apesar de a palavra sempre se posicionar no
centro da gramática, principalmente nos estudos tradicionais.

A Morfologia tem uma história recente no Brasil. A sua relevância se dá pela


influência do Estruturalismo, que coloca a morfologia como objeto de estudo de
forma sistêmica, valorizando sua importância na compreensão da língua portuguesa.

4
NOTA
Para entender o estruturalismo: O Estruturalismo surge nas primeiras décadas do século
XX como uma teoria que interpreta os elementos da cultura humana como unidades que
se relacionam entre si em uma estrutura sistêmica. Uma característica que distingue o
estruturalismo de outras propostas teóricas está em ter sido utilizado em vários campos
das ciências humanas, tais como a antropologia e a sociologia, além, naturalmente, da
linguística. Ademais, a concepção estruturalista do mundo e dos fenômenos atinentes à
vida humana deu oportunidade para que suas teses também fossem agasalhadas
nas artes visuais, de tal sorte que hoje se pode entender o estruturalismo como
um efetivo movimento filosófico que integra a episteme do século XX. Embora
as bases do estruturalismo linguístico tenham-se fundado nas primeiras
décadas do século, sobretudo com as teses de Ferdinand de Saussure (1857-
1913) e os trabalhos subsequentes da Escola de Praga – notadamente
Roman Jakobson (1896- 1982) e Nikolai Trubetzkoy (1890-1938) –, o
estruturalismo somente chegou ao Brasil nos últimos anos da década
de 1930, mais especificamente em 1938, quando Joaquim Mattoso
Câmara Júnior (1904-1970) ministra o primeiro curso de linguística
geral na universidade brasileira – Universidade do Distrito Federal.
Com a publicação do volume Princípios de linguística geral (1941),
Mattoso Câmara consolida em órbita bibliográfica a inserção das teses
estruturalistas no cenário acadêmico brasileiro, inspirado, sobretudo,
em Roman Jakobson e em Leonard Blomfield (1887-1949). A partir desse
momento, os estudos linguísticos brasileiros cingem-se em uma bifurcação que
põe em caminhos distintos, de um lado, os estudos histórico-comparativos, de
base diacrônica e caráter empírico, que vinham predominando na descrição
do português desde as últimas décadas do século XIX, e, de outro, os estudos
estruturalistas, de base sincrônica e caráter formal, pautados na concepção
sistêmica da língua. Ao longo de pelo menos três décadas, vários textos
sobre linguística geral e descrição do português, inspirados nas teses
estruturalistas, multiplicaram-se de maneira tão avassaladora que muitos
linguistas contemporâneos chegam a afirmar equivocadamente que se
deve a Joaquim Mattoso Câmara Jr. a introdução da ciência linguística no
Brasil (CAVALIERE, 2018, p. 1-2).

A morfologia ganhou espaços nos estudos formais, em termos linguísticos, e


passou a ser estudada com mais afinco. Para se entender melhor, é o momento de se
conceituar as denominações que serão utilizadas ao longo deste material didático.

Os estudos da língua portuguesa evoluíram ao longo das décadas, mostrando


caminhos diferentes de entendimento em todos os níveis. Aprendemos que a língua
escrita é diferente da falada, pois segue preceitos rígidos aprendidos principalmente
nas escolas.

Apesar da mudança de pensamento dos linguistas e de suas pesquisas mais


atuais, ainda se preserva certo engessamento no ensino da língua. A norma culta aos
poucos vai dividindo seu espaço com outras formas de expressão.

5
No campo da morfologia, as classes de palavras são estudadas e utilizadas
para fins didáticos para facilitar a classificação dos vocábulos. Hoje, sabe-se que essa
classificação não é mais tão hermética assim, verificando-se termos em deslocamento:
verbos, adjetivos que ocupam o lugar de substantivos, por exemplo.

O pesquisador Marcos Bagno (2013) partilha seus conhecimentos dizendo que


o professor deve ser um profundo conhecedor da gramática normativa para poder
mediar a análise linguística de maneira apropriada. Verifica que:

É essa necessidade semântico-pragmática o motor de tudo quanto


fazemos com a linguagem. Por esse caráter, é que as classificações
gramaticais da língua não devem ser tomadas como fixas e defini-
tivas. ‘Teorias linguísticas contemporâneas tentam mostrar que as
palavras navegam pela nebulosa da língua sem respeitar frontei-
ras rígidas, sem se encaixar nessa ou naquela classe gramatical’.
[...] As classes gramaticais não são mesmo campos fechados, ‘mas,
sim, domínios conceituais com um centro definido e bordas fluidas,
por onde as palavras podem entrar e sair sem dificuldade’ (BAGNO,
2013, p. 108-109).

Essa ideia mostra que há abertura para entendermos as palavras não apenas
a partir de classificações como se dá em outras áreas de estudos. As ciências naturais
definem as classificações de animais, vegetais e minerais, por exemplo.

Nos estudos de língua portuguesa, percebemos mobilidade nos termos já


classificados morfologicamente, que podem ser utilizados pelos seus sentidos, pela sua
função em uma frase etc.

Quando se trata do ensino da gramática nas escolas, principalmente para os


alunos de educação básica, que estão recebendo as primeiras noções, é importante
prestar atenção nas palavras do pesquisador Fábio Araújo Oliveira (2021, p. 3).

Para um ensino de morfologia bem-sucedido, é necessário considerar


vários fatores, e um deles diz respeito à formação do professor
e ao seu letramento profissional, ou seja, as práticas de leitura e
escrita que o auxiliam no exercício profissional. Ensinar morfologia
é ensinar gramática, e para ensinar gramática é necessário tanto um
conhecimento de mundo e interdisciplinar, quanto ter acesso a teorias
e documentos que orientam ou regulam o ensino de língua. Além
disso, é preciso ter acesso a conhecimentos específicos, a saber: a
gramática normativa; teorias linguísticas que descrevem a língua e o
seu uso, e que normalmente contribuem para aprimorar o conteúdo
da gramática normativa; teorias linguísticas sobre a construção do
sentido etc. Tais conhecimentos devem ser mobilizados para orientar
o aluno no uso da língua oral ou escrita, em suas práticas de escuta,
leitura e produção, bem como de reflexão gramatical propriamente
dita, considerando o nível de aprendizagem do aluno.

E, ainda, nas palavras de Oliveira (2021, p. 8), os alunos devem ter mais
informações sobre todos os fatos que o cercam, ler, buscar saber, pesquisar, pois:

6
saber gramática normativa não garante que se saiba trabalhar a
gramática funcionando no texto em sala de aula. É preciso mais. É
preciso conhecimento de mundo, de análise de textos, de análise de
discursos etc. É preciso conhecimento de Literatura, Artes em geral,
História, Antropologia, Sociologia etc. É preciso ter um letramento
profissional realmente amplo, elástico, com circuito em várias áreas.
A perspectiva da gramática funcionando no texto também se aplica
para a produção de textos, pelos mesmos motivos que abordamos
quanto à interpretação textual.

A morfologia antes ensinada de maneira desvinculada das outras áreas ganhou


enfoques mais amplos. Partiremos da base, das conceituações necessárias para o
entendimento da estrutura da língua portuguesa. Vamos conferir o que diz o pesquisador
Coneglian (2020, p. 6) sobre os estudos de gramática numa abordagem mais atual.

As definições das classes, como observam Croft (2001) e Neves


(2016), são, em sua maioria, nocionais, fundamentadas em critérios
de ordem semântica e não em seu comportamento morfossintático,
fato do qual decorrem a impropriedade e a inadequação desse tipo
de definição na caracterização das classes.
Um exemplo de definição nocional das classes de palavras é oferecido
em:
(01)
Substantivos denotam pessoas, coisas ou lugares.
Adjetivos denotam propriedades.
Verbos denotam ações.
Guiando-se pelos critérios em (01), uma palavra como sonegação
não denota nenhuma das propriedades que lá vêm postas, no
entanto seria errôneo afirmar que essa palavra não pertence à classe
dos substantivos. De semelhante modo, um verbo como considerar,
que não expressa nem uma ação nem um evento, não pertenceria à
classe dos verbos. No caso de palavras como cadeira e correr, que,
respectivamente, denotam uma coisa e uma ação, elas pertencem às
classes dos substantivos e dos verbos. Ora, as definições nocionais
geralmente captam as propriedades dos membros prototípicos
de uma determinada classe, isto é, aqueles membros que melhor
representam uma determinada classe de palavras, e, a todos os
membros da classe são atribuídas as propriedades dos protótipos.
[ ...]
Ainda que dominantes na caracterização das classes de palavras,
as definições nocionais podem ser acompanhadas por definições
funcionais, que privilegiam justamente o papel que as palavras
desempenham na construção da oração.

Os estudos de gramática têm sido direcionados para uma nova visão dos
termos que compõem uma frase. Trata-se de análise e de reflexão das palavras para a
compreensão das mensagens. Assim, autores se debruçam em pesquisas que tentam
explanar conceitos, principalmente para os profissionais que se encaminham para a
docência da língua portuguesa.

Uma ideia para quem ensina língua portuguesa é trabalhar todos os conceitos
utilizando textos próprios para cada faixa etária, principalmente estabelecendo
comunicação com os alunos a partir do grau de interesse que se pode oferecer a eles.

7
Os textos eleitos para o trabalho em sala de aula devem ser textos
autênticos, falados ou escritos. Textos produzidos para uma dada
finalidade. Textos funcionais. Textos facilmente encontrados em
diversificados suportes porque “toda manifestação real da língua se
dá na forma de textos” (BAGNO, 2012, p. 78), que se apresentam de
diferentes formas e estilos e que passamos a tomar consciência deles
na educação básica como gêneros textuais, uns mais monitorados
que outros porque assim exige o gênero. São esses textos que devem
servir de base para as reflexões, levantadas pelo professor nas aulas
de português (GOMES, 2019, p. 48).

Oferecemos aqui as classificações das palavras, que partem dos estudos da


gramática normativa, para o encontro de outras linhas de pensamento, pois facilitam
o trabalho se partirmos de um ponto já determinado outrora para entendermos os
novos caminhos.

A ideia é fazer com que não nos apeguemos exclusivamente ao ensino das
classes de palavras, percebendo a sua fruição livre dentro do texto. E que você possa
conhecer a língua portuguesa e transformar os seus ensinamentos em atividades
dinâmicas e interessantes para seus alunos.

DICAS
Como sugestão, indicamos o texto Como as palavras se organizam
em classes, de Maria Helena de Moura Neves, resultado de palestra
proferida no Museu da Língua Portuguesa. Acesse em: <https://bit.
ly/3zIbi1r>.
Sugerimos, também, assistir à entrevista com a pesquisadora Maria
Helena de Moura Neves sobre sua atuação nos estudos linguísticos do
Brasil, incluindo seu papel como funcionalista e suas contribuições para
o ensino e a pesquisa. Acesse em: <https://www.youtube.com/watch?v=_
O9CW7fSmDk>.

Para avançar nos conhecimentos linguísticos é importante resgatar os estudos


que deram sustentação a novos conceitos. Vamos ver como se definem palavra e
vocábulo, essenciais para a compreensão da análise morfológica.

2.1 PALAVRA E VOCÁBULO


Segundo o dicionário Michaelis (PALAVRA..., 2021, s.p.), a definição de palavra:

8
1 LING. Unidade mínima com som e significado que, sozinha, pode
constituir um enunciado; vocábulo.
2 Unidade da língua composta de um ou mais fonemas que, em
língua escrita, se transcreve entre dois espaços em branco, ou entre
um espaço em branco e o sinal de pontuação.
3 GRAM. Unidade que pertence a uma das grandes classes
gramaticais, como substantivo (quando expressa um objeto), verbo
(quando expressa uma ação), adjetivo (quando expressa uma
qualidade), preposição (quando expressa relação) etc. Considerando
apenas seu significado, sem levar em conta as modificações que nela
ocorrem com as marcações flexionais; vocábulo.

A palavra serve para expressar uma ideia. Pensamos em uma mesa. Aí vem a
imagem desse objeto imediatamente.

FIGURA 2 – MESA

FONTE: <https://bit.ly/3kUHjx0>. Acesso em: 2 fev. 2021.

Então, podemos entender que a palavra nomeia os objetos e as pessoas. É uma


forma de facilitar o entendimento das conversas e a comunicação entre as pessoas. E,
mais importante que isso, permite o reconhecimento dos objetos, das pessoas e assim
por diante.

A palavra é o primeiro sentido da evolução humana. Não apenas emitimos sons,


mas pronunciamos palavras e nos comunicamos por meio delas, o que nos difere dos
outros animais. Está muito fácil de entender até agora. E quando definimos vocábulo?

Vocábulo é a palavra considerada apenas quanto à sua forma,


independentemente da significação que nela se encerra.
[Gramática] Cada uma das partes átonas que fazem referência ao
léxico, nomeadamente as conjunções, as preposições, os pronomes
oblíquos e os artigos que, não possuindo a capacidade de formar um
enunciado, se juntam a outros dando origem a um termo fonético.
Gramática] Unidade linguística com significado; palavra.
[Linguística] Entrada de dicionário; termo, verbete (VOCÁBULO...,
2021, s.p.).

9
O vocábulo é a palavra usada para demonstrar objetos, pessoas, sentimentos.
O ato de atribuir um nome é o que significa etimologicamente um vocábulo. Vem do
latim vocare e quer dizer chamar ou dar um nome. Melhor dizendo, o vocábulo equivale
a uma palavra.

Os dois termos têm semelhanças e causam dúvidas sempre. Podemos dizer


que toda palavra é um vocábulo, mas nem todo vocábulo é uma palavra, isto é, só são
palavras os vocábulos que apresentam significação lexical. O vocábulo é neutro e a
palavra pode ser flexionada.

O vocábulo é uma palavra que pode ser nome ou verbo. Quando acrescentamos
uma desinência, nem que seja apenas “s” formador de plural, criamos uma nova palavra,
mas não um novo vocábulo.

IMPORTANTE
Quando consultamos o dicionário não o fazemos por palavras, e sim por
vocábulos. Não procuramos a palavra “cantassem” e sim o vocábulo "cantar”.
Vocabulário seria, então, o conjunto de vocábulos. E dizemos que conhecer
uma quantidade razoável de vocábulos facilita a dinâmica da comunicação
entre as pessoas, enriquecendo o diálogo.

Há dois tipos de vocábulos, o lexical e o gramatical. Vocábulos lexicais são


aqueles que representam ideias e vocábulos gramaticais os que não traduzem ideias,
mas, servem para estabelecer relações entre as palavras, o que chamamos também
de funções dentro de um contexto. Temos o seguinte exemplo: O copo é de cristal.
Entendemos o que significa copo, cristais separadamente, mas o, de não carregam
significados por si só. Eles ligam os termos para a compreensão da mensagem. No
caso, o artigo o é definido e significa que estou falando de um determinado copo e a
preposição de leva a pensar no material de que o copo é feito.

Vamos ainda esclarecer mais alguns pontos. A  palavra  é constituída de


elementos materiais (vogais, consoantes, semivogais, sílabas, acento tônico) a que se
dá um sentido e que se permite uma classificação.

Representamos graficamente cada palavra separada por um espaço. Exemplo:


“o menino ganhou uma bola”, temos cinco palavras, ou seja, o, menino, ganhou, uma,
bola, mas, podemos ver outro exemplo: meu guarda-chuva é preto. Nesse caso, temos
cinco palavras, porém com o sentido de quatro. Assim: meu, guarda-chuva, é, preto.
Portanto, se estudarmos as palavras apenas no seu sentido morfológico não teremos a
clara noção do contexto. O direcionamento para que se entenda essa questão é agregar
a função da palavra à morfologia.

10
Outro ponto importante diz respeito à fonologia. Ao dizer detergente (produto) e
deter gente (prender gente), molho (de tomate), molho (de molhar), os sons ou as grafias
podem ser iguais ou parecidos restando entender o contexto em que se inserem para
que percebam a diferenças entre elas.

Vamos avançar mais, entendendo os meandros da nossa língua portuguesa,


passando para o estudo da morfologia gerativa e teoria gerativa transformacional, que
vai nos mostrar como se reformulam as ideias dentro do campo científico.

3 MORFOLOGIA GERATIVA E TEORIA GERATIVA


TRANSFORMACIONAL
Dando início aos estudos de gramática, que por definição tratam de um
sistema de regras, unidades e estruturas de que o falante de uma língua (emissor) tem
conhecimento e a utiliza para expressar suas ideias. A partir da leitura do artigo de Lima
e Neves (2019), podemos conceituar os tipos de gramática:

• Normativa: tem como regra algo que deve ser seguido como norma geral. Não se
admite variações linguísticas, pois serão consideradas como erros gramaticais.
São regras ensinadas nas escolas de uma forma geral e encontradas nos textos
acadêmicos, científicos e etc.
• Descritiva: a sua utilização deve corresponder à fala dentro de um grupo específico.
A forma como as pessoas se expressam são variáveis, específicas que devem
ser respeitadas dentro desses limites, pois o que não faz parte do vocabulário da
comunidade transforma-se em erro. Aqui podemos realçar os regionalismos, a
forma de expressão e as palavras utilizadas em locais diferentes, como mandioca,
macaxeira, aipim, que são conhecidas por seus nomes em cada região determinada.
• Internalizada: considerada a forma nata de linguagem, a forma inicial de expressão
que se aprende e se consolida com o passar do tempo. É a forma como o indivíduo,
principalmente a criança, se comunica com as pessoas em seu entorno apenas
pelo conhecimento básico de sua língua materna. Exemplo: eu cabo no carrinho, eu
sabo... Esse tipo de conhecimento deve ser ampliado por meio da aprendizagem de
outros vocábulos, sua construção dentro de um pensamento lógico e o domínio da
expressão de seu próprio idioma.

QUADRO 1 – TIPOS DE GRAMÁTICA

11
FONTE: <https://bit.ly/3td8abo>. Acesso em: 14 jun. 2021.

Vamos, em primeiro lugar, falar de gramática normativa: aquela que prescreve as


regras, normas gramaticais de uma língua. Serve-se das regras gramaticais tradicionais
e o uso da língua utilizando termos considerados clássicos e formais, encontrados em
obras literárias mais antigas, textos científicos, discursos de autoridades etc.

A gramática normativa é um conjunto de conhecimentos, para
construir e interpretar unidades como, frases, orações e períodos.
Entretanto, essas instruções, isto é, as regras são distinguidas em
quatro tipos tais como: regras fonológicas, é que descrevem a pro-
núncia das formas da língua; regras morfológicas, que descrevem a
estrutura das palavras; regras sintáticas, que descrevem a organiza-
ção das sentenças; regras semânticas (ou regras de interpretação),
que relacionam as formas descritas pelas regras morfológicas e sin-
táticas com seus respectivos significados (BEZERRA, 2013, p. 5-6).

Dentro dessa linha de raciocínio, tudo o que foge das regras da gramática
normativa se considera forma errada. Sabemos hoje que evoluímos nossa maneira
de ver a comunicação entre pessoas e passamos a aceitar formas diferentes de fala,
expressões regionais, neologismos. A escrita é mais inflexível, pois exige de quem
escreve certos conhecimentos da norma tradicional, mesmo que informal. Essas
concepções relacionam-se aos estudos do que denominamos de gramática funcional,
a que tem por finalidade facilitar o intercâmbio de ideias entre os interlocutores.

Com o avanço dos estudos nessa linha, podemos observar que a simples
classificação das palavras de maneira definida perde o sentido para as novas descobertas
nessa área de conhecimento. Temos, então, as  gramáticas descritivas que surgiram,
principalmente, pela limitação da  gramática normativa  em descrever a realidade de
um idioma, uma vez que as pessoas se comunicam de forma diferente da tradicional,
da normativa e, ainda, a internalizada, que nasce com o indivíduo como forma de
comunicação natural de sua língua materna.
12
E, assim, as pesquisas evoluem e se direcionam para outros caminhos. Os es-
tudos linguísticos ditos tradicionais realizados até o século XVIII mantêm o foco na gra-
mática tradicional. Já no século XIX, a novidade passa a ser com a fonologia, por conta
da similaridade entre as línguas e isso terá continuidade com os estudos estruturalistas
(da primeira metade deste século).

As pesquisas relacionadas à linguística moderna foram muito importantes e


decisivas para o estudo dos conceitos de gramática e apresentaram novos métodos
de análise dentro da ciência da linguística, discutindo ideias, buscando a interpretação
em pontos ainda incompreensíveis. É o caso dos estudos da linguagem que passam a
contribuir para o entendimento da gramática gerativa.

A aquisição da linguagem, bastante estudada por pesquisadores de vários


campos do conhecimento, é o fator importante nessa linha de entendimento. Um dos
estudiosos dessa área e defensor da linguagem como instinto humano foi o linguista
Noam Chomsky. Na década de 1950 criou a Teoria Gerativa, afirmando que a aquisição
da língua vem de um órgão mental, tal qual uma faculdade psicológica já existente
nas pessoas. A ideia da gramática gerativa era mesmo a de gerar frases com inúmeras
possibilidades de sentidos e entendimentos de acordo com a criatividade de cada um.

A proposta de Chomsky era entender uma gramática universal como o fun-
cionamento das estruturas linguísticas da aquisição e a capacidade de uso da língua
através do estudo das faculdades mentais. A partir desse pensamento, nasce a ideia
do gerativismo, que se define como um modelo teórico capaz de descrever e explicar a
natureza e o funcionamento da construção de sentidos por meio das palavras.

A gramática gerativa pressupõe dois pilares: a competência e o desempenho


dos indivíduos. Por competência, entende-se a habilidade inata do ser humano, o saber
interiorizado e o desempenho, o desenvolvimento de uma habilidade e armazenamento
desses conhecimentos em sua memória ao longo do tempo.

A pesquisa de Chomsky ainda pressupõe a existência de uma Gramática


Universal (GU), inata no ser humano, possibilitando a aquisição de uma ou mais línguas.
Para ele, seria possível investigar esse estado inicial, geneticamente determinado, com
o objetivo de descobrir a base sobre a qual a língua se desenvolve, para entender como
se dá o processo de aquisição de língua.

Para Chomsky e sua gramática universal, a atividade do linguista


é descrever a competência do falante. Com esse foco, o mesmo
considera que a língua é um conjunto infinito de frases e que se
define não só por essas já existentes, mas também pelas possíveis,
ou aquelas que se podem criar a partir da interiorização das regras da
língua, tornando os falantes aptos a produzir frases que até mesmo
nunca foram ouvidas por ele.

13
Isso significa que, para ele, o termo gramática é usado de forma dupla:
é o sistema de regras possuído pelo falante e, ao mesmo tempo, é o
artefato que o linguista constrói para caracterizar esse sistema. As-
sim, a gramática é ao mesmo tempo, um modelo psicológico da ativi-
dade do falante e uma máquina de produzir frases (SILVA, 2020, p. 37).

A gramática transformacional  é uma teoria da gramática  que explica as


construções de uma  língua  por meio de  transformações  linguísticas  e estruturas de
frases. Também conhecida como gramática geradora transformacional. 

Para Chomsky, todas as línguas apresentam uma estrutura superficial ou


aparente, representando a forma em que aparece a oração, e outra estrutura profunda
ou latente, que vai de encontro ao conteúdo semântico da oração e, a partir daí, forma
o corpo gramatical básico pertencente ao falante de uma língua.

Nada mais interessante que saber do próprio pesquisador o que realmente ele
pensa em relação à morfologia gerativa e à teoria gerativa transformacional. Com você,
Noam Chomsky, em texto compilado de entrevista e publicado por Adriano e Corôa
(2010, s.p.) no blog #Linguística:

Como aprendemos uma língua? A grande pergunta de Noam


Chomsky. Você provavelmente já passou anos lendo livros ou tendo
aulas sobre como aprender uma língua estrangeira. Morar num país
estrangeiro ajuda, mas ainda assim o processo de organização
mental das palavras e estruturas da língua é bem demorado. Mas e
as crianças? Você já parou para se perguntar como elas conseguem
organizar mentalmente o funcionamento de sua língua de maneira
tão rápida e inconsciente? Reparem que elas não têm ainda uma
primeira língua pra se basear e que, por não estarem em um curso de
línguas com evidências e instruções concretas, elas têm evidências
bem limitadas de como funciona a estrutura das línguas que as
pessoas falam a sua volta. Assim, surge o argumento da pobreza
de estímulo, que, basicamente, afirma que os dados disponíveis à
criança na língua que a rodeia não são suficientes o bastante para
definir uma gramática.
Por muitos anos, Noam Chomsky, linguista americano nascido em 7
de dezembro de 1928, na Filadélfia, tentou responder a tal pergunta,
conhecida como Problema lógico da aquisição da linguagem
(também chamado de problema de Platão). Esse problema é baseado
no  diálogo Ménon, de Platão, na qual o personagem Sócrates
demonstra para Ménon que, se desafiado de maneira correta, mesmo
um escravo sem instrução possui noções inatas de matemática.
Esses conhecimentos permitiriam que o escravo fizesse, de maneira
intuitiva, alguns cálculos geométricos. Essa pergunta continua sendo
o elemento norteador das investigações científicas assumidas por
Chomsky desde a sua graduação na Universidade de Pennsylvania.

A contribuição de Noam Chomsky foi fundamental para a mudança de


pensamento dos estudiosos, pois ao iniciar as pesquisas sobre a Teoria Gerativa,
mostra a pertinência dos símbolos e regras para a análise das estruturas de frases. Para
Chomsky, segundo Adriano e Corôa (2020), as regras dividem as sentenças em partes
menores e, quando se combinam essas partes por meio de transformações (nome dado
14
às regras), é possível gerar todas e apenas as sentenças gramaticais (válidas) de uma
dada língua, que são ilimitadas em número. Esse estudo denominou-se Gramática
Gerativo-Transformacional.

Os estudos de gramática evoluem em cada pesquisa em que a inserem como
objeto, mostrando a sua versatilidade nas formas de comunicação contemporâneas. A
evolução das pesquisas desde a utilização das normas cultas às novas possibilidades de
expressão se tornou presente neste momento dos nossos estudos.

Vimos, também, por meio desta abordagem, o processo dinâmico da língua


falada e escrita. É claro que a falada permite maior agilidade e formação de palavras
novas de acordo com o cotidiano e isso explica a importância e a funcionalidade dos
estudos que permitem a compreensão dessas atualizações linguísticas sem ficar
aprisionado aos modelos tradicionais.

DICA
Indicamos a leitura de textos para ampliar o conhecimento a respeito
do assunto: Gramática normativa: movimentos e funcionamentos do
“diferente” e “do mesmo”, de autoria de Márcia Ione Surdi. Acesse em:
<https://bit.ly/38G9Px0 e Gramática normativa: ensino, consciência
e liberdade, artigo das pesquisadoras Neusa Maria Oliveira Barbosa
Bastos e Regina Pires de Brito, publicado em 2018. Acesse em:
<file:///D:/Meus%20Documentos/Downloads/274-931-1-PB%20(1).
pdf>. Além desses, temos A gramática gerativa na escola: o pensar
linguisticamente, de Ronald Taveira da Cruz, publicado em 2017. Acesse
em: file:///D:/Meus%20Documentos/Downloads/51981-Texto%20do%20
Artigo-184235-1-10-20180109%20(1).pdf.

Vamos aos neologismos; criação de palavras novas ou nova roupagem para pala-
vras antigas, com alteração de sentido. O dinamismo da língua traz novidades a todo ins-
tante, principalmente, nos dias de hoje, com o vocabulário próprio das tecnologias digitais.

4 NEOLOGISMO
Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora (BANDEIRA, 2002)

15
Você se lembra de termos falado sobre a língua ser dinâmica? Principalmente
a língua falada? Agora, nós veremos isso mais a fundo conhecendo os estudos sobre o
neologismo.

Para começar, neologismo pode ser uma palavra nova, criada ou uma palavra
que já existe com significado diferente, adaptado. E aí vem a pergunta: por que usamos
neologismos durante as nossas conversas? Principalmente para melhorar o nível de
diálogo, para simplificar ideias etc. Um primeiro exemplo: vossa mercê – vosmeçê – você
– cê – vc...

Na figura a seguir, você pode ver um exemplo de neologismo, quer por meio de
palavras ou por interpretação de símbolos, que percebemos como a nossa língua vai se
alterando a todo instante.

FIGURA 3 – NEOLOGISMO

FONTE: <https://bit.ly/3sL9Rgj>. Acesso em: 5 fev. 2021.

O neologismo pode ser comparado à informalidade da língua, em que as palavras


não são as mesmas que encontramos nos dicionários, ou se as encontramos podem ter
significados diferentes.

Exemplos de neologismos: dar um google, deletar, escanear, clicar, linkar, site


(esses termos são conhecidos por pessoas que utilizam computadores, notebooks,
celulares) petista, mensalão, panelaço, showmício, mimimi, lacração, cancelamento da
pessoa, bioterrorismo, skate, shopping, arara (ficar uma arara).

Neste tópico, nós apresentamos os conceitos básicos da morfologia e sua


evolução considerando-se novos aspectos na redefinição das ideias iniciais, a partir
dos estudos de morfologia gerativa, que nos explica as mudanças de abordagens e
classificações das palavras.

É importante também entender as definições de palavra e vocábulo, além


de saber como a nossa língua se altera com o tempo, principalmente em grupos
específicos da sociedade. O neologismo tem seu espaço aqui por ser uma das formas
de transformação da nossa língua.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Morfologia define-se como: o estudo da forma e, no caso da linguística, a forma das


palavras; o estudo da estrutura, da formação e da classificação das palavras. A palavra
fica em evidência por si mesma, sem que se analise as suas funções em períodos.

• A palavra serve para expressar uma ideia; nomeia os objetos e as pessoas. É uma
forma de facilitar o entendimento das conversas e a comunicação entre as pessoas.
E, mais importante que isso, permite o reconhecimento dos objetos, das pessoas e
assim por diante.

• O vocábulo é neutro e a palavra pode ser flexionada; é a palavra usada para demons-
trar objetos, pessoas, sentimentos.  O ato de atribuir um nome é o que significa eti-
mologicamente um vocábulo.

• Há dois tipos de vocábulos: o lexical e o gramatical. Vocábulos lexicais representam


ideias e vocábulos gramaticais os que não traduzem ideias.

• A gramática normativa tem como regra algo que deve ser seguido como norma geral.
Não se admite variações linguísticas, pois serão consideradas como erros gramaticais.

• A utilização da gramática descritiva deve corresponder à fala dentro de um grupo


específico. A forma como as pessoas se expressam são variáveis específicas e devem
ser respeitadas dentro desses limites.

• A gramática internalizada: considerada a forma nata de linguagem, a forma inicial de


expressão que se aprende e se consolida com o passar do tempo.

• A Teoria Gerativa compreende que a aquisição da língua vem de um órgão mental,


tal qual uma faculdade psicológica já existente nas pessoas. A ideia da gramática
gerativa era mesmo a de gerar frases com inúmeras possibilidades de sentidos e
entendimentos de acordo com a criatividade de cada um.

• A gramática gerativa apresenta dois pilares: competência: a habilidade inata do ser


humano e desempenho: o desenvolvimento de uma habilidade.

17
• A gramática universal compreende o funcionamento das estruturas linguísticas da
aquisição e a capacidade de uso da língua através do estudo das faculdades mentais.

• A Gramática transformacional é uma teoria da gramática que explica as construções


de uma língua por meio de transformações linguísticas e estruturas de frases. 

• Neologismo é criação de palavras ou expressões novas ou a atribuição de um novo


sentido a uma palavra já existente. É um exemplo do dinamismo de nossa língua,
sobretudo a falada.

18
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE, 2010) Para preservar a língua, é preciso o cuidado de falar de acordo com
a norma padrão. Uma dica para o bom desempenho linguístico é seguir o modelo
de escrita dos clássicos. Isso não significa negar o papel da gramática normativa;
trata-se apenas de ilustrar o modelo dado por ela. A escola é um lugar privilegiado
de limpeza dos vícios de fala, pois oferece inúmeros recursos para o domínio da
norma padrão e consequente distância da não-padrão. Esse domínio é o que levará
o sujeito a desempenhar competentemente as práticas sociais; trata-se do legado
mais importante da humanidade.

PORQUE

A linguagem dá ao homem uma possibilidade de criar mundos, de criar realidades, de


evocar realidades não presentes. E a língua é uma forma particular dessa faculdade
[a linguagem] de criar mundos. A língua, nesse sentido, é a concretização de uma
experiência histórica. Ela está radicalmente presa à sociedade.

XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Orgs.). Conversas com Linguistas:


virtudes e controvérsias da Linguística. Rio de Janeiro:
Parábola Editorial, 2005, p. 72-73 (com adaptações).

Analisando a relação proposta entre as duas asserções acima, assinale a opção


CORRETA:

a) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa


correta da primeira.
b) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma
justificativa correta da primeira.
c) ( ) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposi-
ção falsa.
d) ( ) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição
verdadeira.
e) ( ) As duas asserções são proposições falsas.

2 Leia o trecho a seguir:

[...] Mas D. Pequitibota bancava milionários trens de vida ante a crise começada para
fazendeiros comprometidos [...] Enquanto nos casarões ramazevedos das avenidas,
despeitadas solitárias metiam ronca nas de morfino viver que parisiavam aventuras com
velhos meninos domésticos e outros. [...]

ANDRADE, O. Memórias Sentimentais de João Miramar, 2001.

19
O autor utilizou a palavra “parisiavam” no texto. Essa palavra corresponde a um(a):

a) ( ) Estrangeirismo: uso de termos emprestados de outra língua para designar


termos que não existem na nossa própria língua, como exemplo: parisiar.
b) ( ) Neologismo: criação de termos novos na língua, usando o verbo “parisiar”, que
deriva do nome próprio “Paris”, para dar a ideia desse cenário rico e luxuoso.
c) ( ) Gíria: uma forma de colocar termos falados em uma comunidade para o enten-
dimento da mensagem, como no caso de “parisiar”.
d) ( ) Regionalismo: uso de termos próprios de uma região geográfica, como por
exemplo “parisiar”, utilizados apenas por essa população determinada.
e) ( ) Termo técnico: uso de palavras definidas por determinada área específica de
conhecimento, como exemplo: “parisiar”.

3 Nos estudos da linguagem, a morfologia destaca-se como uma das áreas da


linguística que se detém mais especificamente sobre o estudo da forma das palavras.
A partir dessa reflexão, é correto afirmar que:

a) ( ) Embora seja um campo de estudos da linguística, a morfologia prescinde de


qualquer relação com outras áreas da linguagem.
b) ( ) Tendo sua origem etimológica no verbete grego "morphe", tal fato confere
à morfologia um viés filosófico que a torna autônoma em relação aos outros
estudos gramaticais.
c) ( ) Por ser uma área da linguística, a morfologia deve se relacionar com a dinâmica
da própria língua que se modifica continuamente, embora jamais se modifiquem
as estruturas das palavras.
d) ( ) Ao refletir sobre as estruturas das palavras, os estudos de morfologia devem
observar as modificações da linguagem relacionando a dinâmica das estruturas
das palavras com outras áreas da linguística, como a sintaxe, a semântica e a
fonologia.

4 (ENADE, 2017) Esteticar (Estética do Plágio)

Tom Zé

Pense que eu sou um caboclo tolo boboca


Um tipo de mico cabeça-oca
Raquítico típico jeca-tatu
Um mero número zero um zé à esquerda
Pateta patético lesma lerda
Autômato pato panaca jacu
Penso dispenso a mula da sua ótica
Ora vá me lamber tradução interssemiótica

20
Se segura milord aí que o mulato baião
(tá se blacktaiando)
Smoka-se todo na estética do arrastão
[...]

Com base no trecho da letra da música, faça o que se pede nos itens a seguir.

a) Explique a formação dos neologismos “esteticar¨, ¨blacktaiando¨ e ¨smoka-se¨.

b) Explique o modo como a formação dos neologismos contribui para a construção de


sentidos na letra da música.

5 Leia o texto a seguir, explique a evolução dos estudos de morfologia, a partir dos
estudos do estruturalismo em face das novas abordagens sobre a morfologia gerativa.

“No início do século XX, surge uma nova corrente linguística – o estruturalismo. As
bases sistemáticas e objetivas dessa nova corrente foram fornecidas por Saussure
(1916), que rejeita a precedência da língua escrita sobre a língua falada e a relação
língua/pensamento, distingue a gramática normativa da gramática descritiva e
assume a primazia da Linguística sincrônica sobre a diacrônica. Apesar da ampla
aceitação desses princípios defendidos no âmbito da obra saussuriana, surgem
várias escolas estruturalistas (ou, como tem sido referido na literatura mais recente,
vários estruturalismos), entre as quais se destaca o descritivismo americano – a
escola contra a qual surge, então, na década de 50, a Gramática Gerativa” (NICOLAU;
LEE, 2004, p. 122-123).

21
22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
APORTES TEÓRICOS DE MORFOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Vimos, no Tópico 1, os conceitos básicos de morfologia, sua evolução de pen-
samentos críticos, até chegar aos estudos de morfologia gerativa e, por fim, o uso de
neologismo na nossa língua.

Agora, você vai conhecer um pouco mais sobre a palavra, sua formação, os
conceitos de morfema, como unidade mínima da palavra, seus tipos e classificações,
além das definições de morfe, alomorfe e as formas livres, presas e dependentes.

Vamos, por fim, conhecer os elementos morfológicos, raiz e radical, para a


compreensão do processo de formação das palavras e sua utilização no sentido prático.

2 FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Para Evanildo Bechara (2000, p. 333), “toda palavra deve ser classificada:
a) pelo seu aspecto material, fônico; b) pela sua significação gramatical; c) pela sua
significação lexical”.

Há palavras primitivas, palavras derivadas, palavras simples e palavras compostas.

Entendemos palavras primitivas como aquelas que não vêm de outra palavra.
Ex.: flor, dor, pedra.

Palavras derivadas são as que vêm de outra palavra. Ex.: floricultura, dolorido,
pedreiro.

Palavras simples são as que possuem um só radical. Ex.: cavalo.

Palavras compostas são as que possuem mais de um radical. Ex.: beija-flor,


aguardente.

23
A palavra não pode ser observada apenas pela sua constituição formal, melhor
dizendo, somente as letras ou os fonemas que a formam. Faz-se necessário entender
as unidades mínimas significativas para o estudo do vocábulo. Essas unidades são
denominadas de morfemas.  Isso significa que ele é a menor unidade de sentido que
constitui a estrutura de uma palavra.

As palavras são formadas e estruturadas por elementos mórficos: radical, raiz,


tema, afixos (prefixos e sufixos), desinências (nominais e verbais), vogal e/ou consoante
de ligação e vogal temática.

Cada elemento ou partícula é importante para a compreensão das palavras,


uma vez que representa uma unidade mínima de significação chamada de morfema.

3 MORFEMA
Radical é o elemento comum às palavras da mesma família, as palavras
cognatas. É o radical a parte que dá o significado básico da palavra. O radical é a parte
fixa, para fins de conjugação, de um verbo, ou seja, não há radical em formas nominais:
substantivo, adjetivos etc.

A vogal temática é uma das partes que formam as palavras e tem a função de
ligar o radical às desinências, constituindo o tema. A vogal temática é um morfema que
liga o radical às desinências que formam as palavras. Essa união constitui o tema (radical
+ vogal temática), ao qual são acrescentadas as desinências. 

Tanto os verbos quanto os nomes apresentam vogais temáticas. Por isso, elas


podem ser classificadas em nominais e verbais.

Vogais temáticas nominais: quando são átonas e se encontram no final das


palavras, as vogais /A/, /E/ e /O/ são consideradas nominais. As  vogais temáticas
nominais juntam-se à desinência indicadora de plural.

Vogais temáticas verbais: há três grupos de  conjugações verbais, sendo


a primeira marcada pela Vogal Temática –A, a segunda é marcada pela Vogal Temática –E,
e a terceira, pela Vogal Temática –I.

No campo da morfologia, os vocábulos são decomponíveis em morfemas.


Vamos ver esse exemplo: criança pula.

Exemplos:

24
Os morfemas se organizam e cumprem papel importante no processo de
formação de um vocábulo. Assim, a palavra, aqui com a ideia de vocábulo:

a) deve ser observada como significante ou expressão material da língua (falada ou


escrita);
b) apresenta-se sob o seu aspecto formal, isto é, deve ser observada segundo uma
classificação morfológica;
c) deve ser observada em relação a outra.

Vamos conhecer outras formas de definição de morfema:

LING Unidade linguística mínima que tem significado.


EXPRESSÕES
Morfema derivacional, LING: elemento que modifica, de modo preciso,
o sentido do radical ao qual se une, criando uma nova palavra. São
morfemas derivacionais os prefixos, como, por exemplo,  re-  na
palavra renovar, e os sufixos -eria, em leiteria, e -oso, em leitoso.
Morfema flexional,  LING: morfema empregado na flexão dos
substantivos, adjetivos e verbos, não alterando a classe da palavra,
como, por exemplo, o sufixo -mos, nos verbos estudamos e visitamos,
que indicam apenas a primeira pessoa do plural.
Morfema gramatical,  LING: morfema que tem significação interna,
porque se origina nas relações e categorias gramaticais que fazem
parte da língua. São morfemas gramaticais o -a, como marca de
feminino, em palavras como bela, e o -s, como marca de plural, em
palavras como pás e dias.
Morfema lexical,  LING: elemento invariável, que é responsável pela
base do significado. A significação do morfema lexical diz respeito
aos fatos do mundo extralinguístico; radical.
Morfema livre, LING: aquele que tem existência autônoma, figurando
sozinho como um vocábulo, como, por exemplo, as palavras pá e dia.
Morfema preso, LING: aquele que não tem existência independente,
como o -s nas palavras pás e dias (MORFEMA..., 2021, s.p.).

Morfema é a menor partícula com significado existente de uma palavra e, que se


acoplada a um radical lhe confere outro sentido. Os morfemas podem ser classificados
em dois grupos: morfemas gramaticais e morfemas lexicais.

Morfemas lexicais: os substantivos, os adjetivos, os verbos e os advérbios de


modo. São aqueles cuja significação nos remete a noções do mundo objetivo e subjetivo
(ações, estados, qualidades, seres). Representam a própria significação externa dos
vocábulos e é encontrado no seu núcleo de significação, denominado radical. Exemplos:

25
o verbo beber apresenta o morfema lexical (beb-): beb-er, beb-ida, beb-errão. Todas as
derivações do vocábulo recorrem a um mesmo morfema lexical, e diz-se então que o
radical da palavra beber é sua parte invariável (beb-).

Morfemas gramaticais: os artigos, os pronomes, os numerais, as preposições,


as conjunções e os advérbios, bem como os elementos mórficos que indicam número,
gênero, modo, tempo e aspecto verbal. São aqueles que só possuem significação no
universo da língua. Representam um contexto semântico específico interno à enunciação.
Exemplo: o morfema lexical do vocábulo “casa”, independentemente de suas variações,
é cas-: cas-a, cas-arão, cas-ebre, cas-inha. Enquanto o morfema lexical permanece o
mesmo, os morfemas gramaticais variam de acordo com a significação específica que
atribuem ao vocábulo.

Morfemas, por definição, são as unidades mínimas de significação, sendo


elementos constituintes dos vocábulos. São os elementos que compõem a estrutura
lexical e gramatical dos vocábulos.

As palavras são constituídas de morfemas que, por sua vez, possuem


classificações distintas. Os morfemas são a unidade mínima de significação, ou seja, o
elemento significativo que não pode ser decomposto. Vamos apresentar os conceitos
de morfema, morfe e alomorfe, que, apesar da estreita relação de sentido, representam
noções distintas.

Sabemos que a morfologia estuda a forma ou a estrutura dos vocábulos. A


estrutura é constituída de unidades formais menores reunidas e com significados que
se denominam morfemas.

