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Propriedade Nufec – Núcleo de Formação, Estudos e Consultoria

Título Ambiente – Manual Técnico do Formador

Coordenação Técnico-Pedagógica Nufec – Núcleo de Formação, Estudos e Consultoria

Direcção Editorial Departamento de Recursos Didácticos


Nufec – Núcleo de Formação, Estudos e Consultoria

Coordenação do Projecto Departamento de Formação


Nufec – Núcleo de Formação, Estudos e Consultoria

Autor Ana Teresa Leal do Paço

Capa Arari Vieira

Arranjo Gráfico

Pré-Impressão, Impressão e Acabamento

Tiragem

Depósito Legal

ISBN

Edição 1ª

Copyright, 2006
Todos os direitos reservados

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida, por qualquer forma ou processo, sem o consentimento prévio, por escrito, da NUFEC.
Produção apoiada pelo Programa Operacional do Emprego e Formação para o Desenvolvimento Social, co-financiado pelo Estado Português e pela União Europeia, através do Fundo Social
Europeu
ÍNDICE

ENQUADRAMENTO LEGAL............................................................................. 1

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 2

OBJECTIVOS GERAIS .............................................................................................................. 2

1.1 – LEI DE BASES DO AMBIENTE (LEI N.º 11/87 DE 7 DE ABRIL) ..................................... 4

1.2 – DIREITO DO AMBIENTE .................................................................................................. 6

1.2.1 – Princípios do direito do ambiente ...................................................................... 7


1.2.2 – A necessidade do direito comunitário do ambiente......................................... 10
1.2.3 – Leis fundamentais de protecção do ambiente................................................. 14
1.2.4 – Responsabilidade Civil..................................................................................... 20
1.2.5 – A responsabilidade civil e a protecção do ambiente ....................................... 21

POLUIÇÕES .................................................................................................... 28

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 29

OBJECTIVOS GERAIS:........................................................................................................... 29

2.1 – POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA .................................................................................... 41

2.1.1 - INTRODUÇÃO.................................................................................................. 41
2.1.2 – PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS................................................ 45
2.1.3 – O CICLO EVAPORAÇÃO – CONDENSAÇÃO ............................................... 50
2.1.4 – OBJECTIVOS DE CONTROLO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM
PORTUGAL ................................................................................................................. 52
2.1.4 – CONTROLO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM PORTUGAL .................... 57

2.2 – POLUIÇÃO SONORA............................................................................................... 62

2.2.1 – SOM ................................................................................................................. 62


2.2.2 – RUÍDO.............................................................................................................. 63
2.2.3 – O FUNCIONAMENTO DO OUVIDO HUMANO............................................... 65
2.2.4 – OS EFEITOS DO RUÍDO NA SAÚDE............................................................. 65
2.2.5 – O RUÍDO COMO FACTOR DE INCOMODIDADE .......................................... 67
2.2.6 – NATUREZA DO SOM - CARACTERÍSTICAS................................................. 67
2.2.7 – TIPOS DE FONTES SONORAS ..................................................................... 71
2.2.8 – TIPOS DE SOM E FORMAS DE ONDA DO SINAL........................................ 73
2.2.9 – PARÂMETROS DO NÍVEL SONORO............................................................. 76
2.2.10 – ACÇÕES PARA O CONTROLO DO RUÍDO................................................. 78
2.2.11 – A GESTÃO E O CONTROLO DO RUÍDO..................................................... 79
GESTÃO DA ÁGUA ........................................................................................ 86

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 87

OBJECTIVOS GERAIS ............................................................................................................ 87

3.1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................... 88
3.2 – A ÁGUA NA UNIÃO EUROPEIA ........................................................................ 90
3.3 – A DIRECTIVA-QUADRO DA ÁGUA ................................................................... 91
3.4 – A ÁGUA EM PORTUGAL ................................................................................... 93
3.5 – A utilização da água............................................................................................ 97
3.6 – CARACTERIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS................................................. 101

RESÍDUOS..................................................................................................... 111

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 112

OBJECTIVOS GERAIS:......................................................................................................... 112

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS: ................................................................................................ 112

4.1 - INTRODUÇÃO................................................................................................... 113


4.2 – GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS ........................................................... 115
4.3 – CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS ................................................................... 121
4.4 – PREVENÇÃO, REDUÇÃO NA FONTE E REUTILIZAÇÃO ............................. 127
4.5 – SISTEMAS DE RECOLHA E DE TRANSPORTE DE RESÍDUOS .................. 130
4.6 – SEPARAÇÃO E PROCESSAMENTO DE RESÍDUOS .................................... 133
4.7 – VALORIZAÇÃO E TRATAMENTO DE RESÍDUOS ......................................... 135
4.8 – PLANEAMENTO E GESTÃO DE SISTEMAS DE RESÍDUOS ........................ 158
4.9 – RESÍDUOS INDUSTRIAIS ............................................................................... 161
4.10 – RESÍDUOS HOSPITALARES ........................................................................ 163
4.11 – AS OBRIGAÇÕES DAS EMPRESAS ............................................................ 165
4.12 – HIERARQUIA DAS OPÇÕES DE GESTÃO DE RESÍDUOS......................... 173
4.13 – FLUXOGRAMA DE MATÉRIAS, PRODUTOS E RESÍDUOS ....................... 174

ENERGIAS RENOVÁVEIS ............................................................................ 176

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 177

OBJECTIVOS GERAIS:......................................................................................................... 177

5.1 - INTRODUÇÃO................................................................................................... 178


5.2 – O QUE É A ENERGIA ...................................................................................... 180
5.3 – ENERGIA FONTE DE PROGRESSO .............................................................. 186
5.4 – COMBUSTÍVEIS TRADICIONAIS .................................................................... 193
5.5 – DILEMA ENERGÉTICO DAS SOCIEDADES MODERNAS............................. 196
5.6 – AS ENERGIAS RENOVÁVEIS ......................................................................... 199
5.7 – CARACTERÍSTICAS DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS ................................... 202
5.8 – ENERGIA SOLAR TÉRMICA ........................................................................... 203
5.9 – ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA................................................................ 208
5.10 – BIOMASSA ..................................................................................................... 211
5.11 – ENERGIA HÍDRICA ........................................................................................ 215
5.12 – ENERGIA DAS MARÉS.................................................................................. 217
5.13 – ENERGIA DAS CORRENTES MARÍTIMAS................................................... 221
5.14 – ENERGIA DAS ONDAS.................................................................................. 222
5.15 – ENERGIA EÓLICA.......................................................................................... 227
5.16 – ENERGIA GEOTÉRMICA............................................................................... 235
5.17 – MATURIDADE DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS ........................................... 239
5.18 – POLÍTICA ENERGÉTICA EM PORTUGAL.................................................... 243

GESTÃO AMBIENTAL .................................................................................. 248

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 249

OBJECTIVOS GERAIS:......................................................................................................... 249

6.1 – O que são as ISO 14000 .................................................................................. 250


6.2– SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)..................................................... 251
6.3 – CERTIFICAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ...................... 254
6.4 – PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM SGA.......................................... 255
6.5 – NORMA NP EN ISO 14001 .............................................................................. 257
6.6 – ISO 19011 – CONDUÇÃO DE AUDITORIAS................................................... 275
6.7 – REGULAMENTO COMUNITÁRIO DE AUDITORIA E ECO-GESTÃO ........... 281
6.8 – O RÓTULO ECOLÓGICO ................................................................................ 283

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 286

BIBLIOGRAFIA DO TEMA INTEGRADOR 1 – ENQUADRAMENTO LEGAL ...................................... 287

BIBLIOGRAFIA DO TEMA INTEGRADOR 2 – POLUIÇÕES .......................................................... 287

BIBLIOGRAFIA DO TEMA INTEGRADOR 3 – GESTÃO DA ÁGUA ................................................ 287

BIBLIOGRAFIA DO TEMA INTEGRADOR 4 –GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ............ 288

BIBLIOGRAFIA DO TEMA INTEGRADOR 5 – ENERGIAS RENOVÁVEIS........................................ 290

BIBLIOGRAFIA DO TEMA INTEGRADOR 6 – GESTÃO AMBIENTAL ............................................. 290


AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

TEMA INTRODUTÓRIO I

Enquadramento Legal

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tema integrador 1 – Enquadramento legal

Introdução

Este tema tem como finalidade dar a conhecer aos formandos um conjunto de conceitos jurídicos
ambientais essenciais para a compreensão da temática ambiental.

Compõem este tema os seguintes módulos:


1.1 – Lei de Bases do Ambiente;
1.2 – Direito do Ambiente.

Objectivos gerais
• Consciencializar os formandos para a protecção do ambiente;
• Dar a conhecer os diferentes intervenientes jurídicos ambientais;
• Identificar os organismos responsáveis, bem como reconhecer os direitos e deveres dos
cidadãos;
• Identificar os princípios do direito do ambiente;

• Analisar as leis fundamentais de protecção do ambiente.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Módulo 1.1 – Lei de Bases do Ambiente

Objectivos específicos:

a) Enunciar os Princípios e objectivos;

b) Referenciar os diferentes componentes ambientais e humanos;

c) Compreender a importância do licenciamento e situação de emergência;

d) Identificar os Organismos Responsáveis;

e) Reconhecer os Direitos e Deveres dos Cidadãos;

f) Referenciar as penalizações e disposições finais.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

1 – ENQUADRAMENTO LEGAL

O direito do ambiente tem conhecido nos últimos anos uma enorme evolução. Do quase anonimato
passou rapidamente a ser uma das prioridades da política legislativa e uma das áreas mas atractivas
para os estudiosos do direito.

Tal facto, não é indiferente à maior consciencialização da opinião pública, dos cidadãos e dos
poderes políticos quanto ao papel imprescindível que cabe ao direito desempenhar na defesa dos
valores ambientais e na justa resolução dos conflitos de interesses que giram à sua volta.

1.1 – LEI DE BASES DO AMBIENTE (Lei n.º 11/87 de 7 de Abril)

Recomendação:

Caso o formador não forneça cópia do respectivo diploma legal, pesquise-o na Internet ou
em publicações da especialidade. (www.diramb.gov.pt)

Um marco de grande relevância na evolução do direito português foi a publicação da Lei de Bases do
Ambiente em 7 de Abril de 1987 com o n.º 11/87, que assinalou a nossa ordem jurídica. Sendo esta a
Lei Fundamental do Ambiente, torna-se essencial a sua análise, de modo a facilitar a compreensão
de toda a legislação particular no domínio ambiental.

Sugestão de actividade 1:
• Em grupos de 3/4 elementos, analisar da Lei n.º 11/87 de 7 de Abril;
• Cada grupo deverá analisar uma sequência de artigos que constem na respectiva
Lei e elaborar um conjunto de questões sobre os artigos atribuídos aos outros
grupos;
• Após a análise dos artigos pelos respectivos grupos, cada um dos grupos deverá
colocar as questões elaboradas.
Nota:
Caso considere a Lei muito extensa, repetir o procedimento anterior, ou analisar os artigos
mais importantes.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Módulo 1.2 – Direito do Ambiente

Objectivos específicos:

a) Enunciar os princípios do direito do ambiente;

b) Conhecer o direito comunitário originário do ambiente;

c) Identificar as leis fundamentais de protecção do ambiente;

d) Conhecer a responsabilidade civil relativamente às condutas violadoras do ambiente;

e) Conhecer a tutela do ambiente pelo direito penal.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

1 – ENQUADRAMENTO LEGAL

1.2 – Direito do Ambiente

O conceito de ambiente

A defesa do ambiente não poderá nunca ser concebida de forma absoluta, mas apenas em termos
relativos segundo níveis de tolerabilidade. À partida, encontramos duas alternativas:

a) A de preferir um conceito amplo de ambiente, que inclua não só os componentes ambientais


naturais, mas também os componentes ambientais humanos (isto é, não só o ambiente natural
mas o ambiente construído);

b) A de preferir um conceito estrito de ambiente, que se concentre nos componentes ambientais


naturais.

Sugestão de actividade 1:

• Consultar o artigo 6º da Lei de Bases do Ambiente – Componentes ambientais


naturais (módulo 1.1 – Lei de Bases do Ambiente).

• Consultar o artigo 17º da Lei de Bases do Ambiente – Componentes ambientais


humanos (módulo 1.1 – Lei de Bases do Ambiente).

A Constituição da República Portuguesa prevê no artigo 66º (direitos e deveres fundamentais dos
cidadãos) o “direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado” como um
direito indispensável, independente relativamente a outros direitos como o direito à vida, o direito à
saúde ou o direito de propriedade.

Recomendação:
Consultar a Constituição da República Portuguesa, nomeadamente o artigo 66º.
http://www.parlamento.pt/const_leg/crp_port/ (actualizado em 10/12/2004)

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

1.2.1 – Princípios do direito do ambiente

Os princípios do Direito do Ambiente estão todos expressos ou implicitamente previstos na lei, e


revelam-se muito úteis na aplicação das normas deste ramo do Direito. Os mais importantes são o
princípio da prevenção, o princípio da correcção na fonte, o princípio da precaução, o princípio do
poluidor-pagador, o princípio da integração, o princípio da participação e o princípio da cooperação
internacional.

Utilidade dos princípios

Os princípios mais importantes do direito do ambiente são:


• Princípio da prevenção;
• Princípio da correcção na fonte;
• Princípio da precaução;
• Princípio do poluidor – pagador;
• Princípio da integração;
• Princípio da participação;
• Princípio da participação internacional.

A – Princípio da prevenção

Este princípio corresponde ao velho ditado “ mais vale prevenir do que remediar” e visa evitar a
geração de um dano antes de ele ter surgido.

Sugestão de actividade 2:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet, jornais e revistas, exemplos do
princípio da prevenção.
• Após a pesquisa, cada grupo deverá apresentar aos restantes, os exemplos
encontrados.

B – Princípio da correcção na fonte

O princípio da correcção na fonte diz-nos quem, onde e quando se deve evitar a poluição.

Quem: o poluidor tem a obrigação de alterar o seu comportamento, deixando, desta forma de poluir;

Onde: a correcção envolve a proibição de transporte de produtos nocivos para o ambiente do local
onde são gerados, e onde deveriam ser reciclados, tratados ou eliminados, para outro local mais ou
menos distante

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Quando: correcção implica que se tomem as medidas necessárias a impedir, desde o início, a
produção de substâncias perigosas, em vez de medidas básicas num tratamento de “fim de vida”.

C – Princípio da precaução

Este princípio tem como objectivo a superação da dúvida consequente da falta de provas científicas,
invertendo o ónus da prova de um dano ambiental possível.

Na incerteza sobre o perigo de uma certa actividade para o ambiente podem existir várias
conjunturas:

i) Quando ainda não se verificam quaisquer danos decorrentes dessa actividade, mas se receia,
apesar da falta de provas científicas, que possam vir a ocorrer;
ii) Ou quando, havendo já danos provocados ao ambiente, não há conhecimento científico de qual a
causa que está na origem dos danos;

iii) Ou ainda quando, apesar de haver danos provocados ao ambiente, não há provas científicas
sobre o nexo causal entre uma determinada causa hipotética e os danos verificados.

D – Princípio do poluidor-pagador

Estabelece que os danos ambientais devem ser suportados pelos poluidores e não pelos
contribuintes. Este princípio está consagrado no artigo 3º da Lei de Bases do Ambiente.

O princípio do poluidor pagador (PPP) é de carácter curativo e não preventivo, com tendência para
intervir “depois” e não “antes”.

• Princípio da responsabilidade: reparação dos danos causados às vítimas;


• Princípio do poluidor-pagador: precaução, prevenção e redistribuição dos custos da
poluição.

Os objectivos contínuos de melhoria do ambiente e da qualidade de vida, ao valor económico mais


baixo e com justiça social, serão mais eficazes se cada um deles se “especializar” na realização dos
fins para os quais está vocacionado.

Dos princípios, o PPP é o que, com maior eficácia ecológica, economia e igualdade social, realiza o
objectivo de protecção do ambiente.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 3:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet, jornais, revistas e na legislação
já analisada ou outra, exemplos do princípio do poluidor pagador.
• Após a pesquisa, cada grupo deverá apresentar aos restantes, os exemplos
encontrados.

E – Princípio da integração

Este princípio traduz a ideia de que a protecção do ambiente deve ser uma preocupação subjacente a
todas as actividades.

O princípio da integração prende-se com uma política de protecção do ambiente eficaz e preventiva e
implica uma reflexão antecipada dos efeitos ambientais de qualquer actividade humana.

Observação:
Alguns projectos obras devem ser sujeitos a uma Avaliação de Impacte Ambiental antes do
licenciamento. Se o resultado, de acordo com o projecto de construção, for desfavorável
porque será gravoso para o ambiente, a obra não deverá ser realizada.

F – Princípio da participação

O princípio da participação confere aos cidadãos o direito de intervir nas decisões que possam
afectar o ambiente.

O princípio da participação está intimamente ligado ao direito à informação, porque apenas quando
os cidadãos estão informados é que têm possibilidade de exercer o seu direito de participação.

Contudo, para além do direito existe uma obrigação de participação, no sentido de cooperar na
protecção do ambiente, especialmente, tolerando os inconvenientes de certos estabelecimentos
ligados à protecção do ambiente localizados nas proximidades. O mesmo se sucede com as infra-
estruturas necessárias à sociedade, como por exemplo auto-estradas e aeroportos.
A síndrome do NIMBY (Not In My BackYard) é infelizmente, habitual, e representa a incongruência,
de quem, ao mesmo tempo reivindica um ambiente salubre mas rejeita os incómodos da proximidade
de certos instalações ligadas à protecção do ambiente.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

G – Princípio da cooperação internacional

Neste princípio está inerente a ideia de que o ambiente é um bem de todos e de que a poluição é um
fenómeno transnacional e impõe aos Estados o dever de colaborar para proteger eficazmente o
ambiente.

Este princípio está relacionado com as ligações entre a Administração e a sociedade, seja dos
participantes, seja das suas associações representativas, abarcando o princípio da participação.

Existem excepções, nos casos em que a deterioração do ambiente é localizada, como é o caso da
erosão. Neste caso, não se pode ignorar a globalidade da poluição nem a ideia de que o “ambiente é
de todos” e temos a obrigação de o proteger.

Observação:
• Relembrar a alínea e) do artigo 3º da Lei de Bases do Ambiente (ver módulo 1.1 –
Lei de Bases do Ambiente).

1.2.2 – A necessidade do direito comunitário do ambiente

Motivos que levam a que o Direito do Ambiente seja uma preocupação das diversas Instituições da
Comunidade Europeia:

a) O ambiente não conhece fronteiras

Se um rio atravessar vários Estados, e o que se situar mais próximo da foz, adoptar uma medida de
protecção da poluição das águas fluviais, esta só será eficaz se todos os outros Estados a montante
adoptem também medidas contra a poluição.

b) No território da União Europeia as mercadorias circulam livremente

Uma das formas de proteger o ambiente é eleger regras referentes às características técnicas,
constituição ou qualidade dos produtos potencialmente poluentes, de forma a atenuar a sua
perigosidade.
c) No território da União Europeia existe liberdade de estabelecimento de empresas e
prestadores de serviços

Quando a protecção do ambiente passar por normas sobre o funcionamento de estabelecimentos


industriais, nomeadamente sobre os níveis máximos de emissões, a falta de normas semelhantes
sobre o desempenho ambiental das empresas, pode ter como resultado a transferência das indústrias
poluentes.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

d) Um dos intuitos da União Europeia é afiançar a liberdade de concorrência entre as


empresas

Se os Estados puderem controlar livremente as condições ambientais de funcionamento das


indústrias sediadas no seu território, a liberdade de concorrência não seria acautelada.

Sugestão de actividade 4:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar sobre a “Conferência das Nações Unidas
sobre o meio ambiente”.
• Após a pesquisa, cada grupo deverá apresentar, aos restantes, um resumo sobre o
objecto da pesquisa.

Sugestão de actividade 5:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar sobre a “Declaração de Paris sobre a
protecção do meio ambiente”.
• Após a pesquisa, cada grupo deverá apresentar, sucintamente, os dados obtidos.

Sugestão de actividade 6:
• Pesquisar, individualmente, dados referentes ao “Acto Único Europeu”;
• Após a pesquisa deverá elaborar um documento onde conste uma
elucidação/definição sobre o “Acto Único Europeu” e a “acção da Comunidade em
matéria de Ambiente após o Acto Único Europeu”.

Artigo 130º R do Tratado da União Europeia

Recomendação:

Caso o formador não forneça cópia do artigo 130º R do Tratado, pesquise-o na Internet ou
em publicações da especialidade. (www.diramb.gov.pt)

Sugestão de actividade 7:
• Em grupos de 3/4 elementos, analisar uma sequência dos números que constem no
artigo 130º R do Tratado da União Europeia;
• Analisar os números que lhes foram atribuídos e elaborar um conjunto de questões
sobre os números atribuídos aos outros grupos;
• Após a análise dos números pelos respectivos grupos, cada um dos grupos deverá
colocar as questões elaboradas.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A – Objectivos da acção da comunidade em matéria de ambiente após o acto único europeu

“ A acção da Comunidade em matéria de ambiente” tem por objectivo:

• preservar, proteger e melhorar a qualidade do ambiente;


• contribuir para a protecção da saúde das pessoas;
• assegurar uma utilização prudente e racional dos recursos naturais”.

Princípios

Os princípios elementares da orientação da acção de protecção ambiental encontram-se no artigo


130º R n.º 2.

Observação:
• Relembrar os princípios fundamentais do Direito Comunitário.
Aqui, estão reconhecidos quatro dos princípios fundamentais do Direito Comunitário do
Ambiente: o princípio da prevenção, o da reparação na fonte, o do poluidor-pagador e o da
integração.

B – A política comunitária do ambiente após o tratado da união europeia

Objectivos e princípios

A política de ambiente da União Europeia está prevista no artigo 130º R. O Tratado da União
Europeia introduziu modificações na redacção anterior.

Modificações:

1. Denominar “política” em vez de “acção”;


2. Acréscimo, de uma declaração, no artigo 130º R;
3. Elaboração de um quarto objectivo (n.º1 artigo 130º R);
4. Criação de um outro princípio: o princípio da precaução;
5. O princípio da reparação na fonte passou a chamar-se princípio da correcção na fonte.

Desenvolvimento sustentável

As modificações introduzidas pelo Tratado da União Europeia não se confinaram ao artigo 130ºR.

Outras foram igualmente introduzidas no artigo 2º, relativamente aos objectivos da Comunidade.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Recomendação:

Caso o formador não forneça cópia do artigo 2º do Tratado, pesquise-o na Internet ou em


publicações da especialidade. (www.diramb.gov.pt)

Pela primeira vez surge o ambiente como “missão” elementar da Comunidade, circunstância para a
melhoria da “qualidade de vida”, apenas conciliável com um “crescimento sustentável” da economia.

Um conceito semelhante surge como o primeiro objectivo da União Europeia:

“Á União atribui-se os seguintes objectivos:


a promoção de um progresso económico e social equilibrado e sustentável (…)”.

O que deve entender-se por desenvolvimento sustentável?

Sugestão de actividade 8:
• Cada formando deverá dizer o que entende sobre desenvolvimento sustentável;
• Os formandos deverão apresentar as respectivas conclusões para serem discutidas
pela turma;
• Analisar e debater as respostas dos restantes formandos;
• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar
conveniente, recordar o que foi debatido.

A noção de desenvolvimento sustentável surgiu para refutar a conceito tradicional de


desenvolvimento económico, que contabiliza a riqueza nacional ignorando a presença e a condição
de conservação dos recursos naturais.

O modo que, normalmente, é utilizado para avaliar a riqueza de um país não transmite fielmente o
bem-estar da sua população.

São várias as actividades que se desenvolveram devido à “poluição” e que colaboram para o
acréscimo da riqueza nacional, mas não traduzem uma melhoria do bem estar, e são, por exemplo,
produtores de sistemas de “despoluição” tais como purificadores, filtros ou equipamento de
insonorização.

Existem dois tipos de recursos naturais na Terra, os regeneráveis e os não regeneráveis.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

C – Importância nacional do direito comunitário do ambiente

O Direito Comunitário do Ambiente apresenta dois aspectos importantes, tem aplicabilidade directa e
é precedente sobre o Direito Nacional.

A aplicabilidade directa prende-se com os efeitos que produz a partir do momento em que entra em
vigor, vinculando o Estado e os cidadãos.

A precedência significa que as normas do Direito Comunitário possuem prevalência hierárquica sobre
o Direito Nacional, obrigando à sua aplicação em detrimento do disposto no Direito Nacional.

1.2.3 – Leis fundamentais de protecção do ambiente

Em Portugal existem diversas leis designadas à regulamentação jurídica do ambiente. Serão


abordadas neste sub-tema leis de carácter ambiental, produzidas e publicadas com o intuito exclusivo
de regularizar em termos jurídicos, comportamentos e actividades passíveis de influir directamente o
ambiente.

Para tal vão ser apresentadas algumas das leis mais importantes a este nível, tal como a Lei de
Bases do Ambiente, o Estatuto das Organizações Não Governamentais de Ambiente (Lei das
Associações de Defesa do Ambiente), Decreto-Lei de Avaliação de Impacte Ambiental e respectivo
Decreto Regulamentar e a Lei do Direito de Participação Procedimental e de Acção Popular.

Introdução

Para além das leis fundamentais de protecção e promoção do ambiente referidas na Constituição da
República Portuguesa, o direito nacional prevê textos legislativos importantes para o regulamento da
ordem jurídica do ambiente.

A – Lei de bases do ambiente

A Lei de Bases do Ambiente é o diploma que deseja constituir a disciplina genérica elementar no que
diz respeito ao ambiente.

Esta Lei é de carácter geral que, em muitas situações, limita-se a estabelecer princípios gerais que
carecem de regulamentação e que passados 15 anos, em vários casos ainda não existe.

Observação:
• Relembrar a Lei de Bases do Ambiente.
• Consultar o módulo 1.1 – Lei de Bases do Ambiente

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Estatuto das organizações não governamentais de ambiente (Lei das associações de


defesa do ambiente)

A Lei das Associações de Defesa do Ambiente, inicialmente consagrada na Lei n.º 10/87 de 4 de
Abril, está prevista na Lei n.º 35/98 de 18 de Julho e define o Estatuto das Organizações Não
Governamentais de Ambiente, vulgo designadas por ONGA.

Recomendação:

Caso o formador não forneça cópia do respectivo diploma legal, pesquise-o na Internet ou
em publicações da especialidade. (www.diramb.gov.pt)

Sugestão de actividade 9:
• Em grupos de 3/4 elementos, analisar uma sequência de artigos que constem na
respectiva na Lei n.º 35/98 de 18 de Julho;
• Elaborar um conjunto de questões sobre os artigos atribuídos aos outros grupos;
• Após a análise dos artigos pelos respectivos grupos, cada um dos grupos deverá
colocar as questões elaboradas.

Nota:
Caso considere a Lei muito extensa, repetir o procedimento anterior, ou analisar os artigos
mais importantes.

C – Lei sobre a avaliação de impacte ambiental

Recomendação:

Para obter uma cópia do Decreto-Lei n.º 69/2000 de 3 de Maio, pesquise-o na Internet ou
em publicações da especialidade. (www.diramb.gov.pt)

O diploma nacional de maior importância sobre a avaliação de impacte ambiental é o Decreto-Lei


69/2000 de 3 de Maio. Este Decreto-Lei aprova o regime jurídico da Avaliação de Impacte Ambiental,
transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 85/337/CEE de 27 de Junho com as alterações
introduzidas pela Directiva n.º 97/11/CE de 3 de Março.

Avaliação de impacte ambiental

Segundo a alínea e) do artigo 2º, do Decreto-Lei n.º 69/2000 de 3 de Maio, “AIA – instrumento de
carácter preventivo da política do ambiente, sustentado na realização de estudos e consultas, com

15
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

efectiva participação pública e análise de possíveis alternativas, que tem por objecto a recolha de
informação, identificação e previsão dos efeitos ambientais de determinados projectos, bem como a
identificação e proposta de medidas que evitem, minimizem ou compensem esses efeitos, tendo em
vista uma decisão sobre a viabilidade da execução de tais projectos e respectiva pós-avaliação.”
A AIA é um instrumento da administração ambiental para controlar os processos de desenvolvimento
que tem como objectivo antecipar e apoiar a decisão através de três contributos fundamentais:

a) Fornecer informação sobre as implicações ambientais significativas de determinadas acções


propostas;

b) Sugerir modificações da acção, tendentes à eliminação dos impactes potenciais adversos e


potenciação dos impactes positivos;

c) Indicar os meios de mitigação dos impactes potenciais inevitáveis.

Objectivos da avaliação de impacte ambiental

Observação:

• Rever o artigo 4º do Decreto-Lei n.º 69/2000 de 3 de Maio.

São objectivos fundamentais da AIA:

a) Obter uma informação integrada dos possíveis efeitos directos e indirectos sobre o ambiente
natural e social dos projectos que lhe são submetidos;

b) Prever a execução de medidas destinadas a evitar, minimizar e compensar tais impactes, de


modo a auxiliar a adopção de decisões ambientalmente sustentáveis;

c) Garantir a participação pública e a consulta dos interessados na formação de decisões que


lhes digam respeito, privilegiando o diálogo e o consenso no desempenho da função
administrativa;

d) Avaliar os possíveis impactes ambientais significativos decorrentes da execução dos


projectos que lhe são submetidos, através da instituição de uma avaliação, a posteriori, dos
efeitos desses projectos no ambiente, com vista a garantir a eficácia das medidas destinadas
a evitar, minimizar ou compensar os impactes previstos.

16
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Objecto da avaliação de impacte ambiental

Quais as actividades que devem ser submetidas a avaliação de impacte ambiental?

A avaliação de impacte ambiental aplica-se a projectos (públicos ou privados).


“Projecto – concepção e realização de obras de construção ou de outras intervenções no meio
natural ou na paisagem, incluindo as intervenções destinadas à exploração de recursos naturais.”

Quais os projectos que necessitam de avaliação de impacte ambiental?

O Decreto-Lei n.º 69/2000 de 3 de Maio apresenta nos anexos I e II os projectos que estão sujeitos a
avaliação de impacte ambiental (n.º 2 do artigo 1º).

Caso um projecto não esteja consagrado na listagem anexa ao diploma legal, mas que seja
considerado uma intervenção perturbadora dos equilíbrios do meio natural ou da paisagem, deve,
igualmente, estar sujeito a avaliação de impacte ambiental.

Deve, também, ser sujeito a avaliação de impacte ambiental projectos de grande envergadura, quer
pela capacidade de produção, quer pela área de solo ocupada, consumo de energia e matérias-
primas e até mesmo pela emissão de poluentes, mesmo que a categoria do projecto não esteja
consagrada na listagem dos anexos I e II.

Conteúdo do estudo de impacte ambiental

O EIA (Estudo de Impacte Ambiental) é um dos documentos mais importantes do processo de AIA e
é um dos relatórios com maior visibilidade pública. Obriga a um maior investimento técnico e
financeiro e pode envolver a elaboração de inventários e levantamentos de campo para
caracterização do ambiente afectado e simulações, mais ou menos complexas, dos efeitos das
acções.

Para ajudar ao entendimento do documento por parte de quem não seja técnico, o estudo de impacte
ambiental contém um resumo não técnico, facilitando o acesso do público aos resultados do EIA.

Para evitar grandes diferenças de estudo para estudo, conforme a constituição das equipas, foi
designado um teor mínimo do estudo de impacte ambiental, que deve compreender:

a) Uma descrição do projecto, que deve conter informações sobre a sua localização, elaboração
e dimensões (características físicas de todo o projecto), requisitos do projecto, nomeadamente no uso
do solo, durante as etapas de construção e de funcionamento;

17
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

b) Um descritivo das características essenciais dos processos de produção, por exemplo a


natureza e as quantidades dos materiais utilizados;
c) Uma avaliação dos tipos e quantidades de resíduos e emissões esperadas (poluição da
atmosfera e do solo, da água, ruído, calor, radiações, luminosidade, vibrações, entre outros)
em consequência da actividade do projecto sugerido;

d) Uma enumeração das medidas previstas para evitar, minimizar e se possível, reparar, os
efeitos negativos significativos;

e) Um sumário das principais opções estudadas pelo dono da obra e a designação das
principais razões da sua escolha, atendendo aos possíveis danos para o ambiente;

f) As informações necessárias para avaliar e identificar os principais impactes que o projecto


possa ter no ambiente e uma enumeração dos componentes do ambiente passíveis de serem
lesados pelo projecto proposto, designadamente, o património arquitectónico e arqueológico,
a paisagem, a população, os bens materiais, a fauna e flora, o clima, a atmosfera, o solo e a
água, bem como a inter-relações entre eles;

g) Uma descrição dos efeitos principais (positivos e negativos, a curto, médio e longo prazo,
directos e indirectos, secundários, cumulativos, permanentes e temporários) que o projecto
pode ter no ambiente provenientes da sua existência, da emissão de poluentes, do uso dos
recursos naturais, da eliminação de resíduos ou da produção de perturbações e da indicação
pelo dono da obra dos métodos de predição utilizados para avaliar os efeitos no ambiente;

h) Um sumário dos eventuais contratempos (falhas técnicas ou de informação) encontrados pelo


dono da obra na composição das informações solicitadas;

i) Um resumo não técnico das informações supramencionadas.

D – Lei de participação procedimental e acção popular

Recomendação:

Para obter uma cópia da Lei n.º 83/95 de 31 de Agosto, pesquise-a na Internet ou em
publicações da especialidade. (www.diramb.gov.pt)

A lei de participação procedimental e acção popular foi publicada em 31 de Agosto de 1995 (Lei n.º
83/95 de 31 de Agosto) e consagrou legalmente a norma que está disposta no n.º 3 do artigo 52º da
Constituição da República Portuguesa (CRP) desde a revisão constitucional em 1989.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Recomendação:
Para aceder ao n.º 3 do artigo 52º (direito de petição e direito de acção popular) da
Constituição da República Portuguesa, consultar o seguinte site:
http://www.parlamento.pt/const_leg/crp_port/

Observação:

Este artigo assegura o direito de acção popular para defesa de determinados interesses,
nomeadamente o ambiente.

Observação:

• Ver o artigo 2º da Lei n.º 83/95 de 31 de Agosto.

Segundo o artigo 2º da Lei n.º 83/95 de 31 de Agosto, concede-se os direitos de participação


procedimental e de acção popular a “(…) quaisquer cidadãos no gozo dos seus direitos civis e
políticos e as associações e fundações defensoras dos interesses previstos no artigo anterior,
independentemente de terem ou não interesse directo na demanda” e a “(…) autarquias locais em
relação aos interesses de que sejam titulares residentes na área da respectiva circunscrição.”

Observação:

• Ver os artigos 4º, 5º, 6º e 8º da Lei n.º 83/95 de 31 de Agosto.

Relativamente ao direito de participação as autarquias, as associações e fundações, e todos os


cidadãos que queiram, têm o direito de serem ouvidos e de participarem nos procedimentos relativos
à aprovação de planos de desenvolvimento das actividades da Administração Pública, de planos
directores e de ordenamento do território, de planos de urbanismo e decisões sobre a execução e
localização de obras ou investimentos públicos com impacte evidente para o ambiente.

Para que o disposto no artigo 4º se verifique, é necessária a publicação de um “anúncio público do


início do procedimento para elaboração dos planos ou decisões de realizar as obras ou
investimentos” (artigo 5º), a oportunidade de os cidadãos consultarem os estudos e outros
componentes do projecto, das obras ou dos planos (artigo 6º) e de serem ouvidos em audiência
pública (artigo 8º).

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Observação:

• Ver o artigo 12º e seguintes da Lei n.º 83/95 de 31 de Agosto.

Relativamente ao direito de acção popular, destaca-se a oportunidade de todos os que mostrarem


interesse, poderem recorrer aos tribunais para contestar quaisquer actos administrativos danosos
para o ambiente ou para utilizar qualquer acção prevista no Código do Processo Civil.

A Lei n.º 83/95 de 31 de Agosto prevê disposições relativas à responsabilidade civil e penal por
atentado aos interesses que protege (entre os quais o ambiente) bem como à necessidade de
efectuar um seguro de responsabilidade civil.

1.2.4 – Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil é uma regulamentação cuja antiguidade data da era do Direito Romano, mas
que tem vindo a progredir ao longo dos tempos, ajustando-se às necessidades impostas pelas
sociedades actuais. De qualquer das formas, manifesta-se em muitas situações, um instrumento
impróprio para combater os delitos ambientais.

A responsabilidade objectiva, pelo risco ou por factos consentidos, é um progresso no sentido da


conformidade do instituto às necessidades da vida moderna, sem perda da justiça inerente.

A – Evolução da responsabilidade civil

Recomendação:

Para aceder aos artigos 483º, 562º e 564º do Código Civil, pesquise-os na Internet ou no
Código Civil Português. (www.diramb.gov.pt)

A figura da responsabilidade civil está reconhecida no artigo 483º do Código Civil Português.

A imposição da indemnização está prevista no artigo 562º do mesmo Código.

A reparação do dano está determinada no artigo 564º.

20
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Pressupostos da responsabilidade civil

Os pressupostos ou componentes da responsabilidade civil são:

• Existência de um facto. O dano tem que ter sido consequência de um acto ou omissão
voluntária do lesador e não de uma ocorrência natural;

• O facto tem que ser lícito, isto é, deve ser produto da violação de um direito alheio ou de
uma lei que protege interesses alheios;

• A responsabilidade do facto ao agente seja a motivo de dolo ou de negligência;

• A existência de um dano. A ocorrência tem que ter causado perda.

• A existência de uma relação lógica de influência entre o facto e o dano.

1.2.5 – A responsabilidade civil e a protecção do ambiente

A – Lei de Bases do Ambiente

A Lei de Bases do Ambiente confere grande importância à responsabilidade civil destinando-lhe


vários artigos.

Recomendação:
• Rever alguns artigos do módulo 1.1 – Lei de Bases do Ambiente.

A alínea h) do artigo 3º da Lei de Bases do Ambiente determina o princípio da responsabilização.

O n.º 4 do artigo 4º (Lei de Bases do Ambiente) estabelece um direito subjectivo ao ambiente.

O artigo 41º determina um dever objectivo por danos ao ambiente.

Trata-se da responsabilidade objectiva no modo de responsabilidade pelo risco, relacionada ao


exercício das actividades perigosas.

O direito de reivindicar um ressarcimento pelos danos pode ser exercido pelos lesados, nos tribunais
comuns, conforme o estabelecido no n.º 2 do artigo 45º:

21
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Contudo, com o artigo 43º previu-se as dificuldades do lesador em comportar as indemnizações


pelos danos ao ambiente.

Na realidade, os seguros de responsabilidade civil têm cumprido a importante tarefa na reparação


dos danos causados ao ambiente.

No que diz respeito aos modos de reparação do dano, está consagrado no artigo 48º, a opção pela
recuperação da situação anterior, se esta não for possível, proceder-se-á à determinação da
indemnização.

Com ou sem a identificação dos geradores de poluição, a responsabilidade por danos ao ambiente,
encontra as maiores dificuldades na prova do nexo de causalidade entre a ocorrência e o dano seja
por falta de conhecimento das causas seja pela dissipação da própria relação causa efeito.

A resolução para os problemas ambientais não passa pelo emprego exclusivo da responsabilidade
civil à protecção do ambiente, mas sim pelo recurso, sempre que possível, a novos instrumentos de
protecção jurídica, nomeadamente, a instrumentos preventivos:

• Avaliação de impacte ambiental;

• Rótulo ecológico (indicação das características ambientais com vista a estimular o eco-
consumo, isto é, a influência do desempenho ambiental dos produtos na preferência dos
consumidores);

• Eco-auditorias (avaliação da qualidade ambiental de uma empresa em todos os níveis da


sua actividade, como por exemplo, consumo de matérias primas, dispêndio de energia,
produção de resíduos e emissão de efluentes, qualidade do ambiente de trabalho, esforços
para a melhoria do ambiente);

• Eco-gestão (gestão da empresa através de modelos ambientais eficientes).

B – A tutela do ambiente pelo direito penal

As agressões mais graves ao ambiente estão hoje qualificadas como crimes no Código Penal. Os
denominados crimes ecológicos ou ambientais são o crime de danos contra a natureza e o crime de
poluição. Contudo, a classificação das condutas descritas no Código Penal como criminosas origina
vários problemas e cuja solução está sujeita à eficácia da interferência do direito penal na tutela do
ambiente.
Em 1995, a revisão introduziu modificações ao Código Penal de 1982, designadamente a criação do
crime de danos contra a natureza (artigo 278º do Código Penal) e do crime de poluição (artigo 279º
do Código Penal), os quais constituem crimes ecológicos por protegerem o ambiente de forma

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

directa. Ao invés do que acontecia até então, o ambiente é tutelado em si mesmo, sem ter em conta a
existência de algum risco ou prejuízo para bens pessoais ou patrimoniais.

Recomendação:

Para aceder aos artigos 278º e 279º do Código Penal, pesquise-os na Internet ou no
Código Civil Português. (www.diramb.gov.pt)

A tutela independente do ambiente deve-se à evolução da percepção pela sociedade da severidade


da deterioração ambiental potenciada pelo crescimento da industrialização e subtilização dos
comportamentos perigosos para o equilíbrio ecológico.

O bem jurídico ambiente importante para o direito penal é elaborado de forma limitativa por ter
unicamente como objectos de protecção os componentes ambientais naturais: a água, o solo, o ar, a
luz, a fauna e a flora e a conjuntura ambiental de desenvolvimento destas espécies. Exceptua-se os
componentes ambientais humanos ou “ambiente construído”, de cariz cultural, artístico ou histórico.

Devemos considerar que uma atitude só pode constituir um crime quando lesar ou puser em risco um
bem jurídico com importância constitucional. No entanto, é de declinar a existência de imposições
constitucionais de criminalização, porque a interferência do direito penal não é exigida para evitar
todos os danos de todos os valores constitucionais.

C – Dificuldades na criminalização dos atentados ao ambiente

Como já foi referido, recorrer ao direito penal só é valido quando este se manifestar válido na
protecção ao ambiente.

A responsabilização das pessoas colectivas

A inclusão dos crimes contra o ambiente no Código Penal e não em legislação extravagante, parece
passível de críticas, na medida em que impossibilita a responsabilização criminal das pessoas
colectivas, sendo do conhecimento de todos que, normalmente, são as empresas os principais
causadores da poluição.

O impedimento de responsabilizar criminalmente as pessoas colectivas advém do artigo 11º do


Código Penal.

Observação:
Artigo 11º do Código Penal – Carácter pessoal da responsabilidade
Salvo disposição em contrário, só as pessoas singulares são susceptíveis de
responsabilidade criminal. (http://homepage.oninet.pt/806mbx/penal/legis/cpgeralpre.htm)
(actualizado em 10/12/2004)

23
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sendo assim, parece que só podem ser reprimidas pela prática do crime de danos contra a natureza
e do crime de poluição as pessoas individuais, o que se torna numa resolução inadequada, pois
culpabiliza os que, eventualmente, menos contribuem para a deterioração ambiental.

A responsabilização de pessoas colectivas, nomeadamente das grandes empresas poluidoras, seria


exequível se os crimes ecológicos tivessem sido previstos no contexto do direito penal secundário, já
que aqui não vigora o carácter pessoal da responsabilidade jurídico-penal.

De acordo com o actual enquadramento dos crimes ecológicos no Código Penal, e não se fazendo
uso da oportunidade concedida pelo artigo 11º do Código Penal de excepcionalmente
responsabilizar criminalmente as pessoas colectivas, parece que a única possibilidade de encontrar
uma resolução justa que permita a punição deste tipo de poluidores se traduz no recurso aos quadros
da comparticipação.

O crime de danos contra a natureza

Observação:
• Relembrar o artigo 278º do Código Penal.

Deve-se prestar atenção ao n.º 2 do artigo 278º do Código Penal – Danos contra a natureza,
nomeadamente às alíneas a) e b).

2 – Para os efeitos do número anterior o agente actua de forma grave quando:

a) Fizer desaparecer ou contribuir decisivamente para fazer desaparecer uma ou mais


espécies animais ou vegetais de certa região;
b) Da destruição resultarem perdas importantes nas populações de espécies de fauna ou
flora selvagens legalmente protegidas;
c) Esgotar ou impedir a renovação de um recurso do subsolo em toda a área uma área
regional;
O crime de danos contra a natureza é um crime ecológico autónomo porque o bem jurídico
preservado é o ambiente em si mesmo. Para existir consumação do crime não é necessária a
geração de qualquer dano ou perigo para o homem de forma instantânea. Os objectos tutelados são
os recursos do subsolo, o habitat natural, a fauna e a flora.

Evitando os já mencionados inconvenientes evocados pela configuração dos crimes ecológicos como
crimes de dano, de perigo concreto (palpável), abstracto (vago) ou abstracto-concreto, o legislador
preferiu a configuração deste crime como um crime de desobediência.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Para que exista um crime de danos contra a natureza é necessário que o poluidor desacate as
prescrições, legais ou estabelecidas, protectoras dos referidos objectos tutelados pelo artigo 278º do
Código Penal.

O crime de danos contra a natureza surge pois como um crime de desobediência qualificada pela
ocorrência de um dano ambiental.

Conceitos

“Fazer desaparecer” - compreendido de forma a abarcar a extinção animal ou vegetal e a migração


da espécie para fora do seu habitat natural;

“Contribuir decisivamente”- intento de evitar a exclusiva punição do poluidor final que provocou o
dano ambiental já acumulado;

“Perdas importantes”- entendidas por aquelas que dificultam ou impossibilitam a regeneração das
espécies de fauna ou flora numa região, a qual deve ser entendida como região natural, com uma
entidade ecológica e não como uma região administrativa.

O crime de poluição

Observação:
• Relembrar o artigo 279º do Código Penal.

Artigo 279º do Código Penal – Poluição

Também este tipo de crime foi denominado crime de desobediência qualificada pelo dano. A
desobediência resulta da necessidade para a presença do crime de uma poluição em medida
inadmissível, sendo que esta ocorre quando contestar as determinações legais ou regulamentares.
Mas a desobediência não é em si só importante, porque, para que ocorra crime de poluição é
necessária a poluição da água, dos solos, do ar ou a poluição sonora.

O crime de poluição com perigo comum

Recomendação:

Para aceder ao artigo 280º do Código Penal, pesquise-o na Internet ou no Código Civil
Artigo 280º do
Português. Código Penal – Poluição com perigo comum
(www.diramb.gov.pt)

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Quem, mediante uma conduta descrita no n.º 1 do artigo anterior, criar perigo para a vida ou para a
integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado, é punido com pena
de prisão:
a) De 1 a 8 anos, se a conduta e a criação do perigo forem dolosas;
b) Até 15 anos, se a conduta for dolosa e a criação do perigo ocorrer por negligência.

O crime previsto no artigo 280º do Código Penal não constitui um crime ecológico “puro”.

A eficácia do direito penal na protecção do ambiente

Como já foi referido, a intervenção do direito penal só se justifica quando for imprescindível para a
protecção do bem jurídico.

Ao aceitarmos que a intervenção do direito penal nas questões ambientais só deve suceder se
possuir uma índole de permanência na defesa do bem jurídico, declinamos aquilo a que se tem
denominado direito penal simbólico.

Adoptando esta ideia para a esfera do ambiente, pretende-se denotar com direito penal simbólico que
a geração dos crimes ecológicos não corresponderá a uma autêntica punição dos agentes poluidores,
servindo apenas para tranquilizar as consciências e “atirar areia para os olhos da opinião pública”,
afastando a atenção das medidas que politicamente deveriam ter sido tomadas, mas que não o foram
por serem muito onerosas, delicadas ou impopulares.

A sociedade deixará de acreditar no funcionamento dos regulamentos que protegem o ambiente por
compreenderem os não efeitos, apenas o carácter intencional.

Assim sendo, a eficácia da intervenção penal na protecção do ambiente depende da efectiva punição
dos comportamentos proibidos e do conhecimento que a sociedade obtenha da aplicação de penas a
essas condutas.

O que nos endereça para a questão da necessidade de responsabilizar as pessoas colectivas,


designadamente as grandes empresas, pelos danos ecológicos que causem e também para a
questão de saber qual a configuração jurídica dos tipos legais de crime mais adequada à protecção
do ambiente.

A eficaz resolução destas questões e da suposição das sanções adequadas à punição dos grandes
agentes poluidores está sujeita à eficácia da intervenção do direito penal na tutela do ambiente.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Actividade 10:
Individualmente, responder às seguintes questões:

1 – Escolha as opções verdadeiras e corrija as falsas. Resuma cada um dos princípios


e dê exemplos.

Os princípios mais importantes do direito do ambiente são:


1. Princípio da prevenção;
2. Princípio da correcção na fonte;
3. Princípio da precaução;
4. Princípio do poluidor – causador;
5. Princípio da integração;
6. Princípio da comunicação;
7. Princípio da participação nacional.

2 – O que entende sobre desenvolvimento sustentável? Apresente exemplos.

3 – Quais são as leis fundamentais de protecção do ambiente? Resuma as duas que


considera mais importantes.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

TEMA INTRODUTÓRIO II

Poluições

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tema integrador 2 – Poluições

Introdução

Este tema pretende garantir ao formando a aquisição de novos conhecimentos, bem como o
desenvolvimento dos já adquiridos, no que diz respeito à poluição do ar e ao ruído.

Compõem este tema os seguintes módulos:


2.1 – Poluição Atmosférica
2.2 – Poluição Sonora

Objectivos gerais:

• Definir os conceitos relacionados com a Poluição Atmosférica, bem como conhecer os limites
legais de emissão e respectiva legislação;
• Conhecer, identificar e relacionar os diferentes conceitos de Poluição Sonora, bem como
aplicar as técnicas para a caracterização e medição de sons.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

OS GRANDES PROBLEMAS AMBIENTAIS DO MUNDO MODERNO

O rápido crescimento da população humana, não acompanhado pelo aumento da produtividade da


biosfera, tem levado à destruição dos recursos naturais.

Entre os fenómenos que possuem um papel importante na redução dos recursos disponíveis estão a
erosão e a degradação do solo que consistem na remoção e transporte dos detritos finos que
constituem a camada mais superficial da Terra ou na alteração das suas características físicas,
químicas e biológicas, por acção de agentes externos diversos, tornando os solos impróprios para o
cultivo ou dificultando a sua cobertura vegetal ou reduzindo significativamente a sua produtividade.

O Homem é o maior responsável quando destrói a vegetação protectora, nomeadamente através do


uso de práticas agrícolas e florestais desadequadas, excesso de pastoreio ou pelo fogo. Em muitas
regiões, a intensa erosão desgasta o solo e leva à progressiva modificação do ecossistema, podendo
mesmo levar à desertificação.

O Homem adquiriu a capacidade não só de usar como de alterar o meio em que vive, com o intuito de
melhorar o seu conforto. Gradualmente, o globo terrestre tem vindo a humanizar-se e o ritmo de
exploração dos recursos naturais tem-se tornado, em muitas áreas, mais acelerado que a capacidade
da natureza para os restabelecer. Contudo, apesar do avanço científico e tecnológico e da destruição
que o Homem tem provocado dos recursos naturais do planeta, a economia mundial depende
totalmente da disponibilidade desses mesmos recursos, desde a produção de energia à exploração
mineira, agricultura, silvicultura, pesca e caça, até ao bem-estar e qualidade de vida da humanidade.
A deterioração dos recursos naturais só pode resultar em dano para o próprio Homem.

A deterioração do Ambiente pelas actividades humanas levou à emersão das noções de Qualidade
do Ambiente e Poluição.

Segundo Melo e Pimenta (1993) pode definir-se “Qualidade do Ambiente” do seguinte modo:
A qualidade ambiental consiste numa medida de aptidão do ambiente para satisfazer as
necessidades do Homem e garantir o equilíbrio do ecossistema.

Esta noção de qualidade do ambiente baseia-se numa perspectiva de ambiente utilitária ou


instrumental. O ambiente é tido como algo fonte de recursos, a ser dominado e usado pelo Homem,
em seu próprio proveito. A qualidade do ambiente tende a ser definida tomando como padrão a
pessoa e a sociedade humana, desligada da sua essência ecológica, da dinâmica e funcionalidade
da sua comunidade ou do ecossistema como um todo.
Assim, o ambiente é compreendido como tendo boa qualidade quando permite uma multiplicidade de
usos pelo Homem, e má qualidade quando impede tais usos.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Segundo os mesmos autores pode definir-se “poluição” do seguinte modo:


Poluição consiste na descarga para o ambiente de matéria ou energia originada por actividades
humanas, em quantidade tal que altera significativamente e negativamente as qualidades do
meio receptor.

Considera-se que ocorre poluição de um dado meio receptor, se os usos humanos ou as relações
funcionais desse meio forem limitadas pela diminuição da qualidade ambiental provocada por uma
descarga. Há múltiplas formas de poluir e múltiplas situações em que essa poluição se faz sentir. Há
poluição quando as características físicas, químicas e biológicas de um determinado meio são
alteradas, seja pela introdução ou remoção de determinados factores, independentemente das suas
causas. Por exemplo, poder-se-á falar de poluição da água quando a sua transparência (propriedade
física medida pela capacidade de penetração da luz solar no meio aquático) é alterada, acabando por
influenciar outras características do meio, nomeadamente dinâmica e funcionalidade do ecossistema
aquático, influenciando a actividade fotossintética de algas e plantas aquáticas e a própria fauna do
meio. As causas podem ser múltiplas, como por exemplo, causas naturais provocadas por chuvas
intensas que provocam a erosão e transportam grande quantidade de detritos finos em suspensão ou
por actividades humanas, como seja um derramamento de petróleo ou até a eutrofização do meio. De
forma mais ou menos acentuada, as características do meio são alteradas e, naturalmente, o uso
humano também.

Atendendo ao slogan “Agir localmente, pensando globalmente”, chega-se à conclusão que existem
problemas de natureza global que têm de ser resolvidos localmente.

Podem ser considerados como “grandes problemas ambientais do mundo moderno” os seguintes:

• A redução da biodiversidade;
• A produção de resíduos;
• O esgotamento dos recursos minerais;
• A destruição dos solos;
• A desertificação e desflorestação;
• A redução dos recursos hídricos;
• A Gestão de energia e o esgotamento dos recursos energéticos não renováveis;
• A poluição.

31
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

BIODIVERSIDADE

A biodiversidade ou diversidade biológica é a “variabilidade entre organismos vivos de todas as


origens [...]; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre espécies e dos ecossistemas”
(Convenção da Diversidade Biológica).

A biodiversidade está distribuída heterogeneamente na Terra, com áreas de grande diversidade


(como as florestas tropicais e os recifes de corais), outras com menor diversidade (como os desertos
e as regiões polares) e ainda outras, com alguma diversidade.

AMEAÇAS DE SOBREVIVÊNCIA

A biodiversidade tem aumentado desde a origem da vida terrestre, embora de forma descontínua,
atingindo o seu pico máximo antes do aparecimento da humanidade e tendo vindo a decrescer desde
então.

O problema da redução da biodiversidade assumiu, principalmente nas últimas décadas, proporções


nunca antes atingidas, conforme aponta o Relatório da Diversidade Biológica, publicado pelo
Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) em 1995.

Muitas actividades humanas têm contribuído para a perda de biodiversidade (à nossa escala
temporal), sobretudo pela consequente destruição, fragmentação e degradação de habitats (pela
construção de urbanizações e infra-estruturas), sua poluição e sobre-exploração nomeadamente por
actividades industriais, pelo uso intensivo agrícola e silvícola do solo, caça e pesca excessivas, não
permitindo a reposição dos efectivos populacionais das diferentes espécies.

A riqueza local de espécies pode variar muito, consoante as condições físicas (como o clima) e
espaciais assim como com a intensidade do uso do solo, como se observa pela Figura.

Figura 1 – Riqueza de espécies por tipos de habitats (Fonte: EEA, 1998)

32
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Assim sendo, as estratégias de conservação deverão ser diferenciadas geograficamente e adaptadas


à intensidade agrícola e às demais características das explorações.

A agricultura pode ser vantajosa em termos de biodiversidade: apesar de ter eliminado áreas de
habitats naturais e ter trazido problemas de contaminação desses habitats, por outro lado, também
criou novos habitats para muitas espécies.