Os morfemas são formados por um ou mais fonemas, mas se diferenciam


deles por apresentarem significado. Os fonemas, quando pronunciados isoladamente,
não possuem significado. Por fonema entende-se o menor elemento sonoro capaz de
estabelecer uma distinção de significado entre as palavras. 

QUADRO 2 – FONEMA, LETRAS E MORFEMAS

FONTE: <https://bit.ly/3zObVGU>. Acesso em: 3 fev. 2021.

26
3.1 TIPOS DE MORFEMAS
Há duas unidades distintas que compõem o centro de interesse dos estudos da
Morfologia: o morfema ou a palavra. A noção de morfema relaciona-se com o estudo das
técnicas de apresentação de palavras em unidades constitutivas mínimas, enquanto os
estudos que destacam a conceituação da palavra preocupam-se com o modo pelo qual
a forma das palavras reflete suas interações com outras palavras dentro de contextos
mais complexos. Os morfemas são as unidades de significação que formam as palavras.
Podemos entender os morfemas sob dois modos: os gramaticais que só apresentam
significação no universo da língua ao passo que os lexicais apresentam significação no
contexto objetivo e subjetivo, que envolve ações, estados, qualidades etc. São eles:

• Morfemas gramaticais: são aqueles que possuem um significado interno à sua


estrutura gramatical. Exemplo: s é o morfema gramatical que dá a ideia de plural. Os
morfemas gramaticais também podem ter a função de reunir, nas frases, os vocábulos
constituintes. Exemplo: cadeira de rodas. Os morfemas gramaticais relacionam-se às
funções gramaticais dos vocábulos e podem ser divididos em três grupos:
◦ morfemas derivacionais: são os afixos (prefixos e sufixos) que permitem a forma-
ção de novas palavras. Exemplos: (gato) gatinho, (casa) casarão, (responsável)
irresponsável.
◦ morfemas flexionais: são os que carregam as flexões (gênero e número nos nomes;
modo/tempo e número/pessoa nos verbos). Exemplos: menino (masculino), meni-
na (feminino), comprei (verbo no pretérito perfeito do indicativo, 1ª pessoa do sin-
gular), andariam (verbo no pretérito imperfeito do indicativo, 3ª pessoa do plural).
◦ morfemas classificatórios: são as vogais temáticas dos verbos e dos nomes.
Exemplos: cadeira (substantivo), sair (verbo).

• Morfemas lexicais: apresentam o sentido básico da palavra e gramaticais: quando


indicam noções gramaticais. Expressam uma significação diferente, com um contexto
de mundo fora do eixo linguístico. Exemplo: amor, flor. Podemos, ainda, exemplificar
com o vocábulo livro, livr é o morfema lexical que traz a significação do vocábulo livro.
As formas se relacionam ao sentido transmitido em uma mensagem, tanto externo
à língua (morfemas lexicais), quanto interno (morfemas gramaticais). Por léxico,
entendemos o sentido básico que se repete em todas as palavras a partir de um
mesmo radical. Temos, por exemplo: belo, bela, belos, belas, embelezar, embelezo,
embelezas, embeleza, embelezamento, beleza, beldade, belamente etc., dependendo
do sentido modificado pelos prefixos e sufixos. Por forma gramatical, compreendemos
o sentido que distingue os diversos termos, como o número: singular e plural, gênero:
masculino e feminino, além das pessoas e os tempos, no caso dos verbos.

27
3.2 MORFEMA, MORFE E ALOMORFE
Vamos ver agora os três conceitos básicos e fundamentais em Morfologia:
morfema, morfe e alomorfe.

Morfema, como já dissemos, é a unidade básica da Morfologia, sendo uma forma


significativa recorrente mínima abstrata, melhor dizendo, apresenta um traço semântico
que se repete em outras estruturas e não pode ser dividida em formas menores. É abstrato
porque é representado por um morfe, o segmento mínimo significativo recorrente.

Morfe constitui a concretização do morfema. Muitos morfemas são resultados


de um único  morfe; por exemplo, na palavra  comer, temos o  morfe  {com-} que se
mantém ao longo da conjugação: como, comi, comia; na palavra cantar, temos o morfe
{cant-}, que se desenvolve assim: canto, cantei, cantava.

Alomorfe seria, então, a ocorrência de dois morfes que indicam um único mor-
fema – duas formas para um único significado. Define-se alomorfia como a alteração na
forma de um morfema, conservando-se o seu significado. Alomorfes seriam, então, as di-
ferentes formas que um morfema pode apresentar quando sofre o processo de alomorfia.

Veja o exemplo citando o caso dos prefixos IN-infeliz e I-irresponsável. São


palavras que começam com “in” e “i” indicando negação. Uma observação a ser feita nos
casos de “i” no início da palavra que só ocorrem diante de determinadas consoantes (l-,
m- ,r-, como nas palavras ilegítimo, imoral e irresponsável), portanto, “in” é considerada
a forma básica. Assim sendo, “i” é alomorfe da forma básica (morfema) “in”. Outro
exemplo: as variadas formas de plural, como mesa/mesas e “raiz/raízes”, em que há
alomorfes do plural, sendo um -s e o outro -es.

Vamos conhecer outros casos de alomorfia:

Alomorfia na raiz. Os morfemas lexicais. Exemplos: ordem, orden- , ordin- têm


a mesma significação em ordem, ordenar e ordinário; ouro / áureo: our ~ aur são duas
formas para um significado da palavra ouro; cabra / caprino: [cabr] ~ [capr].

Alomorfia no prefixo. O prefixo / in / passa a / i / em inapto / ilegal ou injusto /
ilegal: [in] ~ [i] → duas formas para um significado (algo negativo).

Alomorfia no sufixo. Aqui temos casinha / xícara: [inha] ~ [zinha] duas formas


para um significado que indica algo que é menor. Casarão / vidraça: [arão] ~ [aça] são
duas formas para representar objetos de tamanho grande.

Alomorfia na vogal temática. Em pão / pães, a vogal temática /o /transforma-se


em/ e /; em mar / mares:  as duas formas são distintas, mas não modificam a definição
da palavra  mar. Oferecimento / oferecer:  temos as duas formas distintas, mas não
modificam a definição da palavra oferecer.

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Alomorfia na desinência de gênero. Em avô ≠ avó, os traços distintivos / ô / e / ó
/ podem ser considerados alomorfes das desinências: masculino e feminino.

Alomorfia na desinência modo-temporal. Em faláramos / faláreis, a desinência


modo-temporal / ra / passa a/ re /. Alomorfia na desinência verbal. Temos canto /
sou: [o] ~ [ou]: duas formas para indicar a primeira pessoa do singular.

Vamos passar para os conceitos das formas livres, presas e dependentes que
possibilitam acrescentar informações para os estudos da análise morfológica.

4 FORMAS LIVRES, FORMAS PRESAS E FORMAS


DEPENDENTES
Para dar início a essas definições de formas devemos saber que unidades
formais de uma língua são livres e presas. Definem-se livres as unidades formais que
podem funcionar isoladamente como meio de comunicação eficiente. São formas
independentes que podem constituir frase sem precisar de outros elementos.

A ideia de forma diretamente nos leva à ideia de estrutura das palavras, isto é,
um leque de interações que fornece a cada elemento sua função e sentido. Nos estudos
de Morfologia, temos as formas livres, presas e dependentes.

FIGURA 4 – FORMAS

FONTE: <https://bit.ly/3kV4ozK>. Acesso em: 2 fev. 2021.

29
• Formas livres são vocábulos formais que podem ser pronunciados isoladamente
e mesmo assim expressam ideias são considerados palavras. Elas têm autonomia
semântica. Podem ser utilizadas de forma isolada, pois mesmo assim estabelecem
comunicação entre as pessoas. Podemos dizer, ainda, que se encaixam nessa
classificação os substantivos, adjetivos, verbos, advérbios e numerais. Exemplos: Se
alguém disser em voz alta a palavra bala, as pessoas entenderão a palavra por si só,
apesar de seus significados. Ou ainda, a palavra fogo, que sabemos o que significa:
incêndio, tiroteio, e assim por diante.

• Formas presas  só têm valor quando combinadas com outras formas livres ou
presas. Não têm sentido sozinhas. Formas que se apresentam fixas a um vocábulo,
pois não existem isoladamente em enunciados. São também chamadas de não-
vocábulo. São os afixos, os radicais, as desinências, as vogais temáticas. Exemplo: O
prefixo “re”, que precisa de palavras como: fazer, criar, agir para adquirir sentido e criar
outras palavras como: refazer, recriar, reagir, que traz um sentido de repetição.

Então, nos lembramos da música Refazenda, de Gilberto Gil.

Refazenda (Gilberto Gil)

Abacateiro acataremos teu ato


Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba

FONTE: <https://www.letras.mus.br/gilberto-gil/16131/>. Acesso em: 28 jun. 2021.

30
Podemos constatar na música Refazenda o recorrente prefixo [re] classificado
como formas presas. Vamos ver esses exemplos: [re]colhimento – "colher novamente",
pois se refere ao pé de abacate; [re]fazenda "fazenda nova" covas propostas, novo tipo
de vida; [re]fazendo – fazer novamente.

Temos, então, o prefixo [re] + /colhimento/ do verbo "colher"; o prefixo [re] + /


fazenda/ e o prefixo [re] + /fazendo/ do verbo "fazer".

• Formas dependentes são definidas por aquelas que não são livres, porque não podem
funcionar isoladamente como comunicação autônoma, mas não são presas, uma vez
que entre ela e a forma livre com a qual ela constitui o vocábulo fonológico podem-se
intercalar novas formas. E, ainda, são relativas ao vocábulo com os quais se relacio-
nam dentro do contexto sintático. Exemplos: Artigos, preposições, algumas conjun-
ções e pronomes oblíquos átonos que, por si só, não podem constituir um enunciado.

Para reforçar os conceitos: exemplos de formas livres, dependentes e presas,


veja o quadro a seguir.

QUADRO 3 – EXEMPLO DE FORMAS

E as vinte palavras recolhidas


nas águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil”

(João Cabral de Melo Neto, Auto do Frade)

LIVRES: palavras, recolhidas, águas, salgadas, poetas, servirá, máquina e útil.


PRESAS: que marca o plural de nomes, substantivos e adjetivos (morfema de plural
nos nomes), e - a, vogal temática nominal nos nomes poeta e máquina.
DEPENDENTES: e, as, de, que, se, o.

FONTE: <https://bit.ly/3n2kB8T>. Acesso em: 1 fev. 2021.

IMPORTANTE
Destacamos que não se deve confundir morfema com palavra, uma vez
que pode haver coincidência entre essas duas noções. Vamos deixar
mais claro:
As palavras: sol, lei, pé, lua, rei são formadas por um único morfema,
mas quando utilizamos os seus plurais verificamos a existência de dois
morfemas, sendo um deles o “s”. Nota-se, então, que nem sempre o “s”
é um morfema, pois há casos em que já se encontra junto ao morfema,
sem alguma significação. Na palavra lápis, outro exemplo, o “s” não
representa plural, uma vez que não existe a palavra “lápi”.

31
5 ELEMENTOS MORFOLÓGICOS
Dando sequência aos nossos estudos, passamos agora para os radicais gregos
e latinos, com as listas de apoio para que você possa conhecer a origem das palavras. E
daremos início a essa parte lembrando as definições de raiz e de radical e suas diferenças
para que as possíveis dúvidas sejam dissipadas. Sendo assim, vamos aprender mais
sobre os radicais.

5.1 RADICAL E RAIZ


Radical é o elemento comum às palavras da mesma família, as palavras
cognatas. É o radical a parte que dá o significado básico da palavra. É a parte fixa, para
fins de conjugação de um verbo, ou seja, não há radical em formas nominais: substantivo,
adjetivos etc. É o elemento básico e significativo das palavras, de acordo com o aspecto
gramatical e prático. Exemplo: am- (verbo amar): amarás, amei, amaria, amava etc.

Raiz é a parte básica, a origem de uma palavra. Essa palavra tanto pode ser um
verbo, como um substantivo, adjetivo etc. É um elemento irredutível comum a todos
os vocábulos da mesma família. É o morfema que contém a significação lexical básica.
Também é conhecido por radical primário, ou forma primitiva. Em cas-a-s, por exemplo,
observamos três morfemas: raiz, vogal temática, desinência de número. Um exemplo
de um conjunto de palavras que partem de uma mesma raiz: terra, terreno, terrestre,
aterrar, aterrissagem, aterramento, terrário, enterrar.

É importante observar que um radical pode ser primário e ser confundido com
a raiz da palavra, por não conter nenhum elemento mórfico unido a ele. Exemplos: sol,
lua, paz.

Nem sempre palavras de mesmo radical, pertencem à mesma família de


significação. Temos que buscar a raiz etimológica da palavra para perceber a diferença.
Exemplo: casa e caso.

5.1.1 Radicais gregos e latinos


Vamos conhecer alguns radicais gregos e latinos para entendermos o signifi-
cado de cada palavra.

Radicais gregos:
aero (aér = ar): aeroporto;
astro (áster = estrela): astronomia;
biblio (bibl-íon = livro): biblioteca;
bio (bi-os = vida): biografia;
cardio (kard-ia = coração): cardíaco;

32
crono (chron-os = tempo): cronômetro;
deca (deka = dez): década;
derme (derm-a = pele): dermatologista;
di (dis = dois): dissílabo;
etno (ethn-os = raça): etnia;
gastro (gáster = estômago): gástrico;
hetero (héter-os = diferente): heterogêneo;
hidro (hyd-ro = água): hidrografia;
macro (makr-ós = grande): macróbio;
micro (mikrós = pequeno): micróbio;
mono (mónos = um): monólogo;
neo (né-os = novo): neologismo;
oftalmo (ophthálmos = olho): oftalmologia;
poli (polys = muito): poligamia;
pseudo (pseudos = falsidade): pseudônimo;
psico (psiqué = alma): psicologia;
tele (têle = longe): telefone;
termo (termós = calor): termômetro;
tri (triás = três): tríade;
zoo (zô-on = animal): zoológico.

Radicais latinos:
agri (agri = campo): agricultura;
alter (alter = outro): alternativa;
ambi (ambi = ambos): ambidestro;
audio (audire = ouvir): auditório;
beli (bellum = guerra): bélico;
bi (bis = duas vezes): bisavó;
cídio (cidio = matar): suicídio;
clar (clarus = claro): claridade;
cruci (crux = cruz): crucificar;
curv (curvus = curvo): curvilíneo:
duo (duo = dois): dueto;
equi (aequus = igual): equilátero;
escri (scríbere = escrever): escrita;
lac (lactis = leite): lácteo;
loco (locus = lugar): locomover;
loquo (lóquor = fala): ventríloquo;
ludo (ludis = jogo): lúdico;
mort (mortis = morte): mortandade;
oni (omni = todo): onipresente;
ped (pedis = pé): pedal;
pisci (piscis = peixe): piscicultura;
quadru (quattuor = quatro): quádruplo;

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tri (tres = três): tripé;
uni (unus = um): uniforme;
verm (vermis = merme): vermicida.

O conhecimento da raiz e do radical das palavras faz com que possamos


enriquecer o nosso vocabulário e compreender seus significados de uma maneira mais
ampla. Cabe ressaltar a importância de se conseguir reconhecer cada elemento que
compõe os estudos de Morfologia. Passamos, agora, para as vogais temáticas.

5.2 VOGAIS TEMÁTICAS


São vogais que se juntam ao radical com a função de receber outros elementos
localizando-se, então, entre dois morfemas.

Há vogais temáticas tanto em verbos quanto em nomes. Quando está no verbo,


a vogal temática indica a sua conjugação: 1ª, 2ª ou 3ª. Exemplo: amar – indica o verbo
da 1ª conjugação, beber– indica o verbo da 2ª conjugação e sumir – indica o verbo da
3ª conjugação. O tema é o radical acrescido da vogal temática de modo a receber as
desinências.

Os vocábulos com vogal temática são temáticos; os que não contêm vogal
temática são atemáticos. Em geral, são atemáticos os nomes que têm na posição final
uma vogal tônica ou uma consoante.

Os temas são classificados em nominais e verbais. Os temas nominais sempre


terminam em vogal átona; os verbais podem apresentar vogais temáticas tônicas,
portanto, as palavras terminadas em vogais tônicas não apresentam vogal temática,
por exemplo: café, sofá etc. Elas representam as formas atemáticas. Assim, as vogais
temáticas nominais estão presentes somente nos nomes átonos. Os temas nominais
predominantes na língua portuguesa são:

a) temas em /a/: mesa, casa, toada


b) temas em /o/: livro, cachorro, cavalo
c) temas em /e/: alface, pote, mestre,

Os temas verbais dividem-se em três grupos, a saber:

a) temas em /a/: cantar, falar, passear


b) temas em /e/: beber, saber, correr
c) temas em /i/: dirigir, sair, pedir

34
QUADRO 4 – VOGAL TEMÁTICA

FONTE: <https://bit.ly/3yhA0UT>. Acesso em: 8 fev. 2021.

Vimos, por meio desses conceitos, que nos vocábulos primitivos, raiz e radical
podem se confundir. É bom lembrar que muitas vezes o radical (primário ou derivado)
vem acompanhado de uma vogal átona, que se denomina vogal temática. E o tema é
constituído por esse conjunto formado por radical e vogal temática.

Aprendemos, também, que os vocábulos com vogal temática são temáticos; os


que não contêm vogal temática são atemáticos. Em geral, são atemáticos os nomes que
têm na posição final uma vogal tônica ou uma consoante.

5.3 DESINÊNCIAS
São os morfemas colocados no final das palavras com a função de indicar as fle-
xões nominais ou verbais. Observe que é diferente da vogal temática por marcar flexões.

As desinências podem ser:

• Nominais: indicam as flexões de gênero (masculino e feminino) e de número (singular


e plural) dos nomes.

◦ Exemplos: gênero – menino – menina


número – meninos – meninas.

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• Verbais quando indicam o número, pessoa, tempo e modo dos verbos.

◦ Exemplos: número pessoal – indica o número e a pessoa a qual se refere a ação


verbal:
-o: desinência número pessoal indicativa da 1ª pessoa do singular: eu canto, eu
bebo, eu saio;
-s: desinência número pessoal indicativa da 2ª pessoa do singular: tu cantas, tu
bebes, tu sais;
-mos: desinência número pessoal indicativa da 1ª pessoa do plural: nós cantamos,
nós
bebemos, nós saímos;
-m: desinência número pessoal indicativa da 3ª pessoa do plural: eles cantam, eles
bebem, eles saem.

• Modo temporal: indica em que modo e em que tempo ocorre a ação verbal.

◦ Exemplos:
-va: desinência modo temporal indicativa do pretérito imperfeito do indicativo (1ª
conjugação): eu cantava, tu cantavas, ele cantava;
-ia: desinência modo temporal indicativa do pretérito imperfeito do indicativo (2ª e
3ª conjugações): eu bebia, tu bebias, ele bebia;
-ra: desinência modo temporal indicativa do pretérito mais-que-perfeito do
indicativo: eu dançara, tu dançaras, ele dançara;
-ria: desinência modo temporal indicativa do futuro do pretérito do indicativo: eu
sairia, tu sairias, ele sairia;
-sse: desinência modo temporal indicativa do pretérito imperfeito do subjuntivo:
se eu falasse, se tu falasses, se ele falasse.

• verbo-nominais, quando indicam as formas nominais do verbo, ou seja, infinitivo (ar,


er, ir), gerúndio (ando, endo, indo), ou particípio (ado, edo, ido).

◦ Exemplos:
-r: desinência verbo nominal indicativa do infinitivo: cantar.
-ndo: desinência verbo nominal indicativa do gerúndio: cantando.
-do: desinência verbo nominal indicativa do particípio: cantado.

5.4 VOGAIS E CONSOANTES DE LIGAÇÃO (INFIXOS)


São elementos que facilitam a pronúncia das palavras ao serem inseridas na
função de ligação. A sua presença nesses vocábulos se dá por necessidade fonética.
Como não são significativos, não podem ser considerados como morfemas. Exemplos:
café - cafeteira, leite - leiteira. E, ainda, avo-z-inha, flor-z-inha, cafe-t-eira, desenvolv-
i-mento, árvor-e-s, gas-ô-metro, cana-i-s, alv-i-negro, paris-i-ense, inset-i-cida,

36
pe-z-inho. O Tópico 2 abordou os conteúdos referentes à conceituação de palavra e
suas classificações. Em seguida, aprendemos o significado de morfema, de morfe, de
alomorfe, apresentando suas características.

As formas livres, presas e dependentes também foram apresentadas como parte


dos estudos seguidas dos conceitos de radicais, os gregos e os latinos, principalmente,
as vogais temáticas, as desinências e, por fim, as vogais e consoantes de ligação.

DICA
Para fins de ampliar os conhecimentos sobre os tipos de morfemas,
vamos apresentar um texto que mostra essas várias modalidades,
com base nos conceitos de Mattoso Câmara Jr., em seu Dicionário
de Linguística e Gramática (verbete morfema). Segundo o autor, os
morfemas, do ponto de vista do significante, podem ser: aditivos,
subtrativos, alternativos, reduplicativos, de posição e zero. O texto Tipos
de morfemas, de Priscila Brügger de Mattos, pode ser encontrado no
seguinte endereço: https://bit.ly/3bS9QTL.

A proposta desse tópico é a assimilação de conceitos dos elementos que


formam as palavras, para que você reconheça a importância de cada um deles no
contexto da língua portuguesa e, sobretudo entender os conceitos ensinados para, no
caso de atividade de docência, conseguir passar esses conhecimentos.

Então vamos mostrar uns caminhos para isso: no ensino fundamental,


podemos apresentar os elementos: morfema, radical, prefixo, sufixo etc. A partir disso,
elaborar pesquisas sobre as palavras conhecidas pelos próprios alunos para entender
a sua formação. Além disso, eles poderão constatar a criação de palavras novas, os
neologismos, algumas gírias e os tipos de palavras utilizadas em meios diferentes
(popular e social) mostrando a eles a função das palavras como forma de comunicação
efetiva e a importância do estudo da Morfologia.

37
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• As palavras podem ser simples, compostas, primitivas e derivadas, são constituídas


de morfemas e possuem classificações distintas.

• Morfema é a menor unidade de sentido que constitui a estrutura de uma palavra. Os


morfemas são a unidade mínima de significação, ou seja, o elemento significativo que
não pode ser decomposto.

• Os morfemas gramaticais são aqueles que possuem um significado interno à sua


estrutura gramatical. Morfemas lexicais apresentam o sentido básico da palavra e
gramaticais quando indicam noções gramaticais.

• Morfema é a unidade básica da Morfologia, sendo uma forma significativa recorrente


mínima.

• Morfe constitui a concretização do morfema. Muitos morfemas são resultados de um


único morfe.

• Alomorfe é a ocorrência de dois morfes que indicam um único morfema – duas


formas para um único significado.

• Formas livres são vocábulos formais que podem ser pronunciados isoladamente e
mesmo assim expressam ideias.

• Formas presas só têm valor quando combinadas com outras formas livres ou presas.
Não têm sentido sozinhas e se apresentam fixas a um vocábulo.

• Formas dependentes são definidas por aquelas que não são livres, porque não podem
funcionar isoladamente como comunicação autônoma, mas não são presas.

• Os elementos morfológicos se constituem de radical e raiz. Radical é a parte fixa,


para fins de conjugação, de um verbo, ou seja, não há radical em formas nominais:
substantivo, adjetivos etc. Raiz é a parte básica, a origem de uma palavra. Essa palavra
tanto pode ser um verbo, como um substantivo, adjetivo etc.

38
• Vogais temáticas são vogais que se juntam ao radical com a função de receber outros
elementos localizando-se, então, entre dois morfemas. Há vogais temáticas tanto em
verbos quanto em nomes.

• Desinências são os morfemas colocados no final das palavras com a função de indicar
as flexões nominais ou verbais.

• Vogais e consoantes de ligação (infixos) são elementos que facilitam a pronúncia


das palavras ao serem inseridas na função de ligação; a sua presença nesses
vocábulos se dá por necessidade fonética.

39
AUTOATIVIDADE
1 A morfologia, antes de se debruçar sobre o estudo das dez classes gramaticais,
dedica-se sobretudo ao estudo das menores unidades de sentido, que vão gerar as
palavras e as classes gramaticais. A partir dessa reflexão, é correto afirmar que:

a) ( ) Para a morfologia, a menor unidade de sentido é a palavra, visto que as frases


são compostas pelo agrupamento de diversas palavras.
b) ( ) Para a morfologia, a menor unidade de sentido é o morfema, que constitui a
estrutura de todas as palavras.
c) ( ) Para a morfologia, as menores unidades de sentido são o substantivo e o verbo,
em torno dos quais gravitam as outras classes gramaticais.
d) ( ) Para a morfologia, a menor unidade de sentido é o poema, que constitui a
estrutura de todas as palavras literárias.

2 Quanto à estrutura mórfica, indicando as afirmações que se relacionam ao verbo


desdobrar, assinale a alternativa CORRETA: 

I- Desdobravam decompõe em:
des + dobr + a + va + m.
II- Esses elementos mórficos são:
prefixo + radical + vogal temática + desinência modo-temporal + desinência número-
pessoal.
III- É, pois, um verbo da primeira conjugação, flexionado no pretérito imperfeito do
indicativo, terceira pessoa do plural.

a) ( ) Estão corretas I e II.


b) ( ) Estão corretas II e III.
c) ( ) Estão corretas I e III.
d) ( ) Todas estão corretas.

3 A alternativa que apresenta os elementos mórficos, destacados na palavra, com


correção gramatical, é:

a) ( ) pareciam: parec-: radical; -ia: vogal temática; parecia-: tema; -m: desinência
modo-temporal.
b) ( ) sopravam: sopr-: radical; -a: vogal temática; sopra-: tema; -va-: desinência
modo-temporal; -m: desinência número-pessoal.
c) ( ) mergulhando: mergulha-: radical; -n-: consoante de ligação; -do: desinência
modo-temporal.
d) ( ) caía: caí-: radical; -a: vogal temática; caía: tema.
e) ( ) estava: est-: radical; -a: vogal de ligação; -va: desinência modo-temporal.

40
4 Há elementos da Morfologia da língua portuguesa que estudamos para o conheci-
mento e a compreensão das palavras. Defina esses termos:

a) Radical:

b) Afixos:

c) Vogal temática:

d) Vogais e consoantes de ligação (infixos):



5 Observe os versos de Cecília Meireles (1986) e indique as formas livres, formas presas
e dependentes, lembrando que entendemos por forma livre: morfema que, por si só,
pode constituir uma palavra; forma presa: morfema que, por si só, não pode constituir
uma palavra, sendo apenas um constituinte de palavra e forma dependente: forma
não autônoma cujo significante se associa a outras formas dependentes ou livres.

“Eu vi a rosa do deserto


Ainda de estrelas orvalhada
Era a alvorada”

41
42
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

1 INTRODUÇÃO

Você aprendeu, nos tópicos anteriores, os conceitos iniciais de Morfologia,


incluindo o estudo das palavras. Agora, você vai ver como se dá essa formação de
vocábulos, por composição e por derivação.

Lembrando mais uma vez que se faz necessária para a fixação do conteúdo,
a leitura de todo o material apresentado, o que facilitará a sua vivência com os termos
utilizados e a análise de cada um em um contexto gramatical.

Neste Tópico apresentaremos o processo de formação de palavras, o qual se


dá por derivação ou por composição, que por sua vez apresentam subdivisões. Veja a
figura a seguir:

FIGURA 5 – FORMAÇÃO DE PALAVRAS

FONTE: <https://bit.ly/3BIdmr8>. Acesso em: 2 fev. 2021.

43
2 COMPOSIÇÃO
A composição ocorre quando duas ou mais palavras formam uma nova. No
entanto, as palavras originais já são dotadas de significados e funções próprias na
língua. A formação de palavras por composição pode se dar por:

• Aglutinação – quando as palavras se integram passando a ter um acento tônico só.


Ademais, tem a sua forma alterada. Exemplos:

◦ água + ardente= aguardente


◦ Rosa + Ângela= Rosângela
◦ plano + alto = planalto
◦ perna + alta = pernalta
◦ vinho + acre = vinagre

• Justaposição – quando as palavras são colocadas lado a lado, podendo ou não


receber hífen. Nesse caso, não levam alteração fonética. Exemplos:

◦ assa + tempo = passatempo


p
◦ guarda + chuva = guarda-chuva
◦ beija + flor = beija-flor
◦ guarda + roupa = guarda-roupa
◦ gira + sol = girassol

Observação: note que em girassol houve duplicação do s ao juntar-se à palavra,


sem que houvesse junção e perda de vogal. Em passatempo, apenas junção sem hífen.

2.1 OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS


Há outros processos de formação de palavras que serão estudados agora,
como o hibridismo, onomatopeia e sigla. Estão presentes nas conversas, na redação de
textos, quer seja de informação ou de entretenimento.

2.1.1 Hibridismo
A língua portuguesa é formada por palavras deixadas por outras línguas mais
antigas. Às vezes, pensamos que somente o latim nos deixou um legado, mas o grego e
algumas outras línguas também o fizeram.

O resultado da combinação ou reunião de palavras ou morfemas que vieram de


idiomas diferentes chama-se hibridismo. As pessoas pronunciam diariamente palavras
que não temos a menor noção de sua procedência, como reportagem (inglês + latim),
surfista (inglês + grego), sambódromo (africano + grego).

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Exemplos de hibridismos mais comuns:

Alcoômetro – Álcool (árabe) + metro (grego)


Autoclave – Auto (grego) + clave (latim)
Burocracia – Buro (francês) + cracia (grego)
Endovenoso – Endo (grego) + venoso (latim)
Hiperacidez – Hiper (grego) + acidez (português)
Monocultura – Mono (grego) + Cultura (latim)
Psicomotor – Psico (grego) + motor (latim)
Romanista – Romano (latim) + -ista (grego)
Sociologia – Socio (latim) + -logia (grego)
Zincografia – Zinco (alemão) + grafia (grego)

Outros casos notáveis são os seguintes:

Grego e latim
Astronauta (estrela + navegante)
Automóvel (por si mesmo + móvel)
Monóculo (um + olho)
Televisão (longe + visão)

Latim e grego
Altímetro (alto + medida)
Decímetro (dez + medida)

Árabe e grego
Alcaloide (soda + forma)

2.1.2 Onomatopeias
São  palavras que reproduzem os sons existentes, como os barulhos das
máquinas e objetos, os ruídos dos animais, os sons produzidos pelo ser humano e os
ruídos da natureza. São muito utilizadas nas histórias em quadrinhos. E, ainda, em
poesias e peças publicitárias.

Onomatopeias de sons de instrumentos, máquinas e objetos:

tic-tac ou tique-taque (relógio);


blem blem (badaladas de sinos);
ding dong (campainha);
plim (magia);
boom (bomba);
crash (batida);
tum-tum (bater do coração);

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triiimm (telefone);
biii biii (buzina);
vroooom (motor de veículos);
ploft (objeto caindo);
toc toc (batida na porta);
bum (explosão);
bang bang (tiros).

Onomatopeias de sons de animais:


miau miau (gato);
cócórócócó (galo);
cri cri (grilo);
au au (cachorro);
bzzz (abelha);
ssssss (cobra);
piu-piu (passarinho).

Onomatopeias de sons humanos:


buááá (choro);
hahaha (gargalhadas);
chuac (beijo);
fiu fiu (assobio);
nhac (mordida);
atchim (espirro);
sniff sniff (choro);
aaai (dor);
psst (chamada);
burp (arroto);
ic (soluço).

Onomatopeias de sons de fenômenos da natureza:


vuuuuu (vento);
ping ping (chuvisco);
cabrum (trovão);
chuá-chuá (cachoeira).

2.1.3 Sigla
Representa, na escrita, parte da palavra como equivalente de um todo, reduzindo
determinados vocábulos. Denomina-se sigla o conjunto de letras iniciais dos vocábulos
que compõem o nome de uma organização, uma instituição, um programa, um tratado.
Exemplos: USP, Unesp, CPF etc.

46
Inserimos as regras de utilização das siglas com o objetivo de facilitar o entendi-
mento e a consequente prática na hora de usar algumas delas. Essas formas de apresenta-
ção de siglas devem ser respeitadas, principalmente em redação de documentos, por isso
são amplamente divulgadas por órgãos responsáveis pelas normas técnicas brasileiras.

Na utilização de siglas, observam-se os seguintes critérios:

a) Devem-se citar apenas siglas já existentes, de acordo com a convenção ou desig-


nação oficial. Exemplo: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT (e não EBCT).
b) Quando mencionadas pela primeira vez no texto, deve-se escrever a forma por
extenso, seguida da sigla entre parênteses, ou separada por hífen. Depois da sigla se
tornar conhecida, dispensa-se o nome. Exemplo: A Universidade de São Paulo (USP)
é uma conceituada universidade brasileira. A Universidade de São Paulo – USP é
uma conceituada universidade brasileira. Pode ser apenas a USP é uma conceituada
universidade brasileira.
c) Não são colocados pontos intermediários e ponto final nas siglas. Exemplo: Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais – Apae (e não A.P.A.E ou A.p.a.e.).
d) Siglas com até três letras são escritas com todas as letras maiúsculas. Exemplo: ONU
– Organização das Nações Unidas; IML – Instituto Médico Legal.
e) Siglas com quatro letras ou mais devem ser escritas com todas as letras maiúsculas
quando cada uma de suas letras ou parte delas é pronunciada separadamente, ou
somente com a inicial maiúscula, quando formam uma palavra pronunciável. Exemplos:
Masp – Museu de Arte de São Paulo, Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, Mercosul – Mercado Comum do Sul.
f) Deve-se manter com maiúsculas e minúsculas as siglas que originalmente foram cria-
das dessa forma para se diferenciarem de outras similares. Exemplo: CNPq – Conselho
Nacional de Pesquisa (para diferenciá-lo de CNP – Conselho Nacional do Petróleo).
g) No caso de se utilizar sigla de origem estrangeira, deve-se adotar a sigla e seu nome
em português quando houver forma traduzida, ou adotar a forma original da sigla
estrangeira quando esta não tiver correspondente em português, mesmo que o seu
nome por extenso em português não corresponda perfeitamente à sigla. Exemplos:
ONU – Organização das Nações Unidas. ISBN- (internacional standard book number ou
padrão internacional para livro).
h) Deve-se adicionar a letra s (sempre minúscula) para indicar o plural das siglas
somente quando a concordância gramatical exigir. Exemplos: O trabalho das ONGs vem
repercutindo cada vez mais na sociedade. Serão sugeridas novas PECs pelo governo.
(PEC = Proposta de Emenda Constitucional).

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3ti1wAL>. Acesso em: 25 ago. 2021.

3 DERIVAÇÃO
A derivação é um processo de formação de novas palavras pelo acréscimo de
afixos (prefixos e sufixos) ao radical da palavra primitiva para originar outras palavras na
língua portuguesa.

47
Chuva, Chuvisco, Chuvarada
Cocoricó – Composição: Hélio Ziskind
Chove, mas como chove
Chuva, chuvisco, chuvarada
Por que é que chove tanto assim?

A terra gosta da chuva


E eu gosto da chuva também
Ela lá e eu aqui
Cocoricó
Quiquiriqui

Chove, mas como chove


Chuva, chuvisco, chuvarada
Por que é que chove tanto assim?
Lararáaa

Quando chove
A terra fica molinha
A planta fica verdinha
E eu fico todo molhado
Com o pé na lama e nariz tapado
Minha vó me chama:
"Menino vem cá, vem tomar chá
Vem comer bolo de cenoura
Com cobertura de chocolate quente"
Bom muito bom, muito mais do que bom
É excelente

Oh que tarde tão bela


Banana quente no forno com açúcar e canela

Chove, chove, chove deixa chover


Enquanto tiver bolo de cenoura a gente nem vai perceber
Chove, chove, chove, deixa chover
Comendo banana quente a gente nem vai perceber

Bom muito bom, muito mais do que bom


É excelente
Enquanto tiver bolo de cenoura
A gente nem vai perceber

Chove, chove, chove deixa chover


Comendo banana quente
A gente nem vai perceber.

FONTE: <https://www.letras.mus.br/cocorico/969907/>. Acesso em: 7 fev. 2021.

48
Na música Chuva, Chuvisco, Chuvarada há várias palavras com o mesmo radical
chuv-, mas com sufixos diferentes. Isso acarreta em mudança de ideia, de sentido, entre
outras observações. Denominamos, então, derivação o processo de formação de uma
palavra pelo acréscimo de afixos (que pode ser prefixo ou sufixo).

O som de ch, como você pôde observar na letra de música acima, aparece em
vários momentos, principalmente no refrão, o que permite uma interpretação rítmica,
com a repetição de palavras derivadas de chuva.

3.1 TIPOS DE DERIVAÇÃO


Vamos estudar agora os tipos de derivação que as palavras sofrem. Começamos
pelos afixos: prefixos e sufixos, depois parassíntese, a derivação regressiva e a imprópria.

3.1.1 Afixos: prefixos e sufixos


São elementos adicionados ao radical para a constituição das palavras. Os afixos
são classificados em dois tipos, sendo eles: PREFIXOS: quando vêm antes do radical e
SUFIXOS: quando vêm depois do radical.

• Prefixos

◦ Prefixos de origem grega:

a-, an-: afastamento, privação, negação, insuficiência, carência


ana-: inversão, mudança, repetição
anfi-: em redor, em torno, de um e outro lado
anti-: oposição, ação contrária
apo-: afastamento, separação
arqui-, arce-: superioridade hierárquica, excesso
cata-: movimento de cima para baixo
di-: duplicidade
dia- : movimento através de, afastamento
dis-: dificuldade, privação
ec-, ex-, exo-, ecto-: movimento para fora
en-, em-, e-: posição interior, movimento para dentro
endo-: movimento para dentro
epi-: posição superior
eu-: excelência, perfeição, bondade
hemi-: metade, meio
hiper-: posição superior, excesso
hipo-: posição inferior, escassez
meta-: mudança, sucessão

49
para-: proximidade, semelhança, intensidade
peri-: movimento ou posição em torno de
pro-: posição em frente, anterioridade
pros-: adjunção, em adição a
proto-: início, começo, anterioridade
poli-: multiplicidade
sin-, sim-: simultaneidade, companhia
tele-: distância, afastamento

◦ Prefixos de origem latina:

a-, ab-, abs-: afastamento, separação


a-, ad-: aproximação, movimento para junto
ante-: anterioridade, procedência
ambi-: duplicidade
ben(e)-, bem-: bem, excelência de fato ou ação
bis-, bi-: repetição, duas vezes
circu(m)-: movimento em torno
cis-: posição aquém
co-, con-, com-: companhia, concomitância
contra-: oposição
de-: movimento de cima para baixo, separação, negação
de(s)-, di(s)-: negação, ação contrária, separação
e-, es-, ex-: movimento para fora
en-, em-, in-: movimento para dentro, passagem para um estado ou forma
extra-: posição exterior, excesso
i-, in-, im-: sentido contrário, privação, negação
inter-, entre-: posição intermediária
intra-: posição interior
intro-: movimento para dentro
justa-: posição ao lado
ob-, o-: posição em frente, oposição
per-: movimento através
pos-: posterioridade
pre-: anterioridade
pro-: movimento para frente
re-: repetição, reciprocidade
retro-: movimento para trás
so-, sob-, sub-, su-: movimento de baixo para cima, inferioridade
super-, supra-, sobre-: posição superior, excesso
soto-, sota-: posição inferior
trans-, tras-, tres-, tra-: movimento para além, movimento através
ultra-: posição além do limite, excesso
vice-, vis-: em lugar de

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◦ Correspondência entre Prefixos Gregos e Latinos

a, na/des, in: privação, negação


anti/contra: oposição, ação contrária
anfi/ambi: duplicidade
apo/ab: afastamento, separação
di/bi(s): duplicidade
dia, meta/trans: movimento através
e(n)(m)/i(n)(m)(r): movimento para dentro
endo/intra: movimento para dentro
e(c)(x)/e(s)(x): movimento para fora, mudança de estado
epi, super, hiper/supra: posição superior, excesso
eu/bene: excelência, perfeição, bondade
hemi/semi: divisão em duas partes
hipo/sub: posição inferior
para/ad: proximidade, adjunção
peri/circum: em torno de
si(n)(m)/cum simultaneidade, companhia

• Sufixos

◦ Sufixos que formam nomes de ação, estado, movimento:

-ada -dão -mento

-ança -ença -são

-ância -ez(a) -tude

-ção -ismo -ura

◦ Sufixos que formam nomes de agente, profissão:

-ário(a) -ista -nte

-eiro(a) -or

◦ Sufixos que dão nomes a locais:

-aria -eiro -tério

-ário -or -tório

51
◦ Sufixos que formam nomes com significado de abundância, aglomeração, coleção:

-aço -ario(a) -io

-ada -edo

-agem -eria

◦ Sufixos que formam termos científicos:

-ite -ina -ito

-oma -ol -ema

-ato, eto, ito -ite -io

◦ Sufixo que forma nomes de religião, doutrinas filosóficas, sistemas políticos:

-ismo

Apresentamos os afixos como processo de derivação e, também, percebemos


a necessidade de colocarmos as formas prefixais e sufixais assim como os exemplos
respectivos de cada um para facilitar a consulta e a utilização dessas palavras derivadas.

3.1.2 Parassíntese
Trata-se uma forma de derivação, que ocorre pela junção de afixos a uma
palavra simples ou radical, formando uma nova palavra com significação própria. Na
derivação parassintética ocorre a junção simultânea de um prefixo e de um sufixo a
um adjetivo ou substantivo para a formação de um verbo. Agora veremos exemplos de
palavras formadas por parassíntese:

abençoar (a- + bênção + -ar); engordar (en- + gordo + -ar)

ajoelhar (a- + joelho + -ar); enlouquecer (en- + louco + -ecer)

amanhecer (a- + manhã + -ecer); entristecer (en- + triste + -ecer)

anoitecer (a- + noite + -ecer); envelhecer (en - + velho + -ecer)

emagrecer (em- + magro + -ecer) envergonhar (en- + vergonha + -ar)

52
É importante saber que a derivação parassintética ocorre com prefixo e sufixo
ao mesmo tempo para ter sentido próprio, ao contrário da prefixação ou da sufixação
que se pode tirar um dos afixos e continua a palavra tendo significado. Exemplo: in – feliz
– mente; des-leal-mente.

3.1.3 Derivação regressiva


Na derivação regressiva, também chamada de formação deverbal, ocorre
redução da palavra primitiva e não acréscimo. Diferente de outras formas de derivação,
que ocorrem por acréscimo, sendo a palavra derivada uma ampliação da palavra
primitiva, na derivação regressiva, ocorre a redução da palavra primitiva para a formação
da palavra derivada.

A forma mais habitual de derivação regressiva é a formação de substantivos a


partir de verbos, pela supressão do -r final dos verbos. Esses substantivos são chama-
dos de substantivos deverbais.

Vamos mostrar alguns exemplos de substantivos formados por derivação
regressiva:

ataque (do verbo atacar) compra (do verbo comprar)

atraso (do verbo atrasar) consumo (do verbo consumir)

caça (do verbo caçar) denúncia (do verbo denunciar)

embarque (do verbo embarcar) pesca (do verbo pescar)

erro (do verbo errar) renúncia (do verbo renunciar)

mergulho (do verbo mergulhar) venda (do verbo vender)

Podemos ter a formação de substantivos a partir de outros substantivos: boteco


(de botequim), comuna (de comunista).

3.1.4 Derivação imprópria


Na derivação imprópria ou de conversão não há alteração da palavra primitiva,
que permanece igual. Há mudança de classe gramatical com mudança de significado:
verbos passam a substantivos, adjetivos passam a advérbios, substantivos passam a
adjetivos etc. Cabe dizer aqui que esse tipo de derivação tem conotação semântica, pois
mostra alteração de sentido. Exemplos: jantar (verbo para substantivo), andar (verbo
para substantivo), prodígio (substantivo para adjetivo), baixo (adjetivo para advérbio).

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Observam-se vários casos de derivação imprópria. Vamos aqui mostrar alguns:

• Os adjetivos passam a substantivos. Exemplo: Os maus serão punidos.


• Os verbos podem passar a substantivos ou adjetivos. Exemplo: Os democratas con-
seguiram um feito histórico.
• Os  verbos no infinitivo  passam a  substantivos. Exemplo: O andar da bailarina era
delicado.
• Os adjetivos passam a advérbios. Exemplo: Chorei baixo para que ninguém percebesse.
• Substantivos próprios tornam-se comuns. Exemplo: João nunca falta. É um caxias
mesmo!
• Palavras invariáveis passam a substantivos. Exemplo: Expliquei o porquê da situação.

Para entender o processo de formação de palavras é importante observar


como os vocábulos se apresentam nos textos de uma maneira geral. Torna-se uma
atividade interessante buscar exemplos nas letras de músicas, nas obras literárias. Aqui,
mostramos uma música com vários exemplos do que estudamos e que servirá como
base em práticas em sala de aula.

Vamos ver a letra da música Mama África, de Chico César:

Mama África

Chico César

Mama África Filhinho dá um tempo


A minha mãe É tanto contratempo
É mãe solteira No ritmo de vida de mama...
E tem que
Fazer mamadeira Mama África
Todo dia A minha mãe
Além de trabalhar É mãe solteira
Como empacotadeira E tem que
Nas Casas Bahia...(2x) Fazer mamadeira
Todo dia
Mama África, tem Além de trabalhar
Tanto o que fazer Como empacotadeira
Além de cuidar neném Nas Casas Bahia...(2x)
Além de fazer denguim
Filhinho tem que entender É do Senegal
Mama África vai e vem Ser negão, Senegal...
Mas não se afasta de você...

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Mama África Deve ser legal
A minha mãe Ser negão, Senegal...(3x)
É mãe solteira
E tem que Mama África
Fazer mamadeira A minha mãe
Todo dia É mãe solteira
Além de trabalhar E tem que
Como empacotadeira Fazer mamadeira
Nas Casas Bahia... Todo o dia
Além de trabalhar
Quando Mama sai de casa Como empacotadeira
Seus filhos de olodunzam Nas Casas Bahia...(2x)
Rola o maior jazz
Mama tem calo nos pés Mama África
Mama precisa de paz... A minha mãe
Mama África
Mama não quer brincar mais A minha mãe
Mama África...

FONTE: <https://www.letras.mus.br/chico-cesar/45197/>. Acesso em: 20 jul. 2021.

Podemos observar várias palavras como mama (abreviação de mamãe);


derivadas como mamadeira (sufixo), empacotadeira (prefixo e sufixo), filhinho (sufixo);
contratempo (justaposição); negão, denguim, neném, olodunzam, rola (verbo) como
palavras recriadas com o objetivo de aproximar quem fala de quem ouve. Esse é o
dinamismo da nossa língua e a importância de conhecê-la de uma forma ampla.

Os professores devem ficar atentos a essas atividades com textos, pois ajudam
na compreensão da língua e incentivam a buscar o sentido das palavras e a intenção
do comunicador. Para quem o autor/compositor dirige a mensagem? Há palavras que
poderiam ser substituídas por outras? Por que ele escolheu determinadas palavras?
Lembre-se da música Cálice, de Chico Buarque, que dá duplo sentido à palavra (cálice/
cale-se).

Há muitas outras letras de músicas que podem exemplificar as variações


linguísticas, as palavras e sua formação, a função dos vocábulos em inúmeros contextos.
Mais uma dica: a música Drão, do Gilberto Gil e em várias canções de Caetano Veloso e
de Chico Buarque que se valem de várias maneiras de compor dando sentidos diferentes
às palavras.

55
DICA
Como sugestão de leitura e de ideias para atividades em sala de aula, indicamos o trabalho
de Helena Pacheco de Amorim, com o título Morfologimusicalizar: uma análise da criação
de novas palavras na música brasileira, apresentado à Universidade de Brasília, em 2018.
Acesse em: https://bit.ly/3l5ddHp.

Há, também, o trabalho Formação de palavras neológicas em músicas de Gilberto Gil e


Caetano Veloso, de autoria de Thalita Angelucci, apresentado à Universidade Nacional de
Rosario (Argentina), em 2018. Você pode ler o texto em: <https://bit.ly/3jRbTbN>.

Sugerimos, também, como contribuição à reflexão sobre o tema, a leitura do Trabalho


de Conclusão de Curso de Ingrid Bruna Pasquali, intitulado: Gramática
normativa e gramática funcional: uma proposta para o ensino de língua
na educação básica, apresentado na Universidade Caxias do Sul, em 2019.

Trata-se de uma discussão acerca da gramática normativa associada


à funcional, tendo como recorte a educação básica e, em especial, o
ensino dos verbos transitivos diretos. A pesquisa foi feita utilizando-se os
Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular,
como base para os estudos indicadores do ensino da língua portuguesa
no nível da educação básica.

Você poderá ler o texto na íntegra, que se encontra disponível em:


<https://bit.ly/3zXDYnj>.

O Tópico 3 apresentou os processos de formação de palavras, incluindo a


composição por aglutinação e justaposição, principalmente. Em seguida, as palavras
alteradas por derivação, por meio de afixos e, ainda, as derivações regressivas e
impróprias.

Nesse momento encerramos a Unidade 1, que tratou exclusivamente dos


primeiros contatos com os estudos de Morfologia, trazendo conceitos básicos para
a compreensão da disciplina e avançou para os conteúdos que englobam todos os
elementos necessários para entender os processos pelos quais as palavras passam e
se apresentam na nossa língua.

56
LEITURA
COMPLEMENTAR
Sugerimos como leitura complementar o texto, cujo resumo está a seguir. Ele
reflete os princípios da gramática normativa, explicitando o caso dos sujeitos e suas
questões de adequação aos estudos atuais. Essa pesquisa foi publicada em 20 de ja-
neiro de 2020, na Revista Gestão Universitária.

SOBRE OS CONCEITOS DE SUJEITO DA GRAMÁTICA NORMATIVA: UMA QUESTÃO


MUITO MAIS AMPLA DO QUE PARECE

Marinho Celestino de Souza Filho

Resumo: Pressupondo que a Gramática Normativa não ensina a alguém de modo algum


a “ler e escrever corretamente”, o autor do presente trabalho procura analisar algumas
das definições de sujeito dadas por esta Gramática e tenta mostrar suas relações/
implicações com o ensino-aprendizagem da nossa língua materna, sugerindo que há
uma necessidade urgente de reformulação, redefinição, renovação nos objetivos do
ensino aprendizagem da Gramática citada anteriormente,

Palavras-chave: Gramática Normativa, ensino-aprendizagem, conceitos de sujeito.


 
Deixamos aqui apenas uma parte do artigo, mas é importante que você leia o
texto na íntegra, que está disponível em: <http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/
sobre-os-conceitos-de-sujeito-da-gramatica-normativa-uma-questao-muito-mais-
ampla-do-que-parece>. Acesso em: 14 jun. 2021.

57
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A composição ocorre quando duas ou mais palavras formam uma nova.

• As palavras originais já são dotadas de significados e funções próprias na língua.

• Aglutinação é quando as palavras se integram passando a ter um acento tônico só e


têm a sua forma alterada.

• Justaposição é quando as palavras são colocadas lado a lado, podendo ou não


receber hífen.

• Hibridismo é resultado da combinação ou reunião de palavras ou morfemas que


vieram de idiomas diferentes.

• Onomatopeias são palavras que reproduzem os sons existentes, como os barulhos


das máquinas e objetos, os ruídos dos animais, os sons produzidos pelo ser humano
e os ruídos da natureza.

• Sigla é o conjunto de letras iniciais dos vocábulos que compõem o nome de uma
organização, uma instituição, um programa, um tratado etc.

• Derivação se refere a elementos adicionados ao radical para a constituição das


palavras.

• Os afixos são divididos em prefixos e sufixos. Prefixos: quando vêm antes do radical.
Sufixos: quando vêm depois do radical.

• A parassíntese ocorre pela junção de afixos a uma palavra simples ou radical,


formando uma nova palavra com significação própria.

• Na derivação regressiva ocorre redução da palavra primitiva e não acréscimo.

• Na derivação imprópria não há alteração da palavra primitiva, que permanece igual.


Há mudança de classe gramatical com mudança de significado: verbos passam a
substantivos, adjetivos passam a advérbios, substantivos passam a adjetivos etc.

58
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE, 2011) Quero pedir permissão à língua portuguesa para usar duas palavras
que, na verdade, são inexistentes oficialmente, quais sejam: crackudo e vacilão.
Crackudo é originário do termo crack.
A palavra foi recentemente criada para identificar o indivíduo que é usuário dessa
droga, ou seja, crackudo nada mais é do que o consumidor do crack. Quanto a vacilão,
tal palavra é originada do verbo vacilar, que significa não estar firme, cambalear,
enfraquecer, oscilar. Vacilão, na linguagem popular, nada mais é do que o indivíduo
que não mede as consequências dos seus atos e sempre ingressa em algo que não
é bom para si e que só lhe traz malefícios ou aborrecimentos. E, em assim sendo, o
crackudo é um vacilão!

FONTE: <www2.forumseguranca.org.br/node/22783>. Acesso


em: 12 ago. 2011.

O sufixo [-ão] opera como uma desinência formadora de aumentativos, superlativos


e agentivos em português, como indicado no exemplo apresentado no texto acima.
Tem-se, também, o sufixo [-udo], que indica grande quantidade de X; em seu uso
mais típico, X é igual à parte aumentada (orelhudo, narigudo, beiçudo, barrigudo etc).
Considerando essas informações e o texto acima, conclui-se que o vocábulo “vacilão”
possui um sufixo:

a) ( ) Agentivo, como o que se observa em “caminhão”, e que, no caso do sufixo [-udo]


em “crackudo”, ocorre a mesma motivação semântica existente em “beiçudo”.
b) ( ) Agentivo, como o que se observa em “mijão”, e que o sufixo [-udo] em “crackudo”
apresenta a mesma motivação semântica existente em “orelhudo” e “narigudo”.
c) ( ) Agentivo, assim como o vocábulo “resmungão”, e que o uso do sufixo [-udo] em
“crackudo” resulta em uma formação vocabular incomum na língua portuguesa.
d) ( ) Aumentativo, como o que se observa em “macarrão”, e que, no caso do sufixo
[-udo] em “crackudo”, se observa a mesma motivação semântica existente nos
vocábulos “orelhudo” e “sisudo”.
e) ( ) Aumentativo, como o observado em “panelão”, e que, no caso do sufixo [-udo]
em “crackudo”, se observa uma construção incomum na língua portuguesa,
dada a produtividade baixa do referido sufixo.

2 Indique as mudanças ocorridas nas classes gramaticais das palavras destacadas


formadas por derivação imprópria.

59
I. O conceito de belo é objeto de estudo da história da arte.
II. O Museu de Paris é muito belo.
III. O jantar de ontem estava ótimo.
IV. Quero jantar em um restaurante italiano.
V. Mário é o mais alto dos alunos.
VI. Minha vizinha falava muito alto.

a) ( ) I e II: adjetivo e substantivo; III e IV: substantivo e verbo; V e VI: adjetivo e


advérbio.
b) ( ) I e II: substantivo e adjetivo; III e IV: verbo e substantivo; V e VI: adjetivo e
advérbio.
c) ( ) I e II: substantivo e adjetivo; III e IV: verbo e substantivo; V e VI: advérbio e
adjetivo.
d) ( ) I e II: adjetivo e substantivo; III e IV: verbo e substantivo; V e VI: advérbio e
adjetivo.
e) ( ) I e II: substantivo e adjetivo; III e IV: substantivo e verbo; V e VI: adjetivo e
advérbio.

3 Indique os processos de formação das palavras destacadas:

“Vou-me embora para Pasárgada”

“Ela tem um quê misterioso”

Como você conseguiu emagrecer assim tanto?

Gosto de pular de paraquedas aos sábados.

Estou muito orgulhoso do meu desempenho acadêmico.

a) ( ) derivação sufixal, aglutinação, justaposição, derivação imprópria, parassíntese.


b) ( ) Aglutinação, parassíntese, justaposição, derivação sufixal, derivação imprópria.
c) ( ) Aglutinação, derivação imprópria, parassíntese, justaposição, derivação sufixal.
d) ( ) Derivação imprópria, derivação sufixal, aglutinação, justaposição, parassíntese.
e) ( ) Parassíntese, justaposição, derivação sufixal, derivação imprópria, aglutinação.

4 Defina os tipos de derivação:

Prefixal:

Sufixal:

Parassintética:

60
Prefixal e sufixal:

Regressiva:

Imprópria:

5 Qual é o processo de formação das palavras: engordar, espairecer, desalmado e


descamisado.

61
REFERÊNCIAS
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mais! Blog #Linguística. [S.l.], 10 jan. 2020. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.
br/linguistica/2020/01/10/noam-chomsky-e-o-funcionamento-da-linguagem-
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na música brasileira. 2018. 29f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Letras Português) – Universidade de Brasília, Brasília, 2018. Disponível em: <https://bit.
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63
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linguístico de crianças de 2 a 5 anos. 2020, 43f. Monografia (Bacharelado em Curso de
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bit.ly/3c1UJHj. Acesso em: 14 jun. 2021.

SOUZA FILHO, M. C. Sobre os conceitos de sujeito da gramática normativa: uma questão


muito mais ampla do que parece. Revista Gestão Universitária, [s.l.], dez. 2020.
Disponível em: http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/sobre-os-conceitos-de-
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SURDI, M. Gramática normativa: movimentos e funcionamentos do “diferente” e “do


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Santa Maria, Santa Maria, RS, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3BdccU5. Acesso em:
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VOCÁBULO. In: DICIO, Dicionário on-line de Português. Porto: 7 Graus, 2021. Disponível
em: https://www.dicio.com.br/vocabulo/. Acesso em: 24 ago. 2021.

64
ANOTAÇÕES

65
66
UNIDADE 2 —

CLASSES DE PALAVRAS:
SUBSTANTIVO, ADJETIVO,
VERBO E ADVÉRBIO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o estudo dos vocábulos a partir das classes de palavras;

• aprender os conceitos e características dos substantivos e adjetivos;

• assimilar a estrutura, as flexões e as conjugações dos verbos;

• entender as características dos advérbios.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – SUBSTANTIVO E ADJETIVO


TÓPICO 2 – VERBO: ESTRUTURA, FLEXÃO E CONJUGAÇÃO
TÓPICO 3 – ADVÉRBIO: VALORES MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

67
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
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68
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
SUBSTANTIVO E ADJETIVO

1 INTRODUÇÃO
Estudaremos, a partir de agora, os substantivos e os adjetivos como parte dos
estudos da morfologia da língua portuguesa. Pretendemos levar aos acadêmicos o
conhecimento de regras e, por conseguinte, as classificações para fins didáticos, pois é
uma forma de compreendermos a dinâmica das palavras e suas posições gramaticais.

As classes de palavras, estudadas com base na gramática normativa, são


mostradas aqui como base para que se compreendam as funções exercidas no contexto
e, também, a produção de sentidos. Primeiramente, deve-se aprender a classificação
das palavras, as formas e posteriormente entender os outros níveis.

Uma maneira de entender melhor os conceitos é por meio de textos literários


cotidianos, que encontramos nos meios de comunicação, assim como em letras de
música, receitas, quadrinhos entre outros.

O Tópico 1 traz os substantivos e adjetivos, as formas nominais, dentro do


espectro dos estudos morfológicos. A proposta é apresentar o conteúdo de maneira
simples, propor a leitura complementar e exercícios como autoatividades de fixação
desses conhecimentos. Vamos ao trabalho!

2 FLEXÃO NOMINAL
Segundo Basílio (2009, p. 21), as classes de palavras são muito importantes
na descrição de uma língua porque expressam propriedades gerais das palavras: “é
impossível descrever os mecanismos gramaticais mais óbvios, como a concordância
de gênero e número do artigo com o substantivo, se não determinarmos o que é
substantivo e artigo”.

As palavras podem ser classificadas de muitas formas. Denominamos classes


de palavras uma classificação específica, a partir de critérios lexicais ou gramaticais.

Vamos esclarecer a diferença entre classe e função, visto que, nas palavras de
Perini (2010, p. 290), “o problema se manifesta com frequência em afirmações de que
elementos de determinada classe ‘funcionam’ como se pertencessem a outra classe em
determinado contexto”.

69
Na gramática tradicional ou normativa, compreende-se que as classes se
definem fora de qualquer contexto, entendidas como imutáveis na maioria das vezes.
Mais recentemente, porém, vários estudos abrem-se para o entendimento de uma
gramática funcional, ou seja, aquela que objetiva analisar a língua em uso. Dessa
forma, é possível perceber que uma mesma palavra pode exercer diferentes funções
gramaticais, conforme o contexto.

Uma classe se caracteriza pelo potencial funcional das palavras que


a formam, ou seja, pelo que as palavras podem ser – as funções que
elas podem ocupar nas estruturas da língua. Uma palavra que esteja,
em determinado contexto, ocupando uma dessas funções continua
podendo ocupar outras (o que pode acontecer em outros contextos)
(PERINI, 2010, p. 290).

Além de entendermos as classes de palavras, devemos saber que as palavras


também carregam suas funções sintáticas. Muitas vezes ouvimos a palavra para, que
pode ser verbo ou preposição, dê (verbo) e de (preposição) e seu entendimento será pela
análise de função, descartando-se a questão fonológica (sons iguais) ou simplesmente
a classe a que a palavra pertence.

Vamos a outro caso: temos a palavra eles, que pode ser pronome ou substantivo
de acordo com a relação que tem com outras formas na mesma frase. Quando se trata
de pronome, devemos observar ainda o tipo em que se enquadra, pois pode ser prono-
me pessoal do caso reto ou pronome pessoal do caso oblíquo. Sendo assim, a classifica-
ção da palavra eles se altera por causa da função que ocupa na frase. Exemplos:

• Eles ganharam muito dinheiro (pronome pessoal do caso reto);


• O som de “eles” se confunde com a letra l no plural (substantivo);
• Eu li vários livros para eles (pronome oblíquo).

As classes de palavras, então, indicam a forma inicial de uma palavra, mas


dependendo do contexto, a análise deverá ser feita respeitando-se as funções sintáticas,
pois a língua portuguesa oferece possibilidades múltiplas de compreensão. A forma
sintática auxilia na compreensão do sentido das palavras. É possível estabelecer se uma
palavra recebe a denominação de substantivo, de verbo, de pronome, do adjetivo, de
advérbio etc.

As construções formais da língua portuguesa englobam muitas variáveis.


Reúnem uma variedade considerável se pensarmos nas flexões e nos casos de
derivações. Temos, por exemplo: a palavra amor e as variantes a partir de seu radical:
amado, amores, amável, amar; a palavra pedra: pedrada, pedrinha, pedregulho,
empedrar, pedras, pedreira.

Além do fator morfológico e do fator sintático, a classificação dos vocábulos


pode, ainda, utilizar-se do fator semântico, isto é, da produção de sentido em um
contexto. Exemplo: manga, uma fruta (substantivo) e manga, parte de uma camisa

70
(substantivo), canto (de parede, de mesa) e canto (verbo cantar), jantar (substantivo) e
jantar (verbo), saia (substantivo) e saia (verbo), colar (substantivo) e colar (verbo), bom
(adjetivo) e bom (substantivo) e assim por diante.

Apesar de entendermos a importância do estudo das classes gramaticais, tam-


bém devemos saber que essas categorias não são herméticas. As palavras ocupam vá-
rias posições dentro de uma frase e têm sentidos diferentes em cada texto ou conversa.

Para exemplificar: a palavra meio/meia pode ser classificada como substantivo (o
meio é a mensagem), como advérbio de modo ou de intensidade (estou meio cansada),
como numeral (comprei uma dúzia e meia de laranjas) ou como adjetivo (não gosto de
dizer meias palavras), e não necessariamente em uma classe de palavras apenas.

Perceba que há mobilidade das palavras, desde a classificação morfológica até


a ideia de produção de sentidos daquilo que queremos expressar, tanto na linguagem
falada como na escrita, porém para que fiquem claras essas variações devemos recorrer
às características de cada elemento que pertence às classes de palavras de modo como
foram determinadas.

De acordo com Monteiro (2002, p. 235), temos uma noção geral dos estudos de
Morfologia, onde as palavras não se limitam apenas às suas classificações determinadas:

- Sob o enfoque estritamente morfológico, é impossível explicar as


classes de palavras.
- Há duas classes fundamentais, a dos nomes e a dos verbos,
que se opõem pelos paradigmas flexionais. Semanticamente, os
nomes correspondem a uma visão estática da realidade, enquanto
os verbos traduzem representações dinâmicas.
- Os pronomes distinguem-se dos nomes porque aqueles expres-
sam um significado dêitico ou anafórico. (Nota da autora: o dêitico
representa algo previamente mencionado no discurso. Anáfora é
o termo usado para relembrar ou retomar algo que já foi dito).
- Substantivos, adjetivos e advérbios não são classes gramaticais.
São, na verdade, funções que os nomes e pronomes exercem em
contextos frasais.
- Os numerais fazem parte da classe dos nomes e, sendo assim,
podem ser substantivos ou adjetivos.
- Os artigos são pronomes, sempre em função adjetiva.
- Os conectivos subordinam palavras (preposições) ou orações
(conjunções subordinativas). Também podem relacionar elementos
da mesma função (conjunções coordenativas).

São inúmeras as possibilidades de análise dos vocábulos. Serão mostradas as


classes de palavras, como ponto de partida para a compreensão de tudo o que significa
a Morfologia. De uma maneira didática, as classificações ordenam a forma de pensar e
por isso ainda são utilizadas em várias áreas do conhecimento.

71
FIGURA 1 – CLASSES DE PALAVRAS

FONTE: <https://bit.ly/3BZKsT8>. Acesso em: 8 mar. 2021.

A ilustração da Figura 1 mostra a classificação das palavras de acordo com


suas características. São dez classes de palavras: substantivo, adjetivo, verbo, artigo,
pronome, numeral, advérbio, conjunção, preposição e interjeição. Essa é uma maneira
didática de aprender e de ensinar a morfologia. Devemos lembrar que os estudos têm
evoluído significativamente nessa área do conhecimento e os pesquisadores sugerem
uma amplitude nos estudos, interseccionando os termos gramaticais às suas funções
dentro dos textos.

2.1 MORFEMAS FLEXIONAIS (DESINÊNCIAS)


Os morfemas flexionais são os elementos que se unem às palavras para apon-
tar as flexões gramaticais, que podem ser nominais e verbais. As desinências nominais
indicam gênero e número, enquanto as verbais, as conjugações dos verbos (desinên-
cias modo-temporais e desinências número-pessoais).

As classes de palavras englobam os nomes: substantivos, adjetivos, numerais,


pronomes que são termos que apresentam declinação, enquanto os verbos têm
conjugação. Ainda, os nomes e os verbos têm flexão. Os advérbios, as preposições, as
conjugações e as interjeições não têm flexão.

Os substantivos nomeiam as coisas, objetos, pessoas, sentimentos entre ou-


tros e sempre concordam com o verbo em uma frase. Assim como os adjetivos acom-
panham os substantivos e concordam em gênero e número. Em nível sintático, deve
ocorrer dessa forma.

72
Morfologicamente, as pessoas podem modificar as palavras, inserindo prefixos e
sufixos, criando novos vocábulos. A liberdade de se lidar com a língua é maior enquanto
que o esquema sintático é mais previsível. Exemplo: Os alunos terminaram a prova de
matemática. Os termos devem concordar em todos os tipos: gênero, número etc.

Podemos afirmar, de maneira simples, que os nomes se caracterizam com


base na morfologia por apresentar desinências de gênero e de número, o que acontece
com substantivos e adjetivos, uma vez que pronomes, artigos e numerais podem ser
substantivos, podem ser adjetivos, de acordo com o sentido e a função que exercem na
frase. É importante ressaltar que qualquer palavra pode substantivar-se e, a partir desse
processo, submeter-se aos critérios flexionais e derivacionais específicos dos nomes.
Exemplos: o falar, o não, o andar, um alô, a jovem etc.

E, ainda, devemos observar que nem todo nome possui as subcategorias de


gênero e número. Explicando melhor, só poderá haver uma palavra no gênero feminino
(desinência a) se houver o oposto no masculino, assim também no singular e no plural
(s). Exemplos; o planalto (só no masculino, não tem feminino), ônibus (singular e plural).

Vamos ver como os nomes, substantivos e adjetivos, se apresentam de uma


forma solta no texto escrito por Eliane Brum:

História de um olhar

O mundo é salvo todos os dias por pequenos gestos. Diminutos, invisíveis. O


mundo é salvo pelo avesso da importância. Pelo antônimo da evidência. O mundo é
salvo por um olhar. Que envolve e afaga. Abarca. Resgata. Reconhece. Salva.
Inclui.
Esta é a história de um olhar. Um olhar que enxerga. E por enxergar,
reconhece. E por reconhecer, salva.
Esta é a história do olhar de uma professora chamada Eliane Vanti e de um
andarilho chamado Israel Pires.
Um olhar que nasceu na Vila Kephas. Dizem que, em grego, kephas significa
pedra. Por isso um nome tão singular para uma vila de Novo Hamburgo. Kephas foi
inventada mais de uma década atrás pedra sobre pedra. Em regime de mutirão. Eram
operários da indústria naqueles tempos nada longínquos. Hoje, desempregados da
indústria. Biscateiros, papeleiros. Excluídos.
Nesta Kephas cheia de presságios e de misérias vagava um rapaz de
29 anos com o nome de Israel. Porque em todo lugar, por mais cinzento, trágico
e desesperançado que seja, há sempre alguém ainda mais cinzento, trágico e
desesperançado. Há sempre alguém para ser chutado por expressar a imagem-
síntese, renegada e assustadora, do grupo. Israel, para a Vila Kephas, era esse ícone.
O enjeitado da vila enjeitada. A imagem indesejada no espelho.

73
Imundo, meio abilolado, malcheiroso, Israel vivia atirado num canto ou
noutro da vila. Filho de pai pedreiro e de mãe morta, vivendo em uma casa cheia de
fome com a madrasta e uma irmã doente. Desregulado das ideias, segundo o senso
comum. Nascido prematuro, mas sem dinheiro para diagnóstico. Escorraçado como
um cão, torturado pelos garotos maus. Amarrado, quase violado. Israel era cuspido.
Era apedrejado. Israel era a escória da escória.
Um dia Israel se aproximou de um menino. De nove anos, chamado Lucas.
Olhos de amêndoa, rosto de esconderijo. Bom de bola. Bom de rua. De tanto gostar
do menino que lhe sorriu, Israel o seguiu até a escola. Até a porta onde Lucas
desaparecia todas as tardes, tragado sabe-se lá por qual magia. Até a porta onde as
crianças recebiam cucas e leite. Israel chegou até lá por fome. De comida, de afago,
de lápis de cor. Fome de olhar.
[...]

FONTE: BRUM, E. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2012, p. 10.

Observe no título a palavra olhar. A princípio já nos remete a um verbo, o que


não ocorre aqui, pois se trata de um substantivo: um olhar. Os nomes, denominados
adjetivos, estão em todo o texto o que faz fluir a linguagem, transmite os sentidos e
oferece a nítida expressão dos sentimentos.

Esse texto pode servir para vários exemplos e exercícios. Uma sugestão para
quem leciona a língua portuguesa seria retirar todos os adjetivos do texto para perceber
a importância de cada um deles no contexto. Outra ideia; reescrever o texto de forma
que a construção das frases não ficasse solta. O estilo da autora, a jornalista Eliane
Brum, é muito claro. Ela trabalha com nomes e expressões livres, sem seguir por várias
vezes o esquema sintático e mesmo assim há sentido e compreensão do texto.

Como já dissemos, a liberdade da morfologia proporciona a criação de palavras,


a disposição em uma frase sem seguir, necessariamente, um esquema rígido de posição
dos termos em um texto. Percebemos isso nas músicas em que os compositores ousam
em suas letras, soltam palavras com sentido sem ligação com outras, sem perder o
sentido e o entendimento da mensagem.

Agora é o momento de estudarmos o substantivo e entender o seu papel dentro


do contexto morfológico. O substantivo e o adjetivo são partes definidas das classes
de palavras. O substantivo assume a posição dentro de uma frase de denominador,
enquanto o adjetivo tem o papel de determinante do substantivo.

74
3 SUBSTANTIVO
O substantivo faz parte do grupo das dez classes de palavras que vamos estudar
a partir desse Tópico. Por meio dele aprendemos a nomear as coisas e as pessoas, de
um modo geral. É a primeira classe de palavras que aprendemos a falar, por isso tem
uma importância fundamental na nossa língua.

As classes de palavras que estudaremos em morfologia seguem os princípios


da gramática tradicional. Segundo estudos mais recentes, substantivos e adjetivos
poderiam ser estudados como formas nominais, pois têm uma qualificação bastante
próxima, uma vez que a questão de gênero aparece apenas nas formas nominais:
menina, menino, meninas, meninos, alto, alta, altos, altas, diferente de verbos, advérbios
e assim por diante.

3.1 CONCEITO DE SUBSTANTIVO


Segundo Bagno (2012), os substantivos não poderiam ser estudados separada-
mente dos sujeitos para entender o seu sentido e conseguir entender o seu papel em
um contexto.

Podemos dizer que o critério sintático, ao contrário do semântico,


analisa a palavra a partir de sua relação com outra(s) palavra(s),
constituindo uma unidade linguística superior chamada de sintagma.
No caso do substantivo, estaremos diante de um sintagma nominal,
construção sintática que tem por núcleo um nome (substantivo
ou palavra funcionando como tal) e que poderá vir acompanhado
de especificadores (determinantes) e complementadores (ROCHA;
MESCKA, 2012, p. 94).

Assim, devemos conhecer o substantivo e suas definições, lembrando sem-


pre que ele faz parte da produção de sentido daquilo que se quer expressar, tanto
em comunicação falada ou escrita. E, assim, vamos dar início a essas conceituações,
que vêm dos pesquisadores da gramática tradicional e seguem para as atualizações
desses estudos.

Substantivo é uma classe de palavras que nomeia seres, objetos, fenômenos,


lugares, qualidades, ações, sentimentos. E serve para nomear pessoas, também.

Os substantivos podem ser classificados em simples, composto, primitivo,


derivado, próprio, comum, concreto, abstrato e coletivo. Vamos conhecer seus tipos e
suas características:

• Primitivos: são compostos por palavras que não se originaram de outras palavras


que existem presentes na língua. Na verdade, a partir deles é que se podem formar
novas palavras. Exemplos: laranja, casa, rua, sol.

75
• Derivados: são palavras que provêm de outras, sendo que o termo original pode ser um:
◦ substantivo: bruxa, que origina bruxaria;
◦ adjetivo (classe gramatical cuja função é caracterizar, evidenciar qualidades ou
estados dos seres): célebre, que cria celebridade;
◦ verbo (exprime uma ação, um estado ou um fenômeno situado no tempo): casar,
que gera casamento.
• Simples: são constituídos por  apenas um radical (parte da palavra que carrega o
sentido principal dela). Exemplos: flor, chuva, mar.
• Compostos: apresentam mais de um radical em sua estrutura. Formam-se por
justaposição ou por aglutinação. Em vista disso, formalmente, eles podem aparecer
como uma palavra. Exemplos: cachorro-quente, passatempo, guarda-chuva.
• Próprios: dão nomes específicos às pessoas, seres, sobrenomes, países, rios,
oceanos, cidades etc. Exemplos: Maria, Eduardo, Silva, Brasil, Amazonas.
• Comuns:  nomeiam um ser, porém de forma generalizada. Representam o maior
número de substantivos. Exemplos: mesa, sol, árvore, menino, professora, estudante,
cachorro, flor.
• Concretos: denominam as pessoas, lugares, objetos, reais ou imaginários. Definiam-
se como um nome de objetos palpáveis, que podemos ver ou tocar, mas com o
tempo, a definição passou a denominar tudo o que podemos ver, tocar ou imaginar.
Exemplos: casa, janela, duende, saci.
• Abstratos: nomeiam qualidades, defeitos, ações, sentimentos. Dependem de outros
seres para existirem, pois não têm sentido independente. Exemplos: felicidade,
tristeza, pensamento, frio, calor, sede, solidão.
• Coletivos: nomeiam um conjunto de seres, objetos, coisas de uma mesma espécie.
Exemplos: arquipélago = coletivo de ilhas, atlas= conjunto de mapas, fauna = animais
de determinada região, orquestra = coletivo de instrumentistas, buquê ou ramalhete
= coletivo de flores, ninhada = coletivo de filhotes.

Vamos conhecer como esses substantivos se flexionam e como são utilizados em


um contexto, concordando em gênero, número e grau com os elementos de uma frase.

3. 2 FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS


Os substantivos são palavras variáveis. Sofrem flexão em gênero, número e
grau. Denominamos, então: flexão em gênero: masculino e feminino; flexão em número:
singular e plural e flexão em grau: normal, diminutivo e aumentativo.

• Flexão em gênero

 Os substantivos são classificados pelo seu gênero: masculinos ou femininos. A


regra é que todo substantivo masculino é caracterizado pela desinência “o” e o feminino
pela desinência “a”.

76
Cabe uma ressalva: nem todos os substantivos masculinos terminam em “o”
(líder, telefonema, amor, sol, trator). Podemos definir, então, o substantivo como do
gênero masculino se vier precedido pelo artigo “o”: o sol, o homem, o trator, o amor, o
líder, o telefonema.

Assim também ocorre com os substantivos femininos caracterizados pela


desinência “a”: a mulher, a menina, a gata, a vaca, a escada, a mesa. Contudo, há
exceções, pois nem sempre a palavra termina com a desinência “a” e mesmo assim é
feminina: a dor, a flor, a morte, a árvore.

Quanto às formas podem ser: biformes, heterônimos e uniformes. Vamos


conhecer as suas características:

a) Biformes: possuem duas formas de um mesmo radical, bastando acrescentar “o” ou


“a”, como menino-menina, moço-moça, tio-tia, gato-gata.
b) Heterônimos:  possuem radicais diferentes, um para o feminino e outro para o
masculino e não necessitam do artigo para flexioná-los. Ex.: vaca-boi, rei-rainha,
juiz-juíza, bispo-episcopisa, carneiro-ovelha.
c) Uniformes: são os substantivos que possuem a mesma forma, tanto para o feminino,
como para o masculino. Os substantivos uniformes podem ser:

◦ Epicenos:  são os que designam animais ou plantas e são invariáveis no artigo


precedente. Quando se faz necessário dizer qual o sexo do animal, usa-se a palavra
macho ou fêmea. Assim: águia fêmea – águia macho, papagaio fêmea – papagaio
macho, cobra macho – cobra fêmea.
◦ Comum de dois gêneros: usa-se o artigo “o” ou “a”, ou “um”, “uma”, antecedendo o
substantivo para designar o gênero. Exemplos: o médico, a médica, o jornalista, a
jornalista, o repórter, a repórter, um comentarista, uma comentarista.
◦ Sobrecomuns:  são os substantivos invariáveis, independente do artigo que o
antecede. Exemplos: a criança, o parque, o chinelo, a caneta, a diversão, uma
dança, a bicicleta.

Cabe ressaltar que os substantivos de origem grega terminados em "ema" e


"oma" são masculinos, por exemplo: lema, teorema, poema. Há, também, os que causam
dúvida quanto ao gênero, isto é, aqueles utilizados para os dois gêneros sem alteração do
significado. Exemplo: o personagem e a personagem. E, há, ainda, alguns substantivos,
como exemplo: "o cabeça" (líder), "a cabeça" (parte do corpo humano), que variando de
gênero, mudam seu significado.

• Flexão em número

De acordo com o número dos substantivos, eles são classificados em:

◦ singular: palavra que designa uma única coisa, pessoa ou um grupo. Por exemplo:
mesa, homem, bola.

77
◦ plural: palavra que designa várias coisas, pessoas ou grupos. Por exemplo: mesas,
homens, bolas.

Quanto ao número, os substantivos podem ser flexionados em: singular ou


plural. O indicativo de um substantivo no plural é a terminação “s”. Exemplos: o colega >
os colegas; a menina > as meninas.

NOTA
Há algumas particularidades no que diz respeito ao plural dos substantivos. Vamos
conhecer alguns casos:
a) Nos substantivos terminados em al, el, ol, ul, altera-se o “l” por “is”. Exemplos: jornal -
jornais; papel - papéis.
b) Os substantivos terminados em “r” e “z” são acrescidos de “es” para o plural. Exemplos:
amor - amores; luz - luzes.
c) Caso o substantivo terminado em “s” for paroxítono, o plural será
invariável e se for oxítono, acrescenta-se “es”. Exemplos: país - países.
d) Os substantivos terminados em “n” formam o plural em “es” ou “s”.
Exemplos: abdômen - abdomens; pólen - polens.
e) Os substantivos terminados em “m” formam o plural em “ens”.
Exemplos: homem - homens; viagem - viagens.
f) Os substantivos terminados em “x” são invariáveis no plural. Exemplos:
tórax - tórax; xérox - xérox.
g) Para os substantivos terminados em “ão” há três variações para o
plural: “ões”, “ães” e “ãos”. Exemplos: mansão – mansões; pão – pães;
cidadão –cidadãos.

3.3 GRAU DOS SUBSTANTIVOS


De acordo com o grau dos substantivos, eles são classificados em aumentati-
vo e diminutivo:

• Aumentativo: indica o aumento do tamanho de algum ser ou alguma coisa. Divide-


se em:

◦ A nalítico: substantivo acompanhado de um adjetivo que indica grandeza, por


exemplo: casa grande.
◦ Sintético: substantivo com acréscimo de um sufixo indicador de aumento, por
exemplo: casarão.

• Diminutivo: indica a diminuição do tamanho de algum ser ou alguma coisa. Divide-


se em:

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◦ Analítico: substantivo acompanhado de um adjetivo que indica pequenez, por
exemplo: casa pequena.
◦ Sintético: substantivo com acréscimo de um sufixo indicador de diminuição, por
exemplo: casinha.

Uma observação quanto ao grau: as terminações inha, inho são comumente


atribuídas aos substantivos diminutivos, mas veja as palavras farinha e linha. Elas não
estão no diminutivo, apesar de sua terminação. Assim como pão, limão, caminhão,
irmão não têm o sentido de aumentativo como em palavras como cadernão, cachorrão.
Há que perceber que as denominações que as palavras recebem não estão rigidamente
definidas, portanto cabem reflexões sempre.

Quanto ao grau, Bagno concorda com Castilho (2012), os substanti-


vos, sendo referenciais, não admitem gradação, eles admitem sufixos
de aumentativo e diminutivo, mas informam o tamanho, a dimensão
do objeto referido. O sufixo -vel traz a ideia de particípio passado,
como em dirigível = que pode ser dirigido. O sufixo -oso é aplicado a
substantivo para a formação de adjetivos que expressam abundân-
cia e intensidade, como em formoso, formosa, formosos, formosas.
O sufixo -ês e -ense é usado para a formação de gentílicos: língua
portuguesa (adj.), o português (subst.); o povo amapaense (adj.),
as amapaenses (subst.). A modalização dos adjetivos, por meio do
advérbio, se dá quando o adjetivo modifica o substantivo, como em
'muito feliz, menos alegre etc., as palavras mais, muito e menos ocor-
re diante de um substantivo, pois não é advérbio, é um quantificador
indefinido, conforme a tradição, um pronome indefinido (SILVA NETO;
OLIVEIRA, 2014, p. 5-6).

Essa forma de pensamento traduz a maneira como vamos entender a língua


portuguesa, inclusive como vamos ensiná-la, partindo dos princípios da norma padrão
e respeitando as novas formas de expressão. Agora, passaremos para outro elemento
que compõe as classes de palavras: o adjetivo.

4 ADJETIVO
Vamos conhecer as peculiaridades de mais um elemento que compõe a lista de
classes de palavras: o adjetivo, e entender a diferença dessa classe e o substantivo, pois
pertencem ao mesmo grupo, formas nominais.

Entende-se por adjetivo o termo que acompanha um substantivo e, conse-


quentemente, segue-o em gênero, número e grau. Vimos, portanto, que o adjetivo tem
outras funções e, também, pode se apresentar como substantivo ou ser descrito de
forma separada, sem estar reduzido a um esquema sintático.

79
4.1 CONCEITO DE ADJETIVO
Sabemos que a característica do adjetivo é dar qualidade, defeito, condição,
estado ou modo de ser ao substantivo. Os adjetivos acompanham os nomes, com o
objetivo de modificar o seu sentido. São utilizados para dar uma ideia precisa do que
quer falar, especificando ou realçando características.

Nas palavras de Castilho (2012, p. 511):

1. O adjetivo aceita flexão de grau, expressa por sufixos produtivos,


como em branquíssimo, ou por terminações que são vestígios do
latim, como em maior, menor, melhor, pior, ou por Especificadores
e Complementadores: [mais Adj. do que X], [tão Adj como X], [o
mais Adj dos X], como em "mais branco do que neve", "tão branco
como a neve", "a mais branca das neves".
2. Adjetivos podem ser criados por derivação de modo, expressa
por {-vel}, como em amável (o que pode ser amado), provável
(o que pode ser provado). Já os substantivos não aceitam esse
sufixo, como 'mesável', salvo quando se quer transformá-lo
em adjetivo, como em 'reitorável, papável, exemplos vindos de
Rodolfo Ilari, segundo Castilho.
3. O adjetivo aceita a derivação por {-mente}, transformando-
se em advérbios como em 'facilmente', que não ocorre com os
substantivos, como em 'mesamente', salvo quando se pretende
adverbializá-lo, em que o autor se utiliza de exemplo de Basílio,
"Morfologia e Castilhamente, um estudo das construções X-mente
no português do Brasil".
4. O adjetivo aceita a derivação de quantificação, expressa por {-oso,
-al}, como em estudioso (o que estuda muito), sensacional (o que
causa muita sensação), e que não ocorre com os substantivos,
como 'mesosa, mesal'.

Exemplo:

Menino bom Bom menino

substantivo + adjetivo adjetivo + substantivo

Devemos observar que o conceito de qualidade que se atribui ao substantivo


é discutível quando se trata de certos adjetivos. E, também, precisamos mostrar que
algumas palavras podem ser substantivos ou adjetivos como referência à qualidade ou
estado. Não podemos simplesmente entender os adjetivos como termos que acompa-
nham os substantivos, como se eles tivessem uma identidade definitiva.

Exemplos: A arte mostra o belo e não o feio. Belo e feio são substantivos,
precedidos de artigo definido o. “Gosto de comprar frutas maduras e não frutas verdes.
Maduras e verdes são adjetivos”.

80
Vamos ver mais esse exemplo: “Conheço um jovem argentino que gosta do
Brasil”. E, ainda: “Conheço um argentino jovem que gosta do Brasil”. No primeiro caso,
temos jovem como substantivo e argentino como adjetivo e no segundo caso, argentino
como substantivo e jovem como adjetivo.

Assim, devemos nos atentar para essas situações de mobilidade de posições


dos termos de uma frase como forma de entender seu significado dentro do contexto.
No caso dos adjetivos são considerados como modalizadores e qualificadores.