De acordo com o Livro Branco sobre o Ambiente em Portugal (1991), uma parte significativa das
espécies selvagens depende da manutenção dos processos de agricultura tradicional e das
explorações agrícolas de pequena e média dimensão. Os agricultores e gestores de zonas de caça,
efectuando algumas mudanças nas suas práticas agrícolas e de ordenamento cinegético,
representam assim importantes agentes para a conservação da natureza e diversidade biológica.

Também o turismo em massa pode exercer pressões negativas sobre a diversidade biológica, pela
fragmentação do solo, sua compactação e pela poluição causada pelos transportes, ao passo que o
turismo sustentável promove a criação de empregos adicionais às comunidades locais, motivando-as
para a protecção do ambiente e harmonizando os interesses do sector do turismo com a preservação
da biodiversidade.

A sobrevivência de muitas das espécies actualmente existentes e a protecção do seu habitat estão,
portanto, dependentes de uma mudança de atitude por parte do Homem.

PORQUÊ VALORIZAR A BIODIVERSIDADE?

Na natureza todas as espécies são importantes, mesmo as que aos nossos olhos possam parecer
insignificantes, como provam os usos que o Homem tem encontrado para muitas espécies de
animais, plantas, fungos, algas e bactérias, desde a alimentação, vestuário, indústria ou medicinal até
ao tratamento de efluentes e de resíduos.
A manutenção da diversidade biológica reveste-se de grande importância em termos:
¾ Económicos;
¾ Sociais;
¾ Culturais;
¾ Ecológicos:
• Suporte da vida;
• Controlo de cheias;
• Protecção do solo contra a erosão;
• Filtração da água e purificação do ar;
• Polinização;
• Regulação do clima.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A biodiversidade aumenta a produtividade das comunidades de plantas e a retenção de nutrientes.


Quanto mais complexo um sistema, isto é, quanto maior a sua biodiversidade, maior será a sua
estabilidade.

Por exemplo, a aplicação irracional de pesticidas pouco selectivos, como o DDT, no combate a
determinadas pragas, tem conduzido à redução da biodiversidade com consequente proliferação de
pragas, como o aranhiço vermelho, pela destruição não selectiva dos seus inimigos naturais. Os
agricultores têm assim vindo a aprender a não menosprezar a biodiversidade das suas explorações
no combate a quebras de produtividade e face a alterações das condições ambientais.

“Para além do seu valor intrínseco, a biodiversidade determina a nossa capacidade de adaptação às
circunstâncias em mutação. Sem uma biodiversidade adequada, acontecimentos como as alterações
climáticas e as epidemias estão mais sujeitos a exercer efeitos catastróficos.”

PRODUÇÃO DE RESÍDUOS

Até muito recentemente, a maioria dos resíduos era armazenada inadequadamente em todo o
mundo, por falta de condições e de conhecimento e depositada sem controlo em lixeiras, rios e
mares.

A produção de resíduos sólidos (RS) tem vindo a aumentar em quantidade, diversidade e toxicidade
nas últimas décadas em todo o mundo, resultantes da explosão demográfica, do desenvolvimento
científico e técnico, crescimento económico e industrial e do aumento do poder de compra das
famílias, acentuando-se também a produção de resíduos perigosos.
Também por estas mesmas razões têm surgido limitações em termos energéticos, de
matérias-primas e do espaço para deposição final de RS (é cada vez mais difícil encontrar locais
adequados para deposição de resíduos, quer devido à sua quantidade e perigosidade, quer ao longo
tempo de vida de alguns).

O ESGOTAMENTO DOS RECURSOS MINERAIS

A produção associada à exploração dos nossos geo-recursos tem vindo a diversificar as suas fontes
e a aumentar o grau de incorporação tecnológica. Apesar da produção de minérios metálicos (cobre,
estanho e tungsténio) e de minerais energéticos (carvão e urânio) ter diminuído drasticamente, por
esgotamento progressivo dos jazigos conhecidos, verifica-se que a actividade económica ligada ao
aproveitamento dos recursos tem vindo a evoluir, com um notável crescimento em domínios de
actividade como sejam as águas minerais e de nascente e a geotermia.
A DESTRUIÇÃO DOS SOLOS

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O solo consiste na camada superficial da crosta terrestre, representando o meio natural para o
desenvolvimento das plantas, formado pela acção dos processos pedogenéticos e mais ou menos
modificado pela intervenção do homem.

O solo contém proporções variáveis de matéria orgânica, matéria mineral sólida, água com
substâncias dissolvidas (solução do solo) e ar (atmosfera do solo), ocupando estes dois últimos
constituintes os espaços intersticiais entre as partículas terrosas e os seus agregados.

A matéria orgânica do solo é formada por resíduos de plantas e outros organismos que, em virtude da
actividade da biofauna do solo se encontram em estado mais ou menos avançado de decomposição.
A distribuição e proporção dos diversos constituintes do solo definem o seu tipo, contendo cada solo
um número variável de camadas sucessivas, com diferentes propriedades físicas, químicas e
biológicas. O solo é um recurso finito, limitado e não renovável, face às suas taxas de degradação
potencialmente rápidas, que têm vindo a aumentar nas últimas décadas (pela pressão crescente das
actividades humanas) em relação às suas taxas de formação e regeneração extremamente lentas.

Os processos de degradação do solo constituem um grave problema a nível mundial, com


consequências ambientais, sociais e económicas significativas. À medida que a população mundial
aumenta, a necessidade de proteger o solo como recurso vital, sobretudo para produção alimentar,
também aumenta. A fertilidade dos solos depende de um conjunto de factores, uns de natureza física,
outros de natureza química. Da conjugação destes factores, resulta a capacidade de produção do
solo, que, dependendo do seu perfil (sucessão de horizontes) apenas atinge o seu máximo quando o
nível de todos os factores nutritivos e os itinerários técnicos de mobilização, foram correctamente
ajustados em função das necessidades dos sistemas culturais.

As principais ameaças sobre o solo são a erosão, redução da biodiversidade, a contaminação, a


impermeabilização, a compactação, a salinização, uso de práticas agrícolas e silvícolas
desadequadas, o efeito degradante das cheias e dos desabamentos de terras. A ocorrência
simultânea de algumas destas ameaças aumenta os seus efeitos.

A DESERTIFICAÇÃO E DESFLORESTAÇÃO COMO SINÓNIMO DE REDUÇÃO DAS SUPERFÍCIES FLORESTAIS

Nos países em vias de desenvolvimento, a principal causa de desflorestação é a sobre-exploração


das matérias-primas provenientes da floresta, particularmente, a própria madeira, uma vez que estes
países têm poucas alternativas ao uso desses recursos naturais para desenvolverem as suas
economias.
Nos Estados Unidos da América, a desflorestação é causada principalmente pelo desenvolvimento
comercial e industrial. Estima-se que, até 2040, os EUA irão perder cerca de 11 milhões de hectares
causados pelo desenvolvimento urbano.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Na América Latina, o fracasso das leis governamentais foi a causa directa da desflorestação durante
os anos 80. Por exemplo, só na bacia da Amazónia foram destruídos, anualmente, 4 milhões de
hectares de floresta para uso agrícola, mesmo sabendo que cerca de 94% do solo era impróprio para
a agricultura. Situações semelhantes dão-se noutros países tropicais da América Central e do Sul.

Na Ásia a desflorestação aumentou de 2 para 4.7 milhões de hectares. A alta densidade


populacional bem como a pobreza rural foram as principais causas de desflorestação, sendo 75%
causada apenas para obtenção de terrenos agrícolas.

Em África, o assustador crescimento populacional está a contribuir não só para a deterioração do


ambiente em todo o continente, mas também para o abate intenso de árvores de modo a criar
terrenos para a agricultura. Durante os anos 80, África continha 660 milhões de hectares de floresta,
perdendo, anualmente, 3.3 milhões de hectares. Por ano, apenas 91 mil hectares foram reflorestados,
uma pequena porção comparando com a perda sofrida.

CONSEQUÊNCIAS DA DESFLORESTAÇÃO

As consequências da desflorestação não se resumem ao enfraquecimento da relação simbiótica


entre vida animal e vegetal. O aquecimento global do planeta e a diminuição da biodiversidade são
outros efeitos da destruição dos espaços florestais. A intervenção humana pode causar rapidamente
a destruição das florestas. Com a desflorestação de grandes áreas é praticamente impossível voltar a
colonizar com as mesmas espécies acabando por originar zonas de ervas e de vegetação de baixo
porte, e eventualmente, terras áridas.

A destruição das florestas tropicais tem-se tornado um assunto de particular preocupação devido à
potencial perda de várias espécies de plantas e animais, que habitam as florestas tropicais de todo o
mundo. Embora estas florestas cubram apenas 7% da Terra, elas contêm, pelo menos, metade das
espécies de animais e plantas, muitas das quais ainda nem sequer foram identificadas.

A desflorestação em larga escala contribui ainda para a emissão de CO2 para a atmosfera (cerca de
10 a 30% por ano). Este é um dos principais gases de estufa envolvido no aquecimento global do
planeta. Por outro lado, as florestas em crescimento removem o CO2 da atmosfera, fixando-o nas
árvores e no solo.

A destruição de florestas – que leva, em muitos casos, à expansão de zonas urbanas e de desertos
áridos e erodidos – também modifica a superfície terrestre, e assim afecta o clima ao alterar as
quantidades de energia solar que são absorvidas e reflectidas.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A REDUÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Nos nossos dias, a poluição dos cursos de água, reveste-se de maior importância na medida em que
a água potável começa a ser insuficiente.

Segundo alguns autores podemos definir assim poluição:


A ideia de poluição aparece associada à presença de elementos tóxicos que impossibilitam ou
dificultam gravemente a vida tal como nós a conhecemos, seja a nível local, seja a nível global. A
poluição dos rios, resultante de efluentes industriais e urbanos, caracterizam-se justamente pelos
seus níveis de toxicidade.

Todos os tipos de poluição são lesivos das várias formas de vida. Por vezes, provocam alterações
dos ecossistemas que obrigam as espécies a adaptar-se às novas condições ambientais. A
deslocação de populações é também um resultado possível. Casos há em que a degradação radical
dos ecossistemas conduz à extinção de espécies. A consciência destes problemas tem levado à
adopção de medidas de controle da poluição por entidades governamentais de numerosos países e
por certos organismos supranacionais. O controle da poluição passa por uma grande diversidade de
medidas, da imposição de regras à actividade industrial e do investimento em equipamentos de
reciclagem até aos pequenos gestos do quotidiano.

Porém, não é possível, estimar a quantidade total de poluentes que é lançada no meio ambiente a
cada hora em todo o mundo, nem os danos que a sujidade provocada pelo ser humano moderno já
provocou ao equilíbrio ecológico do planeta. Não há uma estatística sobre isso, porque a quantidade
de poluentes é grande demais para ser mensurável. A ideia de que toda a poluição lançada no mar
se dilui rapidamente é uma ilusão. De acordo com pesquisas científicas, o tempo de mistura completa
de uma partícula nos oceanos é de cerca de 500 anos.

As sociedades deverão adaptar-se à escassez e à perda da qualidade da água potável, impondo-se


um uso cada vez mais eficiente da existente, através da optimização da sua utilização (eficiência),
sem pôr em causa as necessidades vitais, qualidade de vida e desenvolvimento sócio-económico
(eficácia). A capacidade de adaptação dependerá dos recursos sociais e técnicos disponíveis,
implicando um enorme esforço concertado entre governos, cidadãos e entidades gestoras.

Os cidadãos também poderão desempenhar um importante papel na protecção e conservação dos


recursos hídricos, desde que devidamente consciencializados para o efeito e para quais as
melhores medidas a adoptar, nomeadamente a redução de consumos em banhos e autoclismo. A
água deverá ser assim não só fonte de vida, mas também de integração regional, sustentabilidade,
prosperidade e segurança ambiental, não se transformando, como prevêem alguns cenários mais
pessimistas, numa fonte de conflitos sustentados e de guerras, obstáculo para a gestão eficiente dos
recursos hídricos.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A GESTÃO DE ENERGIA E O ESGOTAMENTO DOS RECURSOS ENERGÉTICOS NÃO RENOVÁVEIS

O modelo de desenvolvimento actual, no que diz respeito à gestão de energia é insustentável.


Primeiro porque se tornou dependente dos recursos energéticos fósseis não-renováveis e segundo
porque nesse modelo está implícita a exploração exaustiva do meio ambiente sem imaginar o
esgotamento dos recursos nem os aspectos negativos do crescimento industrial, entre eles a
poluição, a degradação da atmosfera, do solo, dos recursos hídricos, o crescimento descontrolado, o
êxodo e a marginalização da população humana.

Perante o inevitável esgotamento dos recursos energéticos fósseis num período relativamente
pequeno, torna-se imprescindível contar com novas fontes energéticas que ao contrário do petróleo
não produzam danos irreversíveis à natureza, que não possam ser monopolizadas nas mãos de
poucos e que sejam praticamente inesgotáveis. Se o petróleo abriu caminho a uma das etapas mais
inovadoras para o progresso da humanidade e o desenvolvimento das nações, também é certo que
seu impacto sobre o meio ambiente e sua incidência no crescimento desequilibrado da economia
mundial, produz aspectos negativos por demais conhecidos.

O planeta vive sob o signo da Mudança rumo ao uso das Energias Renováveis. A humanidade
enfrenta a escolha de novas opções tecnológicas energéticas. Essa escolha decidirá seu futuro e o
das novas gerações. As soluções levam tempo para serem desenvolvidas e implementadas. A
mudança deve considerar a perspectiva de usar de maneira renovável os recursos e pensar em
estratégias sociais para ir de encontro ao Desenvolvimento Sustentável.

A POLUIÇÃO

A poluição consiste numa alteração indesejável nas características físicas, químicas ou biológicas do
ar, do solo e da água e da paisagem que podem afectar, ou afectarão, prejudicialmente a vida do
homem e dos ecossistemas naturais, semi-naturais e humanizados, os nossos processos industriais,
condições de vida e património cultural ou, ainda, alterar a potencial utilização humana dos recursos
naturais.

Os poluentes são resíduos das coisas que o homem faz, utiliza e deita fora. A poluição aumenta não
apenas porque o espaço disponível por pessoa se torna mais pequeno à medida que os seres
humanos se multiplicam, mas também porque o uso por pessoa cresce continuamente, determinando
o aumento ano a ano daquilo que cada um deita fora.

Aos poluentes de “desperdícios” é preciso adicionar os poluentes que constituem os subprodutos


inevitáveis do transporte, da indústria e da agricultura. À medida que estas actividades humanas se
expandem, o mesmo acontece com a poluição. Então, todas as actividades desenvolvidas pelo
Homem, se não forem realizadas de forma consciente e responsável, podem dar origem a diferentes
formas de poluição, por exemplo a poluição dos solos e das águas, a poluição atmosférica e a
poluição sonora.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A poluição do ar proporciona o sinal de recuo negativo que bem poderá salvar a sociedade
industrializada da extinção, uma vez que: (1) proporciona um sinal claro de perigo indicativo de que o
homem deverá “travar”, de alguma forma e brevemente, o uso concentrado de energia industrial, (2)
todos para ela contribuem (conduzindo um carro, utilizando electricidade, comprando um produto) e
com ela sofrem, pelo que não se pode atribuir a responsabilidade a um qualquer “bode expiatório” e
(3) uma solução tem de surgir de uma reflexão holística, dado que as tentativas para reduzir uma
fonte qualquer, ou qualquer poluente, têm sido infrutuosas e poderão apenas desviar essa poluição
para uma das outras categorias.

A poluição sonora, ou ruído, constitui também outra ameaça grave à qualidade do ambiente humano.
Caso se defina ruído como “um som não desejado”, então, a poluição sonora é um som não desejado
“lançado” na atmosfera, sem atender aos efeitos adversos que possa ter. Então, o som deve ser
considerado como um poluente potencialmente sério e como uma ameaça grave à saúde ambiental.

Pela importância que apresentam, este dois tipos de poluição (atmosférica e sonora), vão ser
abordados de um modo mais completo e detalhado.

Sugestão de actividade
• Identificar outros problemas ambientais globais, quais as suas causas e
consequências.
• Apresentar os resultados obtidos na pesquisa.
• Analisar e debater sobre os problemas apontados.

Exemplos de outros problemas ambientais globais:


• Chuvas ácidas;
• As alterações climáticas;
• A radioactividade;
• Racismo e Xenofobia.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Módulo 2.1 – Poluição Atmosférica

Objectivos específicos:

a) Definir os conceitos relacionados com a Poluição atmosférica;


b) Conhecer os limites legais de emissão atmosférica;
c) Analisar e debater as medidas de controlo da Poluição Atmosférica em Portugal;
d) Criticar o efeito de estufa;
e) Depreender o ciclo de evaporação – condensação;
f) Saber os principais poluentes atmosféricos;
g) Referenciar a legislação aplicável.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

2 – POLUIÇÕES

2.1 – POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

2.1.1 - INTRODUÇÃO

Recomendação:
Quando necessário, consultar listagem de palavras-chave, no anexo A, no final do tema
integrador Poluições.

Sugestão de actividade 1:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma, debater questões / problemas
sobre a poluição atmosférica.

• Registar as questões apontadas pelos grupos.

• Após análise e debate, as questões mais pertinentes deverão ser listadas.

• Cada grupo deverá desenvolver uma das questões seleccionadas, recorrendo a


notícias e artigos, referentes ao tema, em jornais, revistas, bibliografia e Internet.

Exemplos de objectivos
• Enumerar questões/problemas associados à poluição atmosférica.
• Analisar e debater a problemática associada à poluição atmosférica.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

A evolução do nível de vida, aliado a um crescimento populacional, originou uma produção industrial
e um consumo energético nunca antes atingido. Associado a este desenvolvimento encontra-se o
aumento dos níveis de poluição ambiental, em particular a poluição atmosférica.
Os efeitos da poluição atmosférica ocorrem a nível local, regional, nacional e global.
As alterações climáticas, assim como o efeito de estufa e a destruição da camada de ozono, estão
intimamente ligados com a poluição atmosférica da estratosfera, prevendo-se que a frequência de
Verões quentes no sul de Portugal e Espanha aumente cinco vezes em 2020, com graves
consequências a nível económico e social.
Estes efeitos a nível global são provocados principalmente pela a emissão de CO2, SOx, NOx e
CFC´s (no caso da destruição da camada de ozono).

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As conferências de Quioto (1997) e Haia (2000), revelam a importância e actualidade deste tema, e
da evolução das sociedades de forma sustentável em harmonia com o ambiente.

Sugestão de actividade 2:

• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar as linhas de orientação das Conferências


de Quioto e de Haia.

• Registar as questões apontadas pelos grupos.

• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

Exemplos de objectivos
• Analisar as linhas de orientação das Conferências de Quioto e de Haia;
• Debater sobre as diferenças e semelhanças entre as linhas de orientação de cada
uma das Conferências;
• Argumentar e concluir sobre eficácia / eficiências das linhas de orientação.

A – Problemas Ambientais decorrentes das emissões de poluentes para a atmosfera

• Anos 70 - privilegiava-se a fixação de normas de qualidade do ar ambiente, baseadas em


critérios de protecção da saúde pública. Proliferação das redes locais de vigilância da
qualidade do ar.

• Anos 80 - assistiu-se ao agravamento de situações como as chuvas ácidas, a poluição


fotoquímica e o transporte de poluentes a longa distância. No campo normativo a atenção
centrava-se preferencialmente na fixação de valores-limite de emissão.

• Anos 90 - A noção de fonte poluidora tomou um significado mais lato, estendendo-se à


generalidade das actividades humanas e abrangendo os processos naturais. Reduzir os
poluentes lançados na atmosfera tornou-se o objectivo das políticas de gestão da qualidade
do ar.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Políticas de redução da poluição atmosférica

As emissões de fontes localizadas em áreas urbanas têm um impacte significativo a nível local,
podendo os seus efeitos repercutir-se também a todos os outros níveis.

Os efeitos da poluição atmosférica aos níveis local, regional e global estão interrelacionados através
de causas e impactes comuns pelo que as políticas de redução das emissões cada vez mais
consideram uma abordagem multi-poluente/multi-efeito.

C – Instrumentos de política ambiental

• Instrumentos de regulamentação directa (normas de emissão; normas tecnológicas; quotas;


inspecção e fiscalização; penalizações);
• Instrumentos de mercado (taxas de emissão, incentivos, direitos transaccionáveis de
emissão, acordos voluntários);
• Instrumentos de informação (inventários; identificação de emissões poluentes, programas de
certificação de instalações industriais e empresas).

D – Níveis de controlo da poluição atmosférica

Nível Local
• Caracterização qualitativa e quantitativa das emissões na fonte;
• Monitorização e avaliação da qualidade do ar ambiente;
• Inventários de fontes e emissões;
• Planos de melhoria da qualidade do ar;
• Incentivo à utilização de veículos menos poluentes;
• Aplicação de legislação (normas de emissão e qualidade do ar);
• Licenciamento / autorização de laboração;
• Inspecção e fiscalização.

Nível Regional
• Inventários de emissões;
• Directivas comunitárias;
• Programas e estratégias de redução (CAFE, acidificação, eutrofização e ozono troposférico);
• Convenções e protocolos de redução das emissões a nível da CE / ONU (Convenção
Poluição Atmosférica Transfronteiriça a Longa Distância e Protocolos).

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 3:

• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet ou em publicações da


especialidade Programas, Estratégias, Convenções e Protocolos, relacionados com
as emissões atmosféricas.

• Registar as linhas de orientação essenciais de cada um dos temas pesquisados


pelos grupos.

• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

Exemplos de objectivos
• Analisar as linhas de orientação dos Programas, Estratégias, Convenções e
Protocolos;
• Debater sobre as diferenças e semelhanças entre as linhas de orientação de cada
um deles;
• Argumentar e concluir sobre a sua eficácia / eficiência.

Nível Nacional
• Inventários de fontes e emissões;
• Planos de redução de emissões (fontes móveis e fixas);
• Combustíveis menos poluentes;
• Fontes de energia alternativas;
• Contratos de melhoria ambiental;
• Avaliação / rede nacional de qualidade do ar;
• Implementação do quadro normativo nacional;
• Aplicação de instrumentos de mercado (taxas de emissão, incentivos fiscais, subsídios).
Nível Global
• Inventários de emissões;
• Identificação de problemas à escala global e definição e implementação de estratégias para a
sua solução (Convenção de Viena para limitação da redução da camada de ozono, Protocolo
de Montreal, Convenção Quadro sobre as Alterações Climáticas e Protocolo de Quioto).

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

2.1.2 – PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS

Qualquer atmosfera contém contaminantes, por exemplo, fungos, sais em suspensão, polén e
partículas sólidas ou fuligens originárias de fogos florestais ou de fenómenos vulcânicos.

Contudo, sobressaem outros contaminantes naturais:

• Hidrocarbonetos libertados pelas plantas resinosas;


• Gás sulfídrico e metano provenientes da decomposição anaeróbia da matéria orgânica;
• Monóxido de carbono, resultante da decomposição do metano.

A estes poluentes naturais juntam-se outras fontes de poluição resultantes da acção humana:
• Uso de combustíveis fósseis para aquecimento, transportes, usos industriais e produção de
energia.

O sector dos transportes são responsáveis pela maioria das emissões de monóxido de carbono,
óxidos de azoto e hidrocarbonetos voláteis, as actividades relacionadas com a indústria e a produção
de energia são responsáveis pela maioria das emissões de partículas e de dióxido de enxofre.

Os poluentes atmosféricos podem surgir sob a forma de partículas ou de gases em mistura com o ar.

Sugestão de actividade 4:

• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar e apresentar algumas soluções para a


redução e controlo de contaminantes atmosféricos. (Quais os equipamentos mais
utilizados consoante o tipo de poluente).

• Justificar a escolha dos equipamentos consoante o tipo de poluentes.

• Registar o resultado da pesquisa.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A – Causas e Consequências

Pode-se considerar poluição atmosférica qualquer contaminação do ar oriunda de desperdícios


gasosos, líquidos, sólidos ou outros produtos que podem pôr em risco a saúde humana, animal ou
vegetal.

A atmosfera tem uma certa capacidade depuradora que garante a eliminação, em condições naturais,
dos materiais nela descarregados pelos seres vivos. O desequilíbrio deste sistema natural, levado a
cabo pelo Homem, conduz à acumulação na atmosfera de substâncias nocivas à vida.

A actividade industrial e a circulação rodoviária são os principais promotores de poluição atmosférica.


As indústrias termoeléctricas, refinarias e fábricas de cimento libertam grandes quantidades de gases
(óxidos de enxofre e de carbono) e poeiras que saturam o ar.

No caso das indústrias químicas, de curtumes e de fertilizantes são particularmente notórios os gases
de cheiro nauseabundo.

Os veículos motorizados, por seu lado, libertam para a atmosfera uma infinidade de gases e outras
substâncias químicas como o monóxido (CO) e dióxido de carbono (CO2), gás sulfuroso,
hidrocarbonetos gasosos, etc., para além dos fumos.

A formação destes gases e poeiras tem várias origens, o CO2 surge através da combustão de
materiais de origem orgânica, como os derivados de petróleo, carvão ou madeira, na presença de
quantidades suficientes de oxigénio, sendo também produzido na respiração do homem, animais,
plantas e microorganismos.
As maiores fontes de CO são os veículos motorizados, quando trabalham em marcha lenta, e os
fornos e fornalhas, quando não estão devidamente regulados.

Paralelamente à poluição da atmosfera com óxidos de carbono crescem também as emissões ácidas,
ou seja, emissão de gases capazes de formar ácidos e que possuem eles próprios características
ácidas.

São característicos destas emissões os gases:

• Dióxido de enxofre (SO2), formados no aquecimento de minérios do grupo dos sulfuretos e na


fabricação de fertilizantes, celulose e ácido sulfúrico;
• Fluoreto de hidrogénio (HF), libertado nas fundições de metais pesados e alumínio, indústrias
de vidro, esmaltes, porcelanas e fertilizantes;
• Cloreto de hidrogénio (HCl), que se forma nas indústrias de fertilizantes, esmaltação de
porcelanas, electroquímica e na combustão de materiais contendo cloro, como o cloreto de
polivinilo (PVC).

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Dentro do grupo de partículas que constituem as “poeiras” destacam-se as partículas de origem não
metálica, como as que são libertadas nas fábricas termoeléctricas alimentadas a carvão, siderurgias,
indústrias de cimento e alguns ramos da indústria química e, as partículas de origem metálica.

O chumbo (Pb) é, dos tóxicos metálicos, o que mais afecta o Homem. Grandes quantidades de
chumbo são libertadas por fundições de chumbo e por alguns ramos da indústria química (por
exemplo, fabricação de plastificantes para a indústria de plásticos).

A maior propagação de chumbo tem por responsáveis os veículos motorizados movidos a gasolina,
isto porque a gasolina contém tetraetilchumbo como antidetonante, que pode permanecer na
atmosfera por um razoável período de tempo. O chumbo finamente dividido e espalhado nas
estradas, é transportado pelas águas da chuva tendo como grave consequência, a contínua
contaminação de campos hortícolas e outras culturas situadas junto às estradas.

A.1 – Efeito de estufa

O aumento da poluição atmosférica, tem vindo a acentuar o "Efeito de Estufa" com o consequente e
indesejável aumento da temperatura na troposfera (camada atmosférica mais superficial).

A energia solar (radiação luminosa) absorvida pela superfície terrestre é convertida em energia
térmica e devolvida sob a forma de calor (radiação de elevado comprimento de onda).

Alguns gases, dos quais se destacam o vapor de água e o dióxido de carbono, são atravessados
pelas radiações de onda curta sem qualquer resistência mas são quase opacos à radiação de
elevado comprimento de onda.

Deste modo, muita da radiação reflectida pela superfície terrestre é retida, provocando o aumento de
temperatura na atmosfera, criando o efeito de estufa.

Do aumento de temperatura resultarão modificações ao nível do regime das precipitações e no ciclo


natural da água, bem como a fusão do gelo dos grandes glaciares, o que provocará profundas
alterações na fauna e na flora e a subida do nível dos oceanos.

Este aumento do nível do mar provocará a migração de dezenas de milhões de pessoas, a redução
das áreas de cultivo e a salinização das fontes de água doce.

A eminência de uma mudança drástica como a alteração da temperatura global do planeta trás
consigo perigos que deviam estar a preocupar muito os diversos governos.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Estes deveriam diminuir as taxas de emissão de gases de Efeito de Estufa (CO2, Metano, Óxido de
Azoto e os CFC’s) para a atmosfera, pelo menos ao nível das actividades industriais e nos
automóveis particulares, encarando o problema com a seriedade que este merece.

Sugestão de actividade 5:

• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar sobre as causas e as consequências do


“efeito de estufa”.

• Criar um conjunto de medidas a implementar de modo a minimizar / eliminar as


causas e as consequências.

• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

• Registar as respostas e guardá-las para, posteriormente, se achar conveniente,


recordar o que foi anotado.

Exemplos de objectivos
• Analisar as causas e as consequências do efeito de estufa;
• Debater sobre as medidas a implementar com o objectivo de as minimizar /
eliminar;
• Argumentar e concluir sobre a sua eficácia / eficiência.

A.2 – Redução da camada de ozono

Um outro problema grave, resultante da poluição do ar, é a destruição progressiva da camada de


ozono. Essa destruição é provocada por produtos químicos libertados pela actividade humana,
especialmente os que contêm cloro e, em particular, os chamados clorofluocarbonetos (CFC), gases
constituídos por cloro, flúor e carbono, muito utilizados em frigoríficos, aparelhos de ar condicionado,
indústria electrónica, artigos de limpeza, entre outros.

Os CFC’s podem subir até à estratosfera sem se modificar, mas, ali chegando, a radiação ultravioleta
quebra as suas moléculas e liberta os átomos de cloro que reagem com o ozono, destruindo-o.

O enfraquecimento da camada de ozono, facilita a passagem das radiações ultravioletas, que


passam a atingir a superfície do Globo em maior quantidade, provocando anomalias nos seres vivos,
como o cancro de pele, deformações, atrofia, entre outros.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Reduzir a poluição é, apesar de tudo, uma das principais preocupações da maioria dos países na
actualidade. É evidente que não se podem fechar as fábricas e mandar parar os automóveis e os
aviões.

Contudo, as novas fábricas poderão adoptar, logo na fase inicial de instalação, essas tecnologias
alternativas como acontece com os automóveis, em que só os que saem agora das fábricas vêm
equipados com sistemas antipoluição (catalisadores) e adaptados ao consumo de gasolina sem
chumbo.

A.3 – Chuvas ácidas

Como são formadas as chuvas ácidas?

As chuvas ácidas formam-se pela combinação, na atmosfera, de alguns gases com vapor de água.

Esses gases podem ser libertados pela Natureza (pelos vulcões, por exemplo) mas na sua maior
parte são formados e libertados pelas actividades humanas.

O que provoca a formação desses gases e por exemplo, a queima de combustíveis fosseis (petróleo,
carvão, gás natural), os motores dos carros (gases de escape) e algumas fabricas que produzem
electricidade (centrais termoeléctricas).
Quando chove, a água da chuva transporta também esses gases para a Terra.
Essa água tem as suas propriedades alteradas, pela presença desses gases, e vai provocar efeitos
graves nas árvores, nos lagos, no solo e nos animais e plantas em geral.

A chuva ácida:
• Corrói as árvores, destruindo as folhas e os ramos;
• Altera a água dos lagos, matando os peixes e outros animais, bem como as plantas, que por
lá vivem;
• Altera o tipo de solo o que provoca a morte de alguns seres vivos, a destruição de culturas,
etc...;

As regiões da Terra que mais afectadas por estas chuvas são a Escandinávia, a Europa Central e a
zona da fronteira oriental entre os Estados Unidos e o Canada - Grandes Lagos.

49
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 6:

• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar sobre os problemas originados pelas


“chuvas ácidas”, o que fazer para prevenir e / ou remediar as suas consequências.

• Criar um conjunto de medidas a implementar de modo a minimizar / eliminar as


causas e as consequências.

• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

• Registar as respostas e guardá-las para, posteriormente, se achar conveniente,


recordar o que foi anotado.

Exemplos de objectivos
• Analisar os problemas causados pelas chuvas ácidas;
• Debater sobre as medidas a implementar com o objectivo de os minimizar /
eliminar;
• Argumentar e concluir sobre a sua eficácia / eficiência.

A poluição atmosférica provoca problemas sérios de saúde na população humana a nível do aparelho
respiratório, nomeadamente, bronquite, asma e cancro do pulmão. Também as plantas e os animais
são gravemente afectados pela poluição do ar.
Os gases tóxicos perturbam o normal desenvolvimento da vegetação, provocando a queda das folhas
e diminuindo, assim, a fotossíntese, a respiração e a transpiração, o que tem como consequência um
crescimento mais lento das plantas e uma menor resistência às intempéries, às doenças e aos
parasitas.

A saúde dos animais é igualmente bastante afectada não só pelo contacto directo com o ar poluído
como pela ingestão de vegetais “envenenados”.

2.1.3 – O CICLO EVAPORAÇÃO – CONDENSAÇÃO

A água existente na superfície terrestre e o vapor de água existente na atmosfera são o tampão
regulador do equilíbrio térmico do nosso planeta.

A evaporação da água requer energia, a qual é retirada da atmosfera e retida no vapor de água, na
condensação, dá-se a libertação desta energia.

Dado que a evaporação ocorre junto da superfície terrestre e a condensação nas regiões superiores
da troposfera, este processo transfere a energia térmica para as camadas superiores da atmosfera.

50
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 7:

• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar dados sobre o ciclo de


evaporação-condensação.

• “Reconstituir” o respectivo ciclo.

• Após análise e debate, registar o ciclo de evaporação-condensação mais completo,


e guardá-lo para, posteriormente, se achar conveniente, recordar o que foi
debatido.

A – Condução

Embora em pequena quantidade e na medida em que as camadas de ar tenham movimento


descendente, quando contactam com a superfície terrestre, capturam a energia térmica nela contida
e conduzem-na para as camadas superiores da atmosfera.

B – Convecção

A convecção, como forma de transferência de calor, é garantida pela ascensão das massas de ar
quente e pela descida das massas de ar frio.

Este fenómeno é a principal causa da transferência de calor entre a terra e a atmosfera. A convecção
é o factor mais importante para o movimento de massas de ar à escala global.

C – Influência dos fenómenos meteorológicos na qualidade do ar

A qualidade do ar é influenciada pelas condições atmosféricas, e, no caso delas serem adversas, os


problemas relacionados com a poluição atmosférica podem assumir proporções desastrosas.

A compreensão da relação entre a poluição do ar e as condições meteorológicas é condição


necessária para a minimização dos seus efeitos adversos.
A dispersão atmosférica dos contaminantes do ar é resultante do vento, da turbulência atmosférica e
da difusão molecular.

A nível local, são a acção do vento e a turbulência atmosférica os principais responsáveis pela
dispersão dos contaminantes do ar, sejam eles gases ou partículas. Esta influência é bem
exemplificada pelos diferentes padrões que a saída de gases por uma chaminé pode assumir.

51
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os parâmetros a observar são:


• Velocidade do vento;
• Temperatura ambiente;
• Altitude;
• Distância horizontal à fonte fixa.

¾ Quando a taxa de descida de temperatura for superior à taxa adiabática, a dispersão e a pluma
de escoamento dos gases é muito irregular. Nestas condições tão instáveis, qualquer vento
provoca a descida dos gases até ao nível do solo e a concentração de poluentes junto do solo e
nas imediações da chaminé. A única medida a tomar nestes casos é o aumento de altura da
chaminé, de modo a evitar o contacto prematuro dos gases com o solo;

¾ Quando a taxa de descida da temperatura for próxima da taxa adiabática, os gases de saída da
chaminé tendem a elevar-se directamente na atmosfera;

¾ Se a velocidade do vento for mais de 35 km/h, a pluma de saída dos gases tende a percorrer
uma trajectória horizontal;

¾ Quando a taxa de descida da temperatura for inferior à taxa adiabática, a atmosfera apresenta
condições de estabilidade e há uma limitada capacidade de mistura dos gases para as
camadas superiores da atmosfera.

2.1.4 – OBJECTIVOS DE CONTROLO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM PORTUGAL

Estabelecimento do quadro normativo relativo às emissões atmosféricas e à concentração de


poluentes no ar ambiente.

Estabelecimento de medidas obrigatórias, preventivas e correctivas a nível das emissões, para


assegurar que os níveis dos poluentes não ultrapassem as normas de qualidade do ar, sendo de
destacar:

• Auto-controlo das emissões industriais para a atmosfera;


• Inventários de emissões;
• Avaliação da qualidade do ar em todo o território nacional.

Com estes objectivos, é prevista a adopção das seguintes medidas:

• Possibilidade de incentivos à introdução de tecnologias que proporcionem a melhoria da


qualidade do ar;

52
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Possibilidade de fixação de uma taxa sobre a rejeição de efluentes na atmosfera;


• Licenciamento prévio dos estabelecimentos poluentes e utilização de instrumentos de
planeamento adequados à prevenção e redução da poluição atmosférica;
• O reforço da educação ambiental relativa às questões de poluição atmosférica;
• O lançamento de programas de investigação no domínio da prevenção e controlo da poluição
atmosférica.

Em Portugal, o Decreto-Lei n.º 352/90 de 9 de Novembro estabelece o enquadramento da política de


protecção e melhoria da qualidade do ar, sendo definidos como objectivos a protecção da saúde
pública, a conservação da natureza e o bem-estar das populações.
(Ver as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 78/2004 de 3 de Abril e legislação
complementar).

Observação:

• Consultar o Decreto-Lei n.º 352/90 de 9 de Novembro (enquadramento da política


de protecção e melhoria da qualidade do ar).
• Ver as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 78/2004 de 3 de Abril e
legislação complementar.
(www.diramb.gov.pt)

Sugestão de actividade 8

• Em grupos de 3/4 elementos, analisar uma sequência de artigos que constem dos
respectivos Decretos-Lei;

• Elaborar um conjunto de questões sobre os artigos atribuídos aos outros grupos;

• Após a análise dos artigos pelos respectivos grupos, cada um dos grupos deverá
colocar as questões elaboradas.

Observação:
A protecção da qualidade do ar está enquadrada no Capítulo II do Decreto-Lei n.º 352/90
de 9 de Novembro, artigos 5° a 8° e prevê o controlo das concentrações atmosféricas para
dióxido de enxofre, partículas em suspensão, dióxido de azoto, monóxido de carbono,
ozono e chumbo, devendo ser definidos, para estes poluentes, os valores limite e os
valores guia de referência.

Os valores limite destes poluentes no ambiente não deverão, por norma, ser excedidos. Os
valores guia, mais rigorosos, têm como objectivo a protecção da saúde e do ambiente a
longo prazo, e são considerados valor limite em certas áreas classificadas.

53
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O controlo do estado ambiental da atmosfera é realizado por estações de medida, dispersas pelo
território nacional e localiza-se em:

• Zonas sob a influência predominante da poluição devida ao tráfego automóvel, limitadas às


vizinhanças das vias de circulação com grande densidade de tráfego;

• Zona onde as emissões provenientes de fontes fixas (sobretudo de origem industrial) possam
contribuir igualmente de um modo importante para a poluição.

Sugestão de actividade 9

• Visita a uma estação de medida da qualidade do ar em zonas urbanas.

Exemplos de objectivos
• Compreender o funcionamento das estações de medida da qualidade do ar em
zonas urbanas;
• Conhecer os principais equipamentos utilizados.

Procedimentos
• Durante a visita, em grupos de 3/4 elementos captar imagens, fotografias e recolher
documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, elaborar um resumo sobre a estação visitada;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

54
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 10

• Visita a uma estação de medida da qualidade do ar cujas emissões sejam


provenientes de fontes fixas (indústrias).

Exemplos de objectivos
• Compreender o funcionamento deste tipo de estações de medida da qualidade do
ar;
• Conhecer os principais equipamentos utilizados.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo elaborar um resumo sobre a
estação visitada;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

Sugestão de actividade 11

• Os mesmos grupos das actividades anteriores devem elaborar um trabalho sobre


uma das estações de medida da qualidade do ar.

Exemplos de objectivos
• Compreender o funcionamento das estações de medida da qualidade do ar;
• Conhecer os principais equipamentos utilizados.

Procedimentos
• Elaborar um trabalho sobre uma das duas estações visitadas;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação tendo em consideração as diferenças e
semelhanças encontradas entre as duas estações de medida da qualidade do ar;
• Avaliação critica dos trabalhos.

A – As normas de emissão

Observação:
As normas de emissão por fontes fixas, onde se incluem as de origem industrial, são
enquadradas no Capítulo III, artigos 9° a 17°.

55
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Destas normas destaca-se o princípio do auto-controlo dos valores limite das emissões, o qual,
dependendo de condições definidas na portaria 286/93 de 12 de Março, poderá ter de se realizar em
contínuo ou pontualmente, e, neste caso, pelo menos duas vezes por ano.

Observação:
O artigo 11º do Decreto-Lei n.º 352/90 de 9 de Novembro, estabelece que no caso de
medições contínuas, excepto nas situações previstas, os valores limite de emissão
consideram-se respeitados se a avaliação dos resultados demonstrar que, para as horas de
funcionamento da fonte de emissão durante um ano civil:

a) Nenhum valor médio de um mês de calendário excedeu os valores limite de


emissão;
b) Nenhum valor médio diário excedeu em mais de 30% os valores limites de
emissão.

Destaque para o artigo 12º, que nos casos em que as medições podem ser descontínuas, as nas
medições efectuadas, não poderá ser excedido o limite de emissão de qualquer dos parâmetros a
controlar.

São admitidas ultrapassagens aos valores limite de emissão em situações de arranque e paragem
programada das instalações ou por avaria das mesmas, desde que essas situações não excedam 16
horas ininterruptas nem ultrapassem as 170 horas anuais por fonte de emissão, situação prevista no
artigo 13º.

São também previstas situações de excepção, a autorizar caso a caso, quando o combustível ou
matéria-prima geralmente utilizada comportar rupturas de abastecimento e no caso de queima de
combustíveis sólidos produzidos no país cujas características não permitem, a custo comportável, a
observância dos valores limite de emissão.

B – O controlo das emissões de poluentes atmosféricos

A instalação, ampliação ou alteração de estabelecimentos industriais que sejam fonte de emissão de


poluentes atmosféricos estão sujeitas, para além do processo de licenciamento industrial, ao
cumprimento dos valores limite de emissão, e à compatibilidade com as normas de qualidade do ar,
cuja verificação é da competência dos serviços do Ministério do Ambiente.

No âmbito desta verificação, estão sujeitos a parecer prévio dos serviços do Ministério do Ambiente,
nos termos do artigo 20º:

56
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Estabelecimentos industriais classificados como de 1ª classe pelo Regulamento de Instalação e


Laboração de Estabelecimentos Industriais (RILEI):

• Fabrico de pasta de papel;


• Indústrias químicas básicas, incluindo adubos;
• Produção de óleos e gorduras;
• Fabrico de vidro e filtros de vidro;
• Fabrico de cimento e produção de cal;
• Produção de fibrocimento;
• Produção e transformação de amianto e fabrico de produtos à base de amianto;
• Indústrias básicas de ferro e aço;
• Indústrias básicas de metais não ferrosos;

Estabelecimentos sujeitos a regime especial:

• Refinarias de petróleo bruto;


• Aquecimento e energia por meio de vapor;
• Fabrico de substâncias explosivas;
• Fabrico de fósforo;
• Fabrico de emulsões de asfalto;

Instalações de eliminação de resíduos:

• Incineração de resíduos sólidos urbanos;


• Incineração de resíduos tóxicos e perigosos;
• Incineração de resíduos hospitalares e equiparados.

Observação:
De acordo com o disposto no artigo 25º do Decreto-Lei n.º 352/90 de 9 de Novembro, é
expressamente proibida em todo o território nacional a queima a céu aberto de qualquer
tipo de resíduos urbanos, industriais, tóxicos ou perigosos, bem como de todo o tipo de
material designado correntemente por sucata.

2.1.4 – CONTROLO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM PORTUGAL

A – Inventários de emissões

• Decisão política e informação da população em geral;

57
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Definição de prioridades ambientais, evidenciando as contribuições relativas das principais


fontes poluidoras;
• Estabelecimento de objectivos;
• Avaliação de potenciais impactes ambientais;
• Desenvolvimento de opções políticas para reduzir e controlar as emissões e a sua eficácia;
• Avaliação dos custos e benefícios das diferentes opções;
• Avaliação do estado do ambiente e se os objectivos estão a ser atingidos;
• Verificação do cumprimento de legislação e acordos internacionais.

Inventário nacional – evolução das emissões de SO2 (1990-1999)

400,000

350,000

300,000
Outros
250,000
SO2 (t)

Processos de Produção

200,000 Outras fontes m óveis e


m aquinaria
150,000 Com bustão na indus tria

Com bustão na produção e


100,000 transformação de energia
Total (sem "Vegetação
50,000 natural e fogos")

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

* Outros inclui: combustão não industrial, extracção e distribuição de combustíveis,


uso de solventes, transporte rodoviário, tratamento e deposição de resíduos,
agricultura, vegetação natural e fogos

Fonte: Direcção Geral do Ambiente

58
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Inventário nacional – evolução das emissões de NOx (1990-1999)

400,000
Outros
350,000
Outras fontes móveis e maquinaria
300,000
Transporte Rodoviário
250,000
NOx (t)

Combustão na indústria
200,000
Combustão na produção e
150,000 transformação de energia
Total (sem "Vegetação natural e
100,000 fogos")

50,000

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Fonte: Direcção Geral do Ambiente

Inventário nacional – evolução das emissões de CO2 (1990-1999)

80,000

70,000
Outros

60,000 Vegetação natural e Fogos

50,000
CO2 (kt)

Transporte rodoviário

40,000 Combustão na indústria

30,000 Combustão não industrial

Combustão na produção e transformação


20,000 de energia
Total (sem "Vegetação natural e fogos")
10,000

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Fonte: Direcção Geral do Ambiente

59
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Plano de acção da qualidade do ar

• Avaliar a situação existente do continente e nas Regiões Autónomas dos Açores e da


Madeira;
• Identificar as áreas mais críticas onde será necessário estabelecer planos de acção para
reduzir os níveis de poluentes;
• Definir as metodologias a utilizar na avaliação e gestão da qualidade do ar;
• Obter informações adequadas sobre a qualidade do ar e disponibilizá-las ao público.

C – Condicionantes atmosféricas

A temperatura é a mais importante das variáveis que condicionam as condições climáticas.


A energia térmica na atmosfera provém do sol sob a forma de radiação de onda curta, a maior parte
dessa energia é reflectida pela terra sob a forma de radiação de ondas longas, normalmente não
visíveis.

Esta reflexão tem valores muito variáveis, sendo máxima no caso de neve, gelo ou areia e mínima
para florestas ou campos cultivados.
Apenas uma pequena fracção dos raios solares é absorvida pelo ozono, vapor de água, dióxido de
carbono, fuligem e nuvens baixas; logo, a superfície da terra é o principal receptor da energia solar.

Deste fenómeno resulta que a troposfera é principalmente aquecida pela superfície terrestre, e não
directamente a partir da energia solar.

Actividade 11:
Os formandos deverão apresentar um conjunto de medidas que favoreçam a diminuição da
poluição atmosférica.

Recomendação:
De modo a obter informações sobre “chaminés” consultar o anexo B, no final do tema.

60
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Módulo 2.2 – Poluição Sonora

Objectivos específicos:

a) Distinguir os diferentes conceitos;

b) Compreender o funcionamento do ouvido humano;

c) Analisar os aspectos relacionados com o ruído;

d) Conhecer as características do som;

e) Identificar os tipos de fontes sonoras;

f) Conhecer os tipos de som e formas de onda do sinal;

g) Conhecer os parâmetros do nível sonoro;

h) Debater acções para o controlo do ruído;

i) Conhecer a Legislação aplicável.

61
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

2 – POLUIÇÕES

2.2 – POLUIÇÃO SONORA

2.2.1 – SOM

Sugestão de actividade 1:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma, debater questões / problemas
sobre a poluição sonora.
• Registar as questões apontadas pelos grupos.
• Após análise e debate, as questões mais pertinentes deverão ser listadas.
• Cada grupo deverá desenvolver uma das questões seleccionadas, recorrendo a
notícias e artigos, referentes ao tema, em jornais, revistas, bibliografia e Internet.

• Exemplos de objectivos
• Enumerar questões/problemas associados à poluição sonora.
• Analisar e debater a problemática associada à poluição sonora.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

O som é uma parte integrante do dia-a-dia, quase que passa despercebido e é definido como
qualquer variação de pressão que o ouvido pode detectar.

É definido como a variação da pressão atmosférica dentro dos limites de amplitude e banda de
frequência aos quais o ouvido humano responde. O limiar da audição, isto é, a pressão acústica
mínima que o ouvido humano pode detectar é de 20*10-6 N/m2 na frequência de 1KHz, este valor
corresponde ao som mais fraco que o indivíduo médio consegue ouvir. Uma pressão sonora de 100
N/ m2 é tão elevada que causa dor e por isso é considerado o limiar da dor.

O ouvido humano não é igualmente sensível a todos os sons, a gama de frequência audível situa-se
entre os 20Hz e os 20 KHz. Comparando com a pressão do ar (em Pascal), a variação da pressão
sonora é perceptível pelo ouvido humano na gama de 20µPa a 100 Pa, para um indivíduo médio em
plena posse das suas capacidades auditivas.

É comum exprimir o nível de pressão sonora em decibel, dB. Este, é uma razão logarítmica entre a
pressão sonora verificada e o valor de referência. A escala de valores de nível de pressão sonora
varia entre 0 dB (limiar da audição) e 130 dB (limiar da dor).

62
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Há uma maior sensibilidade do ouvido às frequências médias, onde se expressa a voz humana. Para
reproduzir essa sensibilidade utiliza-se o decibel corrigido com um filtro de ponderação de
frequências, dB (A).

No nosso país a poluição sonora constitui a causa da maior parte das reclamações ambientais e a
análise dos dados disponíveis indica que a situação se agravou nos últimos anos.

2.2.2 – RUÍDO

Não é fácil apresentar uma definição de ruído, que possa considerar-se plenamente satisfatória. Em
acústica, o problema da definição de ruído não se confina ao domínio da física, devendo ser tomados
igualmente em consideração aspectos de natureza biológica e psicológica. Deste modo, é corrente
dizer-se que ruído é um som desagradável ou indesejável, considerado factor de incomodidade e
desconforto, para quem o recebe.

O ruído tornou-se um dos principais factores de degradação da qualidade de vidas das populações.
Constitui um problema que tende a agravar-se devido, sobretudo, ao desenvolvimento desequilibrado
da urbanização, ao aumento significativo da mobilidade das populações e ao aumento da
mecanização.

63
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O ruído tem vindo a aumentar no espaço e no tempo, sendo o tráfego automóvel uma das fontes
sonoras mais poluentes. Contudo, outras fontes, tais como tráfego aéreo e ferroviário, o
funcionamento de equipamentos industriais e domésticos e o ruído da vizinhança têm tendência a
desenvolver-se e a multiplicar-se.

Além disso, a intensidade do ruído atinge em muitos casos níveis preocupantes, afectando de
diversas formas a saúde física e mental, com consequências mais ou menos graves que vão desde o
simples incómodo à afectação da audição.

A subjectividade na apreciação dos sons depende da qualidade do som e da atitude:


• Ruídos de fraca intensidade podem incomodar, por exemplo uma torneira a pingar;
• Durante o dia a tolerância ao ruído é maior;
• Ondas de choque causadas por aviões supersónicos podem estilhaçar vidros;
• Traumatismos no mecanismo auditivo humano (podem ser temporários ou permanentes).

Poluição Sonora é qualquer alteração das propriedades físicas do meio ambiente causada por som
puro ou conjugação de sons, admissíveis ou não, que directa ou indirectamente seja nociva para a
saúde, segurança e bem-estar.

A exposição contínua a níveis de ruído elevados pode causar graves efeitos sobre a saúde do
Homem, que se manifestam fundamental ao nível fisiológico, psicológico e social. O grau de
afectação resultante depende das características da própria fonte, frequência e intensidade do ruído,
da sensibilidade do receptor e da duração da exposição ao ruído.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a exposição contínua a níveis de ruído superiores
a 50 decibéis pode causar deficiência auditiva, verificando-se, no entanto, variação considerável de
indivíduo para indivíduo relativamente à susceptibilidade ao ruído.

64
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 2:
• Em grupos de 3/4 elementos, elaborar um documento, onde, para cada intervalo de
nível de ruído, seja descrita:
1. A reacção do corpo humano;
2. Os efeitos negativos para a saúde humana;
3. Exemplos de locais com o intervalo de nível de ruído em causa.
• Analise e debate dos documentos apresentados pelos grupos.

2.2.3 – O FUNCIONAMENTO DO OUVIDO HUMANO

O ouvido humano é o mais sofisticado sensor de som. Devido à deterioração do sistema auditivo por
exposição prolongada ao ruído, é necessário que se tenha conhecimento sobre o funcionamento do
sistema de audição.

O ouvido humano é um sistema muito sensível, delicado, complexo e discriminativo que permite
perceber e interpretar o som.

O ouvido pode ser dividido em três partes:


• Externo;
• Médio;
• Interno.

Sugestão de actividade 3:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet, bibliografia ou outros, imagens
e esquemas do ouvido humano.
• Apresentar os resultados da pesquisa e explicar o funcionamento do ouvido
humano.
• Analisar e debater os trabalhos apresentados.

2.2.4 – OS EFEITOS DO RUÍDO NA SAÚDE

A Poluição Sonora é tratada hoje em dia como uma contaminação atmosférica através da energia
(energia mecânica ou acústica), provocando efeitos em todo o organismo e não apenas no aparelho
auditivo. Ruídos intensos e permanentes podem causar diversos distúrbios, alterando
significativamente o humor e a capacidade de concentração nas acções humanas. Provoca
interferências no metabolismo de todo o organismo com riscos ao nível dos aparelhos cardiovascular
e auditivo, inclusive a perda auditiva, quando induzida pelo ruído é geralmente irreversível. Qualquer
redução na sensibilidade de audição é considerada perda de audição.

65
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os efeitos do ruído podem ser temporários ou permanentes. O modo de os avaliar consiste em


determinar as variações de sensibilidade, ou seja, as alterações dos limiares de audição (desvio dos
limiares antes e depois da exposição). Conforme exista ou não recuperação, os desvios serão
temporários ou permanentes. O valor dos efeitos temporários depende da amplitude, da frequência e
da duração da exposição ao ruído.

O primeiro efeito físico de exposição a níveis elevados de ruído é a perda de audição na banda de
frequências de 4 a 6KHz. Normalmente o efeito é acompanhado pela sensação de percepção do
ruído após o afastamento do campo ruidoso. Este efeito é temporário, e portanto, o nível original do
limiar de audição é recuperado.

As células nervosas no ouvido interno são danificadas, portanto, o processo da perda de audição é
irreversível. Os desvios permanentes podem, ainda, resultar de um trauma auditivo.

O ruído pode provocar efeitos psicológicos e fisiológicos.

Sugestão de actividade 4:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet, bibliografia ou outros, os
efeitos psicológicos e fisiológicos provocados pelo ruído
• Apresentar os resultados da pesquisa.
• Analisar e debater os trabalhos apresentados.

A gestão e controlo da exposição ao ruído do indivíduo ou da comunidade deve ter como principal
objectivo a protecção da saúde da população. A interferência do ruído no repouso, descanso e sono é
a maior causa de incómodo, salientando que a incidência de maior intensidade se verifica na forma
de ruído intermitente, como por exemplo: passagem de veículos pesados, passagens de aviões
próximo às habitações.

O ruído pode dificultar o adormecer e causar sérios danos ao longo do período de sono profundo
proporcionando o inesperado despertar.

Os níveis de ruído associados a eventos pontuais podem criar distúrbios momentâneos nos padrões
naturais do sono, por causar alterações nos estágios leve e profundo do mesmo. O problema está
relacionado com a descarga de hormonas, provocando o aumento da pressão sanguínea, aumento
da produção de adrenalina e perda de orientação espacial momentânea. Despertar de um sono
depende do estágio do sono, dos horários nocturnos e matinais, idade do indivíduo entre outros
factores.

66
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A – Perda de audição por idade

Existe um outro tipo de perda de audição, especialmente nas altas frequências originadas pelo
envelhecimento.