Os adjetivos modalizadores recobrem três subclasses: epistêmicos


(envolvendo graus de certeza do falante), deônticos (envolvendo
necessidade) e discursivos (envolvendo um juízo do falante sobre o
sentido do substantivo e sobre um participante). Exemplificando: “A
causa real da crise política são as elites” – adjetivo modalizador epis-
têmico; “Temos uma decisão obrigatória a tomar no caso da crise po-
lítica” – adjetivo modalizador deôntico; “Esse aí é um caso espantoso”
– adjetivo modalizador discursivo (CASTILHO, 2014, p. 524-525).
Os adjetivos qualificadores agregam ao substantivo traços de
dimensão e de graduação, entre outros. Por exemplo: em “porque
às vezes eu vejo assim pontes enormes [...]” (CASTILHO, 2014, p.
527), o adjetivo é dimensionador. Em “ele tinha um poder de previsão
incrível” (p. 527), o adjetivo é graduador. Os graduadores, de acordo
com o autor “predicam substantivos /+graduáveis/, /-concretos/,
/-contáveis/, de processo, estado, relação, cujas propriedades eles
graduam para mais (graduadores intensificadores) ou para menos
(graduadores atenuadores)” (p. 527). Outros exemplos de graduadores
intensificadores estão nas frases “os musicais fazem um sucesso
tremendo” e “outras peças ao contrário fazem um sucesso enorme”
(CASTILHO, 2014, p. 527 apud CARVALHO, 2020, p. 29).

Agora veremos as características dos adjetivos no nível morfológico. Os adjeti-


vos podem ser simples, sendo formados por apenas um radical, ou compostos, sendo
formados por dois ou mais radicais.

Exemplos de adjetivos simples:


A menina é inteligente. Pedro está triste.

Exemplos de adjetivos compostos:


Meu sapato azul-escuro é o meu preferido.
A torcida rubro-negra está triste.

• Adjetivos primitivos e derivados: os adjetivos primitivos possuem o seu próprio


radical, não sendo formados a partir de outras palavras. Exemplos de adjetivos
primitivos: feliz, bom, azul, triste, grande, forte.
Os adjetivos derivados são formados a partir de outras palavras, que podem ser
adjetivos primitivos, substantivos ou verbos. Exemplos de adjetivos derivados:
bondoso, apaixonado, angustiado, raivoso, dengoso.

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• Adjetivos biformes e uniformes: os adjetivos biformes apresentam duas formas,
uma para o gênero masculino e outra para o gênero feminino. Exemplos de adjetivos
biformes:
Joana é uma mulher bonita. O mar está calmo.
Os adjetivos uniformes, também chamados de adjetivos comuns de dois gêneros, apre-
sentam sempre a mesma forma, quer no gênero feminino, quer no gênero masculino.
Exemplos de adjetivos uniformes: A minha calça é verde. O casaco dele é verde. Lúcia
está triste. Paulo está triste.

4.2 FLEXÃO DOS ADJETIVOS


Vamos estudar agora a flexão dos adjetivos, ou seja, a forma como se apresen-
tam nos textos, mostrando suas variações em gênero, que podem ser masculinos ou
femininos e em número, singulares ou plurais.

a) Flexão dos adjetivos em gênero: masculino e feminino

Os adjetivos apresentam flexão em gênero. Os adjetivos biformes podem estar


no masculino ou no feminino e os adjetivos uniformes são comuns desses dois gêneros.

Exemplos de adjetivos no masculino: simpático, bonito, velho, curioso.


Exemplos de adjetivos no feminino: simpática, bonita, velha, curiosa.
Exemplos de adjetivos comuns de dois gêneros: útil, capaz, inteligente, verde,
feliz, azul, forte, ruim, especial, leal, difícil, fácil, marrom, triste.

Observação: geralmente, os adjetivos terminados em -e, -z, -m e -l são adjetivos


uniformes.

b) Flexão dos adjetivos em número: singular e plural

Os adjetivos apresentam flexão em número: singular ou plural. Há regras


específicas para a formação do plural dos adjetivos simples e para a formação do plural
dos adjetivos compostos. Vamos ver:

Plural dos adjetivos simples: são utilizadas as mesmas regras de formação do


plural dos substantivos. Exemplo: A roupa velha. As roupas velhas.

Plural dos adjetivos compostos: a regra indica que apenas o último elemento
varia em número, indo para o plural. Contudo, o adjetivo composto se mantém invariável
se for formado por um substantivo no último elemento.
Exemplos com flexão do último elemento:

Minha amiga é afro-brasileira.


Minhas amigas são afro-brasileiras.

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Exemplos com adjetivos compostos invariáveis:
O tapete é amarelo-canário.
Os tapetes são amarelo-canário.
O vestido é azul-piscina.
Os tecidos são azul-piscina.

4.3 GRAU DOS ADJETIVOS


Os adjetivos flexionam-se também em grau. Eles se apresentam no grau nor-
mal, no grau comparativo ou no grau superlativo. Os graus dos adjetivos indicam a
intensidade com que um adjetivo pode caracterizar um substantivo. A mudança de
grau pode ser realizada por meio de dois processos: sintético ou analítico.

• Sintético:  feita pelo acréscimo de sufixos aos adjetivos. Exemplo: Paula é belíssima.
• Analítico:  feita pelo acréscimo de alguma palavra que modifique o adjetivo. Exemplo:
Paula é muito bela. 

Para melhor compreensão, vamos detalhar melhor a flexão de grau. Começare-


mos pelo grau comparativo que pode ser de igualdade, superioridade ou inferioridade.

• Grau comparativo

◦ Comparativo de igualdade: utiliza-se a combinação de palavras como: “tão…


quanto”, para comparar em nível de igualdade duas pessoas, situações ou coisas.
Veja um exemplo: João é tão rico quanto José.
◦ Comparativo de superioridade: usa-se a combinação “mais … que” ou “mais … do
que” será possível comparar dois termos em um nível de superioridade. Exemplo:
Maria é mais organizada que Luíza.
◦ Comparativo de inferioridade: utiliza-se a combinação “menos…que” ou “menos…
do que” é possível comparar termos em um patamar de inferioridade, como no
exemplo: Mário é menos organizado que Luiz.

• Grau superlativo

◦ Absoluto: quando o adjetivo atribui uma característica sem fazer relação com
outros elementos. Geralmente, o grau superlativo absoluto analítico é feito pelo
acréscimo dos sufixos -íssimo, -ílimo ou -érrimo. Exemplo: Cláudia ficou muito triste
com sua nota (superlativo absoluto analítico). Cláudia ficou tristíssima com sua
nota. (superlativo absoluto sintético).
◦ Relativo: o adjetivo atribui características em relação a outros elementos. O
superlativo relativo pode ser feito com os graus comparativos de igualdade,
superioridade e inferioridade. Exemplo: Esta prova é a mais difícil do ano (superlativo
relativo de superioridade). 

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FIGURA 2 – FLEXÃO DOS ADJETIVOS

FONTE: <https://bit.ly/3AmVul4>. Acesso em: 10 mar. 2021.

A ilustração da Figura 2 mostra a flexão de grau do adjetivo de forma didática


para a fixação do conteúdo. Como podemos ver, o grau comparativo pode ser de
igualdade, superioridade e de inferioridade e o grau superlativo, em modo absoluto
(analítico e sintético) e relativo, por sua vez de inferioridade e de superioridade. Dessa
forma, podemos visualizar melhor as possíveis flexões dos adjetivos, inclusive por ter
várias especificidades.

Na Nova gramática do português contemporâneo, de Cunha e Cintra


(2013), o grau é apresentado nos capítulos referentes a substantivo,
adjetivo e advérbio. No substantivo, o grau é exposto de três formas:
i) normal, como chapéu e boca; ii) com sua significação exagerada, ou
intensificada para o grau aumentativo, como em chapelão e bocarra
(processo sintético – com acréscimo de sufixos) ou chapéu grande e
boca enorme (processo analítico – com acréscimo de um adjetivo);
iii) com sua significação atenuada, ou valorizada afetivamente para o
grau diminutivo, como em chapeuzinho e boquinha (processo sinté-
tico); chapéu pequeno, boca minúscula (processo analítico). O grau é
usado para indicar aumento ou diminuição de tamanho, ou “aspectos
relacionados com essas noções” (CUNHA; CINTRA, 2013, p. 212).
Segundo os autores, o processo usado para assinalar o grau está
associado a diferentes valores: o grau analítico expressa a noção
de tamanho (pela junção dos adjetivos pequeno e grande, ou
sinônimos, a substantivos); e o grau sintético pode expressar outros
significados, como valorização ou depreciação (pelo acréscimo
de sufixos aumentativos), ou como afetividade (pelo acréscimo de
sufixos diminutivos). O grau do adjetivo, segundo Cunha e Cintra
(2013), pode ser expresso de forma comparativa ou superlativa. O
grau comparativo pode indicar a qualidade de um ser em relação
a outro ser ou, num mesmo ser, uma qualidade em relação a outra
qualidade – superior, igual ou inferior (CARVALHO, 2020, p. 19).

84
DICA
Sugerimos a leitura da dissertação de mestrado de Heliene Arantes
Carvalho com o título Expressão da gradação aumentativa na fala
manauara, apresentada à Universidade federal de Santa Catarina,
em 2020. A autora discute a questão do grau nas formas nominais,
contrapondo a visão de renomados pesquisadores. O texto está
disponível em: https://bit.ly/3PvM3Xi.

Quando utilizamos mais de uma palavra para dar um significado, denominamos


de locuções. Nesse momento, vamos conhecer a junção da preposição “de” com um
substantivo com a equivalência de um adjetivo.

• Locução adjetiva

Locução adjetiva é um conjunto de duas ou mais palavras que atuam como


um adjetivo, caracterizando um substantivo. As locuções adjetivas são formadas
maioritariamente pela preposição “de” mais um substantivo: Exemplos: amor de mãe
(relativa ao adjetivo materno); doença de criança (relativa ao adjetivo infantil), dor de
estômago (estomacal), tratamento de cabelo (capilar).

Segundo Bechara (2009, p. 123), locução adverbial é “a expressão formada de


preposição + substantivo ou equivalente com função de adjetivo: homem de coragem =
homem corajoso, livro sem capa = livro desencapado [...].” E continua a discorrer sobre
as locuções adjetivas, chamando a atenção para o seu emprego nas frases:

Apresentamos a seguir algumas locuções adjetivas para que você reconheça


esses termos ao se apresentarem em uma frase.

de abelha - apícola; de fogo - ígneo;


de água - hídrico; de ilha - insular;
de alma - anímico;
de dinheiro - pecuniário; de olhos - ocular, ótico ou oftálmico;
de erva - herbáceo; de orelha - auricular;
de paixão - passional;
de quadril - ciático: de sonho - onírico;
de serpente - ofídico; de velho – senil.

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Há, também, outros tipos de adjetivos que merecem ser mencionados:

• Adjetivos explicativos: expressam uma qualidade própria do ser: céu  azul,


fogo quente, mar salgado.
• Adjetivos restritivos: expressam uma qualidade que não é própria do ser, tornando-o
único no grupo de referência: casa bonita, homem elegante, menina triste.
• Adjetivos pátrios: nomeiam as pessoas ou objetos conforme o local de origem: inglês,
paulista, carioca, alemão, francês. Uma observação: são sempre palavras derivadas.
• Adjetivos adverbializados: assumem a função de advérbio na oração, permane-
cendo invariáveis. Substituem advérbios de modo terminados em -mente, produzin-
do um discurso mais rápido, acessível e enfático: Coma rápido esse lanche! (rápido
= rapidamente).
• Pronomes adjetivos: são os pronomes que alteram os substantivos. São pronomes,
mas atuam como se fossem adjetivos porque atribuem particularidades e caracterís-
ticas ao substantivo: Eu adoro visitar a minha prima.

O Tópico 1 abordou as duas classes de palavras: o substantivo e o adjetivo.
Vimos que tanto o substantivo como o adjetivo possuem flexões de gênero e de número
e carregam algumas exceções, que precisam ser entendidas. Conhecer as locuções
adjetivas também faz parte desse conteúdo. Depois desses conceitos apresentados,
você encontra o resumo do tópico e algumas questões de autoatividade.

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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Flexão nominal: o substantivo e o adjetivo são partes definidas das classes de


palavras.

• Substantivo: uma classe de palavras que nomeia seres, objetos, fenômenos, lugares,
qualidades, ações, sentimentos. E serve para nomear pessoas também.

• Os substantivos podem ser classificados em primitivo, derivado, simples, composto,


próprio, comum, concreto, abstrato e coletivo.

• Os substantivos são palavras variáveis. Sofrem flexão em gênero, número e grau:


flexão em gênero: masculinos ou femininos; flexão em número: singular e plural;
flexão em grau: aumentativo (analítico e sintético) e diminutivo (analítico e sintético).

• Quanto às formas podem ser: biformes, heterônimos e uniformes (epicenos, comum


de dois gêneros e sobrecomuns).

• Adjetivo: acompanha os nomes com o objetivo de modificar o seu sentido. Os adjetivos


podem ser simples, sendo formados por apenas um radical, ou compostos, sendo
formados por dois ou mais radicais. Temos: adjetivos primitivos e derivados, adjetivos
biformes e uniformes.

• Flexão dos adjetivos: gênero, número e grau: em gênero: masculino e feminino;


em número: singular e plural. Temos o plural dos adjetivos simples e dos adjetivos
compostos.

• Grau dos adjetivos: grau comparativo: igualdade, superioridade e igualdade.


Grau superlativo: absoluto (sintético e analítico) e relativo (de superioridade e de
inferioridade).

• Locução adjetiva: um conjunto de duas ou mais palavras que atuam como um adjetivo,
caracterizando um substantivo. As locuções adjetivas são formadas maioritariamente
pela preposição “de” mais um substantivo.

87
AUTOATIVIDADE
1 Observe as frases e assinale a alternativa correta em relação à análise morfológica e
sintática da palavra doce, quanto à classificação e função que exercem:

I. O doce de goiaba está muito bom. (substantivo e sujeito).


II. Este café está muito doce. (adjetivo e predicativo do sujeito).
III. Essa moça é um doce. (substantivo e predicativo do sujeito).
IV. A fruta doce é ótima para digestão. (adjetivo e adjunto adnominal).

a) ( ) I e II erradas.
b) ( ) II e IV erradas.
c) ( ) III correta e IV errada.
d) ( ) I correta e II errada.
e) ( ) Todas estão corretas.

2 Leia as frases e assinale a alternativa que aponta o que ocorre com os termos subli-
nhados, no que diz respeito ao sentido que expressam e suas respectivas funções.

Maria chegou rápido, foi direto à reunião e falou macio com todos. Foram comemorar
em um bar e pediram Skol, “a cerveja que desce redondo”.

a) ( ) Adjetivo substantivado.
b) ( ) Adjetivo adverbializado.
c) ( ) Substantivo adjetivado.
d) ( ) Advérbio substantivado.
e) ( ) Substantivo adverbializado.

3 (ENADE – 2011) Nos excertos I e II a seguir, encontram-se algumas atividades


propostas em livros didáticos de língua portuguesa.

Excerto I
Atividade com trecho do poema O operário em construção, de Vinícius de Moraes.
Proposta:
[...]
2. Aponte todos os substantivos presentes no texto.
3. Aponte um substantivo abstrato presente no texto.
4. Aponte um substantivo concreto presente no texto.
5. Qual é o único substantivo presente no texto que admite uma forma para o masculino
e outra para o feminino?
6. Há, no texto, algum substantivo próprio? Em caso afirmativo, aponte-o.

88
Excerto II
Atividade com o poema Os dias felizes, de Cecília Meireles.
Proposta:
1. Reescreva os versos substituindo as palavras destacadas por suas formas plurais.
a) “A doçura maior da vida/flui na luz do sol” b) “formigas ávidas devoram/ a albumina
do pássaro frustrado”.

FONTE: AZEVEDO, D. G. Palavra e criação: língua portuguesa.


São Paulo: FTD, 1996. v. 8, p. 102 (com adaptações).

As atividades em I e II:

a) ( ) Enfatizam a relação lúdica do leitor com o poema, o que permite o aprofundamento


da leitura.
b) ( ) Usam os poemas como recurso e pretexto para trabalhar com os alunos tópicos
de gramática, ignorando aspectos mais relevantes.
c) ( ) São coerentes com os Parâmetros Curriculares Nacionais, principalmente
por obedecerem ao princípio de que não se formam bons leitores oferecendo
materiais de leitura empobrecidos.
d) ( ) Exploram o sentido dos poemas, a partir de tópicos de gramática, o que está em
consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais, que propõem, para o
ensino fundamental, o desenvolvimento das habilidades linguísticas básicas.
e) ( ) Permitem a aproximação do aluno com a linguagem de poema, atendendo,
assim, a um dos objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental, o de conhecer e analisar criticamente os usos da língua como
veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia.

4 A palavra “velho” aparece três vezes no texto. Identifique-os morfológica (classificação)


e sintaticamente (funções), de acordo como se expressam no texto a seguir:

Era um velho que estava na família há noventa e nove anos, há mais tempo que os
velhos móveis, há mais tempo que o velho relógio de pêndulo (Mário Quintana).

5 Explique o que ocorre, morfológica (classificações) e sintaticamente (funções), nas


frases a seguir em relação aos termos fator – inflação – índice – desemprego. Perceba
que se trata de substantivos completos e incompletos.

O fator inflação preocupa os brasileiros.


O índice de desemprego aumentou assustadoramente.

89
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
VERBO: ESTRUTURA, FLEXÃO E
CONJUGAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Iniciamos o Tópico 2 com os estudos sobre os verbos: aspecto, flexão e estrutura
e, por fim, a conjugação verbal. Os verbos são uma classe de palavras de muito destaque,
pois dão vida à frase, por meio da indicação de ação, estado ou fenômeno da natureza.

Usamos os verbos em todos os momentos, justamente por serem importantes


para a compreensão de uma fala ou de um texto escrito, mas não percebemos a sua
estrutura e suas peculiaridades.

É por meio do verbo que podemos analisar a relação com os termos de uma
frase, pois ele concentra a informação de todo o texto. Importante sempre reconhecer o
verbo para que se consiga compreender o sentido da mensagem que se quer transmitir.

2 ASPECTO VERBAL
O estudo dos verbos é primordial para a compreensão do processo sintático,
porque eles centralizam as funções dos termos nas orações. Todos os termos,
numa perspectiva sintática, giram em torno do verbo, identificando o sujeito e os
complementos. Segundo Bagno (2012, p. 508), o verbo é “o núcleo de todo e qualquer
enunciado significativo”.

Voltando ao assunto das classes de palavras, vamos reforçar que os


substantivos denominam as pessoas, os objetos, os sentimentos, entre outros, e são
muito importantes para a compreensão do que se quer comunicar. Em termos mais
amplos, exercem várias funções nos estudos de análise sintática. Cabe aqui fazer
uma colocação sobre o avanço das pesquisas dos linguistas em relação às classes de
palavras com sentido restrito de entendimento.

Vamos ver uma situação relacionada ao verbo. A sintaxe também mostra


flexibilidade para as suas análises. Podemos exemplificar com a frase: O leite ferveu.
Antes, aprendíamos que leite é o sujeito, ferveu é o verbo e estão na voz ativa. Entende-
se sujeito aquele que pratica a ação. No entanto, se pensarmos um pouco o leite não
praticou qualquer ação, e sim sofreu ação. Então temos um caso de um sujeito agente

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(voz ativa), mas que tem o sentido de sujeito paciente (voz passiva). Então, temos: leite
como sujeito paciente, ferveu (verbo em 3 ª pessoa do singular, pretérito perfeito do
indicativo, na voz ativa).

O verbo traz a força de uma ação ou a reação sofrida por essa. Importante notar,
por meio de exemplos diferentes, a presença do verbo:

O cio da terra

Chico Buarque

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, propícia estação
E fecundar o chão...

Composição: Chico Buarque / Milton Nascimento

FONTE: <https://www.letras.mus.br/milton-nascimento/47414/>. Acesso em: 20 jun. 2021.

Uma sequência de ações que retrata uma situação específica. Um exemplo


de como se pode trabalhar os verbos em um texto e o sentido que eles oferecem à
mensagem. Uma opção para os professores que precisam reforçar esse conteúdo. E,
mais uma ideia: se você pedisse para substantivar o verbo? Ou sugerisse para mudar o
tempo dos verbos, ou ainda transformar a letra da música em texto corrido, em prosa,
ou até uma série de desenhos para retratar as cenas?

Mais um exemplo: uma receita culinária. Você já percebeu quantas palavras
temos em uma simples receita? Substantivo, adjetivo, pronome, preposição, conjunção,
advérbio, artigo e verbo. Sim, os verbos estão aí para orientar as ações do confeiteiro.

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Brigadeiro

Ingredientes
1 lata de leite condensado
½ medida de lata de leite
1 colher (sopa) de manteiga
3 colheres (sopa) de chocolate em pó
2 xícaras (chá) de chocolate granulado

Modo de preparo
Você vai precisar de 30 forminhas de brigadeiro
Com um pincel, unte um prato com um pouco de manteiga. Reserve. 
Separe as forminhas umas das outras com cuidado e disponha numa travessa pequena.
Reserve. 
Numa panela, misture o leite e o chocolate em pó. Leve ao fogo baixo e mexa bem, até
dissolver o chocolate. 
Junte o leite condensado, a manteiga e, quando ferver, calcule 15 minutos cozinhando,
sem parar de mexer, ou até aparecer o fundo da panela. Retire a panela do fogo e
transfira o brigadeiro para o prato untado. Deixe esfriar. 
Numa tigela, coloque o chocolate granulado e deixe ao lado do prato com a massa de
brigadeiro. 
Espalhe um pouco de manteiga na palma das mãos e, com a ajuda de 1 colher de chá,
faça bolinhas E passe-as pela tigela com o chocolate granulado.
Em seguida, coloque as bolinhas nas forminhas. Sirva a seguir.

FONTE: A autora

Exemplos não faltam para podermos analisar os termos das frases. Textos
literários são fartos. Até bula de remédio traz muitas palavras. É importante saber que
as palavras são flexíveis quanto às suas funções. Sabemos que o verbo pode ter o valor
de um adjetivo também, como por exemplo: O documento foi anexo ao requerimento.
Anexo = verbo no particípio passado com o valor de adjetivo, pois se refere a documento.
Ou, ainda: Ela foi a mulher escolhida para representar a cidade. Nesse caso, escolhida
(verbo no particípio passado) está relacionada ao substantivo mulher.

Os verbos apresentam uma grande complexidade de classificações. Vamos


começar pela estrutura, mostrando o seu significado e sua importância no contexto de
fala e de escrita.

Vamos falar da composição do verbo, em que os radicais, as vogais temáticas e


as desinências são itens imprescindíveis para entendermos a forma como os verbos se
flexionam e se conjugam.

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3 ESTRUTURA VERBAL
Define-se verbo como um indicador de uma ação, um estado, um processo ou
um fenômeno. O verbo é uma palavra variável e flexiona-se em número, pessoa, modo,
tempo, aspecto e voz. É um termo muito importante dentro das classes de palavras,
fazendo com que as orações e os períodos se desenvolvam em torno dele. Aqui podemos
elencar alguns itens que indicam o verbo em uma frase:

• ação (andar, correr, pular);


• estado ou mudança de estado (ser, ficar);
• fenômeno natural (chover, nevar);
• ocorrência (acontecer, suceder);
• desejo (querer, desejar), entre outros processos.

FIGURA 3 – VERBOS

FONTE: <https://www.xmind.net/m/88nb/>. Acesso em: 20 maio 2021.

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Os verbos apresentam muitas possibilidades de flexão, e estudamos os tempos
verbais, nos modos indicativo e subjuntivo e formas nominais, e, entre categorias de
número e pessoa, referem-se a três pessoas no singular e três pessoas no plural.

Ele se flexiona em número (singular ou plural), pessoal (primeira, segunda ou


terceira), modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo), tempo (presente, pretérito ou fu-
turo) e voz (ativa, passiva ou reflexiva).

Do ponto de vista morfológico tempos do imperativo afirmativo e do imperativo


negativo não se incluem nessa categoria porque não são considerados tempos verbais,
mas verbos de situação.

As suas formas são emprestadas pelo presente do subjuntivo e presente do


indicativo. A estrutura básica dos verbos é simples: R + VT + DMT + DNP (radical, mais
vogal temática, mais desinência modo-temporal, mais desinência número-pessoal),
sempre nessa ordem:

TEMA DESINÊNCIAS

verbo R VT DMT DNP

cantávamos cant- -a- -va- -mos

escrever escrev- -e- -r -

brotam brot- -a- - -m

Observe que nos verbos, a vogal temática é geralmente tônica, ao contrário dos
nomes, nos quais é átona e tem a função de distribuir os verbos em conjugações:

a) primeira conjugação: fal-a-r, brinc-a-r, jog-a-r.


b) segunda conjugação: beb-e-r, faz-e-r, mord-e-r.
c) terceira conjugação: fug-i-r, ouv-i-r, sorr-i-r.

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FIGURA 4 – ESTRUTURA VERBAL

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/810859107900273458/>. Acesso em: 13 mar. 2021.

Como podemos ver, os verbos possuem sua estrutura composta e, quando


conjugados, são compostos por um radical, uma vogal temática, uma desinência
modo-temporal e uma desinência número-pessoal. Para que os verbos possam exercer
sua função, devem ser flexionados de várias maneiras, de acordo com o que se quer
expressar nas frases, orações ou períodos.

Mais uma vez, as desinências verbais são morfemas que indicam nas conju-
gações verbais, o modo, que pode ser: indicativo ou subjuntivo, o tempo – presente,
passado, futuro –, o número (singular ou plural) e a pessoa (o sujeito da ação acompa-
nhado dos pronomes pessoais do caso reto: eu, tu, ele, nós, vós, eles).

Explicando melhor, as desinências são as terminações dos verbos por meio de


suas flexões. As desinências são assim classificadas:

• Desinência modo temporal: indica o modo e o tempo em que a ação ocorre, por
exemplo: "estuda-vas" (pretérito imperfeito do modo indicativo).
• Desinência número pessoal: indica o número e a pessoa do verbo, por exemplo:
“estud-o" (primeira pessoa do singular “eu”).

Vamos passar para as flexões verbais, momento em que aprenderemos a ver que
o verbo é a classe que mais oferece flexões: de pessoa, de número, voz, tempo e modo.

4 FLEXÃO VERBAL
Agora vamos estudar as formas flexionadas dos verbos, que se apresentam em
pessoa, número, tempo, modo e voz. É muito importante conhecer a maneira como
ocorrem as flexões para entendermos o sentido da frase e estabelecer as relações do
verbo com os termos com os outros termos.

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FIGURA 5 – FLEXÃO VERBAL

FONTE: <https://www.xmind.net/m/88nb/>. Acesso em: 20 maio 2021.

A flexão verbal pode ser em número, pessoa, modo, tempo e voz.

a. Flexão em número:  singular (um sujeito) e plural (vários sujeitos). O verbo pode se
referir a uma pessoa ou mais e deve concordar, formando o singular ou o plural.
b. Flexão em pessoa:  refere-se às três pessoas relacionadas ao discurso, represen-
tadas tanto no modo singular, quanto no plural. São elas:
1ª (quem fala: eu e nós);
2ª (com quem se fala: tu e vós);
3ª (de quem se fala: ele e eles).

A indicação de número (singular ou plural) acompanha a pessoa gramatical a


que o verbo se refere.

Vamos fazer uma observação importante: usamos você e vocês na nossa fala e
escrita cotidiana no lugar de tu e de vós na maior parte do país. E, ainda, usamos a gente
para dizer nós. Assim, devemos considerar essas pessoas na hora de conjugar os verbos
da seguinte forma: Eu falo, tu falas/você fala, ele/ela fala/ a gente fala, nós falamos,
vós falais (aqui, como já dissemos, é uma maneira utilizada em textos sacros, arcaicos,
literários)/vocês falam e eles/elas/falam.

Não tem cabimento, por exemplo, apresentar o paradigma da


conjugação verbal com as seis pessoas do português clássico – eu,
tu, ele(a), nós vós, eles(as) –, já que essa conjugação não corresponde
a absolutamente nenhum uso real de nenhuma das variedades do
português brasileiro falado ou escrito, nem do português europeu,
angolano, moçambicano etc. É imperioso que se apresente os
diferentes paradigmas verbais em vigor no PB contemporâneo, com
você, com a gente, com tu foste e com tu foi etc., porque são esses
paradigmas variáveis que de fato estão vivos na nossa sociedade
(BAGNO, 2012, p. 32).

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A questão é que se trata dos ensinamentos de gramática baseados nas normas
e que não é uma realidade em todas as escolas e cursos, pois sabemos que a exigência
da chamada norma culta existe em muitos segmentos da sociedade e, como toda
mudança, tem que ser gradual. Ainda utilizamos princípios da gramática normativa e, a
partir de noções já adquiridas podemos avançar para outras discussões.

DICA
Sugerimos a leitura do texto de Marlison Soares Gomes, publicado em
2019, com o título A gramática pedagógica do português brasileiro
(BAGNO, 2012) e o Ensino de Gramática, que faz uma análise da
gramática a que se refere o título, de autoria do linguista Marcos Bagno.
Acesse em: https://bit.ly/3QDeuEc.

c. Flexão em modo:  indicativo (indica realidade); subjuntivo (indica possibilidade);


imperativo (indica ordem); formas nominais (infinitivo, particípio e gerúndio).

O modo infinitivo expressa ação direta. A pessoa que fala (o emissor) mostra
uma ideia de certeza e segurança, exprimindo a ação com precisão. Utiliza os tempos
verbais: presente, passado ou pretérito e futuro.

Exemplos:
Eu estudo todos dias.
Comprarei um celular amanhã.
Ontem fiz um bolo de cenoura.

O modo subjuntivo expressa uma ação possível, mas incerta, que ainda não foi
realizada e que depende de outra ação. A pessoa que fala (o emissor) apresenta uma
ideia de dúvida, expondo a ação com imprecisão ou uma possibilidade. Exemplos: Se
você chegasse na hora certa, começaríamos a aula. Quando você sair, feche a porta. Os
tempos verbais do modo subjuntivo são constantes nas orações subordinadas, pois são
ações não concluídas e necessitam de ações complementares.

O pesquisador Marcos Bagno chama atenção para o ensino do subjuntivo:

[...], o subjuntivo ainda apresenta grande vitalidade nos gêneros


textuais mais monitorados, servindo mesmo como marca de
avaliação do uso eficiente da língua, sobretudo da escrita mais
monitorada. Por isso, é importante ensinar as formas e os empregos
do subjuntivo para um aluno que, em sua ampla maioria, não domina
com segurança esse modo verbal. Esse ensino, evidentemente,
não se faz pela memorização de paradigmas de conjugação mas,
sempre, pela reflexão sobre o uso que se faz desse modo em textos

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autênticos. Cabe dar ênfase sobretudo aos verbos irregulares – ser,
ter, fazer, dizer, saber, haver, ver, ir, vir, dar, querer, poder, estar –, que
são irregulares justamente por serem os mais empregados da língua
(BAGNO, 2012, p. 566).

O modo imperativo mostra uma ordem, um pedido, um apelo ou um conselho.


O emissor exige algo, exprimindo o que quer que outra pessoa faça. Temos o imperativo
afirmativo: Volte cedo para casa e imperativo negativo: Não grite!

d. Flexão em tempo:  passado (acontecimento anterior ao momento em que se fala);
presente (acontecimento simultâneo ao momento em que se fala); futuro (acontecimento
posterior ao momento em que se fala). Quando se utiliza verbo em uma frase, temos que
observar o tempo do acontecimento – presente, passado ou futuro – e o modo que se
utiliza para expressar a ideia – indicativo, subjuntivo ou imperativo.

O modo indicativo possui os seguintes tempos verbais:

→ Presente.
→ Pretérito perfeito.
→ Pretérito imperfeito.
→ Pretérito mais-que-perfeito.
→ Futuro do presente.
→ Futuro do pretérito.

O modo subjuntivo possui os seguintes tempos verbais:

→ Presente.
→ Pretérito imperfeito.
→ Futuro.

O modo imperativo possui duas formas distintas:

→ Imperativo afirmativo.
→ Imperativo negativo.

e. Flexão em voz:  ativa (sujeito gramatical é o agente da ação); passiva (sujeito gra-
matical é o paciente da ação); reflexiva (sujeito gramatical é agente e paciente da ação).

A voz verbal está relacionada com o ser a que o verbo se refere e o processo que
esse verbo exprime. Temos três tipos de vozes verbais:

• voz ativa: o ser a que o verbo se refere é o agente verbal, ou agente da ação. Exemplo:
Maria comprou um vestido de festa. Nesse caso, o verbo comprou refere-se à ação
de Maria, pois é o agente da ação.

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• voz passiva: o ser a que o verbo se refere é o paciente da ação, aquele que recebe a
ação. Exemplo: A menina foi sequestrada. Observamos, aqui, que a menina sofreu a
ação, sendo, portanto, paciente da ação verbal.
Conforme o seu processo de formação, a voz passiva pode ser classificada em voz
passiva analítica e voz passiva sintética. Voz passiva analítica: as frases apresentam
a seguinte estrutura: sujeito paciente + verbo auxiliar + particípio + preposição +
agente da passiva. Exemplos: O doce foi comido pela minha neta. Os móveis foram
consertados pelo marceneiro.
Na voz passiva sintética as frases apresentam a seguinte estrutura:
verbo transitivo + pronome se + sujeito paciente. Exemplos: Comeu-se o doce.
Consertaram-se os móveis.
• voz reflexiva: o ser a que o verbo se refere é o agente e o paciente ao mesmo tempo,
pois age sobre si mesmo. Exemplo: João se cortou durante o almoço. Nesse caso,
o verbo cortar indica que João praticou e sofreu a ação ao mesmo tempo, sendo
agente e paciente da ação verbal, processo que leva o nome de ação reflexiva.

NOTA
Conversão da voz ativa na voz passiva

Podemos observar que na passagem da voz ativa para a voz passiva ocorrem algumas
mudanças:

Conversão da voz ativa na voz passiva analítica

O sujeito se transforma em agente da passiva.


O objeto direto se transforma no sujeito da passiva.
O verbo transitivo se transforma em locução verbal.
Exemplo de conversão da voz ativa na voz passiva analítica:

Na voz ativa temos: O aluno leu o livro de poesias.

O sujeito (o aluno) passa para agente da passiva (pelo aluno).

O objeto direto passa para sujeito da passiva (o livro de poesias).

O verbo transitivo (leu) passa para locução verbal (foi lido).

Na voz passiva analítica fica assim: O livro de poesias foi lido pelo aluno.

Conversão da voz ativa na voz passiva sintética

O objeto direto se transforma no sujeito da passiva.


O sujeito se transforma na partícula apassivadora se.
Não há agente da passiva e o verbo transitivo mantém-se.
Exemplo de conversão da voz ativa na voz passiva sintética:

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Na voz ativa temos: O aluno leu o livro de poesias.

O objeto direto passa para sujeito da passiva (o livro de poesias).

O sujeito (o aluno) passa para partícula apassivadora (se).

Não há agente da passiva e o verbo transitivo mantém-se da


mesma forma.

Na voz passiva sintética fica assim: Leu-se o livro de poesias.

Conhecendo a estrutura que os verbos e a maneira como eles se apresentam


e se relacionam com os termos de uma frase, faz-se necessário entender como se
conjugam. Esse é o próximo ponto que abordaremos.

5 PADRÃO GERAL DE FLEXÃO VERBAL


Vamos conhecer como se classificam os verbos, de acordo com um padrão
estabelecido. A partir desse ponto, poderemos nos aprofundar nos verbos regulares e
irregulares que apresentam variedade de conjugações. Temos que saber reconhecer os
tipos de verbos e como eles se comportam nas falas e em textos escritos para evitar
erros crassos.

FIGURA 6 – CLASSIFICAÇÃO DOS VERBOS

FONTE: <https://www.xmind.net/m/88nb/>. Acesso em: 20 maio 2021.

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Os verbos classificam-se em:

a) Regulares: quando segue o modelo da conjugação, ou seja, radical igual em todas


as pessoas. Uma dica: experimente conjugá-lo no presente do indicativo e no
pretérito perfeito do indicativo, se ele for regular nesses dois tempos, será regular
nas demais formas.

b) Irregulares: quando se afasta do modelo da conjugação, ou seja, há terminações


diferentes em todas as conjugações. Uma dica: experimente conjugá-lo no presente
do indicativo e no pretérito perfeito do indicativo e se houver qualquer irregularidade,
nesses dois tempos, será considerado irregular.

c) Verbos anômalos: são aqueles que sofrem grandes alterações no radical.


Exemplos: ser: sou, é, fui, era, serei, seria.

d) Verbos Defectivos: são aqueles que não possuem conjugação completa.


Exemplos: falir, reaver, precaver não possuem as 1ª, 2ª e 3ª pessoas do presente do
indicativo e do presente do subjuntivo inteiro.

e) Verbos Abundantes: são aqueles que apresentam duas formas de mesmo valor.

Exemplos de verbos abundantes:


aceitar: aceitado e aceito
acender: acendido e aceso
eleger: elegido e eleito
entregar: entregado e entregue
enxugar: enxugado e enxuto
expulsar: expulsado e expulso
imprimir: imprimido e impresso
limpar: limpado e limpo
murchar: murchado e murcho
suspender: suspendido e suspenso
tingir: tingido e tinto

Observações:

Ocorrem geralmente no particípio:  particípio regular, terminado em  -ado  ou  -ido,
usado na voz ativa, com o auxiliar  ter  ou  haver; particípio irregular, com  outra
terminação diferente, usado na voz passiva, com o auxiliar ser ou estar.
Os verbos abrir, cobrir, dizer, escrever, fazer, pôr, ver e vir só possuem o particí-
pio irregular: aberto, coberto, dito, escrito, feito, posto, visto e vindo.

f) Auxiliar: quando se junta a outro verbo, denominado principal, com o sentido de am-


pliar ou legitimar uma ideia. O verbo auxiliar + verbo principal recebe o nome de locu-
ção verbal. Exemplos: Daqui a pouco poderá chover. Tínhamos estudado bastante.

102
6 FORMAS NOMINAIS DOS VERBOS
As formas nominais do verbo são representadas pelo infinitivo, pelo particípio
e pelo gerúndio. Não fazem parte de nenhum tempo ou modo verbal. São chamadas de
formas nominais porque desempenham tanto função de verbo, como função de nome.
É isso que veremos agora.

FIGURA 7 – FORMAS NOMINAIS DOS VERBOS

FONTE: <https://www.xmind.net/m/88nb/>. Acesso em: 20 maio 2021.

Para entender as formas nominais, é importante ressaltar que os verbos se


apresentam de várias maneiras, ou melhor, na conjugação de um verbo, encontramos
algumas formas (ou tempos) que dão origem a outras, e assim distinguimos formas
primitivas e derivadas.

Formas primitivas referem-se aos verbos cujos radicais ou temas são usados
na formação de outros tempos. Os tempos (ou formas) primitivos são: presente do
indicativo, pretérito perfeito do indicativo e infinitivo impessoal. Formas derivadas são
aquelas cujos radicais ou temas verbais são obtidos de um dos tempos primitivos ou do
infinitivo impessoal. São eles:

• tempos derivados do presente do indicativo: presente do subjuntivo, imperativo


afirmativo e imperativo negativo.
• tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo: pretérito mais-que-perfeito do
indicativo, pretérito imperfeito do subjuntivo e futuro do subjuntivo.
• tempos derivados do infinitivo impessoal: futuro do presente, futuro do pretérito e
pretérito imperfeito do indicativo.

O infinitivo impessoal dá origem às três formas nominais que são: infinitivo


pessoal, gerúndio e particípio. Não fazem parte de nenhum tempo ou modo verbal. São
chamadas de formas nominais porque desempenham tanto função de verbo, como
função de nome.

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Explicando melhor, os verbos podem ainda se apresentar em suas formas no-
minais. Isso se deve ao fato de assumirem a função de substantivos, adjetivos ou ainda
advérbios. As formas nominais são classificadas em infinitivo (pessoal ou impessoal) –
terminação -r, gerúndio – terminação –ndo, ou particípio – terminação –do.

a) Infinitivo

O infinitivo pode atuar como um substantivo, o particípio pode atuar como um


adjetivo, e o gerúndio, como um advérbio. 

Exemplos:
Infinitivo como substantivo: Lutar é sofrer!
Particípio como adjetivo: O aluno é dedicado aos estudos.
Particípio como adjetivo: Saindo, bata a porta.

O infinitivo representa o DNA do verbo, ou melhor dizendo, a sua identidade.


Ele se apresenta em sua forma natural. O infinitivo transmite a ideia de uma ação ou
estado, sem ideia de tempo e pode assumir uma função semelhante a um substantivo.
O infinitivo pode ser classificado em infinitivo pessoal (flexionado) e infinitivo impessoal
(não flexionado):

• Infinitivo pessoal: apresenta as terminações iguais às do futuro do subjuntivo nos ver-


bos regulares e é usado em situações em que há um sujeito definido ou em que se pre-
tende definir esse sujeito. Exemplos: verbo dar: dar, dares, dar, darmos, dardes, darem;
verbo saber: saber, saberes, saber, sabermos, saberdes, saberem;
verbo medir: medir, medires, medir, medirmos, medirdes, medirem.

• Infinitivo impessoal: apresenta as terminações do infinitivo impessoal, que são -ar


para os verbos da 1ª conjugação, -er para os verbos da 2ª conjugação e -ir para
os verbos da 3ª conjugação e usado geralmente em locuções verbais, em verbos
preposicionados ou quando não há um sujeito definido. Exemplos: verbo dar: dar;
verbo saber: saber; verbo medir: medir.

b) Particípio

Indica o estado da ação depois de finalizada, transmitindo assim uma noção


de conclusão de ação verbal. O particípio é usado na formação de tempos verbais
compostos. A maioria dos verbos mostra um particípio regular, terminado em -ado
na 1ª conjugação e em -ido na 2ª e na 3ª conjugação. Exemplos:  falar: falado, amar:
amado, estar: estado, ter: tido, partir: partido.

É importante observar que há verbos que se apresentam tanto no particípio


regular como no particípio irregular, geralmente, terminados em -to ou -so. Exemplos:
pagar: pagado e pago; extinguir: extinguido e extinto; eleger: elegido e eleito; ganhar:
ganhado e ganho; exprimido e expresso. 

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O particípio regular é usado preferencialmente na voz ativa, com os verbos
auxiliares ter e haver. O particípio irregular é usado preferencialmente na voz passiva,
com os verbos auxiliares ser e estar. Exemplo: Ele pensou que tivesse imprimido o
documento (voz passiva) e você prefere o documento impresso? (voz ativa).

c) Gerúndio

Mostra o estado de uma ação prolongada, que ainda está acontecendo, com
uma noção de continuidade de ação verbal. Os verbos da 1ª conjugação terminam
em -ando, os da 2ª conjugação terminam em -endo e os da 3ª conjugação terminam
em -indo. Exemplos de gerúndios: estudar: estudando; comprar: comprando, sentir:
sentindo; fazer: fazendo. Os alunos estão saindo da aula mais cedo.

Além dos tempos compostos do indicativo e do subjuntivo, existem também


três formas nominais compostas. São eles:

Forma nominal composta Formação Exemplo

Infinitivo pessoal composto: Verbo auxiliar ter: (Eu) ter falado


indica um fato passado já infinitivo pessoal (Tu) teres falado
concluído. Verbo principal: (Ele) ter falado
Acompanha o modelo de uso do particípio. (Nós) termos falado
infinitivo pessoal simples. (Vós) terdes falado 
(Eles) terem falado.

Infinitivo impessoal composto: Verbo auxiliar ter: ter falado.


indica um fato passado já infinitivo impessoal
concluído. Igual ao uso do Verbo principal:
infinitivo impessoal simples. particípio.