2.2.5 – O RUÍDO COMO FACTOR DE INCOMODIDADE

A incomodidade atribuível a um estímulo sonoro que se identifica em relação ao ruído de fundo


parece derivar directamente do carácter intrusivo daquele estímulo, pelo que a avaliação do grau de
incomodidade se processa com base na amplitude da emergência do estímulo perturbador
relativamente ao ruído de fundo.

A técnica de avaliação do grau de incomodidade está fixada na Norma Portuguesa 1730 (grau de
reacção humana ao ruído) estabelecendo-se naquele documento normativo que a incomodidade é
proporcional ao parâmetro em que Leq representa o nível sonoro contínuo equivalente corrigido do
estímulo perturbador, expresso em dB (A), e L95 representa o nível de ruído de fundo (ausência do
estímulo perturbador) com a probabilidade de 0.95 de ser excedido, expresso em dB (A).

A – O ruído como factor de trauma

A exposição prolongada em ambientes onde o nível sonoro atinge valores muito elevados vai
provocar a destruição progressiva das células ciliadas do órgão de Corti.

Estas células do ouvido interno não são regeneráveis e têm um papel fundamental no processo de
audição. Em termos médios, pode dizer-se que a probabilidade da audição ser afectada se torna
significativa para valores do nível sonoro contínuo equivalente de cerca de 80 dB (A), considerando
que se verifica a permanência das condições de exposição, como ocorre habitualmente em ambiente
laboral.

A perda de audição, consequente da exposição a ambientes acusticamente agressivos, é


caracterizável pelo facto da banda de frequências onde se detecta em primeiro lugar o desvio do
limiar de audição, se localizar na vizinhança dos 4 000Hz. Com a continuação da exposição, dá-se o
alastramento da afectação para outras bandas de frequência.

2.2.6 – NATUREZA DO SOM - CARACTERÍSTICAS

O som resulta de uma vibração de um meio elástico capaz de estimular uma sensação auditiva e
caracterizar-se pela sua frequência, pela sua intensidade e pelo seu timbre.

67
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Isto é, o som é a forma de energia transmitida pela colisão sucessiva de partículas do meio, ou seja,
é a variação de pressão ou da velocidade do meio, representado por uma série de compressões e
rarefacções.

Só é detectado pelo ouvido humano apenas se a amplitude das flutuações e a frequência com que
ocorrem estiverem dentro de determinadas gamas.

• Zona áudio – frequência entre os 20 e os 20 000Hz;


• Ultra-sons – acima da gama de audição e podem provocar dor, (frequências acima dos 20
000Hz);
• Infra-sons – não são audíveis (frequências abaixo dos 20Hz)

A frequência é o conceito a que está ligado o carácter repetitivo do som, definindo-se como o número
de vezes que a grandeza periódica se reproduz identicamente a si própria na unidade de tempo (s).
Exprime-se em Hertz (Hz) – número de flutuações, ciclos ou períodos por segundo.

O ouvido distingue facilmente dois sons de frequências ou alturas diferentes. Chama-se intervalo de
dois sons à razão das respectivas alturas. Se a razão for 2, o intervalo diz-se de oitava. A extensão
em altura no domínio da percepção sonora é muito grande, cerca de 10 oitavas, pois distinguem-se
sons cujas frequências estão compreendidas entre 20 e 20 000Hz.

Segundo a frequência os sons classificam-se em graves, 20 a 360Hz, médios, de 360 a 1400Hz e


agudos, de 1400Hz a 20 000Hz.

A Intensidade do som é a característica que permite distinguir um som forte de um som fraco, estes
dependem da amplitude das vibrações.

O Timbre é a característica do som que permite distinguir diversos sons compostos com a mesma
frequência fundamental, mas de composição espectral diferente.

Amplitude – de pressão acústica é a magnitude da flutuação da pressão, em newton/m2 ou pascal


(Pascal);
Frequência – taxa de ocorrência da flutuação completa de pressão, em ciclos/segundo ou Hertz (Hz).

A – Sensibilidade auditiva humana

Pressão: Mínimo = 20 * 10-6 milibar (0.00002 Pa ou N/m2);


Máximo = 1 milibar (100 Pa ou N/m2) – limiar da dor
Frequência: Mínimo = 20 Hz;
Máximo = 20 KHz.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Propriedades físicas do som

Uma fonte sonora emite uma determinada quantidade de energia sonora por unidade de tempo
(joule/s = potencia sonora, W (watt), é independente da envolvente acústica e avalia a quantidade de
energia sonora. Radia energia da fonte sonora e cria um determinado campo sonoro na sala. A
pressão sonora depende não só do campo acústico mas também da quantidade de energia absorvida
e transmitida.

C – Parâmetros básicos do som

Em condições de campo livre, quando o som é produzido por uma fonte sonora, com potência sonora
P, dá-se uma transferência de energia da fonte para as moléculas de ar adjacentes, segundo uma
propagação radial. O fluxo de energia numa determinada direcção, através de um elemento de
superfície é designado por Intensidade sonora, I. Em cada ponto à volta da fonte sonora, este fluxo
de energia origina uma pressão sonora p.

Estes três parâmetros básicos do som estão relacionados da seguinte forma:

P p2
I= =
4 πr 2 ρ c
Em que:
r – Distância à fonte;
ρ – Densidade do ar;
c – Velocidade do som.

Esta fórmula mostra que a potência sonora, P, é proporcional à intensidade sonora, I, e proporcional
ao quadrado da pressão sonora, p. Do mesmo modo, verifica-se que a intensidade sonora e a
pressão sonora diminuem com o quadrado da distância à fonte.

D – Unidades

Potência sonora – W (Watt);


Intensidade sonora – W/m2;
Pressão sonora – Pa (Pascal = N/m2).

A intensidade sonora e a pressão sonora podem ser medidas directamente utilizando instrumentos
apropriados.

69
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A potência sonora pode ser calculada a partir de medições de pressão sonora ou intensidade sonora
e fazendo as correcções necessárias à envolvente acústica no caso da pressão e apenas à superfície
de medição no caso da intensidade.

E – Pressão sonora

A Pressão sonora define-se como a variação de pressão atmosférica ambiente relativamente à


pressão estática atmosférica.

Quando uma fonte sonora, como um diapasão, vibra, provoca variações de pressão no ar ambiente,
que se sobrepõem à pressão estática do ar que tem o valor de 105 Pa.

A Pressão sonora é o parâmetro utilizado quando o objectivo é a avaliação de situações de


incomodidade ou de risco de trauma auditivo.

F – Potência sonora

Qualquer fonte de ruído radia energia sonora, a taxa a que esta energia é radiada na unidade de
tempo representa a Potência sonora da fonte em causa.

A Potência sonora é independente da localização da fonte sonora e caracteriza o som emitido pela
fonte, deste modo, serve fundamentalmente para classificar, em termos quantitativos as fontes de
ruído.

G – Intensidade sonora

A Intensidade sonora é a quantidade média de energia que atravessa na unidade de tempo a unidade
de superfície disposta normalmente à direcção de propagação. É uma grandeza vectorial cuja
amplitude fornece a Potência sonora radiada por unidade de área numa determinada direcção.

A Intensidade sonora permite localizar e quantificar as fontes de ruído, sendo por isso extremamente
útil no estudo de soluções para controlo de ruído.

H – Potência sonora – Gama audível

Testes realizados num conjunto alargado de pessoas permitiram concluir que um ser humano em
perfeitas condições auditivas, consegue detectar Pressões sonoras desde os 20 * 10-6 Pa (limiar da
audição) até aos 100 Pa (limiar da dor), em que Pa (Pascal) é a unidade em que se expressa a
Pressão sonora.

70
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Assim sendo, a escala de Pressão sonora audível pelo ser humano apresenta-se extraordinariamente
extensa e consequentemente impraticável. Por este motivo, foi abandonada a escala linear de
Pressão sonora, em Pascal, tendo-se comprimido esta através do operador logarítmico decimal,
passando-se a uma escala logarítmica de Nível de Pressão sonora, expressa em decibel (dB).

2.2.7 – TIPOS DE FONTES SONORAS

• Fonte pontual – quando a distância à fonte aumenta para o dobro, a pressão sonora diminui
para metade;
• Fonte linear – propagação sonora hemicilíndrica;
• Fonte plana – propagação de ondas planas (pistão), o fluxo é constante, logo, não existe
variação de pressão.

A – Recintos fechados

O som radiado atinge uma superfície (paredes, tecto, chão), a energia incidente é reflectida,
absorvida e transmitida.

Uma câmara reverberante é uma sala com superfícies muito reflectoras, em que a energia sonora é
reflectida e é criado um campo sonoro uniforme.

Uma câmara anecóica é uma sala com superfícies muito absorventes, onde toda a energia sonora
radiada é absorvida, como se se tratasse de um campo livre.

B – Parâmetros descritores

Nível sonoro contínuo equivalente

O Nível sonoro contínuo equivalente (Leq) é um dos parâmetros mais importantes. Representa o
nível sonoro em dB(A), de um ruído uniforme, que contém a mesma energia sonora que o ruído
medido, no intervalo de tempo de referência.

• Por exemplo utilização nas medições de posto de trabalho

Nível sonoro contínuo equivalente, LAeq, T, ponderado A de um ruído num intervalo de tempo T: o
nível sonoro contínuo equivalente ponderado A de um ruído num dado intervalo de tempo T, é
expresso em dB(A) pela seguinte relação:

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

⎧ 1 t 2 PA2 (t ) ⎫
L Aeq.T = 10 log ⎨ ∫ 2 dt ⎬
⎩ T t1 P0 ⎭

Em que:
T= t2 – t1 = tempo de exposição de um trabalhador ao ruído no trabalho;
PA (t) = pressão sonora instantânea ponderada A, expressa em pascal, a que está exposto, com o ar
à pressão atmosférica;
P0 = 20µPa = 2*10-5

Parâmetros estatísticos

A análise do tempo pode também ser abordada do ponto de vista da distribuição do ruído ao longo do
tempo, fazendo uma análise estatística.
O parâmetro utilizado é o LN, que representa o nível sonoro, em dB (A), que é excedido em N% do
tempo de medição.

Os parâmetros estatísticos mais utilizados são:


• L1 – para caracterizar os níveis máximos ocorridos;
• L95 – para caracterizar o ruído de fundo ambiente;
• L99 – para caracterizar os níveis mínimos ocorridos;
• L10, L50, L90 – para caracterizar os ruídos intermitentes (tipo ruído de tráfego).

C – Adição de dB’s

A adição de Níveis de Pressão sonora pode ser efectuada de duas formas:

1. Somando-os logaritmicamente, através da expressão:

⎡ n 0.1Lpi ⎤
L Ptotal = 10 log ⎢∑ 10 ⎥
⎣ i =1 ⎦

72
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

2. Recorrendo ao ábaco de adição de dB’s e, somando os Níveis de pressão sonora dois a dois.

D – Subtracção de dB’s

Semelhante à adição de Níveis de pressão sonora, a subtracção de dB’s também pode ser realizada
de duas formas distintas:

• Transformando os Níveis de pressão sonora em pressões sonoras, subtraindo-as e


convertendo o resultado em Nível de pressão sonora;

• Recorrendo ao ábaco de subtracção de dB’s, e subtraindo os Níveis de pressão sonora.

2.2.8 – TIPOS DE SOM E FORMAS DE ONDA DO SINAL

Pode-se representar um sinal no tempo ou em frequência. No tempo, é a evolução do sinal ao longo


do tempo, em frequência é a descrição do sinal em termos do seu conteúdo em frequência
(incomodidade, risco de trauma).

O som puro ou simples é o som originado por ondas sinusoidais, em que o tempo da duração da
oscilação é constante. Corresponde a uma variação sinusoidal da pressão do ar num ponto qualquer.
O tempo é denominado por período e exprime-se em segundos.

1
T=
f

¾ Se o período for longo, a frequência baixa, o som percebido pelo ouvido é grave;
¾ Se o período for curto, a frequência alta, o som é agudo.

73
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O som complexo ou composto, resulta da sobreposição de um som simples ou puro, de frequência


f0 (som fundamental) e sons simples de frequência n* f0 (sons harmónicos), com n inteiro e é
representado por uma curva irregular.

A – Frequência vs Comprimento de onda

O ruído emitido por uma fonte propaga-se ao meio adjacente através de ondas sonoras, a uma
velocidade constante. No ar, essa velocidade, c, é da ordem dos 340m/s.

A propagação das ondas sonoras no ar é caracterizada por ondas de pressão máxima e zonas de
pressão mínima, de tal forma que a distância entre dois pontos consecutivos de valor máximo ou de
valor mínimo é constante. Essa distância denomina-se comprimento de onda, λ, e exprime-se em
metros.

Por outro lado, o número de variações de pressão por segundo denomina-se frequência da onda, f, e
exprime-se em Hz (ciclos por segundo).

Estes parâmetros que caracterizam a propagação de uma onda sonora, velocidade de propagação,
comprimento de onda e frequência estão relacionados entre si através da seguinte expressão:

c
λ=
f

Desta forma, a frequência e o comprimento de onda são inversamente proporcionais, pelo que às
baixas frequências correspondem grandes comprimentos de onda, enquanto que às altas frequências
correspondem pequenos comprimentos de onda.

A pressão sonora instantânea é a variação da pressão relativamente ao seu valor de equilíbrio, num
determinado ponto e num instante t.

p (t) = p – p0

p – pressão do ar em presença da onda acústica;


p0 – pressão atmosférica.

B – Difracção

Quando se quer prever o efeito de um obstáculo, tem que se conhecer o comprimento de onda.
Quando o objecto é maior que o comprimento de onda, λ, existe o efeito de barreira sonora, pelo
contrário, quando o objecto é mais pequeno que λ, o efeito de barreira sonora é desprezível.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

C – Tipos de sinal e ruído

• Determinísticos – quando o sinal se repete no tempo, periodicamente, e o espectro de


frequência contém sons puros (máquinas);

• Aleatórios – a amplitude varia de forma aleatória e nunca se repete no tempo e o espectro


de frequência é rico em todas as frequências (chuva);

• Impulsivos – contém energia num espectro largo de frequência.

D – Filtros e bandas de frequência

A análise em frequência permite conhecer a composição do som, pois a utilização de filtros apenas
deixam passar uma banda definida de frequências. A amplitude do sinal filtrado determina o nível
sonoro a essa frequência.

Para medir o nível sonoro a várias frequências tem de se fazer passar o sinal por um banco de filtros,
cada um com a sua frequência central, f0.

Filtros mais utilizados

Bandas de oitava (1/1) – a frequência limite superior, f2, é aproximadamente o dobro da frequência
limite inferior f1.
f2 = 2 f1

Bandas de terços de oitava (1/3) – tem uma largura de banda aproximadamente igual a 23% da sua
frequência central, f0.

f 2 = 3 2 f1 = 1 .25 f1

Gama audível – dividida em 10 oitavas e 30 1/3 de oitavas.

E – Espectro de frequência

O espectro de frequência apresenta a análise do sinal em banda fina, em 1/3 de oitava e em oitava. A
soma de 3 bandas consecutivas de 1/3 oitava é igual ao valor da banda de oitava correspondente.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

F – Medições

Existem duas medidas do sinal de ruído que são fundamentais na avaliação do risco de trauma
auditivo e/ou situações de incomodidade.

Essas duas medidas são o valor Pico, definido como a amplitude máxima instantânea do ruído e o
valor RMS, definido como o valor eficaz do ruído e que traduz a quantidade energética deste. Os
Níveis de pressão sonora são sempre valores RMS, excepto indicação contrária.

G – Tipos de ruído e respectiva medição

Sugestão de actividade 5:
• Em grupos 3/4 elementos, pesquisar na Internet e em publicações da
especialidade, os vários tipos de ruído.
• Para cada tipo de ruído estabelecer o tipo de fonte, tipo de medição, quais os
instrumentos utilizados e recomendações / observações.
• Apresentar os seus resultados da pesquisa.

Sugestão de actividade 6:
• Em grupos de 3/4 elementos e através da utilização de sonómetros, medir o nível
do ruído ambiente na área envolvente às instalações, como por exemplo sala de
aula, bar / cantina, rua movimentada, entre outros.
• Após as medições, compare os resultados obtidos nos diferentes espaços.

2.2.9 – PARÂMETROS DO NÍVEL SONORO

Um sinal proveniente do microfone, convertido no detector num sinal pode representar um dos
seguintes parâmetros:
• Valor pico: amplitude máxima do sinal;
• Valor pico-pico: distância entre a amplitude máxima positiva e a amplitude máxima negativa;
• Valor médio: média do sinal num determinado intervalo de tempo;
• Valor eficaz, RMS: traduz a quantidade de energia que o sinal sonoro contém.
A – Tempo de resposta

Existem 3 tempos de resposta normalizados internacionalmente:


• Slow (lenta) – 1s;
• Fast (rápida) – 125 ms;
• Impulsiva – 35 ms.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Dada a grande diversidade de fontes sonoras, a resolução dos problemas postos pelo ruído implica a
intervenção de diversas entidades a vários níveis e, consequentemente, exige uma elevada coerência
na coordenação e ligação entre elas.

São muitos os factores que contribuem para a grande acuidade que os problemas derivados da
poluição sonora assumem hoje em dia, podendo destacar-se, em especial nos meios urbanos:

• Grande concentração demográfica associada a graves deficiências no planeamento urbano,


com um consequente aumento de tráfego;
• Utilização de dispositivos electromecânicos auxiliares e de equipamento de reprodução e
amplificação sonora, por parte de um número crescente de utilizadores;
• Adopção de formas de construção, que não asseguram o isolamento sonoro adequado.

Proveniência do ruído Alguns factores que conduzem à ocorrência de poluição sonora


• Localização;
• Inserção de actividades ruidosas em edifícios de utilização
mista;
• Organização do espaço interior;
Habitacionais • Utilização de elementos de construção (com predominância de
pavimentos) com isolamento sonoro deficiente;
• Utilização de equipamentos ruidosos (nomeadamente
dispositivos de elevação e canalizações de águas e resíduos
sólidos).

• Localização;
• Organização deficiente dos espaços;
• Ausência de condicionamento acústico, nomeadamente em
Edifícios Escolares
salas polivalente, refeitórios e ginásios;
• Utilização dos sistemas de pré-fabricação, particularmente
quando aligeirada.
• Localização;
Hospitalares • Organização deficiente dos espaços;
• Equipamentos.
• Localização;
• Organização deficiente dos espaços;
• Utilização de equipamentos demasiado ruidosos, por
Industriais
desactualização ou manutenção deficiente;
• Localização e instalação de equipamentos, por vezes com
concentração exagerada.
• Instalação em locais sem qualificação acústica adequada;
Espectáculos e diversões • Equipamentos com características acústicas que originam
incomodidade.
• Não consideração dos aspectos relacionados com o ruído, ao
Rodoviário
projectarem-se vias de circulação;
Ferroviário
• Ordenamento do tráfego.
Tráfego • Indefinição na demarcação de zonas de servidão acústica de
aeródromos;
Aéreo
• Indefinição no estabelecimento de procedimentos de voo anti-
ruído.

77
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Medidas

A procura de soluções neste domínio apresenta-se complexa, podendo encarar-se segundo diversos
aspectos:

• Preparação de elementos de natureza físico-matemática que habilitam a considerar a


influência do ruído, numa atitude prospectiva, designadamente na análise de impactes
ambientais e no projecto;

• Preparação de um conjunto de normas, visando estabelecer técnicas de avaliação e regras


da qualidade, que seja suficientemente estruturado para proporcionar apoio eficiente ao
sistema legislativo.

• Formação a todos os níveis de ensino, visando contribuir para uma consciencialização


esclarecida das questões ambientais postas pelo ruído e permitindo preparar técnicos aptos
para a resolução dos problemas inerentes à poluição sonora com incidência nas diferentes
actividades profissionais;

• Informação do público, a fim de criar o que pode designar-se por um nível básico de
compreensão, com o objectivo final de ser a própria população a assumir posições de
exigência de tais medidas correctivas.

2.2.10 – ACÇÕES PARA O CONTROLO DO RUÍDO

A conjugação das medidas para a redução do ruído deve traduzir-se em acções que atenuarão a
intensidade da poluição sonora e o grau de exposição das populações ao ruído.

Sugestão de actividade 7:
• Em grupos de 3/4 elementos, apresentar um conjunto de medidas que favoreçam a
redução do ruído.
• Apresentar aos restantes elementos os resultados.
• Analisar e debater as propostas apresentadas pelos grupos.

A – Repercussões sobre a saúde

Em sentido geral, os efeitos do ruído sobre o Homem, podem englobar-se nas seguintes categorias,
que não são independentes, ocorrendo, muitas vezes, largas zonas de sobreposição:

• Afectação da audição, alterando a gama de percepção do som audível, provocando dor;

• Perturbações fisiológicas diversas;

78
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Perturbações do sono, nomeadamente dificuldade em adormecer e menor duração de certas


fases do sono;

• Perturbações de actividades várias. Os efeitos do ruído sobre as várias actividades


dependem do tipo de actividade e das características de cada indivíduo mas, em geral, o
ruído provoca uma diminuição do rendimento do trabalho e um aumento do número de erros
ou acidentes;

• Interferência na comunicação oral;

• Situações de incomodidade provocadas pelo ruído podem originar no receptor reacções


várias, entre as quais de irritabilidade, medo e violência.
2.2.11 – A GESTÃO E O CONTROLO DO RUÍDO

O controlo de ruído no nosso país, tem como base o Regulamento Geral do Ruído, criado pelo
Decreto-Lei n.º 292/2000 de 14 de Novembro.

Recomendação:
Caso o formador não forneça cópias dos diplomas legais, pesquise-os na Internet ou em
publicações da especialidade. (www.diramb.gov.pt)

Sugestão de actividade 8:

• Em grupos de 3/4 elementos, analisar uma sequência de artigos que constem do


respectivo regulamento.
• Elaborar um conjunto de questões sobre os artigos atribuídos aos outros grupos;
• Após a análise dos artigos, cada um dos grupos deverá colocar as questões
elaboradas.

Sugestão de actividade 9:
• Debater com toda a turma os resultados das medições da actividade 6.
• Verificar se os valores obtidos cumprem o estipulado no Regulamento Geral do
Ruído.
• Analisar criticamente.

O diploma referido têm como principal objectivo enquadrar e dar resposta ao problema da poluição
sonora, tendo como orientações fundamentais o reforço do princípio da actuação preventiva, a
adopção de figuras de planeamento específicas, a regulação de actividades temporárias geradoras
de ruído e do ruído de vizinhança.

79
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O Regulamento Geral do Ruído tem um vasto leque de aplicações: indústria, comércio, tráfego,
sinalização sonora e todas as actividades geradoras de ruído que possam causar incomodidade.

As principais inovações da nova legislação são:

• A integração da prevenção do ruído na política de ordenamento do território;


• A fiscalização do ruído de vizinhança;
• As restrições às actividades ruidosas temporárias baseadas em regras de fácil verificação;
• Os planos de redução de ruído para as situações mais gravosas;
• Os planos de monitorização para as principais fontes de Ruído Ambiente;
• Mapas de ruído
O princípio genérico, é que cabe às autoridades responsáveis pelo licenciamento ou autorização de
uma determinada actividade a fiscalização do ruído provocado por essa actividade.

As autoridades policiais fiscalizam ruído de vizinhança e ruído de actividades ruidosas temporárias,


para além das suas competências de fiscalização do ruído de tráfego rodoviário nos termos do
Código da Estrada. Cabe às entidades responsáveis pelas infra-estruturas de transporte o controlo do
ruído a elas associado.

A – Indicadores de Pressão

Tráfego rodoviário, ferroviário e aéreo

Através de um estudo efectuado pela DGA durante 1996 e publicado em 1999 — “Ruído ambiente
em Portugal” —, cujos resultados foram resumidamente apresentados nos Relatórios do Estado do
Ambiente de 1996 e 1997, sabe-se que quase 3 milhões de pessoas (30% do total da população
residente em Portugal) são afectadas pelo ruído de tráfego, nomeadamente pelo do tráfego
rodoviário, com níveis de exposição no período diurno superiores a 55 dB(A); a maioria destes casos
ocorre nos centros urbanos e em zonas próximas das rodovias.

80
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Segundo o mesmo estudo o tráfego ferroviário afecta cerca de 10 vezes menos pessoas (300 mil
pessoas) que o tráfego rodoviário, com valores diurnos superiores a 55 dB(A). Esta relação verifica-
se também para o tráfego aéreo.

Classes de níveis
sonoros
Classe 1 < = 45 dB (A)

Classe 2 ]45,50] dB (A)

Classe 3 ]50,55] dB (A)

Classe 4 ]55,60] dB (A)

Classe 5 ]60,65] dB (A)

Classe 6 ]65,70] dB (A)

Classe 7 ]70,75] dB (A)

Percentagem da população nacional exposta às diferentes classes de


Classe 8 > 75 dB (A)
níveis sonoros – DGA, 1998

B – Ruído Ambiente em Portugal

O II Inquérito Nacional “Os Portugueses e o Ambiente”, do Observa, a propósito de vários descritores


sobre o que vai piorar nos próximos 10/15 anos mostra que as 3 respostas mais frequentes dos
portugueses foram: trânsito (78.7%), qualidade do ar (70%) e ruído (66%).

C – Técnicas de Prevenção e Controlo de Ruído

O Ordenamento do Território é a medida de prevenção de ruído por excelência numa óptica de


sustentabilidade. Só uma criteriosa localização de fontes sonoras e receptores sensíveis ao ruído
permite harmonizar a utilização dos espaços evitando usos conflituosos do solo. Controlar o ruído
para proteger receptores sensíveis em coexistência com fontes sonoras tem sido o desafio, nem
sempre bem conseguido, das tradicionais políticas de redução de ruído ambiente.

D – Redução de ruído

Planeamento e gestão do uso do solo

Qualquer infra-estrutura de transportes, quer seja rodoviária, ferroviária ou aérea, provoca elevados
níveis de ruído na sua vizinhança. O método de controlo de ruído mais utilizado é o aumento da

81
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

distância entre as fontes sonoras e a área a proteger. Por exemplo, na generalidade das situações, a
duplicação da distância conduz a uma atenuação do nível sonoro de 3-5 dB.

O modo de assegurar a separação espacial entre as fontes sonoras e as áreas a proteger é a


imposição de uma política de zonamento por parte da administração local. Este método funcionará
eficazmente se todos os sectores se combinarem de modo a estabelecer um plano agregado de
desenvolvimento. Por exemplo, num sistema de zonamento típico, é possível definir zonas ao longo
de uma infra-estrutura de transportes consoante a distância a esta, isto é, estabelecer diferentes usos
do solo que serão aceitáveis em relação ao nível sonoro existente no local.

O planeamento de um determinado local como um todo, deve ter em conta a densidade de


habitações a construir e deve depender da exposição ao ruído ambiente, da separação espacial e
das actividades compatíveis com o ruído que poderão funcionar como barreiras.
Por exemplo, a localização de uma unidade industrial não ruidosa perto de uma estrada, providencia
o efeito de barreira às habitações situadas do lado oposto à estrada.

Redução na fonte

O método mais apropriado de redução de ruído na fonte é através de melhorias tecnológicas nos
veículos ou máquinas. Por outro lado, é sempre necessário considerar o número de fontes e o
ambiente onde estas operam.

E – Limitação na propagação

Utilização de barreiras

Um método eficaz e pouco dispendioso de controlo do ruído de tráfego é a utilização de barreiras


acústicas ao longo das estradas (ou linhas de comboio). Estas deverão ser suficientemente altas e
extensas, permitindo uma cobertura entre a fonte e os receptores.

Através da utilização de barreiras acústicas, é possível uma redução dos níveis sonoros até 15 dB.
Caso as habitações se encontrem demasiado perto de estradas com tráfego de pesados, esta
redução varia entre 5-10 dB. As barreiras têm, no entanto, efeitos adversos tais como a degradação
visual da paisagem e a dificuldade de atravessamento da estrada.

Em determinados casos em que a distância entre a fonte e os receptores não é suficiente, outro
método utilizado é a construção da estrada a um nível inferior à área envolvente, tirando assim
partido da menor propagação do som devido à protecção pelos taludes que funcionam como
barreiras e do material absorvente que poderá ser utilizado na cobertura do solo.

82
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tal como referido atrás, os edifícios construídos junto de estradas, funcionam como barreiras a
outros. Por exemplo, uma fileira de edifícios construídos paralelamente a uma auto-estrada, poderão
provocar uma redução de 13 dB na sua área oposta. Não é recomendada a construção
perpendicularmente à estrada, porque deste modo, ambas as fachadas ficam expostas ao ruído.

Os túneis são o método mais eficaz de controlo de ruído através de barreiras, mas devido aos custos
associados, a sua construção raramente depende de razões de controlo de ruído. Este método
permite uma redução de ruído de 30 dB.

Em muitos casos e, devido a arquitectos e urbanistas, recorre-se à vegetação como barreira ao ruído.
Este método é pouco eficaz, com uma redução de cerca de 1 dB por 10 m de plantação, mas é
geralmente sobrestimado, dado que as pessoas geralmente “ouvem menos” quando vêem menos.
Este aspecto psicológico não deve ser ignorado porque realmente provoca uma diminuição da
sensibilidade ao ruído.
Medidas de protecção no receptor

Na prática, em muitas situações, o controlo de ruído na fonte e a limitação da sua propagação não
são métodos suficientes de controlo. Outro método é a melhoria do design e o reforço do isolamento
acústico das habitações.

Numa fase de planeamento de uma nova habitação, a forma, a orientação, a localização do edifício
bem como o arranjo dos espaços interiores, devem ser escolhidos de forma a minimizar problemas
de ruído. Em edifícios existentes, o ambiente sonoro poderá ser melhorado alterando os usos das
divisórias e melhorando o isolamento acústico.

F – Tipos de protectores auditivos

Factores de escolha:
¾ Tipo de ambiente ruidoso;
¾ Conforto do utilizador;
¾ Aceitação;
¾ Custo;
¾ Durabilidade;
¾ Problemas de comunicação;
¾ Segurança;
¾ Higiene.

83
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 10:


• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet e em publicações da
especialidade os diferentes tipos de protectores auditivos.
• Elaborar um documento, que apresente as principais características de cada um
deles (material, modo de utilização, vantagens, desvantagens).
• Apresentar os resultados aos restantes elementos.
• Analisar e debater as propostas apresentadas

Problemas de utilização dos protectores auditivos

Sugestão de actividade 11:


• Em grupos de 3/4 elementos, deverá pesquisar na Internet e em publicações da
especialidade os problemas causados pela utilização dos protectores auditivos e os
aspectos mais importantes de cada um deles.
• Apresentar os resultados aos restantes elementos.
• Analisar e debater as propostas apresentadas.

G – Isolamentos acústicos

O isolamento acústico de novos edifícios, tal como projecto de especialidade, faz parte de todo o
processo construtivo. Melhoramentos nos isolamentos de edifícios existentes são geralmente muito
dispendiosos, onde geralmente é impossível evitar que salas de estar e quartos estejam expostos a
ruído de tráfego.

As portas e as janelas são os elementos críticos numa habitação por onde existe maior propagação
de som. Geralmente, a qualidade destes componentes traduzem o grau de insonorização de todo o
edifício.

Por exemplo, se uma parede externa com boa insonorização tem uma abertura de cerca de 10% da
sua área (valor típico de uma janela), a redução total de ruído é aproximadamente 10 dB.

Uma janela de vidro duplo com separação de 100 mm e com uma boa selagem apresenta um índice
de redução de cerca de 30 dB. Relativamente a portas, caso sejam de bom material, bem ajustadas à
moldura e em total contacto com a ombreira (não empenadas), são atingidas reduções de 25-30 dB.

No caso de ruído de tráfego aéreo, para além do isolamento ao nível das portas e janelas, este
deverá também ser feito nas coberturas e sistemas de ventilação com origem no topo do edifício.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Design do edifício

O design do edifício é um aspecto muito importante no controlo do ruído e pode ser feito tanto ao
nível da distribuição das divisórias dentro do mesmo, bem como a sua localização face à fonte de
ruído.

Consoante o tipo de divisórias dentro de uma habitação, as pessoas apresentam diferentes


sensibilidades ao ruído. Como o ruído de tráfego apenas é um problema para as divisórias expostas
directamente ao mesmo, a disposição da casa deve ser feita de modo a que as áreas mais sensíveis
se situem nas fachadas opostas à fonte.

A forma e orientação do edifício é outro aspecto importante de controlo e o objectivo é minimizar as


reflexões do som nas fachadas bem como a sua propagação para áreas do edifício mais sensíveis ou
outros edifícios. Em ruas estreitas com edifícios contínuos, o ruído proveniente de reflexões das
fachadas é maior do que em ruas com edifícios separados. As reflexões entre fachadas de edifícios
aumentam o ruído em 4-5 dB.

Relativamente ao design das fachadas, este deverá ser feito de modo a promover uma
auto-protecção do edifício através de varandas e paredes exteriores, permitindo uma atenuação de 5-
14 dB. Outro método é por exemplo a existência de lojas ou serviços nos pisos inferiores mais
sobressaídos protegendo assim os pisos superiores.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

TEMA INTRODUTÓRIO III

Gestão da Água

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tema integrador 3 – Água

Introdução

A água é uma presença constante no dia a dia do Homem, sendo considerada um recurso vital,
essencial à vida. Apesar da sua importância, ao longo dos anos, a sua qualidade tem vindo a decair.
Por este motivo, a gestão da água é objecto de estudo.

Objectivos gerais

• Conhecer os princípios fundamentais da gestão dos recursos hídricos em Portugal;

• Caracterizar os principais aspectos físicos e condicionantes da utilização da água;

• Conhecer a legislação aplicável.

Objectivos específicos:

a) Conhecer as principais características da água;


b) Debater os principais fundamentos sobre a sua situação;
c) Analisar a conjuntura da água em Portugal;
d) Caracterizar as águas residuais;
e) Conhecer a legislação aplicável.

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3 – GESTÃO DA ÁGUA

3.1 – INTRODUÇÃO

Sugestão de actividade 1:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma debater questões / problemas
sobre a gestão da água.
• Registar as questões apontadas pelos grupos / turma.
• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.
• Cada grupo terá como tarefa desenvolver uma das questões seleccionadas,
recorrendo a notícias e artigos, referentes ao tema, em jornais, revistas, bibliografia
e Internet.
Exemplos de objectivos
• Enumerar questões/problemas associados à gestão da água.
• Analisar e debater a problemática associada à gestão da água.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

A – Água essência da vida

A vida surgiu no planeta através da água. Esta encontra-se em grande proporção nas plantas e nos
animais, principalmente no Homem.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Distribuição da água no Planeta Terra

Rios e
lagos
Água doce superficial 0.6% 2%

Gelo 2.15%

Á gua
sub.
98%

Água salgada 97.3%

C – Ciclo hidrológico

A água está sempre a mudar de lugar, na terra, nos mares, na atmosfera, consequentemente, muda
também de estado, sólido, líquido e gasoso. Este movimento constante da água é provocado por:
9 Radiação do sol;
9 Inclinação do relevo;
9 Permeabilidade das rochas;
9 Cobertura do solo pela vegetação.

• A água é transferida dos oceanos, mares, lagos, rios e florestas para a atmosfera através da
evaporação;

• Na atmosfera, o vapor junta-se a outros compostos moleculares e formam as nuvens;

• A água volta à superfície da Terra e, dependendo do clima da região, cai sob a forma de
chuva, granizo e neve (processo de precipitação);

• Parte da água precipitada, infiltra-se nos solos e alimenta os depósitos do subsolo como os
aquíferos;

• Outra parte vai escoando pelo terreno e “alimentar” riachos, rios e lagos;

• Dos rios, a água volta aos oceanos e lagos, reiniciando o ciclo hidrológico.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 2:
• Em grupos de 3/4 elementos, elaborar um esquema do ciclo hidrológico;
• Apresentação dos trabalhos;
• Análise e eleição do melhor trabalho.

3.2 – A ÁGUA NA UNIÃO EUROPEIA

É cada vez mais visível a importância da água para a vida e enquanto elemento do ecossistema
global. Trata-se de um recurso que, não só satisfaz as necessidades básicas da população humana e
é indispensável para o desenvolvimento, em especial para a criação e conservação de riqueza
através da agricultura, da pesca comercial, da produção de electricidade, da indústria, dos
transportes e do turismo, como é vital para todos os ecossistemas globais.

Porém, os factos mostram que enfrentamos uma crise de água a nível global. À primeira vista, essa
situação parece não aplicar-se à água da Europa, afinal, o continente não se encontra, em termos
gerais, com problemas de carência de água. Contudo, a qualidade e a gestão das águas europeias
estão longe de serem satisfatórias.

A – Factos fundamentais sobre a situação global da água:

• A água disponível para o consumo humano representa menos de 1% dos recursos hídricos
do Planeta;

• Mais de 1,2 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável segura.

B – Factos fundamentais sobre a situação da água a nível europeu:

• 20% das águas superficiais da União Europeia correm sério risco de poluição;

• As águas subterrâneas fornecem cerca de 65% da água destinada ao consumo humano na


Europa;

• 60% das cidades europeias exploram de forma excessiva as suas águas subterrâneas;

• 50% das zonas húmidas estão “em perigo de extinção” devido à exploração excessiva das
águas subterrâneas;

• A área de terrenos irrigados no Sul da Europa aumentou 20% desde 1985.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tendo em conta o número crescente de pressões a que os nossos recursos hídricos estão expostos,
é fundamental criar instrumentos legislativos eficazes que abordem os problemas de forma clara e
ajudem a proteger os recursos para as próximas gerações.

A Directiva-quadro da Água alarga o âmbito de aplicação das medidas de protecção da água a todas
as águas e define como objectivos claros que deverá alcançar-se o “bom estado” de todas as águas
europeias até 2015 e assegurar-se o uso sustentável da água em toda a Europa.

3.3 – A DIRECTIVA-QUADRO DA ÁGUA

Sugestão de actividade 3:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet ou em publicações da
especialidade, as linhas de orientação da directiva-quadro da água.
• Registar as linhas de orientação apresentadas pelos grupos.
• Análise e debate as propostas apresentadas.

A – A água é um recurso frágil

Uma gota de uma substância perigosa pode poluir milhares de litros de água. A poluição causada
hoje poderá permanecer durante gerações nas nossas águas subterrâneas destinadas ao consumo
humano.

De facto, são dados à água vários usos diferentes, incluindo a agricultura, a indústria e a nível
doméstico. Fundamentalmente, a Directiva-quadro tem como objectivo evitar a poluição na origem e
estabelece mecanismos de controlo para garantir uma gestão sustentável de todas as fontes de
poluição.

Protege as águas subterrâneas e fixa objectivos ambiciosos para a sua qualidade e quantidade.
Estabelece, ainda, ambiciosos objectivos ecológicos para os ecossistemas aquáticos dos nossos rios,
lagos e águas costeiras. Embora, hoje em dia, grande parte das águas subterrâneas e de superfície
da Europa estejam poluídas, deverão estar em “bom estado” até 2015.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Uma utilização sustentável da água

Agora que sabemos que muitas actividades afectam as águas, podemos compreender como é
importante conservar a água e ajudar a protegê-la contra substâncias poluentes. Essa preocupação
torna-se ainda mais importante, quando percebemos que a procura continua a aumentar
incessantemente. Compete-nos a nós assegurar que a Directiva-quadro da Água seja implementada
com eficácia, que as gerações futuras disponham de água suficiente e garantir que essa água
satisfaça normas de elevada qualidade. A gestão sustentável da água é fundamental para a nossa
vida.

C – Coordenação transfronteiriça e nova solidariedade em matéria de água

Quem já visitou as grandes bacias hidrográficas europeias, como as do Danúbio e do Reno, sabe que
a água não pára nas fronteiras. Nestes casos, a cooperação internacional é a melhor forma de gerir a
água. Por isso, a Directiva-quadro da Água estabelece que todas as partes envolvidas numa
determinada bacia hidrográfica desenvolvam uma cooperação estreita com vista à gestão conjunta
das suas águas. Os países deverão criar planos de gestão comuns das bacias hidrográficas que
contemplem medidas destinadas a garantir o cumprimento dos ambiciosos objectivos da Directiva
dentro dos prazos fixados.

D – A água diz respeito a todos

À semelhança dos países, também os vários agentes dos diferentes sectores terão de cooperar entre
si para proteger os recursos hídricos. Como todos nós utilizamos a água nas nossas vidas
particulares e no nosso trabalho (quer trabalhemos numa fábrica, numa quinta ou num escritório), é
importante que nos empenhemos, todos sem excepção, no cumprimento dos objectivos
estabelecidos na legislação. Esta é a razão pela qual a Directiva incentiva todas as partes
interessadas a participarem activamente em actividades relacionadas com a gestão da água. Quanto
melhor compreendermos o modo como influenciamos a quantidade e a qualidade da água, melhor
saberemos contribuir para proteger os nossos preciosos recursos hídricos.

E – O preço justo da água

A água não é um produto comercial como os outros, mas deverá antes ser encarado como um legado
precioso. Todavia, é importante designar um preço para a água, uma vez que a fixação de preços
funciona como incentivo a uma utilização mais sustentável da água. Assim sendo, muitos países
europeus têm vindo a fixar preços para a água ao longo dos últimos anos.
A DQA obriga os Estados-Membros a desenvolverem políticas de estabelecimento dos preços em
que todos os utilizadores contribuam de forma adequada.

A Directiva aplica o princípio do poluidor-pagador, porque, no final, a factura da poluição acaba


sempre por sobrar para alguém.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

F – Implementação conjunta

A Directiva-quadro da Água será implementada de forma inovadora, já que se baseia na participação


de todas as partes interessadas. Além disso, proporciona à Comissão Europeia, aos Estados-
Membros, aos países candidatos à adesão e a todos os interessados a oportunidade, sem
precedente, de constituírem uma nova parceria que orientará o processo e assegurará uma
implementação eficaz e coerente.

Sugestão de actividade 4:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet ou em publicações da
especialidade, os prazos importantes para a Directiva-quadro.
• Registar os prazos apresentadas pelos grupos.
• Análise e debate dos resultados apresentados.

3.4 – A ÁGUA EM PORTUGAL

Sugestão de actividade 5

• Visita a uma empresa de captação de água e, se possível, captar imagens ou


fotografias;

Exemplos de objectivos
• Compreender o seu funcionamento;
• Conhecer os principais equipamentos utilizados.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre a
empresa visitada;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A – Situação geográfica, clima e solo

O território português abrange uma área de cerca de 89 300 km2 e tem forma aproximadamente
rectangular com valores máximos de comprimento e de largura de cerca de 560 e 220 km,
respectivamente.

Situa-se na parte ocidental da Península Ibérica, sensivelmente entre os meridianos 6º W e 10º W e


entre os paralelos 37º N e 42º N, é banhado a oeste e sul pelo Oceano Atlântico e confina a norte e
este com Espanha.

0 clima de Portugal conjuga as influências atlântica e mediterrânica. A primeira faz-se sentir


principalmente durante o Inverno e é responsável por precipitações elevadas, principalmente na
região noroeste (Minho), e pela atenuação dos efeitos dos ventos secos e frios provenientes do
interior da Península Ibérica. A influência mediterrânica faz-se sentir principalmente durante o Verão e
nas regiões sul (Alentejo e Algarve) e este (zona fronteiriça com a Espanha), ocasionando elevada
temperatura e reduzida precipitação.

Em Portugal, as actividades agrícola e florestal desenvolvem-se em cerca de 80% do território, sendo


indispensável conservar o solo e outros recursos naturais sobre os quais estas actividades exercem
pressão, para manutenção da qualidade do ambiente.

Portugal apresenta os valores mais desfavoráveis entre os países do Sul da Europa, com 66% dos
seus solos classificados de baixa qualidade, de acordo com a Carta de Solos de Portugal. São
poucos os solos em Portugal com boa aptidão agrícola, sendo a principal causa da degradação do
solo em Portugal Continental a erosão provocada pela precipitação (o clima mediterrâneo é
caracterizado por distribuição irregular de chuva e ocorrência de secas, geralmente ocorrendo a
precipitação mais intensa em períodos não vegetativos).

As áreas semi-áridas e sub-húmidas secas do país apresentam, em regra, terrenos de declives


médios a acentuados, com baixa a média capacidade de retenção e de armazenamento de água, de
fertilidade baixa a média, sendo zonas sujeitas a escorrimentos superficiais por vezes altos. A maioria
dos solos em Portugal Continental, com excepção das áreas de agricultura mais intensiva, como a
região de Entre-Douro e Minho e nas zonas aluvionares do Ribatejo, apresenta baixos níveis de
matéria orgânica, o que resulta dos sistemas de agricultura praticados, das técnicas culturais e da
incidência dos factores edáficos.

Por outro lado, a erosão costeira ou recuo da faixa litoral assume aspectos preocupantes numa
percentagem significativa do litoral português.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 6:
• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisar na Internet ou em publicações da
especialidade “cartas” ou “mapas” que caracterizem a situação geográfica e o clima
de Portugal. (por exemplo uma “carta hipsométrica de Portugal);
• Elaborar um documento que resuma a informação obtida;
• Apresentação dos trabalhos à turma.
• Análise e debate dos resultados apresentados.

B – Escoamento superficial e subterrâneo

Uma parte da água precipitada é devolvida para a atmosfera pelo processo da evapotranspiração e a
restante ou dá lugar a escoamento superficial, que atinge directamente os cursos de água, ou vai
alimentar os lençóis de água subterrâneos, originando o escoamento subterrâneo.

Os lençóis de água subterrânea constituem-se no seio de formações geológicas permeáveis e


designam-se por aquíferos. Estes, ou cedem água aos cursos de água, à qual se junta, portanto, a
parcela correspondente ao escoamento superficial, ou escoam directamente para o mar. Sendo a
precipitação expressa em milímetros de altura ou litros por metro quadrado e constituindo o
escoamento uma parcela da precipitação, é habitual utilizar as mesmas unidades para o escoamento
produzido pela precipitação incidente numa dada área, durante um determinado intervalo de tempo.

O volume de água que, num dado instante, atravessa uma dada secção de um curso de água, na
unidade de tempo, designa-se por caudal.

Em consequência da variabilidade da precipitação ao longo do ano, os cursos de água portugueses


apresentam um regime de escoamento de carácter torrencial, isto é, com caudais muito baixos ou
nulos durante a estiagem e elevados nas épocas de maior precipitação. Os cursos de água
portugueses situados em regiões de precipitação anual média inferior a 700 mm e não alimentados
por aquíferos com alguma importância têm caudal nulo cerca de 120 dias por ano, em média.

O escoamento subterrâneo depende não só da precipitação ocorrida, como também das condições
do solo em relação à infiltração e das características dos aquíferos.

Este escoamento tem menor variabilidade no tempo do que o escoamento superficial, em


consequência da capacidade de armazenamento da água dos aquíferos e, no caso de formações
porosas, da lentidão do movimento da água.
Assim, os rios alimentados por aquíferos apresentam um regime de caudal mais regular. A
quantidade de água que, a longo prazo, é possível extrair de um aquífero sem conduzir a uma
diminuição irrecuperável dos seus níveis de água é limitada pela alimentação que aquele recebe.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Deste modo, a produtividade de um aquífero é definida como a quantidade de água que dele é
possível extrair continuamente, em condições normais, sem afectar a reserva e a qualidade da água
nele existente.

C – Bacias hidrográficas

Designa-se por bacia hidrográfica de um curso de água numa dada secção, a zona que contribui para
o escoamento na secção considerada.

Os rios mais importantes que correm em Portugal – Minho, Douro, Tejo e Guadiana – têm bacias
hidrográficas que se situam parcialmente em território espanhol.

Sugestão de actividade 7:
• Em grupos de 3/4 elementos, cada grupo escolhe uma das principais bacias
hidrográficas de Portugal;
• Recolher todas as informações possíveis e elaborar um documento que caracterize
com algum pormenor a bacia hidrográfica escolhida; (www.inag.pt) (actualizado em
10/12/2004)

• Apresentação dos trabalhos à turma;


• Discussão sobre as conclusões, comparando-as aos outros trabalhos.

D – Recursos hídricos potenciais e disponíveis

A água pode ser captada no ciclo hidrológico e, portanto, constitui um recurso natural renovável,
susceptível de ser posto à disposição do Homem.

Ao escoamento produzido pela precipitação em Portugal há a somar ainda a contribuição do


escoamento proveniente de Espanha.

Os recursos hídricos tornam-se disponíveis por meio de obras que permitem adaptar as condições
naturais de ocorrência da água em regime natural às exigências das utilizações.

Esta adaptação respeita quer à distribuição da quantidade da água no espaço e no tempo quer à
qualidade que apresenta.

Entre tais obras salientam-se:

• As captações, para extrair a água a ser utilizada;

• Os reservatórios, para permitir o desfasamento no tempo entre a ocorrência e o fornecimento


da água;

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• As albufeiras, que são reservatórios criados nos rios, para transferir água das épocas
húmidas para as épocas secas;

• Os canais, condutas e estações de bombagem para transferir água de um local para outro;

• As estações de tratamento para melhorar a qualidade da água, a ser utilizada ou a ser


restituída aos meios naturais após utilização.

Em Portugal, a precipitação concentra-se no semestre de Outubro a Março e varia muito


significativamente de ano para ano. A variabilidade do escoamento tanto ao longo do ano como de
ano para ano, excede a da precipitação, sendo tanto maior quanto mais seca for a região.

Por outro lado, as necessidades de água para uso doméstico e industrial tem uma distribuição muito
mais uniforme do que o escoamento superficial, enquanto as necessidades de água para rega se
concentram, de modo geral, no semestre seco do ano (Abril a Setembro).

3.5 – A utilização da água

A água é um recurso imprescindível à grande maioria das actividades económicas, principalmente da


agricultura e da indústria, com uma influência decisiva na qualidade de vida das populações,
especialmente nas áreas do abastecimento de água e da drenagem e tratamento de águas residuais,
que têm forte impacto na saúde pública.

No que diz respeito à procura por sectores, e tendo por base o Plano Nacional da Água, verifica-se
que a agricultura é distintamente o maior utilizador de água em Portugal,

Em termos de procura, a utilização prende-se com:


1. Agrícola no regadio individual que utiliza rega por gravidade;
2. Uso urbano doméstico (duches e banhos e descargas de autoclismos);
3. Utilização na indústria transformadora.

Numa perspectiva economicista, as maiores parcelas correspondem à:


1. Utilização urbana doméstica (duches e banhos e descargas de autoclismos),
2. Utilização agrícola no regadio individual com rega por gravidade,
3. Utilização na indústria transformadora.
A – Eficiência no uso da água

Nem toda a procura de água é verdadeiramente aproveitada, na medida em que há uma parte
importante associada à ineficiência de uso e a perdas, relativamente à água que é captada.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Em termos desagregados, verifica-se que o maior potencial de poupança nos usos urbanos se centra,
por ordem decrescente de importância, na redução dos consumos nos autoclismos e nos
duches/banhos e das perdas nos sistemas públicos. Verifica-se também que o maior potencial de
poupança no uso agrícola se centra na parcela de rega por gravidade. O maior potencial de
poupança no uso industrial concentra-se na parcela da indústria transformadora.

B – Necessidade de aumento da eficiência no uso da água

Sendo a água uma condição fundamental para o desenvolvimento sócio-económico do País, deve ser
considerada um recurso estratégico e estruturante, tendo necessariamente que se garantir uma
elevada eficiência do seu uso, o que deve equivaler a uma opção estratégica na política portuguesa
de gestão de recursos hídricos.

Razões para a opção estratégica:

• Obrigação ambiental, pela necessidade de uma crescente consciencialização da sociedade


de que os recursos hídricos não são ilimitados e que é necessário protegê-los e conservá-los;

• Necessidade estratégica relacionada às disponibilidades e reservas de água no País, na


medida em que, podem suceder situações críticas de seca, sazonais ou localizadas. Estas
situações podem ser de carácter quantitativo, resultantes por exemplo de períodos de maior
escassez hídrica, ou de carácter qualitativo, com redução das disponibilidades de água com a
qualidade necessária, resultante por exemplo da poluição;

• Interesse económico a nível nacional, na medida em que as poupanças potenciais de água


correspondem a um valor relevante, estimado em cerca de 0,64% do Produto Interno Bruto
nacional;

• Interesse económico a nível empresarial, na medida em que a água é um factor essencial de


produção em muitos sectores de actividade económica e a minimização dos encargos
aumenta a competitividade das empresas nos mercados nacional e internacional;
• Interesse económico a nível das entidades gestoras, através de uma maior racionalidade de
investimentos, na medida em que possibilita um melhor aproveitamento das infra-estruturas
existentes, diminuindo ou mesmo evitando em alguns casos a necessidade de ampliação e
expansão dos sistemas de captação de água para abastecimento e de transporte e
tratamento de águas residuais;

• Interesse económico a nível dos cidadãos, na medida em que permite uma redução dos
encargos com a utilização da água, devido ao menor volume consumido, sem prejuízo da
qualidade de vida do seu agregado familiar e da protecção da saúde pública;

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Obrigações do País em termos de legislação comunitária, designadamente da Directiva


Quadro, em termos da conservação da água e de crescente aplicação de custos reais no uso
da água.

As medidas relativas ao uso urbano estão reunidas nos seguintes níveis:

1. Sistemas públicos:

a) Medidas associadas ao sistema de abastecimento;


b) Medidas associadas ao sistema público de águas residuais incluindo transporte e
tratamento;

São geridos directamente por:

• Municípios;
• Serviços municipalizados;
• Empresas municipais e empresas públicas;
• Concessões a empresas privadas (entidades gestoras).

2. Sistemas prediais e instalações colectivas:

¾ Sistemas através dos quais se realiza a distribuição de água aos edifícios ou instalações, a
partir de um ramal de ligação à conduta de distribuição pública de água potável;

¾ Sistemas de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

3. Dispositivos em instalações:

Residenciais:
a) Autoclismos;
b) Chuveiros;
c) Torneiras (em lavatórios, bidés, banheiras e lava-louças);
d) Urinóis;
e) Máquinas de lavar roupa;
f) Máquinas de lavar louça;
g) Sistemas de aquecimento e refrigeração de ar.

Colectivas e similares (aquelas em que é possível utilizar dispositivos idênticos aos das instalações
residenciais):
a) Escritórios;
b) Edifícios públicos;
c) Centros comerciais;
d) Hotéis;
e) Restaurantes e similares;
f) Lavandarias;
g) Universidades;
h) Escolas e creches;
i) Instalações desportivas (ginásios, piscinas, estádios);
j) Hospitais e outros centros de saúde;
k) Terminais aéreos;
l) Rodoviários e ferroviários;
m) Postos de gasolina e serviços.

Pelas suas características, as instalações de uso colectivo apresentam frequentemente grande


ineficiência no uso da água.

4. Usos exteriores:
a) Lavagem de pavimentos;
b) Lavagem de veículos;
c) Rega de jardins e similares;
d) Uso de piscinas, lagos e espelhos de água;
e) Rega em campos desportivos.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

3.6 – CARACTERIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS

É necessário conhecer as características das águas residuais, sejam elas físicas, químicas ou
biológicas, sendo dados importantes para as operações de recolha e tratamento e descarga, bem
como para a gestão da qualidade do meio receptor das águas.

O lançamento das águas residuais no ambiente provoca alterações da sua qualidade sempre que se
ultrapassar a respectiva capacidade auto-depuradora.

As consequências mais importantes resultantes desses lançamentos são:


• Graves riscos para a saúde pública;
• Redução dos recursos de água utilizáveis em condições economicamente estáveis;
• Destruição da vida aquática.

Estes inconvenientes e os prejuízos que deles resultam, justificam inteiramente o conhecimento das
características dessas águas residuais com vista a determinar:

• O tipo e o grau de tratamento a que é necessário submeter as águas para poderem ser
lançadas nos meios receptores sem inconvenientes;

• Parâmetros para o cálculo e dimensionamento das estações de tratamento de águas


residuais (ETAR’s);

• A eficiência dos processos de tratamento que compõem a ETAR;

• Informação para o controlo e operação dos processos da ETAR.

A caracterização de esgotos domésticos ou águas residuais urbanas tratadas visa fundamentalmente


a verificação do cumprimento de limites de emissão (VLE) no solo ou em meios hídricos naturais.

Ao nível da exploração de uma estação de tratamento de águas residuais, a caracterização do


efluente ao longo das várias etapas que constituem o processo de tratamento permite despistar
situações de funcionamento deficiente e contribuir para a implementação das medidas correctivas
necessárias.