Gerúndio composto: indica uma Verbo auxiliar ter: tendo falado.


ação prolongada que terminou gerúndio
antes da ação da oração principal.  Verbo principal:
particípio.

Vimos até agora as formas como os verbos se flexionam, como se classificam


e suas formas nominais. A partir desses conhecimentos é possível compreender a
maneira como conjugamos os verbos regulares e irregulares.

7 CONJUGAÇÃO VERBAL
As conjugações são agrupadas com base nas suas três terminações, de acordo
com as vogais temáticas: -a, -e/o e -i. Para cada uma dessas conjugações há um
modelo que indica as formas verbais.

105
Quanto à classificação, os verbos podem ser regulares e irregulares. Os verbos
regulares são aqueles verbos que seguem o modelo de sua conjugação de acordo com
os modelos de 1ª, 2ª e 3ª. Então, vamos saber as peculiaridades desses verbos.

FIGURA 8 – TEMPOS VERBAIS

FONTE: <https://www.xmind.net/m/88nb/>. Acesso em: 20 maio 2021.

Os verbos podem ser:  regulares, pois obedecem a um modelo próprio da


respectiva conjugação e irregulares, pois não seguem nenhum modelo de conjugação e
podem apresentar irregularidades no radical ou nas terminações.

Apresentamos aqui um esquema com os modos e tempos dos verbos, que


utilizaremos para entender as conjugações de verbos regulares e irregulares. Note que
são as formas simples desses verbos. Depois mostraremos as formas compostas e seus
modelos de conjugação.

QUADRO 1 – MODOS E TEMPOS DOS VERBOS

MODO INDICATIVO perfeito


Presente
imperfeito
Exprime uma ação, um fato, a mais-que-perfeito
Passado ou pretérito
certeza de um acontecimento,
quer no presente, no passado do presente
Futuro
ou no futuro. do pretérito

do presente
futuro
do pretérito

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MODO SUBJUNTIVO Presente

Pretérito imperfeito
Exprime uma ação incerta, duvidosa, um
fato que pode não acontecer. Futuro

MODO IMPERATIVO
afirmativo
Presente
Exprime uma ordem, um convite, negativo
um conselho ou um pedido.

FONTE: A autora

Os verbos regulares, aqueles que obedecem à risca o seu modelo de conjuga-


ção. São três terminações e para conjugar um verbo regular, é só substituir o radical do
verbo usado pelo radical do verbo pretendido, uma vez que a vogal temática e as desi-
nências não se alteram.

Os verbos irregulares são aqueles que não seguem um modelo de conjugação.


Apresenta variações de forma nos radicais ou nas desinências. Para que se consiga
entender esse tipo de conjugação, é importante seguir o esquema de formação dos
tempos simples, uma vez que as irregularidades dos tempos primitivos geralmente
correspondem aos tempos derivados. Vamos estudar os dois tipos: os regulares e os
irregulares e alguns exemplos de conjugações.

7.1 VERBOS REGULARES


Definem-se como os verbos com modelos fixos de conjugação verbal, não
apresentando alterações nos radicais e nas terminações quando conjugados. Exemplos
de verbos regulares da 1ª conjugação: estudar, falar, amar, cantar. Exemplos de verbos
regulares da 2ª conjugação: viver, beber, comer. Exemplos de verbos regulares da 3ª
conjugação: partir, dividir, assistir.

Veremos a seguir alguns exemplos de verbos em seus modos indicativo e


subjuntivo. Vale mostrar, também, o modo imperativo, ele se apresenta na forma
afirmativa e na forma negativa. Como se dá a conjugação dos verbos? Vamos ver esse
modelo de verbo regular.

107
QUADRO 2 – CONJUGAÇÃO VERBAL

FONTE: A autora

Lembrando que radical é a parte da palavra que se mantém igual nas diferentes
conjugações do verbo, porque é a raiz da palavra (ou seja, a base dela). Desinência é
a parte da palavra que se altera de acordo com a conjugação. E, ainda, os verbos têm
uma vogal temática, que define a conjugação da qual o verbo pertence.

Os verbos regulares, de forma simples, configuram-se seguindo o mesmo
modelo. Vamos conjugar os verbos regulares, em suas três terminações (-ar, -er, -ir),
nos modos indicativo e subjuntivo, nos tempos presente, passado ou pretérito e futuro
e as pessoas do singular e do plural.

Exemplos de emprego de verbos no modo indicativo:

Retrato
Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,


Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas; modo indicativo
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

FONTE: MEIRELES, C. Retrato. Disponível em: <https://www.escritas.org/pt/t/1505/retrato>. Acesso


em: 10 set. 2021.

108
Exemplos de emprego de verbos no modo subjuntivo:

Não deixe o samba morrer

Aloísio Silva / Edson Conceição

Não deixe o samba morrer


Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba pra gente sambar

Quando eu não puder


Pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas modo subjuntivo
Não puderem aguentar
Levar meu corpo
Junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar [...]

FONTE: <https://www.letras.mus.br/alcione/44027/>. Acesso em: 30 jun. 2021.

8 MODO INDICATIVO
O modo indicativo dos verbos indica certezas, fatos, algo que acontece
realmente.

Presente: indica um fato que está acontecendo no momento.
Pretérito perfeito: indica um fato encerrado no passado, algo que aconteceu.
Pretérito imperfeito: indica fatos que já ocorreram, mas que se repetiam no passado.

Pretérito mais-que-perfeito: indica um fato que terminado antes que outro no passado.
Futuro do presente: indica um fato futuro em relação ao tempo que se fala.
Futuro do pretérito: indica um fato futuro em relação a outro fato ocorrido no passado.

Vamos ver a matéria jornalística a seguir:

Pesquisador fez experimento em que passou um mês


comendo alimentos ultraprocessados.

109
Desde que a humanidade descobriu o fogo e as especiarias, não olhamos
mais para trás: continuamos inventando novas maneiras de desconstruir os alimentos
para depois reformulá-los.

O que fazemos com a comida para criar novos sabores e experiências é


incrivelmente criativo. Mas o que os alimentos que consumimos fazem com a
gente talvez seja ainda mais fascinante, sobretudo quando se trata de alimentos
ultraprocessados.
[...]

FONTE: <https://bit.ly/3QXINoU>. Acesso em: 29 jul. 2021.

Temos exemplos de verbos nesse texto, mas observe que o que predomina são
os verbos no pretérito perfeito para mostrar algo que aconteceu. O jornalismo trabalha
essencialmente com fatos, o que já houve (com exceção de agendas culturais que
trazem eventos que se realizarão ainda), portanto sempre usa verbos no passado.

IMPORTANTE
Para se trabalhar em sala de aula é interessante apresentar
textos aos alunos que estejam próximos de sua realidade para
que eles percebam a presença dos termos de uma frase, os
verbos em especial nesse momento, e entendam os tempos em
que inserem.
Matérias jornalísticas, anúncios publicitários, histórias em
quadrinhos trazem muitos elementos para serem trabalhados
e que permitem análise e reflexão, sem ter a necessidade de
apenas decorar conjugação de verbos sem entender o sentido
da mensagem que o texto quer passar para seus receptores.

9 MODO SUBJUNTIVO
O modo subjuntivo indica incertezas, hipóteses, dúvidas e possibilidades.

Presente: indica uma possibilidade ou uma vontade que algo aconteça no presente ou
no futuro.
Pretérito imperfeito: indica uma ação condicionante a outra ideia ou oração.
Futuro: indica expectativa de ação que pode acontecer.

Veja o exemplo da figura a seguir:

110
FIGURA 9 – PAINEL

FONTE: <https://bit.ly/3njRxdw>. Acesso em: 22 jul. 2021.

O verbo no futuro do subjetivo (quando) dá a ideia de expectativa, de algo que


pode acontecer e se torce para isso. Não se trata de fato ocorrido, que está acontecendo
e nem que vai acontecer com certeza, mas uma possibilidade apenas.

Vamos mostrar como os verbos são conjugados a partir de uma estrutura:

a) Conjugação de verbos regulares da 1ª conjugação: andar


Aqui está um modelo da conjugação do verbo andar. Observe o que ocorre.

Conjugamos, nesse exemplo, o verbo andar unindo o radical and- às desinências


modo-temporal e número-pessoal. O radical permaneceu igual, mas as desinências
se alteram conforme o modo (indicativo), tempo (presente). Apresentamos, ainda, as
terminações referentes às desinências de número (singular e plural) e as de pessoas
(eu, tu/você/a gente, ele, nós, vós/vocês, eles).

111
  Radical Vogal temática Desinência da 1ª conjugação

Eu and- ------- -o

Tu and- -a- -s

Ele/Ela and- -a ------

Nós and- -a- -mos

Vós and- -a- -is

Eles/Elas and- -a- -m

b) Conjugação de verbos regulares da 2ª conjugação: escrever

Radical Vogal temática Desinência da 2ª conjugação

Eu escrev- -e- -rei

Tu escrev- -e- -rás

Ele/Ela escrev- -e -rá

Nós escrev- -e- -remos

Vós escrev- -e- -reis

Eles/Elas escrev- -e- -rão

c) Conjugação de verbos regulares da 3ª conjugação: dividir

Vogal
Radical Desinência da 3ª conjugação
temática

eu divid- -i- -ria

tu divid- -i- -rias

ele/ela divid- -i- -ria

nós divid- -i- -ríamos

vós divid- -i- -ríeis

eles/elas divid- -i- -riam

112
A Conjugação dos verbos regulares, no modo indicativo e no modo subjuntivo,
segue a mesma estrutura nas três terminações: -ar, -er, e –ir.

Lembrando mais uma vez que há variações de pessoas: você, a gente e vocês.
No caso de você e a gente, conjugamos o verbo em terceira pessoa do singular, mas
vocês acompanham a conjugação de terceira pessoa do plural.

NOTA
Verbos foneticamente regulares 
Há alguns verbos que são foneticamente regulares, mas que apresentam pequenas
irregularidades na sua estrutura formal, para preservar a pronúncia.
Nos verbos terminados em -gir e -ger, como agir, dirigir, fingir, eleger e ranger, acontece a
alteração da consoante g para a consoante j antes da vogal a e da vogal o: eu ajo, eu dirijo,
que eu finja, que nós elejamos, que ele ranja, ... 
Nos verbos terminados em -guir e -guer, como distinguir, prosseguir e erguer, há a alteração
do dígrafo gu para a consoante g antes da vogal a e da vogal o: eu
distingo, que eu prossiga, que ele erga, ...
Nos  verbos terminados em -gar, como desligar, apagar e carregar,
ocorre a alteração da consoante g para o dígrafo gu antes da vogal e:
eu desliguei, que eles apaguem, que eu carregue, ...
Nos verbos terminados em -cer e -cir, como nascer, descer e ressarcir,
ocorre a alteração da consoante c para a consoante ç antes da vogal a
e da vogal o: eu desço, que ele nasça, que eles ressarçam, ...
Nos verbos terminados em -çar, como dançar, caçar e atiçar, ocorre
a alteração da consoante ç para a consoante c antes da vogal e: eu
dancei, que eles cacem, que eu atice, ...
Nos verbos terminados em -car, como brincar, ficar e pescar, ocorre
a alteração da consoante c para o dígrafo qu antes da vogal e: eu
brinquei, que eu fique, que eles pesquem...

Depois dos verbos regulares, veremos agora como se conjugam os verbos


irregulares. Sabemos que eles não seguem o mesmo modelo dos regulares, alternando
os radicais em situações diferentes.

10 VERBOS IRREGULARES
Os verbos são formados por um radical mais uma terminação, porém as
terminações são diferentes, de acordo com as flexões em número, pessoa, modo e
tempo verbal que apresentam. Há três estruturas definidas de conjugação verbal:

• a 1ª conjugação para verbos terminados em –ar;


• a 2ª conjugação para verbos terminados em –er;
• a 3ª conjugação para verbos terminados em –ir;

113
Entretanto, há verbos que não se enquadram nesses modelos fixos de conjuga-
ção verbal. Apresentam alterações nos radicais e nas terminações quando conjugados.
São chamados de verbos irregulares. Exemplos de alguns verbos irregulares: ser, estar,
haver, por, saber, poder, medir, fazer, vir, trazer, dizer, ouvir, caber, pedir.

Não há regra definida para a conjugação de um verbo irregular. Em alguns verbos


irregulares, as alterações ocorrem nos radicais e em outros, as alterações ocorrem
apenas nas terminações. Em alguns casos, as alterações ocorrem tanto nos radicais
como nas terminações. É importante lembrar que não significa que o verbo irregular
tenha todas as suas formas conjugadas irregulares, sendo possível que haja formas
conjugadas de verbos irregulares que se encaixam nos modelos de conjugação regular.

Exemplos de verbos irregulares com alterações nos radicais: medir: eu meço (o


radical é med-); pedir: eu peço (o radical é ped-); trazer: eu trago (o radical é traz-); ouvir:
eu ouço (o radical é ouv-).

Exemplos de verbos irregulares com alterações nas terminações:

• dar: eu dou (a terminação regular é –o);


• estar: eu estou (a terminação regular é –o);
• querer: ele quer (a terminação regular é –e);
• dizer: ele diz (a terminação regular é –e);
• fazer: ele faz (a terminação regular é –e).

11 VERBOS REGULARES E IRREGULARES: TEMPOS


COMPOSTOS
Os tempos verbais compostos são formados por um verbo auxiliar e um verbo
principal. O verbo auxiliar sofre flexão em tempo e pessoa, enquanto o verbo principal
permanece sempre no particípio. O verbo ter é o verbo auxiliar mais usado, embora
possa ser usado também o verbo haver como verbo auxiliar.

Há quatro tempos compostos no modo indicativo. São eles: o pretérito perfeito


composto do indicativo; o pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo; o futuro
do presente composto do indicativo; o futuro do pretérito composto do indicativo. Como
se dá a conjugação dos tempos compostos do modo indicativo.

a) Modo indicativo

Vamos conhecer o modo indicativo dos verbos, tempo composto. Observe suas
formações e os exemplos decorrentes do verbo falar.

114
Tempo composto Formação Exemplo

Pretérito perfeito Verbo auxiliar ter: (Eu) tenho falado


composto do indicativo: indica presente do indicativo (Tu) tens falado
uma ação que ocorreu no Verbo principal: (Ele) tem falado
passado que se repete e dura particípio. (Nós) temos falado
até o presente. (Vós) tendes falado
(Eles) têm falado

(Eu) tinha falado


Pretérito mais-que-perfeito Verbo auxiliar ter: (Tu) tinhas falado
composto do indicativo: indica pretérito imperfeito (Ele) tinha falado
uma ação que ocorreu no do indicativo (Nós) tínhamos
passado, antes de outra ação Verbo principal: falado
que já ocorreu. particípio. (Vós) tínheis falado
(Eles) tinham falado

(Eu) terei falado


Futuro do presente Verbo auxiliar ter:
(Tu) terás falado
composto do indicativo: indica futuro do presente
(Ele) terá falado
uma ação que ocorrerá no futuro, simples do indicativo
(Nós) teremos falado
mas que estará terminada antes Verbo principal:
(Vós) tereis falado
de outra ação futura. particípio.
(Eles) terão falado

Verbo auxiliar ter: (Eu) teria falado


Futuro do pretérito
futuro do pretérito (Tu) terias falado
composto do indicativo:
simples (Ele) teria falado
indica uma ação que poderia ter
do indicativo (Nós) teríamos falado
acontecido, mas condiciona-se
Verbo principal: (Vós) teríeis falado
a outra ação passada.
particípio. (Eles) teriam falado

Tempo composto Formação Exemplo

Pretérito perfeito Verbo auxiliar ter: (Que eu) tenha falado


composto do subjuntivo: presente do (Que tu) tenhas falado
indica uma ação que já subjuntivo (Que ele) tenha falado
está concluída e que se Verbo principal: (Que nós) tenhamos falado
posiciona anterior a outra. particípio. (Que vós) tenhais falado
(Que eles) tenham falado

(Se eu) tivesse falado


Pretérito mais-que-perfeito
Verbo auxiliar ter: (Se tu) tivesses falado
composto do subjuntivo:
pretérito imperfeito (Se ele) tivesse falado
indica uma ação que ocorreu
do subjuntivo (Se nós) tivéssemos falado
no passado, antes de outra
Verbo principal: (Se vós) tivésseis falado
ação também ocorrida no
particípio. (Se eles) tivessem falado
passado.

115
Futuro composto (Quando eu) tiver falado
Verbo auxiliar ter:
do subjuntivo: (Quando tu) tiveres falado
futuro simples do
indica uma ação que (Quando ele) tiver falado
subjuntivo
estará terminada no futuro, (Quando nós) tivermos falado
Verbo principal:
antes de outra ação que (Quando vós) tiverdes falado
particípio.
ocorrerá também no futuro. (Quando eles) tiverem falado

FONTE: <https://www.conjugacao.com.br/tempos-verbais-compostos/>. Adaptada. Acesso em: 10 set. 2021.

12 MODO IMPERATIVO
E, por fim, veremos o modo imperativo. A ideia é de ordem, conselho, pedido e
centraliza-se no interlocutor ou emissor da mensagem para que seu receptor execute
a ação. O imperativo se divide em imperativo afirmativo e imperativo negativo, sendo
conjugados de forma diferente.

Esse modo é utilizado em campanhas publicitárias, quando se deseja que o públi-


co-receptor assimile o conteúdo e aceite a mensagem. Hoje, os comerciais fazem uso do
imperativo de forma bastante discreta, diferente do que já se viu em um passado remoto.

A conjugação do imperativo se dá da mesma forma que a conjunção do presente


do subjuntivo, com algumas alterações no imperativo afirmativo. Não se usa a primeira
pessoa, porque o emissor do comando não envia ordem para ele mesmo.

Vamos ver o caso do imperativo negativo: na 2ª pessoa do singular e do plural


(tu e vós) a conjugação é praticamente a mesma do presente do indicativo, mas retira-
se o -S do final. Nas outras pessoas, a conjugação é idêntica à conjugação do presente
do subjuntivo. 

• Imperativo afirmativo

No imperativo afirmativo, a ordem (pedido, convite, conselho) é feita através de


uma afirmação.

A formação do imperativo afirmativo se dá da seguinte forma: a 2.ª pessoa do


singular (tu) e a 2.ª pessoa do plural (vós) derivam do presente do indicativo, sendo
retirado o -s final das formas conjugadas no presente.

Vamos ver esses exemplos com verbos bem conhecidos e utilizados no modo
imperativo. Os verbos são parar (1ª conjugação), trazer (2ª conjugação) e sair (3ª
conjugação):

116
verbo parar verbo trazer verbo sair

--- (eu) --- (eu) -- (eu)


para (tu) traz (tu) sai (tu)
pare (você) traga (você) saia (você)
paremos (nós) tragamos (nós) saiamos (nós)
parai (vós) trazei (vós) saí (vós)
parem (vocês) tragam (vocês) saiam (vocês)

Detalhamos as formas de construções do modo imperativo. Como já dissemos,


a 2ª pessoa do singular e a segunda do plural no presente do indicativo:

Presente do indicativo: Imperativo afirmativo:

Tu falas Fala tu

Vós falais Falai vós

Agora, veremos que a 3.ª pessoa do singular (ele), a 1.ª pessoa do plural (nós) e
a 3.ª pessoa do plural (eles) derivam do presente do subjuntivo, sendo conjugadas da
mesma forma.

Presente do subjuntivo: Imperativo afirmativo:

Que ele estude Estude ele

Que nós estudemos Estudemos nós

Que eles estudem Estudem eles

• Imperativo negativo

No imperativo negativo, temos ordem, pedido, convite, conselho feitos através


de uma negação. A formação do imperativo negativo se dá a partir da conjugação do
presente do subjuntivo.

verbo parar verbo trazer verbo sair

--- (eu) --- (eu) --- (eu)


não pares (tu) não tragas (tu) não saias (tu)
não pare (você) não traga (você) não saia (você)
não paremos (nós) não tragamos (nós) não saiamos (nós)
não pareis (vós) não tragais (vós) não saiais (vós)
não parem (vocês) não tragam (vocês) não saiam (vocês)

117
Presente do subjuntivo: Imperativo negativo:

Que tu estudes Não estudes tu


Que ele estude Não estude ele
Que nós estudemos Não estudemos nós
Que vós estudeis Não estudeis vós
Que eles estudem Não estudem eles

Vamos ver a letra da música, a seguir, para perceber a presença dos verbos no
modo imperativo:

Tente outra vez

Marcelo Ramos Motta / Paulo Coelho De Souza / Raul Santos Seixas

Veja
Não diga que a canção está perdida
Tenha em fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez
Beba (beba)
Pois a água viva ainda 'tá na fonte (tente outra vez)
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou, não não não
Oh oh oh oh tente
Levante sua mão sedenta e recomece a andar
Não pense que a cabeça aguenta se você parar
Não não não não não não
Há uma voz que canta, uma voz que dança
Uma voz que gira (gira)
Bailando no ar
Oh queira
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo, vai
Tente outra vez
Tente (tente)
E não diga que a vitória está perdida
Se é de batalhas que se vive a vida
Tente outra vez

FONTE: <https://www.letras.com.br/raul-seixas/tente-outra-vez>. Acesso em: 30 jun. 2021.

Quando se lida com alunos é mais fácil explicar por meio de textos. Nesse caso,
usamos a letra de uma música que traz diretamente a ideia de mandar, de ordenar, de
clamar para que se realize uma ação. O importante é entender para que serve o verbo no
imperativo e sugerir uma pesquisa com o objetivo de elencar outros exemplos.

118
IMPORTANTE
Alguns verbos possuem um imperativo abundante, ou seja, há mais de
uma forma correta de conjugar o verbo no imperativo: 
Terminados em –zer/-zir.    Exemplo: Faze tu ou Faz  tu;  Conduze ou
Conduz tu.  
Com o verbo ser temos: Sê tu/Sede vós.  
Obs.: Para todas as pessoas: Exemplo: Faz o que você quiser! Essa
forma está gramaticalmente errada, pois, faz está conjugado na 2ª
pessoa do singular, então a pessoa usada deveria ser o “tu”, e não
o “você” (3ª pessoa do singular).

DICA
Sugerimos a leitura do texto: Verbo: uma abordagem morfossintática,
Anderson Alves Pereira, Joyce Sthephany Fonseca Moreira e outros, que
aborda os estudos dos verbos, sob uma visão funcional da gramática.
Acesse em: https://bit.ly/3T5G4M3.

Nesse tópico, nós estudamos os verbos e sua complexidade de classificações


e variedade de flexões. Como o verbo é um termo em destaque dentro das classes
de palavras, justamente por concentrar o poder da mensagem, exige mais cuidado e
atenção. Para tanto, faz-se necessário rever os conceitos por meio do resumo e resolver
as autoatividades como fixação dos conteúdos apresentados.

119
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Define-se verbo como um indicador de uma ação, um estado, um processo ou um


fenômeno. O verbo é uma palavra variável e flexiona-se em número, pessoa, modo,
tempo, aspecto e voz.

• Flexão em número: singular (um sujeito) e plural (vários sujeitos).

• Flexão em pessoa: 1ª (quem fala: eu e nós); 2ª (com quem se fala: tu e vós); 3ª (de
quem se fala: ele e eles).

• Flexão em modo: indicativo (indica realidade); subjuntivo (indica possibilidade); impe-


rativo (indica ordem); formas nominais (infinitivo, particípio e gerúndio).

• Flexão em tempo: passado (acontecimento anterior ao momento em que se fala);


presente (acontecimento simultâneo ao momento em que se fala); futuro (aconteci-
mento posterior ao momento em que se fala).

• Flexão em aspecto: sentido incoativo (começo da ação); sentido cursivo (desenvolvi-


mento da ação); sentido conclusivo (conclusão da ação).

• Flexão em voz: ativa (sujeito gramatical é o agente da ação); passiva (sujeito grama-
tical é o paciente da ação); reflexiva (sujeito gramatical é agente e paciente da ação).

• Padrão geral de flexão dos verbos – a) Regular:  quando segue o modelo da con-
jugação, ou seja, radical igual em todas as pessoas. b)  Irregular:  quando se afas-
ta do modelo da conjugação, ou seja, radical, terminações diferentes em todas as
conjugações. c) Verbos anômalos: são aqueles que sofrem grandes alterações no
radical. d) Verbos Defectivos: são aqueles que não possuem conjugação completa.
e) Verbos Abundantes: são aqueles que apresentam duas formas de mesmo valor.
Auxiliar: quando se junta a um outro verbo, denominado principal, com o sentido de
ampliar ou legitimar uma ideia.

• Formas nominais dos verbos – a) Infinitivo: forma original do verbo. Pode ser
classificado como infinitivo pessoal e infinitivo impessoal. Terminação em –r. b)
Particípio: indica o estado da ação depois de finalizada, transmitindo assim uma
noção de conclusão de ação verbal. O particípio é usado na formação de tempos
verbais compostos. Terminação em -ado, -edo, -ido. Gerúndio: mostra o estado de
uma ação prolongada, que ainda está acontecendo, com uma noção de continuidade
de ação verbal. Os verbos da 1ª conjugação terminam em -ando, os da 2ª conjugação
terminam em -endo e os da 3.ª conjugação terminam em -indo.

120
• Conjugação dos verbos – os verbos são formados por um radical mais uma termi-
nação. As terminações são variáveis, de acordo com as flexões em número, pessoa,
modo e tempo verbal.

• Verbos regulares do modo indicativo e do modo subjuntivo: definem-se como os


verbos com modelos fixos de conjugação verbal, não apresentando alterações nos
radicais e nas terminações quando conjugados.

• Verbos irregulares do modo indicativo e do modo subjuntivo: os verbos são formados


por um radical mais uma terminação, porém as terminações são diferentes, de acordo
com as flexões em número, pessoa, modo e tempo verbal que apresentam.

• Modo imperativo: traz a ideia de ordem, conselho, pedido e centraliza-se no interlo-


cutor ou emissor da mensagem para que seu receptor execute a ação. O imperativo
se divide em imperativo afirmativo e imperativo negativo, sendo conjugados de forma
diferente.

• Imperativo afirmativo: a ordem (pedido, convite, conselho) é feita através de uma


afirmação. A formação do imperativo afirmativo se dá da seguinte forma: a 2ª pessoa
do singular (tu) e a 2ª pessoa do plural (vós) derivam do presente do indicativo, sendo
retirado o -s final das formas conjugadas no presente.

• Imperativo negativo: temos ordem, pedido, convite, conselho feitos através de uma
negação. A formação do imperativo negativo se dá a partir da conjugação do presente
do subjuntivo.

121
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE 2011) No meio do meu descanso, toca o telefone: “Boa tarde, senhor. Aqui
é da Mega Plus International, que, por sua boa relação como cliente, vai estar
disponibilizando, totalmente grátis, sem nenhum custo adicional, o Ultra Mega Plus
Card, com todas as vantagens do programa especial Mega Plus Services. Vai estar
também oferecendo...” Pronto, já me perdi no gerúndio desnecessário dela. Respondo:
“Obrigado pela oferta, mas não vou estar querendo, já tenho outro” “Mas, senhor...”,
insiste a atendente, “que vantagens o seu cartão já oferece?” Respondo: “Não oferece
vantagem nenhuma, mas o que rola entre a gente é uma relação sem interesse, é só
amor mesmo...sabe aquele não querer mais que bem querer de Camões. A atendente
de telemarketing se despede, mas não sem antes rir do outro lado da linha.

FONTE: Adaptado de <www.sacodefilo.com>. Acesso em: 3


ago. 2011.

Em casos como o do texto citado, o uso do gerúndio constitui mais o que a descrição
tradicional chamaria de vício de linguagem do que propriamente uso incorreto do
ponto de vista da norma padrão. Dessa forma, esse uso fere mais aspectos estilísticos
que estruturais da norma. Nessa perspectiva, assinale a opção em que o enunciado
apresenta o mesmo tipo de inadequação linguística.

a) ( ) O Mário, ele vive dizendo que não gosta de ir ao cinema.


b) ( ) Você sabe que tenho ainda todas as tuas anotações do caso.
c) ( ) Eu, naquele momento de susto, se senti confuso e atordoado.
d) ( ) Pediu para que seje visto o caso com maior atenção possível.
e) ( ) A vítima do estrupo deu queixas na delegacia de sua cidade.

2 (ENADE 2011) Atendente: Vou passar seu pedido ao gerente. Assim que ele dispuser
de tempo e poder tratar do seu caso, faremos contato com o senhor. Nessa fala:

a) ( ) verifica-se uma regra de variação sintática.


b) ( ) o atendente demonstra familiaridade com seu interlocutor.
c) ( ) a alternância no uso da primeira pessoa do singular e da primeira do plural deve-
se a questão de referência.
d) ( ) ocorre paralelismo sintático, pois a segunda forma verbal subjuntiva sofre
influência da anterior no que diz respeito à prescrição gramatical.
e) ( ) constata-se adequação às exigências do estilo monitorado que o atendente
adquiriu por força de suas tarefas comunicativas.

122
3 Leia a letra da música com atenção:

Super Homem

Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver
Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser
Quem sabe
O super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher

Na música de Gilberto Gil, o emprego da forma verbal grifada denota, considerando-se


o contexto:

a) ( ) Ação real, a ser obtida no futuro, em relação a outra, no presente.


b) ( ) Condição passível de ser realizada, até mesmo no presente.
c) ( ) Incerteza da realização de uma ação num futuro próximo.
d) ( ) Possibilidade futura, que depende de uma condição anterior.
e) ( ) Fato passado em relação a outro, também passado.

4 Às vezes, a forma de particípio funciona como nome (substantivo ou adjetivo). Ob-


serve como se apresentam as palavras em destaque e explique, morfologicamente,
cada uma delas.

A criança tem amado sua mãe cada dia mais.


A pessoa mais amada do mundo é a mãe.
A amada foi embora de uma vez.

5 Note a conjugação do verbo no subjuntivo da seguinte frase: Você quer que eu te


ajude nessa resposta? Esse modo verbal é comum nas orações coordenadas ou
subordinadas. Por quê?

123
124
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
ADVÉRBIO: VALORES MORFOLÓGICOS E
SEMÂNTICOS

1 INTRODUÇÃO

Depois de conhecermos substantivos, adjetivos e verbos, passaremos, neste


tópico, a estudar mais um elemento que compõe as classes de palavras: o advérbio. É
importante conhecer suas características e onde os advérbios se encaixam dentro dos
textos, dando mais sentido ao que quer dizer.

Começaremos com os conceitos dos advérbios, modificadores de verbos,


adjetivos ou outros advérbios e seus tipos que os diferenciam, além da maneira como
os utilizamos e as suas devidas flexões. As locuções adverbiais também fazem parte
desse estudo.

Com esses conhecimentos, será possível identificar os advérbios em uma frase,


pois são muito presentes e, como se apresentam com sentidos diversos, saber utilizá-
los de forma correta, diferenciando seus tipos para cada situação.

2 CONCEITO DE ADVÉRBIO
Advérbios são palavras invariáveis que se unem aos verbos, indicando as
circunstâncias da ação verbal e, também, são considerados modificadores dos verbos.
Segundo Castilho e Elias (2012), a etimologia da palavra advérbio (lat. ad + verbium,
sendo que verbium deriva de verbum = palavra) não teve a compreensão adequada em
relação a sua definição.

Muitos elementos pertencentes ao grande grupo denominado “Ad-


vérbios” apresentam, em relação a aspectos sintáticos e semân-
ticos, comportamentos tão diferenciados que podem configurar,
na verdade, grupos de palavras diferentes, devido a suas diversas
naturezas e origens. Por outro lado, uma minuciosa distinção de
subtipos ou mesmo de tipos diferenciados na classe dos advérbios
provoca consequentemente um significativo aumento no grupo das
“palavras denotativas”, gerando impasses e contradições difíceis de
serem solucionados (NASCIMENTO, 2008, p. 321-322).

Os advérbios também são classificados conforme a sua função na frase, ofe-


recendo sentido mais amplo ao verbo. Os estudiosos tiveram dificuldade de definir o
termo por si só, anteriormente nomeado apenas como a palavra que fica “junto do ver-
bo”, depois a palavra que termina com –mente. O único ponto em comum com que os
gramáticos sempre concordaram era que o advérbio sempre foi uma palavra invariável.

125
Há, também, a referência à palavra circunstância, que explicaria a atuação do
advérbio em uma frase, mas poderia causar mais problemas, pois definir circunstância
traria embates em relação ao seu real significado.

A noção de advérbio estudada pela gramática normativa recebe modificações


quanto ao seu sentido. Não basta defini-lo como termo correspondente ao verbo, mas
entender qual o sentido ele oferece à frase. Vamos ver o que dizem os pesquisadores
Santana e Damasceno (2020, p. 12):

Outra noção importante e que deve ser considerada para o estudo


semântico-discursivo desses circunstanciadores é a noção de rela-
ção (CASTILHO et al., 2014). Para os autores, os advérbios e adverbiais
operam sobre o tempo através das relações que tecem. Essas relações
são tecidas a partir dos usos que os indivíduos fazem dos elementos
adverbiais temporais e aspectuais. Esses usos refletem a diversidade
de modos pelos quais os indivíduos constroem linguisticamente suas
experiências acerca do domínio temporal, revelando heterogeneidade
conceptual onde o PTG (Paradigma Tradicional de Gramatização) com-
preende homogeneidade conceptual. Observando os exemplos a se-
guir (apresentados pelos autores), pode-se compreender essa noção:
(1) saiu depois das oito (CASTILHO et al., 2014, p. 268).
(2) uns vinte anos atrás, no Belas Artes, então tinha concertos todos
os meses (CASTILHO et al., 2014, p. 268).
No primeiro exemplo, a relação tecida é cronológica, especificamente,
expressa anterioridade. Já no segundo, a relação tecida, segundo os
autores, é de precedência temporal.

Os advérbios têm como função caracterizar com mais precisão o processo ou


o estado indicado pelo verbo, sendo que podemos dizer que os advérbios funcionam
como modificadores dos verbos. Exemplos:

Ana viajou ontem para Paris.


João cozinha bem.
Adriana estuda muito.

O advérbio é um elemento importante para se entender a extensão do significado


que se quer impor às ações, estados e tudo o mais que pode ser indicado pelo verbo.

Vamos ver o advérbio na música Sutilmente, cantada pelo grupo Skank. Uma
letra que traz advérbios diferentes, mas que terminam em –mente.

Sutilmente

Skank

E quando eu estiver triste


Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco

126
Subitamente se afaste
E quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe
Ah, ahn

E quando eu estiver triste


Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce, é
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate (não)
Dentro de ti
Dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe enfim


Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

E quando eu estiver triste


Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
[...]

Composição: Nando Reis / Samuel Rosa.

FONTE: <https://www.letras.mus.br/skank/1342038/>. Acesso em: 10. jun. 2021.

Note que é o advérbio que dá o tom dessa letra. Ele indica um movimento,
ideia de modo, mas também poderia ser de tempo (subitamente), de intensidade
(sutilmente)? Estamos falando em sentido, em nível semântico. E se substituirmos por
outros advérbios? Uma sugestão para uma discussão em sala de aula.

Contudo, no meio do caminho tinha uma pedra... Nem sempre é tão fácil assim
classificar os advérbios. Podemos dizer que são termos invariáveis, não flexionam em
gênero, número ou grau, porém há algumas pedrinhas no caminho que temos que
esclarecer nesse momento. Estudar a classe dos advérbios é, segundo Bagno (2012),
um território visado por processos de gramaticalização pela amplitude de seu campo
semântico, que seria o mais amplo que existe.

127
NOTA
Gramatização é um processo linguístico, que ocorre com a mu-
dança de termos dentro de uma frase, podendo ser mudança de
posição gramatical ou de categoria sintática. Ás vezes, apresentam
mudanças fonológicas, semânticas entre outras.
Segundo Sousa e Alvares (2015, p. 1), “a gramatização diz respeito
à abrangência da relação entre a escrita e a oralidade. Isso se dá
na elaboração de uma gramática a partir de um corpus específico,
definindo a própria regularização de uso da língua”.
Esse processo ocorre mais explicitamente na língua falada. Por
exemplo: troca-se o verbo por um substantivo durante uma fala,
sem que essa seja a nova regra. Pode ser situação momentânea
apenas, uma vez que a nossa língua é dinâmica.

DICA
Sugerimos a leitura do texto: A gramatização do português no Brasil:
a posição sujeito-gramático e a questão da língua nacional, de
Joelma Aparecida Bressanin e Amilton Flávio Coleta Leal, publicado em
2017. Acesse em: http://www.revistalinguas.com/edicao39/artigo1.pdf.

E, também, a leitura do texto A modalização no processo de


gramatização no Brasil, de Sergio Casimiro, publicado em 2018.
Acesse em: https://bit.ly/3AlrZ4C.

Na língua portuguesa, usamos quatro critérios para classificar as palavras:


morfológico, semântico, sintático e discursivo. Classificamos as palavras de variáveis e
invariáveis. O advérbio é classificado como termo invariável, pois não se modifica para
concordar com outros elementos do texto.

Podemos, ainda, reconhecer um advérbio pela terminação (sufixo) –mente,


como simplesmente, calmamente, rapidamente, entre outros. Contudo, as palavras não,
sim, ainda, aqui, aí não terminam em –mente e ainda assim são advérbios.

Os advérbios, apesar de classificados como tal, muitas vezes extrapolam seu


conceito, principalmente se levarmos para outras maneiras de pensar como a sintaxe,
a semântica. Vamos ver esse exemplo: o professor é alto e o professor fala alto. A
palavra alto traz dois significados diferentes: no primeiro caso trata-se de um adjetivo
e, sintaticamente, age como predicativo do sujeito. No segundo caso, a palavra alto
refere-se ao modo como o professor fala, portanto um advérbio.

128
Isso prova que é difícil classificar a palavra por si só sem saber em que contexto
se insere.

Com relação aos advérbios, sua invariabilidade (critério morfológico)


e mobilidade considerável dentro das estruturas frasais (critério
sintático) permitem que um dos critérios mais adotados para
sua classificação seja o semântico ("de modo", "de negação", "de
intensidade"), embora não se excluam os outros critérios, como o
morfológico, exemplificado anteriormente pelo sufixo  -mente, e o
sintático, quando se evidenciam a proximidade espacial do advérbio
ao seu escopo ou sua conexidade ao verbo da oração (SALGADO,
2012, p. 5).

Os advérbios, sintaticamente falando, podem se relacionar ao verbo, ao adjeti-


vo ou a outro advérbio, quanto a um substantivo e, discursivamente, eles podem ligar
ideias dando relevância ou reforçando os elementos do contexto. Exemplo: João correu
muito e está cansado demais. Ele é muito atleta!

Vamos às classificações dos advérbios para conhecer o sentido que tentam


expressar em um texto. A partir das classificações devemos analisar a sua função e
utilidade junto aos outros elementos da frase.

3 CLASSIFICAÇÃO DOS ADVÉRBIOS


Classificam-se os advérbios da seguinte forma:

Advérbios de lugar são usados para demarcar lugares no espaço. São eles:
aqui, antes, dentro,  ali, adiante, fora,  acolá, atrás, além,  lá, detrás, aquém, cá, acima,
onde,  perto,  aí, abaixo, aonde,  longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro,
afora, alhures, embaixo, externamente, a distância, à distância de, de longe, de perto,
em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta.

Advérbios de tempo são usados para marcar o tempo dentro do contexto.


São eles: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, amanhã, cedo, depois,  ainda,
antigamente, antes, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim, afinal, amiúde,
breve, constantemente, entrementes, imediatamente, primeiramente, provisoriamente,
sucessivamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia

Advérbios de modo  definem o modo da ação, a forma como ocorre o fato.


São eles: bem, mal, assim, melhor, pior, depressa, acinte, devagar, às pressas, às claras,
às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa
maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão.

129
Observe que a maior parte dos que terminam em "-mente": calmamente, triste-
mente, propositadamente, pacientemente, amorosamente, docemente, escandalosa-
mente, bondosamente, generosamente são advérbios de modo. Quando ocorrem dois
ou mais advérbios em -mente, em geral sufixamos apenas o último: Exemplo: O aluno
respondeu calma e respeitosamente.

Advérbios de afirmação têm unicamente a função de afirmar, de reforçar


uma ideia. São eles: sim, certamente, realmente, decerto, efetivamente, certo, decidi-
damente, deveras, indubitavelmente.

Advérbios de negação dão ideia de negação ou reforçam essa ideia. São


eles: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de forma nenhuma, tampouco, de jeito
nenhum.

Advérbios de dúvida trazem a ideia de incerteza. São eles: acaso, porventura,


por certo, possivelmente, provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, quem sabe.

Advérbios de intensidade são utilizados para expressar a ideia de intensidade


a uma situação. São eles: muito, demais, pouco, tão, em excesso, bastante, mais, menos,
demasiado, quanto, quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo, por completo, nada,
todo, quase, de todo, de muito, extremamente,  intensamente,  grandemente, bem
(propriedades graduáveis).

Advérbios de exclusão trazem a ideia de exclusão de um fato, ligada a um


verbo, adjetivo ou advérbio. São eles: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente,
simplesmente, só, unicamente.

Advérbios de inclusão são aqueles que dão a ideia de inclusão, ou melhor,


de inserir um fato ou mais de um dentro de uma frase. São eles: ainda, até, mesmo,
inclusivamente, também.

Advérbios de ordem são os que exprimem a ideia de ordem de fatos dentro de


um contexto. São eles: depois, primeiramente, ultimamente.

Há, também, os advérbios interrogativos que são aqueles que propõem a ideia
de questionamento, de pergunta, de um modo geral. São eles: onde?   aonde?  don-
de? quando? como? por quê?

Nas interrogações diretas ou indiretas, referentes às circunstâncias de lugar,


tempo, modo e causa. Exemplos: Aonde vai? (interrogação direta) ou Perguntei aonde
ia. (interrogação indireta).

130
DICA
Para quem pretende se aprofundar em advérbios, sua utilização em
frases ou buscar subsídios para trabalhar em sala de aula sugerimos
o texto O ensino do advérbio no livro didático de língua
portuguesa “diálogo”: algumas reflexões, de autoria dos
pesquisadores Andréa Cavalcante Monteiro Alves e Juarez
Nogueira Lins, apresentado no Conedu e publicado em 2017.
Acesse em:
https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/37700.

IMPORTANTE
Distinção entre advérbio e pronome indefinido
Há palavras como muito, bastante etc. que podem aparecer como
advérbio e como pronome indefinido.
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro advérbio e não sofre
flexões. Por exemplo: Ele come muito.
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e sofre flexões. Por
exemplo: Ele come muitos doces.

Conhecendo-se os tipos de advérbios, torna-se imprescindível aprender as


flexões possíveis dentro de um texto. O objetivo é saber como utilizar as palavras de
maneira correta, reforçando o sentido que se pretende expressar.

4 O GRAU DO ADVÉRBIO
Advérbios  são as palavras que exprimem circunstância de um fato ou
intensificam, exprimem a qualidade de um adjetivo e, até mesmo, de um advérbio. Os
advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apresentam variação em gênero e número,
apenas de grau. Os advérbios flexionam em dois graus: o comparativo e o superlativo.

• Grau Comparativo

O grau comparativo dos advérbios é dividido em: igualdade, superioridade e


inferioridade.

131
O comparativo de igualdade é formado com o uso da palavra "tão" antes do ad-
vérbio e "como" ou quanto "depois". Então, lembre-se: tão + advérbio + quanto (como).
Exemplo: João fala tão bem quanto Antônio.

O comparativo de superioridade é formado com a anteposição de mais ao


advérbio e acrescentando-se “que” ou “do que”. Há duas maneiras: o modo analítico e
o modo sintético.