Analogamente, a caracterização das águas residuais de uma unidade industrial pode incidir sobre a
corrente líquida, à saída da instalação, ou sobre efluentes específicos, no interior da unidade, para se
atingir, pelo menos, um dos seguintes objectivos:

• Assegurar a conformidade com valores limites de emissão (VLE) impostos


administrativamente;

101
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Controlar as diferentes fases do processo de fabrico e determinar as descargas que mais


afectam as características do efluente final, no sentido de definir as medidas de redução de
poluição a aplicar prioritariamente;

• Quantificar perdas de matérias-primas ou produtos, permitindo uma avaliação da eficiência


das várias fases do processo e actuar sobre aquelas em que há mais desperdícios;

• Definir o sistema de tratamento mais apropriado e mais económico e obter dados


indispensáveis ao projecto e operação da respectiva estação de tratamento;

• Elaborar um programa de monitorização pós-operacional mais efectivo.

A caracterização deve ser qualitativa e quantitativa, realizada de acordo com uma determinada
técnica, em pontos ou estações de amostragem previamente fixados e com uma frequência
determinada.

No caso de efluentes industriais, o conhecimento detalhado do processo de fabrico e de outros


aspectos relativos à unidade industrial (matérias-primas utilizadas, produtos fabricados, rede de
canalizações de água e colectores de águas residuais, etc.) são importantes para a elaboração de um
programa de caracterização que permita atingir, ao mais baixo custo, os objectivos delineados.

A caracterização de águas residuais industriais é sempre uma tarefa mais complexa que a
caracterização de águas residuais urbanas. Além disso, convém ter presente a existência de
efluentes mistos (domésticos e industriais) que são tratados conjuntamente.

A – Conceito de água residual

Sob o efeito de diversos fenómenos naturais, a água pode concentrar-se em diversas substâncias:
• Vegetais;
• Minerais;
• Sais dissolvidos.

Mas à parte os fenómenos naturais, a tendência geral é no sentido de se considerar que a poluição
da água é uma consequência das actividades humanas.
Os usos domésticos, urbanos, agrícolas e industriais da água, são múltiplos e a água após ser
utilizada transforma-se em água residual, carregando-se de detritos. Por outro lado, a água natural
serve de meio receptor à maior parte dos resíduos, das águas domésticas e industriais.

102
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sob a designação de águas residuais agrupam-se geralmente, águas de origem diversa:

• Águas residuais domésticas;


• Águas pluviais e de lavagem de ruas;
• Águas residuais industriais.

A recolha de águas residuais poderá ser feita em conjunto ou separadamente:

• Rede de drenagem unitária:


¾ Recolha conjunta de águas residuais domésticas, pluviais e de lavagem de ruas.
• Rede de drenagem separativa:
¾ Recolha de águas residuais domésticas e pluviais (e de lavagem de ruas) em
colectores separados.

Dependendo da sua natureza, as instalações industriais de pequena e média dimensão poderão ter
os seus efluentes ligados à rede geral de drenagem.

Há ainda a parcela de águas que penetram nos colectores devido a:

• Problemas de estanquicidade das juntas;


• Ligações clandestinas.

Assim, na caracterização das águas residuais urbanas deve-se ter em conta a existência de múltiplas
fontes de poluição.

B – Análise de águas residuais

As análises realizada com águas residuais podem classificar-se em:

• Físicas;
• Químicas;
• Biológicas.

103
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

C – Características das águas residuais

SÓLIDOS
Suspensos;
DENSIDADE Dissolvidos;
Sedimentáveis

TURVAÇÃO

CHEIRO
COR

TEMPERATURA

Parâmetros a medir

As determinações analíticas a efectuar devem ser criteriosamente seleccionadas, no sentido de


reduzir o respectivo custo. Se o efluente é descarregado num colector público de águas residuais ou
num meio hídrico natural e se pretende apenas cumprir as normas de descarga, são os parâmetros
fixados por lei que devem ser medidos. Neste caso, qualquer controlo analítico a efectuar no interior
da instalação para reduzir a carga poluente deve visar esses parâmetros.

Pode explorar-se a correlação entre parâmetros no sentido de obter informação sobre um parâmetro
a partir de outro de mais fácil determinação. Também se pode recorrer a métodos expeditos de
análise (mais baratos, mas menos precisos), que devem, no entanto, ser previamente avaliados face
a métodos de referência. Os desvios máximos admissíveis dependem dos objectivos em vista.

A caracterização consiste na determinação de propriedades físicas e constituintes químicos e


microbiológicos relevantes para se atingirem os objectivos previamente fixados.

Os constituintes que são habitualmente determinados podem agrupar-se do seguinte modo,


salientando-se, porém, que alguns deles estão relacionados:

• Substâncias orgânicas solúveis, biodegradáveis;


• Substâncias orgânicas solúveis, não biodegradáveis (persistentes ou refractárias);
• Substâncias inorgânicas solúveis;
• Sólidos em suspensão (orgânicos ou inorgânicos);
• Substâncias que conferem cor ou turvação à água;

104
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Nutrientes (compostos de N e P);


• Óleos e gorduras;
• Gases e compostos voláteis;
• Substâncias tóxicas (orgânicas ou inorgânicas);
• Microrganismos.

D – Parâmetros físicos

1. Temperatura

A temperatura da água residual afecta a velocidade de reacções químicas ou bioquímicas (e,


consequentemente, a velocidade de crescimento dos microrganismos), interferindo, assim, nos
processos de tratamento. A actividade bacteriológica é óptima na gama de temperaturas entre 25 e
35 ºC a 50 ºC os processos de degradação aeróbia e de nitrificação são praticamente interrompidos.
As bactérias metanogénicas tornam-se praticamente inactivas a 15 °C: A descarga de águas quentes
nos meios hídricos naturais pode afectar negativamente a muna aquática (directamente ou pelo
abaixamento do teor de oxigénio dissolvido) e a adequação da água para outras finalidades.

2. Densidade

Variações da densidade de uma água residual podem causar correntes de circulação e mau
funcionamento nos tanques de sedimentação e noutras unidades de tratamento. A densidade (ou a
massa específica) é função da concentração de substâncias dissolvidas e da temperatura. Na prática
encontram-se valores entre 1,03 e 1,05.

3. Cor

Numa água natural, a "cor verdadeira" é devida à matéria orgânica coloidal e dissolvida, e é
normalmente amarelo-acastanhado, se incluir a matéria em suspensão obtém-se a designada "cor
aparente". Determina-se por colorimetria, usando padrões à base de Pt e Co, exprimindo-se o
resultado em unidades da escala Pt-Co. Para determinar a cor aparente a água deve ser analisada
“tal qual", a cor verdadeira é determinada após filtração ou centrifugação da amostra. A intensidade
da cor geralmente aumenta com o pH.

105
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

4. Turvação

A turvação de uma água residual é a medida da concentração de matéria coloidal (dimensões entre
0,001 e 1 µm) e em suspensão na água, obtida a partir da quantidade de luz dispersa pelas
partículas. Um aumento do teor em matéria orgânica pode resultar numa maior densidade de
bactérias e outros microrganismos, provocando um acréscimo de turvação. Por outro lado, descargas
adicionais de N e P no meio aquático podem estimular o aparecimento de algas, contribuindo também
para um aumento de turvação.

A eficiência do tratamento de coagulação/floculação química de águas residuais turvas pode ser


avaliada através da medida da turvação. A filtração da água é prejudicada por valores elevados de
turvação, obrigando muitas vezes à utilização de filtros rápidos de areia na sequência de um
tratamento por coagulação/floculação química para remover a maior parte da matéria em suspensão.
A desinfecção dos efluentes tratados pode não ser totalmente eficiente se houver muitas partículas
em suspensão, escondendo no seu menor os microrganismos e protegendo-os da acção do
desinfectante.

5. Sólidos suspensos e dissolvidos

A concentração de sólidos totais determina-se a partir da massa de resíduo seco após evaporação da
água a 103-105 ºC. Pode distinguir-se a fracção solúvel e coloidal (sólidos dissolvidos totais - SDT)
da fracção insolúvel (sólidos suspensos totais - SST), por filtração através de membrana filtrante de
fibra de vidro, seguida de evaporação/ secagem, como anteriormente.

Em resumo, para caracterizar uma água residual em termos de sólidos suspensos e dissolvidos
podem determinar-se:

• SST – sólidos suspensos totais;


• SDT – sólidos dissolvidos totais;
• SSV – sólidos suspensos voláteis;
• SDV – sólidos dissolvidos voláteis;
• SSNV (SSF) – sólidos suspensos não voláteis (fixos);
• SDNV (SDF) – sólidos dissolvidos não voláteis (fixos).

6. Sólidos sedimentáveis

O teor de sólidos sedimentáveis, expresso em rnl/L, refere-se ao volume de sólidos que sedimentam
no fundo de um cone Imhoff, no fim de um período de repouso de 60 minutos. A sedimentação é, por
vezes, prolongada por um período de 2h, obtendo-se o teor de sólidos sedimentáveis como a
diferença entre o teor de SST na água residual bruta e o teor de SST no sobrenadante.

106
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Neste caso, obtém-se, aproximadamente, a eficiência de remoção de sólidos no decantador primário


de um sistema de tratamento.

7. Cheiro

Numa água residual, o cheiro resulta de gases ou substâncias voláteis que entram na sua
composição ou são provenientes da decomposição da matéria orgânica.

Na Tabela seguinte apresenta-se um conjunto de substâncias que produzem cheiros


desagradáveis/nocivos quando presentes nas águas residuais.

Composto Cheiro
Aminas Peixe
Amoníaco Amónia
Diaminas Carne em decomposição
Sulfureto de hidrogénio Ovos podres
Mercaptanos (metil e etil) Couves em decomposição
Mercaptanos (butil e crotil) Doninha
Sulfuretos orgânicos Couves podres
3-Metilindol ("Skatole") Matéria fecal

E – Tratamento de uma água residual doméstica

Tratamento mínimo

1. Remoção dos sólidos suspensos;


2. Remoção da matéria orgânica biodegradável;
3. Eliminação dos organismos patogénicos.
Em algumas situações, as normas de descarga são mais restritivas:

• Possibilidade de eutrofização do meio receptor


¾ Remoção de nutrientes: azoto e fósforo

• Necessidade de reutilização das águas residuais


¾ Remoção de matéria orgânica refractária;
¾ Metais pesados;
¾ Sólidos dissolvidos inorgânicos (ocasionalmente).

107
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

F – Principais contaminantes das águas residuais

A matéria orgânica biodegradável é composta, principalmente, por:


• Proteínas, sacarídeos, óleos e gorduras.

A matéria orgânica biodegradável é medida, mais frequentemente, em termos de:


• CBO (Carência Bioquímica de Oxigénio);
• CQO (Carência Química de Oxigénio).

A estabilização biológica da matéria orgânica no ambiente:


• Reduz o oxigénio dissolvido;
• Desenvolve condições sépticas.

As descargas de sólidos em suspensão podem:


• Formar depósitos de lamas;
• Desenvolver condições de anaerobiose.

A presença de organismos patogénicos contribui para a transmissão de doenças por contacto directo.

Os nutrientes (azoto e fósforo), quando descarregados em meio aquático, podem dar origem ao
crescimento de vida aquática indesejável. Quando descarregados em excesso no solo, podem
provocar a contaminação dos aquíferos.

Considera-se matéria orgânica refractária, aquela que tende a resistir aos métodos convencionais de
tratamento de águas residuais, tais como agentes tensioactivos, fenóis e pesticidas.

A matéria orgânica dissolvida é constituída por:


• Cálcio, sódio e sulfato provenientes de diversas utilizações;
• Metais pesados derivados de actividades comerciais e industriais.

G – Métodos analíticos

As análises utilizadas para caracterizar as águas residuais são variadas, vão desde precisas
determinações químicas quantitativas até determinações qualitativas biológicas e físicas, em que os
parâmetros estão ligados entre si. Por exemplo, a temperatura (parâmetros físico) afecta tanto a
actividade biológica da água residual como a solubilidade dos gases.

Os métodos quantitativos de análise podem ser:


• Gravimétricos e volumétricos;
• Instrumentais.

108
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os resultados analíticos das amostras de águas residuais expressam-se por meio de unidades de
medida físicas e químicas.

Base Aplicação Unidade

Relação de massa Miligramas / 106 miligramas p.p.m.

Relação de volume Mililitro / Litro mL / L

Massa específica Massa de solução / Unidade de volume Kg / m3

Massa percentual Massa de soluto * 100 /massa soluto + solvente % (em massa)

Volume percentual Volume de soluto * 100 / volume total de solução % (em volume)

Análises químicas

Molaridade Moles de soluto / litro de solução Moles / L

Molalidade Moles de soluto / 1000g de solvente Moles / kg

Normalidade Equivalentes de soluto / litro de solução Equiv. / L

Unidades mais usadas para expressar os resultados analíticos

Os parâmetros químicos expressam-se em:


• Miligramas por litro (mg / L);
• Partes por milhão (p.p.m.).

Para os sistemas aquosos diluídos a densidade é aproximadamente unitária (águas naturais) e as


unidades anteriores são equivalente.

As concentrações dos gases dissolvidos são habitualmente expressas em miligramas por litro. No
caso dos gases gerados por processos anaeróbios (metano e dióxido de carbono) as concentrações
podem ser expressas em litros por metro cúbico.

Os resultados dos ensaios e parâmetros tais como a temperatura, odor e organismos biológicos,
expressam-se em unidades específicas desses parâmetros.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

H – Balanço aos sólidos de uma água residual


Orgânico

Sedimentáveis

Mineral

Suspensos

Orgânico

Não
sedimentáveis
Mineral

Totais

Orgânico

Coloidais

Mineral

Filtráveis

Orgânico

Dissolvidos

Mineral

Sugestão de actividade 8:

• Visita a uma estação de tratamento de águas residuais e, se possível, captar


imagens ou fotografias.

Exemplos de objectivos
• Conhecer os principais processos de tratamento;
• Compreender o seu funcionamento.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre a
estação de tratamento de águas residuais;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

TEMA INTRODUTÓRIO IV

Resíduos

111
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tema integrador 4 – Resíduos

Introdução

A problemática da gestão de resíduos sólidos urbanos é um assunto que tem acompanhado a


evolução da sociedade, daí a necessidade de a incluir, como objecto de estudo e reflexão.

Objectivos gerais:

• Conhecer conceitos fundamentais e critérios da gestão dos resíduos sólidos urbanos;


• Descrever o funcionamento e / ou processos de:
Ö Sistemas de recolha e transporte de resíduos;
Ö Separação e processamento de resíduos;
Ö Valorização e tratamento de resíduos;
• Caracterizar os diferentes sistemas de confinamento de resíduos sólidos urbanos e descrever
o seu funcionamento;
• Identificar os passos a seguir na realização de um plano de gestão de resíduos sólidos
urbanos;
• Distinguir entre sistemas multimunicipais e municipais.

Objectivos específicos:

a) Definir resíduos e resíduos sólidos urbanos;


b) Conhecer a política e legislação comunitária e nacional;
c) Enumerar os diferentes critérios que se podem adoptar para a classificação de RSU;
d) Definir prevenção, redução na fonte e reutilização;
e) Identificar os tipos de deposição, recolha e transporte, disponíveis para a recolha indiferenciada
e selectiva de RSU;
f) Descrever de funcionamento das estações de triagem implementadas em Portugal
g) Compreender e identificar as diferentes formas de valorização e tratamento de resíduos;
h) Compreender o planeamento e gestão de sistemas de resíduos;
i) Compreender a problemática dos Resíduos Industriais;
j) Compreender a problemática dos Resíduos Hospitalares;
k) Conhecer as obrigações das empresas;
l) Saber explicar as operações e tarefas básicas que se realizam num aterro sanitário;
m) Conhecer a hierarquia das opções de gestão de resíduos;
n) Conhecer a legislação aplicável.

112
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

4 – RESÍDUOS

4.1 - INTRODUÇÃO

Sugestão de actividade 1:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma debater questões / problemas
sobre a poluição atmosférica.
• Registar as questões apontadas pelos formandos.
• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.
• Cada grupo terá como tarefa desenvolver uma das questões seleccionadas,
recorrendo a notícias e artigos, referentes ao tema, em jornais, revistas, bibliografia
e Internet.

Exemplos de objectivos
• Enumerar questões/problemas associados à poluição atmosférica.
• Analisar e debater a problemática associada à poluição atmosférica.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

Observação:
Consultar o artigo n.º 3 – “Definições” do Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro
(Estabelece as regras a que fica sujeita a gestão de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Observação:
Consultar a Portaria n.º 818/97 de 5 de Setembro (Aprova a lista harmonizada, que abrange
todos os resíduos, designada por Catálogo Europeu de Resíduos – CER).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Resíduos são quaisquer substâncias ou objectos de que o detentor se desfaz ou tem intenção ou a
obrigação de se desfazer e que constam do Catálogo Europeu de Resíduos (publicado no Anexo I da
Portaria n.º 818/97 de 5 de Setembro).

Resíduos urbanos são os resíduos domésticos ou outros resíduos semelhantes, em razão da sua
natureza ou composição, nomeadamente os provenientes do sector de serviços ou de
estabelecimentos comerciais e industriais e de unidades prestadoras de cuidados de saúde, desde
que, em qualquer dos casos, a produção diária não exceda 1 100 litros por produtor. A este tipo de
resíduos corresponde o código n.º 20 00 00 do Catálogo Europeu de Resíduos.

113
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Nos dias de hoje, a gestão de Resíduos Urbanos (RU), é uma tarefa problemática, devido às
seguintes situações:

• Aumento da produção de resíduos per capita e diminuição dos possíveis locais para a sua
eliminação / deposição;

• Alterações e riscos ambientais relacionados com os sistemas de gestão, cujas medidas de


prevenção e minimização são dispendiosas;

• Relutância na modificação da filosofia e da estrutura dos sistemas de gestão de resíduos;

• Necessidade de obter unanimidade e envolvimento por parte dos agentes nos processos de
participação em planos de gestão de Resíduos Urbanos;

• Dificuldades na aplicação de medidas complementares efectivas (de carácter regulamentar,


económico e educativo) indutoras de comportamentos eficientes de conservação dos
recursos, redução e valorização dos resíduos, por parte dos agentes económicos e dos
consumidores.

Os resíduos constituem, hoje, para a sociedade portuguesa, um problema da maior importância,


podendo apontar-se quatro razões:

• A tomada de consciência de que a deposição desordenada de resíduos é um problema


ambiental grave, constituindo fonte importante de contaminação de solos, linhas de água e
reservas aquíferas subterrâneas;

• A maior exigência ambiental das populações, traduzida pelo desejo de elevação dos níveis de
qualidade de vida;

• A alteração dos hábitos das populações, cada vez mais concentrada em áreas urbanas e cuja
elevação de padrão de vida apresenta como indicador o aumento sensível da quantidade de
resíduos produzida por dia e por habitante;

• A estrutura das trocas comerciais do país, fortemente deficitária, coloca questões de difícil
solução à reciclagem interna de alguns tipos de resíduos.

Estas quatro razões apontam na mesma direcção e tornam claro que, muito mais grave do que a
actual situação do país em matéria de gestão de resíduos, é a progressão da sua degradação.

114
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

4.2 – GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS

Observação:
Consultar o artigo n.º 3 alínea i) – “Definições” do Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro
(Estabelece as regras a que fica sujeita a gestão de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Por gestão de resíduos entende-se as operações de recolha, transporte, armazenagem, tratamento,


valorização e eliminação de resíduos, incluindo a monitorização dos locais de descarga após o
encerramento das respectivas instalações, bem como o planeamento dessas operações.

De acordo com o regime jurídico em vigor, a gestão dos Resíduos Urbanos, é da responsabilidade
dos municípios, independentemente da exploração e gestão ser feita por sistemas municipais ou
multimunicipais. Até há alguns anos, a gestão de Resíduos Urbanos em Portugal, era feita apenas
com a recolha indiferenciada dos resíduos e respectiva deposição em lixeiras.

Juntamente com este tipo de gestão, a enorme produção de resíduos e os poucos espaços
disponíveis para a construção de infra-estruturas, obrigou a uma nova abordagem, gerada, pelas
medidas regulamentares, pelos instrumentos económicos e por uma maior consciencialização dos
cidadãos e dos políticos.

Antigamente, as maiores preocupações relativamente à gestão dos resíduos eram a saúde e a


segurança. Hoje, para além destes dois factores, estão também associadas a conservação dos
recursos, os riscos ambientais associados aos sistemas de gestão de Resíduos Urbanos e a
necessidade de alteração de comportamentos e co-responsabilização de todos os agentes
envolvidos.

No entanto, estas preocupações apenas se materializam se o sistema de gestão de Resíduos


Urbanos for integrado. Neste contexto, “integrado” refere-se aos sistemas, esquemas, operações ou
elementos aos quais as unidades que os constituem podem ser desenhadas ou organizadas de modo
a que uma se relacione com outra com um objectivo comum, a sustentabilidade ambiental,
económica e social.

A ideia de gestão integrada de resíduos também está relacionada com a hierarquia de prioridades
estabelecida pelos regulamentos comunitários no que diz respeito à gestão de resíduos. Esta
determina por ordem decrescente: redução, reutilização, reciclagem (material e orgânica), incineração
com valorização energética, aterro e incineração sem valorização energética.
Contudo, não se deve olhar para as componentes de um sistema integrado como uma escolha linear,
porque existem diferenças sócio-económicas, geográficas, culturais e políticas, que variam de cidade
para cidade, de região para região e até mesmo de país para país.

115
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Ultimamente, tem-se verificado um fenómeno social controverso conhecido pelo síndrome NIMBY
(Not in My Back Yard), o qual traduz a oposição da população à localização de novas infra-estruturas
para valorização, tratamento ou eliminação de Resíduos Urbanos.

A – Principais políticas, legislação comunitária e nacional

Os primeiros passos na gestão de Resíduos Urbanos, ao nível comunitário, foram dados em 1971,
através da publicação de uma recomendação, cujo objectivo se focava na redução e reutilização dos
resíduos. Este objectivo estava previsto no Primeiro Programa Comunitário de Acção para o
Ambiente (1973-1976).

Em 1975, foi publicada a primeira Directiva neste domínio – Directiva n.º 75/442/CEE de 15 de Julho,
com a finalidade de definir uma política de gestão de resíduos.
Em 1987, uma resolução do Parlamento Europeu, alertou para a dimensão e severidade dos
problemas de contaminação dos solos, da água e ar resultantes da incorrecta gestão dos Resíduos
Urbanos.

Em 1989, a Comissão adoptou um documento de orientação – “A Estratégia da CEE para a gestão


de Resíduos”.

Em 1991, a Directiva n.º 75/442/CEE foi parcialmente modificada pela Directiva 91/156/CEE do
Conselho, de 18 de Março de 1991.

No final dos anos 80 e durante os anos 90, a União Europeia, publicou um extenso conjunto de
directivas e regulamentos sobre resíduos, considerando os aspectos globais da gestão quer os
aspectos mais específicos, como os relacionados com métodos de tratamento.

Em 1996, o Conselho de Ministros do Ambiente da EU aprovou a revisão da estratégia adoptada em


1989.

Nessa revisão foi reforçada a prioridade a dar à prevenção, à educação dos cidadãos, à
desmaterialização do sistema económico, demonstrando a importância de medidas como o eco
design no ciclo de vida do produto e a aplicação de outros instrumentos de gestão preventiva.

Em Portugal, a primeira acção do Estado em matéria de resíduos surge em 1927, com a publicação
do Decreto-Lei n.º 13166 de 18 de Fevereiro, o qual atribuía às Câmaras Municipais a
responsabilidade de promulgar atitudes relativas à remoção de lixos domésticos.

116
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A política de gestão de Resíduos em Portugal pode dividir-se em 4 períodos distintos.

Primeiro período – termina em 1972 com a publicação do Decreto-Lei n.º 351/72 de 8 de Setembro
e teve os seguintes objectivos:

• Preocupação exclusiva com os Resíduos Urbanos, devido aos problemas de saúde pública
que originavam;
• Inexistência de intervenções e controlo da Administração Central;
• Responsabilização das Autarquias, sem contrapartidas relativamente aos meios técnicos e
financeiros.

Segundo período – entre 1972 e 1985. Fase de transição, onde se registaram modificações na
estrutura do Governo e Administração Central, no que diz respeito ao ambiente e saneamento.

Terceiro período – começou em 1985, com a publicação do Decreto-Lei n.º 488/85 de 25 de


Novembro. Este Decreto-Lei definiu as competências e responsabilidades no domínio dos resíduos,
quer a nível central, quer a nível local. No entanto, entre 1985 e 1995, a evolução fundamentou-se no
sistema de recolha, com um aumento considerável nos índices de população servida,
comparativamente ao tratamento/eliminação, apesar da extensa publicação legislativa produzida.

Quarto período – começou em 1995, aquando a aprovação do primeiro Plano Nacional de Política
do Ambiente (PNPA), o qual, para a área dos resíduos, aconselhava sete áreas de actuação
prioritárias:

• Elaboração de um Plano Nacional de Resíduos;


• Incentivo à redução, recolha selectiva e reciclagem;
• Estabelecimento de um sistema de controlo e de cumprimento integral da legislação sobre
Resíduos Urbanos;
• Convergência para níveis de atendimento da ordem dos valores médios europeus;
• Aperfeiçoamento dos sistemas de informação e de capacidade de avaliação e de
monitorização dos RU;
• Reforço das capacidades institucionais na gestão dos RU;
• Melhoria das interfaces com o público.

B – Plano Estratégico para a Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU)

Em 1996, foi aprovado o primeiro plano nacional para o sector dos Resíduos Urbanos, o Plano
Estratégico para a Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), o qual marca, o quarto
período na história dos RU.

117
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

De acordo com o PERSU, a quantidade anual de RU a que em Portugal é necessário dar destino
eleva-se em 1995, a 3,34 milhões de toneladas por ano, prevendo-se a sua progressão, em 10 anos,
para 4,49 milhões de toneladas.

A manter-se a actual situação haveria de afectar todos os anos cerca de 3 quilómetros quadrados de
território para a deposição final destes resíduos, prevendo uma altura de armazenagem de 5 metros.

Actividade 2:
• Com base no gráfico responda às seguintes questões.

¾ Qual o destino final que sofreu maior evolução?


¾ Qual o destino final que sofreu menor evolução?

Gráfico
O PERSU prevê um conjunto de acções que se destinam a promover redução
significativa da parcela destinada à deposição final:

100%
90%
73%
80%
70%
60%
1995
50%
2005
40%
30% 25% 25% 25% 25%
20% 14% 9%
10% 4%
0% 0%
0%
Incineração
controldados

Reciclagem
sanitários
vazadouros

Compostagem
Aterros

e tratamento
Lixeiras e

anaeróbio

118
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A realização das expectativas do PERSU assenta nas seguintes vertentes:

• Implantação, desde já, de uma tendência para a redução da produção de RSU, quer através
de iniciativas que reforcem a reutilização de materiais diversos, quer através da
criação/implementação de uma taxa municipal de RSU, autonomizada dos restantes sistemas
de saneamento básico, e que reflicta, preferencialmente, uma relação com a produção de
resíduos sólidos urbanos;

• Reforço acentuado da recolha selectiva e da reciclagem multimaterial, que terá como vector
dinamizador e de estruturação, a nível nacional, o Sistema Integrado de gestão de
embalagens e de resíduos de embalagens. Esta vertente de actuação será complementada
pela implantação de infra-estruturas, equipamentos e serviços, como os eco-centros, as
baterias de contentores específicos de rua e a recolha porta-a-porta, assim como pelas
necessárias campanhas de informação/sensibilização tendo em conta o princípio da
responsabilidade partilhada;

• Reforço da valorização orgânica (por compostagem e/ou digestão anaeróbica) tendo por base
a ampliação/manutenção das capacidades instaladas nos grandes sistemas ou a sua
reposição (entre 1999 e 2005) e a implantação de soluções de valorização orgânica nos
sistemas de âmbito regional ou sub-regional que prevêem essencialmente aterros sanitários
até 1999;

• Exploração/manutenção da capacidade de incineração a instalar nos sistemas da LIPOR e da


VALORSUL, durante o tempo de vida daquelas infra-estruturas, representando esta
manutenção uma redução relativa do peso desta solução de tratamento/valorização
energética, em favor de uma matriz de soluções mais diversificada e promotora de formas
mais nobres de valorização, como a reciclagem multimaterial ou a valorização orgânica;

• Implantação, a partir de 1999, de uma tendência para soluções de confinamento técnico,


destinadas a resíduos últimos, ou seja, resíduos inertes e resíduos não valorizáveis com a
tecnologia disponível.

A educação e a sensibilização ambiental, os possíveis rearranjos institucionais que se venham a


formar, o adequado acompanhamento técnico e monitorização ambiental dos sistemas e a boa
articulação e regulação dos múltiplos agentes (públicos e privados) constituem factores-chave de
sucesso na implantação deste Plano.

119
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As acções deste Plano encontram-se subordinadas a uma selecção hierarquizada de prioridades:

1ª Prioridade – Prevenção;
2ª Prioridade – Limpeza do País;
3ª Prioridade – Educação;
4ª Prioridade – Reciclagem;
5ª Prioridade – Mercado de Resíduos;
6ª Prioridade – Monitorização.

Em paralelo, serão postas em execução as seguintes regras ou acções:

9 A adopção do princípio do poluidor-pagador através do pagamento, pelos utentes, dos


serviços de recolha, transporte e tratamento de resíduos;

9 O reforço da reciclagem através da dinamização das recolhas selectivas e do estímulo da


capacidade e vocação recicladora das fileiras de materiais;

9 A implantação das infra-estruturas de tratamento com valorização energética (incineração) e


orgânica (compostagem);

9 O confinamento dos resíduos últimos, aqueles que não podem ter outro destino, em aterros
sanitários;

9 O fecho das actuais lixeiras e a sua requalificação ambiental assim que os novos
equipamentos de tratamento e de deposição estejam operacionais.

Principais linhas de elaboração do quarto período da história da gestão de Resíduos Urbanos:


• Elaboração do projecto do Plano Nacional de Resíduos;
• Criação do primeiro PERSU;
• Criação do Instituto dos Resíduos (INR);
• Criação da Sociedade Ponto Verde, responsável pela implementação do Sistema Integrado
de Gestão de Resíduos de Embalagens;
• Atribuição do maior investimento financeiro ao sector dos RU, por parte do governo;
• Organização do país em Regiões Plano para a gestão dos RU;
• Abertura da área da gestão e exploração dos sistemas de RU à iniciativa privada;
• Reconhecimento da importância da alteração de comportamentos dos vários agentes
intervenientes no sector, com especial destaque para a necessidade de um forte investimento
na educação dos cidadãos.

120
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

4.3 – CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS

Devido à heterogeneidade dos resíduos, não existe uma classificação internacionalmente aceite.

Os resíduos podem classificar-se de acordo com:

9 Fontes de produção (domésticos, comerciais, industriais, hospitalares);


9 Tipos de materiais que os constituem (papel, vidro, plásticos, metais);
9 Composição química (inorgânicos, orgânicos);
9 Propriedades face aos sistemas (compostáveis, combustíveis, recicláveis);
9 Grau de perigosidade (corrosivos, tóxicos, explosivos);
9 Utilizações dadas aos materiais (resíduos de embalagem, resíduos de demolições).

Observação:
Rever as alíneas c), d), e), f) e também a alínea b) (resíduos perigosos), do artigo n.º 3 –
“Definições” do Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro (Estabelece as regras a que fica
sujeita a gestão de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Em Portugal a classificação dos resíduos prende-se sobretudo com a origem, e de acordo com o
Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro, estão classificados em:
• Resíduos industriais;
• Resíduos urbanos;
• Resíduos hospitalares;
• Outros tipos de resíduos.

É também adoptada a classificação de resíduos perigosos, que estão presentes em maior ou menor
quantidade, em cada uma das categorias anteriores.

Incluídos nos Resíduos Urbanos, existem pequenas quantidades de resíduos perigosos, como por
exemplo, medicamentos fora do prazo, tintas, vernizes e solventes, electrodomésticos com
halocarbonetos clorofluorados (CFC), produtos para preservar madeira, detergentes, entre outros.
Foi considerada no PERSU a necessidade de se abordar os resíduos, não apenas quanto à origem,
mas tendo em conta a diversidade e complexidade dos resíduos produzidos actualmente,
introduzindo-se os conceitos de fileira e fluxo de resíduos.

As fileiras correspondem aos materiais que constituem os resíduos (vidro, papel e cartão, plásticos,
metais e matéria orgânica).
Os fluxos devem ser entendidos como os tipos específicos de produtos usados. No PERSU estão
considerados os seguintes fluxos: embalagens, resíduos de jardim, pilhas e acumuladores, óleos
usados, pneus usados, veículos usados, resíduos de construção e demolição, resíduos de

121
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

equipamentos eléctricos e electrónicos, lamas de estações de tratamento de águas residuais (ETAR)


e pequenas quantidades de resíduos perigosos.

A – Catálogo Europeu de Resíduos (CER)

De modo a harmonizar-se a legislação e a informação do tipo de resíduos na União Europeia, de


forma a que os agentes económicos conheçam o regime ao qual estão afectos, a Comissão aprovou
o Catálogo Europeu de Resíduos (CER) (Decisão n.º 94/3/CE de 20 de Dezembro de 1993). O CER
encontra-se publicado no anexo I da Portaria n.º 818/97 de 5 de Setembro e consiste numa listagem
de resíduos aos quais corresponde um código composto por seis dígitos (código CER). Nesta
Portaria estão também considerados a lista de resíduos perigosos (anexo II) e a lista de
características de perigo imputáveis aos resíduos (anexo III).

Observação:
Rever a Portaria n.º 818/97 de 5 de Setembro e respectivos anexos (Aprova a lista
harmonizada, que abrange todos os resíduos, designada por Catálogo Europeu de
Resíduos – CER).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

São resíduos equiparados a urbanos são todos os que, independentemente da sua origem puderem
ser classificados sob qualquer das entradas existentes no capítulo 20 do CER.

Estes resíduos têm regras próprias de gestão, e, mesmo quando são produzidos em
estabelecimentos industriais, comerciais ou de serviços até ao limite de 1100 litros por dia, a
responsabilidade pela sua gestão compete aos municípios ou às associações de municípios,
incluindo a fixação das normas para a rejeição das fracções consideradas na Lista de Resíduos
Perigosos.

Também pela razão acima apontada é essencial a separação dos resíduos similares a urbanos, a sua
mistura com resíduos de outro tipo é condição suficiente para que não possam ter tal classificação.

B – Quantificação e caracterização de resíduos

Para que se verifique eficácia no planeamento e gestão dos sistemas de recolha, armazenamento,
valorização e eliminação dos resíduos é necessário conhecer as quantidades dos resíduos, assim
como as suas características.
O gestor de um sistema integrado de resíduos, necessita recorrer a várias informações, como por
exemplo, qual a projecção das quantidades e composição dos resíduos gerados ao longo do tempo,
para poder determinar o tipo, dimensão e localização das infra-estruturas de resíduos, as
necessidades de mão-de-obra, o equipamento requerido, o potencial para a valorização, os impactes

122
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

ambientais e económicos do processamento e deposição dos resíduos, bem como as alternativas


mais viáveis.

Produção e evolução
Produção – geração de Resíduos Urbanos nas suas várias fontes: habitações, instituições, empresas,
indústrias, limpeza pública, espaços de lazer, vias de comunicação.

A quantidade de resíduos produzidos pode ser indicada em peso ou em volume. No entanto, devido à
variação de compressão dos resíduos, o peso constitui uma medida de maior precisão e de mais fácil
medição. Porém, conhecer o volume é muito útil, por exemplo em situações onde é necessário
planear o número de contentores e veículos, dimensionar os vários sectores (recepção, separação,
trituração), e calcular o tempo de vida dos aterros sanitários.

As variações nas quantidades de Resíduos Urbanos gerados ao longo do tempo prendem-se com
vários factores:
• Nível de vida das populações (situação económica, social e cultural);
• Dimensão do agregado familiar;
• Tipo e dimensão da habitação;
• Estação do ano (épocas festivas, férias, …);
• Modo de vida das populações (movimento de fins-de-semana e feriados, actividade
profissional);
• Clima (maior quantidade de resíduos de lareiras e outros – cinzas no Inverno, e maior
quantidade de embalagens no Verão);
• Localização geográfica (interior/litoral);

Evolução tecnológica e de consumo (pilhas recarregáveis, menor tempo de vida dos produtos,
hábitos de consumo). O indicador mais usual para revelar a quantidade de resíduos gerados é a
capitação, isto é, a produção de resíduos urbanos (em peso) por habitante (ou por habitação) e por
unidade de tempo (ano ou dia).

A tendência histórica tem revelado que a produção de resíduos urbanos tem aumentado mais
depressa que a taxa de crescimento da população. Um dos factores que tem sido apontado como um
dos responsáveis pelo aumento dos resíduos per capita é a diminuição da dimensão do agregado
familiar, o que ocasionou uma taxa de consumo mais elevada, traduzindo-se numa taxa de produção
de resíduos mais elevada, quando medidos per capita.
Vários outros factores são apontados como responsáveis pelo aumento dos resíduos urbanos,
evidenciando-se o aumento do sector terciário (com o aumento da utilização de papel nas empresas
devido aos meios informáticos), o incremento da urbanização, as alterações nos modelos de
consumo e modos de vida e as políticas de redução e valorização de resíduos.

123
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Composição e evolução

A composição dos resíduos define-se como sendo a sua análise e pode ser física, química ou
específica. Numa sociedade a composição dos resíduos urbanos varia de acordo com determinados
factores, normalmente os mesmos que influem na produção de resíduos. Os componentes que se
devem ter em conta na determinação da composição física variam com as práticas de cada país e
com os objectivos para a sua caracterização.

Em Portugal, e de acordo com a Portaria n.º 768/88 de 30 de Novembro, devem ser consideradas,
numa campanha de caracterização de resíduos urbanos, nove componentes: papel e cartão, vidro,
plásticos, metais ferrosos, metais não ferrosos, materiais fermentáveis, têxteis, finos (resíduos de
dimensões inferiores a 20mm) e outros.

Actividade 3:
• Com base no gráfico responda às seguintes questões.

¾ Em 1993 qual o principal tipo de resíduo que caracteriza os RSU?


¾ Identificar quais os resíduos susceptíveis de serem reciclados.
¾ Indicar que destino final poderá ser dado aos materiais fermentáveis.

Gráfico
Com posição física m édia dos RSU em Portugal em 1993

Têxteis
4%
Finos
13%
Materais
fermentáveis
Outros 35%
5%

Papel e cartão
22%
Metais
3%

Vidro Plástico
5% 13%

124
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Actividade 4:
• Com base no quadro responda às seguintes questões.

¾ Em que região se produziu mais RSU? Justificar a resposta.


¾ Dos RSU produzidos, qual o que foi produzido em maior quantidade? E em que
região?
¾ Dos RSU produzidos, qual o que foi produzido em menor quantidade? E em que
região?

Comparação entre a composição física média dos RSU (%) produzidos


em 1993 nas regiões do interior e do litoral do país

Papel e Materiais Finos


Região Vidro Plástico Metais Têxteis Outros
cartão fermentáveis (<20mm)
Interior /
Baixa 18.5 4.8 11.4 4.9 37.1 4.4 14.0 4.8
densidade
Litoral /
Alta 23.0 4.9 13.0 2.5 15.9 3.5 12.7 4.5
densidade

Para além da composição física, os parâmetros normalmente considerados na caracterização dos RU


são:
1. Peso específico (kg/m3);
2. Humidade (%);
3. Poder calorífico (Kcal/Kg);
4. Análise elementar.

1. Peso específico

¾ Peso de uma massa de resíduos por unidade de volume expresso em kg/m3. Pode assumir
valores diferentes dependendo da maior ou menor compactação a que os resíduos estão
sujeitos nos contentores, veículos de recolha ou nos sistemas de tratamento, valorização e
eliminação.

¾ Varia com diversos factores, em geral os mesmos que contribuem para as variações da
composição física dos resíduos urbanos.

2. Humidade

¾ Percentagem de água presente na massa dos resíduos.

¾ Varia de acordo com a composição dos mesmos, estação do ano, condições climatéricas,
tipo de contentores, entre outros.
¾ Parâmetro de grande importância para a compostagem pois influencia a velocidade da

125
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

decomposição dos resíduos, para a incineração porque modifica o poder calorífico útil e para
os aterros sanitários pois influi na produção de lixiviados e biogás.

3. Poder calorífico

¾ Quantidade de calor libertado por combustão de uma unidade de peso de resíduos brutos.
Pode ser dividido em Poder Calorífico Superior (PCS) – em que se supõe que o vapor de
água formado regressa ao estado inicial, e Poder Calorífico Inferior (PCI) – quando o calor de
vaporização não é restabelecido, isto é, desaparece juntamente com os outros gases de
combustão pela chaminé.

4. Análise elementar

¾ Envolve a determinação percentual de Carbono (C), Hidrogénio (H), Oxigénio (O), Azoto (N),
Enxofre (S), cinzas e por vezes compostos halogenados, existentes na massa de resíduos.

C – Metodologias para a quantificação e caracterização física dos resíduos

A quantificação e caracterização dos resíduos urbanos é da responsabilidade das Câmaras


Municipais e tem, em Portugal, carácter obrigatório, desde a publicação da Portaria n.º 768/88 de 30
de Novembro, onde está definido o Mapa de Registo de Resíduos Sólidos Urbanos.

Observação:
Consultar a Portaria n.º 768/88 de 30 de Novembro (mapa de registos de resíduos sólidos
urbanos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

As Câmaras Municipais, anualmente, devem organizar e actualizar os Mapas de Registo, até 15 de


Fevereiro do ano imediato àquele a que se reportam os dados, enviando os documentos às
autoridades competentes, que depois de emitir os pareceres, os enviam até 15 de Março ao Instituto
dos Resíduos.

As principais acções para o planeamento de uma campanha de caracterização de resíduos devem


ser:

9 Definir as fronteiras da área a caracterizar;

9 Adoptar um método para a recolha de amostras que garanta a representatividade dos


resultados, devido à variabilidade das quantidades e composição dos resíduos;
9 Seleccionar e definir circuitos de recolha de amostras de resíduos urbanos representativos de
cada uma das zonas identificadas;

126
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

9 Definir três aspectos básicos, após estarem delimitadas as áreas e seleccionados os


respectivos circuitos de recolha de resíduos urbanos:
• Grau de representatividade que se pretende;
• Quantidade de amostras que devem ser recolhidas por áreas, para atingir os níveis
exigidos para a fidelidade dos resultados;
• Dimensão (em peso) que cada amostra deverá ter.

9 Programar a calendarização anual da campanha de caracterização dos resíduos urbanos,


estabelecendo para cada circuito representativo, o n.º de vezes que se vai recolher os
resíduos urbanos para a amostra e os meses e dias da semana em que se efectuam os
circuitos de cada área;

9 Organizar os meios humanos e materiais para a realização das campanhas, caso estas se
efectuem com recursos do município ou contactar uma empresa credenciada para o efeito.

4.4 – PREVENÇÃO, REDUÇÃO NA FONTE E REUTILIZAÇÃO

A prevenção pode ser entendida como a reunião de actividades, ou grupo de actividades, que
tenham como objectivo evitar consequências prejudiciais, para a saúde e para o ambiente, derivadas
dos resíduos ou de qualquer operação ou processo do sistema de gestão.

O conceito prevenção está, também, relacionado com as noções de saúde pública e ocupacional,
requerendo o envolvimento dos diferentes agentes económicos e sociais, no que concerne a políticas
e acções conjuntas, baseadas no princípio da responsabilidade partilhada.

Prevenção pode ser definida como um princípio de gestão que se baseia na diminuição da
quantidade e/ou perigosidade dos resíduos, através:

• Utilização de matérias-primas sem ou com a menor quantidade possível de elementos


poluentes;
• Modificação do processo produtivo (quando aplicada à indústria);
• Substituição ou alteração dos produtos por outros ambientalmente mais conciliáveis;
• Reutilização dos resíduos urbanos, mais propriamente resíduos de embalagens.

Pode-se ainda considerar três níveis de prevenção: prevenção primária, secundária e terciária.

Prevenção primária
Refere-se às políticas, programas e acções propensas a evitar, na origem, a geração de resíduos
e/ou a sua perigosidade para o homem e para o ambiente, isto é, pretende reduzir a quantidade ou a
perigosidade dos resíduos.

127
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A prevenção primária inclui, ainda, três aspectos, que apesar de serem complementares podem ser
aplicados ao mesmo tempo:
9 Eliminação – colocação de determinados produtos fora do circuito, pela sua perigosidade;
9 Redução – quantitativa (peso/volume) e qualitativo (grau de perigosidade);
9 Reutilização – utilizar mais do que uma vez o mesmo produto ou bem.

Prevenção secundária

Abarca as acções destinadas a evitar potenciais problemas que resultam do funcionamento do


sistema de gestão de resíduos urbanos. Procura privilegiar o contacto mínimo dos resíduos com os
seres humanos e evitar o impacte dos resíduos nos vários elementos do ambiente.

Prevenção terciária

O principal objectivo deste tipo de prevenção é que não se permita o confinamento de resíduos que
possam ser valorizados.

O conceito redução na fonte aplica-se aos consumidores e aos produtores. Considera-se que os
consumidores têm um papel duplo, são encarados como consumidores de bens e serviços e
produtores de resíduos urbanos.

Os consumidores devem eleger formas de consumo mais sustentáveis, influenciando, através dos
produtos que adquire, a produção de produtos mais limpos, impulsionando, desta forma o mercado.

Os produtores são incumbidos de colocarem em acção medidas que minimizem a produção dos
resíduos originados pelos produtos que consomem.

Sugestão de actividade 5:
• Defina um conjunto de medidas de redução de resíduos na fonte por parte dos
consumidores e dos produtores.

Exemplos de objectivos
• Elaborar medidas redução de resíduos;
• Debater essas mesmas medidas com apresentação de soluções / sugestões de
melhoria;
• Argumentar e concluir sobre as medidas redução de resíduos na fonte por parte
dos consumidores / produtor de RU definidas pelos formandos.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Observação:
Consultar o artigo n.º 3 alínea n) – “Definições” do Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro
(Estabelece as regras a que fica sujeita a gestão de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Pode-se definir reutilização como a reintrodução, em situação semelhante e sem alterações, de


substâncias, objectos ou produtos nos circuitos de produção e ou consumo, de modo a evitar a
geração de resíduos.

Observação:
Consultar a Portaria n.º 29 – B /98 de 15 de Janeiro (Regras de funcionamento dos
sistemas de consignação aplicáveis às embalagens reutilizáveis e às embalagens não
reutilizáveis).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Em Portugal, com a entrada em vigor da Portaria n.º 29 – B /98 de 15 de Janeiro, foi definido a forma
de gestão e os níveis mínimos de reutilização para as embalagens reutilizáveis.

Para dar cumprimento a esta Portaria, os embaladores e os responsáveis pela colocação de produtos
no mercado nacional como embalagens reutilizáveis, devem constituir um sistema de consignação.

Este sistema deve permitir a recuperação e reutilização das embalagens após serem utilizadas pelos
consumidores, envolvendo a cobrança, aquando a compra, de um depósito que apenas poderá ser
reembolsado no acto da devolução.

O comerciante / distribuidor é obrigado a colaborar neste sistema, assegurando a recolha das


embalagens usadas (somente as marcas por ele comercializadas) e o seu armazenamento nas
condições adequadas.
Os embaladores ou os responsáveis pela colocação do produto no mercado nacional são obrigados a
recolher as embalagens recebidas e armazenadas anteriormente pelos comerciantes / distribuidores,
sendo responsáveis pelo seu destino final.

129
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 6:
• Em grupos de 3/4 elementos, elaborar um cartaz sobre a problemática dos
resíduos sólidos urbanos.
• Para recolher informação, pesquisar na Internet, jornais, revistas ou outros.

Exemplos de objectivos
• Sensibilizar os formandos para a problemática dos resíduos;
• Salientar a importância de uma gestão eficaz e eficiente dos resíduos;
• Debater e analisar a informação constante nos cartazes apresentados;
• Eleição do melhor cartaz.

4.5 – SISTEMAS DE RECOLHA E DE TRANSPORTE DE RESÍDUOS

A deposição ou contentorização entende-se como o conjunto de operações que envolvem a


armazenagem domiciliária de resíduos urbanos e a sua colocação em recipientes, em condições de
serem removidos.

Recolha é a operação realizada por pessoas e /ou equipamentos apropriados para esse fim,
mediante a transferência dos resíduos para as viaturas de recolha.

Transporte é a operação de transferir os resíduos de um local para outro.

Os sistemas de recolha (deposição e recolha) e de transporte, alcançam elevada importância,


devido a:
• Serem a componente do sistema de gestão mais dispendiosa, podendo representar 40 a
70% dos custos totais do sistema de gestão;
• Constituírem a interface entre a população e o próprio sistema;
• Terem deixado de ser encarados como uma componente independente do sistema;
• Serem vulneráveis à conduta da população e aos conflitos que possam existir entre os
diversos operadores.

Deste modo, a recolha integrada deve procurar:

• Atingir os mais baixos custos;


• Desenvolver acordos entre os sectores público e privado;
• Fornecer níveis de serviço local apropriados de forma a atingir os objectivos políticos,
regulamentares, de saúde pública e ambiente;
• Ser flexível para as necessidades de mudança;
• Contribuir para as políticas de redução de resíduos urbanos.

130
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As condições de armazenamento dos resíduos urbanos na fonte devem ter em atenção:

• O efeito das características dos resíduos urbanos;


• O tipo de contentores a utilizar;
• A localização dos contentores,
• Os problemas de saúde pública e estética.

Os métodos de deposição dos resíduos são condicionados por vários factores, por exemplo, o clima,
condições geográficas, volume e tipo de resíduos a recolher, tipo de habitação, densidade
populacional, frequência e rapidez da recolha, distância e tipo de tratamento, valorização ou
eliminação que se pretende, hábitos, atitudes e características dos produtores de resíduos, tipo de
recipientes e veículos a utilizar e os recursos humanos e financeiros disponíveis.

Os modos de deposição podem ser classificados de acordo com o tipo de resíduos recolhidos ou com
o tipo de equipamento utilizado para a deposição. Esta pode ser conjunta (resíduos colocados
apenas num recipiente – deposição indiferenciada) ou selectiva (resíduos colocados separadamente
de acordo com o tipo de material).

Relativamente ao tipo de recipientes utilizados, a deposição pode ser feita em sacos, caixas ou
contentores.

A – Os equipamentos para deposição devem ter em conta:

• Tipo de habitação;
• Flexibilidade do sistema (recipientes/veículos);
• Características urbanas locais;
• Grau de participação a esperar da população;
• Capacidade de deposição;
• Tempos de carga / descarga;
• N.º de recipientes necessários;
• Custos de implementação e exploração;
• Tipo de veículos de recolha;
• Higiene e segurança dos trabalhadores.

Qualquer modificação no tipo de recipiente a utilizar tem implicações a montante e a jusante do


sistema de gestão.

A deposição dos resíduos urbanos pode ser feita em vários tipos de recipientes:
• Sacos não recuperáveis;
• Caixas para resíduos recicláveis;

131
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Contentores de pequena e média capacidade;


• Contentores de grande capacidade.

Os contentores de pequena e média capacidade podem ser:


• De fundo redondo, com uma capacidade que varia entre os 35 e os 110 litros;
• De fundo quadrado ou rectangular:
¾ De plástico, com uma capacidade que varia entre os 80 e os 1100 litros;
¾ De metal, com uma capacidade que varia entre os 770 e os 1100 litros.
• Em profundidade (molok), com uma capacidade que varia entre os 1.3 e os 5m3.

Os contentores de grande capacidade podem ser:


• Fixos, com capacidade entre 2 e 5m3;
• Transportáveis, com capacidade entre 5 e 20m3.

Sugestão de actividade 7:
• Em grupos de 3/4 elementos, elaborar um quadro com:
1. Vantagens e desvantagens da utilização de sacos para a deposição de
resíduos urbanos, quer na óptica do produtor de RU quer na do serviço de
recolha;
2. Vantagens e desvantagens da utilização de caixas para a deposição de
resíduos recicláveis.

Exemplos de objectivos
• Apontar as vantagens e desvantagens de dois dos modos de deposição de
resíduos;
• Debater essas mesmas vantagens e desvantagens;
• Argumentar e concluir sobre o modo de deposição dos resíduos urbanos.

B – Tipos de recolha

A recolha pode ser classificada de acordo com o tipo de resíduos recolhidos, o local de recolha, quem
os recolhe e frequência e horário da recolha.

C – Veículos de recolha

A escolha dos veículos de transporte de resíduos depende, essencialmente, das características


locais, contudo, deve possuir determinadas especificidades, designadamente:

• Rapidez de absorção dos resíduos;


• Máximo volume e facilidade de descarga;

132
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Funcionar o mais silenciosamente possível;


• A zona de carregamento deverá permitir uma descarga facilitada dos recipientes;
• Devem ser esteticamente agradáveis;
• A carga deverá distribui-se uniformemente pelos eixos;
• Possuir órgãos de segurança adequados;
• Menores custos de manutenção e consumo de combustível.

Pode-se classificar os veículos de transporte de resíduos de acordo com:

• Método de descarga;
• Tipo de sistema de elevação dos contentores e respectiva localização;
• Tipo de sistema de transferência dos resíduos da tremonha de recepção para o interior da
caixa;
• Número de compartimentos da caixa.

Sugestão de actividade 8:
• Visita a uma empresa de recolha de resíduos sólidos urbanos e, se possível, captar
imagens ou fotografias.

Exemplo de objectivos
• Compreender e analisar dos veículos de recolha de resíduos sólidos urbanos;
• Conhecer o funcionamento e principais equipamentos dos veículos de recolha de
resíduos sólidos urbanos.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre os
veículos de recolha de resíduos sólidos urbanos;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

4.6 – SEPARAÇÃO E PROCESSAMENTO DE RESÍDUOS

A separação de resíduos urbanos por fluxo e por fileiras é um facto importante para a gestão
integrada de resíduos, que pode ser executada em qualquer fase do sistema de gestão. A primeira
separação pode ser realizada na fonte, mas também é possível executá-la durante e/ou após a
recolha dos resíduos urbanos, sobretudo nas estações de triagem, de valorização ou em aterros.

As estações de triagem são unidades, nas quais os resíduos misturados ou previamente separados
na origem, são apartados e processados mecânica ou manualmente com o intuito de recuperar
diferentes fileiras para reciclagem e / ou fluxos para posterior processamento e valorização. As
estações de triagem permitem uma redução da quantidade de resíduos urbanos a depositar em
aterro sanitário, beneficiando a qualidade dos materiais recuperados.

133
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Estas estações podem receber os materiais recicláveis que foram separados na fonte, exigindo um
mínimo de processamento, apenas a remoção de alguns contaminantes, compactação e
enfardamento.

As estações de triagem podem ainda receber os materiais recicláveis como uma mistura de resíduos,
os quais exigem separações e processos mais complexos, antes de serem conduzidos para as
respectivas indústrias recicladoras. Abrangem uma sucessão de operações unitárias, dependendo da
dimensão da estação, do tipo e número de operações e equipamentos a utilizar, de um conjunto de
factores, entre os quais, o tipo de resíduos a processar, o grau de mistura, as exigências do mercado
e as disponibilidades financeiras.
Os equipamentos usados para fazer a transferência de resíduos são os transportadores, sendo os
mais utilizados nas estações de triagem, o transportador de correia (telas e passadeiras
transportadoras), o transportador de draga e o transportador vibratório.

As estações de triagem podem incluir tecnologias e equipamentos mais simples ou mais complexos.
A opção depende de vários factores relacionados, com o tamanho, os custos, a localização, os
impactes ambientais e as condições económicas.

A – Separação manual

É feita por um conjunto de pessoas que separam os materiais recicláveis dos tapetes rolantes para
contentores específicos ou para outras telas transportadoras.

Vantagem:
9 Consegue um grau de separação mais elevado, com produtos menos contaminados e com
investimentos mais baixos;

Desvantagem:
8 Requer mão-de-obra intensiva, com variações de eficiência devido à fadiga, riscos de saúde,
acidentes e custos de mão-de-obra elevados.
Alguns dos riscos enunciados podem ser minimizados através de medidas de circulação e filtragem
do ar, utilização de vestuário apropriado, rotação dos trabalhadores e estudos ergonómicos na
concepção dos locais de operação.

B – Separação semi – automática

Estão associadas dois tipos de separação, a manual e a mecânica.

Vantagens:
9 Melhoria da eficiência na separação de alguns materiais;
9 Diminuição dos custos de separação;
9 Aumento das condições de segurança dos trabalhadores;
9 Melhoria do preço de venda dos materiais e acesso a novos mercados.

134
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

C – Separação automática

São usados sistemas completamente automáticos que utilizam uma combinação de diversos
equipamentos mecânicos, recorrendo às propriedades físicas dos materiais (tamanho, peso e área
superficial).
Uma estação de triagem, independentemente do tipo de resíduos que recebe para processamento,
deve ter sempre três zonas distintas, destinadas:
• À descarga do material dos veículos;
• Ao processamento dos resíduos;
• À formação de fardos e armazenagem dos materiais recuperados e do material rejeitado.

Sugestão de actividade 9:
• Visita a uma estação de triagem e, se possível, captar imagens ou fotografias.

Exemplos de objectivos
• Compreender e analisar o funcionamento das estações de triagem;
• Conhecer as principais fases do processamento dos resíduos.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre
estação de triagem visitada;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

4.7 – VALORIZAÇÃO E TRATAMENTO DE RESÍDUOS

A valorização de resíduos envolve qualquer operação que possibilite o reaproveitamento dos


resíduos e reúna duas situações, a reciclagem (de materiais ou orgânica) e valorização energética.

Na gestão integrada de resíduos, a reciclagem assume um papel importante, e se for


convenientemente gerada, pode criar benefícios económicos e sociais significativos, tais como
poupanças ao nível do consumo dos recursos ou de espaço em aterro, redução da poluição, aumento
da eficiência de outros processos como a compostagem e/ou a incineração e a possibilidade de
permitir aos cidadãos uma participação activa na melhoria da qualidade do ambiente.

Observação:
Consultar a Portaria n.º 15/96 de 23 de Janeiro (Aprova os tipos de operações de
eliminação e de valorização de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

De acordo com a Portaria n.º 15/96 de 23 de Janeiro, reciclagem é o reprocessamento dos resíduos
num processo de produção, para o fim original ou para outros fins, considerando-se incluídos neste
tipo de operação, a compostagem e a regeneração.

Cada produto reciclável obedece a um ciclo que compreende um conjunto contínuo de etapas, que
começa no momento em que cada produto se transforma em resíduo reciclável, passando pela
recolha (deposição e recolha), transporte para as estações de triagem, processamento, transporte
para as indústrias recicladoras, transformação num produto reciclado, distribuição, comercialização,
finalizando no seu consumo. O corte numa destas etapas ou o seu deficiente funcionamento põe em
causa a reciclagem, daí que devam ser analisados todos os possíveis factores que possam impedir
ou por em causa o ciclo.

A – Condições imprescindíveis para o êxito da reciclagem

São várias as condições que podem ser consideradas entraves para o êxito da reciclagem, por
exemplo, a adesão da população aos sistemas de recolha selectiva, o grau de contaminação dos
materiais, as dificuldades no processamento e preparação para as indústrias de reciclagem, a
concorrência com as matérias-primas ditas virgens (devido principalmente aos custos elevados de
transporte e processamento de recicláveis), e ainda a baixa procura de produtos reciclados por parte
dos consumidores.

A adesão da população aos sistemas de recolha selectiva depende de vários factores:

• Características sócio-demográficas (idade, grau de educação, informação, …);

• Características psicossociais (preocupação em relação à problemática dos resíduos, valores,


atitudes, motivação, …);

• Situações operacionais dos sistemas (informação à população, promoção dos sistemas,


número, distância e tipo de recipientes disponíveis para a deposição selectiva, …).

A reciclagem terá mais êxito se forem adoptadas medidas que minimizem ou evitem os obstáculos
mais usuais. Um sistema obterá um melhor desempenho se:

• Não necessitar de um grande número de separações na fonte;


• Cada separação abranger um maior número de componentes;
• Os equipamentos de deposição estiverem bem localizados;

136
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• A recolha dos recicláveis nos sistemas porta-a-porta se efectuar no mesmo dia da recolha
dos não recicláveis, ou num dia diferente mas com uma frequência semanal;
• O sistema de reciclagem não exigir grandes modificações nos hábitos;
• A manutenção dos sistemas for perceptível pela população;
• For efectuada uma promoção eficaz dos sistemas.

A presença de contaminantes pode tornar os resíduos inadequados para reciclagem, no entanto, na


maior parte dos casos diminui o seu valor, deteriorando as suas características e delimitando os
vários usos possíveis.

Os contaminantes característicos dos materiais recicláveis dividem-se em duas categorias:

• Contaminantes residuais, (os que não são removidos nas operações de processamento dos
recicláveis e que reduzem a qualidade do material ou do produto reciclado);

• Contaminantes não residuais, (os que podem ser removidos pelas operações de
processamento mas que, por questões de eficiência técnica e/ou económica ou de poluição
que originam em processos mais sofisticados (efluentes líquidos, gases e resíduos
perigosos), permanecem nos materiais dentro dos limites legalmente aceitáveis).

Um problema é o custo relacionado com o transporte dos materiais recicláveis, depois de separados
e enfardados, principalmente se as indústrias estiverem localizadas a grandes distâncias e se o peso
específico dos materiais for muito reduzido.

Outros factores também influem na reciclagem, designadamente os processos de fabrico e a


capacidade técnica das indústrias, a legislação e política ambiental, a dinâmica da oferta e da procura
e a evolução dos mercados e dos circuitos de comercialização.

B – Resíduos de embalagens

Observação:
Consultar o Decreto-Lei n.º 366-A/97 de 20 de Dezembro (Estabelece os princípios e as
normas aplicáveis ao sistema de gestão de embalagens e resíduos de embalagens).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

De acordo com o disposto no Decreto-Lei n.º 366-A/97 de 20 de Dezembro, a responsabilidade pela


gestão das embalagens e resíduos de embalagens pertence a todos os operadores económicos
envolvidos (embaladores/importadores, distribuidores e fabricantes de embalagens e de
matérias-primas de embalagens).

137
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Observação:
Rever a Portaria n.º 29 – B/98 de 15 de Janeiro (Regras de funcionamento dos sistemas de
consignação aplicáveis às embalagens reutilizáveis e às embalagens não reutilizáveis).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Contudo, estes operadores podem optar por sujeitar a gestão das embalagens e resíduos de
embalagens a um sistema de consignação, no caso das embalagens reutilizáveis, já referido
anteriormente, ou a um sistema integrado para as embalagens não reutilizáveis.

Quando se trata de um sistema integrado, a responsabilidade dos agentes económicos pela gestão
dos resíduos de embalagens pode ser transferida para uma entidade licenciada para exercer essa
actividade. Posto isto, foi criada a Sociedade Ponto Verde.
C – Sociedade Ponto Verde

A Sociedade Ponto Verde foi constituída em 1996 e licenciada em 1997 e tem como objectivo actuar
como entidade gestora do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagem (SIGRE). Este
Sistema é alargado a todo o país e a todos os materiais de embalagem (papel/cartão, plástico, vidro,
alumínio e aço).

Segue o método de um circuito fechado, que envolve a recolha selectiva dos resíduos urbanos e
respectiva sensibilização à população, a triagem e a promoção da operação de reciclagem
propriamente dita. O seu funcionamento segue o princípio da co-responsabilização dos vários
operadores económicos.

Sistema Integrado – Responsabilidades

Fornecedores de Produtores / Importadores Distribuição


matérias-primas e Embaladores
fabricantes de
embalagens Asseguram as contrapartidas
financeiras do sistema Só comercializam
embalagens marcadas

Fabricam, retomam e Autarquias Consumidores


valorizam as embalagens
e resíduos de Responsáveis pela recolha
embalagens selectiva e triagem das Separam em casa e por tipo
embalagens, beneficiando de de material as embalagens
contrapartidas financeiras depois de usadas

O sistema é financiado através de receitas obtidas com a prestação, à entidade gestora, de uma

138
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

contrapartida financeira por cada embalagem colocada no mercado nacional, calculada em função do
peso e do tipo de material constituinte.

A marca “Ponto Verde” colocada numa embalagem, significa que, por


essa embalagem, foi paga uma contribuição financeira a uma
sociedade nacional responsável pela valorização das embalagens,
não constituindo um símbolo ecológico.

D – Reciclagem orgânica

Observação:
Rever o Decreto-Lei n.º 366-A/97 de 20 de Dezembro (Estabelece os princípios e as
normas aplicáveis ao sistema de gestão de embalagens e resíduos de embalagens).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

A reciclagem orgânica é um tratamento aeróbio (compostagem) ou anaeróbio (biometanização),


realizado pela actividade de microorganismos e em condições controladas, das partes biodegradáveis
dos resíduos orgânicos, com produção de resíduos orgânicos estabilizados (composto) ou de
metano, não sendo a deposição em aterro considerada reciclagem orgânica.

E – Compostagem

Compostagem é a degradação biológica aeróbia dos resíduos orgânicos até à sua estabilização,
produzindo uma substância húmica (composto) já utilizada como corrector de solos. Para a realização
da compostagem é preciso ter em consideração a quantidade de materiais fermentáveis, no entanto,
a quantidade de material inorgânico (vidro, metais, terra), também é importante.

Para se obter um produto estável (composto) de forma a poder ser acondicionado em segurança ou
ser aplicado no solo sem impactes no ambiente ou na saúde pública, é essencial um controlo eficaz
de vários factores durante todo o processo, tais como a relação carbono-azoto, temperatura) para
além de uma selecção rigorosa dos resíduos iniciais.

Temperatura Revolvimento

139
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Vantagens da aplicação do composto de boa qualidade nos solos:

• Mantém ou aumenta as reservas de húmus necessárias à manutenção ou melhoria das


propriedades deste;
• Fornece às plantas nutrientes primários;
• Limita o uso de fertilizantes comerciais;
• Reduz o potencial poluidor da agricultura intensiva.

Apesar da simplicidade do processo, por vezes, a compostagem, não é bem realizada, existindo
diversos factores que a influenciam.

Como a compostagem é um processo biológico, pode ser afectada por qualquer factor que influencie
a actividade dos microorganismos envolvidos.

Sugestão de actividade 10:


• Completar o esquema seguinte:

Esquema das entradas e saídas do processo de compostagem

Água

Matéria Processo de
orgânica compostagem

Dióxido de
carbono

Outros factores como o cheiro, a cor, a textura ou a granulometria, devem, também ser
acompanhados durante o processo de compostagem, uma vez que permitem deduções sobre o
estado e condições de evolução do composto.

140
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

F – Valorização energética

Observação:
Rever a Portaria n.º 15/96 de 23 de Janeiro (Aprova os tipos de operações de eliminação e
de valorização de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

De acordo com o disposto na Portaria n.º 15/96 de 23 de Janeiro, a valorização energética engloba a
utilização dos resíduos combustíveis para a produção de energia, através da incineração directa com
recuperação de calor.

No entanto, e em concordância com Lobato Faria et al. (1997), a valorização energética (utilização
dos resíduos apropriados para a produção de energia), pode ser efectuada mediante dois processos
distintos: a queima directa com recuperação de calor (incineração) e a queima do biogás produzido
(biometanização).
Incineração

Incineração é um processo químico industrial de tratamento de resíduos sólidos urbanos, efectuado


por via térmica, com ou sem recuperação da energia calorífica produzida.

A incineração de resíduos urbanos é um processo de combustão controlada que tem como principais
objectivos (White et al., 1995):

• Redução de volume – dependendo da composição dos resíduos urbanos, permite uma


diminuição em volume que pode atingir os 90% dos valores iniciais e uma redução em peso
de cerca de 70%;

• Recuperação de energia – a energia obtida pela combustão dos resíduos urbanos pode ser
utilizada sob a forma de energia térmica, energia eléctrica ou pela conjugação das duas
formas, podendo substituir alguma energia produzida pelos combustíveis fósseis;

• Estabilização dos resíduos – alguns resíduos derivados do processo de incineração


(cinzas/escórias de fundo) são considerados mais inertes que os resíduos urbanos que
entram no processo, uma vez que se diminui no aterro a produção de biogás e águas
lixiviantes.

A selecção da incineração como processo de tratamento (e valorização) de resíduo depende


sobretudo das características destes, sendo fundamental o poder calórico e a capacidade de
autocombustão. Por motivo económicos, a incineração de resíduos deve ser feita sem se recorrer a
combustíveis auxiliares.

141
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Para que tal se verifique é necessário (Piedade, 1997):


• Poder calorífico inferior (PCI) superior a 1 100Kcal/Kg;
• Matéria combustível superior a 25% em peso;
• Teor em cinzas inferior a 50% em peso;
• Humidade inferior a 50% em peso.

Existe uma grande variedade de centrais de incineração, no entanto, todas possuem:


• Local de recepção de resíduos (onde pode existir separação ou pré-processamento);
• Câmara de combustão;
• Caldeira para recuperação de vapor;
• Métodos e equipamentos de tratamento das emissões atmosféricas;
• Locais para armazenamento de cinzas/escórias de fundo e de cinzas volantes.

Uma instalação de incineração pode operar com resíduos de origem da recolha indiferenciada ou da
recolha selectiva (apenas os materiais combustíveis). A mistura antecipada dos resíduos, antes de
entrarem na câmara de combustão proporciona vantagens, pois gera uma maior homogeneidade
permitindo uma combustão com menores variações da temperatura.

Sugestão de actividade 11:


• Visita a uma central de compostagem e de valorização energética e, se possível,
captar imagens ou fotografias

Exemplos de objectivos
• Compreender e analisar o funcionamento da central de compostagem e de
valorização energética;
• Conhecer as principais fases e equipamentos da central de compostagem e de
valorização energética.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher informação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre a
central de compostagem e de valorização energética;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

142
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 12:


• Após a visita a uma central de valorização energética e, com o auxílio do formador,
completar a legenda do desenho seguinte.

Instalação de incineração

Legenda:
1.
2.
3. Tremonha de alimentação;
4. Grelha de combustão;
5.
6. Extractor de cinzas de fundo;
7.
8. Precipitador electrostático;
9. Equipamento para gases ácidos;
10.

G – Confinamento

O confinamento é a última operação dos sistemas de gestão de resíduos urbanos e pode ser
efectuado de várias formas:

• Lixeira ou vazadouro não controlado – modo de confinamento no solo, em que os resíduos


são lançados de forma indiscriminada e não existe controlo subsequente;

• Vazadouro controlado – forma indesejável de confinamento no solo, em que os resíduos


são colocados de forma ordenada e cobertos com terra, o local possui vedação completa e
pelo menos uma das duas condições de drenagem e impermeabilização é cumprida, mas em
compensação não é feita qualquer monitorização de impacte ambiental;

143
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Aterro sanitário – modalidade de confinamento no solo, em que, respectivamente, os


resíduos são lançados ordenadamente e cobertos com terra ou material semelhante, é feito
um controlo constante às águas lixiviantes e gases produzidos, assim como, monitorização
do impacte ambiental durante a operação e após o seu encerramento;

• Armazenagem subterrânea – instalação de confinamento numa cavidade geológica


profunda;

• Confinamento técnico – modo de confinamento caracterizada pelo cumprimento de critérios


de admissão de resíduos, colocação dos mesmos em células próprias e monitorização
ambiental.

A redução, reutilização, reciclagem (de materiais e orgânica) e incineração podem diminuir as


quantidades de resíduos, mas existem sempre materiais residuais que precisam de um destino final
apropriado.

H – Aterros Sanitários

Os critérios usualmente considerados para classificar um aterro sanitário devem satisfazer algumas
condições:
• Vedação total;
• Cobertura diária dos resíduos;
• Impermeabilização dos taludes e fundo;
• Drenagem, recolha, tratamento e subsequente rejeição das águas lixiviantes (satisfazendo as
normas legais);
• Drenagem do biogás;
• Plano de monitorização durante as fases de operação e pós-encerramento;
• Plano de recuperação pós-encerramento.

Um aterro sanitário deve ser projectado, construído e gerido de modo a:

• Diminuir, a níveis mínimos, os transtornos e os riscos para a saúde pública, quer para os
trabalhadores quer para a população residente na zona envolvente, provocados por cheiros,
fogos, ruído, tráfego, estética, vectores de doença, entre outros;

• Minorar os problemas de poluição (água, ar solo e paisagem);

• Utilizar completamente o terreno disponível, através de uma compactação e cobertura eficaz;

• Gerir o empreendimento orientado para a futura utilização do local;

• Redução os níveis de apreensão do risco.

144
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 13:


• Em grupos de 3/4 elementos, elaborar um quadro com:
1. Vantagens e desvantagens da deposição dos resíduos urbanos em aterro
sanitário.

Exemplos de objectivos
• Apontar as vantagens e desvantagens da deposição de resíduos urbanos em aterro
sanitário;
• Debater essas mesmas vantagens e desvantagens;
• Analisar e concluir sobre os resultados obtidos.

O aterro sanitário também pode ser considerado um processo de valorização se o biogás for
recolhido e utilizado para fins energéticos (produção de calor ou energia) e /ou quando coopera para
a recuperação de áreas deterioradas (pedreiras, explorações mineiras).

Tipos e classificação de aterros

Os aterros sanitários podem ser classificados de acordo com:


• Dimensão;
• Características dos resíduos a depositar;
• Topografia do aterro;
• Tecnologia física da exploração.

Dimensão – consideram-se grandes aterros, aqueles que durante o seu tempo útil, confinem 25 000t
de resíduos ou mais;

Características dos resíduos a depositar (artigo 4º da Directiva do Conselho) – em função do tipo


de resíduos admitidos:
• Aterro para resíduos perigosos;
• Aterro para resíduos não perigosos;
• Aterro para resíduos inertes.

Topografia do aterro – de acordo com o confinamento, em altimetria e planimetria:

• Aterro em superfície: começa com a construção de um talude, com inclinação 1:3, onde são
colocados os primeiros resíduos. Este tipo de aterro é aconselhável quando o lençol freático
está à superfície ou outros factores geológicos impedem a escavação. A principal
desvantagem deste tipo de aterro prende-se com a dispersão dos resíduos leves pelo vento;

145
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Aterro em trincheira: usualmente construído em zonas planas ou com declives suaves onde
o nível freático é suficientemente profundo. O solo retirado nas escavações é amontoado na
berma da trincheira, ficando disponível para as operações de cobertura diária e final dos
resíduos. Com este tipo de aterro a possibilidade de dispersão dos resíduos leves pelo vento
diminui, no entanto, a área de trabalho é limitada;

• Aterro em depressão: pode ser edificado em depressões naturais (vales, ravinas) ou


artificiais (antigas pedreiras, explorações mineiras). O modo de deposição e compactação
dos resíduos varia consoante a geometria do local, as características do material de
cobertura, a hidrogeologia e a geologia do local. As vantagens deste tipo de aterro sanitário
dizem respeito aos menores custos de escavação e movimentação de terras e à
oportunidade de reabilitação do espaço. Uma das desvantagens é a disponibilidade do
material de cobertura, que normalmente, é transportada de outros locais.

Tecnologia física da exploração – os aterros sanitários podem ser convencionais, aterros com
triagem a montante e aterros com enfardamento ou compactação prévia dos resíduos. As formas de
operação são semelhantes, com excepção do tipo de processamento realizado aos resíduos antes da
sua deposição em aterro sanitário.

No caso de aterros sanitários com enfardamento ou compactação prévia, é introduzido um sistema de


enfardamento de resíduos a montante da descarga, na estação de transferência ou no próprio aterro
sanitário.

Este sistema de enfardamento possibilita (Cabeças, 1996):


• Menor volume ocupado pelos resíduos em aterro (cerca de 48% do volume ocupado num
aterro convencional);
• Menor volume de terras de cobertura (cerca de 25% do respectivo volume num aterro
convencional);
• Dispensa do equipamento mais pesado do aterro, nomeadamente o compactador;
• Requer menos mão-de-obra e menos consumo de combustível no aterro;
• Reduz significativamente os lixiviados do aterro;
• Anula o arrastamento pelo vento de plásticos e papéis e reduz os odores na envolvente da
zona de trabalho

146
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 14:


• Completar o esquema seguinte:

A eficiência, a quantidade e qualidade dos produtos finais dependem das entradas e


da forma como o processo decorre e é controlado (White et al., 1995)

Energia Recuperação
de calor/energia

Chama

Emissões
Aterro sanitário para o ar

Lixiviados
Fugas
Emissões
para a
água
Tratamento dos
lixiviados

Resíduos
sólidos
inertes

Reacções e processos básicos

Nos aterros sanitário, os resíduos orgânicos decompõem-se por processos aeróbios e anaeróbios.
Assim como nos sistemas de digestão anaeróbia, os aterros sanitários passam por uma fase inicial
aeróbia, de duração reduzida. Em seguida, a conversão e estabilização dos resíduos prospera de
uma forma sequencial de tal modo que as modificações que se verificam ao longo do tempo são
reflectidas na qualidade das águas lixiviantes e do gás produzido (Bicudo, 1996). Essas modificações
podem ser classificadas em 5 cinco fases de estabilização distintas.

147
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Diferentes fases de estabilização de um aterro sanitário (Tchobanoglous et al., 1993)

A decomposição completa dos resíduos em aterros sanitários pode demorar muitos anos, inclusive os
mais facilmente biodegradáveis, devido às condições preponderantes (pouca humidade, taxas de
compactação elevadas). Em alguns aterros as emissões gasosas têm-se verificado 75 anos após o
encerramento dos aterros sanitários.

Composição e produção de lixiviados

Os principais factores que condicionam a produção de águas lixiviantes num aterro sanitário são
(Bicudo, 1996):
• Disponibilidade de água: precipitação, presença de águas superficiais, eventual recirculação
de águas lixiviantes;
• Características da cobertura: tipo de solo e vegetação, presença de material impermeável,
inclinação do terreno e outras características topográficas;
• Características dos resíduos depositados: densidade, teor em humidade, compactação;
• Método de impermeabilização: natural ou artificial, características do solo.

148
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A percolação da água através do aterro sanitário acontece, essencialmente através da cobertura


superficial e pela massa de resíduos. Quando relacionada com a massa de resíduos, factores como a
humidade e a capacidade de campo adoptam uma importância essencial vão influir directamente na
qualidade e no tempo de aparecimento das águas lixiviantes. A água percolada através dos resíduos
é absorvida pelos mesmos até que o limite da capacidade de absorvência seja alcançado (Bicudo,
1996).

A retenção ou armazenamento de água na massa de resíduos é controlada por dois mecanismos:


• Absorção física da água nessa massa através de capilaridade (depende da densidade dos
resíduos, caminhos preferenciais que se constituem e intensidade da precipitação);
• Absorção ilusória da água em vazios na massa de resíduos, originando áreas de saturação
localizadas.

Os mecanismos directamente relacionados com a transferência de massa de resíduos depositados


no aterro sanitário para as águas lixiviantes podem ser divididos em três categorias (Andreotolla e
Cannas, 1992):
• Hidrólise dos resíduos e degradação biológica;
• Solubilização de sais contidos nos resíduos;
• Transporte de material particulado.

O cálculo da quantidade de água lixiviante é feito com base num balanço hídrico simplificado do tipo:
L = P + Ron + U – ET – Roff

Em que :

L – água lixiviante;
P – precipitação acumulada (mm);
Ron – afluxo de água superficial (mm);
U – afluxo de água subterrânea (mm);
ET – evapotranspiração média (mm);
Roff – escorrência superficial (mm).

Num aterro sanitário bem dimensionado, a escorrência superficial e o afluxo de águas subterrâneas,
são, em princípio, evitados ou controlados pela construção de valas de drenagem, tipo de cobertura
do solo (inclinação de ± 2%) e pela impermeabilização do fundo e taludes. Desta forma, as
componentes mais importantes do balanço hídrico devem ser:

L = P – ET – Roff

149
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O escoamento superficial é calculado através da fórmula:

Roff = C * P

Em que C é o coeficiente de escoamento superficial.

Assim, para calcular a quantidade de águas lixiviantes é importante conhecer os valores das
precipitações médias anuais, da evapotranspiração potencial e do coeficiente de escoamento
superficial.

Os aterros sanitários passam, de um modo geral, por uma série de fases mais ou menos previsíveis e
cujo significado e duração são largamente determinados pelas condições climáticas, variáveis
operacionais, opções de gestão e outros factores de controlo. Estas fases podem ser acompanhadas
e caracterizadas, nomeadamente através da análise da evolução da composição das águas
lixiviantes produzidas (Bicudo, 1996).

A composição químicas das águas lixiviantes varia em função da idade do aterro e das fases de
decomposição dos resíduos.

Planeamento de um aterro sanitário

Para que um aterro sanitário funcione da melhor forma, é necessário um planeamento rigoroso de
todas as fases envolvidas, desde a concepção do projecto até à fase final de reconversão após o
encerramento.

Para a concretização desses objectivos a metodologia a desenvolver passa necessariamente por


quatro etapas de actuação:

1ª Etapa – fase de estudos;


2ª Etapa – fase de construção;
3ª Etapa – fase de exploração;
4ª Etapa – fase de encerramento e pós-encerramento.

1ª Etapa – fase de estudos

A implementação de um aterro sanitário deve ser antecedida de vários estudos e projectos técnicos
que vão desde levantamentos básicos (dados populacionais, produção per capita, tipo e composição
dos resíduos urbanos, regime de temperaturas, geologia e litologia, hidrogeologia, paisagem, dados
pluviométricos, ordenamento local, flora e fauna, ruído, poluição do ar, vias de circulação, entre
outros), estudo e selecção de possíveis localizações, projecto de execução e análise de ocorrências
ambientais do local seleccionado e programas de sensibilização, formação e informação da
população. Quando necessário, deve também ser realizado um estudo de impacte ambiental (EIA).

150
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Esta fase de estudo compreende:

• Selecção de locais para a instalação de aterros sanitários

Para a escolha da localização de um aterro sanitário deve-se ter em consideração as preocupações


dos residentes da área envolvente, sobre o ruído, cheiros, resíduos espalhados pela acção do vento,
poluição do ar, água e solo.

De acordo com o disposto no Anexo I da Directiva relativa à deposição de resíduos em aterro, a


localização de mesmo deverá obedecer aos seguintes requisitos:

¾ Distâncias mínimas do perímetro do local em relação a áreas residenciais ou


recreativas, cursos de água, massas de água e zonas agrícolas e urbanas;
¾ Existência de zonas de protecção de águas subterrâneas ou costeiras ou de áreas
protegidas;
¾ Condições geológicas e hidrogeológicas das zonas;
¾ Riscos de cheias, de aluimento, de desabamento de terras ou de avalanches;
¾ Protecção do património natural ou cultural da zona.

A instalação de um aterro sanitário só pode ser autorizada se as características do local, no que se


refere aos requisitos acima mencionados, ou medidas correctoras a implementar indicarem, na
sequência de um eventual estudo de impacte ambiental, que o aterro não apresenta qualquer risco
grave para o ambiente.

• Elaboração do projecto

Observação:
Rever o Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro (Estabelece as regras a que fica sujeita a
gestão de resíduos).
Consultar a Portaria n.º 961/89 de 10 de Novembro (Refere os requisitos a que deve
obedecer o processo de autorização prévia).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

O Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro, estabelece que as operações de armazenagem,


tratamento, valorização e eliminação de resíduos estão sujeitas a autorização prévia do Ministério do
Ambiente. A Portaria n.º 961/89 de 10 de Novembro, refere os requisitos a que deve obedecer este
processo de autorização prévia. Desta forma, o requerimento de autorização deve ser acompanhado
de:

151
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

¾ Certidão de aprovação da localização passada pela Câmara Municipal, que ateste a


compatibilidade da localização com o respectivo Plano Municipal de Ordenamento do
Território, ou, na falta deste plano, pela comissão de coordenação regional
competente;
¾ Parecer favorável à localização, quanto à afectação dos recursos hídricos, emitidos
pela Direcção Regional do Ambiente competente;
¾ Projecto, que deve conter os elementos que constam do anexo I da Portaria.

2ª Etapa – fase de construção

Depois da selecção do local adequado à instalação de um aterro sanitário segue-se a fase de


preparação do mesmo, construção das infra-estruturas de apoio, selecção do equipamento móvel e
do pessoal. De modo a garantir as condições necessárias ao bom funcionamento é importante uma
eficiente construção dos órgãos de apoio.

O aterro sanitário para ser considerado como tal e para responder às exigências de segurança
ambiental, tem de contemplar, desde a fase de arranque e ao longo da sua evolução, um conjunto de
órgãos e sistemas de protecção e tratamento, dos quais se destacam (Cabeças, 1996):
• Um sistema periférico de valetas para desvio de águas pluviais para fora da área de
intervenção e das frentes de trabalho;

• Um sistema de impermeabilização em todo o solo de fundação e taludes, com tela de


HDPE (polietileno de alta densidade) protegida inferior e superiormente com geotêxtil não
tecido;

• Uma camada drenante sobre o sistema de impermeabilização com um mínimo de 0.5m de


espessura;

• Um sistema de drenagem de fundo com valas (principais e secundárias), que possuindo


colectores (perfurados a meia-cana e/ ou de secção cheia) possam de forma estratégica
captar e drenar todas as escorrências líquidas para um poço de captação e derivação;

• Um sistema de recepção que permita concentrar e acumular todos os efluentes residuais


líquidos (águas lixiviantes) drenados;

• Um sistema de tratamento dos efluentes residuais líquidos captados, que permita a saída
destes para o meio receptor natural em condições admissíveis;
• Um sistema de drenagem de biogás em tubagem de HDPE ranhurada a 390º, que
associada à introdução de «estrelas» (tubagem em HDPE colocada transversalmente à

152
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

tubagem vertical do dreno, por cada estrato de 3.0m de altura) permite a saída franca para o
exterior destes efluentes gasosos. Neste sistema, após a selagem do aterro sanitário,
introduzem-se no topo destes as designadas «cabeças de drenos» de onde emerge tubagem
em PVC que permite conduzir todo o biogás captado para uma unidade de queima do biogás
ou para um sistema de aproveitamento de energia;

• Uma unidade de queima do biogás ou um sistema de aproveitamento de energia.

Nos aterros sanitários tradicionais e compactados as máquinas têm por função espalhar os resíduos,
compactá-los, esmagar os corpos ocos e, transportar e colocar o material de cobertura diária ou
definitiva.

3ª Etapa – fase de exploração

O funcionamento do aterro sanitário e a sua exploração obedecem a regras simples que, cumpridas
diariamente, permitirão o respectivo controlo da estrutura sanitária. Desta forma, é necessário
obedecer ao seguinte conjunto de operações básicas (Cabeças, 1996):

• As viaturas ao entrarem no aterro devem ser controladas na Portaria, sendo realizado o


respectivo registo (são pesadas na báscula que deve dispor de um sistema informatizado,
com suporte de software adequado);

• Dirigem-se então, pelas vias de circulação interna e de serviço, às respectivas células


diárias que compõem a frente de trabalho (previamente preparada) onde procedem à
descarga dos resíduos;

• Após a descarga dos resíduos, regressam pela via de saída e, passam obrigatoriamente pela
unidade de lavagem de rodados, por forma a circularem no exterior nas melhores condições
de limpeza;

• Na célula diária em curso, após a descarga dos resíduos, a máquina compactadora realiza o
arrumo destes e procede à sua compactação;

• Os estratos de resíduos devem ter 1.5m de altura (ideal), compactados em toda a extensão e
largura da célula definida para esse dia;

• Atingida a altura da célula, procede-se à sua cobertura com terra (cuja espessura deve rondar
15 a 20cm - um palmo, em gíria);

153
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Para garantir uma boa drenagem superficial, as áreas cobertas deverão ter uma inclinação
transversal superior a 0.5% e longitudinal entre 2 a 3% por forma a facilitar o escoamento no
sentido desejado (proposto no projecto de execução);

• A superfície do material de cobertura deve ser regularizada (com o auxílio de um tractor de


rastos com lâmina) não descurando resíduos à vista. Retoma-se idêntico trabalho na célula
vizinha, e/ou prepara-se a célula para o dia seguinte, com a delimitação da área de
intervenção (frente de trabalho) por pequenos montes de material de cobertura.

Após a entrada em funcionamento do AS deve-se igualmente desenvolver acções que visem


(Cabeças, 1996):

• Formação do pessoal afecto à obra, em termos de saúde pública e formação técnica;

• Realização de programas de sensibilização (visitas da população e escolas ao aterro


sanitário);

• Monitorização do aterro sanitário (águas lixiviantes, águas subterrâneas, biogás, topografia


do aterro sanitário), através de programas regulamentares e periódicos, de acordo com o
Anexo III da Directiva sobre deposição de resíduos em aterro sanitário.

Material de cobertura diária

A cobertura diária dos resíduos é fundamental e tem como objectivo evitar a exalação de maus
cheiros, a multiplicação de roedores, aves e insectos, os focos de incêndio, o espalhamento dos
resíduos leves por acção do vento e a infiltração das águas pluviais. O material a utilizar deve ser
inerte podendo ter diversas composições (cascalho, areias, argilas, saibros, e restos de brita).

4ª Etapa – fase de encerramento e pós-encerramento

Quando o aterro sanitário atinge a sua capacidade limite procede-se ao respectivo encerramento ou
selagem. Para assegurar a funcionalidade das medidas de controlo ambiental durante o
encerramento e no período pós-encerramento (30 a 50 anos) deve existir um plano de encerramento,
realizado, de preferência, na fase de planeamento do aterro sanitário. Este deve incluir os seguintes
elementos (Tchobanoglous et aI., 1993):

• Desenho da cobertura final, indicando, entre outros factores, os declives finais e a vegetação;

• Sistema de controlo e drenagem de águas superficiais;

154
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Controlo e tratamento dos lixiviados (englobando a sequência das operações e métodos de


recolha, tratamento e monitorização);

• Sistema de controlo do biogás (incluindo selecção dos locais, frequência da sua


monitorização e respectivos processos de extracção e recuperação ou queima);

• Sistema de monitorização ambiental (incluindo selecção de locais de amostragem e


frequência para monitorização bem como os parâmetros a serem medidos).

A manutenção após o encerramento envolve inspecções de rotina de todo o local do aterro sanitário,
manutenção das infra-estruturas e monitorização ambiental.

Sistemas de cobertura final

O projecto do sistema de cobertura final é uma parte essencial da selagem do aterro sanitário.
Envolve critérios sanitários, de segurança e paisagísticos relacionados com a utilização do local após
o encerramento.

Os principais problemas geotécnicos dizem respeito à permeabilidade, à estabilidade da cobertura e


aos potenciais riscos de ruptura, quer após o encerramento, quer a longo prazo (30 ou mais anos).
Após o encerramento o aterro sanitário vai continuar a assentar por solidificação. As variações
sazonais podem originar saturação e secagem e consequente fissuração por retracção. É necessário
que a cobertura se possa adaptar a estas deformações mantendo-se estável e sem fissuras por
forma a não comprometer a sua integridade (Coelho, 1996).

Os principais objectivos de construção de uma cobertura final são: reduzir a infiltração das águas
pluviais e permitir que a vegetação se desenvolva, não sendo afectada pela produção de biogás ou
águas lixiviantes.

A selagem final do aterro efectua-se através da colocação de várias camadas (pela ordem que se
segue) (Cabeças, 1996):

• Camada de terras (sem torrões ou pedras) ou outro material, regularizado sobre os resíduos
confinados (espessura mínima 0.80m);
• Camada mineral drenante (material arenoso como seixo ou outro de elevada porosidade, com
espessura de 0.20m) para captação e drenagem horizontal do biogás acumulado na zona
superior da massa de resíduos urbanos;
• Camada de impermeabilização, tendo como opção: a) membrana de HDPE protegida
superiormente por geotêxtil não tecido (superior ou igual a 260g/m2); b) camada de argila
natural (O.5m); c) tela bentonítica;

• Camada mineral drenante (material britado com cerca de 0.30m) protegida superiormente por
geotêxtil não-tecido (superior ou igual a 260g/m2);

155
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Camada de cobertura com terras e terra vegetal na razão de 3:1 (revestimento herbáceo, solo
de suporte com espessura de 60cm; revestimento florestal, solo de suporte com espessura
mínima de 2m);

• Sistema de drenagem das águas pluviais, em manilhas de meia-cana ou valetas.

Estas duas últimas camadas de terra não deverão ser compactadas para permitir a circulação de ar e
a penetração de raízes. Por forma a promover a consolidação da terra dever-se-á, inicialmente (5 a 7
anos), plantar espécies herbáceas.

Utilização final do aterro sanitário

As superfícies de aterros sanitários encerrados podem ser utilizadas para vários fins, como usos
agrícolas, florestais, zonas recreativas, relvados e jardins e construção de urbanizações e
infra-estruturas (aeroportos, campos de golfe, habitações). Devido aos problemas de abatimento e
riscos de explosões e toxicidade, por migração de gases pelas fundações e sua acumulação no
interior dos edifícios, a reocupação e uso de aterro sanitário para construção só é possível se se
tomarem medidas técnicas adequadas as quais são muito dispendiosas. Por este motivo, a utilização
mais comum é a revegetação.

O êxito da revegetação deriva de princípios de agronomia simples: preparação de um solo favorável e


plantação de espécies adaptáveis ao meio. Nos primeiros anos, as espécies florestais e herbáceas
devem ser espécies pioneiras, susceptíveis de suportar condições difíceis ao mesmo tempo que
melhoram a estrutura e a qualidade do solo. É após este período, quando o solo estiver estabilizado,
que se poderá fixar um arranjo definitivo, mais cuidado, de acordo com um plano agronómico e
paisagístico.

Sugestão de actividade 15:


• Visita a um aterro sanitário e, se possível, captar imagens ou fotografias

Exemplos de objectivos
• Compreender e analisar o funcionamento de um aterro sanitário;
• Conhecer as principais fases do funcionamento de um aterro sanitário.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre o
aterro sanitário;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

156
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

I – Sistemas de controlo ambiental

Sistema de impermeabilização de águas lixiviantes

Um dos problemas primordiais causados pela deposição dos resíduos em aterro sanitário é a
formação de águas lixiviantes, as quais arrastam produtos em decomposição e substâncias activas
quimicamente. Se o aterro sanitário não estiver bem impermeabilizado, nem existir um sistema de
drenagem e captação das águas lixiviantes, estas podem chegar até um curso de água ou lençol
freático e em consequência, causar problemas graves de poluição na água e no solo.

De um modo geral, a impermeabilização do aterro sanitário começa com a colocação de telas no


fundo do terreno, enquanto que, nas paredes laterais (taludes) a impermeabilização é feita de modo
progressivo, acompanhando o crescimento da deposição de resíduos no aterro sanitário. Depois da
colocação deste sistema, é colocada uma cobertura de solo ou outro material inerte para a protecção
de danos mecânicos originados pela deposição da primeira camada de resíduos.

Sistemas de recolha e drenagem de águas pluviais e lixiviantes

O sistema de drenagem e captação de águas é composto por (ANRED, 1981):

• Valetas de recolha de águas pluviais – servem para evitar o encaminhamento das águas
pluviais das áreas vizinhas para o interior do aterro sanitário;

• Valas de drenagem de águas lixiviantes – têm como função a recolha e transporte dos
líquidos originários da escorrência que se constata nos resíduos em decomposição,
conduzindo-as para colectores de ligação que as levam ao tanque de recepção;

• Colector de ligação;

• Poço de captação ou tanque de recepção dos lixiviados - recebe as águas lixiviantes para
que se possa efectuar o seu tratamento. Geralmente usa-se uma bomba, para efectuar o
escoamento das águas, que está colocada no tanque no tanque de recepção;

• Estação de bombagem.

Tratamento de águas lixiviantes

De acordo com o disposto da Directiva relativamente à deposição dos resíduos em aterro, as águas
lixiviantes, bem como todas as águas de escorrência que estiveram em contacto com os resíduos,

157
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

devem ser captadas e tratadas em conformidade com as normas adequadas exigidas para a sua
descarga.

Os principais processos de tratamento de águas lixiviantes são:

• Processos de tratamento no local: biológicos (lagoas arejadas, lamas activadas, entre outros)
e/ou físicos – químicos (coagulação/floculação, precipitação química, entre outros);

• Tratamento conjunto com as águas residuais urbanas e/ou industriais, numa estação de
tratamento de águas residuais (ETAR);

• Recirculação.

A condução das águas lixiviantes para uma ETAR municipal é realizada através da ligação do tanque
de recepção a uma rede de drenagem de águas residuais ou directamente à ETAR.

Sugestão de actividade 16
• Em grupos de 3/4 elementos, elaborar um quadro com:
1. Vantagens e desvantagens da deposição dos resíduos urbanos em aterro
sanitário.

Exemplos de objectivos
• Apontar as vantagens e desvantagens da recirculação de lixiviados;
• Debater essas mesmas vantagens e desvantagens;
• Analisar os resultados obtidos.

4.8 – PLANEAMENTO E GESTÃO DE SISTEMAS DE RESÍDUOS

A gestão dos sistemas de resíduos deve obedecer à noção de gestão integrada dos sistemas e de
sustentabilidade, tendo como objectivo fundamental a prestação de um serviço de qualidade aos seus
utilizadores com custos razoáveis e adequados (Lobato Faria et al., 1997).

A – Planeamento dos sistemas

O planeamento de resíduos urbanos deve ser compreendido como o processo pelo qual as
necessidades de uma comunidade, em relação à gestão dos resíduos urbanos, são medidas e
avaliadas, além de serem desenvolvidas alternativas que possam apoiar a tomada de decisões mais
correctas no domínio do sector dos resíduos urbanos (Tchobanoglous et aI., 1993).

158
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As actividades de planeamento podem ser articuladas em três patamares de jurisdição: nacional,


regional e local. Em qualquer um deles deve ser considerado, num Plano de Gestão de Resíduos, o
seguinte:
• O reforço e respeito pela estratégia da EU;
• A opção pelas melhores soluções técnicas;
• A responsabilidade partilhada;
• A integração dos interesses e expectativas dos vários “actores” da sociedade civil
(associações de cidadãos, utentes do serviço, empresas-prestadoras);
• A correcção das disfunções intrínsecas e operativas dos sistemas;
• A sustentabilidade dos sistemas.

De um modo geral, os programas e planos, desempenham um papel importante para a prossecução


dos objectivos da gestão dos resíduos urbanos. A diferença entre eles prende-se com o tipo de
actividades desenvolvidas.

Os programas envolvem todas as actividades associadas à resolução de um problema. Estão


incluídos como componentes funcionais, as estruturas, as operações financeiras, os contratos, o
equipamento e manutenção, a necessidade de mão-de-obra, as entidades gestoras, entre outros.

O propósito fundamental dos planos é o estabelecimento de objectivos e políticas orientadoras.

Para que a execução de um Plano tenha êxito é preciso vontade política e um esforço de todos os
agentes intervenientes, bem como a criação de mecanismos que garantam a sua continuação no
tempo e o acompanhamento cíclico na avaliação e legitimação (técnica, política, económica e social)
pelos agentes interessados.

B – Sistemas e entidades de gestão

A crescente complexidade e os níveis de exigência atribuídos às actividades de gestão de resíduos


urbanos e a vontade política de assegurar a melhoria da qualidade e da eficiência dos serviços
prestados, veio exigir uma reformulação da lei de delimitação de sectores (Martinho et al., 2000).

De acordo com a legislação em vigor, os sistemas multimunicipais caracterizam-se por serem


fundamentais a nível estratégico, abrangendo a área de pelo menos dois municípios e exigindo um
investimento preponderante do Estado.

Os sistemas municipais incluem todos os que não são abrangidos pelos aspectos anteriores, assim
como os sistemas geridos através de associações de municípios.
Tem sido norma considerar os seguintes cinco tipos de modelos de gestão no âmbito do saneamento
básico, designação na qual se tem vindo a integrar o sector dos resíduos, (Lobato Faria et al., 1997):

159
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

1. Gestão pública directa, o que respeita à gestão pública municipal;

2. Gestão pública directa com recursos a estruturas intermunicipais ou regionais;

3. Gestão pública delegada, a qual implica que um município, um grupo de municípios ou


entidades locais previamente designadas, criem uma empresa de capitais municipais, ou
municipais e de outras entidades públicas, e deleguem nessa empresa a gestão do sistema;

4. Gestão delegada mista ou privada, situação semelhante à anterior, mas aqui a entidade que
explora o sistema não é pública, mas sim privada ou mista;

5. Gestão privada ou mista em que, quer a gestão, quer a propriedade dos sistemas, são
privados ou mistos.
As entidades gestoras dos sistemas são, os Municípios (normalmente organizados em Associações
de Municípios) e as entidades multimunicipais cujos sistemas são geridos por empresas
concessionárias com capitais maioritariamente públicos.

A gestão integrada envolve outros agentes, cuja articulação deverá ser realizada no âmbito de
programas específicos de gestão. É, contudo, de referir, pela sua importância na gestão global, os
seguintes agentes (Lobato Faria et aI., 1997):

a) Responsáveis directos pela gestão das embalagens e resíduos de embalagens

b) Responsáveis pelas recolhas indiferenciada e selectiva

c) Responsáveis pelo armazenamento/triagem dos materiais alvo da recolha selectiva

d) Responsáveis pela transferência dos resíduos alvo de recolha (quando esta operação existir)

e) Responsáveis pela valorização orgânica ou energética dos resíduos urbanos

f) Responsáveis pela deposição final dos resíduos urbanos no solo (em aterro sanitário ou
estações de confinamento técnico)

g) Responsáveis directos pela gestão dos diferentes fluxos de resíduos, no âmbito do princípio
da responsabilidade partilhada.

Como referem Lobato Faria et al. (1997), para o arranque do desenvolvimento de novas
infra-estruturas, é indispensável reformular as estratégias de gestão, não apenas adaptando-as à
realidade próxima futura mas também apoiando-as em programas financeiros apropriados.

Algumas disfunções aparecem de forma prioritária neste contexto, destacando-se a estagnação ou o


fraco dinamismo em aspectos importantes como:

160
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Acompanhamento da gestão com base em identificadores de desempenho;

• Estabelecimento definitivo de programas de recolha selectiva com vista à valorização;

• Lançamento de políticas de preços a cobrar aos utentes do serviço, aos beneficiários da


reciclagem e às empresas de valorização, por forma a cobrir os custos de exploração dos
sistemas e a dar lugar a reservas para futuros desenvolvimentos;

• Estudo cuidadoso de soluções integradas: resíduos urbanos – resíduos industriais, por forma
a obter benefícios financeiros sem trair os princípios de defesa do ambiente e de salvaguarda
da saúde das populações;

• Realização de acções de formação visando um alargado leque de conhecimentos, destinados


a vários níveis de gestão tendo em vista a inserção de todos os trabalhadores dos sistemas
numa mesma óptica estratégica;

• Aumento de interesse pelo atendimento ao utente, realização de acções de sensibilização


sempre que tal se proporcione, tudo isto com a finalidade de obter uma gestão interactiva em
que o utente é parte primordial.

Sugestão de actividade 17:


• Individualmente, avaliar o sistema de gestão de resíduos da zona de residência /
escola (recolha, transporte, valorização e destino final);
• Apresentar os resultados;
• Debater e analisar os resultados obtidos.

4.9 – RESÍDUOS INDUSTRIAIS

Observação:
Consultar a resolução do Conselho de Ministros n.º 98/97 de 25 de Junho (Estratégia para
a gestão dos resíduos industriais).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

A dimensão e gravidade do problema dos resíduos industriais, cuja produção anual total se estima
ser de 3,5 milhões de toneladas por ano e cujo destino preferencial é, actualmente, a deposição sem
qualquer tratamento ou controlo nas lixeiras existentes por todo o país, justificaram a adopção de
uma estratégia para a gestão dos resíduos industriais expressa na resolução do Conselho de

161
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Ministros n.º 98/97 de 25 de Junho.


Esta estratégia assenta sobre três princípios:

A – A responsabilidade do produtor

É ao produtor que cabe a responsabilidade pelo destino a dar aos resíduos que produz. No caso dos
resíduos industriais, é a cada unidade industrial que compete zelar pela gestão dos respectivos
resíduos, criados que estejam os meios necessários para tornar exequíveis as obrigações
decorrentes dessa responsabilidade.
B – A hierarquia de preferência

• A primeira prioridade consiste em evitar ou reduzir, entendendo-se que a redução se pode


realizar em quantidade, o que inclui a reintrodução no processo que o gerou e em grau de
nocividade:

• A segunda prioridade consiste em valorizar os resíduos, quer pela sua reintrodução no ciclo
produtivo, quer para a produção de energia. No primeiro caso, a valorização obtém-se pela
reciclagem. No segundo caso, ocorre a valorização energética:

• A terceira prioridade consiste no tratamento com deposição em aterro, e será considerado


apenas no caso de não se revelar viável qualquer forma de valorização.

C – A separação

Não existe possibilidade de gestão dos resíduos industriais sem a sua separação dos restantes tipos
de resíduos, urbanos, hospitalares ou outros.
Por outro lado, esta gestão também depende da separação, na origem, entre os resíduos industriais
perigosos e não perigosos considerados na acepção da Portaria n.º 818/97 de 5 de Setembro a qual
transcreve o Catálogo Europeu de Resíduos e publica a Lista de Resíduos Perigosos.

D – Orientações

As orientações contidas na estratégia para a gestão dos resíduos industriais são:

1. Para os resíduos industriais perigosos

• Co-incineração;

• Tratamento físico-químico;

162
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Exportação;

• Deposição em aterro.

2. Para os resíduos industriais não perigosos

A deposição em aterro deverá também ser, neste caso, a última opção de gestão deste tipo de
resíduo. Os aterros a prever serão também de iniciativa privada, cabendo ao Estado o seu
licenciamento e fiscalização.
A estratégia a seguir, no caso deste tipo de resíduos passa pela sua integração temporária no quadro
dos mecanismos de gestão dos resíduos sólidos urbanos, desde que a sua natureza e quantidade
sejam compatíveis com as infra-estruturas que estão a ser criadas.

4.10 – RESÍDUOS HOSPITALARES

A produção de resíduos hospitalares está estimada, a nível nacional, em cerca de 25000 toneladas.

De acordo com dados de 1993, a produção diária é de cerca de três quilogramas por cama hospitalar,
dos quais metade são resíduos contaminados. Estes resíduos são gerados em hospitais e outras
unidades de cuidados de saúde. Nestas outras unidades incluem-se os postos médicos das
empresas.

Deste modo, as empresas podem gerar resíduos deste tipo e deverão separá-los e tratá-los de
acordo com a legislação aplicável.

Observação:
Consultar artigo 3°, alínea e) do Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro (Estabelece as
regras a que fica sujeita a gestão de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

O Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro define resíduo hospitalar (artigo 3°, alínea e) e determina
a obrigatoriedade do seu registo - artigo 17°, 16).

Observação:
Consultar o despacho da Ministra da Saúde n.º 242/96 de 5 de Julho (publicado no Diário
da República de 13 de Agosto (2" série).

163
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O despacho da Ministra da Saúde n.º 242/96 de 5 de Julho, publicado no Diário da República de 13


de Agosto (2" série), determina no seu ponto 2 a classificação dos resíduos hospitalares em quatro
grupos:

Grupo I – Resíduos equiparados a urbanos, provenientes de serviços gerais, serviços de apoio,


embalagens e invólucros comuns e resíduos da confecção de alimentos. Este tipo de
resíduos é, se devidamente separado, do tipo urbano, devendo ter o tratamento
reservado a estes resíduos.

Grupo II – Resíduos hospitalares não perigosos constituídos por material específico não contaminado
– material ortopédico, ligaduras, fraldas, material de protecção e embalagens vazias de
medicamentos ou soro. Este tipo de resíduos, não estando contaminado, é considerado
equiparado a urbano, devendo ter o tratamento reservado a estes resíduos.

Grupo III – Resíduos hospitalares de risco biológico, constituído por resíduos com sangue ou
provenientes de doentes infecciosos ou suspeitos. Este tipo de resíduos, especificamente
hospitalar e, em princípio, perigoso, deverá ser incinerado ou esterilizado para posterior
eliminação como resíduo urbano.

Grupo IV – Resíduos hospitalares específicos, constituídos por peças anatómicas, material cortante,
fármacos rejeitados e material citostático. Este tipo de resíduos é de incineração
obrigatória.

Observação:
Rever o despacho da Ministra da Saúde n.º 242/96 de 5 de Julho (publicado no Diário da
República de 13 de Agosto (2" série).
Consultar a Portaria n.º 178/97 de 11 de Março.
Consultar a Portaria n.º 174/97 de 10 de Março

No que respeita à gestão deste tipo de resíduos, deverão ser observadas, entre outras, as seguintes
normas:

• Os resíduos dos grupos I e II deverão ser separados na origem (ponto 5 do despacho n.º
242/96);

• Os resíduos dos grupos I e II devem ser acondicionados em recipientes de cor preta (ponto
6a do despacho n.º 242/96);

• Os resíduos do grupo III devem ser acondicionados em recipientes de cor branca, com
indicativo de risco biológico (ponto 6b do despacho n.º 242/96);

164
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Os resíduos do grupo IV devem ser acondicionados em recipientes de cor vermelha, com os


materiais cortantes e perfurantes fechados em contentores não perfuráveis (ponto 6e do
despacho n.º 242/96);

• Registo em mapas próprios, definidos pela Portaria n.º 178/97 de 11 de Março;

• Tratamento dos resíduos dos grupos III e IV de acordo com o estipulado pela Portaria n.º
174/97 de 10 de Março, apenas em unidades autorizadas para o efeito.

4.11 – AS OBRIGAÇÕES DAS EMPRESAS

Observação:
Rever o Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro (Estabelece as regras a que fica sujeita a
gestão de resíduos).
Rever o n.º 3 do artigo 24º da Lei n.º 11/87 de 7 de Abril.
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

As regras gerais a que a gestão de resíduos está sujeita estão estabelecidas no Decreto-Lei n.º
239/97 de 9 de Setembro. O regime jurídico em matéria de gestão de resíduos consagra o princípio
da responsabilidade do produtor pelos resíduos que produza, princípio esse já definido na Lei de
Bases do Ambiente, Lei n.º 11/87 de 7 de Abril, no n.º 3 do seu artigo 24º.

De acordo com o artigo 6º daquele Decreto-Lei, esta responsabilidade, que inclui a recolha,
transporte, tratamento e destino final, compete às seguintes entidades:

a) Municípios ou Associações de Municípios, para os resíduos urbanos, até ao limite de 1100


litros por dia, para cada produtor, sem prejuízo do pagamento, pelos munícipes, das taxas
correspondentes ou tarifas pelo serviço prestado;

b) Os industriais, no caso dos resíduos industriais;

c) As unidades de saúde, no caso dos resíduos hospitalares.

Para as empresas, industriais, comerciais ou de serviços, a responsabilidade pela gestão dos


resíduos que produzem ou de que são detentores processa-se de acordo com as seguintes fases:

A – Opções de Gestão dos Resíduos

9 Prevenção da sua produção;


9 Redução da quantidade;
9 Redução da sua nocividade;

165
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

9 Promoção da sua reutilização;


9 Optimização das condições de valorização, nomeadamente por reciclagem – Eliminação
adequada.

B – Registo dos Resíduos Industriais

Os produtores de resíduos têm o dever de manter actualizado e de enviar anualmente às autoridades


competentes um registo dos resíduos que produzam.

Observação:
Consultar a Portaria n.º 792/98 de 22 de Setembro (Registo de Resíduos Industriais)
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

Este registo deverá ser produzido e enviado, de acordo com o estipulado na Portaria n.º 792/98 de 22
de Setembro, até 15 de Fevereiro do ano seguinte àquele a que diz respeito.

Este registo é constituído por dois tipos de impressos, que podem ser adquiridos na Imprensa
Nacional:
• O modelo n.º 1513, onde se identifica o produtor e o número de resíduos declarados;
• O modelo n.º 1514, do qual deve ser preenchido um exemplar por cada tipo de resíduo, onde
são indicados:
¾ O tipo de resíduo e a sua classificação;
¾ A quantidade produzida;
¾ A identificação dos operadores utilizados no seu transporte e operações
subsequentes;
¾ O tipo de operações de gestão a que o resíduo foi sujeito.

C – Lista de Resíduos Perigosos

Observação:
Consultar a Portaria n.º 818/97 de 5 de Setembro (Aprova a lista de resíduos perigosos e a
das características de perigo atribuíveis aos resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

A Portaria n.º 818/97 de 5 de Setembro aprova a lista de resíduos perigosos e a das características
de perigo atribuíveis aos resíduos.