- Analítico:  mais + advérbio + que (do que). Exemplo: João fala mais que (do que)
Antônio.
- Sintético:  melhor ou pior que (do que). Exemplo: João fala melhor que (do que)
Antônio.

Cabe aqui uma observação sobre o bem e mal. Esses advérbios recebem o
grau comparativo de superioridade irregular quando é expresso respectivamente pelas
formas melhor e pior. Exemplo: Os resultados dos seus exames são melhores que os
meus. Quando antecedem um verbo no particípio, o uso dos advérbios bem e mal, no
grau comparativo, altera-se para “mais bem” e “mais mal”. Exemplo: Minha casa está
mais bem construída que a dele.

O grau comparativo de inferioridade é formado com o acréscimo antes do


advérbio da palavra "menos" e "que" ou "do que" depois do advérbio. Lembre-se: menos
+ advérbio + que (do que). Exemplo: João fala menos que (do que) Antônio.

• Grau Superlativo

O superlativo pode ser analítico ou sintético:

- Analítico:  acompanhado de outro advérbio. Exemplo: João fala muito alto. Temos
nesse exemplo: muito = advérbio de intensidade e alto = advérbio de modo.
- Sintético: formado com sufixos. Exemplo: João fala altíssimo.

5 LOCUÇÃO ADVERBIAL
Denominamos locução adverbial o encontro de duas ou mais palavras que
exercem função de advérbio, que pode expressar as mesmas noções dos advérbios.
Iniciam ordinariamente por uma preposição. São locuções adverbias de:

- lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para dentro, por aqui etc.
- afirmação: por certo, sem dúvida etc.
- modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em geral, frente a frente etc.
- tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje em dia, nunca mais etc.

132
É importante ressaltar que tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio. Exemplos: Ana chegou muito cedo para a aula.
Luiz é muito inteligente.

Locuções adverbiais mais usadas na língua portuguesa: às vezes, às claras, às


cegas, à esquerda, à direita, à distância, ao lado, ao fundo, ao longo, a cavalo, a pé, às
pressas, ao vivo, a esmo, à toa, de repente, de súbito, de vez em quando, por fora, por
dentro, por perto, por trás, por ali, por ora, com certeza, sem dúvida, de propósito, lado a
lado, passo a passo, o mais das vezes.

O advérbio foi o elemento estudado neste tópico. Pertence às classes de


palavras, que denominam os termos separadamente para se compreender o papel de
cada um deles dentro de um contexto.

Com o objetivo de ampliar os conhecimentos acerca do assunto, sugerimos


a leitura de um artigo científico e, logo após, o resumo e os exercícios para fixação e
reflexão do conteúdo apresentado.

133
LEITURA
COMPLEMENTAR
OS VERDADEIROS ADVÉRBIOS: MODO, TEMPO E LUGAR

Solange Nascimento

Resumo: Este trabalho apresenta conceitos, delimitações e classificações a respeito


da descrição da classe dos advérbios, por meio de análise e comparação dos vários
enfoques dados ao tema pelas gramáticas normativas, anteriores e posteriores à N.G.B.,
e pelas pesquisas mais recentes. Defende como elementos fundamentais a serem
considerados na descrição a modificação verbal e/ou a noção de circunstância. Por
fim, trata das especificidades de cada grupo, buscando um posicionamento reflexivo e
crítico sobre os pontos mais problemáticos na teoria da classe.

Palavras-chave: Língua portuguesa. Gramática. Advérbio.

Deixamos aqui apenas uma parte do artigo, mas é importante que você leia
o texto na íntegra, que está disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.
php/cadernoseminal/article/view/12695>. Acesso em 12 mar. 2021.

134
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Advérbios são palavras invariáveis que se unem aos verbos, indicando as circuns-
tâncias da ação verbal. Em alguns casos, os advérbios associam-se aos adjetivos,
especificando as suas qualidades e a outros advérbios intensificando seu sentido.

• Os advérbios se classificam em:

lugar dúvida
tempo intensidade
modo exclusão
afirmação inclusão
negação ordem

• São advérbios Interrogativos: onde?  aonde?  donde? quando? como? por quê?

• Quanto à flexão, os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apresentam variação
em gênero e número, apenas de grau.

• Quanto ao grau, os advérbios se flexionam em dois graus: o comparativo e o superlativo.


O Grau Comparativo é dividido em: igualdade, superioridade e inferioridade. O Grau
Superlativo pode ser analítico ou sintético.

• Locução adverbial é o encontro de duas ou mais palavras que exercem função de


advérbio, que podem expressar as mesmas noções dos advérbios.

135
AUTOATIVIDADE
1 A palavra meio pode ter vários sentidos e isso depende do contexto em que se
apresenta. Assinale a alternativa em que o termo destacado tem valor de advérbio.

a) ( ) Achei-o meio triste, com o ar abatido.


b) ( ) Não há meio mais fácil de estudar.
c) ( ) Só preciso de meio metro dessa renda.
d) ( ) Encarou-nos, esboçando um meio sorriso.
e) ( ) Ela caiu bem no meio do jardim.

2 Leia a frase: “Mais de cem anos depois, graças aos avanços nas pesquisas
arqueológicas, foram encontradas múmias no Egito”.
A vírgula que vem depois de “Mais de cem anos depois...” justifica-se por que é:

a) ( ) Um adjunto adverbial intercalado.


b) ( ) Um adjunto adverbial deslocado.
c) ( ) Uma oração adverbial temporal deslocada.
d) ( ) Um adjunto adnominal com valor de advérbio e está deslocado.
e) ( ) Um advérbio em forma de oração e está deslocado.

3 Indique o sentido das palavras ou expressões destacadas em cada frase, apesar


de sua classificação. A resposta deve apontar para a ideia que as palavras grifadas
expressam nas frases a seguir:

I. Certamente Maria passará na prova.


II. Dançar conforme a música.
III. Possivelmente, ele nos encontrará amanhã.
IV. Só andamos a pé.

a) ( ) afirmação, conformidade, dúvida, meio.


b) ( ) certeza, modo, dúvida, exclusão.
c) ( ) modo, afirmação, modo, instrumento.
d) ( ) afirmação, tempo, lugar, modo.
e) ( ) modo, modo, tempo, conformidade.

4 Na frase: “O músico toca seu instrumento incessantemente”, qual seria a classifica-


ção correta do advérbio incessantemente? Justifique sua resposta.

136
5 Explique: “Estudar a classe dos advérbios é, segundo Bagno (2012), um território
visado por processos de gramaticalização pela amplitude de seu campo semântico,
que seria o mais amplo que existe”.

137
REFERÊNCIAS
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Publifolha, 2014.

BAGNO, M. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola


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BASÍLIO, M. Formação e classes de palavras no português do Brasil. 2. ed. São


Paulo: Contexto, 2009.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira
& Lucerna, 2009.

BRESSANIN, J. A.; LEAL, A. F.C. A gramatização do português no Brasil: a posição


sujeito-gramático e a questão da língua nacional. Revista Línguas e Instrumentos
linguísticos, [s.l.], n. 39, jan./jun. 2017. Disponível em: http://www.revistalinguas.com/
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CASIMIRO, S. A modalização no processo de gramatização no Brasil, Revista Inter-


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CASTILHO, A. T. de. Nova gramática do português brasileiro. 1. ed., 2. reimp. São


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CASTILHO, A. T. de. ELIAS, V. M. Pequena gramática do português brasileiro. São


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CUNHA, C.; CINTRA, L.  Nova gramática do português contemporâneo. Rio de


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GOMES, M. S. A gramática pedagógica do português brasileiro (Bagno, 2012)


e o ensino de gramática. 2019, 86f. Dissertação (Pós-Graduação em Educação) –
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Instituto de Ciências da Educação
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MONTEIRO, J. L. Morfologia portuguesa. Campinas: Pontes, 2002.

NASCIMENTO, S. Os verdadeiros advérbios: modo, tempo e lugar. Caderno Seminal


Digital, Rio de Janeiro, ano 14, n. 10, v. 10, jul./dez. 2008. Disponível em: https://
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PERINI, M. A. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

ROCHA, T. MESCKA, P. M. Análise comparativa das definições de substantivos e verbos


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avaliativos ou palavras modais? Revista Pandaemonium, São Paulo, v.
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SANTANA, J. L. R. F.; DAMASCENO, G. L. N. Uma abordagem funcional dos advérbios


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SOUSA, C. C.; ALVARES, L. A. S. P. A gramática e a gramatização: o ensino da gramática e


o processo de gramatização brasileiro. Revista Ecos, [s.l.], v. 19, n. 2, 2015. Disponível em:
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SOUZA, A. B. P. Flexão verbal: um novo olhar para o estudo dos verbos irregulares.
2016, 22f. TCC (Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Revisão de Texto) – Centro
Universitário de Brasília (UniCEUB/ICPD), Brasília, 2016.

139
140
UNIDADE 3 —

CLASSES DE PALAVRAS:
NUMERAL, ARTIGO,
PRONOME, PREPOSIÇÃO,
CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o estudo dos vocábulos a partir das classes e funções das palavras;

• aprender os conceitos e características dos numerais, artigos, pronomes,


preposições, conjunções e interjeições;

• aprender, por meio de exemplos, a utilização desses termos;

• entender a forma de diferenciá-los em contextos diferentes.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – NUMERAL E ARTIGO


TÓPICO 2 – PRONOMES
TÓPICO 3 – PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

141
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

142
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
NUMERAL E ARTIGO

1 INTRODUÇÃO
O Tópico 1 aborda os numerais e os artigos, seus conceitos e classificações.
Apresentaremos as formas corretas dos numerais por extenso, com a intenção de
facilitar no momento de escrevê-los. E quanto aos artigos, a proposta é entender o seu
sentido nas frases, sabendo diferenciá-los dos numerais.

A gramática normativa traz os princípios dos termos, mas não podemos nos ater
só a essa visão. Sabemos, hoje, que o trabalho de ensinar a gramática aos alunos deve
despertar neles o interesse pela língua e não conhecimento hermético encerrado nas
classes de palavras.

A orientação é que você, como docente, trabalhe os textos, de todas as


maneiras, estilos e gêneros, como o literário, o jornalístico, por exemplo, como forma de
compreensão da língua portuguesa e, ainda, utilizando recursos como charges, tirinhas,
anúncios publicitários etc.

Bons estudos!

2 NUMERAL
Estudos recentes apresentados pela NGB (Nomenclatura da Gramática Bra-
sileira) têm questionado a presença dos numerais como elementos pertencentes às
classes de palavras, uma vez que têm concepção semântica e servem como quanti-
ficadores. Seriam os numerais elementos que permeiam as classes dos nomes, dos
pronomes, com funções atribuídas ao substantivo, ao adjetivo e ao advérbio?

Vamos definir os numerais para os nossos estudos. São palavras de ”função


quantificadora que denotam valor definido” (BECHARA, 2009, p. 167). Pode-se dizer,
também, que indicam quantidades de pessoas ou coisas. E, ainda, o numeral “é a classe
de palavras que denota um número exato de coisas, seres ou conceitos ou indica a
posição que ocupam numa determinada ordem” (CIPRO NETO; INFANTE, 2008, p. 304).
Temos aqui alguns exemplos:

Amanhã completarei vinte anos.


O bimestre letivo está começando.

143
Comi só a metade da maçã.
Tivemos o dobro de prejuízo com essa compra.
Essa é a segunda vez que venho a Paris.

Os numerais podem ser classificados quanto ao seu critério:

• funcional: palavra que atua como elemento específico de um núcleo ou de uma


expressão ou como substituto desse mesmo núcleo (substantivo, adjetivo);
• mórfico: palavra formada unicamente por um morfema gramatical;
• semântico: palavra que indica a quantidade dos seres, sua ordenação ou proporção
(cardinal, ordinal, múltiplo, fracionário, coletivo).

Podemos conceituar os numerais de uma forma mais ampla. Estariam no grupo


dos quantificadores. Veja o que diz Gomes, amparado nos estudos de Bagno:

Para Bagno (2012), a classe dos quantificadores corresponde aquilo


que a tradição gramatical chama de numerais e pronomes indefinidos.
A partir de Azeredo (2008, p. 173), Bagno diz que “os chamados
numerais ordinais são, de fato, quantificadores definidos”. Já os
pronomes indefinidos, são de fato “quantificadores indefinidos”
(BAGNO, 2012, p. 826 apud GOMES, 2019, p. 71).

Os numerais dão sentido aos números, quantificam. São muito utilizados e


permitem dimensão dos fatos. Hoje, inclusive, muitos pesquisadores se dedicam aos
estudos de dados, quantificadores que revelam uma situação comparativa e mostram a
interpretação dos fatos. Bagno (2012, p. 829) diz que:

[...] a quantificação não é simplesmente uma ‘classe gramatical’, mas


sim uma função que pode ser exercida não só pelos quantificadores
indefinidos [...], como também por uma série de locuções nominais e
preposicionais muito usuais, dentre as quais, cite-se: a maior parte
de e qualquer coisa.

Para fins pedagógicos, utilizamos os numerais como um dos termos das classes
de palavras e é importante conhecê-los dessa forma para poder entender sua função
dentro de um contexto e sua importância como indicadores de quantidades.

O que significa saber que 15% da população brasileira foi vacinada? Qual é a
população brasileira? O que esse valor corresponde em relação aos outros países? Os
números sugerem uma infinidade de interpretações possíveis em todas as áreas. Isso
apenas para exemplificar. Aqui uma mensagem enviada por Twitter: Secretaria da Saúde
SP #VacinaParaTodos.

Mais de 500 mil doses da vacina contra a COVID-19 foram aplicadas em SP.
Batemos mais um recorde, nas últimas 24 horas, desde o início da imunização no
estado. Isso significa que foi o dia que protegemos mais vidas com mais de cinco vacinas
aplicadas por segundo.

144
FIGURA 1 – ANÚNCIO

FONTE: <https://bit.ly/3k2xwpM>. Acesso em: 10 set. 2021.

Observe quantos números aparecem nesse texto e sua importância na


compreensão da mensagem. Podemos ir mais longe dizendo que nos dias atuais os
números são informações a serem interpretadas. Exemplo: o que esses números citados
na mensagem mostram dentro de um contexto nacional?

Um exercício interessante seria equacionar os números apresentados à


população do Estado de São Paulo para termos a noção real da situação. Os números
servem como dados para interpretação da realidade.

Veja outro exemplo de utilização dos numerais. Aqui cabe uma sugestão para
se trabalhar com os alunos: um estudo dos quantificadores resultando em análise dos
fatos. A partir desses dados é possível redigir um texto mostrando a situação retratada.

145
QUADRO 1 – UTILIZAÇÃO DE NUMERAIS

FONTE: <https://bit.ly/39mJJ2n>. Acesso em: 11 set. 2021.

Vamos ver como os numerais se classificam e qual é a utilização de cada um em


diferentes contextos.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NUMERAIS


Os numerais são classificados em:

• Cardinais: são os numerais que  indicam quantidade, contagem, medida. É o


número básico. Exemplo: um, dois, cem, mil etc.
• Ordinais: são os numerais que indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada.
Exemplo: primeiro, segundo, centésimo, milésimo etc.
• Fracionários: são os numerais que indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão
dos seres. Exemplo: meio, terço, quinto, vinte e cinco avos etc.
• Multiplicativos: são os numerais que  têm a ideia de multiplicação dos seres e
indicam aumento proporcional dessa mesma quantidade. Exemplo: dobro, triplo,
quíntuplo etc.
• Coletivos: se referem ao conjunto de algo, indicando o número exato de seres que
compõem esse conjunto. Exemplo: dezena, dúzia, milheiro, novena, biênio, dueto,
quinzena etc.

146
A classificação dos numerais em cardinais, ordinais, multiplicativos e fracioná-
rios está relacionada ao significado e não às características mórficas apenas, pois os
números ordinais são essencialmente adjetivos, enquanto os fracionários são substan-
tivos. E ainda resta a dúvida para se definir se milhão, dezena, dúzia, entre outros, estão
mais para substantivos ou para numerais.

Exemplos de numerais substantivos:

- Os alunos fizeram o dobro da lição e conseguiram o triplo da nota.


- Um quinto da sala faltou hoje.

Exemplos de numerais adjetivos:

- Ela vai viajar de primeira classe (local privilegiado e mais caro).


- O cozinheiro usou carne de segunda (tipo de carne mais barata).

2.2 FLEXÃO DOS NUMERAIS


Os numerais podem ser variáveis, pois são flexionados em gênero (masculino e
feminino) e número (singular e plural) e invariáveis, não apresentando flexão.

Na expressão alusiva a um número não conhecido ou que não se


queira explicitar (o número tanto), pode-se também usar o plural: o
número tantos, a folhas tantas, a páginas tantas. Cabe ainda lembrar
que o numeral cardinal pode às vezes ser empregado para indicar
número indeterminado:
Peço-lhe um minuto de sua atenção (= alguns poucos minutos).
Contou-lhe o fato em duas palavras (= poucas palavras).
F. tem mil e um defeitos (por: muitos defeitos).
Ela anda com mil perguntas (por: muitas perguntas) (BECHARA,
2009, p. 170).

a) Flexão dos numerais cardinais

Alguns numerais cardinais variam em gênero: um e uma, dois e duas apenas. E


as centenas: duzentos e duzentas, trezentos e trezentas, quatrocentos e quatrocentas
etc. Alguns numerais cardinais variam em número: milhão e milhões, bilhão e bilhões,
trilhão e trilhões. Numerais invariáveis: três, quatro, cinco etc.

b) Flexão dos numerais ordinais

Os numerais ordinais variam em gênero e número. Exemplos: João foi o pri-


meiro a sair. Maria foi a primeira a sair. Eles foram os primeiros a sair. Elas foram as
primeiras a sair.

147
c) Flexão dos numerais multiplicativos

Os numerais multiplicativos são invariáveis quando estão na posição de


substantivos, mas variam em gênero e número quando se apresentam como adjetivos.

Exemplos: Aquele ator apresenta o triplo da experiência em relação aos outros.


(substantivo).
As mulheres reclamam por exercer dupla jornada de trabalho. (adjetivo)

d) Flexão dos numerais fracionários

Os numerais fracionários variam em gênero e número conforme o numeral


cardinal que os antecedem.

Exemplos: Fiz uma terça parte da lição. Tomamos meio litro de vinho.

e) Flexão dos numerais coletivos

Os numerais coletivos variam apenas em número.

Exemplos: Comprei uma dúzia de bananas. Comprei três dúzias de bananas.

2.3 UTILIZAÇÃO DOS NUMERAIS


Vamos às formas de utilização dos numerais em que eles se encontram:

• Pospostos ao substantivo, referindo-se a reis, papas, séculos e capítulos de obras:


na escrita, os números romanos; e na leitura, os numerais ordinais. Isso somente vale
se a ordenação indicar até o décimo elemento. Exemplos: Capítulo IV (quarto); Papa
João Paulo II (segundo); Século III (terceiro). Quando a ordenação se referir ao décimo
primeiro em diante, a leitura se dará por meio dos números cardinais. Exemplos: João
XXIII (vinte e três); Capítulo XXX (trinta;) Canto XV (quinze).
• Anteposto ao substantivo, usamos os números ordinais. Exemplos: 15º andar (décimo
quinto); 5ª estrofe (quinta); 20ª nota (vigésima).
• Para indicar o primeiro dia de cada mês, utilizamos sempre numeral ordinal. Exemplo:
primeiro de abril, primeiro de maio etc.
• Na numeração de casas, apartamentos, páginas, blocos etc. utilizam-se os cardinais.
Exemplos: casa 4 (quatro); página 80 (oitenta); apartamento 51 (cinquenta e um).
Caso o numeral venha antes do substantivo, usamos os ordinais. Exemplos: 21º andar
(vigésimo primeiro); 3ª casa (terceira).
• Em decretos, portarias, leis, artigos e outros textos considerados oficiais empregam-
se os ordinais até o nono, e os cardinais a partir do número dez.
• Exemplos: artigo 5º (quinto); parágrafo 3º (terceiro); parágrafo 11 (onze).

148
• Não devemos empregar o cardinal “um” antes de “mil”. Exemplo: As contas do mês
somaram mil reais.
• Ao nos referirmos aos termos “milhão” e “milhar”, empregamos o artigo masculino, de
modo a adequá-lo ao gênero de ambos (masculino). Exemplo:
• Os nove milhões foram pagos ao ganhador.
• O numeral cardinal representado por “um” e o artigo indefinido “um” geram dúvidas.
Então utilizamos o “um” quando ele representar quantidade exata, obtendo como
plural o numeral dois. O uso do artigo refere-se à indicação de um ser indeterminado,
cujo plural é uns.
• Exemplos:
- Só um aluno fez a lição (numeral).
- Encontraram um menino perdido na rua (artigo indefinido).

NOTA
Ambos/ambas  são considerados numerais e significam "um
e outro", "os dois" (ou "uma e outra", "as duas") e são sempre
empregados para referenciar pares de seres aos quais já foram
citados. Por exemplo: Maria e João parecem ter se entendido
melhor. Ambos agora estão convivendo bem.

Como você pode observar, o estudo de classes de palavras é questionado por


alguns autores como inadequado, tendo em vista que tendem rotular as palavras como
pertencentes à determinada classe como se fosse uma situação fixa. Daí o perigo de
se estudar listas de palavras pertencentes à determinada classe, pois uma mesma
palavra pode exercer diferentes funções gramaticais conforme o contexto. Por isso,
observamos que palavras tidas como numerais, ora funcionam como substantivos, ora
como adjetivos, por exemplo. Nesse sentido, é vital que o ensino da gramática esteja
sempre atrelado à análise dos contextos de enunciação.

Sobre os numerais, pode-se afirmar que:

Numeral é uma propriedade semântica de uma subclasse dos nomes.


Do ponto de vista gramatical, não há nenhuma razão para conferir
uma classe à parte a essas palavras que expressam quantidade
exata. Na definição proposta, os numerais são substantivos ou
adjetivos, segundo a posição que ocupam no sintagma (AZEVEDO,
2008 apud BAGNO, 2011, p. 825-826).

Para Bagno (2011), a criação de uma classe gramatical para palavras que têm
simplesmente função de substantivo ou adjetivo é uma incoerência. Por isso, o ensino
de língua...

149
antes centrado no domínio das regras em atividades de reconheci-
mento e de classificação, agora se direciona para o uso social que
dela fazemos e nos faz atentar também para o caráter reflexivo do
qual a linguagem se reveste. [...] Sendo assim, não há mais espaço
para o ensino de língua que priorize o estudo dos aspectos norma-
tivos, mas para o estudo da língua que passa a ser tomada como
um fenômeno social de interação (BASTOS; LIMA; SANTOS, 2012,
p. 113-114).

Por isso, esperamos que, ao longo desta unidade você possa compreender que
precisamos tecer um estudo a partir de nomenclaturas de classes ou funções gramaticais,
mas que esses conceitos não são estáveis/imutáveis, tampouco inquestionáveis. Há a
necessidade de analisarmos os contextos comunicativos, observando que ao falarmos
de funções em detrimento do termo “classes de palavras” é justamente por entender
que uma mesma palavra pode assumir diferentes funções na interação social.

Dito isso, vamos agora passar para o estudo da função dos artigos, que são
tradicionalmente identificados como definidos e indefinidos, buscando compreender
sua finalidade dentro dos textos.

3 ARTIGOS
Artigos são palavras que acompanham os substantivos, indicando o seu
número (singular ou plural) e o seu gênero (masculino ou feminino). São classificados em
artigos definidos, que determinam os substantivos, como exemplo: o menino e artigos
indefinidos que indeterminam os substantivos, exemplo: um menino.

Canção Mínima

No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

FONTE: MEIRELES, Cecília. Obra poética. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p. 163.

O poema de Cecília Meireles é um bom exemplo para se tratar artigo definido e


indefinido com os alunos. A ideia é fazer com que entendam a diferença entre um termo
que mostra definição e indefinição (o planeta/um planeta), o que importa para o emissor
da mensagem e o que está distante dele.

150
Observe que, anteriormente, ao falarmos de numerais, comentamos que as
mesmas palavras podem assumir diferentes funções gramaticais, conforme o contexto.
Nesse sentido as palavras: um, uma, uns, umas, identificadas aqui como artigos
indefinidos, foram antes analisadas como numerais. Por isso, no ensino da língua
portuguesa deve-se atentar à semântica das palavras dentro dos textos. O estudo da
gramática, mais que reconhecer regras é um exercício de observação, análise e reflexão
sobre o funcionamento da língua.

Segundo Bechara (2009, p.130), “chama-se artigo definido ou simplesmente


artigo: o, a, os, as, antepostos a substantivos, com reduzido valor semântico
demonstrativo e com função precípua de adjunto desses substantivos”.

Devemos, também, estudar o artigo segundo os critérios:

• funcional – funciona como termo determinante do núcleo de uma expressão;


• mórfico – formada unicamente por um morfema gramatical (palavra variável em
gênero e número);
• semântico – define ou indefine o substantivo a que se refere (definido ou indefinido).

A tradição gramatical tem aproximado este verdadeiro artigo de um,


uns, uma, umas, chamados artigos indefinidos, que se assemelham
a o, a, os, as pela mera circunstância de também funcionarem como
adjunto de substantivo, mas que do autêntico artigo diferem pela
origem, tonicidade, comportamento no discurso, valor semântico e
papéis gramaticais.
Pela origem, porque o, a, os, as se prendem a antigo demonstrativo
latino (illum, illa) – o que lhes garante o valor de demonstrativo
atenuado –, enquanto um, uma, uns, umas representam emprego
especial de generalização do numeral um. Pela tonicidade, porque,
sendo um vocábulo eminentemente átono, não pode funcionar
sozinho na oração, como o faz o chamado artigo indefinido que, neste
papel, só não se confunde com o pronome indefinido pelo auxílio que
lhe emprestam os entornos linguísticos (BECHARA, 2009, p. 130-131).


O artigo definido e indefinido precisa ser estudado considerando-se a sua
significação na frase, pois é muito comum confundir, por exemplo, um artigo indefinido
com numeral ou um artigo definido com pronome, A partir da explicação de Bechara
(2009), fica mais fácil entender o papel de cada um dentro do contexto que se quer dizer.

3.1 ARTIGOS DEFINIDOS


Os artigos definidos são o, a, os, as. Determinam os substantivos de forma par-
ticular, objetiva e precisa, individualizando seres e objetos. Conhecemos a pessoa ou
objetivo a que queremos nos referir. Exemplo: A menina morreu.

Agora vamos ver como se utilizam os artigos definidos:

151
• Em alguns nomes de cidades, estados, países: a Inglaterra, o Brasil.
• Em nomes de estações do ano: o inverno, o verão, a primavera e o outono.
• Em nomes de pontos cardeais: o norte, o sul, o leste, o oeste, o sudeste.
• Em nomes de feriados e datas comemorativas: o carnaval, o Natal, a Páscoa.
• Em cognomes e títulos: o senhor, a doutora.
• Em nomes próprios, transmitindo conhecimento e familiaridade: a Luísa, o Gabriel.

Seguem, aqui, alguns casos em que o uso do artigo, neste caso, é opcional:

• Com pronomes possessivos: a minha mãe, o meu carro.


• Com a palavra todos, indicando totalidade: todos os dias, todas as alunas.
• Após o numeral ambos: ambos os carros, ambas as provas.

Importante saber que não se usa artigo:

• Depois de pronome relativo: Este autor cuja obra eu conheço.


• Antes do pronome de tratamento: Vossa Excelência é muito inteligente.
• Antes de nomes de lugares em que não se admite esse elemento: São Paulo é uma
cidade grande. Exceção: Vou visitar a bela São Paulo. Nesse caso, a exceção se dá por
conta do adjetivo antes do nome do lugar.

NOTA
As mesmas palavras (o, a, os, as) que são identificadas como artigos
definidos, conforme a situação de uso, podem funcionar como pronome.
Enquanto os artigos têm a função de determinar os substantivos,
individualizando seres ou coisas; como pronomes, essas palavras fazem
retomada anafórica, ou seja, retomam palavras já ditas, evitando sua
repetição. Veja o exemplo:
Prendi o teu cachorro, mas não o maltratei.
Na primeira vez que aparece na frase, o é um artigo, mas da segunda
vez funciona como pronome, retomando a palavra cachorro.

3.2 ARTIGOS INDEFINIDOS


Os artigos indefinidos são um, uma, uns, umas. Indeterminam os substantivos,
caracterizando-os de forma imprecisa e generalizada, sem particularizar e individualizar
seres e objetos.

Nesse caso, desconhecemos a pessoa ou objeto a que queremos nos referir.


Exemplo: Mais uma menina morreu.

152
Listamos aqui as formas de utilização dos pronomes indefinidos:

• Com números quando indicam aproximação numérica: uns duzentos.


• Para dar ênfase a uma palavra, um sentimento: uma raiva, um amor.
• Para comparar alguém com uma figura conhecida: ela é uma dama.
• Para referir-se a obras de um artista: comprei um Picasso, vendi um Miró.
• Para indicar uma pessoa de uma família, inclusive ressaltando importância ou
hereditariedade: ele é um Monteiro, ela é uma Albuquerque de Almeida.

Veja o que tem a dizer a pesquisadora Maria Helena de Moura Neves (2017, p. 19)
sobre os artigos:

O artigo definido, o demonstrativo e o possessivo, aparentemente,


são apenas internos ao sintagma nominal (são ‘determinantes’, são
‘adjuntos adnominais’), entretanto só podem ser interpretados, e,
portanto, também eles, só podem ter sua classe estabelecida, a sua
gramática resolvida, se considerado o seu papel de referenciação
textual, e, portanto, a organização semântica textual.
O mesmo não ocorre com outros elementos estruturalmente internos
ao sintagma, como os indefinidos e os numerais, já que esses não
têm papel referenciador na organização discursivo-textual.

Na verdade, o artigo não tem valor significativo nas determinações por classes
gramaticais. Nem sempre o que pensamos ser um artigo realmente é. Por exemplo,
quando falamos: “A casa de Maria é boa, mas a de Alice é melhor”. O primeiro a é um
artigo definido, pois aponta que a casa é determinada, não se trata de qualquer casa,
mas o segundo a é um pronome demonstrativo, uma vez que substitui a palavra casa.
Agora, se disséssemos: “A casa de Maria é boa, mas a casa de Alice é melhor”, seriam os
dois “as” artigos definidos. Portanto, é importante que se dê atenção ao contexto.

NOTA
Para saber se  um  é artigo, coloque após o substantivo que ele
acompanha a palavra qualquer. Exemplo: Eu quero comprar um celular
(qualquer).
Para saber se um é numeral, coloque antes dele somente ou apenas.
Exemplo: Eu quero comprar (apenas) um celular, porque está muito
caro. Outra dica é substituir um por dois, para verificar se “um” expressa
ideia de quantidade. Exemplo: Eu quero comprar um (dois) celular (es).

Outro ponto importante ao que se refere ao emprego dos artigos são as formas
como se contraem as preposições a, em, de e por.

153
Artigos definidos contraídos com preposições:

Preposição a Preposição de

ao (a + o) do (de + o)
à (a + a) da (de + a)
aos (a + os) dos (de + os)
às (a + as) das (de + a

Preposição em Preposição por

no (em + o) pelo (por + o)


na (em + a) pela (por + a)
nos (em + os) pelos (por + os)
nas (em + as) pelas (por + as)

Artigos indefinidos contraídos com preposições:

Preposição em Preposição de

num (em + um) dum (de + um)


numa (em + uma) duma (de + uma)
nuns (em + uns) duns (de + uns)
numas (em + umas) dumas (de + umas)

Os artigos apresentam as seguintes funções em uma frase. Vamos conhecê-las:

• Função de substantivação: os artigos criam substantivos a partir de outras classes


gramaticais, transformando, por exemplo, adjetivos e verbos em substantivos.
Exemplos. A gata tem um andar silencioso (substantivação de um verbo).
O azul da blusa da menina é lindíssimo! (substantivação de um adjetivo).

• Função de distinção entre homônimos: é por meio do artigo que se faz a distinção
entre o feminino e o masculino da palavra e a distinção entre seus significados, como:
o cabeça, a cabeça, o praça, a praça etc.
Exemplos: Lima é a capital do Peru (a capital).
A nossa empresa está com problemas de capital financeiro (o capital).

No poema de Carlos Drummond de Andrade há artigos definidos e indefinidos:

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra

154
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

FONTE: <http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond04.htm>. Acesso em: 24 jul. 2021.

No meio do meu caminho tinha uma pedra qualquer. Fica bem claro no texto o
sentido do que está definido (o caminho) e o que é indiferente (uma pedra).

Apresentamos um poema de Manoel de Barros para que possamos encontrar os


artigos. Separamos apenas o(s) e a(s), desconsiderando as contrações.

O livro sobre nada

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.


Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser
que a revelou.
[...]

FONTE: <https://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-poemas-de-manoel-de-barros/>. Acesso em:


24 jul. 2021.

Reconhecemos de imediato que são todos artigos pela aparência, mas não é
isso que ocorre. Observe os seguintes versos: “Há muitas maneiras sérias de não dizer
nada, mas só a poesia é verdadeira”. Temos, nesse verso, artigo definido, pois o a se
relaciona à palavra poesia, identificando-a.

“Tem mais presença em mim o que me falta”, temos pronome (=equivale a


aquilo), podemos entender sintaticamente por meio do verbo faltar (falta o quê? =
aquilo, que por sua vez substitui um substantivo = sentimento, verdade ou outra coisa).

“Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário”, aí é artigo.

155
“Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada
do ser que a revelou”, temos pronome. Veja que aqui podemos entender sintaticamente
a função do a (revelou quem? = ela).

Uma ideia para quem leciona língua portuguesa é pedir para os alunos
reescreverem o poema substituindo esses termos comentados anteriormente, para
que eles percebam a diferença que há entre os elementos e só é possível reconhecer
analisando-os sintaticamente.

DICA
Sugerimos a leitura da dissertação de mestrado de Heitor da Silva
Campos Júnior, intitulada A variação morfossintática do artigo
definido na capital capixaba, com várias discussões acerca do papel
do artigo na fala e na escrita.
Acesse em: https://bit.ly/3AGNsGA.

Esperamos que você tenha conseguido compreender as funções que podem


assumir os numerais e os pronomes. Não se esqueça de sempre analisar os contextos
de uso, pois as nomenclaturas e a memorização de regras costumam nos colocar em
armadilhas, pois acabam nos levando a generalizações que nem sempre condizem com
as funções das palavras na prática textual. Dessa forma, a identificação de funções
gramaticais está atrelada à semântica, ao uso social da língua. Vamos agora ao resumo
deste tópico!

156
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Numerais denotam um número exato a coisas, seres ou conceitos, ou ainda indicam


a posição que ocupam numa determinada ordem. São os elementos que permeiam
as classes dos nomes, dos pronomes, com funções atribuídas ao substantivo, ao
adjetivo e ao advérbio.

• Os numerais podem ser classificados quanto ao seu critério: funcional – palavra que
atua como elemento específico de um núcleo ou de uma expressão ou como substituto
desse mesmo núcleo (substantivo, adjetivo); mórfico – palavra formada unicamente
por um morfema gramatical e semântico – palavra que indica a quantidade dos seres,
sua ordenação ou proporção (cardinal, ordinal, múltiplo, fracionário, coletivo).

• Cardinais são os numerais que indicam quantidade, contagem, medida. É o número


básico.

• Ordinais são os numerais que indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada.

• Fracionários são os numerais que indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão


dos seres.

• Multiplicativos são os numerais que têm a ideia de multiplicação dos seres e indicam


aumento proporcional dessa mesma quantidade.

• Coletivos se referem ao conjunto de algo, indicando o número exato de seres que


compõem esse conjunto.

• Artigos são palavras que acompanham os substantivos, indicando o seu número


(singular ou plural) e o seu gênero (masculino ou feminino).

• Artigos definidos determinam os substantivos de forma particular, objetiva e precisa,


individualizando seres e objetos.

• Artigos indefinidos indeterminam os substantivos, caracterizando-os de forma


imprecisa e generalizada, sem particularizar e individualizar seres e objetos.

157
AUTOATIVIDADE
1 Em qual das frases a seguir o artigo está substantivando uma palavra, em função do
sentido dessas palavras consideradas nominais?

a) ( ) Joana não se sentou à mesa.


b) ( ) A saída do cinema está fechada.
c) ( ) A viagem foi adiada por causa da pandemia.
d) ( ) Eu quero entender o porquê da queda dos juros bancários.
e) ( ) Luiz chorou com a morte da amiga porque a queria muito.

2 Leia o poema de Clarice Lispector:

Abro o jogo!
Só não conto os fatos de minha vida:
sou secreta por natureza.
Há verdades que nem a Deus eu
contei. E nem a mim mesma. Sou
um segredo fechado a sete chaves.
Por favor me poupem.

No poema há palavras com o sentido de artigo definido, em qual das frases abaixo é
possível reconhecê-lo?

I- No verso “Há verdades que nem a Deus eu contei...”


II- No verso “Sou um segredo fechado a sete chaves...”
III- No verso “Só conto os fatos de minha vida...”
IV- No verso “E nem a mim mesma”

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
e) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

3 De acordo com o sentido, o numeral que se apresenta no lugar de um substantivo,


pode exercer a função sintática de:

158
a) ( ) Os dois estavam estudando na sala (sujeito).
b) ( ) Encontramos os três na rua (objeto direto). 
c) ( ) Éramos seis (predicativo do sujeito).
d) ( ) O carro foi empurrado pelos quatro (agente da passiva).
e) ( ) Os dois alunos estavam jogando bola na quadra (adjunto adnominal).

4 Responda como diferenciar o artigo um e o numeral um em uma frase, sendo que


graficamente são iguais, mas podem ter sentidos e funções diferentes?

5 Leia os exemplos a seguir e justifique a diferença que entre as frases: uma frase com
a presença do artigo definido e a outra com a ausência do artigo.

Toda a escola estava arrumada para receber os alunos.


Toda escola deveria estar arrumada e preparada para receber os alunos.

159
160
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
PRONOMES

1 INTRODUÇÃO
Este tópico está inteiramente voltado ao estudo dos pronomes. Cabe aqui
mostrar importância do uso dos pronomes na língua portuguesa. Vamos ver os tipos de
pronomes e qual a sua função para a compreensão das frases e facilitação no processo
comunicativo.

Definimos pronomes como palavras que substituem ou determinam os subs-


tantivos. Indicam as pessoas do discurso, expressam formas sociais de tratamento e
substituem, acompanham ou retomam palavras e orações já expressas. Há vários tipos
de pronomes: pronomes pessoais, pronomes possessivos, pronomes demonstrativos,
pronomes interrogativos, pronomes relativos e pronomes indefinidos. Além dessa clas-
sificação principal, os pronomes também podem ser adjetivos e substantivos.

Além disso, sempre é bom lembrar que apresentamos os elementos que


compõem as classes gramaticais e que devem ser reconhecidos nos textos a partir de
análises sintáticas e do sentido que expressam.

2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRONOMES


Pronomes  são palavras que substituem ou determinam os substantivos. São
eles que indicam as pessoas do discurso, expressam formas sociais de tratamento e
substituem, acompanham ou retomam palavras e orações já expressas. Contribuem,
assim, para garantir a síntese, a clareza, a coerência e a coesão do texto.

Pronome é a classe de palavras categoremáticas que reúne unida-


des em número limitado e que se refere a um significado léxico pela
situação ou por outras palavras do contexto. De modo geral, essa
referência é feita a um objeto substantivo considerando-o apenas
como pessoa localizada do discurso.
Pessoas do discurso
Pessoas do discurso – São duas as pessoas determinadas do discur-
so: 1ª eu (a pessoa correspondente ao falante) e 2ª tu (corresponden-
te ao ouvinte). A 3ª pessoa, indeterminada, aponta para outra pessoa
em relação aos participantes da relação comunicativa (BECHARA,
2009, p. 130).

161
Para Ulisses Infante (2012, p. 241), o pronome:

permite identificar o ser como sendo aquele que utiliza a língua no


momento da comunicação (eu, nós), aquele a que a comunicação é
dirigida (tu, você, vós, Senhora) ou também como aquele ou aquilo
que não participa do ato comunicativo, mas é nele mencionado (ele,
ela, aquilo, outro, qualquer, alguém e etc.).

E continua o pesquisador a definir o pronome, dizendo que:

também pode se referir a um determinado ser, relacionando-se com


as pessoas do discurso; pode, por exemplo, estabelecer relações de
posse ou proximidade com a primeira pessoa (meu livro, este livro,
isto), com a segunda pessoa (teu livro, esse livro, isso) e com isso a
terceira pessoa (aquele livro, aquilo) (INFANTE, 2012, p. 241).

Para Bagno (2012, p. 737), os pronomes não são considerados como uma classe
de palavras, “mas sim como uma função que palavras de diferentes classes podem
exercer: a função anafórica, isto é, de retomada/substituição de algum elemento
anteriormente mencionado”. Lembrando que função anafórica é aquela que se refere
a um pronome demonstrativo usado para lembrar um termo já mencionado no texto.
Trata-se de um recurso para não deixar um texto muito repetitivo. Ainda, para Bagno
(2012, p. 462), “Outra razão para tratar os pronomes como uma função é o fato de que
muitas palavras tradicionalmente chamadas de ‘pronomes’ não só empreendem a
retomada anafórica, mas também funcionam como determinantes”.

Nesse sentido, podemos dizer que os pronomes substituem os substantivos ou


os determinam.

FIGURA 2 – FUNÇÃO DO PRONOMES

FONTE: <https://prezi.com/wzxyseaeqtvb/pronomes/?present=1>. Acesso em: 22 ago. 2021.

Nessa frase o pronome possessivo teu determina o substantivo cachorro e


atribui a ele uma característica, por isso pode ser definido como um pronome adjetivo.
O pronome oblíquo o retoma o substantivo cachorro, por isso pode ser denominado
pronome substantivo.

Observe o poema a seguir e procure verificar essas funções exercidas pelos


pronomes, a retomada anafórica e a determinação.

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GRAMÁTICA DO AMOR

Ricardo Pires Fernandes

Conjuga-me num beijo


interjeita-me nos teus braços
Adjectiva o meu desejo
Personifica os nossos laços.

Imperativa o teu sentimento


Metaforiza-o com a natureza
Exclama-o num momento
Eterno com certeza.

Acentua-o com um sorriso


Transcreve-o num poema
Compõe-no num feitiço
descobrirás que amor é o tema.

Coordena agora tudo,


Para sempre vais lembrar
Que o poeta não fica mudo
e com esta gramática se vai expressar.

FONTE: <https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=64161>. Acesso em: 30 jul. 2021.

Podemos perceber que nos quatro primeiros versos, os pronomes possessivos


funcionam como determinantes, ou seja, são pronomes adjetivos, atribuem caracterís-
ticas a substantivos.

Depois, por cinco vezes, a palavra sentimento é retomada a partir do pronome


oblíquo o, ou seja, trata-se de um pronome substantivo.

Ainda observamos o uso dos pronomes demonstrativos a partir de “esta”, no


último verso, sendo que nesse caso, o pronome demonstrativo “esta” refere-se ao
próprio texto, ou seja, à “Gramática do Amor” e não à gramática normativa.

Quando um texto se refere a ele mesmo, usaremos este, esta (Ex.: Esta
pesquisa objetiva.../ Este texto tem o objetivo de...). Quando um texto se refere a outro
texto, usa-se esse, essa (Ex.: Marcos Bagno, em Gramática Pedagógica do Português
Brasileiro, contrasta os termos classe e função. Nesse texto, o autor...)

163
Compreender a função dos pronomes é um recurso poderoso para o ensino
não apenas da gramática, mas principalmente para o ensino da escrita e da compreen-
são de textos. Compreendendo a função dos pronomes, somos capazes produzir textos
mais coesos e fluentes, evitando a repetição desnecessária de elementos no texto.