A lista de resíduos perigosos consta do Anexo II e a lista de características de perigo está descrita no
Anexo III desta Portaria.

166
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

São, em princípio, perigosos, os resíduos cuja classificação CER se encontra na lista de resíduos
perigosos e que, quer na origem, quer no seu tratamento posterior, têm de ser separados dos
restantes resíduos, sendo a sua gestão seguramente mais onerosa.
No entanto, não serão considerados perigosos os resíduos constantes do Anexo II no caso de o
respectivo produtor ou detentor provar, documentalmente, que os mesmos não apresentam nenhuma
das características de perigo enumeradas no Anexo III e, no que respeita às características H3 e H8,
valores abaixo dos que a seguir se indicam:

Característica H3 • Ponto de inflamação menor ou igual a 55°C;

• Uma ou mais substâncias irritantes com a classificação R41


numa concentração total maior ou igual a 10%.
Característica H4
• Uma ou mais substâncias irritantes com as classificações R36,
R37 e R38 numa concentração total maior ou igual a 20%;
• Uma ou mais substâncias classificadas de nocivas numa
Característica H5
concentração total maior ou igual a 25%;
• Uma ou mais substâncias classificadas de muito tóxicas numa
concentração total maior ou igual a 0,1%.
Característica H6
• Uma ou mais substâncias classificadas de tóxicas numa
concentração total maior ou igual a 3%
• Uma ou mais substâncias conhecidas como carcinogénicas
Característica H7 (categorias 1 ou 2) numa concentração total maior ou igual a
0,1%
• Uma ou mais substâncias corrosivas com a classificação R35
Característica H8
numa concentração total maior ou igual a 1 %.

NOTA 1:
A atribuição das características de perigo tóxico, muito tóxico, nocivo, corrosivo, irritante,
carcinogénico e inflamável deve ser efectuada de acordo com os critérios fixados pelo
Decreto-Lei n.º 82/95 de 22 de Abril, relativo à classificação, embalagem e rotulagem de
substâncias perigosas.

NOTA 2:
Carece ainda de regulamentação a atribuição das características de perigo correspondentes
às classificações H9 a H14.

167
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

D – Transporte de Resíduos

Observação:
Consultar a Portaria n.º 335/97 de 16 de Maio;
Consultar o Regulamento n.º 259/93 de 1 de Fevereiro.
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

O transporte de resíduos no território nacional é regulamentado pela Portaria n.º 335/97 de 16 de


Maio e pelo Regulamento n.º 259/93 de 1 de Fevereiro nos casos de importação, exportação ou
trânsito internacional de resíduos.

O artigo 1° da Portaria n.º 335/97 de 16 de Maio fixa as regras principais:

• O transporte de resíduos só pode ser feito por entidades autorizadas em condições


ambientalmente adequadas e com a garantia prévia de que o seu destinatário está autorizado
a recebê-los;

• O transporte de resíduos que se encontrarem abrangidos pelos critérios de classificação de


mercadorias perigosas, previstos no Regulamento Nacional do Transporte de Mercadorias
Perigosas por Estrada (RPE), aprovado pela Portaria n.º 1196-C/97 de 24 de Novembro, está
obrigado ao cumprimento desse Regulamento.

As entidades autorizadas para o transporte rodoviário de resíduos são, de acordo com o artigo 2°
desta Portaria:
• O produtor dos resíduos;
• As diferentes entidades licenciadas para a gestão de resíduos;
• As empresas licenciadas para o transporte rodoviários de mercadorias por conta de outrem,
nos termos do Decreto-Lei n.º 366/90 de 24 de Novembro.
As condições em que deve ser efectuado o transporte de resíduos devem obedecer aos seguintes
requisitos, de acordo com o artigo 3° desta Portaria:

• Os resíduos líquidos e pastosos devem ser acondicionados em embalagens estanques cuja


taxa de enchimento não pode exceder 98%;

• Os resíduos sólidos deverão ser transportados em veículo de caixa fechada ou, pelos menos,
com a carga devidamente coberta;

• Os resíduos constituintes de um carregamento devem ser devidamente arrumados e


escorados;

168
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Se no carregamento, durante o percurso ou na descarga, ocorrer algum derrame, a zona


contaminada deve ser imediatamente limpa.

O produtor, o detentor e o transportador dos resíduos respondem solidariamente pelos danos


causados pelo transporte dos resíduos.

¾ Modelo A – Guia de Acompanhamento de Resíduos;


¾ Modelo B – Guia de Acompanhamento de Resíduos Hospitalares Perigosos.

De acordo com o estipulado no artigo 6º desta Portaria, o modelo A, que é de aplicação universal,
deve ser preenchido em triplicado e observar os seguintes procedimentos:

• O produtor dos resíduos deve preencher o campo 1, verificar o preenchimento, pelo


transportador, do campo 2, nos 3 exemplares da Guia e reter um deles;

• O transportador deve fazer acompanhar os resíduos pelos dois exemplares restantes da


Guia, obter do destinatário o preenchimento do campo 3, deixar-lhe um dos exemplares e
reter o exemplar restante;

• O destinatário deve devolver ao produtor ou anterior detentor, e no prazo de 30 dias, uma


cópia do seu exemplar, devidamente preenchida;

• O produtor ou detentor, o transportador e o destinatário dos resíduos devem manter em


arquivo os seus exemplares da guia de acompanhamento por um período de cinco anos.

E – Operações Proibidas

Observação:
Rever o Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro (Estabelece as regras a que fica sujeita a
gestão de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

De acordo com o artigo 7° do Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro é proibido:

• O abandono de resíduos, bem como a sua emissão, transporte, armazenamento, tratamento,


valorização ou eliminação por entidades ou em instalações não autorizadas;

• A descarga de resíduos, salvo em locais e nos termos determinados por autorização prévia;

• A incineração de resíduos no mar e a sua injecção no solo.

169
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

F – Autorização das Operações de Gestão de Resíduos

Observação:
Rever o Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro (Estabelece as regras a que fica sujeita a
gestão de resíduos).
Consultar a Portaria n.º 961/98 de 10 de Novembro.
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

De acordo com o artigo 8° do Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de Setembro, as operações de


armazenagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos estão sujeitas a autorização prévia
nas condições definidas no artigo 9° do referido Decreto-Lei, e através da Portaria n.º 961/98 de 10
de Novembro.

Este regime de autorização prévia não dispensa as formalidades relativas ao licenciamento industrial
dos estabelecimentos onde se processam as operações de gestão de resíduos acima indicadas.

G – Classificação das Operações de Gestão de Resíduos

Observação:
Rever a Portaria n.º 15/96 de 23 de Janeiro (Aprova os tipos de operações de eliminação e
de valorização de resíduos).
(www.diramb.gov.pt) (actualizado em 10/12/2004)

A Portaria n.º 15/96 de 23 de Janeiro estabelece o conjunto de operações previstas para a eliminação
e para a valorização de resíduos.

As operações de valorização englobam duas categorias:

a) Reciclagem, que pode ser obtida por compostagem ou por regeneração;


b) Valorização energética.

170
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Operações de Eliminação de Resíduos

• Depósito à superfície ou no subsolo (por exemplo, depósito em aterro,


D1
etc.);

• Tratamento em meio ambiente terrestre (por exemplo, biodegradação


D2
de resíduos líquidos ou de lamas nos solos, etc.);

• Injecção em profundidade (por exemplo, injecção de resíduos


D3
bombeáveis em poços, domos de sal, falhas geológicas naturais, etc.);

• Lagunagem (por exemplo, descarga de resíduos líquidos ou de lamas


D4
em poços, lagos, bacias, etc.);

• Depósito em aterro especialmente preparado (por exemplo colocação


D5 em células estanques separadas revestidas e isoladas entre si e do
ambiente, etc.);

D6 • Descarga de resíduos sólidos no meio aquático, excepto o marítimo;

• Imersão em meio marítimo, incluindo o enterramento no subsolo do


D7
mar;
• Tratamento biológico não especificado anteriormente que tenha como
D8 resultado compostos ou misturas que sejam eliminadas por um dos
processos mencionados na presente lista;
• Tratamento físico-químico não especificado na presente lista que tenha
como resultado compostos ou misturas que sejam eliminados por um
D9
dos restantes processos (por exemplo, evaporação, secagem,
calcinação, etc.);

D10 • Incineração em terra;

D11 • Incineração no mar;

• Armazenamento permanente (por exemplo, colocação de contentores


D12
em minas, etc.);

D13 • Mistura antes de uma das operações referidas na presente lista;

• Recondicionamento antes de uma das operações referidas na presente


D14
lista;
• Armazenamento antes de uma das operações referidas na presente
D15 lista, com exclusão do armazenamento temporário, antes da recolha,
no local onde esta é efectuada.

171
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Operações de Valorização de Resíduos

R1 • Recuperação ou regeneração de solventes;

• Reciclagem ou recuperação de substâncias orgânicas não utilizadas


R2
como solventes;

R3 • Reciclagem ou recuperação de metais ou compostos metálicos;

R4 • Reciclagem ou recuperação de outras matérias inorgânicas;

R5 • Regeneração de ácidos ou bases;

R6 • Recuperação de produtos que servem para captar poluentes;

R7 • Recuperação de produtos provenientes de catalisadores;

R8 • Regeneração ou outros reempregos de óleos;

• Utilização principal como combustível ou outro meio de produção de


R9
energia;

• Espalhamento no solo em benefício da agricultura ou da ecologia,


R10 incluindo as operações de compostagem e outras transformações
biológicas;
• Utilização de resíduos obtidos a partir de uma das operações
R11
abrangidas pelos pontos R1 e R10;

• Ofertas de troca de resíduos para serem submetidos a qualquer das


R12
operações numeradas de R1 a R11.

• Acumulação de materiais para serem submetidos a uma das operações


R13 referidas no presente anexo, com exclusão do armazenamento
temporário, antes da recolha, no local onde esta é efectuada.

Operações de Gestão de Resíduos

As operações de gestão de resíduos só podem ser feitas por entidades autorizadas, ou seja, no caso
do transporte, dentro das condições estipuladas na Portaria n.º 335/97 de 16 de Maio, e, para as
restantes operações, nas condições já descritas e definidas no Decreto-Lei n.º 239/97 de 9 de
Setembro.
No caso dos resíduos urbanos ou similares, os serviços competentes para a recolha e tratamento
dependentes de municípios ou associações de municípios, estão obviamente credenciados para
essas operações.

172
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

No caso dos resíduos urbanos ou similares, na quantidade que exceder 1100 litros por dia, de
resíduos industriais ou de resíduos hospitalares, as empresas têm o dever de se assegurar de que o
transporte e operações subsequentes de gestão de resíduos são executados por entidades
devidamente licenciadas.

Essa obrigação é evidente após observação das informações necessárias ao preenchimento do


documento "Guia de Transporte de Resíduos".

4.12 – HIERARQUIA DAS OPÇÕES DE GESTÃO DE RESÍDUOS

A directiva 91/156/CEE, da qual decorre o quadro legislativo apresentado, define a hierarquia das
opções relativas à gestão de resíduos, de acordo com o quadro seguinte:

Prevenção Prevenção integral a que corresponde a completa


na origem supressão dos resíduos gerados nos processos industriais.

Prevenção, redução ou eliminação de fluxos de resíduos,


Alta
Redução na geralmente dentro das fronteiras da unidade produtiva prioridade
origem através de alterações nos procedimentos ou nos processos
industriais.

Reprocessamento dos resíduos num processo de produção


Reciclagem
para o fim inicial ou para outros fins.

Valorização Utilização de resíduos para a produção de energia através


energética de incineração directa, com recuperação de calor.

Destruição, neutralização ou redução da perigosidade dos


Tratamento
resíduos.
Baixa
prioridade
Introdução dos resíduos no meio envolvente, em condições
Deposição controladas por forma a evitar a sua perigosidade.
final Uma adequada deposição final no solo pode envolver
redução de volume, contentorização, confinamento de
lixiviados e adequadas técnicas de monitorização.

A prevenção, a redução na origem e, embora em grau mais atenuado, a reciclagem nas suas
diferentes formas proporcionam um duplo benefício.

Em primeiro lugar, é sistemática a melhoria de rentabilidade para as empresas:

• Melhoria de rendimento na utilização de materiais, logo benefício económico directo;


• Aumento da eficiência dos processos, logo, redução dos custos unitários de produção;
• Provável melhoria da segurança e da saúde do pessoal;
• Provável redução de responsabilidade, logo, melhor imagem pública.

173
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Em segundo lugar, e como consequência, deverá melhorar o grau de conformidade com as


disposições legais.

Estas conclusões são visíveis através dos fluxogramas de materiais, onde, para cada processo se
segue o ciclo das matérias desde a compra das matérias-primas aos produtos, sub -produtos e
resíduos ou emissões resultantes.

4.13 – FLUXOGRAMA DE MATÉRIAS, PRODUTOS E RESÍDUOS

Aprovisionamento de materiais

• Compras;
• Entrega;
• Armazenagem;
• Utilização.

Consumo de materiais

• Processo;
• Recuperação;
• Geração de resíduos.

Resíduos Descargas e emissões

• Recolha; • Efluentes líquidos;


• Armazenagem; • Emissões atmosféricas.
• Reciclagem.

Gestão local de resíduos

• Tratamento;
• Deposição final;
• Descargas e emissões
controladas.

Gestão externa de resíduos

• Transporte;
• Armazenagem;
• Tratamento;
• Descarga;
• Deposição;
• Destruição.

174
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A realização das operações a que correspondem os graus superiores na hierarquia da gestão de


resíduos requer a sistematização das respectivas técnicas:

Técnicas de Minimização de Resíduos

Redução na origem Reciclagem

Boas práticas Reciclagem no processo

Melhor escolha de Reciclagem externa


matérias-primas

Reavaliação da
especificação dos
produtos

Mudanças tecnológicas

Modernização Processos mais


limpos

175
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

TEMA INTRODUTÓRIO V

Energias Renováveis

176
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tema integrador 5 – Energias

Introdução

Em cada gesto e actividade do nosso quotidiano, a energia está presente e sem ela o mundo pararia
completamente. Se os povos primitivos evoluíram a partir da descoberta do fogo, as sociedades
modernas evoluirão tanto mais quanto mais eficientes forem na forma como gerem e exploram as
fontes energéticas, daí a necessidade de reflectir sobre as várias formas de energia.

Objectivos gerais:

• Enunciar alguns conceitos sobre o uso da energia e identificar as diversas formas de energia;
• Analisar as diferentes formas de energia renovável e os seus custos;
• Conhecer a política energética em Portugal;
• Identificar os aspectos a ter em atenção para a gestão de energia;
• Concluir sobre os sistemas de incentivos;
• Conhecer as perspectivas para o futuro.

Objectivos específicos:

a) Enunciar alguns conceitos sobre o uso da energia;


b) Identificar as diversas formas de energia;
c) Conhecer as características dos combustíveis tradicionais;
d) Debater o dilema energético das sociedades modernas;
e) Saber definir Energia Renovável;
f) Reconhecer as diferentes formas de energia renovável;
g) Concluir sobre a política energética em Portugal;
h) Conhecer as perspectivas para o futuro;
i) Conhecer a legislação aplicável.

177
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

5 – ENERGIAS RENOVÁVEIS
5.1 - INTRODUÇÃO

Sugestão de actividade 1:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma, debater questões / problemas
sobre a gestão da energia e sobre as energias renováveis.
• Registar as questões apontadas pelos grupos.
• Após análise e debate, as questões mais pertinentes deverão ser listadas.
• Cada grupo deverá desenvolver uma das questões seleccionadas, recorrendo a
notícias e artigos, referentes ao tema, em jornais, revistas, bibliografia e Internet.

Exemplos de objectivos
• Enumerar questões/problemas associados à energia.
• Analisar e debater a problemática associada à energia.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

A promoção e utilização de fontes renováveis para a produção de energia surge como necessidade
de garantir um desenvolvimento sustentável para a sociedade actual e futura. De facto, os sinais de
alerta são frequentes e a consciencialização das forças de intervenção e sociedade em geral para a
problemática energética é crescente.

Como factores preponderantes na construção do actual cenário do sector energético, podem ser
apontados a larga utilização de fontes não renováveis e o elevado consumo de energia que se
regista, sendo evidente a forte dependência política e económica dos países industrializados face aos
países produtores de petróleo.

Não será novidade que estes combustíveis (petróleo, carvão e gás natural), sendo extraídos a um
ritmo superior ao que se formam, irão desaparecer mais cedo ou mais tarde, e os países que deles
dependem deverão, desde já, preparar-se este facto.

Recentemente, os impactos ambientais surgiram como o principal motivo de preocupação e


consciencialização das populações para os assuntos relacionados com a energia.

178
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

De facto, a realização da conferência do Rio (1992), de onde resultaram documentos importantes no


âmbito da biodiversidade e alterações climáticas, e posteriormente as várias Conferências das Partes
(COP), das quais se destacam as realizadas em Kyoto (1997) e Haia (2000), contribuíram de uma
forma relevante para a sensibilização da população no que diz respeito aos impactos do consumo de
energia.

A diminuição de consumos, o aumento da eficiência energética e a utilização de fontes renováveis


surgem como soluções urgentes para uma resolução de um problema que apresenta uma enorme
complexidade.

As políticas e estratégias da Comissão Europeia têm como objectivo assegurar a continuidade do


desenvolvimento económico e social, sem que este desenvolvimento implique o desrespeito pelo
ambiente ou a degradação dos recursos naturais indispensáveis à actividade humana.

As energias renováveis, que no âmbito da União Europeia são compostas pelas energias solar,
hídrica, eólica, biomassa, geotérmica e resíduos, representavam em 1995, 4,5% do consumo de
energias primárias (consumo interno bruto) nos países da União Europeia.

A Comissão Europeia comprometeu-se entretanto, através do "Livro Verde para as Tecnologias de


Energias Renováveis", a atingir o valor de 12% de energia renováveis em 2010. Com a adopção e
implementação do "Livro Branco para as Tecnologias de Energias Renováveis", que é a primeira
política coordenada para as renováveis no âmbito da União Europeia, é possível que este tipo de
energias se torne a maior fonte endógena de energia na União Europeia.

Sugestão de actividade 2:
• De modo individual ou em pequenos grupos, consultar o “Livro Branco para as
Tecnologias de Energias Renováveis” em publicações da especialidade ou na
Internet.

Exemplos de objectivos
• Conhecer as principais linhas orientadoras do “Livro Branco para as Tecnologias de
Energias Renováveis”.

179
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

5.2 – O QUE É A ENERGIA

A – Breve história da sua utilização

Sugestão de actividade 3:
• Debater com toda a turma as primeiras formas de energia e a sua utilização.
• Registar no quadro as ideias apontadas pelos formandos.
• Após análise e debate, as ideias mais pertinentes deverão ser listadas.

Exemplos de objectivos
• Enumerar as primeiras formas de energia e a sua utilização.
• Analisar e debater sobre a sua utilização.

A queima de madeira foi uma das primeiras formas de energia, servia para o aquecimento e para a
confecção de alimentos, atingindo uma temperatura mais baixa. Para a iluminação e para o
tratamento de metais (cobre, bronze, ferro), a queima da madeira atingia temperaturas mais
elevadas.

Durante séculos foram usadas forças naturais para facilitar o transporte e a produção. Essas formas
de energia foram, a tracção animal para a agricultura (10 a 12 mil anos), o vento para mover os
barcos (5 a 6 mil anos) e os moinhos de vento e de água (3 mil anos).

Diversas civilizações criaram grandes cidades, arte e maravilhas arquitectónicas usando várias fontes
de energia, sendo ainda dominantes em algumas regiões. Essas fontes de energia são:

¾ O corpo humano;
¾ Animais;
¾ Madeira;
¾ Vento;
¾ Água;
¾ Marés.

A utilização de combustíveis fósseis e o crescimento da dependência destes apareceu com a


Revolução Industrial. Inicialmente, a energia era obtida através de moinhos de água. Com a invenção
da máquina a vapor, começou a ser utilizado o carvão.

Nas minas, este tipo de combustível abundava e os efeitos ambientais eram ignorados, ainda que os
processos industriais fossem ineficientes.

180
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Na passagem do século XIX para o século XX, assistiu-se ao desenvolvimento da electricidade e do


motor de combustão interna, surgindo então, o gás e o petróleo como os novos combustíveis.

A energia era obtida directamente pela queima desses combustíveis e indirectamente pela
electricidade produzida através da queima deles ou por centrais hidroeléctricas.
A disponibilidade de combustíveis baratos esteve na origem da explosão da industrialização.

A meio do século XX a distribuição da electricidade tornou-se, praticamente, universal nos países


industrializados.

Com a descoberta de grandes reservas de petróleo no Médio Oriente e no Norte de África, a


dependência dos combustíveis fósseis tornou-se quase total. A energia nuclear surgiu como uma
fonte adicional de energia.

Os combustíveis fósseis eram ainda baratos e as suas reservas grandes, o seu uso continuava a ser
ineficiente e os efeitos ambientais ainda ignorados.

A partir do final dos anos 60, os impactes ambientais da industrialização começaram a ser
analisados. A crise petrolífera dos anos 70 chamou a atenção para o perigo da dependência do
petróleo.

A investigação tem levado a grandes melhoramentos na eficiência de sistemas de aproveitamento


das energias renováveis.

A procura de processos mais eficientes pode conseguir poupanças significativas através de:

¾ Arquitectura de edifícios;
¾ Equipamentos e processos industriais;
¾ Controlo dos processos.

B – Definição

Energia é a capacidade de produzir trabalho, ou seja, criar movimento em presença de uma força
resistente.

Trabalho = Força x Deslocamento


(Joule = Newton x metro)

181
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Unidades de energia:
1 KWh = 3.6 MJ
1 caloria = 4.18 J Para uma eficiência de 100%
1 btu = 1055 J
1 Mtep ≈ 12 TWh

A energia apresenta-se sob diversas formas, que se convertem umas nas outras através de
processos físicos. A quantidade de energia permanece constante em todas as transformações.

O princípio da conservação da energia é comummente designado por Primeira Lei da


Termodinâmica. A energia não se consome, converte-se em formas diferentes, ao contrário dos
combustíveis, que se consomem.

Existem quatro formas fundamentais de energia:

1. Cinética;
2. Potencial gravítica;
3. Eléctrica;
4. Nuclear.

C – Energia Cinética

È a energia que transporta qualquer corpo em movimento.

Ec = ½ x massa x velocidade2
A energia térmica, ou calor, é a energia cinética associada ao movimento das moléculas de uma
substância: quanto mais rápido é esse movimento, mais quente se torna a substância.

D – Energia potencial gravítica

Trata-se de uma forma de energia necessária para elevar qualquer corpo, de forma a contrariar a
gravidade que se opõe a esse movimento (peso do corpo).

A existência da energia potencial gravítica de um corpo suspenso torna-se óbvia quando se


transforma em energia cinética após ser libertado.

Eg = m x g x h
E – Energia eléctrica

182
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tal como a energia potencial gravítica, a energia eléctrica influencia todos os objectos que nos
rodeiam. Cada átomo é composto por uma nuvem de partículas carregadas electricamente
(electrões), movendo-se em redor do núcleo central.

São as forças eléctricas que mantêm unidos os átomos e as moléculas dos materiais. A energia
química, a electricidade e o electromagnetismo são formas de energia eléctrica.

F – Energia Química

A energia resultante das ligações químicas dos átomos na formação das moléculas resulta da
alteração, por vezes substancial, da distribuição dos electrões.

Na queima de um combustível, a energia química que ele contém transforma-se em calor, que é
libertado.

De outra forma, a energia eléctrica que se liberta devido à alteração do arranjo dos electrões
converte-se em energia cinética das moléculas dos produtos da combustão.

G – Electricidade

A corrente eléctrica é o movimento ordenado dos electrões livres que ocorre num material,
normalmente nos metais.

Para manter o movimento dos electrões livres é necessário manter um fornecimento constante de
energia, uma vez que estes perdem energia ao colidirem com a estrutura dos materiais – Produção
de Electricidade.

A produção de electricidade pode ocorrer em pilhas, para uso directo, ou em centrais produtoras
sendo transportada e distribuída no local de consumo, sendo por isso uma forma intermédia de
energia.

H – Energia Electromagnética

É uma forma de energia eléctrica que é transportada pela radiação electromagnética, que é emitida,
embora em diferentes escalas, por todos os objectos.

A radiação electromagnética permite transportar energia no vazio e o seu comprimento de onda


determina as suas características.

183
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

São formas de radiação electromagnética os raios X, ultra violeta, infra vermelhos, ondas rádio e a
banda dos menores comprimentos de onda, que é visível ao olho humano e que designamos por luz
visível.

I – Energia Nuclear

É a energia contida no núcleo dos átomos.

A tecnologia para libertar a energia nuclear foi inicialmente desenvolvida para fins militares, sendo
posteriormente adaptada para a produção de electricidade.

O princípio de funcionamento das centrais nucleares é semelhante ao das centrais térmicas, apenas
substituindo a caldeira onde o combustível é queimado pelo reactor nuclear para a geração de calor.

J – Potência

Potência é a taxa de conversão de energia de uma forma para outra. A unidade SI é o Watt.
Embora energia e potência sejam muitas vezes referidas como se fossem sinónimos, importa
distinguir os dois conceitos.

Potência = Energia / tempo [Watt = Joule / segundo]

Outra unidade de potência habitualmente utilizada é o cavalo-vapor (cv):

1 cv = 735 W (1 HP = 746 W)

L – Eficiência

Num qualquer processo de conversão de uma forma de energia para outra, existe sempre uma
quantidade de energia que se converte numa forma que não a pretendida.

A relação entre a energia útil no final do processo e a energia que é necessário fornecer é designada
por eficiência do processo.

A eficiência pode variar desde os cerca de 90% (motores eléctricos) ou os 10 a 20% (motores de
combustão interna).

184
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Algumas ineficiências podem ser evitadas através da adopção de melhores processos, mas outras
são inerentes ao próprio processo, à natureza da conversão. O entendimento destes limites é
essencial para a optimização do uso das fontes de energia.

As mais baixas eficiências estão associadas à conversão de calor. O calor é uma forma caótica de
energia que nenhuma máquina consegue converter no estado ordenado associado à energia
mecânica ou eléctrica.

As fontes de energia podem ser classificadas desde as formas mais organizadas, alto grau, até às
formas menos organizadas, baixo grau.

Os níveis mais elevados correspondem à energia cinética, gravítica e eléctrica, podendo ser
convertidas em formas de grau inferior com perdas reduzidas. Seguem-se a energia química, e o
calor, respectivamente a alta e a baixa temperatura.

As grandes perdas ocorrem ao converter formas de energia de baixo nível em formas de nível mais
elevado.

Para evitar desperdícios deve-se procurar a aproximação entre o grau das fontes e o grau da
utilização pretendida.

M – Processos em cascata

Um exemplo de inadequação é a utilização da electricidade para aquecimento doméstico. Na sua


produção liberta-se cerca de três vezes mais calor do que aquele que é entregue ao utilizador.

O calor libertado pode, contudo, ser usado para outro fim: é o princípio da co-geração de calor e
electricidade, em que a eficiência global do processo pode subir mais de 80%.

O calor libertado em processos que exigem altas temperaturas pode ser reutilizado num processo de
temperatura inferior, inclusivamente em vários degraus. Procura-se assim aumentar a eficiência dos
processos seguindo o princípio da aproximação entre os níveis de energia.

185
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

5.3 – ENERGIA FONTE DE PROGRESSO

Sugestão de actividade 4:
• Debater com toda a turma quais os sectores com maior utilização de energia.
• Registar no quadro as ideias apontadas pelos formandos.
• Após análise e debate, as ideias mais pertinentes deverão ser listadas.

Exemplos de objectivos
• Enumerar os sectores com maior utilização de energia.
• Analisar e debater sobre a sua utilização.

Os sectores com maior utilização de energia são:

¾ Transportes;
¾ Consumo doméstico;
¾ Sector comercial e institucional;
¾ Indústria.

Durante muitos anos, ao crescimento económico esteve sempre associado um aumento do consumo
de energia, principalmente relacionado com a actividade industrial e com os transportes.

O rápido crescimento do sector dos serviços aumentou de forma substancial o consumo de energia
em edifícios.

O aumento das exigências de conforto e a melhoria do nível de vida das populações fizeram também
aumentar o consumo doméstico. Em Portugal os consumos aumentaram 10 vezes entre 1960 e 1997.

A intensidade energética corresponde à relação entre o crescimento do consumo de energia e o


crescimento do Produto Interno Bruto.

É possível identificar uma relação directa entre o consumo de energia e o nível de vida de um país ou
região.

Os Estados Unidos são claramente o país onde o consumo de energia por habitante é mais elevado,
seguido pelas outras regiões mais industrializadas.
É hoje uma prioridade reduzir esses valores nos países mais desenvolvidos, através de processos
mais eficientes, melhor dimensionados, da redução de desperdícios.

186
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os países mais pobres são aqueles que registam menores consumos por habitante. Porém, são
aqueles onde a procura do crescimento económico, para suprir as necessidades das populações,
leva a que não seja possível aplicar regras que começam a vigorar nos países desenvolvidos.

É contudo indispensável que se aprenda com os erros do passado, procurando adoptar todas as
medidas possíveis, sempre com o objectivo de conseguir um desenvolvimento sustentável.

A – Utilização tradicional dos combustíveis

Consumo de energia primária

Consumo Mundial (1992) Consumo em Portugal (1997)

Petróleo 33% Petróleo 70.4%

Carvão 22.8% Carvão 16.9%

Gás 18.8% Gás 0.5%

Biomassa 13.8% Biomassa 5.5%

Hídrica 5.9% Hídrica 5.5%

Nuclear 5.6% Electricidade Importada 1.2%

Produção de electricidade em Portugal

Sistema produtivo da EDP


• Centrais a fuelóleo, Carregado e Setúbal -1750 MW;
• Centrais a carvão, Sines e Pego – 1800 MW;
• Central a gás natural, Tapada do Outeiro – 1000 MW;
• Aproveitamentos hidroeléctricos
- Cávado/Lima – 1099 MW;
- Douro – 1806 MW;
- Tejo/Mondego – 778 MW.

Produtores independentes
• Centrais mini-hídricas;
• Centrais de co-geração;
• Parques Eólicos.
Em 1997, os produtores independentes produziam cerca de 25% da electricidade por via térmica e
5% por via hídrica.

187
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Utilização da energia na Europa

Os padrões do uso da energia variam bastante de país para país. A França, por exemplo, apostou na
energia nuclear, tendo um claro excesso de produção em relação ao consumo, o que obriga à
exportação de electricidade e ao incentivo do uso desta forma de energia, inclusivamente para
aquecimento doméstico e ar condicionado.

Na Dinamarca, desde os anos 70, houve uma mudança do petróleo para o carvão, importando
grandes quantidades de energia hidroeléctrica da Noruega e Suécia. Decidiu não utilizar a energia
nuclear, apostando, nos últimos anos nas energias renováveis. É um dos três países Europeus com
maior quantidade de parques eólicos.

Para avaliar a energia usada é por isso importante considerar toda a cadeia de conversões,
distinguindo entre:

• Energia primária;
• Energia entregue;
• Energia útil.

Energia primária e energia entregue, por combustível e por sector de actividade

Energia Carvão Petróleo Gás Nucl.


Primária

Elec. Hidrica

Energia Sol. Líquida Gás Electri Aq. Energia perdida na conversão


Entregue e transporte

Sector Doméstico Comérc. Transportes Indústria Agricul

Usos Aquecimento de água Outro Aquec. Cozinh Transportes Reservas

Iluminação Outras
aplicações

188
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Actividade 5:
• Com base nos gráficos, responda às questões seguintes.

¾ Em 1960, qual o sector de actividade que utilizava mais energia? E em 1992?


¾ Compare a utilização de energia por sector de actividade em 1960 e em 1992.
¾ Qual o sector de actividade que apresentou maior evolução? E menor?
¾ Enumere os possíveis motivos para essa evolução / regressão.

¾ Em 1960, qual era o tipo de combustível mais utilizado? E em 1992?


¾ Compare a utilização dos combustíveis em 1960 e em 1992.
¾ Qual o tipo de combustível que apresentou maior evolução? E menor?
¾ Enumere as possíveis razões para essa evolução / regressão.

Evolução da utilização de energia por sectores de actividade

19 6 0 19 9 2

Outro s uso s
Outro s uso s finais
finais Transpo rtes 14%
Transpo rtes
12% 17%
32%

Indústria
25%
Do méstico
Indústria
29%
42%
Do méstico
29%

Evolução da utilização dos combustíveis

19 6 0 19 9 2
Co mbust.
só lido s
Gás 62%
Electricidade
6%
7% Electricidade
16%

Petró leo
Co mbust. 25%
só lido s
P etró leo Gás
62%
42% 32%

189
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

C – Potencial de poupanças de energia

Sector dos transportes

Em termos de utilização de energia trata-se do uso de um processo de conversão muito ineficiente,


converter combustíveis líquidos (baixo grau) em energia cinética (alto grau).

Seria muito mais eficiente utilizar a electricidade, embora se esta for produzida em centrais térmicas
permanece a perda de calor.

Actividade 6:
• Com base no gráfico, responda às questões seguintes.

¾ Qual o meio de transporte que apresenta maior eficiência energética, em ocupação


máxima? E em ocupação normal?

¾ Qual o meio de transporte que apresenta menor eficiência energética, em


ocupação máxima? E em ocupação normal?

Eficiência energética de diferentes meios de transporte

Carro a gasolina (pequeno)

Carro a gasolina (grande)

Carro a gasóleo (pequeno)

Carro a gasóleo (grande)

Comboio Intercidades eléctrico

Comboio intercidades diesel

Comboio suburbano eléctrico

Comboio suburbano diesel Ocupação máxima

Autocarro de dois pisos Ocupação normal

Autocarro de um piso

Mini autocarro

Boeing 737

Mota

Motorizada

Bicicleta

Andar a pé

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5


MJ / Passageiro Km

190
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 7:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma, debater sobre as possíveis
melhorias a implementar no sector dos transportes, baseando-se no gráfico
anterior.
• Registar as sugestões de melhoria apontadas pelos grupos.
• Após análise e debate, as mais pertinentes deverão ser listadas.

Exemplos de objectivos
• Enumerar as possíveis melhorias a implementar no sector dos transportes.
• Analisar e debater a problemática associada aos transportes.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

Sector do uso doméstico

• Aquecimento interior;
Queima directa de combustíveis
• Aquecimento de água;
• Cozinha;

• Iluminação; Electricidade
• Aparelhos eléctricos.

Sugestão de actividade 8:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma, debater sobre as possíveis
melhorias a implementar no uso doméstico.
• Registar as sugestões de melhoria apontadas pelos grupos.
• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

Exemplos de objectivos
• Enumerar as possíveis melhorias a implementar no uso doméstico.
• Analisar e debater a problemática associada ao uso doméstico.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

191
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sector comercial e institucional

O tipo de utilização é semelhante ao doméstico. Nos grandes edifícios de escritórios, hotéis ou


centros comerciais, os consumos são muito importantes.

“ O somatório de pequenas poupanças pode permitir ganhos significativos”.

Sugestão de actividade 9:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma, debater sobre as possíveis
melhorias a implementar no sector comercial e institucional.
• Registar as sugestões de melhoria apontadas pelos grupos.
• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

Exemplos de objectivos
• Enumerar as possíveis melhorias a implementar no sector comercial e institucional.
• Analisar e debater a problemática associada ao sector comercial e institucional.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

Sector industrial

Neste sector, as utilizações muito diversificadas (calor a alta e a baixa temperatura, criação de
movimento, maquinaria diversa), também necessita de climatização, iluminação, alimentação de
aparelhos eléctricos tal como nos edifícios. Os combustíveis também podem ser usados como
matéria-prima, por exemplo no fabrico de plásticos ou de produtos químicos.

192
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 10:


• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma, debater sobre as possíveis
melhorias a implementar no sector industrial.
• Registar as sugestões de melhoria apontadas pelos grupos.
• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

Exemplos de objectivos
• Enumerar as possíveis melhorias a implementar no sector industrial.
• Analisar e debater a problemática associada ao sector industrial.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

Orientações a seguir

A energia é essencial para o desenvolvimento, contudo é um bem escasso e precioso. A sua


conversão provoca malefícios para o ambiente, daí que deva ser usada com moderação e da maneira
mais racional possível, devendo ser a procura a condicionar a oferta e não o contrário.

“Só a energia poupada hoje não aumentará de preço no futuro.”

5.4 – COMBUSTÍVEIS TRADICIONAIS

¾ Petróleo e seus derivados;

¾ Carvão;

¾ Gás: propano, butano, gás natural;

¾ Elementos radioactivos: urânio, plutónio.

A – Petróleo

O petróleo e os seus derivados (fuelóleo, gasolina, gasóleo, etc.) são os combustíveis mais usados
no planeta.
A conversão de energia é conseguida através da sua queima, obtendo calor que pode ser usado
directamente ou transformado em outras formas de energia (electricidade, energia cinética).

193
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As suas aplicações fundamentais são na indústria e, principalmente, nos transportes, onde é


claramente o combustível mais utilizado.

As reservas de petróleo estão concentradas num pequeno grupo de países. Tal facto, associado à
sua importância para a economia Mundial, leva a que quem não dispõe de reservas petrolíferas fique
com uma dependência em relação a esses países.

O uso intensivo deste combustível pode levar ao rápido esgotamento das suas reservas (40 anos), o
que faz prever um aumento do seu preço nos próximos anos.

B – Carvão

O carvão segue de perto o petróleo entre os combustíveis mais usados. A conversão da energia é,
também neste caso, através da queima.

As aplicações são também muito semelhantes, com excepção dos transportes. É bastante usado em
centrais para produção de electricidade.

As reservas são mais abundantes e mais dispersas geograficamente, não sendo contudo infinitas
(220 anos).

C – Gás

O gás natural aparece em rápido crescimento da utilização. Outros gases (propano, butano) têm sido
bastante utilizados, o chamado "gás de garrafa" é muito utilizado no sector doméstico.

Gás natural

O gás natural é apresentado como combustível do futuro. É extraído directamente de jazidas situadas
em vários pontos do mundo. Não exige transformações ou processos industriais antes da utilização.

A sua composição típica é à base de metano (84%), contendo diversos outros gases como: etano
(8%), propano (2%), azoto (5%) e reduzidas quantidades de outros gases.

Apresenta grandes vantagens ao nível do impacto ambiental sobre o petróleo e o carvão, podendo
ser usado nas mesmas actividades.

194
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

É a menos poluente das energias fósseis: liberta, por kWh de energia produzida, cerca de metade do
CO2.

É mais seguro que a maior parte dos gases: é mais leve que o ar, por isso tem tendência a espalhar-
se em caso de fuga.

Efeitos poluentes

A queima dos combustíveis tradicionais liberta para a atmosfera diversos compostos nocivos:

• Dióxido de carbono (CO2);

• Monóxido de carbono (CO);

• Dióxido de enxofre (SO2);

• Óxidos de azoto (NOx);

• Partículas

Nuclear

A energia nuclear permite a libertação de grandes quantidades de energia. Tem sido bastante
utilizada na produção de electricidade e tem a vantagem de não libertar os poluentes tradicionais.

Os compostos usados para o início da reacção são radioactivos: urânio, plutónio, mas as reservas
são também finitas: 260 anos.

O grande problema é o que fazer aos resíduos radioactivos. Um acidente, a ocorrer, pode tomar
proporções dramáticas.

195
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 11:


• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma debater sobre as vantagens e
desvantagens dos combustíveis tradicionais.
• Registar as vantagens e desvantagens dos combustíveis tradicionais.
• Após análise e debate, as mais pertinentes deverão ser listadas.

Exemplos de objectivos
• Enumerar as vantagens e desvantagens dos combustíveis tradicionais.
• Analisar e debater a problemática associada aos combustíveis tradicionais.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas de soluções /
sugestões que contribuam para a sua resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

5.5 – DILEMA ENERGÉTICO DAS SOCIEDADES MODERNAS

A – Problemas ambientais

• Emissão de compostos que originam efeito de estufa;

• Chuvas ácidas;

• Poluição dos oceanos por óleos;

• Resíduos radioactivos.

O efeito de estufa é causado pela acumulação na atmosfera de compostos que filtram as radiações
infravermelhas.

A temperatura da Terra é influenciada pelo equilíbrio entre a radiação recebida do Sol e a emitida
pela Terra.
Esses compostos deixam passar a radiação de baixos comprimentos de onda (Sol) e filtram a de alto
comprimento de onda (Terra).

Com o contínuo aumento da concentração dos gases do efeito de estufa, nomeadamente do dióxido
de carbono, a temperatura média da Terra tem vindo a aumentar.
Prevê-se que, se não for interrompido o ritmo de crescimento das emissões, a temperatura média da
Terra possa subir entre 1,5 a 4,5 °C até 2050.

196
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Este aquecimento global pode provocar a subida do nível dos oceanos, alterações climáticas
aumento das inundações e outras catástrofes atmosféricas.

As chuvas ácidas são provocadas pela acumulação de compostos como o dióxido de enxofre e os
óxidos de azoto.

O aumento da acidez da chuva, pode causar danos às florestas, erosão de edifícios e corrosão de
objectos metálicos. Resultam principalmente das centrais a carvão (SO2) e dos motores dos veículos
automóveis (NOx).

O transporte maciço de petróleo, maioritariamente marítimo, provoca a poluição dos oceanos,


mesmo apenas por fugas. Alguns acidentes têm provocado significativas catástrofes ambientais.

Os resíduos radioactivos das centrais nucleares são um grande problema, pois a radioactividade
mantém-se durante muitos anos.

“A grande questão é: o que fazer a esses resíduos?”

Os impactos ambientais devem ser divididos em três classes distintas:

¾ Globais – Afectam todo o planeta (efeito de estufa);

¾ Regionais;

¾ Locais – São os mais visíveis, influenciam uma determinada comunidade.

Os efeitos nocivos da utilização da energia, designadamente a poluição ambiental, devem ser


analisados para todo o ciclo de vida.

Assim, não se deve apenas analisar as emissões na fase de operação, devendo-se incluir as fases
de construção e desactivação. Por exemplo, as centrais térmicas poluem, principalmente, durante a
operação, enquanto que nas nucleares a principal preocupação é a desactivação.

Nas energias renováveis também existem implicações, na construção e desactivação.

B – Problemas Sócio-Económicos

As reservas dos combustíveis fósseis de que hoje dependem as sociedades dos países
desenvolvidos são finitas.

197
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Embora a ruptura de abastecimento não esteja tão iminente como se pensava há 20 anos, existe a
consciência de que esse problema se irá pôr.

A exploração de reservas de extracção mais complicada leva a um aumento do preço do combustível


e, no limite, a que a sua utilização seja economicamente inviável.

A dependência em relação a um escasso número de países detentores das reservas de combustíveis


fósseis, nomeadamente de petróleo, origina tensões políticas e económicas.

Muitas crises políticas e militares tiveram implicações relacionadas com este factor. As nações mais
poderosas, sentindo-se dependentes de países mais fracos, têm tendência para tentar dominar estes
economicamente, politicamente e, se necessário, militarmente, para manterem o acesso ao petróleo.

A centralização da produção e distribuição de combustíveis é também um problema a ter em conta.


Quer seja pela produção de electricidade em grandes centrais, quer pela transformação do petróleo
em grandes refinarias, são necessárias grandes infra-estruturas que se tornam extremamente
vulneráveis.

Essas instalações tornam-se alvos prioritários, quer em caso de conflitos militares quer para ataques
terroristas, obrigando a concentrar elevados recursos na sua segurança.

O recurso a centrais nucleares leva também a receios militares. A tecnologia usada na produção de
electricidade em centrais nucleares é semelhante à necessária para fins militares.

Hoje é possível montar explosivos de pequena dimensão usando esta tecnologia. Daí que não é
desejável que seja facilitada a circulação destes materiais, o que se tornaria difícil se a tecnologia
fosse usada na maior parte dos países.

C – Desenvolvimento Sustentável

Sendo a energia indispensável ao desenvolvimento económico, mas tendo consciência que a sua
utilização afecta o equilíbrio do planeta, deve-se usar esse recurso de forma a não hipotecar o futuro
das próximas gerações.

198
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 12:


• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma debater sobre quais as
orientações fundamentais para conseguir o desenvolvimento sustentável.
• Registar as orientações fundamentais propostas pelos grupos.
• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

Exemplos de objectivos
• Enumerar as orientações fundamentais para conseguir o desenvolvimento
sustentável.
• Analisar e debater as orientações listadas.
• Concluir sobre a eficácia das orientações na resolução de determinados problemas.

5.6 – AS ENERGIAS RENOVÁVEIS

“Serão, então as energias renováveis uma solução?”

Sugestão de actividade 13:


• Debater com a turma sobre se as energias renováveis serão a solução.
• Registar as ideias/comentários da turma.
• Após análise e debate, listar as mais pertinentes.

Exemplos de objectivos
• Analisar e debater o contributo das energias renováveis.
• Concluir sobre a eficácia/eficiência das energias renováveis na resolução de
determinados problemas.

Nos dias de hoje, não é realista pensar que as energias renováveis possam substituir completamente
os combustíveis tradicionais. Por isso é indispensável actuar do lado da procura, limitando-a, e com
isso consumindo uma menor quantidade de combustíveis fósseis.

Do lado da oferta, pretende-se aumentar a quota de energias renováveis, de forma a perseguir o


objectivo de eliminar a utilização desses combustíveis.

Admite-se que este século seja marcado pela mudança para as Energia Renováveis, de modo
semelhante ao século XX ter sido marcado pelo aumento da influência dos combustíveis fósseis.
Com a proliferação destes sistemas a tecnologia melhora e os custos diminuem.

199
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As Energias Renováveis são já as formas de energia que apresentam taxas de crescimento mais
elevadas. Nos casos das tecnologias mais divulgadas, o crescimento é exponencial e tem mesmo
ultrapassado regularmente as previsões mais optimistas.

Os cenários traçados por instituições oficiais e não governamentais apontam para percentagens de
penetração cada vez maiores, desde os primeiros anos do século XXI.

Actividade 14:
• Com base no gráfico seguinte, responda às questões.

Exemplos de questões
¾ Qual o tipo de energia que teve a maior taxa de crescimento entre 1990 e 1997?
¾ Aponte algumas razões para o sucedido.
¾ Qual o tipo de energia que teve a menor taxa de crescimento entre 1990 e 1997?
¾ Aponte algumas razões para o sucedido.

Taxa de crescimento entre 1990 e 1997

28,00%
26,00%
24,00%
22,00%
20,00%
18,00%
16,00%
14,00%
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
Vento Solar FV Geotérmica Gás natural Hídrica Petróleo Carvão Nuclear

200
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A – Previsões para a implantação das Energias Renováveis

Organizações não governamentais, nomeadamente o Greenpeace, têm apoiado fortemente as


Energias Renováveis. Esta instituição publicou um documento, em colaboração com a Associação
Europeia de Energia Eólica, em que defende que se pode conseguir produzir 10% da electricidade
por via eólica, em 2010.

A União Europeia editou um livro branco, defendendo uma estratégia de incentivo ao aproveitamento
das energias renováveis.

O objectivo estratégico da UE, neste campo, é atingir os 12% de consumo de Energias Renováveis
até 2010. Para isso é necessário conseguir grandes aumentos na implantação de algumas das
formas de Energias Renováveis, contudo é necessário um apoio que consiga dinamizar esse
crescimento.

Objectivos da UE para a implantação das Energias Renováveis

Tipo de energia 1995 Previsto para 2010

Vento 2,5 GW 40GW

Hídrica 92GW 105 GW

Fotovoltaica 0,03 GW 3GW

Biomassa 44,8 Mtep 135 Mtep

Geotérmico, eléctrica 0,5 GW 1GW

Geotérmica, calor 1,3 GWt 5GWt

Colectores solares 6,5 milhões m2 100 milhões m2

Solar passiva 35 Mtep

Outras 1GW

201
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Definição de Energias Renováveis

Energia obtida a partir de correntes de energia, contínuas e repetitivas, que estão presentes no
ambiente natural. “ Twiddel e Weir – 1986”

Fluxos de energia que são repostos ao mesmo ritmo que são “utilizados”. “ Soerensen – 1979”

Fluxos de energia que ocorrem natural e repetidamente no ambiente e podem ser utilizados para
benefício do ser humano. As fontes elementares da maior parte desta energia são o Sol, a gravidade
e a rotação da Terra. “ REAG – UK”

5.7 – CARACTERÍSTICAS DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS

• O grau de desenvolvimento tecnológico varia entre as maduras e estabelecidas e as que


ainda necessitam de bastante investigação e desenvolvimento;

• Evitam a maior parte dos problemas ambientais causados pela utilização tradicional da
energia, mas causam sempre algum impacto local;

• São seguras e inesgotáveis. São normalmente recursos endógenos, não podendo ser
controlados por outros países;

• Promovem a diversificação das fontes e a descentralização da produção;

• É ainda difícil converter todo o seu enorme potencial.

A – Origem das Energias Renováveis

A origem da maior parte das ER é a radiação solar, cuja quantidade de energia que incide
anualmente na Terra é:

• Equivalente a 160 vezes a energia armazenada nas reservas de combustíveis fósseis;

• 15000 vezes o consumo anual de combustíveis fósseis, nucleares e hidroelectricidade.

A dificuldade não está na disponibilidade da energia solar, está em como convertê-Ia em formas
apropriadas para a utilização que pretendemos.

As marés resultam das forças gravíticas e da acção da Lua e do Sol sobre a Terra.

202
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A energia geotérmica é originada pelo calor existente no interior da Terra e o seu fluxo para a
superfície.

A energia recuperada de todo o tipo de resíduos é normalmente incluída no grupo das energias
renováveis.

Sugestão de actividade 15:


• Debater com toda a turma sobre as várias formas de energia renovável.
• Registar no quadro as opiniões da turma.
• Após análise e debate, listar as “verdadeiras” energias renováveis.

B – Disponibilidade das Energias Renováveis

Tipo de energia Disponível Utilizada

Vento 1 200 TW 10TW

Radiação Solar 90 000 TW 1 000 TW

Ondas 3TW 0,5 TW

Marés 30TW 0,1 TW

Fluxo Geotérmico 30TW -

Biomassa 450 TW anos -

Calor geotérmico
1011 TW anos > 50 TW anos
armazenado

5.8 – ENERGIA SOLAR TÉRMICA

Aquecimento Solar Activo – Colectores Solares. Utilizado para aquecimento de água (doméstica,
piscinas);

Motores Solares Térmicos – Sistemas mais complexos. (espelhos) para conseguir temperaturas
mais elevadas;

Aquecimento Solar Passivo – Absorção directa da energia para o aquecimento.


Num sentido mais lato, toda a concepção integrada de um edifício para reduzir as necessidades
energéticas.

203
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Iluminação Natural – Técnicas de utilização da luz solar para substituir a luz artificial.

A correcta utilização da energia solar e a aplicação das diversas técnicas implica um conhecimento
das características climáticas dos locais onde serão aplicadas.

É também essencial perceber a natureza da radiação solar, a sua disponibilidade e os mecanismos


de transferência de calor que influenciam a utilização da energia solar.

Radiação Solar

O Sol emite para uma enorme quantidade de luz visível, característica da sua temperatura superficial.
A Terra reflecte cerca de 30%, e reemite o restante com radiação infravermelha. Assim se obtém um
equilíbrio que mantém a superfície terrestre a uma temperatura média de 15ºC.

A radiação que chega à Terra pode ser directa ou difusa, esta, surge a partir de alguma dispersão
que ocorre quando a luz solar atinge a atmosfera terrestre.

A proporção entre radiação directa e difusa depende da localização geográfica e varia com as
estações do ano. Em média, anualmente, no Noroeste da Europa a proporção é de 50%.

A quantidade de radiação disponível varia também com o local e é maior no Verão do que no Inverno,
logo, os países do Sul da Europa têm recursos privilegiados.

Para melhorar o aproveitamento da radiação, deve-se ter em atenção a orientação e inclinação das
superfícies onde ela deve incidir

Mecanismos de transferência de calor

Condução – O calor absorvido por um material é redistribuído pelo contacto entre as suas moléculas.
Depende da diferença de temperatura e da condutividade térmica.

Convecção – Está associada ao movimento das moléculas. Pode ser natural, causada pelo
diferencial de temperaturas, ou forçada.

Radiação – Qualquer corpo a emite. Depende das temperaturas dos corpos emissor e receptor e das
diferentes emissividades dos materiais.

204
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As características do vidro

As propriedades solares do vidro tornam este material bastante importante para o aproveitamento da
energia solar.

O vidro é transparente à luz visível, que recebe do Sol, e praticamente opaco à radiação
infravermelha, que é emitida pelos corpos situados num espaço interior.

A maximização desta característica é essencial e tem sido tentada através da redução da superfície
dos caixilhos, dos vidros duplos, do estudo da dimensão ideal da caixa-de-ar.

Aplicações em sistemas de aquecimento a baixa temperatura

As grandes aplicações são o aquecimento de águas e do espaço interior, para utilização doméstica.
Devem-se associar a sistemas de poupança e utilização racional: aproveitamento de calor rejeitado
de outros processos ou bombas de calor. O aquecimento de piscinas é também um caso tipo para
aplicação de energia solar.

Para o aquecimento interior, a disponibilidade da energia solar está desfasada das necessidades. A
sua utilização está muito dependente da zona climática daí que o sul da Europa apresente condições
favoráveis.

Sistemas de aquecimento solar

¾ Colectores solares para aquecimento de água;

¾ Sistemas para aquecimento da água de piscinas;

¾ Átrio solar (estufa);

¾ Parede de Trombe;

¾ Sistemas de ganho solar directo.

205
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 16:


• Em grupos de 3/4 elementos, consultar informações e imagens de colectores
solares, em publicações da especialidade ou na Internet.
• Cada grupo terá como tarefa reunir informação, de forma resumida, sobre o
funcionamento dos colectores solares.
• Análise e debate da informação apresentada.

Exemplos de objectivos
• Conhecer o funcionamento dos colectores solares;
• Distinguir os diferentes colectores solares que existem.

Aquecimento solar activo

¾ Utilização de colectores solares;

¾ Adequados ao aquecimento de água;

¾ Aquecimento interior implica grandes dimensões;

¾ Pode ser usado como complemento em sistemas de aquecimento central para grupos de
casas.

Aquecimento solar passivo

As primeiras experiências datam do império Romano.

¾ Pode contribuir para a redução das necessidades de aquecimento, ou mesmo dispensá-Ias;

¾ Para optimizar os ganhos solares em edifícios:

• Deve haver um bom isolamento térmico;

• Os envidraçados devem ser orientados para Sul;

• Deve-se evitar as sombras de outros edifícios;

• A inércia térmica deve ser elevada.

206
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Iluminação natural

A sua utilização é vantajosa, não só por razões de diminuição do consumo energético, mas também
por proporcionar um maior conforto aos ocupantes de um espaço fechado.

Deve ser estudada de forma a contribuir também para o conforto térmico e, se possível, aumentando
as poupanças na factura energética relacionada com a climatização.

A construção dos edifícios deve facilitar a entrada da luz natural, usando envidraçados altos e
espaços pouco profundos. A entrada de luz natural pela cobertura é vantajosa mas pode provocar
aquecimento excessivo.

Motores solares térmicos

Concentrando os raios solares, usando espelhos, é possível gerar temperaturas suficientes altas para
produzir vapor capaz de produzir energia mecânica.

Se cada espelho reflectisse perfeitamente toda a radiação nele incidente, dirigida para o mesmo
ponto, o factor de concentração seria proporcional ao número de espelhos.

O espelho parabólico é o modelo mais tradicional. Os raios solares são concentrados num ponto mas
um pequeno desvio à entrada pode levar a que não passem pelo foco.

O foco linear só necessita de acompanhar a elevação do Sol, o foco pontual, exige maior precisão
pelo que precisa de se mover em duas dimensões, acompanhando o azimute.

Factores económicos, potencial e impacto ambiental

A maior parte das tecnologias são ainda caras, em comparação com os combustíveis tradicionais.

O aquecimento de água e a utilização de técnicas passivas são as formas mais competitivas. O seu
potencial é grande: 1,5% da energia final para água quente e 5,8% nos ganhos passivos. (Portugal,
2010, Collares Pereira)

O impacto ambiental é reduzido: os materiais usados não são particularmente agressivos, nem
causam grande impacto visual, principalmente, não emitem poluentes. A produção de electricidade
tem como maior problema o grande espaço ocupado.