Além disso, precisamos nos atentar o quanto é complexo o funcionamento da


língua e como os diferentes conhecimentos gramaticais se complementam para colo-
car em prática o exercício da escrita.

Você certamente estudou a transitividade verbal ao longo de sua trajetória


escolar e acadêmica, mas você sabia que esse conhecimento é de suma importância
para o uso adequado dos pronomes? Vamos retomar sucintamente para entender o
uso dos pronomes:

Quando o verbo não exige preposição para transitar para o complemento, temos
um objeto direto.

Ex.: Comprei o pão.


Quem compra, compra algo, não compra A algo. Logo temos um objeto direto.

Quando o verbo exige uma preposição para transitar para o complemento, te-
mos um objeto indireto.

Ex.: Dei a ele um pão.


Nesse caso, “dei” algo A alguém ou PARA alguém. Logo temos um objeto indireto.

Assim, na frase: “Comprei um pão e dei a ele”, temos objeto direto e indireto.
“Comprei” algo (pão = objeto direto) para alguém (ele = objeto indireto).

Veja a imagem a seguir:

FIGURA 3 – TRANSITIVIDADE VERBAL

FONTE: <https://prezi.com/wzxyseaeqtvb/pronomes/?present=1>. Acesso em: 22 ago. 2021.

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No exemplo dessa imagem, o verbo pagar é transitivo direto e indireto (VTDI),
pois entre o verbo paguei e o objeto pão não se exige preposição, logo pão é um objeto
direto (OD), mas entre o verbo paguei e o objeto padeiro exige-se preposição (ao padeiro/
para o padeiro), logo padeiro é um objeto indireto. Mas qual é a relação disso com o uso
dos pronomes? Pois bem, observe a próxima imagem:

FIGURA 4 – OBJETO DIRETO E INDIRETO

FONTE: <https://prezi.com/wzxyseaeqtvb/pronomes/?present=1>. Acesso em: 22 ago. 2021.

Quando quisermos retomar no texto uma palavra que funciona como objeto
direto, usaremos os pronomes oblíquos: o, a, os, as, lo, la, los, las, no, na, nos nas.
Contudo, quando quisermos retomar uma palavra que funciona como objeto indireto,
usaremos os pronomes oblíquos lhe ou lhes.

• Paguei o pão ao padeiro.


• Paguei-o ao padeiro. (“o” substitui “pão” – OD)
• Paguei-lhe o pão. (“lhe” substitui “padeiro” – OI)

Como você pode ver, o conhecimento gramatical é crucial para uma boa escri-
ta. Com essa perspectiva, podemos buscar um ensino da gramática aplicada a textos,
ou seja, deixa-se de ensinar a gramática pela gramática e passa-se a esclarecer aos
estudantes que aprender a gramática é descascar a língua, visualizar suas engrena-
gens e aprender a colocá-las em funcionamento. Dessa forma, dá-se sentido àquilo
que se estuda.

O uso de textos é recurso muito importante para o estudo dos pronomes e da


gramática em geral. Além disso, permite-nos discutir sobre o uso real da língua. Observe
o poema de Oswald de Andrade.

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Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

FONTE: <https://www.escritas.org/pt/t/7793/pronominais>. Acesso em: 23 jul. 2021.

Quando se fala em pronome, impossível não se lembrar desse poema, pois


retrata exatamente tudo o que temos falado em relação à mudança de visão do ensino
da gramática. Oswald de Andrade trouxe para o público, em 1925, a questão da utilização
do pronome e sua colocação na frase. É notório perceber que as pessoas se distanciam
cada vez mais do uso da mesóclise (pronome no meio do verbo), como, por exemplo:
Dar-te-ei um cigarro.

O poema traz uma crítica à gramática normativa que considera erro, na língua
portuguesa, iniciar frases com pronomes oblíquos. Entretanto, na oralidade e, conforme
o contexto, claro, seguir essa regra da gramática normativa torna a comunicação
artificial. O brasileiro claramente tem preferência pelo uso da próclise.

No entanto, é importante que tenhamos claro que, em textos com maior grau
de formalidade, exige-se o cumprimento da norma padrão da língua portuguesa, que
considera inadequado iniciar frases com pronomes oblíquos. Para uma boa escrita,
convém fazer um bom estudo acerca de colocação pronominal.

FIGURA 5 – ACERTAR O PRONOME

FONTE: <https://www.soportugues.com.br/secoes/humor/8.jpg>. Acesso em: 22 ago. 2021.

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A tirinha brinca justamente com a problemática levantada por Oswald de
Andrade no poema Pronominais, destacando o distanciamento entre as regras da
gramática normativa e o uso coloquial da língua.

Depois dessa reflexão acerca da complexidade e importância de conhecer as


funções dos pronomes, veremos que há vários tipos de pronomes: pronomes pessoais,
pronomes possessivos, pronomes demonstrativos, pronomes interrogativos, pronomes
relativos e pronomes indefinidos. Vamos conhecer um a um, com suas especificidades
e emprego nas frases.

2.1 PRONOMES INDEFINIDOS


Referem-se sempre à 3ª pessoa gramatical, indicando que algo ou alguém é
considerado de forma indeterminada e imprecisa. Temos os pronomes indefinidos
variáveis e invariáveis. São eles:

Pronomes indefinidos variáveis

algum, alguns, alguma, algumas; certo, certos, certa, certas;


nenhum, nenhuns, nenhuma (s); tanto, tantos, tanta, tantas;
todo, todos, toda, todas; quanto, quantos, quanta, quantas;
outro, outros, outra, outras; um, uns, uma, umas;
muito, muitos, muita, muitas; bastante, bastantes;
pouco, poucos, pouca, poucas; qualquer, quaisquer

Pronomes indefinidos invariáveis

alguém mais
tudo ninguém
outrem nada
algo menos
cada demais

Os pronomes indefinidos invariáveis funcionam como pronomes indefinidos


substantivos, todos invariáveis: alguém, ninguém, tudo, nada, algo, outrem. Exemplos:
Ninguém sabe a resposta. Quero alguma coisa para comer.

Vamos ver algumas formas de utilização dos pronomes indefinidos nas frases:

• o pronome certo, posposto ao substantivo, representa um adjetivo. Exemplo: Você
está no momento certo para aproveitar a vida.
• o pronome algum (alguma, alguns, algumas), posposto ao substantivo traz um
sentido negativo. Exemplo: Isso não tem gosto algum, mas quando colocado antes
representa valor positivo. Exemplo: Ao falar sobre você, algumas emoções voltam.

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• o pronome qualquer, posposto ao substantivo mostra sentido pejorativo. Exemplo:
Tenho uma vida qualquer.
• o pronome nada se equivale a alguma coisa, quando empregado em frases
interrogativas. Exemplo: Não tenho nada para receber?
• o pronome cada, quando não vem antes de um substantivo deve ser precedido de um
ou qual. Exemplo: Foram muitos candidatos, cada qual mais preparado que o outro.

2.2 PRONOMES PESSOAIS


Os pronomes pessoais designam as pessoas do discurso e subdividem-se em
pronomes pessoais do caso reto e pronomes pessoais oblíquos.

Pronomes Pronomes Pronomes


Pessoas
pessoais do pessoais do caso pessoais do caso
do discurso
caso reto oblíquo (átonos) oblíquo (tônicos)

1ª pessoa (singular) eu me mim, comigo

2ª pessoa (singular) tu te ti, contigo

3ª pessoa (singular) ele/ela se, o, a, lhe si, consigo, ele, ela

1ª pessoa (plural) nós nos nós, conosco

2ª pessoa (plural) vós vos vós, convosco

3ª pessoa (plural) eles/elas se, os, as, lhes si, consigo, eles, elas

Os pronomes pessoais do caso reto são aqueles que substituem os substanti-


vos e indicam as pessoas do discurso, assumindo a função de sujeito da oração. São
eles: eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas. Exemplo: Eu gosto de estudar. Ela comprou um
celular novo.

Cabe mais uma vez ressaltar que as pessoas do discurso sofrem alteração nos
dias de hoje. Na maior parte do país não se fala ou se escreve tu, pois você é o mais
utilizado. Conjugamos o verbo na 3ª pessoa do singular. Exemplos: Você será o campeão.
Você comprou um carro novo?

Assim como o pronome vós que apenas são utilizados em textos sacros,
literários, arcaicos. Usamos, sim, vocês, mas conjugamos o verbo igual à 3ª pessoa do
plural, ficando assim: Vocês contaram uma bonita história. Vocês são inteligentes.

Sem contar o uso de a gente no lugar de nós. Aqui se deve conjugar na 3ª pessoa
do singular, apesar de dar a ideia de plural. Exemplo: A gente aprova a sua decisão.

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A respeito dos pronomes pessoais, o linguista Marcos Bagno (2011) traz uma dis-
cussão interessante, propondo uma nova lista de pronomes que deveria ser estudada na
escola no lugar daquela que conhecemos, composta por: eu, tu, ele, nós, vós, eles. Veja:

FIGURA 6 – PRONOMES PESSOAIS NA ESCOLA

FONTE: Bagno (2011, p. 986)

Essa imagem é um print retirado do livro Gramática Pedagógica do Português


Brasileiro, no qual Bagno (2011) argumenta que o vós já caiu em desuso e o seu ensino
não faz muito sentido. Defende a inserção da expressão a gente, pois a utilizamos com
frequência, a inserção do você e a exclusão do tu. O autor considera que o tu tem uso
restrito e que, em algumas situações, pode ser tomado como uma forma grosseira e
agressiva, por indicar excesso de intimidade.

Convém, no entanto, ressaltarmos que essa proposta de exclusão do pronome


tu é um tanto quanto delicada, pois no Sul do Brasil, por exemplo, principalmente no
estado do Rio do Grande do Sul, seu uso é constante, predominando sobre o você.
O que cabe, todavia, ao ensinarmos os pronomes pessoais, é um estudo linguístico,
identificando os usos dos pronomes em contextos reais de comunicação.

DICA
Para ilustrar o uso do pronome tu no Rio Grande do Sul, sugerimos que
você ouça música do Guri de Uruguaiana, intitulada Eu quero falar tu.
Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=e_ozwPd6EUA.

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Podemos utilizar, sintaticamente, os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu/
você, ele/ela, nós, vós/vocês/a gente, eles/elas) em algumas situações:

• Quando exercer a função de predicativo do sujeito. Exemplo: Minha vida é ela.


• Quando exercem a função de sujeito simples ou composto. Exemplos: Eu sou uma
pessoa estudiosa. Ela e ele formam um casal.
• Os pronomes tu e vós quando exercem a função de vocativo. Exemplo: Vós, que sois
generoso, ajudai a todos.
• Os pronomes eu e tu não precisam de preposição, pode-se substituí-los pelos
pronomes mim e ti. Exemplos: Há uma bonita amizade entre mim e ela. Esse vestido
cabe em ti.
• O pronome vós é encontrado em contextos formais, principalmente em obras literárias
e textos religiosos. Exemplo: Só Vós sois Santo.

Os pronomes pessoais oblíquos podem ser tônicos ou átonos. Quando tônicos,


são sempre precedidos de uma preposição e substituem um substantivo que tem fun-
ção de objeto indireto. São eles: mim, comigo, ti, contigo, ele, ela, nós, conosco, vós,
convosco, eles, elas. Exemplo: Ele comprou flores para mim.

Os pronomes pessoais quando átonos não são precedidos de uma preposição e


podem substituir um substantivo que tem função de objeto direto ou de objeto indireto.
São eles: me, te, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes. Exemplos: Ele me comprou flores. Deve-
mos valorizar as coisas que nos pertencem.

Os pronomes oblíquos átonos podem desempenhar a função sintática de


complemento. São eles:

• Objeto direto: me, te, o, a, nos, vos, os, as. Exemplo: Aceite-me como sou.
• Objeto indireto: me, te, lhe, nos, vos, lhes. Exemplo: Entregou-me bombons.
• Adjunto adnominal: me, te, lhe, nos, vos, lhes, quando indicarem posse (algo de
alguém). Exemplo: Roubaram-me os anéis.
• Complemento nominal: me, te, lhe, nos, vos, lhes, como complemento de adjetivos,
advérbios ou substantivos abstratos. Exemplo: Tenho-vos respeito.
• Sujeito acusativo: me, te, o, a, nos, vos, os, as, quando estiverem em um período
composto formado pelos verbos fazer, mandar, ver, deixar, sentir ou ouvir e um verbo
no infinitivo ou no gerúndio. Exemplo: Deixem-nos sair!

Os pronomes oblíquos tônicos são sempre seguidos de preposições e podem


ter as seguintes funções:

• Complemento nominal – Exemplo: As conversas fazem bem a mim.


• Objeto direto – Exemplo: Eu não a encontrei na escola.
• Objeto indireto – Exemplo: Sua mãe lhe entregou o casaco.
• Adjunto adverbial – Exemplo: Eles farão os passeios conosco.
• Agente da passiva – Exemplo: O trabalho da escola foi feito por ele.

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NOTA
- Se o verbo terminar em: m, ão ou õe, os pronomes oblíquos átonos
o, a, os, as assumirão as formas no, na, nos, nas.
- Se o verbo terminar em r, s ou z, as terminações são retiradas e os
pronomes o, a, os, as assumirão as formas lo, la, los, las. Mas, quando
seguidos de verbos que terminam em som nasal, os pronomes
assumem as formas no, na, nos, nas.
- Se o verbo terminar em mos e for seguido de nos ou de vos,
independente da predicação verbal, a terminação -s será retirada.
- Se o verbo for transitivo indireto terminado em s e seguido de lhe,
lhes, a terminação -s não é retirada.

2.3 PRONOMES POSSESSIVOS


Os pronomes possessivos, como o próprio nome diz, indicam uma relação de
posse, ou seja, mostram que alguma coisa pertence a uma das pessoas do discurso.

Os pronomes possessivos exercem a função de determinantes, como já


mencionamos anteriormente, por isso, podemos chamá-los de pronomes adjetivos.
Exemplo: Minha namorada tem consciência do quanto a amo. O pronome “minha”
determina um nome/substantivo (namorada), atribuindo-lhe uma característica (função
de adjetivo).

São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical (possuidor), acrescentam


a ela a ideia de posse de algo (coisa possuída). Exemplos: Onde está o meu carro? Maria
é minha amiga.

Os pronomes possessivos variam em gênero e número, de acordo com as


pessoas que detêm algo e o número de coisas que elas possuem.

São pronomes possessivos: meu, minha, meus, minhas, teu, tua, teus, tuas, seu,
sua, seus, suas, nosso, nossa, nossos, nossas, vosso, vossa, vossos, vossas, seu, sua,
seus, suas.

Pessoas do discurso Pronomes possessivos

1ª pessoa (singular) meu, minha, meus, minhas

2ª pessoa (singular) teu, tua, teus, tuas

3ª pessoa (singular) seu, sua, seus, suas

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1ª pessoa (plural) nosso, nossa, nossos, nossas

2ª pessoa (plural) vosso, vossa, vossos, vossas

3ª pessoa (plural) seu, sua, seus, suas

Agora vamos entender como se dá o emprego dos pronomes possessivos:

• Os pronomes seu/sua (s) podem causar ambiguidade, para desfazê-la, deve-se


preferir o uso do dele/dela(s). Exemplo: Maria falou com a professora sobre a sua
blusa / Maria falou com a professora sobre a blusa dela.
• Podem indicar aproximação numérica assim como também valor de indefinição.
Exemplos. A minha prima tem lá seus trinta anos. Ele tem lá as suas dúvidas!
• Nem sempre indicam posse. Podem ter outros empregos, como: indicar afetividade.
Exemplo: Não abandone o trabalho, minha filha!
• Fica na 3ª pessoa em frases onde se usam pronomes de tratamento. Exemplo: Vossa
Excelência comprou sua passagem?
• Quando há mais de um substantivo, o possessivo concorda com o mais próximo.
Exemplo: Recebi seu presente e a mensagem.
• Em algumas situações, os pronomes pessoais oblíquos átonos assumem valor de pos-
sessivo. Exemplo: José cumpriu-lhe o acordo (no lugar de José cumpriu seu acordo).
• No caso de seu quando resultar da alteração fonética da palavra  senhor não é
pronome possessivo. Exemplo: Gosto de conversar com o seu Pedro.

2.4 PRONOMES DEMONSTRATIVOS


Os pronomes demonstrativos indicam a posição (espacial, temporal e no próprio
discurso) em relação às pessoas do discurso. Eles podem ser variáveis ou invariáveis.

Pessoas do discurso Pronomes demonstrativos variáveis

1ª pessoa (singular) Este, esta,

2ª pessoa (singular) Esse, essa,

3ª pessoa (singular) Aquele, aquela,

1ª pessoa (plural) estes, estas

2ª pessoa (plural) esses, essas

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3ª pessoa (plural) aqueles, aquelas

1ª pessoa (singular) isto

2ª pessoa (singular) isso

3ª pessoa (singular) Aquilo

Espaço Tempo Variáveis Invariáveis

próximo presente este(s), esta(s) isto

pouco distante passado e futuro próximos esse(s), essa(s) isso

distante passado remoto aquele(s), aquela(s) aquilo

Observe que podem, também, esclarecer o uso dos pronomes demonstrativos


em relação às pessoas do discurso:

• Os pronomes este, esta, isto se referem à pessoa próxima de quem fala (eu). Exemplo:
Este caderno é meu.

Quando um texto se refere a ele mesmo também usamos este/esta. Exemplo:


Esta pesquisa tem a finalidade de resgatar obras de autoria feminina do século XVIII.
/ Este artigo objetiva analisar a formação de leitores nas escolas públicas brasileiras.

Usamos este/esta/isto para nos referirmos ao presente ou ao futuro. Exemplo:


Este dia (hoje) está lindo! / A formatura de minha filha será dia 13 de dezembro e este
será um dia especial!

E também vamos utilizar este(s)/esta(s) para indicar, enumerar itens. Exemplo: A


lista de compras contém estes itens: banana, maçã, leite, margarina e iogurte.

• Os pronomes esse, essa, isso se referem à pessoa próxima da pessoa a quem se fala
(você). Exemplo: Esse livro foi escrito por Jorge Amado.

Se, como mencionamos antes, este/esta serve quando um texto se refere a


ele mesmo, quando um texto menciona outro, o uso adequado é esse/essa. Exemplo:
Bauman, no livro Modernidade Líquida, trata sobre a fluidez dos sentimentos e das
relações. Essa obra...

173
Esse/essa/nesse/nessa é utilizado para se referir a tempo passado. Exemplo:
No dia 13 de outubro, José saíra mais cedo do trabalho, pois nesse dia iria comemorar
o aniversário da filha.

• Os pronomes aquele, aquela, aquilo se referem à pessoa afastada de seus


interlocutores. Exemplo: Quem é aquele rapaz que acaba de chegar?
Por vezes, a palavra aquilo pode ter um sentido pejorativo. Exemplo: Àquilo chamam
de homem?!

As palavras aquele/aquele/aquilo, quando craseadas adquirem novo sentido.


Exemplo: Aquela mulher de vestido azul está olhando para você. / Àquela (para aquela)
mulher dei meu coração. / Àquele (para aquele) homem dedico meu desprezo.

Uma informação interessante: pouco se distingue quando se fala esse ou


este, essa ou esta, isso ou isto. Na língua escrita ainda alguns seguem as regras para a
utilização desses pronomes, mas, atualmente alguns autores tratam esse tipo de regra
como inadequada, pois o usual prevalece e o tradicional, aos poucos, sucumbe.

É perda de tempo tentar inculcar nos aprendizes uma diferença entre


esse e este que não existe mais na língua e que não é rigorosamente
seguida sequer pelos que produzem gêneros escritos mais monitora-
dos. Mesmo nas gramáticas normativas, o quadro clássico é relativi-
zado. Mais uma vez repetimos: se a função da escola é ensinar o que
a pessoa não sabe, cabe, sim, apresentar os demonstrativos – mas
explicando que, muito tempo atrás na língua, eles só eram aplicados
aos objetos próximos da pessoa que fala e que a repartição clássica
em três séries de demonstrativos se reduziu – como na maioria das
línguas – a duas: um para o que está mais próximo, outro para o que
está distante. Para realçar o que está mais próximo da 1ª pessoa e
mais próximo da 2ª, usamos os advérbios de lugar aqui e aí. Uma boa
sugestão é coletar textos escritos, por exemplo, em jornais e revistas
e ver como se dá ali o uso dos demonstrativos (BAGNO, 2012, p. 795).

A maneira como o pesquisador Marcos Bagno coloca a questão do esse/


este leva-nos a refletir sobre o assunto. Seria interessante excluir todas as formas de
escrever, igualar as palavras dando-lhe sentido único? Na língua falada não distinguimos
mesmo muitos termos, mas na escrita pensamos mais para expressar nossas ideias e
procuramos evitar equívocos facilitando a leitura e o entendimento do receptor.

Entretanto, se por um lado, por vezes, não se identifica a diferença entre este/
esta e esse/essa, por outro devemos considerar que há sim uma distinção semântica
e desconsiderá-la pode nos induzir a entendimento equivocado da mensagem.
Na oralidade e na linguagem coloquial, esses pronomes podem ser tomados como
sinônimos, mas é preciso estarmos atentos, pois em textos acadêmicos ou com maior
grau de formalidade, a distinção semântica é importante. Aí está uma boa discussão
para a sala de aula.

174
DICA
Para provocar algumas discussões e levantar questões sobre o assunto,
sugerimos a leitura de Professor de português x preconceito
linguístico, publicado em 2019.
Acesse em: https://bit.ly/3z19UpE.

Vamos aos pronomes de tratamento, dando sequência às classificações dos


pronomes.

2.5 PRONOMES DE TRATAMENTO


Pronomes de tratamento são palavras e expressões empregadas para tratar
familiar ou cerimoniosamente o interlocutor. Apesar de designarem o interlocutor, ou
seja, a pessoa com quem se fala (2ª pessoa), os pronomes de tratamento exigem verbo
e pronome na 3ª pessoa.

Exemplos:
Você dirigiu seu carro novo?
Vossa Excelência comprou um carro novo?

Conforme Cereja e Magalhães (2005), empregamos alguns pronomes de


tratamento precedidos de Sua, quando nos referimos à pessoa, e precedidos de Vossa,
quando nos dirigimos diretamente a nosso interlocutor.

Em numa situação formal, se uma pessoa se dirigir ao presidente da República,


dirá, por exemplo: “Vossa excelência assinou os documentos?”, porque está se dirigindo
diretamente a seu interlocutor, mas em conversa com outra pessoa, diria, por exemplo,
referindo-se ao presidente: “Sua excelência assinou os documentos”.

Vamos conhecer os pronomes de tratamento:

Pronomes de Abreviatura Abreviatura


Como utilizar
tratamento singular plural

Você v vv tratamento íntimo, familiar

Senhor, senhora Sr., srª Srs. Srªs distanciamento mais respeitoso

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pessoas com prestígio, usamos
Vossa Senhoria V. Sª V. Sªs em textos escritos como cor-
respondências oficiais.

pessoas com alta autoridade,


Vossa Excelência V. Exª V. Exªs como presidente da República,
senadores, deputados, etc

Vossa Eminência V. Emª V. Emª cardeais

Vossa Alteza V. A. VA príncipes e duques

Vossa Santidade VS - papa

Vossa sacerdotes e religiosos em


V Revmª V Revmªs
Reverendíssima geral

Vossa Paternidade VP VP superiores de ordens religiosas

Vossa
V Mag ª V Mag ªs reitores de universidades
Magnificência

Vossa Majestade VM VMM reis e rainhas

Os pronomes senhor  e  senhora são empregados no tratamento mais formal,


enquanto que  você  e  vocês, no âmbito familiar e  são muito empregados na nossa
língua. Importante lembrar que em algumas regiões, a forma  tu  é bastante usada ao
passo que vós  tem uso restrito à linguagem litúrgica ou literária e não a utilizamos
corriqueiramente.

Como já dissemos ao falarmos sobre os pronomes pessoais, o pronome tu,


pode ter um sentido pejorativo ou indicar excesso de intimidade em muitas regiões do
país. Por isso, BAGNO (2011), inclusive, sugere uma exclusão desse pronome no ensino
escolar. Contudo, no Sul do Brasil, o uso é constante, cotidiano. Nesse caso, talvez
coubesse mais uma inserção do você, derivado de vossa mercê, na lista de pronomes
pessoais e garantir a permanência do tu, estudando o caso a partir do viés das variantes
linguísticas. Não se pode crer que nos estados do sul brasileiro o pronome caia em
desuso tão cedo.

DICA
A respeito do uso do tu, leia o seguinte texto: Formalidade e pronomes
de segunda pessoa do singular no português gaúcho: dados de
interpretação, de Ronan Pereira, publicado na Revista de Estudos da
Linguagem. Lisboa, v. 29, n. 3, 2021. Acesse em:
http://periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/17957.

176
Passaremos agora para outro tipo de pronomes, os interrogativos.

2.6 PRONOMES INTERROGATIVOS


Pronomes interrogativos referem-se sempre à 3ª pessoa gramatical e são uti-
lizados para interrogar, ou seja, para formular perguntas de modo direto ou indireto.
Exemplos: Quem pagou a conta? (modo direto). Diga, por favor, quem pagou a conta
(modo indireto).

Diz-se interrogação direta a pergunta que termina por ponto de


interrogação e se caracteriza pela entoação ascendente:
Quem veio aqui?
Interrogação indireta é a pergunta que: a) se faz indiretamente e para
a qual não se pede resposta imediata; b) é proferida com entoação
normal descendente; c) não termina por ponto de interrogação;
d) vem depois de verbo que exprime interrogação ou incerteza
(perguntar, indagar, não saber, ignorar, etc.):
Quero saber quem veio aqui.
Eis outros exemplos de interrogação indireta começados pelos
pronomes interrogativos já citados:
Ignoro que cabeça, senhora.
Indagaram-me que compraste.
Perguntei-te por que vieste aqui.
Não sei qual autor desconhece.
Desconheço qual consideras melhor.
Indagaram quantos vieram (BECHARA, 2009, p. 144).

Os pronomes interrogativos podem ser variáveis ou invariáveis. São eles:

Pronomes interrogativos variáveis

singular plural
quanto, quanta quantos, quantas
qual quais

Pronomes interrogativos invariáveis

quem
o quê
onde

Agora vamos ver como podemos utilizar o pronome interrogativo:

• Que: pode ser um pronome substantivo quando tem o sentido de: que coisa.
Exemplos: Que aconteceu? Não entendi que falou Luiz com seu pai. E, ainda, pode
ser um pronome adjetivo, quando tem o sentido de: que espécie de. Exemplos: Que
dor é essa? Não sei que animal pode ter fugido.

177
• Quem: pode ser um pronome substantivo. Exemplos: Quem será aquele mascarado?
Não queira saber quem eu encontrei. Pode, também, ser empregado como predicativo
do sujeito (de um sujeito que esteja no plural) em orações que contenham o verbo
ser. Exemplos: Quem eram as médicas desse hospital? Você sabe quem são os
astronautas?
• Qual: geralmente é usado como pronome adjetivo. Exemplos: Qual é o objetivo desse
trabalho? Diga-me qual desses meninos pegou a caneta.
• Quanto: pode ser tanto um pronome substantivo como um pronome adjetivo.
Exemplos: Quantos anos você tem? Veja quantas cadeiras estão faltando.

Podemos usar, ainda, os pronomes interrogativos com valor exclamativo.


Exemplos: Quem diria! Quanta felicidade!

Vamos ver agora os pronomes relativos e sua função nas frases.

2.7 PRONOMES RELATIVOS


Os pronomes relativos relacionam-se sempre com o termo da oração que está
antecedente, servindo de elo de subordinação das orações que iniciam.

São pronomes relativos: que, quem, onde, o qual, a qual, os quais, as quais, cujo,
cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.

Com a função de ligar duas frases, geralmente é utilizado no início daquela que
liga à outra. Exemplos: Essa é a casa onde vivi durante a infância. Esse é o professor
de quem você falou?

Que quem Onde

pronome muito refere-se só a pessoas e


refere-se a lugar; pode ser
utilizado e refere-se quase sempre é precedido
usado com preposição.
a coisas ou pessoas. de preposição.

Qual quanto Cujo

une dois substantivos e dá


sempre precedido usado depois de pronomes ideia de posse e concorda
de artigo. indefinidos tudo, tanto e todos. em gênero e número, com o
que possui.

Vamos saber quando usamos os pronomes relativos nas frases.

178
• Que, o qual e suas formas variáveis: quando possuem função de pronome relativo,
podem referir-se a pessoas ou a coisas, exercendo o papel de referente do antecedente.
Quando a regência verbal exigir, os pronomes relativos podem vir antecedidos por
uma preposição. Exemplo: Não encontrei o documento que você perdeu.
• Quem: quando possui função de pronome relativo, refere-se apenas  a pessoas
ou a coisas personificadas. Esse pronome normalmente será antecedido por uma
preposição. Exemplos: Os amigos de quem você se perdeu no passeio voltaram para
casa. / Gostei do filme a que assisti hoje.
• Cujo  e  suas formas variáveis: exigem antecedente e consequente na frase, pois
indicam  relação de posse  (o antecedente possui o consequente). A variação  de
gênero e de número precisa  ocorrer quando houver necessidade de concordância
com o consequente, pois não se usa artigo após esse pronome: Exemplos: Esse é o
documento cujo proprietário assinou. / Aquele é o dono do carro cujo pneu estourou.

É importante observar que cujo e suas formas variáveis: cuja, cujos e cujas, não
são utilizados no cotidiano ou quando são, muitas vezes, de maneira estranha. Vamos
ver o que diz Bagno sobre esse assunto.

A baixíssima estatística de emprego do cujo e sua ocorrência


limitada quase exclusivamente a gêneros textuais mais monitorados
torna obrigatório o ensino das construções com esse pronome,
uma vez que sua utilização não pode ser aprendida naturalmente,
no convívio com a família e com outros membros da comunidade,
como a grande maioria das regras gramaticais que cada indivíduo
aprende na infância, ouvindo as outras pessoas falarem. Aprender a
usar o pronome cujo é aprender, na prática, uma regra “estrangeira”,
que não pertence ao vernáculo, e quem vai ensinar precisa ter
sempre isso na consciência (BAGNO, 2012, p. 905).

• Quanto: trata-se de pronome relativo que virá  antecedido por um  pronome
indefinido (tudo, todo, toda, todos, todas, tanto). Exemplos: O médico fez tudo quanto
podia. / Todos quantos puderam contribuíram com a nossa causa social.
• Onde: equivale a em  que  e sempre fará referência a um lugar: Exemplos: Essa é
cidade onde vivi. / Ali é a floresta onde os meninos se perderam.
• Quem e onde: geralmente aparecem sem fazer referência a antecedentes. Exemplos:
Quem nunca come melado, quando come se lambuza. / Fico onde eu quiser.

3 PRONOMES ADJETIVOS E PRONOMES SUBSTANTIVOS


Os pronomes são classificados em pronomes adjetivos e pronomes substanti-
vos, de acordo como seguem ou substituem os substantivos.

Pronomes adjetivos acompanham os substantivos, como se fossem adjetivos,


determinando e modificando o substantivo. Exemplos: Sua prima é inteligente. Aquelas
professoras foram vacinadas.

179
Os pronomes substantivos, por sua vez, substituem o substantivo numa frase.
São utilizados de forma a tornar o discurso menos repetitivo, com um vocabulário
mais variado. Eles variam em gênero (masculino e feminino), número (plural e singular)
e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª pessoa do discurso), assim como os substantivos que estão
substituindo na frase. Podem assumir a função de sujeito da oração. Exemplos: Aquilo é
seu. / Marina gostou do livro e o comprou.

De acordo com a classificação, os pronomes substantivos podem ser do grupo


de outros tipos de pronomes, como pessoal, possessivo, demonstrativo etc.

Exemplos:
Eles gostaram da aula. (pronome pessoal substantivo)
Aquela casa é a minha. (pronome possessivo substantivo)
O meu carro é aquele. (pronome demonstrativo substantivo)

Qual é a diferença dos pronomes adjetivos dos pronomes substantivos? Depen-


de de saber qual o fator determinante que os classificam.

Os pronomes substantivos substituem o substantivo numa frase e os pronomes


adjetivos acompanham e atribuem características ao substantivo. 

Exemplos:
Minha casa é amarela.
(O pronome adjetivo minha qualifica o substantivo comum casa).
Reformei a casa, mas não a pintei.
(O a é um pronome substantivo, pois substitui o substantivo casa: Reformei a
casa, mas não pintei a casa).

Pronomes Pronomes Pronomes que podem ser


substantivos adjetivos substantivos ou adjetivos
algum, alguns, alguma, algumas
bastante, bastantes
Cada, certo, muito, muitos, muita, muitas
certos, certa, demais, mais, menos
certas, meu, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas
meus, minha, outro, outros, outras, outras
Algo, alguém,
minhas, teu, tua, pouco, poucos, pouca, poucas
nada, ninguém,
teus, tuas; seu, qualquer, quaisquer
outrem, quem,
sua, seus, suas, qual, que
tudo.
vosso, vossa, quanto, quantos, quanta, quantas
vossos, vossas; tal, tais
nosso, nossa, tanto, tantos, tanta, tantas
nossos, nossas. todo, todos, toda, todas
um, uns, uma, umas
vários, várias.

180
NOTA
Segundo Bechara (2009), o pronome substantivo e pronome adjetivo podem
aparecer em referência a substantivo claro ou oculto:
Meu livro é melhor que o teu.
Meu e teu são pronomes porque dão ideia de posse em relação à pessoa do
discurso: meu (1ª pessoa, a que fala), teu (2ª pessoa, a com que se fala). Ambos
os pronomes estão em referência ao substantivo livro que vem expresso no
início, mas se cala no fim por estar perfeitamente claro ao falante e ouvinte.
Essa referência a substantivo caracteriza a função adjetiva ou de adjunto de
certos pronomes. Muitas vezes, sem que tenha vindo expresso anteriormente,
dispensa-se o substantivo, como em: Quero o meu e não o seu livro (onde
ambos os pronomes possessivos são adjetivos).
Já em: Isto é melhor que aquilo, os pronomes isto e aquilo não
se referem a nenhum substantivo determinado, mas fazem as
vezes dele. São, por isso, pronomes absolutos ou substantivos.
Há pronomes que são apenas absolutos ou adjuntos, enquanto
outros podem aparecer nas duas funções.

DICA
Sugerimos a leitura do texto de Paulo Roberto Gonçalves-Segundo,
publicado em 2017, que trata do estudo de pronomes na língua portuguesa
com o título Caminhos para um ensino funcional de gramática
orientado ao texto: pronomes pessoais e adjetivos em perspectiva
intersubjetiva. Acesse em: https://bit.ly/3EOCgaX.

Fechamos aqui o Tópico 2. Esperamos que você tenha conseguido tecer uma
boa reflexão sobre o uso dos pronomes e sua aplicabilidade na construção textual.
Vamos agora ao resumo do tópico!

181
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Pronomes  são palavras que substituem ou determinam os substantivos. Indicam


as pessoas do discurso, expressam formas sociais de tratamento e substituem,
acompanham ou retomam palavras e orações já expressas.

• Há vários tipos de pronomes: pronomes pessoais, pronomes possessivos, pronomes


demonstrativos, pronomes interrogativos, pronomes relativos e pronomes indefinidos.
Além dessa classificação principal, os pronomes também podem ser adjetivos e
substantivos.

• Pronomes indefinidos referem-se sempre à 3ª pessoa gramatical, indicando que


algo ou alguém é considerado de forma indeterminada e imprecisa.

• Pronomes pessoais designam as pessoas do discurso. Os pronomes pessoais


subdividem-se em pronomes pessoais do caso reto, pronomes pessoais oblíquos.

• Pronomes possessivos indicam uma relação de posse, ou seja, mostram que alguma
coisa pertence a uma das pessoas do discurso.

• Pronomes demonstrativos indicam a posição (espacial, temporal e no próprio discur-


so) em relação às pessoas do discurso. Eles podem ser variáveis ou invariáveis.

• Pronomes de tratamento são palavras e expressões empregadas para tratar familiar


ou cerimoniosamente o interlocutor.

• Pronomes interrogativos referem-se sempre à 3ª pessoa gramatical e são utilizados


para interrogar, ou seja, para formular perguntas de modo direto ou indireto.

• Pronomes relativos: relacionam-se sempre com o termo da oração que está


antecedente, servindo de elo de subordinação das orações que iniciam.

• Os pronomes adjetivos  acompanham os substantivos, como se fossem adjetivos,


determinando e modificando o substantivo. Os pronomes substantivos substituem o
substantivo numa frase.

182
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2011) Comecei a fazer um tratamento com um medicamento muito forte à
base de corticoide. Para quem nunca tomou medicamento mais forte que uma Aspiri-
na ou um Tilenol, vocês podem imaginar como foi difícil para mim tomar esta medida.
Considerando o texto apresentado e as restrições naturais ao emprego do pronome
oblíquo “mim” em português, avalie as asserções que se seguem.

Neste texto, o pronome oblíquo está colocado antes do verbo e empregado de acordo
com a norma culta.

PORQUE

O fato de o pronome “mim” estar em posição imediatamente anterior ao verbo não


indica, necessariamente, que ele seja o seu sujeito da oração, como ocorre no texto
apresentado.

A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA:

a) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa


correta da primeira.
b) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma
justificativa correta da primeira.
c) ( ) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda, uma
proposição falsa.
d) ( ) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda, uma proposição
verdadeira.
e) ( ) Tanto a primeira quanto a segunda asserções são proposições falsas.

FONTE: <https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/
Ebooks//Pdf/978-85-397-0301-2.pdf>.
Acesso em: 10 set. 2021.

2 (ENADE – 2011) Alguns estudos sobre fenômenos de mudança no Português brasi-


leiro mostram que a forma “a gente” se originou de um substantivo, “gente”, que, ao
assumir, em certos contextos discursivos, determinados valores, passou a fazer parte
de outra classe, a dos pronomes. Trata-se, pois, de um caso de gramaticalização, que,
grosso modo, ocorre quando um item lexical se torna um item gramatical, ou quando
itens gramaticais se tornam ainda mais gramaticais. Um desses estudos indica que,
ao longo do tempo, o substantivo “gente” foi perdendo a especificação de número e
de certas propriedades sintáticas e ganhando traços de pronome.
Considere dois grupos de exemplos relativos aos traços de número e ao arranjo
sintático.

183
Grupo A
1a. Quem viu o mundo como eu vi viu as gentes como eram.
2a. E sua gente foi com ele.
3a. Esta gente anda não se sabe para onde.
4a. Todas as gentes da aldeia ficaram arrasadas.

Grupo B
1b. E hoje a gente mora junto, por assim dizer.
2b. A gente pegou a estrada.
3b. A gente vai mudar as nossas coisas para outro lugar.
4b. O que a gente comia muito lá é sanduíche e sopa.

Considerando o texto e os grupos de exemplos apresentados, assinale a opção CORRETA:

a) ( ) Quanto à flexão de número, os exemplos do grupo A não apresentam, com


nitidez, a distinção pertinente a esse traço.
b) ( ) Quanto à flexão de número, os dados do grupo B não trazem casos de “gente”
flexionados.
c) ( ) Quanto ao arranjo sintático, nos exemplos do grupo A, a expressão “gente”
ocorre sem modificadores, característica dos pronomes.
d) ( ) Quanto ao arranjo sintático, nos exemplos do grupo B, “a gente” ocorre com
diferentes modificadores, o que indica seu caráter de substantivo comum.
e) ( ) De acordo com as informações do texto, a ordem diacrônica do português deve
ser evolução da gramática do grupo B para a do grupo A.

FONTE: <https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/
Ebooks//Pdf/978-85-397-0301-2.pdf>.
Acesso em: 10 set. 2021.

3 Observe a frase “Vi-o, assim chorando e gritando de dor”. O termo (o) destacado nessa
frase pode ser classificado, morfológica e sintaticamente, como:

a) ( ) Artigo e adjunto adnominal.


b) ( ) Artigo e objeto direto.
c) ( ) Pronome oblíquo e objeto direto.
d) ( ) Pronome oblíquo e adjunto adnominal.
e) ( ) Pronome oblíquo e objeto indireto.

4 Na frase “Ninguém gosta de frio intenso, nem mesmo os que têm bons agasalhos
consideram tal situação confortável”, como se classificam, morfologicamente, os
termos em destaque? Observe o sentido que expressam na frase.

184
5 Observe as frases abaixo e explique a presença dos pronomes substantivos e dos
pronomes adjetivos em destaque.

a) Minha amiga estuda matemática todos os dias.

b) Comprei o sítio, mas ainda não o visitei.

185
186
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO

1 INTRODUÇÃO

O Tópico 3 traz os conceitos e as especificidades dos três últimos elementos


das classes de palavras: as preposições, as conjunções e as interjeições. Cada um deles
tem a sua função dentro do contexto linguístico e há a necessidade de se conhecer a
utilização com o objetivo de promover a comunicação.

Vamos estudar as preposições, palavras invariáveis que unem palavras e


orações, estabelecendo ideia de dependência dos termos. O mesmo ocorre com as
conjunções subordinativas, que unem orações subordinadas. No caso das conjunções
coordenativas, a função é de ligar as ideias expressas nas orações, mas de forma
independente.

No caso das interjeições será importante perceber a sua presença nas conver-
sas, nas expressões orais e a medida correta para a sua utilização em textos, que ocorre
especialmente em textos literários, sobretudo nas crônicas.

2 VALORES SEMÂNTICOS DAS PREPOSIÇÕES


As preposições são palavras utilizadas para promover as  relações gramati-
cais que substantivos, adjetivos, verbos e advérbios estabelecem no discurso e, ainda,
não aparecem sozinhas no discurso e são necessárias para a ligação entre dois termos.
O valor semântico é o significado atribuído às palavras dentro de um contexto, melhor
dizendo, essas palavras ganham sentido de acordo com a frase. Exemplos: Gosto de
livros infantis. / Viajarei para Lisboa.

Nos exemplos citados podemos perceber que as preposições ligam os elemen-


tos da frase. Apesar de parecerem simples e supérfluas, as preposições são fundamen-
tais para a compreensão do sentido e facilitam o que se quer expressar.

As preposições podem ser consideradas palavras gramaticais, ou seja, que


não têm sentido sozinhas, mas que são fundamentais para estabelecer a relação
entre outras palavras. Sintaticamente, as preposições não exercem uma função
determinada e são denominadas de conectivos, pois têm apenas a função de ligar,
conectar termos ou frases.

187
As preposições relacionam um termo anterior (antecedente) e um termo
posterior (consequente). Para Bagno (2012) o termo “preposição” ocorre, principalmente,
nas línguas da família indo-europeia. “Em outras línguas o que ocorre é “posposição”.
Por conta disso, os pesquisadores contemporâneos preferem o termo “aposição”, pois
podem ser “pré-” ou “pós-”: cheguei no Rio ontem; a proposta do Alfredo eu votei
contra” (BAGNO, 2012, p. 854).

Vamos ver os exemplos:

Maria comeu pão com manteiga. Nesse caso, o termo antecedente seria pão,
a preposição com e o termo consequente seria manteiga. Justamente por se usar a
preposição, o segundo termo (termo consequente) explica o sentido do primeiro termo
(termo antecedente), o que faz fluir o entendimento da mensagem. Na frase: Ela é uma
mulher de coragem. O uso da preposição de liga os termos antecedente e consequente,
explicando o termo anterior e dando sentido à frase.

2.1 TIPOS DE PREPOSIÇÕES


As preposições classificam-se em preposições essenciais e preposições aci-
dentais. As preposições essenciais são aquelas que só aparecem na língua propria-
mente como preposições, sem outra função qualquer.