207
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 17:


• Visita a um edifício termicamente optimizado e, se possível, captar imagens ou
fotografias;

Exemplo de objectivos
• Compreender a dinâmica de um edifício termicamente optimizado;
• Identificar os principais processos e equipamentos utilizados;
• Concluir sobre as vantagens de um edifício termicamente optimizado.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre o
edifício termicamente optimizado;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

5.9 – ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

Perspectiva Histórica

A energia solar fotovoltaica é a conversão directa da radiação solar em electricidade.

Em 1839, foi descoberto o efeito fotovoltaico: baterias de certos materiais sofriam um aumento da
tensão ao serem expostas à luz solar. No final do século XIX, as primeiras experiências apenas
conseguiam uma eficiência de 1%.

O aparecimento dos semi-condutores, nos anos 50, veio dar novas perspectivas à tecnologia. As
técnicas de "dopagem" desses materiais permitiram que os níveis de eficiência na conversão fossem
aumentando gradualmente, acompanhados de redução dos custos.

Princípios básicos das células de silício

As células de fotovoltaico consistem na junção de duas camadas de materiais semi-condutores, uma


carregada positivamente (tipo p) e outra negativamente (tipo n).

As células de silício do tipo n são “dopados" com pequenas quantidades de uma impureza (fósforo),
originando um excesso de electrões.

208
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Nas células de silício do tipo p a impureza é normalmente Boro, originando um défice de electrões,
conhecido como lacunas.

Cria-se uma junção p-n juntando as células de silício de tipo diferente, gerando um campo eléctrico.

A luz solar é constituída por partículas, fotões, que ao incidir na junção p-n, com um comprimento de
onda adequado, excitam os electrões promovendo-os a um nível de energia mais elevado.

Assim, dá-se início a um processo de geração de corrente eléctrica, através do movimento dos
electrões e das lacunas.

As células mais comuns são de silício monocristalino, permitindo hoje em dia eficiências de
conversão da ordem dos 16%. (Em laboratório cerca de 24%).

Tentativa de redução de custos através de novos materiais

A utilização de silício monocristalino é eficiente mas bastante cara. O processo de transformação dos
cristais policristalinos em monocristalinos é lento, e requer um consumo intensivo de energia e
mão-de-obra altamente qualificada.

Uma forma menos pura de Si (Silício Solar) consegue uma grande redução de custo com uma
pequena diminuição da eficiência. Nos últimos 20 anos tem havido tentativas envolvendo alterações
mais radicais.

Os materiais mais utilizados são:

¾ Fita de Silício;

¾ Silício policristalino. Evita a transformação. Eficiência de 10%;

¾ Filme "fino" policristalino. Apenas 20 mícron em vez de algumas centenas de mícron.


Eficiência de 15%;

¾ Arsenieto de Gálio. Muito eficientes, pelo que apesar de mais caros podem ser úteis em
aplicações que exigem grande eficiência. Ganhou corridas de carros solares, mas hoje em
dia conseguem-se eficiências equivalentes com o silício.

209
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Novas tecnologias - Células de filme fino

Silício amorfo – Forma menos estruturada. Mais barato, melhora a absorção da luz, permite filme
fino exigindo menos energia. São menos eficientes (12%) e degradam-se rapidamente com a
exposição ao Sol.

Outros materiais - Por exemplo: Disseleneto de Cobre e Indium (CIS), Telureto de Cádmio, (CdTe).

Células multi-junção – Melhora a captação da luz solar e reduz a degradação.

Sistemas concentradores – Uso de espelhos semelhante aos motores solares térmicos.


Concentradores fluorescentes, esferas de silício ou células fotoeletroquímicas.

Sistemas autónomos

A energia fotovoltaica é muito útil para fornecer electricidade em locais remotos, por exemplo:
antenas de rádio, telefones, barcos, cercas eléctricas, quintas isoladas, entre outros.

É preciso definir as necessidades eléctricas, a radiação solar local, a orientação e inclinação do


sistema e a capacidade de armazenamento necessária para uma bateria.

Nos países sub-desenvolvidos pode ser uma alternativa às grandes redes eléctricas. Existem vastas
áreas não electrificadas, nas quais estes sistemas podem ser competitivos.

Sistemas ligados à rede

Na maior parte dos locais dos países desenvolvidos a electricidade chega-nos à porta. Assim, é difícil
que os painéis fotovoltaicos sejam economicamente competitivos, em sistemas autónomos.

É portanto mais lógico, integrar a electricidade gerada nos sistemas de distribuição, juntamente com a
produção por outros meios, convencionais ou renováveis.

A produção deve ser adaptada aos requisitos da rede (corrente alternada, frequência), e é comprada
pelo distribuidor sendo revendida ao utilizador final.

Factores económicos

A tecnologia Fotovoltaica tem uma relação custo/eficiência fraca. Rondam actualmente os 5€/Wp
instalado (só painéis), prevendo-se que um crescimento de mercado de um factor de 10 faça o preço
baixar para 2.5€/Wp, havendo quem preveja que o crescimento será maior (20,30 vezes).

210
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Potencial em Portugal

Os painéis fotovoltaicos podem ser instalados em telhados, descentralizando a produção.

Uma estimativa para 2010: 10 m2 de painéis fotovoltaicos em 11% dos edifícios (300 mil telhados)
implicaria uma produção de 516 GWh/ano, ou seja 0,31% da energia final (300 MWp instalados).

Se fossem instalados 60 m2 em cada edifício (3 milhões), alcançava-se 33200 GWh/ano – o consumo


de 1995.

Factores ambientais

Não emitem poluentes e não têm partes móveis, contudo, o impacto visual e ocupação do terreno
podem ser negativos. A integração em telhados poderá minimizar estes inconvenientes.

No fabrico, a utilização de processo químicos exige alguns cuidados. Alguns compostos usados
sugerem dificuldades para a reciclagem (metais tóxicos, embora em pequenas quantidades).

No início, a relação entre energia gerada e a energia consumida no fabrico era fraca.

5.10 – BIOMASSA

Características da biomassa

Biomassa é toda a matéria viva da Terra existente na biosfera. Apesar de ser uma pequena fracção
da massa da Terra, tem, ainda assim, uma enorme quantidade de energia armazenada (8x o
consumo de energia primária).

A energia química armazenada na biomassa permite utilizá-la como combustível, desde que o
consumo não exceda o nível natural de reciclagem, a quantidade de CO2 libertada é equivalente à do
processo natural.

211
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Biocombustíveis – Todos os sólidos, líquidos ou gases combustíveis, produzidos a partir de matéria


orgânica, tanto directamente de plantas como indirectamente de resíduos industriais, domésticos ou
da agricultura.

A biomassa como combustível

O processo de combustão é semelhante ao dos combustíveis tradicionais. Ao queimar o combustível,


liberta-se CO2, vapor de água e energia.

A decomposição natural da matéria orgânica é um processo semelhante (oxidação), produzindo CO2


e água. A natureza fecha o ciclo através da fotossíntese: as plantas capturam o CO2, a água e a
energia solar convertendo-a em matéria orgânica.

A eficiência de conversão da energia solar incidente em energia utilizável é muito baixa:

• Energia anual incidente - 36 000 GJ;

• Apenas 1/3 é durante o crescimento - 12000 GJ;

• 20% chega às plantas em crescimento - 2 400 GJ;

• 20% perde-se por reflexão - 2 000 GJ;

• Só 50% é activa para a fotossíntese - 1 000 GJ;

• 30% é energia armazenada - 300 GJ;

• 40% é consumida pela planta, sobrando - 180 GJ (0,5%).

Extracção da energia

A maior parte da biomassa decompõe-se muito rapidamente, e o seu transporte é caro devido à
reduzida densidade energética.

É, assim, importante encontrar adequados processos de extracção da energia:

• Combustão directa - mais de 75% é matéria volátil;

• Combustão após processos físicos: separação, compressão, secagem;

• Processos termoquímicos: pirólise, gasificação, Iiquefacção;

• Processos biológicos: digestão anaeróbica, fermentação.

212
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Resíduos da agricultura e florestas

Resíduos florestais de madeira – usados após secagem em locais próximos pois o transporte é
pouco económico. São utilizados no aquecimento central (Áustria) e produção de electricidade
(Mortágua + prevenção de incêndios);

Desperdícios de colheitas de clima temperado – palha para combustão directa (CD). Mais de 10
Mton na UE de batata e fruta rejeitada, para fermentação e digestão anaeróbica (DA);

Desperdícios de animais – Digestão Anaeróbia e, em menor escala, Combustão Directa;

Desperdícios de colheitas de clima tropical – Bagaço da cana-de-açúcar (Brasil), cascas de arroz


(China) e coco (Tailândia).

Resíduos domésticos e industriais

Resíduos sólidos urbanos (RSU) – 350 incineradoras de RSU no Mundo. Suíça e Japão tratam
mais de 80% dos RSU. Pode ser combinado para aquecimento central e electricidade. Necessita
cumprir normas rigorosas contra a emissão de partículas, ácidos, metais e compostos orgânicos.

Refuse Derived Fuel (RDF) – combustível derivado dos resíduos, produzido após tratamento:
separação de componentes indesejáveis, retalhamento e secagem de forma a melhorar as suas
propriedades para a combustão.

Biogás em aterros para a produção de electricidade, digestão anaeróbica de RSU (mais rápido, é
possível a proximidade dos centros urbanos, mas mais caro e utilização de resíduos comerciais e
industriais, incluindo resíduos perigosos, como por exemplo os hospitalares).

Impacto Ambiental

Dióxido de Carbono – Vantajoso por substituir combustíveis fósseis. Tem mais impacto (positivo)
que a florestação.

Metano – Utilizar o metano que se liberta naturalmente é reduzir o perigo de explosão nas
proximidades e, principalmente, substitui-lo por um gás menos prejudicial (CO2).

Terreno – O uso intensivo de colheitas energéticas (CE) pode ameaçar a biodiversidade e aumentar
o uso de pesticidas e fertilizantes. Por outro lado, há quem defenda que é pior a colheita anual do que
as CE, cuja periodicidade é maior.

213
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Balanço energético – A utilização da biomassa exige o fornecimento de energia, sob a forma de


fertilizantes, colheitas ou no processamento. Nos piores casos, a relação entre energia fornecida e
produzida pode ser próxima da unidade.

No entanto, devem ser consideradas as vantagens acessórias:

• Subprodutos;

• Prevenção de incêndios;

• Eliminação de resíduos.

“Deve-se maximizar a reciclagem e o reaproveitamento da energia


ao longo dos processos.”

Colheitas energéticas

Plantas criadas especificamente como fontes de energia:

• Madeira, através de árvores de crescimento rápido;

• Etanol, após fermentação da cana-de-açúcar. Substituto da gasolina (no Brasil é utilizado em


mais de 4 milhões veículos). Também possível a partir de outras plantas como o milho (nos
EUA) e o sorgo;

• Óleos vegetais, produzidos através do esmagamento de sementes. Glicerol e ácidos


gordurosos. O conteúdo energético é semelhante ao gasóleo, podendo ser usados em
motores a Diesel (mistura devido a formarem depósitos).

Factores económicos e potencial em Portugal

Biomassa sólida

Área florestada de 3,3 milhões de hectares, com um poder calorífico de 2500 kcal/kg. Tendo em
conta as produtividades médias em ton/ha/ano das diferentes espécies existentes, chega-se a 0,4
Mtep.

Para os resíduos agrícolas (árvores de fruto, vinhas) existem perto de 680 mil ha que levam a 0,35
Mtep. Se for aproveitado entre 1/3 e 2/3 teremos entre 1,75 e 3,5% do consumo final.

214
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Biocombustíveis líquidos

As principais contribuições podem vir do Biodiesel e do Etanol, servindo de substituto do gasóleo ou


gasolina.

Biodiesel - 9300 ha em pousio obrigatório onde se pode produzir 1,5 ton/ha de grão de girassol
obtendo 13950 ton/ano. Para 5% do consumo de gasóleo seriam necessários 245850 ha e
chegar-se-ia a 1,2% de contribuição.

Etanol - Em Portugal pode ser produzido a partir de um tubérculo (Tupinambor) em terrenos de 2ª


categoria. Para substituir 5% da gasolina, seriam necessários 400 mil ha, obtendo-se 0,75% do
consumo energético.

Biogás

Total de 2 500 000 m3/dia a partir de: ETAR, suinicultura, vacarias, avicultura e indústria
agro-alimentar. Existe também aproveitamento para co-geração.

Resíduos Sólidos Urbanos

Incineração – Prevista em Lisboa e Porto, 735 000 ton/ano. Permitiria uma potência de 73,4 MWe,
produzindo 476 GWh/ano ou 0,28% de contribuição.

Aterros controlados – 2180000 to n/ano em 1999. Produzem entre 100 e 200 m3/ano de biogás
durante 15 anos. Para um crescimento de3% até 2010, pode-se produzir 327 GWh/ano de
electricidade, 37 MWe ou 0,2%. Se for utilizada a cogeração (se os aterros forem junto a
consumidores da energia térmica) pode-se obter mais 0,3%, sendo o retorno perto de 4 anos.

5.11 – ENERGIA HÍDRICA

A água do mar e dos rios constitui uma fonte inesgotável de energia. A quantidade de energia
hidroeléctrica produzida anualmente varia consideravelmente, dependendo fortemente das afluências
hidrológicas. A variedade dos aproveitamentos hidroeléctricos presentes em Portugal é elevada,
podendo-se encontrar desde pequenos moinhos convertidos com poucas centenas de kW até
grandes aproveitamentos com centenas de MW de potência instalada.

A hidroelectricidade é hoje uma das formas tradicionais de produção de energia. Em Portugal a


produção hidroeléctrica tem um peso significativo no balanço energético, devendo-se a ela uma
grande parte da produção nacional de energia. Infelizmente, as grandes hidroeléctricas originam

215
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

lagos e albufeiras de grandes dimensões que por vezes têm associados impactos ambientais e
sociais. Por outro lado, os locais disponíveis para a construção de grandes aproveitamentos estão a
acabar.

Actividade 18:
• Com base no gráfico seguinte, responda às questões.

Exemplos de questões
¾ Qual o maior produtor de energia hidroeléctrica em 1999?
¾ Qual o menor produtor de energia hidroeléctrica em 1999?

Gráfico

14%

12%

10% Canadá
E.U.A
8% Brasil
6% China
Rússia
4%
Noruega
2%

0%
Principais produtores mundiais de energia hidroeléctrica (% do total mundial), em 1999

216
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Contudo, os aproveitamentos hidroeléctricos podem ser feitos em dimensões mais reduzidas, até por
vezes, sem recorrer a armazenamento de água e assim, com impactos bastante reduzidos. Os
aproveitamentos em pequena escala são denominados de mini e micro hídricas, dependendo do
valor da potência instalada, no máximo de 10 MW para as mini e algumas centenas de kW para as
micro-hídricas.

Sugestão de actividade 19:


• Visita a uma central hidroeléctrica e, se possível, captar imagens ou fotografias;

Exemplo de objectivos
• Compreender o funcionamento de uma central hidroeléctrica;
• Identificar os principais processos e equipamentos utilizados.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre a
central hidroeléctrica;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

5.12 – ENERGIA DAS MARÉS

Natureza do recurso

A energia das marés resulta da interacção entre os mares e as forças gravitacionais da Lua e, em
menor escala, do Sol.

O aproveitamento deste tipo de energia baseia-se na subida e descida das marés que ocorre duas
vezes ao dia.

Deve-se ter em atenção a distinção entre energia das marés e energia das ondas, que é originada
pela acção do vento sobre a água.

217
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A energia das marés pode ser aproveitada através de moinhos de marés, ou usando correntes
marítimas rápidas originadas pelas marés e por efeitos concentradores em canais estreitos.

Os sistemas mais comuns consistem em fazer subir o nível de água atrás de comportas que estão
abertas durante a subida da maré. Quando a maré começa a vazar as comportas são fechadas, o
nível da água a montante da barragem desce, criando uma "queda" que pode ser aproveitada para
accionar uma turbina.

A tecnologia de extracção da potência é semelhante à usada nos aproveitamentos hidroeléctricos. A


diferença principal consiste no facto de, nesta forma de energia, as turbinas serem obrigadas a lidar
com quedas de água que variam regularmente.

Princípios físicos

A variação da altura das marés deve-se, principalmente, à interacção gravítica entre a Terra e a Lua.
À medida que a Terra roda no seu eixo, produzem-se forças gravíticas que originam a subida e
descida bi-diária do nível do mar.

Essa altura varia por influência da acção gravítica do Sol e pela topografia das massas terrestres e do
oceano.

De forma simples, a acção da Lua cria nos mares mais próximos desta uma "barriga" em sua
direcção enquanto que nos mais afastados se cria uma "barriga" na direcção oposta. O movimento de
rotação da Terra faz com essas "barrigas" vão oscilando de forma que existem, aproximadamente,
duas marés diárias.

218
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Este padrão simplificado é modificado pela acção gravítica do Sol. Este, apesar de muito maior que a
Lua, está muito mais longe. A influência da Lua é aproximadamente o dobro, apesar de a acção
gravítica do Sol ser cerca de 177 vezes maior. O factor determinante é a relação entre o diâmetro da
Terra e a distância à Lua ou ao Sol, muito maior no caso do satélite.

Existem outros factores com influências menores, como o clima ou as forças de Coriolis, originadas
pela rotação da Terra, e que desviam as correntes marítimas da trajectória que teriam se a sua
influência não se fizesse sentir.

Recomendação:
Pesquisar sobre as forças de Coriolis e a sua influência na Terra e sobre os ventos.

Em pleno oceano, a gama típica de variação da altura das marés é de 0,5 metros. Porém, junto à
costa, este valor pode ser significativamente amplificado devido a efeitos topográficos locais.

Com a aproximação da costa e a diminuição da profundidade, a corrente concentra-se podendo


aumentar a altura da maré para valores da ordem dos 3 metros. Se a maré entrar num estuário de
forma apropriada, o afunilamento pode fazer chegar até aos 10-15 metros, onde os efeitos de
ressonância podem ter um papel importante.

As ressonâncias são como as vibrações, que nos instrumentos musicais amplificam certas
frequências do som original. A forma e o tamanho da cavidade deve ser adequada ao comprimento
de onda do som. Dadas as variações em profundidade e largura dos estuários, é fácil aceitar que as
ressonâncias das marés são normalmente complexas.

O aproveitamento dos efeitos locais que criam as ressonâncias e aumentam de forma significativa a
altura das marés é essencial para o aproveitamento da energia das marés.

Factores técnicos

A energia disponível é dada por: E = ½ ρgAR2. R é a gama de variação da altura da maré.

A potência pode ser gerada durante a subida ou durante a descida (mais comum) da maré. Em
ambos os casos a produção de energia segue um padrão sinusoidal com dois picos diários, sendo
também possível operar nos dois sentidos.

As instalações mais comuns são as turbinas de bolbo (turbina situada interiormente à tubagem),
"stratflo" (montadas radialmente e apenas com as pás no escoamento) e tubular (inclinada e com um
longo veio tubular que leva a rotação até um gerador exterior).

219
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As velocidade de rotação são normalmente baixas, levando a que, para grandes aproveitamentos,
tenha de ser usada uma grande quantidade de turbinas.

Apesar de a produção ser distribuída mais uniformemente, há uma diminuição líquida de produção
para cada uma das fases. Isso sucede porque, para que a máquina esteja preparada para o ciclo
seguinte, uma fase não pode ser levada até ao final, como sucederia em operação somente num
sentido.

Factores ambientais

Tal como nos aproveitamentos hidroeléctricos, podem ocorrer impactos significativos na fauna e flora,
no caso de aproveitamentos de grande dimensão.

O impacto visual é muito menor pois as quedas são, normalmente, menores. Também aqui, é muito
discutida a relação entre os custos e benefícios de aproveitamentos desta dimensão.

Integração

O padrão de disponibilidade da energia causa dificuldades que só podem ser resolvidas integrando a
energia em grandes redes eléctricas. O funcionamento reversível apresenta maior facilidade de
integração.

A energia das marés utiliza a diferença entre os níveis de água na maré-alta e baixa para gerar
electricidade. Os equipamentos são construídos sobre as bocas de estuários de marés. Quando a
maré sobe, a água pode passar, enchendo o estuário atrás da mesma.

Com a baixa da maré, as comportas são fechadas e uma cabeceira de água se forma atrás da
barragem. A água pode então fluir de volta para o mar, accionando ao mesmo tempo turbinas
conectadas a geradores.

O ciclo de marés de 12 horas e meia e o ciclo quinzenal de amplitudes máxima e mínima apresentam
problemas para que seja mantido um fornecimento regular de energia.

220
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sequência do funcionamento do princípio da energia das marés:

1 2 3 4

5 6 7 8

9 10 11 12

13 14 15 16

17 18 19 20

5.13 – ENERGIA DAS CORRENTES MARÍTIMAS

Também é possível aproveitar a


energia das correntes marítimas. As
turbinas marítimas têm poucos
componentes; engrenagens de
posicionamento orientam as lâminas
das turbinas na direcção da corrente
marítima e um gerador acoplado ao
eixo da turbina fornece a energia
eléctrica.

221
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

5.14 – ENERGIA DAS ONDAS

Princípios físicos

As ondas são geradas pela acção do vento sobre o mar. Uma vez que o vento é um subproduto da
energia solar, a energia das ondas também o é.

Os mecanismos exactos que regulam a interacção entre o vento e o mar são complexos e ainda não
são totalmente conhecidos.

São 3 os principais processos envolvidos:

1. Inicialmente, o escoamento do ar exerce uma força tangencial à superfície da água, formando


ondas;

2. O escoamento turbulento cria tensões de corte variáveis e flutuações de pressão,


aumentando as ondas;

3. Finalmente, para ondas acima de um determinado tamanho, o vento exerce uma força sobre
a face da onda, aumentando ainda mais o tamanho.

As ondas caracterizam-se pelo seu comprimento de onda (L), altura (H) e período (T).

A dimensão das ondas depende da velocidade do vento, da sua duração e da extensão ao longo da
qual a energia do vento é transferida para o oceano.

Ondas grandes possuem mais energia por metro de largura do que as ondas pequenas. A potência
disponível por metro de onda ideal é obtida pela expressão seguinte, na qual ρ é a massa específica
da água e g a aceleração da gravidade: P [W / m] = ρg2 H2 T / 32 π
O estado normal do mar é composto por uma grande quantidade de ondas individuais, cada uma com
as suas características próprias. Da combinação de todas as ondas resulta a potência real disponível.

222
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A impossibilidade de medir cada onda individualmente obriga a fazer estimativas recorrendo a valores
médios. A altura significativa (Hs) é aproximadamente igual à média das alturas do 1/3 de ondas mais
altas. Te é o período espectral médio da energia correspondente a todas as oscilações. Sendo αs uma
constante que inclui ρ, g e π (0,49 kW/sm3).

Ps = αs Hs2 Te

A velocidade de deslocação de uma onda depende do seu comprimento de onda e período:


V = L/T

Essa relação varia de acordo com a profundidade da água. Em águas profundas, superior a metade
do comprimento de onda, a velocidade é proporcional ao período: V = (gT) / (2 π).
À medida que a profundidade (D) diminui, as propriedades da onda são cada vez mais influenciadas
por esse factor. Em águas pouco profundas: V = √gD

Existe ainda uma zona intermédia (D entre 1/2 e 1/4 de L) na qual as ondas são influenciadas por
ambos os factores.

Características das ondas

A direcção das ondas, em mar aberto, é condicionada pela direcção do vento, podendo percorrer
grandes distâncias sem perda significativa de energia. Logicamente, num, dado ponto vão confluir
ondas vindas de várias direcções, então, é importante considerar a distribuição da potência disponível
pelas diversas orientações.

95% da energia contida numa onda, situa-se numa camada superior da onda (altura igual a L/4).

As áreas mais apropriadas para o aproveitamento desta forma de energia são as zonas onde a costa
é formada por falésias quase a pique com águas profundas. Nestas zonas, as ondas chegam com
uma grande energia disponível. Esta forma de aproximação à costa não é, logicamente, a mais
vulgar. À medida que a profundidade diminui as ondas vão perdendo gradualmente o seu conteúdo
energético.

Inicialmente reduz-se para menos de metade por influência do atrito com o fundo do mar. Na
aproximação à praia, as ondas quebradas, turbulentas e dissipadoras de energia, reduzem ainda
mais a energia disponível. Para além disso, podem ser destrutivas para as estruturas de conversão.

223
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As ondas são ainda desviadas, fazendo-as aproximar-se da costa com um ângulo de perto de 90º. Os
contornos da profundidade fazem concentrar as ondas em promontórios.

O conhecimento dos contornos de profundidade permite identificar pontos onde se localizam os


efeitos concentradores da energia disponível.

Tecnologia

Os sistemas para o aproveitamento da energia das ondas podem-se classificar em sistemas fixos ou
flutuantes. Os sistemas flutuantes são obviamente mais complexos mas têm como objectivo
aproveitar a maior energia disponível no mar alto.

Quanto à configuração podem ainda ser considerados:

• Terminadores, têm o seu eixo principal paralelo à frente das ondas;


• Atenuadores, eixo perpendicular;
• Absorvedores pontuais, dispositivos de dimensão pequena em relação ao comprimento de
onda incidente, desenhados para absorver a potência usando um sistema tipo ferrolho que
faz com que a interacção seja no momento óptimo.

Entre os sistemas fixos, a maioria das aplicações utiliza a tecnologia da coluna de água oscilante
(OWC). A água entra pelo fundo numa câmara, funcionando, na subida e descida, como um pistão
fazendo deslocar o ar na sua parte superior, alternadamente para fora e para dentro da câmara.

O movimento do ar acciona uma turbina produzindo a electricidade. A turbina Wells é particularmente


adaptada a esta tecnologia, pois a sua aerodinâmica permite-lhe operar com a passagem do ar nos
dois sentidos.

224
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os geradores utilizam o quase


incessante movimento das ondas
para gerar energia. Uma câmara
de betão construída na margem é
aberta na extremidade do mar de
maneira a que o nível da água
dentro da câmara suba e desça a
cada onda sucessiva. O ar acima
da água é alternadamente
comprimido e descomprimido,
accionando uma turbina ligada a
um gerador. A desvantagem de se
utilizar este processo na obtenção
de energia é que o fornecimento
não é contínuo e apresenta baixo
rendimento.

O sistema de canal afunilado (TAPCHAN) permite concentrar a altura das ondas, elevando a água
para um reservatório instalado a um nível superior ao nível do mar.

Sistema TAPCHAN

A energia cinética é assim convertida em energia potencial que pode então ser convertida em
electricidade fazendo a água passar por uma turbina Kaplan. A queda corresponde à diferença entre
o nível do reservatório e o nível do mar.

225
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

É um conceito muito simples, com custos de manutenção baixos e de elevada fiabilidade. No entanto
não pode ser aplicado em qualquer local. Necessita de ondas persistentes, grande profundidade junto
à costa, baixa altura de maré (pode afectar a queda) e possibilidade física de construir o reservatório.

Impacto ambiental e integração

O impacto ambiental desta tecnologia é pequena e maioritariamente local. Há que ter algumas
precauções com a possibilidade de fugas de óleos. Os impactos visuais e de ruído são pequenos
(neste caso, menores que o ruído das próprias ondas).

A possibilidade de aproveitamentos de grande escala no mar alto usando sistemas flutuantes, pode
afectar a navegação embora seja um problema controlável.

A tecnologia é, fundamentalmente, indicada para a produção de electricidade, apresentando os


problemas típicos de fontes de energia flutuantes. A utilização de TAPCHAN é mais vantajosa pois
permite uma maior suavidade na entrega da potência.

Potencial em Portugal

Está em fase de arranque uma central piloto de 400 kW na ilha do Pico, com uma produção estimada
de 1 GWh/ano. Trata-se de uma central de coluna de água oscilante, captando água a uma
profundidade de 8 m.

O valor médio da energia incidente junto à costa Portuguesa é de 30 kW/m. Nos Açores esse valor
sobe para 45 kW/m. Estima-se que seja possível instalar cerca de 10 M W para custos de
investimento da ordem dos 1.65 € / W.

A contribuição para a energia final consumida em Portugal seria da ordem de 0,01 a 0,02%.

Ilha do Pico – Açores Ilha do Pico – Açores


Em construção Vista exterior

226
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

5.15 – ENERGIA EÓLICA

Perspectiva histórica

• Primeiras aplicações
¾ Século XVII ou XVIII A.C;
¾ Pérsia, Egipto, China;
¾ Máquinas de arrasto;
¾ Irrigação.

• Eixo horizontal - Egipto, séc. III A.C.

• Europa
¾ Países mediterrânicos;
¾ Moagem de cereais, extracção de óleos, drenagem e elevação de águas;

• Grande "boom" - E.U.A., séc. XIX.

• Produção de electricidade.
¾ Início séc. XIX - Darrieus

• Desinteresse
¾ Máquina a vapor;
¾ Motores de combustão interna;
¾ Baixo preço dos combustíveis;
¾ Electrificação.

• Crise das fontes de energia convencionais


¾ Impacto em todas as energias renováveis;
¾ Nova atitude (preocupações ambientais).

• Nova era
¾ Outra escala / grandes unidades;
¾ Sofisticação da tecnologia;
¾ Diminuição dos custos específicos.

227
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Implementação de energia eólica

País 1995 1998

Alemanha 1136 2874

Dinamarca 619 1450

Espanha 145 834

Finlândia 7 17

França 7 19

Grécia 28 39

Holanda 236 363

Itália 25 180

Irlanda 7 63

Portugal 8 51

Reino Unido 200 334

Total 2418 6224

Actividade 20:
• Com base nos gráficos seguintes, responda às questões.

Exemplos de questões
¾ Qual a região com maior implementação de energia eólica em 1995? E em 1996?
¾ Qual a região com menor implementação de energia eólica em 1995? E em 1996?
¾ Qual a região que aumentou a implementação de energia eólica?
¾ Qual a região que diminuiu a implementação de energia eólica?

1995 1996

Outros
1% Ásia Outros Ásia
13% 1% 15%

Europa América
América
52% Europa do Norte
do Norte
58% 26%
34%

228
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Actividade 21:
• Com base no gráfico seguinte, responda às questões.

Exemplos de questões
¾ Qual a fase ou equipamento que apresenta um maior custo?
¾ Qual a fase ou equipamento que apresenta um menor custo?

Custos desagregados de um parque eólico

Construção Inst. Elect.


Civil 12%
11%
Montagem
Torre 6%
9%
Manut. e
Opera.
1%

Turbina
61%

Vento – Origem e distribuição geográfica

A energia eólica é uma forma de energia solar, uma vez que é a radiação solar que provoca a
circulação do ar – vento. Os ventos são massas de ar que se movem em função das diferenças de
pressão atmosférica, originadas pelas diferenças de aquecimento solar ao longo da Terra.

A curvatura da Terra faz com que os ângulos de incidência dos raios solares variem, e por extensão
aqueçam mais algumas regiões e menos outras.

A diferente capacidade de absorção de calor da terra (aquece e arrefece mais depressa) e do mar faz
com que ocorram correntes marítimas diurnas em direcção à costa e nocturnas em direcção ao mar.

Nas montanhas, o ar aquece ao longo da manhã, subindo e sendo substituído por ar mais fresco que
sobe a encosta. À noite acontece o inverso.

229
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A energia no vento

A energia disponível no vento está na forma de energia cinética. Para calcular a potência disponível
recorre-se à expressão: P = ½ ρ AV2

P = Potência (kW);
ρ – Densidade do ar;
A – área varrida pelas pás;
V – velocidade do vento antes de chegar à turbina.

Depende assim decisivamente da velocidade do vento, mas também da massa específica do ar e da


área varrida pelo rotor de uma turbina. A potência que uma dada turbina pode extrair do vento é
significativamente menor (16/27 – Limite de Betz), sendo na prática cerca de 40%.

Turbinas eólicas (aerogeradores)

No caso das rodas de água, com uma parte submersa e outra em contacto com o ar, a diferença de
resistência à progressão permite-lhes prosseguir o movimento.

Nos moinhos de vento, é necessário aplicar sistemas que permitam que a incidência de forças
contrárias impeçam o movimento.

Paredes para proteger as pás do vento contrário, batentes que as fixam ou soltam consoante a
direcção do vento, ou ainda pás com formas que oferecem resistência diferente em cada uma das
faces, são algumas das técnicas possíveis.

Eixo horizontal

São as mais usadas actualmente. Podem ser de elevada solidez (muitas pás) ou de baixa solidez
(poucas pás). Os modelos mais usados comercialmente são de 3 pás, embora existam modelos de
duas e mesmo de uma só pá.

230
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Eixo vertical
Devido ao seu eixo vertical, têm a vantagem de poder lidar com
ventos de todas as direcções, sem necessidade de rotações
constantes. O modelo mais avançado é o inventado por Darrieus
(1925). A sua forma é muito eficiente, lida bem com as elevadas
forças centrífugas mas o seu fabrico, transporte e instalação é
difícil

Turbinas eólicas – Efeito do n.º de pás

A relação entre a velocidade linear da ponta das pás ("tip speed") e a velocidade de rotação é um
parâmetro do qual depende a eficiência da conversão. Para cada máquina existe um valor óptimo
dessa relação. Tal depende das dimensões e do número de pás.

Turbinas com muitas pás caracterizam-se por essa relação ser reduzida, acontecendo o inverso para
aparelhos com poucas pás. Neste caso, a velocidade tem de ser elevada para "varrer" todo o
escoamento.

Em teoria, quanto maior o número de pás maior a eficiência, mas muitas pás podem interferir umas
com as outras. Por outro lado, a velocidade de rotação dos geradores obrigaria a desmultiplicações
enormes para se usar velocidades de rotação extremamente baixas.

Aerodinâmica das turbinas eólicas

Existem dois conceitos importantes para compreender o funcionamento dos aerogeradores: forças de
arrasto e de sustentação.

Qualquer objecto sujeito a uma corrente de ar sofre a acção de uma força no sentido do escoamento,
Força de Arrasto, e de uma força perpendicular à direcção da corrente. Essa força pode ter o sentido
ascendente, Força de Sustentação, ou descendente (apoio aerodinâmico), dependendo da forma do
corpo. O ângulo de ataque e a forma do corpo são decisivos para a relação entre as duas forças.

A partir de um determinado ângulo dá-se o descolamento aerodinâmico. O escoamento afasta-se da


superfície da asa, aparecem zonas de turbulência e recirculação, diminuindo dramaticamente a força
de sustentação.

Este conceito é aproveitado para efeito de regulação de potência de alguns aerogeradores.

231
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Regulação de potência dos aerogeradores

Uma vez que os geradores têm uma limitação de potência, é necessário introduzir sistemas de
controlo da potência debitada pelas turbinas.

Nas máquinas de regulação por variação do passo das pás, fazendo variar o ângulo de ataque é
possível manter a potência no valor nominal do gerador até à velocidade de corte. A variação do
passo introduz mais um elemento de complexidade.

Mais recentemente, com recurso à electrónica, é possível usar geradores de indução, gerando
corrente contínua que é posteriormente convertida em corrente alternada à frequência da rede
através de sistemas electrónicos.

Desta forma é possível aplicar o conceito da velocidade de rotação variável do rotor, melhorando a
eficiência a baixas velocidades do vento.

Parece ainda possível obter, com esta tecnologia, uma melhor qualidade de potência, factor muito
importante para minimizar o impacto na rede eléctrica.

Avaliação do recurso disponível – potencial eólico

Mesmo conhecendo as características do vento geostrófico, os factores locais têm uma enorme
influência no potencial: orografia do terreno, rugosidade característica e existência de obstáculos.

A multiplicidade de diferentes características leva a que a variabilidade espacial das características


do vento seja enorme, crescendo com a complexidade do terreno.

Idealmente, só medindo se pode conhecer o recurso disponível num dado local. Obviamente, isso
torna-se impossível por razões logísticas e financeiras.

É por isso necessário recorrer a modelos de simulação numérica. Deve-se procurar o equilíbrio entre
exactidão, rapidez e custo.

O Atlas Europeu do vento é uma aproximação ao recurso disponível na Europa, para várias
condições de terreno. No caso Português, os cálculos foram efectuados usando as estações do
Instituto de Meteorologia, as quais não forma pensadas para o efeito.

Essas estações estão muitas vezes em cidades, rodeadas de obstáculos e foram, por vezes,
mudadas de sítio.

232
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os locais de medição não são representativos do potencial expectável nas regiões montanhosas. Por
isso foi necessário levar a cabo campanhas de medição das características do vento.

As primeiras campanhas de medição foram levadas a cabo por instituições universitárias no âmbito
de projectos de investigação, tendo os privados interessados, tomado a seu cargo campanhas de
medição, por forma a possibilitar a realização de estudos de viabilidade da instalação de parques
eólicos.

Sistemas Autónomos ou Integração no Sistema Produtivo

A energia eólica está hoje especialmente vocacionada para a produção de electricidade. Tal como
acontece com outras formas de energia renovável, pode ser usada para a integração num sistema
produtivo ou de forma autónoma.

Os sistemas autónomos, devido à aleatoriedade do recurso e às dificuldades (custo elevado) de


armazenamento da energia, só se justificam em zonas remotas.

Recentemente tem-se estudado sistemas mistos, juntando geradores diesel e, por vezes, painéis
fotovoltaicos. Sistemas deste tipo podem tornar-se interessantes para locais apenas um pouco
afastados da rede eléctrica.

Contudo, as características do recurso, também aqui criam dificuldades. Considera-se que não será
comportável incluir mais de 20% de energia produzida por via eólica numa rede.

Em alguns países (Dinamarca) ou regiões (Norte da Alemanha) esse limite está próximo. É assim
uma preocupação dominante, conseguir prever o regime de ventos com a antecipação de algumas
horas (36,48).

Factores económicos

O investimento num parque eólico apresenta características semelhantes às referidas para as


mini-hídricas: as taxas de rentabilidade são razoáveis, mas é mais seguro uma vez que está
assegurada a venda de toda a produção e fixado o seu preço. A variável decisiva é a produtividade.

É evidente a influência do preço estabelecido para a compra pela distribuidora de electricidade do


kWh produzido, bem como do financiamento concedido. O benefício ambiental é uma das
componentes do preço definido, sendo uma função da não emissão de CO2.

233
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Impacto Ambiental

São três os principais problemas ambientais apontados à energia eólica: ruído, interferência com
aves e impacto visual. Não se deve nunca esquecer que se trata de uma forma de produção de
electricidade que quase não emite gases causadores do efeito de estufa. Qualquer dos problemas
ambientais referidos é maioritariamente local.

Quanto ao ruído, ele tem diminuído com a melhoria da tecnologia dos aerogeradores. Os valores são,
de qualquer, forma muito baixos: um parque eólico a 400 metros produz cerca de 40 db (A), enquanto
que, por exemplo, um avião a jacto produz 100, um carro a 60 km/h produz 55 db (A) e um escritório
com muito movimento 60. Em zonas rurais, o ruído ambiente nocturno oscila entre os 20 e os 40 db
(A).

Em relação à avifauna, muitas têm sido as vozes que afirmam que os aerogeradores matam
pássaros. Estudos provam que se trata de uma causa de morte irrisória, quando comparada com:
auto-estradas, ferrovias e linhas de alta tensão, por exemplo.

O impacto visual é claramente uma questão discutível: tem muito de gosto individual. É no entanto
algo que modifica a paisagem e não pode ser tornado invisível. Há porém estudos que tentam
harmonizar a presença das turbinas na paisagem.

Para 13000 MW instalados, se considerarmos uma média conservadora de 2000 horas anuais a
plena carga, são 26 milhões de toneladas de CO2 anualmente evitadas.

Sugestão de actividade 22:


• Visita a um parque eólico e, se possível, captar imagens ou fotografias;

Exemplo de objectivos
• Compreender o funcionamento de um parque eólico;
• Identificar os principais processos e equipamentos utilizados.

Procedimentos
• Em grupos de 3/4 elementos, captar imagens, fotografias e recolher documentação;
• Com a ajuda do material recolhido, cada grupo deve elaborar um trabalho sobre o
parque eólico;
• Apresentação dos trabalhos à turma;
• Análise, debate, argumentação e avaliação critica dos trabalhos.

234
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

5.16 – ENERGIA GEOTÉRMICA

O que é o calor geotérmico

Ao contrário da maior parte das Energias Renováveis, a geotermia tem o seu conteúdo energético no
interior da Terra. Apesar de ser grande (1021 J / ano) é muito menor que o solar (5,4x1024 J /ano).

Em zonas de elevada entalpia o recurso está presente na forma de vapor ou água quente
(150-200ºC) permitindo a produção de electricidade. Em zonas de baixa entalpia ( <100°C) é ainda
assim possível aproveitar a energia térmica.

Na maior parte dos casos, o calor está a ser usado mais depressa do que é reposto. Pode ser
comparado com a extracção de minério.

Sendo assim, a energia geotérmica não cumpre os requisitos para ser considerada renovável no
sentido estrito. É de qualquer maneira uma forma alternativa de energia e existem, contudo, alguns
pontos comuns.

O calor geotérmico é um fluxo natural de energia e não uma quantidade de energia armazenada,
como é o caso dos combustíveis fósseis. Na maior parte das aplicações correntes, não é apenas o
fluxo de calor que é usado, mas sim calor armazenado. Desta forma, o recurso não é reposto à
mesma razão com que é gasto.

A Terra como um motor térmico

O fluxo de calor em direcção à superfície terrestre é originado pelas enormes diferenças de


temperatura entre o interior e a superfície do planeta. A temperatura do centro da Terra é de cerca de
7000ºC.

O calor é transportado por convecção, de uma forma bastante eficiente, resultando numa taxa de
variação da temperatura reduzida, à medida que nos aproximamos da superfície.

Nos últimos 100 km, os materiais que constituem a Terra são mais duros e resistentes à convecção.
O calor passa a ser transportado por condução e os gradientes térmicos são importantes.

Esta camada rígida está quebrada em fragmentos, placas litosféricas, que se movem a uma
velocidade de alguns cm/ano. A energia cinética destas placas é derivada da produção interna de
calor, pelo que a Terra opera como um motor térmico.

235
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Nas margens das placas, o calor concentra-se, permitindo que cheguem à superfície materiais
rochosos derretidos, por vezes de forma intensa como nos vulcões. Por vezes, o fluxo de calor não
chega à superfície, podendo acumular-se, ao longo do tempo, grandes quantidades de calor que
ficam armazenadas em zonas pouco profundas, sendo aproveitadas como um minério.

Os recursos geotérmicos

Existem três características importantes que devem estar presentes nos recursos geotérmicos:
¾ A existência de um aquífero acessível por perfuração;
¾ Uma camada rochosa impermeável;
¾ Uma fonte de calor.

O aquífero deve ser poroso (cavidades rochosas) e permeável para armazenar a água e permitir a
sua circulação. A condutividade hidráulica (Kw) é uma boa medida da permeabilidade de uma rocha.
A Lei de Darcy estabelece que a velocidade de um fluido que se move num meio poroso é
proporcional ao gradiente de pressão criado (variação da queda por metro percorrido).

A existência de uma camada impermeável sobre o aquífero é importante para manter o fluído
confinado, a pressão elevada, evitando que se espalhe. Muitas vezes, essa camada vai-se
desenvolvendo naturalmente com o tempo, pelo que áreas vulcânicas recentes, como o Vesúvio, não
são necessariamente de grande potencial.
Finalmente, é indispensável existir uma fonte de calor. Em zonas de elevada entalpia, está disponível
calor vulcânico em abundância. Nas zonas de baixa entalpia, o recurso pode ser de dois tipos:
localizado em bacias sedimentares profundas ou em rochas quentes e secas que exigem a criação
de um aquífero artificial.

Fontes de calor vulcânicas

Nem todo o magma que sobe num vulcão chega à superfície sob a forma de erupção, atingindo uma
situação de equilíbrio em que a sua densidade é equivalente à das rochas circundantes.

São dois os factores que contribuem para tal: a pressão das rochas é menor à medida que o magma
sobe, o que promove a separação do magma líquido dos gases dissolvidos que se perdem; em
segundo lugar, as rochas são menos densas a menor profundidade pois estão sob menor
compressão. Assim, muitas vezes, o magma forma "intrusões" que cristalizam a profundidades entre
1 e 5 km, ficando ao alcance de perfuração.

Uma vez que as rochas são boas isolantes, as intrusões magmáticas podem levar dezenas de
milhões de anos a arrefecer até às condições ambiente.

236
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A natureza do recurso depende das condições locais de pressão e temperatura no aquífero, o que
determina a tecnologia de extracção e a rentabilidade de um aproveitamento local.

As condições interessantes são próximas da gama dos 100-300°C de temperatura e pressões da


ordem dos 20 MPa. Os campos geotérmicos mais interessantes são os que apresentam vapor
superaquecido ou seja uma grande entalpia.

Fontes de calor em bacias sedimentares

Algumas rochas argilosas têm condutividade térmica baixa e são impermeáveis, agindo como capa
rochosa e permitindo uma boa transferência de calor nos aquíferos. A temperatura da água entre 55 e
70°C não é suficiente para a produção de electricidade.

Rochas quentes e secas

Trata-se de calor armazenado em estratos rochosos impermeáveis, que para ser extraído necessita
da criação de uma zona artificial de fractura. A água será circulada através dessa zona. A perfuração
é cara pelo que não é praticável aproveitar mais do que 6 km de profundidade. O fluxo de calor
mínimo será da ordem de 75 mW/m2, pouco acima do valor médio.

Tecnologias para a exploração do recurso

Campos de vapor de alta pressão - Localizado um aquífero apropriado, é necessário abrir poços
usando tecnologias apropriadas às temperaturas elevadas e em alguns casos à elevada dureza das
rochas. O poço será ligado à turbina de forma apropriada à temperatura e pressão do fluido, mas
também à sua salinidade e conteúdo de outros gases.

São 4 os principais tipos de instalações existentes:


9 Vapor seco;
• Evaporação instantânea
9 “Single Flash”;
9 “Double Flash”;
9 Ciclo combinado.

Implicações ambientais

As principais preocupações ambientais relacionadas com a energia geotérmica estão ligadas à fase
de prospecção e preparação do local: poluição sonora na perfuração e na fase de teste na qual há
libertação de vapores, criação de fluidos residuais da perfuração aos quais é necessário dar um
destino.

237
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os acidentes, embora raros, podem acontecer. Em 1991, na Guatemala, o rebentamento de um poço


fez libertar centenas de toneladas de rochas, lama e vapor para a atmosfera.

Os efeitos de mais longo prazo podem ser: aluimento de solos, indução de sismicidade e,
principalmente, poluição gasosa.

O aluimento de solos é raro, mas em locais nos quais o fluido é principalmente líquido, pode ocorrer,
geralmente não mais do que milímetros ou centímetros. O caso máximo regista um aluimento de 3
metros.

As zonas de potencial interesse são maioritariamente de grande sismicidade. De qualquer forma, a


circulação do fluido pode lubrificar as fracturas e provocar pequenos sismos.

Pode haver libertação de gases não condensáveis (CO2, H2S, SO2, H2, CH4 ou N2). Uma vez que a
maior parte é re-injectado, a libertação de gases de efeito de estufa é menos de 1% do que acontece
nas melhores centrais térmicas.

Potencial em Portugal

A utilização principal tem sido na forma de águas termais. Em Chaves obtêm-se temperaturas da
ordem dos 75ºC, na zona da grande Lisboa, existem reservatórios de água a 50ºC a cerca de 1500 m
de profundidade. No hospital da Força Aérea de Lisboa existe aproveitamento directo. Pode ser
possível obter 0,09% da energia final em energia térmica.

Em relação à alta entalpia, o recurso principal situa-se nos Açores. A Central da Ribeira Grande
funciona há dois anos com uma potência nominal de 4,8 MW. Com a 2ª fase desta central, subir-se-á
para 13 MW. Estima-se que se possa chegar aos 24MW (0,13% da energia final do país) nos
próximos 12 anos.

238
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 23:


• Em grupos de 3/4 elementos, elaborar um cartaz sobre uma das formas de
energias renováveis

Exemplo de objectivos
• Sensibilização para o problema da gestão da energia;
• Salientar a importância da utilização das energias renováveis.

Procedimentos
• Com recurso a pesquisa bibliográfica, noticias, artigos e Internet cada grupo deve
elaborar um cartaz sobre uma das formas de energia renovável;
• Apresentação dos cartazes;
• Debate e avaliação crítica dos trabalhos apresentados.

5.17 – MATURIDADE DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS

Desenvolvimento comparativo das Energias Renováveis

Passadas em revista as várias formas de energias renováveis disponíveis, importa saber até que
ponto é possível mudar gradualmente os padrões habituais da utilização da energia, sem criar
grandes choques sociais.

Sabemos que é possível obter energia a partir de fontes renováveis mas é importante saber se as
renováveis podem disponibilizar energia não só em quantidade significativa e a um preço aceitável,
mas também na forma, na altura e no local desejáveis.

Nem todas as formas de Energias Renováveis apresentam actualmente o mesmo grau de


competitividade económica, nem se adequam igualmente às diversas utilizações.

As diferentes tecnologias existentes podem ser divididas em 4 classes:

• Económicas – Desenvolvidas e tecnologicamente viáveis nas condições actuais. Podem


competir com as tecnologias convencionais, pelo menos em alguns locais ou mercados.

• Comerciais com incentivos - São viáveis mediante a concessão de tratamento preferencial


ou de subsídios. Podem melhorar à custa da produção em série e de economias de escala.

239
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Em desenvolvimento – Necessitam de mais investimento em Investigação e


Desenvolvimento de modo a melhorar a eficiência, fiabilidade ou custos. Incluem-se
melhorias nos materiais ou sistemas e instalação de projectos de demonstração para avaliar
problemas operacionais e ambientais, bem como a performance e os custos.

• Tecnologias futuras – Não estão ainda tecnicamente consolidadas, se que bem que sejam
cientificamente viáveis. Necessitam de Investigação e Desenvolvimento ao nível do estudo de
componentes, desenvolvimento de modelos para testes laboratoriais de forma a alcançar a
viabilidade técnica.

Comerciais com Em Tecnologias


Económicas
incentivos desenvolvimento futuras

• Solar passiva; • Solar térmica; • Solar térmica (electricidade);


• Solar térmica • Fotovoltaica (pequenos • Marés e ondas;
(águas domésticas); aproveitamentos); • Biomassa (gasosos, bioquímicos);
• Hídrica; • Biomassa (Resíduos,
• Sistemas combinados autónomos;
combustíveis líquidos);
• Eólica; • Geotérmica;
• Eólica (locais de vento
• Biomassa • Fotovoltaica;
moderado);
(combustão directa).
• Produção de H2 por energias
renováveis.

240
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Aplicação das várias formas de energia

Energia
Eléctrica

Hídrica

Gerador Motor

Marés
Energia
Mecânica

Ondas

Eólica Turbina Fricção


Solar

OTEC

Energia
Atmosférica
Térmica

Radiação
Combustão

Biomassa

Energia
Química
Geotérmica

Fis. Nuclear

Fus. Nuclear

Importa pois questionar quais são as aplicações ideais de cada forma de energia renovável e, logo,
como podem substituir os combustíveis tradicionais.

O calor é usado para aquecimento de água, do ar e para processos industriais. A força motriz é
necessária para os transportes e para maquinaria industrial, a electricidade, além das aplicações para
que é indispensável (aparelhos eléctricos), pode ainda substituir normalmente as outras formas.

241
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Actividade 24:
• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma debater sobre as questões
sugeridas sobre as aplicações das energias renováveis.
• Registar as sugestões / problemas apontados pelos grupos.
• Após análise e debate, as sugestões deverão ser listadas.

Exemplo de objectivos
• Enumerar as possíveis aplicações das energias renováveis.
• Analisar os problemas associados à utilização das energias renováveis.
• Debater esses mesmos problemas, com apresentação de propostas para a sua
resolução.
• Concluir sobre a eficácia de medidas tomadas na resolução de determinados
problemas.

Sugestão de questões sobre as aplicações das energias renováveis


• Como gerir então toda a diversidade de aplicações e de formas da energia?
• Como optimizar a sua utilização, maximizando a utilização das tecnologias que
menos afectam o desenvolvimento sustentável?
• Qual a forma de energia ideal a usar para o aquecimento?
• Será igual para todos os tipos de aquecimento?
• Como substituir os combustíveis no sector dos transportes?
• E a electricidade? Deve-se maximizar o seu uso, ou limitá-lo?
• Como gerir as diversas formas de produção?
• Pode um sistema produtivo depender só das renováveis?

Custos internos e custos externos

Designam-se por externalidades os custos impostos à sociedade e ao ambiente que não são
contabilizados pelos produtores e consumidores de energia, por outras palavras, são danos que não
se reflectem no preço de mercado.

Incluem-se nesta categoria danos físicos ao ambiente, quer natural quer construído, bem como
impactos na recreação, bem-estar e estética, e demais contribuições para o conforto social.

A inclusão nos custos de produção dos custos inerentes às externalidades é importante, por forma a
permitir uma análise económica comparativa justa entre as diversas formas de produção.

242
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Não sendo contabilizados habitualmente os custos externos, cria-se uma situação de distorção no
mercado, em favor dos combustíveis fósseis. Desta forma, ao contrário do que algumas vezes se
ouve dizer, os incentivos às energias renováveis não distorcem o mercado, este está actualmente
distorcido e os incentivos procuram corrigir essas distorções.
A quantificação dos custos externos é, porém, muito difícil, uma vez que impactos como o
aquecimento global têm efeitos que se tornam problemáticos para quantificar.

Por outro lado, como fazer incidir esses custos “internalizar as externalidades”? São várias as
medidas de política energética que perseguem esse objectivo.

Incorporação dos custos externos

Trata-se de equilibrar os custos de produção das energias renováveis com os das formas tradicionais.

São várias as possibilidades:

• Aplicação de taxas sobre a emissão de poluentes, incluindo o comércio de certificados de


emissão;

• Venda de "Energia Verde"a preço especial, a consumidores especialmente receptivos;

• Incentivo aos projectos de energias renováveis e utilização racional de energia, que por
programas de financiamento quer através de "tarifas verdes”.

5.18 – POLÍTICA ENERGÉTICA EM PORTUGAL

Ideias em que se deve basear a definição de uma política energética

• Promover a diversidade das fontes de energia;

• Procurar a segurança no abastecimento;

• Reduzir a dependência energética do exterior;

• Promover a sustentabilidade.

Diversificação

Tem como principal objectivo reduzir a dependência em relação a um dado combustível, muitas
vezes o petróleo, em função da qual uma alteração das condições de fornecimento desse produto
pode afectar decisivamente a economia de um país. É também o caso do gás natural.

243
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Segurança

Pretende evitar concentrar os fornecimentos em regiões de conflito, cujas evoluções podem trazer
também consequências gravosas e difíceis de prever e controlar sobre a actividade económica.

Dependência do exterior

Mais uma vez, um país cujo sistema energético dependa de terceiros pode ver a sua economia
afectada por razões e opções que lhe são alheias.

Portugal, apresenta uma elevada dependência energética em relação a países terceiros, uma vez
que depende em grande escala de combustíveis que não existem no território Português. O
aproveitamento dos recursos renováveis, que são endógenos (existentes no próprio país), é por isso
uma forma privilegiada de diminuir a dependência energética em relação ao exterior.

Sustentabilidade

A política energética deve acompanhar a necessidade de favorecer o Desenvolvimento Sustentável.


Segundo esse conceito, deve-se favorecer soluções que limitem o crescimento (ou mesmo diminuam,
se possível) dos efeitos associados à utilização de combustíveis fósseis.

O esgotamento, inevitável mesmo que demorado, das reservas de combustíveis dos quais dependem
em grande escala as sociedades dos países desenvolvidos, deve ser tido em consideração. Os
países em desenvolvimento devem procurar aprender com os erros cometidos pelos mais
desenvolvidos.

Meios para atingir os objectivos

A situação actual em Portugal leva a que se analise a dependência energética, tanto em relação aos
combustíveis como ao exterior e o aumento dos consumos.

Desta forma, pretende-se apostar em três áreas principais:

• A introdução do gás natural como alternativa aos combustíveis tradicionais;

• A utilização racional de energia - Gestão de Energia;

• A produção independente de electricidade, principalmente através de fontes de energia


renováveis e da co-geração.

244
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Gestão de Energia

A energia é um bem precioso e finito, pelo que a sua utilização deve ser gerida com bom senso.
Desde logo importa poupar - tomar consciência, e fazer passar essa mensagem, da escassez das
fontes de energia e dos efeitos prejudiciais do seu consumo em excesso.

Na redução dos desperdícios e ineficiências na utilização da energia existe um grande potencial para,
pelo menos, limitar os aumentos do consumo. Procurar atingir um valor inferior a 1 para a intensidade
energética. Existem alguma técnicas e regulamentações que devem ser aplicadas e/ou incentivadas.

A co-geração de calor e electricidade permite evitar o desperdício da grande quantidade de energia


térmica que se liberta na produção de electricidade. Em alguns casos, pode-se recorrer à trigeração,
na qual uma parte do calor libertado alimenta um chiller de absorção produzindo frio.

Estes sistemas devem ser incentivados quando representam efectivos aumentos da eficiência
energética. As empresas industriais devem ser objecto de auditorias energéticas, nas quais se
identificam as ineficiências nos processos industriais e se apontam as soluções para atingir níveis de
eficiência adequados.

Os edifícios, particulares e principalmente institucionais (hospitais, hotéis, escritórios, centros


comerciais), são um dos grandes pólos de desperdícios de energia, na iluminação e principalmente
na climatização.

Na sua construção, alguns cuidados podem permitir poupanças significativas. Assim, os edifícios
devem cumprir um regulamento (RCCTE - Regulamento de Características e Comportamento
Térmico de Edifícios) que procura minimizar as suas necessidades energéticas, tanto em
aquecimento como em arrefecimento. A observância do RCCTE pode evitar a necessidade de
recorrer à climatização.
Quando isso não acontece, o RSECE (Regulamento de Sistemas Energéticos de Climatização em
Edifícios) procura garantir que os sistemas utilizados cumprem o objectivo da eficiência energética.

Muitas vezes, os projectos são feitos segundo métodos expeditos e, logo menos rigorosos, com base
nos quais são instalados equipamentos de potências inadequadas. Tal facto leva a que os consumos
disparem: por vezes a poupança no projecto traduz-se num aumento de custos na operação dos
equipamentos.

A produção independente de electricidade é incentivada, procurando:

• Maximizar o aproveitamento dos recursos endógenos;

• Diversificar as formas de produção (combustíveis);

245
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• Descentralizar os locais de produção, levando-a mais perto dos centros de consumo;

• Promover a sustentabilidade e diminuir (controlar) as emissões de compostos que contribuem


para o efeito de estufa.

Sistemas de Incentivo

Como apoiar a produção independente de electricidade, tentando compensar as distorções do


mercado (contabilizar os custos externos da utilização de combustíveis fósseis), de modo a, pelo lado
da oferta, promover a produção de electricidade por vias renováveis?

Os sistemas mais usados na Europa são dois, com pequenas variações:


• Sistema “competitivo”;
• Sistema de Preço fixo.

Sistema competitivo – Usado fundamentalmente no Reino Unido e na França, baseia-se no


lançamento de concursos para a apresentação de projectos, sendo seleccionados os mais
competitivos economicamente. Sendo teoricamente interessante por permitir implementar projectos
de mais baixo custo, a sua aplicação prática não tem tido bons resultados.

Sistema de Preço Fixo – É o sistema que apresenta melhores resultados, principalmente quando a
componente ambiental do preço é importante (Alemanha, Dinamarca, Espanha). As regras são muito
mais claras permitindo a implementação de mais projectos. Contudo, à medida que há mais
projectos, torna-se financeiramente oneroso.

Tendências para o futuro

As mini-hídricas e a eólica estão já no terreno, no entanto o ritmo de crescimento das mini-hídricas já


abrandou e, no caso da eólica, prevê-se que o mesmo suceda se não forem levantadas algumas das
barreiras que se opõem à disseminação das energias renováveis.

A energia solar e a biomassa apresentam também um interessante potencial explorável. A energia


solar, particularmente a térmica, na sua utilização passiva e no uso de colectores solares para
aquecimento de águas sanitárias, proporcionando poupanças no consumo de combustíveis fósseis.
Na biomassa, sendo a sua aplicação e forma de utilização muito variadas, destaca-se o
aproveitamento dos resíduos florestais, acrescentando a limpeza das matas às vantagens
energéticas.

A implementação de sistemas de co-geração a biogás, proveniente por exemplo de lamas de ETAR,


pode também dar um novo fôlego ao mercado da co-geração, também ele um pouco saturado.

246
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

As manifestações de intenções de governos e instituições internacionais permitem antever um futuro


interessante. Contudo, é necessário tomar medidas que criem condições de acesso das renováveis
aos mercados.

As crescentes preocupações com os efeitos do aquecimento do planeta, provocado pelo efeito de


estufa, levariam a supor que o apoio às renováveis fosse grande.

Porém, a coincidência do potencial energético com áreas protegidas e algum efeito de oposição a
todo o tipo de construções, principalmente se for nas proximidades, tem criado dificuldades a alguns
projectos.

Será necessário encontrar um equilíbrio, sob pena de se desperdiçar a possibilidade de haver uma
mudança das formas tradicionais de energia para as renováveis.

247
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

TEMA INTRODUTÓRIO VI

Gestão Ambiental

248
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Tema integrador 6 – Gestão ambiental

Introdução

Nos últimos anos tem sido dado maior destaque ao papel que a gestão ambiental desempenha numa
organização, surgindo como instrumento de qualidade e excelência, permitindo-lhes distinguir-se
entre as demais.

Objectivos gerais:

• Compreender um sistema de gestão ambiental;


• Efectuar uma caracterização comparativa da ISO 14000 e EMAS;
• Planificar e desenvolver as actividades que caracterizam um sistema de gestão ambiental.

Objectivos específicos:

a) Descrever um Sistemas de Gestão Ambiental e os requisitos que o caracterizam;


b) Identificar a Legislação em vigor Relativamente aos SGA;
c) Interpretar os sistemas de gestão ambientais: ISO e EMAS;
d) Enumerar as condições necessárias para o planeamento da futura implementação integrada de
SGA;
e) Compreender a importância e o objectivo do rótulo ecológico.

249
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

6 – GESTÃO AMBIENTAL

6.1 – O que são as ISO 14000

“As organizações de todos os tipos estão cada vez mais preocupadas em atingir e demonstrar um
desempenho ambiental sólido, através do controlo de impacte ambiental das suas actividades,
produtos ou serviços, tendo em consideração a sua política e objectivos ambientais. Estas
preocupações surgem no contexto do aparecimento de legislação cada vez mais restritiva, do
desenvolvimento de políticas económicas e de outras medidas que fomentam cada vez mais a
protecção do ambiental, e de um crescimento generalizado das preocupações de partes interessadas
sobre as questões ambientais, incluindo o desenvolvimento sustentável.” [texto retirado da norma NP
EN ISO 14001 – p.4/24]

Sugestão de actividade 1

• Se possível, numa breve sessão de brainstorming, ou individualmente, dizer o que


conhece/entende sobre a gestão ambiental, normas e certificação.

• Registar as opiniões da turma.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

A família de normas da série ISO 14000 está direccionada para a gestão ambiental, e foram
desenvolvidas pela ISO (International Standardization Organization), uma das maiores organizações
a nível mundial para o desenvolvimento de normas voluntárias.

As normas da série ISO 14000 foram criadas por forma a constituir uma “base de trabalho” para a
gestão, medição, avaliação e auditoria ambientais reconhecidas mundialmente. Não estabelecem
objectivos de desempenho ambiental, mas disponibilizam às empresas as ferramentas necessárias
para avaliarem e controlarem o impacte ambiental das suas actividades, serviços e produtos.

As normas são suficientemente “flexíveis” para serem utilizadas por qualquer organização de
qualquer dimensão e tipo de actividade.

As ISO 14000 aplicam-se a:


9 Sistemas de Gestão Ambiental;

9 Rótulos Ecológicos e Declaração;

9 Avaliação do Desempenho Ambiental;

9 Análise do Ciclo de Vida.

250
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 2

• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma debater, a questão “Porquê


utilizar a ISO 14001 como modelo para sistemas de gestão ambiental?”

• Registar as opiniões dos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

6.2– SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

Um sistema de gestão ambiental é parte do sistema global de gestão de uma organização através da
qual se controla os seus aspectos ambientais, ou seja, as actividades, produtos e processos que
provocam, ou podem vir a provocar os impactes ambientais, construindo-se a partir de um conjunto
de actividades ambientais e de instrumentos de gestão.

Tais actividades são interdependentes e propõem-se atingir um objectivo claramente definido: a


protecção ambiental.

Este esforço de gestão deve resultar numa melhoria do desempenho ambiental da organização.

O SGA é o ciclo contínuo de planear, realizar, rever e melhorar o desempenho ambiental de uma
organização.

Sugestão de actividade 3

• Em grupos de 3/4 elementos ou com toda a turma debater, sobre a seguinte


questão: “Quais os passos que acham necessário dar para a implementação
de um Sistema de Gestão Ambiental?”

• Registar as opiniões dos grupos

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

251
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Um sistema de gestão ambiental baseado na ISO 14001 é uma ferramenta de gestão que possibilita
a uma organização de qualquer dimensão ou tipo, controlar o impacte das suas actividades no
ambiente.

Um SGA possibilita uma abordagem estruturada para estabelecer objectivos, para os atingir e para
demonstrar que foram atingidos.

Quadro síntese

• É um segmento da estrutura global de gestão da empresa, direccionado para o impacte


ambiental a curto e a longo prazo dos seus serviços, produtos e processos;

• É um sistema que melhora a organização e a consistência para lidar com as


preocupações ambientais, providenciando os recursos, atribuindo responsabilidades e
avaliando a eficácia dos procedimentos, das práticas e dos processos;

• Define a política ambiental da organização e determina os métodos necessários para


atingir os objectivos;

• É um sistema em desenvolvimento, que visa a melhoria contínua;

• É um processo interactivo, que envolve todas as facetas da organização (operações,


qualidade, finanças, saúde, higiene e segurança no trabalho);

• Define, documenta e melhora continuamente as capacidades requeridas.

A – Quais os objectivos de um Sistema de Gestão Ambiental

• Estabelece uma política ambiental que:


9 Integra a prevenção da poluição / técnicas de minimização de resíduos e emissões;
9 Integra um compromisso de cumprimento da legislação;
9 Está disponível ao público.

• Determina os requisitos legais e outros aspectos ambientais associados às actividades da


organização, produtos e serviços;

• Desenvolve o compromisso da Direcção e dos colaboradores para proteger o ambiente, com


definição de responsabilidades;

• Encoraja o planeamento ambiental através de todas as actividades da empresa, desde as


matérias-primas até à distribuição dos produtos.

252
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 4

• Em grupos de 3/4 elementos, cada um deles terá como tarefa enunciar outros
objectivos de um Sistema de Gestão Ambiental.

• Registar as opiniões dos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dos grupos.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

B – Benefícios da implementação de um SGA

A implementação de um sistema de gestão ambiental pode trazer vários benefícios para uma
organização, como por exemplo:

9 Constitui uma base para a protecção do ambiente e para a melhoria contínua do desempenho
ambiental;

9 Possibilita a redução de custos relacionados com o consumo de Recursos Naturais e


Matérias-primas e Auxiliares, com o tratamento de resíduos e efluentes e pagamento de
coimas, nomeadamente, através da identificação de oportunidades de prevenção da poluição:

• Diminuição de prémios de seguros e taxas de poluição;


• Possibilidade de obtenção de apoios e incentivos financeiros.

9 Contribui para a melhoria da imagem e da competitividade da empresa;

9 Contribui para a melhoria da imagem da empresa.

Sugestão de actividade 5

• Reflectir sobre o último beneficio apresentado e debater com toda a turma sobre
junto de quem é que a empresa beneficia.

• Apontar as opiniões dos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

253
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 6

• Em grupos de 3/4 elementos, cada um deles terá como tarefa enunciar outros
benefícios da implementação de um Sistema de Gestão Ambiental.

• Registar as respostas dos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

C – Custos da implementação de um SGA

Os principais custos associados à implementação de sistemas de gestão ambiental estão


relacionados à necessidade de afectação de recursos humanos, nomeadamente:

9 Envolvimento do técnico responsável pela implementação do sistema e, eventualmente,


despesas relacionadas com a contratação de consultores;

9 Envolvimento da administração no acompanhamento das diversas actividades;

9 Investimento na formação dos recursos humanos, nomeadamente custo de oportunidade do


tempo dispendido pelos formandos e custo do formador.

6.3 – CERTIFICAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL

A certificação permite evidenciar que a organização dispõe de um sistema de gestão ambiental em


conformidade com uma norma. A empresa é assim capaz de evidenciar a qualidade dos seus
processos de gestão ambiental.

A certificação do sistema por uma entidade idónea e acreditada seguindo normas internacionais:

• Permite à empresa demonstrar o cumprimento dos requisitos estabelecidos às partes


interessadas (clientes, accionistas, colaboradores, comunidade, entre outros);

• Aumenta a credibilidade do seu sistema junto a terceiros;

• Complementa a estratégia de marketing;

• Constitui um factor motivador.

254
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A certificação do SGA de acordo com a ISO 14001 é efectuada por uma entidade externa, idónea e
acreditada para tal, que verifica, através da realização de auditorias a conformidade e eficácia do
SGA relativamente aos requisitos da norma.

6.4 – PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM SGA

“As Normas Internacionais referentes à gestão ambiental, destinam-se a proporcionar às


organizações os elementos de um sistema eficaz de gestão ambiental, que possam ser integrados
com outros requisitos de gestão, a fim de ajudar essas organizações a atingir os objectivos
ambientais e económicos.” [texto retirado da norma NP EN ISO 14001 – p.4/24]

Os sistemas de gestão ambiental baseiam-se no modelo de Planeamento – Implementação –


Verificação – Revisão (Plan – Do – Check – Act) adoptado na gestão da qualidade total, que resulta
na melhoria contínua do sistema e, consequentemente, do desempenho ambiental da organização.

O sistema de gestão ambiental deve permitir que a organização:

1. Defina uma política ambiental apropriada para o seu caso;

2. Identifique os aspectos ambientais decorrentes das suas actividades, produtos ou serviços, a


fim de determinar quais os impactes ambientais significativos;

3. Identifique os requisitos legais e regulamentares relevantes;

4. Identifique prioridades e defina objectivos e metas ambientais adequados;

5. Estabeleça uma estrutura e programa(s) para implementar a politica e atingir os objectivos e


metas;

6. Simplifique o planeamento, controlo, monitorização, as acções correctivas, e as actividades


de auditoria e revisão, de modo a garantir, simultaneamente, que a política é cumprida e que
o sistema de gestão ambiental permanece adequado;

7. Seja capaz de se adaptar a alterações circunstanciais.

Em Portugal, existem duas normas de sistemas de gestão ambiental aplicáveis:

• As normas da série ISO 14000 são constituídas por um conjunto de documentos relacionados
com sistemas de gestão ambiental:

255
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

9 ISO 14001 – norma de referência para a Implementação de um Sistema de Gestão


Ambiental e especifica os requisitos que podem ser objectivamente auditáveis para
efeitos de certificação. Estabelece as especificações e linhas de orientação para a
aplicação de sistemas de gestão ambiental, não impõem níveis pré-definidos de
desempenho ambiental, requerendo apenas que a organização se comprometa a
procurar melhorar continuamente o seu desempenho e inclua um compromisso de
cumprimento de legislação e outros regulamentos aplicáveis na sua política ambiental;
9 ISO 14004 - guia para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental. Funciona
como uma "Ferramenta interna" que providencia orientações para a implementação de
um Sistema de Gestão Ambiental segundo a NP EN ISO 14001. Inclui: exemplos,
descrições e opções que orientam quer na implementação do sistema, quer no reforço de
integração com o sistema geral de gestão da organização;

9 ISO 19011 – substitui as ISO 14010, 14011, 14012, entre outras – estabelece as linhas
de orientação para auditorias a sistemas de gestão da qualidade e /ou gestão
ambiental;

9 ISO 14031 e 14032 – define um processo de avaliação do desempenho ambiental dos


sistemas das organizações. Inclui exemplos de indicadores ambientais;

9 ISO 14020, 14021, 14024 e 14025 – normas de referência para a rotulagem ecológica e
declarações ambientais.

9 ISO 14040, 14041, 14042, 14043, 14048 e 14049 – Análise do Ciclo de Vida. São
normas desenvolvidas com o objectivo de encorajar as entidades oficiais, as
organizações privadas e o público para uma abordagem dos assuntos ambientais de
forma integrada durante todo o seu ciclo de vida.

• O Regulamento Comunitário de Auditoria e Ecogestão (eco-management and audit scheme -


EMAS) é um sistema em que podem participar de forma voluntária organizações que
desenvolvam actividades industriais, para avaliar e melhorar de modo continuado os impactes
dessas actividades e informar o público sobre o comportamento e progressos das instalações
em termos de ambiente. O EMAS requer que as empresas estabeleçam e implementem
sistemas de gestão ambientais eficazes incluindo, entre outras coisas, uma política ambiental,
objectivos, programas ambientais que forneçam informação sobre o seu desempenho
ambiental ao público (declaração ambiental).

256
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

6.5 – NORMA NP EN ISO 14001

Sistema de Gestão Ambiental (SGA), especificações e linhas de orientação. Interpretação da


norma – requisitos.

“Muitas organizações levaram a cabo revisões ou “auditorias” ambientais, para avaliar o seu
desempenho ambiental. No entanto, essas revisões e “auditorias” poderão não ser, por si só
suficientes para dar a uma organização a garantia de que o seu desempenho ambiental não só
cumpre como continuará a cumprir os requisitos legais e a sua política. Para que sejam eficazes é
necessário que tais procedimentos sejam realizados segundo um sistema de gestão estruturado e
integradas na actividade global da gestão.” [texto retirado da norma NP EN ISO 14001 – p.4/24]

1 – Campo de aplicação

Esta norma especifica os requisitos de um Sistema de Gestão Ambiental, de modo a permitir que
qualquer organização enuncie uma política e objectivos tendo em consideração os requisitos legais e
a informação sobre os impactes ambientais que a organização pode controlar e sobre os quais se
suponha que esta tenha influência.

A norma pode ser utilizada por qualquer organização que pretenda:

• Implementar, manter e melhorar um SGA;

• Assegurar-se da conformidade com a política ambiental por si estabelecida;

• Demonstrar essa conformidade perante terceiros;

• Obter a certificação do seu sistema de gestão ambiental por uma entidade externa;

• Realizar uma auto-avaliação e emitir uma auto-declaração de conformidade com a


presente norma.

257
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

MELHORIA CONTÍNUA

Revisão pela
Direcção Política Ambiental

Implementação e
funcionamento
Verificação e • Estrutura e responsabilidades
Planeamento
Acções Correctivas
• Aspectos ambientais
• Formação, sensibilização e
• Monitorização e competência
medição • Requisitos legais e
outros requisitos
• Comunicação
• Não conformidade,
acções correctivas e • Objectivos e metas
• Documentação do SGA
preventivas
• Programa(s) de
• Controlo de documentos
• Registos gestão do ambiente
• Controlo operacional

• Prevenção e capacidade de
resposta a emergências

Recomendação:

Consultar o requisito 4.2 – política ambiental da norma NP EN ISO 14001.

A direcção da organização, ao seu mais alto nível, deve traçar o seu “caminho ambiental”,
explicitando-o num documento escrito, através do qual demonstrará o seu empenho em exercer a sua
actividade com respeito pelo ambiente. Esse documento denomina-se Política Ambiental.

B – Política Ambiental

A política ambiental da organização tem de incluir compromissos de:

• Melhoria contínua;
• Prevenção da poluição;
• Cumprimento da legislação, regulamentos e outros requisitos ambientais aplicáveis.

A política ambiental tem:


• De ser apropriada aos impactes ambientais das actividades, produtos e serviços da
empresa;

258
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

• De proporcionar o enquadramento para a definição dos objectivos e metas ambientais


(OMA) da empresa;
• Documentada, implementada e mantida actualizada;
• Comunicada internamente;
• Disponibilizada ao público.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.3.1 – aspectos ambientais da norma NP EN ISO 14001.

C – Aspecto ambiental

Elemento resultante das actividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir
com o ambiente.

Tipos de aspectos ambientais


• Emissões atmosféricas (chaminé);

• Descargas no meio aquático (efluentes domésticos e industriais, águas pluviais, escorrências


de solos).

Sugestão de actividade 7

• Em grupos de 3/4 elementos, cada grupo terá como tarefa enunciar outros
aspectos ambientais.
• Apontar as opiniões dos outros grupos.
• Analisar e debater sobre as respostas dos grupos.
• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar
conveniente, recordar o que foi anotado.

259
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Por Impacte ambiental entende-se qualquer alteração no ambiente, adversa ou benéfica, resultante
total ou parcialmente, das actividades, produtos e serviços.

Exemplos de impactes ambientais

• Empobrecimento da camada do ozono (buraco do ozono)

¾ Principais aspectos ambientais responsáveis por este tipo de impacte: Emissões para
a atmosfera de CFC’s, halons e outros compostos halogenados. Estes aspectos
ambientais, através de certos mecanismos, exercem efeitos no ambiente, provocando
prejuízos na saúde humana, por acção do aumento da quantidade / intensidade dos
raios ultravioletas que conseguem atravessar a atmosfera e atingir o solo.

Sugestão de actividade 8

• Em grupos de 3/4 elementos, cada grupo terá como tarefa enunciar outros
impactes ambientais mencionando os principais aspectos ambientais
responsáveis.

• Apontar as opiniões dos outros grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dos grupos.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

Para as suas actividades, produtos e serviços a organização deve:

• Estabelecer procedimentos para identificar os aspectos ambientais controláveis e sobre os


quais pode ter influência e avaliar quais podem ter impactes ambientais significativos.

Este procedimento deve estabelecer:

• A metodologia para identificar os aspectos ambientais (actuais e passados) em condições


de funcionamento normal, anormal e de risco;

• Os critérios para avaliar quais os aspectos que provocam impactes ambientais que podem
ser considerados significativos.

260
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Os aspectos / impactes ambientais que devem ser considerados


significativos são os que:
• Estão sujeitos a legislação ou outros requisitos ambientais;

• Resultam de uma deficiente gestão de recursos, matérias-primas ou resíduos;

• Resultam de uma emissão directa de substâncias nocivas ou persistentes;

• Podem causar danos por responsabilidade civil;

• São apercebidos como significativos pelo público ou pelos clientes;

• Restringem futuros desenvolvimentos estratégicos da empresa;

• Afectam a validação dos seguros.

Para as suas actividades, produtos e serviços a organização deve:

• Fazer um levantamento de todos os seus aspectos ambientais e respectivos impactes


(levantamento inicial);
• Manter actualizada a informação sobre os aspectos ambientais com impactes ambientais
significativos.

D – Fases a percorrer para a realização de um levantamento inicial

9 Identificar, processos, actividades e operações;

9 Identificar e analisar exaustivamente a legislação e licenças aplicáveis;

9 Preparar esquemas / fluxogramas processuais;

9 Efectuar balanços mássicos e energéticos.

Sugestão de actividade 9

• Em grupos de 3/4 elementos, cada grupo terá como tarefa enunciar outras fases a
percorrer para a realização de um levantamento inicial.

• Apontar as opiniões dos outros grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dos grupos.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

261
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Após a identificação dos aspectos ambientais com impactes ambientais significativos, a organização
deve ter em consideração o estabelecimento dos objectivos e metas.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.3.2 – requisitos legais e outros requisitos da norma NP EN ISO


14001.

Decretos-Lei e Regulamentos, Despachos


Portarias de decisões e Governamentais
aplicação Directivas ou Municipais
europeias

REQUISITOS LEGAIS E OUTROS


REQUISITOS

Licenças Acordos com


entidades públicas
Contratos Política de
com clientes grupo

A organização deve:

9 Estabelecer procedimentos para ter acesso e identificar os requisitos legais ou outros


requisitos que a organização subscreva e que sejam aplicáveis às suas actividades, produtos
e serviços;

9 Fazer um levantamento dos requisitos legais e outros requisitos aplicáveis aos seus aspectos
ambientais;

9 Manter esta informação actualizada de forma permanente.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.3.3 – Objectivos e metas da norma NP EN ISO 14001.

262
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A organização deve elaborar procedimentos para estabelecer os seus objectivos e metas, garantindo
a coerência destes com a política ambiental, em especial com os compromissos de prevenção da
poluição e da melhoria contínua, documentando-os.

Um Objectivo é uma referência ambiental geral, Meta é uma exigência de desempenho


detalhada.
Exemplo de uma política do ambiente:

“É nosso compromisso agir de forma a reduzir a emissão de poluentes para o ar e para a água, assim
como o volume de resíduos industriais banais a enviar para aterro”.

Sugestão de actividade 10

• Em grupos de 3/4 elementos, cada grupo terá como tarefa elaborar uma política
do ambiente, tendo em consideração que a política do ambiente depende do tipo
de organização, actividade, produtos e serviços, ficando a escolha ao critério do
formando.

• Apontar as opiniões dos outros grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dos grupos.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

263
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Actividade 11

• Completar o quadro seguinte sobre objectivos e metas ambientais.

• Registar as soluções propostas.

• Analisar e debater as respostas apresentadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

Exemplo de objectivos e metas ambientais:

OBJECTIVOS METAS

1 – Reduzir a emissão de compostos


orgânicos voláteis (COV) para a atmosfera.

2 – Diminuir o teor de matéria orgânica das


águas residuais descarregadas no meio
receptor.

3.1 – Separar e enviar para reciclagem 100%


dos resíduos de embalagens de polietileno
produzidos no armazém e na secção de
embalagem.

3.2 – Separar e enviar para reciclagem 80%


dos resíduos de embalagens de cartão
produzidos em toda a unidade industrial.

Ao estabelecer os seus objectivos e metas, a organização deve atender:

• Aos requisitos legais ou outros aplicáveis;

• Aos aspectos / impactes significativos;

• Às opções tecnológicas e às exigências financeiras, operacionais e comerciais;

• Aos pontos de vista das partes interessadas.

264
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 12

• Tendo em consideração a actividade 10, e mantendo os mesmos grupos de


trabalho, elaborar objectivos e metas ambientais para o tipo de organização,
actividade, serviço, escolhido anteriormente.

• Apontar os objectivos e metas propostas pelos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.3.4 – Programa(s) de gestão ambiental da norma NP EN ISO


14001.

A organização tem de estabelecer um programa de gestão ambiental (PGA) de modo a garantir que
os seus objectivos e metais ambientais são atingidos, devendo ser actualizado sempre que
necessário.

O programa de gestão ambiental deve conter:


• As acções conducentes a atingirem os objectivos e metas ambientais;

• As responsabilidades pela realização de cada uma das acções;

• Os meios necessários a cada acção;

• A calendarização das acções.

265
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Para cada objectivo e / ou meta há que responder a algumas questões:

Quem? Faz o quê? Com que meios? Em que prazo?

PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL

Acções Responsabilidades Recursos Calendário

Concretas e Nominais por acção Financeiros, Etapas parciais e


detalhadas humanos, técnicos datas limite

E – Planeamento

PLANEAMENTO

Actividades, produtos e serviços

Aspectos ambientais
Requisitos Prevenção e
capacidade de
legais e resposta a emergência
outros
Impactes significativos

Controlo
Operacional

Objectivos e Metas

Programa de Gestão Ambiental

Recomendação:

Consultar o requisito 4.4.1 – estrutura e responsabilidade da norma NP EN ISO 14001.

266
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A organização deve definir funções, responsabilidades e autoridade de todos os colaboradores


envolvidos no Sistema de Gestão Ambiental (SGA), documentando-as e comunicando-as aos
envolvidos.

A direcção da organização tem de providenciar os recursos necessários à implementação e controlo


do SGA elegendo o seu representante. Deve, ainda, determinar as funções, responsabilidades e
autoridade do eleito de modo a que os requisitos do SGA sejam definidos, implementados e mantidos
em conformidade com a norma.

O representante eleito deve também comunicar à direcção da organização o desempenho do SGA de


modo a proceder-se à sua revisão ou melhoria.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.4.2 – formação, sensibilização e competência da norma NP EN


ISO 14001.

A organização deve:

• Identificar as necessidades de formação, com base na informação das funções com


relevância em termos de impactes ambientais significativos;

• Criar condições para que todos os trabalhadores (incluindo os subcontratados), cuja


tarefa possa ter impactes ambientais significativos possa receber formação
adequada;
• Garantir que os colaboradores cujas tarefas podem causar impactes ambientais
significativos adquirem competência com base numa adequada educação, formação
e /ou experiência;

• Estabelecer procedimentos que permitam que todos os colaboradores estejam


sensibilizados.

Os colaboradores devem ser formados de modo a adquirirem


consciência sobre:
• A importância da conformidade com a política ambiental, procedimentos e requisitos
do SGA;

• A importância dos impactes ambientais significativos, reais ou potenciais,


resultantes da sua actividade;

• Os benefícios ambientais decorrentes de uma melhoria do seu desempenho


individual;
• As suas funções e responsabilidades para atingir a conformidade com a política
ambiental, procedimentos e requisitos do SGA, incluindo os requisitos de prevenção
e resposta a situações de emergência;
• As potenciais consequências do não cumprimento dos procedimentos operacionais
estabelecidos.

267
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Recomendação:

Consultar o requisito 4.4.3 – comunicação da norma NP EN ISO 14001.

A organização deve estabelecer procedimentos para:

• Definir a comunicação interna entre os diversos níveis e funções da organização;

• Receber, documentar e responder a comunicações relevantes (reclamações ou pedidos de


informação) das partes interessadas externas.

A organização deve considerar processos de comunicação externa dos seus aspectos ambientais e
registar a sua decisão.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.4.4 – documentação do sistema de gestão ambiental da norma


NP EN ISO 14001.

A organização deve definir informação (em papel ou formato electrónico) para:

• Descrever os elementos essenciais do SGA e suas interacções;

• Fornecer orientação sobre documentação relacionada.

A documentação:

• Pode ser integrada na documentação de outros sistemas implementados;

• Não tem que estar, necessariamente, reunida num manual;

• Pode incluir informação sobre o processo, organigramas, procedimentos


operacionais, planos de emergência ambiental, entre outros.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.4.5 – controlo de documentos da norma NP EN ISO 14001.

A organização deve estabelecer procedimentos para definir a forma como são controlados todos os
documentos requeridos pelo SGA, devendo o sistema de controlo documental ser o mais simples
possível.

268
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Controlar os documentos implica que estes:

• Possam ser facilmente localizados;

• Sejam periodicamente analisados e revistos quando necessário;

• Sejam aprovados por pessoas autorizadas;

• Estejam disponíveis, na versão actualizada, nos locais onde são executadas as operações;

• Quando obsoletos, sejam prontamente retirados dos locais de emissão e utilização;

• Quando, apesar de obsoletos, sejam conservados (por questões legais ou outras)


devidamente identificados.

Sugestão de actividade 13

• Em grupos de 3/4 elementos, cada grupo terá como tarefa enunciar outras
características que os documentos necessitem, para efectuar o seu controlo.

• Apontar os objectivos e metas propostas pelos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.4.6 – controlo operacional da norma NP EN ISO 14001.

A organização deve:

• Identificar as operações e actividades associadas aos seus aspectos ambientais


significativos;
• Planear essas actividades, incluindo a manutenção, de forma a garantir que são realizadas
sob determinadas condições;
• Manter os procedimentos documentados e actualizados.

269
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A organização deve garantir que são estabelecidos procedimentos documentados para:

• Situações nas quais a sua inexistência pode conduzir a desvios à política ambiental e aos
objectivos e metas;
• Definir as condições de operação de actividades com potenciais impactes ambientais
significativos;
• Comunicar os requisitos ambientais relevantes aos fornecedores e subcontratados.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.4.7 – prevenção e capacidade de resposta a emergências da


norma NP EN ISO 14001.

A organização deve estabelecer procedimentos para:

• Identificar potenciais acidentes e situações de emergência;


• Actuar de modo a prevenir as ocorrências;
• Planear as acções de resposta caso haja ocorrência, de forma a reduzir os impactes
ambientais resultantes.

A organização deve:

• Analisar e rever (se necessário) os procedimentos estabelecidos, nomeadamente após a


ocorrência de acidentes ou situações de emergência;
• Testar, periodicamente, os procedimentos estabelecidos.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.5.1 – monitorização e medição da norma NP EN ISO 14001.

A organização deve estabelecer procedimentos documentados para:

• Monitorar e medir, periodicamente, as características relevantes das suas operações e


actividades ambientais que possam ter impactes ambientais significativos;
• Registar a informação que permita acompanhar o desempenho, os controlos operacionais e a
conformidade com os objectivos e metas;
• Avaliar, periodicamente, a conformidade com os requisitos legais e outros aplicáveis.

270
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A organização deve, ainda:

• Manter os seus equipamentos de medição em bom estado de manutenção e calibrados;


• Manter registos da manutenção e calibração dos equipamentos de medição.

Operações e actividades

Aspectos ambientais significativos

 Procedimento  Procedimento
Monitorização e medição
Verificação periódica:
- Desempenho ambiental;
- Conformidade com os OMA;

 Procedimento - Conformidade legal.


" Registar
Manutenção e calibração dos
equipamentos de medida
" Registar

Recomendação:

Consultar o requisito 4.5.2 – não conformidade, acções correctiva e preventiva da


norma NP EN ISO 14001.

A organização deve estabelecer procedimentos para definir responsabilidades e autoridade para:

• Investigar e tratar não conformidades;

• Adoptar medidas de minimização dos impactes causados;

• Dar início e concluir acções correctivas e preventivas.

271
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A organização deve:

• Adequar as acções correctivas ou preventivas à magnitude dos impactes ambientais em


causa;

• Implementar e registar as alterações, nos procedimentos, resultantes da implementação das


acções correctivas e preventivas.

Reclamações Situações de
emergência

Auditorias Monitorização
e medição

 Procedimento NÃO CONFORMIDADE

" Registar
Analisar as causas " Registar
Actuar sobre os aspectos

" Registar " Registar


Correcção dos impactes Acção correctiva

Recomendação:

Consultar o requisito 4.5.3 – registos da norma NP EN ISO 14001.

A organização deve estabelecer procedimentos para:

• Identificar, manter e eliminar os registos ambientais (incluindo registos da formação e dos


resultados das auditorias e das revisões do SGA);

• Definir e registar o tempo de conservação dos registos.

272
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A organização deve garantir que os seus registos são:

• Legíveis;

• Identificáveis e rastreáveis para a actividade, produto ou serviço envolvido;

• Conservados e mantidos de forma a serem facilmente consultáveis;

• Protegidos contra danos, deterioração ou perda;

• Conservados pelo período de tempo estabelecido.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.5.4 – auditoria do sistema de gestão ambiental da norma NP EN


ISO 14001.

A organização deve estabelecer programas e procedimentos que permitam a realização de auditorias


periódicas ao Sistema de Gestão Ambiental.

Os programas e os procedimentos devem permitir avaliar se o SGA:

• Está implementado em conformidade com o planeado para a gestão ambiental;

• Está implementado em conformidade com os requisitos da norma;

• Está adequadamente implementado e mantido;

• Fornece informação à direcção sobre os resultados das auditorias realizadas.

A calendarização das auditorias deve ter em consideração:

• A importância ambiental das actividades em causa;

• Os resultados das auditorias anteriores.

273
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

O procedimento de auditorias deve incluir:

• Âmbito da auditoria;
• Frequência;
• Metodologia;
• Responsabilidade e requisitos para realizar as auditorias e comunicar os seus resultados.

Processo de auditoria segundo a ISO 19011

1ª Fase
 Procedimento
Início da Auditoria

5ª Fase
2ª Fase
Entrega do relatório
Fecho da Auditoria
Preparação da
Auditoria

4ª Fase

Relatório da Auditoria e
Conservação de
" Registar
Documentos

" Registar 3ª Fase

Condução da Auditoria

Observação:
Quando, mais adiante surgirem os conteúdos relativamente às directrizes para a realização
de auditorias a organizações que possuam um Sistema de Gestão Ambiental rever esta
parte da matéria.

Recomendação:

Consultar o requisito 4.6 – revisão pela direcção da norma NP EN ISO 14001.

A direcção da organização deve analisar o Sistema de Gestão Ambiental em intervalos regulares (por
ela determinados) e revê-lo (se necessário).

274
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Nesta revisão terá de ser assegurada a análise sobre a adequabilidade da Política Ambiental e dos
procedimentos adoptados, bem como a definição dos objectivos e metas.

O processo de revisão pela direcção deve assegurar que é recolhida a informação necessária para
permitir esta avaliação, assim como a sua documentação.

A informação a recolher para o processo de revisão pela direcção deve incluir os resultados das
auditorias, o grau de cumprimentos dos objectivo e metas ambientais, as alterações de condições de
operação e de informação e a preocupações manifestadas pelas partes interessadas.
A revisão deve assegurar que o Sistema de Gestão Ambiental continua adequado, suficiente e eficaz.

Sugestão de actividade 14

• Visita a uma empresa certificada pela norma NP EN ISO 14001.

Exemplo de objectivos

• Compreender o funcionamento de uma empresa certificada.


• Identificar, na estrutura da empresa (organigrama), a localização do departamento
responsável pela gestão do sistema ambiental.
• Verificar o cumprimento de alguns requisitos constantes na norma.

Em sala
• Debater sobre o funcionamento da empresa e quais as vantagens da adesão
ao sistema de gestão ambiental;
• Analisar e concluir sobre a localização do departamento responsável pela
gestão do sistema ambiental;
• Comentar o cumprimento de alguns requisitos constantes na norma,
nomeadamente, a política ambiental.

6.6 – ISO 19011 – CONDUÇÃO DE AUDITORIAS

Recomendação:
Obter uma cópia da norma ISO 19011 e acompanhar os conteúdos recorrendo a este
instrumento de trabalho.

275
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

A norma ISO 19011 tem como objectivo introduzir directrizes na realização de auditorias a
organizações que possuam um Sistema de Gestão Ambiental e/ou um Sistema de Gestão de
Qualidade.

Auditoria é um processo documentado, independente e sistemático para obter evidência e avaliá-la


objectivamente por forma a determinar o cumprimento dos critérios de auditoria (estes podem ser os
requisitos para a ISO 9001 ou 14001).

Pode ser utilizada para conduzir auditorias a um SGA e SGQ em simultâneo ou separadamente.

A – Definição de auditoria ambiental

Auditar é a actividade de verificar, é a comparação entre o que existe na realidade e o que


efectivamente deveria existir.

Sugestão de actividade 15

• Individualmente, dizer o que entendem por auditoria ambiental.

• Registar as opiniões dos outros formandos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

B – Objectivos da auditoria ambiental

A auditoria ambiental é uma ferramenta de gestão interna da empresa, pelo que o seu objectivo
fundamental é informar a direcção sobre três aspectos fundamentais:

9 Cumprimento da norma ambiental vigente em todos os seus âmbitos;


9 Avaliação do funcionamento do sistema de gestão implementado;
9 Valorização da coerência entre os dois pontos anteriores.

C – Classes de auditoria

Dependente do fim que se pretenda alcançar podemos falar de auditorias de cumprimento devido, à
minimização dos resíduos, cumprimento legal, etc.

276
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Dependentemente da origem da equipa auditora, as auditorias podem ser internas ou externas, e


inclusivamente mistas. Concretamente o regulamento CEE 1836/93 – EMAS, fomenta a ideia de que
as auditorias sejam internas, pelo menos mas grandes empresas criando a figura do verificador
externo para assegurar a veracidade das conclusões obtidas pelos auditores internos.

Aí, na perspectiva do referido regulamento, é aconselhável para as pequenas e médias empresas, a


realização de auditorias externas, se bem que se considera imprescindível que participe na equipa
auditora alguma pessoa conhecedora em profundidade dos processos.

D – Vantagens e inconvenientes

A realização das auditorias ambientais reporta numerosos benefícios às empresas, assim como à
sociedade de uma forma geral.

Estes benefícios são entendidos de diferentes modos dependentemente da parte interessada


(entenda-se parte interessada accionistas, colaboradores, sociedade).

De um modo geral podem obter-se as seguintes vantagens:

9 Aumento da credibilidade externa;


9 Definição dos critérios de urgência no que concerne ao controlo da contaminação;
9 Proporciona a diminuição dos resíduos;
9 Diminui custos;
9 Facilita a formação das pessoas.

Sugestão de actividade 16

• Em grupos de 3/4 elementos, cada grupo terá como tarefa enunciar outras
vantagens das auditorias ambientais.

• Registar as opiniões da turma.

• Analisar e debater sobre as respostas dos grupos.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

Se existe um verdadeiro compromisso por parte da direcção de assumir as consequências de uma


auditoria ambiental, não existe nenhum tipo de inconveniente na sua realização. Caso contrário,
podem resultar inconvenientes, nomeadamente o facto de exportar as carências detectadas, o que
significa o aumento das responsabilidades e dos problemas.

277
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

E – Alcance de uma auditoria

Antes de se iniciar um programa de auditorias é necessário definir o alcance que vai ter.

Devemos ter em conta 4 aspectos fundamentais:

9 Definição do objecto alvo de auditoria;


9 Nº e tipo de sectores a Auditar;
9 Periodicidade do ciclo de auditoria;
9 Âmbito espacial.

Independentemente dos aspectos que se tratem numa auditoria, tem de se ter em conta, em todas as
fases da mesma, o conteúdo, pois pode decompor-se, consoante as tarefas a efectuar.

As empresas não têm que seguir todos os passos da auditoria no sentido estrito, devem fazê-lo
segundo as suas características e de acordo com o instante em que decorre a acção.

F – Equipa auditora

A selecção e organização da equipa auditora são um dos aspectos chave de uma auditoria ambiental.

Geralmente, uma equipa auditora será composta por um número compreendido entre dois e oito
membros, sendo entre dois e três o número mais habitual.

À semelhança do que acontece com as auditorias da qualidade os auditores são seleccionados em


função do tipo de indústria a auditar bem como dos objectivos a atingir e claro, após obtida a
informação necessária.

Em resumo, a equipa auditora seja interna ou externa, deverá ser o suficientemente independente da
actividade a auditar afim de garantir a objectividade dos resultados. Ao mesmo tempo contar entre os
seus membros com especialistas em todos os campos abarcados pela auditoria.

Dentro da equipa auditora, o auditor chefe tem um papel essencial, a sua principal tarefa é coordenar,
distribuindo tarefas aos restantes membros. Esta figura tem responsabilidades acrescidas no bom
desempenho da equipa auditora.

Equipa auditora – Grupo de auditores, ou apenas um auditor, designado para executar a auditoria.

Nota1: o grupo de auditores poderá incluir especialistas técnicos e auditores em formação.


Nota2: Um dos auditores da equipa auditora executa a função de auditor chefe.

278
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Exemplo de uma metodologia utilizada para efectuar uma auditoria ambiental:

1. Preparação da auditoria
2. Auditoria
3. Pós – auditoria

Sugestão de actividade 17

• Em grupos de 3/4 elementos e com o auxílio do formador, cada grupo terá como
tarefa enunciar para cada fase da metodologia apresentada, as tarefas a
desenvolver.

• Registar as opiniões dos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

G – A auditoria ambiental como ferramenta de avaliação de impactes

Actualmente, antes de se executar um novo projecto, ou mesmo ampliar outro já existente, deve-se
levar a cabo a avaliação impacte ambiental (AIA), com a finalidade de antever o impacte gerado por
acções futuras.

A diferença entre a avaliação de impactes ambientais e as auditorias ambientais é que esta última se
realiza sobre instalações existentes, pretendendo avaliar o impacte ambiental das actividades actuais,
contemplando as operações que se efectuam e analisando como estão a ser preparadas as
próximas.

Por isto, a AIA e as Auditoras ambientais devem formar um processo de avaliação contínua, embora
raramente o são.

A AIA é um procedimento requerido por lei na maior parte dos casos, para obter as autorizações /
licenciamentos legais para levar a cabo um projecto, razão pela qual é obrigatório, por seu turno as
auditorias ambientais têm na maior parte dos casos um carácter voluntário para a empresa.

Para realizar uma Auditoria Ambiental é necessário cobrir uma série de etapas, seguindo a sequência
lógica de qualquer estudo, planificação, organização, desenvolvimento e conclusão.

279
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Dentro do desenvolvimento, a recolha e selecção de informação e elaboração do diagnóstico devem


atender a quatro aspectos:

• O meio físico;
• O meio sócio económico;
• O funcionamento da indústria;
• A possibilidade de gestão de resíduos e as questões legais.

Passos para análise do funcionamento da indústria:

• Identificação factores ambientais que possam ser afectados;

• Identificação e valorização de problemas e impactes ambientais;

• Identificação das acções e dos efeitos associados a exploração tendo em conta os


limites estabelecidos na legislação ambiental;

• Elaboração de um relatório síntese.

H – Conclusões

Os diagnósticos, os estudos, as avaliações, as inspecções e as auditorias são alguns dos meios


disponíveis, é necessário definir o alcance dos objectivos de cada um deles para poder homogeneizar
os índices. As auditorias ambientais são uma poderosa ferramenta para o controlo da gestão do
ambiente na empresa.

A actividade de auditar necessita da existência, embora de uma forma minimalista, de um sistema de


gestão ambiental bem, como requisitos cujo cumprimento se verifiquem.

Por isso, sempre que um determinada organização pretender construir um sistema de gestão
ambiental deverá iniciar o processo por um primeiro diagnóstico ambiental preliminar de avaliação,
cuja metodologia seria muito parecida com a da auditoria, mas com flexibilidade suficiente para
alcançar com aspecto essencial o planeamento de um sistema de gestão ambiental, em que se
integrem as investigações no momento adequado, segundo o objectivo a alcançar e o estado da
actividade.

A partir desse momento, a auditoria converte-se num autêntico elemento de controlo e prevenção
ambiental que, conjuntamente com o resto da investigação e registos internos e externos da situação
ambiental integram, a gestão global da mesma.

280
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

6.7 – REGULAMENTO COMUNITÁRIO DE AUDITORIA E ECO-GESTÃO (EMAS)

A – Sistema Comunitário de Eco-Gestão e Auditoria

O Sistema Comunitário de Eco-Gestão e Auditoria, vulgarmente designado por EMAS, representa


uma nova abordagem à protecção ambiental através do recurso a mecanismos de mercado. Consiste
num desenvolvimento da legislação ambiental existente, no sentido de uma legislação mais inovadora
e com carácter voluntário.
O EMAS é um rótulo de qualidade europeu, de adesão voluntária, relativo à gestão ambiental e
comunicação.

EMAS significa "eco-management and audit scheme" - sistema de eco-gestão e auditoria.

O EMAS é simples: As Empresas públicas ou privadas que queiram aderir ao EMAS devem:
• Implementar um sistema de gestão ambiental;
• Desenvolver um programa de actuação ambiental;
• Realizar auditorias;
• Reportar publicamente o seu desempenho ambiental.

As suas actividades e informação ambiental serão verificadas e avaliadas por um especialista


independente acreditado. As empresas bem sucedidas neste processo serão reconhecidas
publicamente a nível europeu.

O EMAS é completamente compatível com a norma ISO 14001, mas vai mais longe. O EMAS é como
que uma marca comercial que significa: Fazemos mais do que o mero cumprimento da legislação
ambiental. Na nossa empresa os empregados estão activamente envolvidos na gestão Ambiental.
Comunicamos o nosso desempenho ambiental com honestidade e rigor. O nosso objectivo é atingir
um bom desempenho ambiental.

O EMAS foi adoptado pelo Conselho da UE em 29 de Junho de 1993, Regulamento CEE nº1836/93,
este regulamento foi revogado pelo Regulamento (CE) n.º 761/2001, de 19 de Março, estando o
sistema a partir dessa altura aberto à adesão de todas as organizações, de todos os sectores da
economia, públicas e privadas, interessadas em melhorar o seu comportamento ambiental global.

Além disso, a integração da norma ISO 14001 no EMAS 2001 elimina a competição entre estes dois
sistemas e permite uma fácil transição para as empresas que desejem progredir da implementação
da ISO 14001 para o sistema EMAS. No entanto, o EMAS continua a ir para além da norma ISO no
que respeita a requisitos de melhoria do desempenho ambiental, envolvimento dos trabalhadores das
empresas, conformidade legal e comunicação com as partes interessadas, incluindo o relatório
ambiental.

281
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

B – Objectivos do EMAS

Os principais objectivos do EMAS são:

• A melhoria do desempenho ambiental;


• A demonstração de conformidade com a legislação ambiental;
• Comunicação ao público dos resultados ambientais conseguidos.

Os requisitos do EMAS, como instrumento voluntário, são:

• A implementação de um sistema de gestão ambiental;


• A auditoria do sistema;
• Declaração pública do desempenho ambiental.

Tais requisitos apoiam as empresas no sentido de integrarem, cada vez mais, considerações
ambientais na sua gestão global. A verificação independente e obrigatória do sistema de gestão
ambiental e da qualidade da informação ambiental confere credibilidade ao sistema EMAS.

Sugestão de actividade 18

• Em grupos de 3/4 elementos e auxiliados pelo formador, cada grupo terá como
tarefa pesquisar na Internet ou em publicações da especialidade, as orientações
para a preparação da declaração ambiental.

• Registar as opiniões grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

282
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 19

• Visita a uma empresa aderente ao EMAS.

Exemplo de objectivos

• Compreender o funcionamento de uma empresa aderente ao EMAS.


• Identificar, na estrutura da empresa (organigrama), a localização do departamento
responsável pela gestão deste sistema.
• Verificar o cumprimento de alguns requisitos constantes do regulamento.

Em sala
• Debater sobre o funcionamento da empresa e quais as vantagens da adesão
ao EMAS;
• Analisar e concluir sobre a localização do departamento responsável pela
gestão deste sistema.

6.8 – O RÓTULO ECOLÓGICO

O rótulo ecológico foi criado em 1992 pelo Regulamento (CEE) n.º 880/92, o qual foi revisto em 2000
pelo Regulamento (CE) n.º 1980/2000 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Julho de
2000, relativo a um sistema comunitário revisto de atribuição de rótulo ecológico.

Este sistema distingue os produtos que respeitam o ambiente e faz parte de uma estratégia mais
ampla que visa promover o desenvolvimento sustentável nos sectores da produção e do consumo.

O sistema proporciona aos consumidores a oportunidade de identificarem os produtos que


respeitam o ambiente (através do logotipo da flor) que foram aprovados oficialmente na UE, na
Noruega, no Liechtenstein e na Islândia.

O Regulamento CEE/1836/93, relativo a um sistema comunitário de eco-gestão e eco-auditoria


ambiental, permite às empresas industriais que o desejem, aderir a um sistema de eco-gestão e
eco-auditoria ambiental, para avaliarem a melhorarem as suas actividades neste domínio e facilitar a
correspondente informação ao público.

283
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Sugestão de actividade 20

• Em grupos de 3/4 elementos, pesquisando na Internet ou outros, cada grupo terá


como tarefa listar empresas que tenham aderido ao sistema do rótulo
ecológico.

• Apontar as opiniões dos grupos.

• Analisar e debater sobre as respostas dadas.

• Registar as respostas mais pertinentes e guardá-las para, posteriormente, se achar


conveniente, recordar o que foi anotado.

O sistema de atribuição de rótulo ecológico está aberto aos fabricantes e importadores de bens de
consumo, à excepção de produtos alimentares, bebidas e medicamentos.

O rótulo é normalmente atribuído por um período de 3 anos, o que permite que os progressos
técnicos e as mudanças no mercado se reflictam aquando da revisão da atribuição do critério.

Este tipo de certificação independente constitui, tanto para o consumidor como para o fabricante, uma
prova de consideração e credibilidade.

A – Objectivos

Os seus objectivos consistem em promover nas empresas industriais a melhoria dos sistemas de
protecção ambiental e de avaliação periódica e sistemática do funcionamento desses sistemas. Ao
mesmo tempo que facilita a informação aos consumidores que o solicitem, sobre as empresas que se
submetem a estes sistemas. Este programa não contempla o financiamento das acções que a
empresa leve a cabo para por em prática o sistema de eco-auditoria, cujos os custos devem ser
suportados pela própria empresa.

B – Beneficiários

Pode beneficiar deste programa qualquer empresa industrial, que adopte uma política ambiental, que
para além de cumprir com a legislação em vigor, aceite voluntariamente um compromisso de
controlar as suas actividades neste domínio, com vista a reduzir o impacto ambiental das suas
acções.

284
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

C – Procedimento

A empresa deve proceder a uma avaliação ambiental que tenha em conta diversos aspectos, tais
como:

• Repercussões da sua actividade sobre o meio ambiente;


• Gestão e o uso de energia, assim como de matérias-primas;
• Reciclagem e a eliminação de resíduos;
• Os procedimentos em casos de acidentes ambientais.

Baseado nos resultados da dita avaliação, a empresa deve elaborar um programa ambiental aplicável
a todas as suas actividades, que inclua entre outros aspectos:

• Os objectivos ambientais;
• Os mecanismos para alcançar os ditos objectivos;
• A organização e a formação do pessoal;
• As formas de avaliação dos efeitos ambientais;
• As medidas correctivas em caso de incumprimento dos objectivos.

Os verificadores ambientais acreditados pelo Estado-Membro correspondente, levam a cabo na


empresa uma auditoria ambiental periódica, de 3 em 3 anos, em que comprovam a prática e o
desenvolvimento do programa ambiental, nomeadamente:

• Se cumpre a legislação ambiental;


• Se a empresa conta com um programa ambiental que cumpra os requisitos do Regulamento
1836/93.

Por último, para informar o público, a empresa redige uma declaração ambiental que contém:

• Uma descrição das actividades da empresa;


• Uma avaliação dos problemas ambientais relacionados com as suas actividades;
• Um resumo dos dados quantitativos sobre a emissão de contaminantes, resíduos gerados,
ruído;
• O programa ambiental da empresa;
• O nome do verificador ambiental acreditado que efectuou a auditoria ambiental.

As empresas podem publicar a sua participação no sistema através dum símbolo gráfico estabelecido
pela Comissão, acompanhado de uma declaração complementar. No entanto a declaração de
participante não pode ser utilizada para a publicidade dos produtos, nem nos próprios produtos ou
suas embalagens.

285
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

BIBLIOGRAFIA

286
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Bibliografia do tema integrador 1 – Enquadramento legal

AMARAL, Diogo Freitas do – 1994 – “Lei de Bases do Ambiente e Lei das Associações de Defesa
do Ambiente”, in: Direito do Ambiente, INA.

ROCHA, Isabel; VIEIRA, Duarte Filipe – 2000 – “ A legislação básica do Ambiente” – Colecção
Ambiente. Porto Editora.

SOUSA, Miguel Teixeira de – 1994 – “Legitimidade Processual e Acção Popular no Direito do


Ambiente”, in: Direito do Ambiente, INA.

Bibliografia do tema integrador 2 – Poluições

BRAGA, Jaime – 1999 – “Guia do Ambiente – As empresas Portuguesas e o Desafio Ambiental.


Monitor.

CADERNOS DE AMBIENTE, nº 8: Ar, AIP – Associação Industrial Portuense.

ROCHA, Isabel; VIEIRA, Duarte Filipe – 1997 – AR “Legislação, Contencioso contra –


ordenacional, Jurisprudência” – Colecção Ambiente. Porto Editora.

Bibliografia do tema integrador 3 – Gestão da Água

CARAPETO, Cristina – 1999 – “Poluição das águas” – Universidade Aberta.

CUNHA, L. V.; GONÇALVES, A. S.; FIGUEIREDO, V. A.; LINO, M. - “A Gestão da Água –


Princípios fundamentais e sua aplicação em Portugal” – Fundação Calouste Gulbenkian.

INAG – textos variados.

ROCHA, Isabel; VIEIRA, Duarte Filipe – 2000 – ÁGUA “Legislação, Contencioso Contra –
Ordenacional, Jurisprudência” – Colecção Ambiente. Porto Editora.

287
AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

Bibliografia do Tema integrador 4 –Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos

ANDREOTTOLA, G.; CANNAS, P. – 1992 – “Chemical and biological characteristics of landfill


leachate”. In: Christensen, T.H. et al.(ed.), Landfilling of waste: Leachate. Elsevier Applied Science,
pp. 65 – 88.

ANRED – 1981 – La décharge controlée de residus urbains. Cahiers Techniques de la Direction


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Agence National pour la Récupération et L’Élimination des Déches.

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AMBIENTE – Manual Técnico do Formando

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