Preposições essenciais: 

a de perante

ante desde sem

após em sob

até entre sobre

com para trás

contra por

Exemplos:
Comprei um bolo de cenoura com chocolate.
Trouxe um convite de aniversário a todos.

As preposições acidentais são as que  não possuem, à princípio, a função de


preposição, mas que podem exercê-la em determinadas situações.

Preposições acidentais:

188
afora mediante
como menos
conforme salvo
consoante segundo
durante senão
exceto tirante
feito visto
fora

Exemplos:
Durante a reunião, todos choraram.
Só entrego a mercadoria mediante pagamento.

As preposições são termos invariáveis, não apresentam alterações em gênero,


número ou grau. Mesmo assim, elas podem sofrer mudanças quando combinadas ou
contraídas com termos variáveis, como artigos e pronomes, concordando com a frase
no contexto geral.

A contração é o que acontece quando há mudanças no sentido da preposição.


As preposições de e em, por exemplo, formam contrações com os artigos e com diversos
pronomes. Exemplos:

Do Dos da Das

Num Nuns numa Numas

Disto Disso daquilo

naquele Naqueles naquela Naquelas

Outros casos:

em + a = na
em + aquilo = naquilo
de + aquela = daquela
de + onde = donde

As formas  pelo,  pela,  pelos,  pelas  resultam da contração da erudita


preposição per com os artigos definidos. Por exemplo: per + o = pelo.

A combinação é o que acontece quando a preposição permanece alterada, sem


perda de características fonéticas. Exemplo: preposição  a  + artigo masculino  o  =  ao;
preposição a + artigo masculino os = aos.

Vamos ver a lista de contração e combinação de preposições:

189
Preposição de

do = de + o dela = de + ela
da = de + a deste = de + este
dum = de + um dessa = de + essa
duma = de + uma daquilo = de + aquilo
dele = de + ele dali = de + ali

Preposição em

no = em + o nela = em + ela
na = em + a neste = em + este
num = em + um nessa = em + essa
numa = em + uma naquilo = em + aquilo
nele = em + ele

Preposição a

à=a+a aos = a + os
às = a + as àquele = a + aquele
ao = a + o àquilo = a + aquilo

Preste atenção quando se usa a preposição de juntamente com o artigo o ao


iniciar o sujeito de um verbo. Nesse caso, não existe a contração do, e o correto, pela
norma culta, é usar de o.

Exemplo: É a vez do menino jogar bola. Segundo as regras da gramática


normativa, o correto seria colocar assim: É a vez de o menino jogar bola. A explicação
seria a questão sintática, pois com o sujeito – menino – seguido pelo verbo jogar, teria
que se desdobrar o do, ficando de o (preposição e artigo separados).

Outra questão a ser considerada é a utilização da crase, como resultado da


junção de vogais idênticas. Vamos ver os casos:

à = preposição a com o artigo definido a


às = a + as
ao = a + o
aos = a + os
àquele = a + aquele
àquilo = a +aquilo
àquela = a + aquela

190
NOTA
As preposições são utilizadas, geralmente, na introdução de complementos nominais
e verbais, de locuções adjetivas, de locuções adverbiais e de orações reduzidas. Elas são
importantes para a compreensão dos textos. Algumas preposições transmitem a noção de
movimento, sendo dinâmicas, outras de situação, sendo estáticas.
Preposições de movimento: Eu vou a Portugal.
Preposições de situação: Tenho medo de cobras e de sapos. Estou sem emprego.
As preposições podem estabelecer várias relações e são importantes para o entendimento
delas. Veja:
Assunto: A prova será sobre a pandemia no Brasil.
Autoria: Este livro de Machado de Assis é ótimo.
Causa: Minha barriga dói de fome.
Companhia: Gosto de viajar com meus filhos.
Conteúdo: Gosto de usar a caneta com tinta azul brilhante.
Destino: Os alunos estão voltando para a escola.
Distância: São Paulo fica a 450 km daqui.
Especialidade: Ele é bom em matemática.
Finalidade: Comprei cadernos e lápis para ensinar as crianças.
Instrumento: João cortou-se com uma faca.
Lugar: A conferência mundial foi em Londres.
Matéria: Meu estojo é de plástico.
Meio: Iremos para o Peru de avião.
Modo: A eleição será decidida por votos dos brasileiros.
Oposição: Os pais são contra a volta das aulas presenciais.
Origem: Lúcia veio de Lisboa.
Posse: Este carro é do meu avô.
Preço: As blusas ficam por R$ 300,00.
Tempo: O avião chegará em uma hora.

O próximo item que vamos estudar refere-se às locuções prepositivas, para


entender melhor como ocorre a junção de termos que as compõem e sua utilização
nos textos.

2.2 LOCUÇÕES PREPOSITIVAS


Referem-se a um grupo de palavras com valor e emprego de uma preposição.
As principais locuções prepositivas são constituídas de um advérbio ou de uma locução
adverbial seguido da preposição de, a e com.

a fim de ao lado de debaixo de

a respeito de apesar de dentro de

abaixo de atrás de diante de

191
acerca de através de em frente de

acima de de acordo com em lugar de

antes de de cima de em vez de

2.3 USO DAS PREPOSIÇÕES


A importância da preposição se dá pela colocação correta no texto. Lembrando
que preposição é toda palavra invariável que liga duas outras palavras, estabelecendo
entre elas uma relação de sentido e de dependência entre os elementos. Observe que o
termo que antecede a preposição é denominado regente e o termo que sucede chama-
se termo regido.

Vamos ler a seguinte crônica, escrita pelo jornalista João Trindade, que discute
o uso de para e a, mostrando a colocação correta de cada um como forma equivalente
do sentido que quer expressar no texto.

O ‘jornalista’ que ‘entendia’ de preposições e amizade

João Trindade

Certa vez, um “jornalista”, de cujo nome confesso que esqueci, pediu, por meio de um
irmão meu, um poema para publicação na página dele.
Fiquei feliz, porque sempre fico satisfeito quando alguém lembra que sou poeta e de
minha poesia.
Naquela época, página em internet era uma novidade; eram raras e ainda não
tinham esse nome de “Portal”.
Selecionei, com todo o cuidado, um poema meu que considero muito bom e é dedica-
do a Sérgio de Castro Pinto, por ser claramente inspirado no estilo dos poemas dele.
Fiquei, no entanto, triste, quando vi o texto publicado. O cara mudou,  sem me
consultar, a dedicatória.
Minha dedicatória era:
Para Sérgio de Castro Pinto.
O sujeito mudou para:
“A Sérgio de Castro Pinto”.
Realmente, não fiquei satisfeito e mandei um “e-mail”, questionando.
A justificativa dele:
– Mudei sim; você conhece Sérgio de Castro Pinto? Porque você só poderia usar
“para Sérgio de Castro Pinto” se você conhecesse ele (sic). Sérgio de Castro Pinto é
um poeta muito famoso… Então, tem que ser a Sérgio de Castro Pinto.'

192
Quer dizer:

De uma “lapada” só, o cara quis me dar uma lição sobre o emprego das preposições
e, ainda por cima, duvidou de uma das mais caras amizades (da qual tenho muito
orgulho) que tenho, há décadas. 

FONTE: <https://portalcorreio.com.br/o-jornalista-que-entendia-de-preposicoes-e-amizade/>. Acesso


em: 23 jul. 2021.

Como já foi dito, a preposição liga os termos de uma oração, dando sentido
ao texto falado ou escrito, inclusive estreitando o significado decorrente do conectivo
utilizado.

Podemos perceber, nos dias de hoje, o desaparecimento da preposição a e


isso se deve ao fato de as pessoas em geral não saberem utilizar o a com crase. O
pesquisador Bagno (2012, p. 874) fala sobre esse assunto:

[...], ainda é preciso, no trabalho da educação linguística, ensinar


os empregos da preposição a em textos mais monitorados, sem
contudo reprimir os usos já consagrados de outras preposições com
verbos do tipo ir, vir, chegar, dirigir-se, dar etc. E, também, ensinar a
regra meramente ortográfica do uso do acento indicador de crase.

Com relação a pouca ou nenhuma utilização do a craseado, ao autor da citação


anterior sugere uma atividade de pesquisa para os alunos, que se encontra no trabalho
de Gomes (2019, p. 74), que tem os pressupostos de Bagno como seu objeto de estudo:

A pesquisa pode ser empreendida nos textos autênticos disponíveis


no ambiente escolar. Depois de realizadas atividades ‘para a fruição
da leitura e para o aprendizado sistemático da leitura’, solicita-se ao
aluno que assinale ao longo do texto todas as ocorrências de à e às.
As ocorrências podem ser recolhidas em uma folha de caderno ou no
computador, se houver a possibilidade. Elas devem ser dispostas no
papel na ordem em que aparecem no texto. ‘É muito importante que
recolham não só o a craseado, mas também o contexto em que ele
aparece’. Por isso, é solicitado aos alunos que copiem tudo o que esti-
ver entre os pontos antes e depois da ocorrência.

Vamos ao exemplo de Bagno (2012, p. 85): “Isabel apareceu à janela do palácio


e dirigiu um belo sorriso à multidão”. Somente assim podemos levar os alunos a deduzir
as regras de uso do acento indicador de crase: investigando o contexto sintático maior
em que o acento vai aparecer.

Observando as respostas dos alunos, o professor pode elencar as respostas


dadas por eles, fazendo com que percebam que a crase foi utilizada antes de palavras
femininas apenas, que se juntavam à preposição a. Chega-se, então, à regra básica: “só

193
se usa à/às diante de palavras femininas”. Segundo Bagno (2012, p. 875), “essa regra
simples resolve a maior parte dos problemas e das dúvidas quanto ao uso do acento
indicador de crase”.

Esse trabalho de pesquisa é a forma mais adequada de promover


a educação linguística não só dos alunos, mas também a nossa,
de orientá-los (e orientar-nos) para a construção de seu próprio
conhecimento e funcionamento da língua e de mostrar a eles que a
gramática é um objeto de pesquisa científica, tanto quanto qualquer
outro objeto de qualquer outra ciência (BAGNO, 2012, p. 875).

Colocamos aqui um exemplo de utilização da preposição a quando se une ao


artigo a e resulta em um a craseado. Isso serve para mostrar como podemos trabalhar
em sala de aula levando os alunos a entender o uso de conectivos e como se relacionam
com os elementos de uma frase.

NOTA
Por falar em crase, vamos elencar casos de sua utilização:
– Antes de palavras femininas com substantivos e adjetivos que pedem a preposição a e
com verbos cuja regência é feita com a preposição a, indicando a quem algo se refere, como:
agradecer a, pedir a, dedicar a, assistir a etc. Exemplo: Assisti ao filme no cinema.
– Em diversas expressões adverbiais, locuções prepositivas e locuções conjuntivas: à noite,
à direita, à toa, às vezes, à deriva, às avessas, à parte, à luz, à vista, à moda de, à maneira de,
à exceção de, à frente de, à custa de, à semelhança de, à medida que, à proporção que…
Exemplo: Quero que faça a pesquisa à luz do cientificismo.
– Observação: pode ocorrer crase antes de um substantivo masculino desde que haja uma
palavra feminina que se encontre subentendida, como no caso das locuções à moda de e à
maneira de. Exemplo: Uso sapato à Luiz XV.
– Antes da indicação exata e determinada de horas:
Exemplo: Sairemos às seis horas.
* Nota: Com as preposições para, desde, após e entre, não ocorre
crase. Exemplos: Estou esperando vocês desde as três horas.
–Em diversas expressões de modo ou circunstância, atuando como
fator de transmissão de clareza na leitura: Eu faço a lição à mão.
Para indicar locais, deve-se observar a localidade.
Exemplo: Eu irei a Paris. Sem crase, pois não exige artigo. Confira:
Eu volto de Paris (preposição de). Outro exemplo: Eu vou à França.
Com crase, pois exige artigo. Veja: Eu volto da França (preposição
de + artigo a).
FONTE: Adaptado de <file:///D:/Meus%20Documentos/Downloads/
leia-algumas-paginas-da-obra-gramatica-moderna.pdf>. Acesso em:
11 set. 2021.

A proposta é que se façam atividades para explorar o sentido das preposições e


não apenas decorar os tipos que foram apresentados, pois servem apenas de norte para
a compreensão e reconhecimento nos textos.

194
Agora passaremos para outro conectivo, as conjunções. Elas, por sua vez, unem
orações coordenadas ou subordinadas, que dependem de seu sentido para estabelecer
a mensagem.

3 CONJUNÇÕES
Estudar as conjunções permite que se tenha conhecimento da forma como os
termos de uma oração se relacionam. Para Cegalla (2008, p. 289), conjunção “é uma
palavra invariável que liga orações ou palavras da mesma oração”.

Ampliando esse conceito, é importante entender a função que esses conectivos


exercem no comando de uma mensagem, pois sua utilização equivocada leva a outros
entendimentos.

3.1 CONCEITO DE CONJUNÇÕES


As conjunções são conectivos invariáveis que servem para unir os termos
de uma frase, oração ou período dando-lhes sentido. Para Bechara (2009, p. 268), “a
língua possui unidades que têm por missão reunir orações num mesmo enunciado.
Essas unidades são tradicionalmente chamadas conjunções, que se repartem em dois
tipos: coordenadas e subordinadas”. Ele nomeia, ainda, as conjunções de conectores e
transpositores.

Veja essa matéria publicada no site da Globo, em Memórias, espaço dedicado a


grandes profissionais, nesse caso, o jornalista José Hamilton Ribeiro.

[...]

“As grandes mudanças que a Realidade fez foram a forma de tratar a pauta,
o assunto e as condições de trabalho do repórter”, diz José Hamilton. “As pautas
eram voltadas para a vivência pessoal. Como se tratava de uma revista mensal, eram
feitas grandes reportagens, com profundidade ambiciosa. Só escrevíamos depois de
ter vivenciado uma situação pessoal. Às vezes, o repórter trabalhava três ou quatro
meses numa pauta, algo que nunca tinha sido feito no Brasil. A empresa oferecia
as condições para o repórter trabalhar todo aquele tempo”. Para fazer uma matéria
sobre preconceito racial no Brasil, José Hamilton foi orientado a ficar preto. Bem que
tentou. Tomou remédio para estimular a produção de melanina, sob a supervisão de
um professor de dermatologia e banhos de imersão com permanganato de potássio,
mas continuou branco. Quando sugeriram maquiagem, desistiu: não queria passar
pelo vexame de ser descoberto na rua como falso negro, nem ir contra a orientação
da revista.

195
Se a matéria do preconceito quase vira farsa, a tentativa de cobrir a guerra
do Vietnã se transformou em tragédia: com 20 dias de Vietnã, José Hamilton pisou
numa mina e teve a perna esquerda estraçalhada. Mas não perdeu a matéria. Uma
foto dele ferido no campo de batalha foi para a capa da Realidade e entrou para a
história. Em 1969, escreveu um livro sobre a cobertura, O Gosto da Guerra, e ganhou
outro Prêmio Esso. Ficou na Realidade por sete anos, chegou a ser editor-chefe e
por três vezes ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1967, 1968 e 1973. De 1973 a
1975, foi repórter da revista Veja.

Em função do governo militar, diz José Hamilton, muitos jornalistas ficaram


sem espaço em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Rio Grande do Sul e Recife.
A grande imprensa brasileira, ou por bem ou por mal, se acomodou com a censura.
Quem tentou reagir por mal levou pancada e se enquadrou. Dessa forma, de 1975 a
1980, deixei a grande imprensa escrita e fui trabalhar em jornais do interior.

FONTE: RIBEIRO, J. A. José Hamilton Ribeiro. [entrevista concedida ao] Memória Globo – Perfil
completo, 14 nov. 2006. Disponível em: https://memoriaglobo.globo.com/perfil/jose-hamilton-ribeiro/
perfil-completo/. Acesso em: 10 set. 2021.

Observe que na matéria jornalística há a presença de vários conectivos que


ligam as ideias. Lendo devagar e atentamente, você vai perceber que o ritmo do texto
se altera. Quando surge um mas, muda o rumo da história, por exemplo.

É importante conhecer o sentido que cada conjunção pode expressar para tirar
proveito de seu uso nos textos. Bagno (2012, p. 881) ressalta que as conjunções “são
palavras que, tal como os advérbios e as preposições, constituem o que os linguistas
vêm chamando de classe heterogênea, isto é, uma classe formada por indivíduos muito
diferentes entre si na forma e na função”.

É inadmissível, portanto, a prática que ainda se perpetua entre


muitos docentes de aconselhar seus alunos a “evitar a repetição
do mas” e substituir mecanicamente a conjunção adversativa por
seus supostos “equivalentes” porém, contudo, todavia, no entanto,
entretanto... Não existe equivalência alguma, até porque são
palavras de classes gramaticais diferentes. A conjunção mas é um
instrumento textual-discursivo indispensável. A produção de textos
bem construídos não se limita a evitar repetições nem muito menos a
substituir mecanicamente determinadas palavras por outras (BAGNO,
2012, p. 892).

A matéria jornalística foi escolhida para exemplificar a situação proposta por


Bagno quando fala das substituições que aprendemos e ensinamos os alunos a fazer
em seus textos. O sentido da conjunção em “Mas não perdeu a matéria” dá a perfeita
ideia da adversidade: apesar de tudo o que passou, virou o jogo a seu favor. Esse é o tipo
de análise a ser feita quando nos deparamos com as conjunções.

196
Segundo Cunha e Cintra (2008, p. 593), “conjunções são os vocábulos
gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da
mesma oração. E classificam-se em coordenativas e subordinativas”.

Devemos notar que os termos que se relacionam na mesma oração possuem a


mesma função gramatical, que é denominada como conjunção coordenativa e quando
as conjunções ligam uma oração à outra completando o sentido delas é chamada de
subordinativa.

Exemplos:
Gosto de acordar cedo e tomar café com leite todos os dias.
A conjunção e liga as orações de forma independente. As ações podem ser
entendidas separadamente, portanto trata-se de conjunção coordenativa (e).

Só irei à festa se não chover.


Nesse caso, uma ideia ou ação está ligada à outra, por meio de uma condição.
Não se pode pensar em uma oração sem a outra, pois são dependentes e a conjunção
se é classificada como subordinativa.

3.2 TIPOS DE CONJUNÇÕES


Vamos conhecer as orações coordenadas que são ligadas pelas conjunções
coordenativas e as orações subordinadas, ligadas pelas conjunções subordinativas,
mostrando, nesse caso, uma forma de dependência entre elas.

3.2.1 Conjunções coordenativas e subordinativas


As conjunções podem ser subordinativas ou coordenativas, de acordo como se
apresentam nas frases, orações ou períodos. Considera-se que as coordenativas ligam
termos independentes, ao contrário das subordinativas.

a) Conjunções coordenativas

As conjunções coordenativas servem, então, para unir elementos dentro de uma


frase, oração ou período e recebem o mesmo nome dos tipos de orações coordenadas
sindéticas. Azeredo (2014, p. 198) denomina “conjunções coordenativas à espécie de
palavras gramaticais que unem duas ou mais unidades (palavras, sintagmas ou orações)
da mesma classe formal e mesmo valor sintático”. Elas exprimem sentido aos termos
dentro do texto, como se pode ver:

• Conjunções adversativas expressam oposição: contudo, entretanto, mas, não


obstante, no entanto, porém, todavia. Exemplo:
Gosto de escrever, porém não tenho tempo.

197
• Conjunções aditivas expressam soma: e, mas ainda, mas também, nem.
Exemplo: Os meninos não só estudam, mas também se divertem.
Observe que a conjunção mas, que mais comumente é tida como adversativa, aqui
tem sentido aditivo. Por isso, ressaltamos a necessidade de um estudo não mecânico,
pautado na análise de textos reais.

• Conjunções alternativas exprimem alternância: já…, já…, ou, ou… ou…, ora… ora…, quer…
quer. Exemplo: Ou você estuda ou trabalha.

• Conjunções conclusivas exprimem conclusão: assim, então, logo, pois (depois do


verbo), por conseguinte, por isso, portanto. Exemplo: Penso, logo existo.

• Conjunções explicativas exprimem explicação: pois (antes do verbo), porquanto,


porque, que. Exemplo: Choveu muito à noite, porque as ruas estão alagadas.

Note que a conjunção  e  pode apresentar ideia de adversidade também, de


acordo com o que se quer dizer. Veja esses casos:

Elas foram reprovadas na escola e (com ideia de mas) não reclamaram.


João quis sair da festa e (com ideia de mas) não pôde.

Há ainda a locução conjuntiva, quando duas ou mais palavras exercem a


função de conjunção. Para Cereja e Magalhães (2005, p.191-192) “duas ou mais palavras
empregadas com valor de conjunção constituem uma locução conjuntiva: já que,
visto que, se bem que, a fim de que”. Podemos acrescentar também: ainda que, desde
que, assim que, uma vez que, antes que, logo que. Exemplo:

Ele pagará a dívida, assim que começar a trabalhar.

b) Conjunções subordinativas

As conjunções subordinativas  são os termos que ligam duas orações


sintaticamente dependentes. É o contexto da frase o que determina o tipo de relação
estabelecida pela conjunção, portanto o contexto é fundamental. Azeredo (2014, p.
198) define “conjunções subordinativas como a palavra invariável que, anteposta a uma
oração com verbo flexionado em tempo, forma, estabelecendo com ela uma espécie
sintagma derivado”.

As conjunções subordinativas dividem-se em: causais, concessivas,


condicionais, comparativas, finais, proporcionais, temporais, comparativas, consecutivas
e integrantes. Vamos ver cada uma dessas conjunções:

• Conjunções causais ligam as orações subordinadas e expressam a ideia de causa, de


motivo. São elas: porque, pois, porquanto, como (no sentido de porque), pois que, por
isso que, a que, uma vez que, visto que, visto como, que. Exemplos:

198
Não fui à escola porque choveu muito.
Não comprei carro ainda porque não tenho dinheiro.

• Conjunções concessivas iniciam uma oração em que ocorre um fato contrário à ação
principal, mas sem conseguir impedir que esse fato aconteça. São elas: embora,
conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, apesar de que,
nem que, que. Exemplos:
Ainda que não possamos sair de casa, temos que ir à escola.
Embora estivesse muito nervosa, teve que apresentar a pesquisa.

• Conjunções condicionais (ou hipotéticas) iniciam uma oração subordinada em que


é indicada uma hipótese ou uma condição necessária para que seja realizado ou
não o fato principal. Segundo Bechara (2009, p. 274), “iniciam oração que em geral
exprime: a) uma condição necessária para que se realize ou se deixe de realizar o que
se declara na oração principal; b) um fato – real ou suposto – em contradição com o
que se exprime na oração principal”. São elas: se, caso, quando, conquanto que, salvo
se, sem que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que. Exemplos:
Se não chover, irei à praia.
Eu continuarei com minhas ideias a menos que não sejam aceitas.

• Conjunções conformativas iniciam uma oração subordinada em que se exprime a


conformidade de um pensamento com o da oração principal. São elas: conforme,
como (no sentido de conforme), segundo, consoante. Exemplos:
Iremos ao baile conforme combinamos.
Fizemos as lições segundo as orientações do professor.

• Conjunções finais iniciam uma oração subordinada que exprime a finalidade ou o


objetivo expresso da oração principal. São elas: para que, a fim de que, porque (no
sentido de que), que. Exemplos:
Eu estudei muito a fim de passar de ano.
Haverá isolamento social para que possamos evitar contágio.

• Conjunções proporcionais introduzem uma oração que expressa um fato relacionado


proporcionalmente à ocorrência da principal, ou detalhando, quando iniciam oração
que exprime um fato que acontece, aumenta ou diminui na mesma proporção daquilo
que ocorre na oração principal. São elas: à medida que, ao passo que, à proporção
que, enquanto, quanto mais... (no sentido de mais), quanto mais... (no sentido de tanto
mais), quanto mais... (no sentido de menos), quanto menos... (no sentido de menos),
quanto menos... (no sentido de tanto menos), quanto menos (no sentido de mais),
quanto menos (tanto mais). Exemplos:
Não gosto de viajar de avião, quanto mais de navio.
À medida que o tempo passa, mais nos conhecemos.

199
• Conjunções comparativas iniciam uma oração que expressa ideia de comparação
com referência à oração principal. Essas comparações podem ser feitas da seguinte
forma: como parâmetro de igualdade, que se apresenta com os termos como ou
quanto em correlação com o advérbio tanto ou tão da oração principal; superioridade,
utilizando os termos que ou do que em correlação com o advérbio mais da oração
principal e inferioridade, termos que ou do que em correlação com o advérbio menos
da oração principal.
São conjunções comparativas: que, do que (usado depois de mais, menos, maior,
menor, melhor, pior), qual (usado depois de tal). Exemplos:
A vida é tão boa hoje como era nos tempos de infância.
A prova de hoje será mais difícil que a de ontem.

• Conjunções consecutivas iniciam uma oração na qual é indicada a consequência do


que foi declarado na oração anterior. São elas: que (precedido de tão, tal, tanto), de
modo que, de maneira que. Exemplos:
Os fogos foram tão barulhentos que os cachorros se esconderam.
A alegria era tanta que a menina até chorou.

• Conjunções integrantes são utilizadas para introduzir a oração substantiva, que atua
como sujeito,  objeto direto,  objeto indireto, predicativo, complemento nominal ou
aposto de outra oração. São elas: que e se. Exemplos:
É mentira que ele não comprou o presente.
Não sei se você viu o meu celular novo.

• Conjunções temporais indicam uma oração subordinada que mostra uma circuns-
tância de tempo. São elas: quando, antes que, depois que, até que, logo que, sempre
que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, mal, que (des-
de que). Exemplos:
Saiu correndo, assim que soube do resultado do exame.
Todos ficaram muito tristes quando ele partiu.

As conjunções devem ser vistas como conectivos que ligam termos ou orações,
de forma que as deixem dependentes ou independentes, de acordo com o sentido que
elas expressam.

No caso das conjunções e preposições, bem como os pronomes que estudamos


no tópico anterior, podemos dizer que funcionam como elementos de coesão textual
e estabelecem relação entre palavras, expressões, orações, frases ou parágrafos em
determinado discurso. Ou seja, além de estudarmos esses recursos gramaticais e suas
regras de uso, é preciso analisar sua funcionalidade dentro de textos que circulam
socialmente. Assim, de fato, conseguiremos transformar esse conhecimento em
benefício da produção de uma escrita de qualidade. Esses são, como classifica Bagno
(2012), os “nós e os nexos” do discurso.

200
Veremos agora as interjeições e a forma como se apresentam no texto. São
fáceis de serem reconhecidas pelo seu sinal gráfico, mas importante entender o seu
significado em contextos diversos.

4 INTERJEIÇÕES
As interjeições são estudadas como um dos elementos que compõem as
classes de palavras, mas antes de tudo expressam uma forma viva da linguagem,
principalmente falada. Usamos cada vez mais nas conversas, inclusive gesticulando
ao mesmo tempo, e nos “bate-papos” nas redes sociais, às vezes acompanhadas de
figuras ou memes (ilustrações de referência).

Analisamos as interjeições em sua manifestação oral e,


consequentemente, percebemos que uma mesma interjeição
pode apresentar sentidos diferentes, e o que vai determinar este
sentido é a sua aplicação em um determinado contexto, ou seja, a
interjeição só pode ser classificada a partir da função que exercer
na situação comunicativa em que ocorre, o que torna a situação de
uso e a aplicabilidade na interação humana, fatores imprescindíveis
para a obtenção de sentido e de função exercida pelas interjeições.
Isso nos leva a entender que a situação discursiva deve ser tomada
como base para a compreensão das interjeições (ESTEVÃO; AMORIM;
BEZERRA, 2018, p. 8-9).

As interjeições ganham notoriedade na liberdade de expressão, pois mostram o


dinamismo da língua com contornos de criatividade e de expressão de sentimentos. Va-
mos ver um pouco dos seus conceitos para reconhecê-los nas diferentes formas de textos.

4.1 CONCEITO
A interjeição é uma palavra invariável (não sofre variação em gênero, número
e grau) que representa um recurso da linguagem afetiva. E por ser considerada uma
linguagem afetiva consideramos a interjeição uma forma de expressão, como um
grito, um suspiro, uma expressão de espanto, um jeito de demonstrar um estado de
espírito etc. Ela expressa sentimentos, sensações, estados de espírito, sendo sempre
acompanhadas de um ponto de exclamação (!).

As interjeições são consideradas “palavras-frases” uma vez que representam


frases-resumidas, formadas por sons vocálicos (Ah! Oh! Ai!), por palavras (Droga! Psiu!
Puxa!) ou por um grupo de palavras denominadas de locuções interjetivas (Meu Deus!
Ora bolas!). Vale lembrar que  as interjeições não possuem função sintática, sendo
apenas um elemento estilístico.

201
O fenômeno interjetivo, por sua natureza espontânea, emotiva,
discursiva e léxico-gramatical, deixa, muitas vezes, entender que
se trata de um recurso comunicativo simples seja do ponto de
vista da forma, seja de seu aspecto funcional/discursivo. Estudos
linguísticos mais atuais têm demonstrado que a interjeição apresenta
propriedades complexas tanto na forma quanto no conteúdo/função
discursiva. Dentre as propriedades formais, destacam-se: natureza
lexical primária ou secundária (neste caso, quando derivadas de outras
formas da língua: nossa!), podem ser simples ou compostas (como
ocorre com as locuções: meu deus!), de modo geral, são invariáveis
e, quanto ao aspecto sintático, as interjeições têm autonomia
semântica e podem ocorrer em diferentes posições na sentença:
início, meio ou fim. No plano funcional, são comunicativamente
autônomas, desempenhando várias funções discursivas (conativa,
fática, cognitiva, interacional), além de explicitarem afetividade e
conteúdo semântico equivalente a orações [...] (BATISTA; RAMOS,
2015, p. 16-17).

Algumas interjeições sofrem variação em grau. Como ocorre isso? Não se trata
de um processo natural da interjeição, apenas uma variação justamente por ser uma
linguagem afetiva. Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho, tchauzinho etc.

4.2 TIPOS DE INTERJEIÇÕES


As interjeições não estão inseridas na classificação normal das palavras, no
sentido morfológico e sintático, apresentam classificações que se referem à expressão
de sentimentos ou sensações. Vamos saber quais os tipos de interjeições que usamos
na nossa língua:

• Advertência: Cuidado!, Olhe!, Atenção!, Fogo!, Olha lá!, Alto lá!, Calma!, Devagar!,
Sentido!, Alerta!, Vê bem!, Volta aqui!
• Afugentamento: Fora!, Toca!, Xô!, Xô pra lá!, Passa!, Sai!, Roda!, Arreda!, Rua!, Cai fora!,
Vaza!
• Agradecimento: Graças a Deus!, Obrigado!, Agradecido!, Muito obrigada!, Valeu!, Valeu
a pena!
• Alegria: Ah!, Eh!, Oh!, Oba!, Eba!, Viva!, Olá!, Olé! Eta!, Eita!, Eia!, Uhu!, Que bom!
• Alívio: Ufa!, Uf!, Arre!, Ah!, Eh!, Puxa!, Ainda bem!, Nossa senhora!
• Ânimo: Coragem!, Força!, Ânimo!, Avante!, Eia!, Vamos!, Firme!, Inteirinho!, Bora!
• Apelo: Socorro!, Ei!, Ô!, Oh!, Alô!, Psiu!, Olá!, Eh!, Psit!, Misericórdia!
• Aplauso: Muito bem!, Bem!, Bravo!, Bis!, É isso aí!, Isso!, Parabéns!, Boa!, Apoiado!,
Ótimo!, Viva!, Fiufiu!, Hup!, Hurra!
• Chamamento: Alô!, Olá!, Hei!, Psiu!, ô!, oi!, psiu!, psit!, ó!
• Concordância: Claro!, Certo!, Sem dúvida!, Ótimo!, Então!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã!
• Contrariedade: Droga!, Porcaria!, Credo!
• Desculpa: Perdão!, Opa!, Desculpa!, Desculpe!, Foi mal!
• Desejo: Oxalá!, Tomara!, Quisera!, Queira Deus!, Quem me dera!
• Despedida: Adeus!, Até logo!, Tchau!, Até amanhã!

202
• Dor: Ai!, Ui!, Ah!, Oh!, Meu Deus!, Ai de mim!
• Dúvida: Hum?, hem?, hã?, Ué!, Epa!
• Espanto: Oh!, Puxa!, Quê!, Nossa!, Nossa mãe!, Virgem!, Caramba!, Xi!, Meu Deus!,
Senhor Jesus!, Ui!, Crê em Deus pai!
• Estímulo: Ânimo!, Coragem!, Adiante!, Avante!, Vamos!, Eia!, Firme!, Força!, Toca!, Upa!,
Vai nessa!
• Medo: Oh!, Credo!, Cruzes!, Ui!, Ai!, Uh!, Barbaridade!, Socorro!, Francamente!, Que
medo!, Jesus!, Jesus Maria e José!
• Satisfação: Viva!, Oba!, Boa!, Bem!, Bom!, Upa!, Ah!
• Saudação: Alô!, Oi!, Olá!, Adeus!, Tchau!, Salve!, Ave!, Viva!
• Silêncio: Psiu!, Shh!, Silêncio!, Basta!, Chega!, Calado!, Quieto!, Bico fechado!

É importante falar, também, das locuções interjetivas. São formadas por uma
ou mais palavras que desempenham o papel da interjeição. Tanto a interjeição como a
locução interjetiva expressa uma ideia, um sentimento, emoção, etc. Exemplos: Valha-
me Deus! Ai de mim! Puxa vida! Virgem Santa! Cruz Credo! Quem me dera!

4.3 UTILIZAÇÃO DE INTERJEIÇÕES NO TEXTO


O poema escolhido para mostrar a utilização das interjeições foi Via-Láctea,
de Olavo Bilac. Vamos observar a sua força de expressão na leitura e compreensão da
mensagem.

Via-Láctea

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

FONTE: BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1964.

203
O objetivo do poeta é justamente mostrar seu estado de paixão por uma pessoa
e a consequente conversa com as estrelas, como forma de expressão de seu sentimen-
to. A ideia do oh! está em todo o poema, com o objetivo de reforçar a exaltação do amor
e a magia e o encantamento de quem passou a noite em conversa com as estrelas.

A presença das interjeições nas histórias em quadrinhos é quase certa. Como


os diálogos são simples e se dirigem para as crianças, são utilizadas como forma de
expressão de sentimentos: alegria, raiva, entusiasmo, surpresa, entre outros.

FIGURA 7 – USO DE INTERJEIÇÕES

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/620582023640118681/>. Acesso em: 24 jun. 2021.

Vimos aqui o que são interjeições e qual a sua função nos textos. Vamos agora
entendê-las como marcadores orais, como reforço na fala e retrato da contemporanei-
dade da nossa língua.

4.4 INTERJEIÇÕES COMO MARCADORES ORAIS


A língua falada difere muito da escrita, pois através da oralidade expressamos
ideias, sentimentos e sensações que, na maioria das vezes, não podemos expor em um
texto. E isso faz com que a originalidade e a espontaneidade do falar sejam únicas e não
devem ser vistas de forma negativa.

Por meio da fala expressamos a nacionalidade, as gírias e os vícios de linguagem.
Utilizamos palavras e expressões de modo bem subjetivo e que, muitas vezes, não podem
ser compreendidos por quem não mora em determinada região. A esse modo de falar
damos o nome de marcadores orais ou marcadores discursivos. As interjeições são
consideradas marcadores orais, também, justamente pelo fato de se definir como o termo
que exprime as tais ideias, sentimentos e sensações.

As interjeições são um fenômeno linguístico universal do ponto de


vista de sua materialidade e do ponto de vista de sua funcionalidade
comunicativa. Além disso, a interjeição é um signo arbitrário que se
torna convencional mediante seu uso intencional. Não é apenas uma

204
simples imitação de sons onomatopeicos, ela se situa no contexto da
língua de tal modo que os fonemas que constituem as interjeições
são os mais comuns da língua portuguesa. Interjeições como “ah!”,
“ih!”, “pô!”, não obedecem ao princípio de dupla articulação e se arti-
culam fonologicamente, permanecendo dessa maneira isoladas do
ponto de vista morfossintático (TOMAZETTO; BORSTEL, 2012, p. 5).

Com isso, podemos perceber a importância de estudar a interjeição não apenas


como ruídos, sons ou gírias desconexas, uma vez que representam um conteúdo muito
interessante para se pesquisar.

Trabalhar com interjeições em sala de aula é muito interessante, porque os


alunos de certa forma têm o hábito de ler histórias em quadrinhos e/ou usar as mídias
sociais e podem reconhecer esse elemento com facilidade. É importante realçar o uso
pontual das interjeições como expressão de sentimentos e pedir atividades que reúnam
frases para exemplificar as situações apresentadas pelo emissor da mensagem.

Sugerimos a leitura do trabalho O fenômeno interjeição e suas implicações


para o ensino de língua portuguesa, de Luana J. Estevão (autora); Ana Carolina
Amorim (coautora); Mizilene Kelly Bezerra (coautora). Segue o resumo para mostrar a
pertinência da indicação com o assunto tratado há pouco.

205
LEITURA
COMPLEMENTAR
O FENÔMENO INTERJEIÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA

Luana Járdila dos Santos Estevão


Ana Carolina Celino Amorim
Mizilene Kelly de Souza Bezerra

Resumo: Considerando que o fenômeno interjeição é reconhecidamente vivo,
efetivo e ativo na linguagem de todos os falantes, e tendo em vista que a linguagem
é a expressão pela qual o homem consegue se constituir, objetivamos, no presente
artigo, adotar e entender as interjeições como um fenômeno linguístico, considerando
que ele possibilita ao homem externalizar suas emoções em diversas situações
comunicativas. O trabalho em questão assume como orientação teórico metodológica
principal a Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU). De natureza descritiva,
com abordagem qualitativa, procedimentos bibliográficos e método dedutivo, este
trabalho teve como suporte alguns pesquisadores, tais como Keske (2006), Perini
(1997) e Tomazetto (2012). O corpus de análise se constitui de trechos de conversas
retirados do Banco Conversacional de Natal (2011), que é constituído de amostras
de língua em uso. Os dados preliminares apontam para a importância da abordagem
da interjeição no ensino de língua portuguesa, possibilitando aos alunos entenderem
sua relevância não apenas como mais uma classe gramatical a ser estudada. Dessa
forma, constatamos que o fenômeno interjeição se realiza na enunciação, validando
a capacidade de expressar atitudes afetivas e emocionais dos falantes, ficando
evidente a importância da situação comunicativa como fator determinante para sua
interpretação.

Palavras-chave: Interjeição. Ensino. Língua Portuguesa.

Deixamos aqui apenas uma parte do artigo, mas é importante que você leia
o texto na íntegra, que está disponível em: <https://www.editorarealize.com.br/index.
php/artigo/visualizar/39642>. Acesso em: 24 jul. 2021.

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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Preposições são palavras utilizadas para promover as  relações gramaticais  que
substantivos, adjetivos, verbos e advérbios estabelecem no discurso e, ainda, não
aparecem sozinhas no discurso e são necessárias para a ligação entre dois termos.

• Preposições essenciais são aquelas que só aparecem na língua propriamente como


preposições, sem outra função qualquer.

• Preposições acidentais são as que não possuem, a princípio, a função de preposição,


mas que podem exercê-la em determinadas situações.

• Locuções prepositivas são grupos de palavras com valor e emprego de uma


preposição. As principais locuções prepositivas são constituídas de um advérbio ou
de uma locução adverbial seguidas da preposição de, a e com.

• Conjunções são como conectivos invariáveis que servem para unir os termos de uma
frase, oração ou período dando-lhe sentido.

• Conjunções coordenativas servem para unir elementos dentro de uma frase, oração
ou período. São elas: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas.

• Conjunções subordinativas são os termos que ligam duas orações sintaticamente


dependentes. São elas: causais, concessivas, condicionais, conformativas, finais,
proporcionais, comparativas, consecutivas, integrantes, temporais.

• Interjeição é uma palavra invariável (não sofre variação em gênero, número e grau) que


representa um recurso da linguagem afetiva. Ela expressa sentimentos, sensações,
estados de espírito, sendo sempre acompanhadas de um ponto de exclamação (!).

• Locuções interjetivas são formadas por uma ou mais palavras que desempenham o
papel da interjeição.

• Interjeições como marcadores orais: utilização de palavras e expressões de modo


bem subjetivo e que, muitas vezes, não podem ser compreendidos por quem não
mora em determinada região, com as gírias, os regionalismos etc. A esse modo de
falar damos o nome de marcadores orais ou marcadores discursivos.

• As interjeições são consideradas marcadores orais, também, justamente pelo fato de


se definir como o termo que exprime as tais ideias, sentimentos e sensações.

207
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2011)

FONTE: <http://www.laerte.com.br/>. Acesso em: 19 ago. 2011.

A conjunção é um fator indicativo da natureza das relações entre orações. Quando se


trata de conjunções coordenadas, pode-se, então, falar não só de uma classificação
sintática, mas de um valor semântico subjacente que estabelece o vínculo das orações.

Dessa forma, é CORRETO afirmar que a conjunção coordenativa presente no quadrinho:

a) ( ) funciona com valor de explicação e justifica o sentido tanto da primeira quanto


da segunda oração.
b) ( ) tem valor semântico de soma, pois agrega duas orações sem estabelecer
relações semânticas entre elas.
c) ( ) funciona com valor adversativo nas ideias expressas na sentença e poderia ser
substituída por uma conjunção dessa natureza.
d) ( ) funciona com valor expletivo e pode ser extraída das sentenças sem alteração
no modo de conexão sintática e semântica do período.
e) ( ) funciona como elo conclusivo entre as ideias contidas nas orações e expressa a
conclusão a que chegou um dos personagens do quadrinho.

2 Consideram-se as conjunções coordenativas e subordinativas como conectivos que


dão sentido à mensagem. Analise as conjunções das orações a seguir e assinale a
alternativa CORRETA:

I- A chuva foi forte, mas não alagou a rua.


II- Ele estudou muito e foi mal na prova.

a) ( ) I e II têm sentido de adição.


b) ( ) I tem sentido de adversidade e II de adição.
c) ( ) I tem sentido de adição e II de adversidade.
d) ( ) I e II têm sentido de adversidade.
e) ( ) Nenhuma das anteriores.
208
3 As interjeições dão o sentido da frase por meio de palavras ou expressões. Na música
de Paulino da Viola, encontram-se alguns desses sentimentos:

Sinal fechado

- Olá! Como vai?


- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é… Quanto tempo!
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor, telefone! Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente…
- Pra semana…
- O sinal…
- Eu procuro você…
- Vai abrir, vai abrir…
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço…
- Por favor, não esqueça, não esqueça…
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!

Quais sentimentos podemos encontrar na música acima, considerando-se as interjei-


ções presentes?

a) ( ) Agradecimento, espanto, saudação, tristeza.


b) ( ) Chamamento, espanto, pedido, despedida.
c) ( ) Espanto, tristeza, desculpa, despedida.
d) ( ) Contrariedade, alívio, advertência.
e) ( ) Nenhuma das anteriores.

4 O termo “de” é classificado como preposição e serve para estabelecer relações entre
os elementos de um texto. Determine essas relações que os pronomes indicam nas
frases a seguir:

209
a) João viajou de navio.
b) Clara morreu de tuberculose.
c) A casa de Maria é confortável.

5 Analise as duas orações subordinadas a seguir e indique a ideia que as conjunções


subordinativas expressam em cada uma delas, de acordo com o sentido em cada
uma delas. 

Desde que se casou não mandou mais notícias.

Desde que se arrependa do que fez, pode sair de novo.

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ANOTAÇÕES

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