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SIGNIFICADO DO TRABALHO PARA A JUVENTUDE

Objetivo: Discutir com o grupo, os diferentes significados do trabalho para os jovens, de forma
que eles se tornem capazes de distinguir as várias dimensões que apresenta em nossas vidas.
Tempo estimado: Leitura do texto (10 min); Discussão em grupo (15 min); Questionário (10
mim); síntese (5 min) = 40 min.
Observação: nessa atividade abordamos o conceito de trabalho e não apenas emprego, pois
com a crise do emprego, em especial entre os jovens, muitos deles já trabalharam /
trabalham, mas nem sempre em empregos formais.
O Que significa trabalho para você? E para seus colegas? Como os jovens encaram a questão
do trabalhador? Pare, pense! Cada um de vocês tem uma experiência diferente, não é? Mas
vocês têm, também, muitas coisas em comum. Já viveram e vivem problemas e histórias
semelhantes. Por isso quando falamos em “trabalho”, em “trabalhar” falamos de algo que tem
vários significados para a vida das pessoas em nossa sociedade.
Nem sempre o trabalho teve o mesmo significado. Muita coisa mudou e outras permanecem.
Em cada época da história, em cada lugar, as pessoas de diferentes idades e classes sociais
viveram, pensaram e trabalharam de formas diferentes. Para começar nossa conversa, vamos
ler a história da jovem Malu, do Estado do Rio Grande do Sul. Vamos ver como foi a entrada
dessa jovem no mercado de Trabalho, suas experiências e os significados para a sua vida.

Malu – Rio Grande do Sul


Meu primeiro emprego, com 16 anos, foi no Mcdonalds. [...] Eu curtia muito o baile Black já
naquela época minha mãe fez uma exigência:  “Só vai sair a partir do momento em que você
tiver independência financeira, porque eu não vou te dar dinheiro para você ir ao baile”, até
porque era caro. Era um baile em que todo mundo queria ir bonito, os negros queriam ir bem
vestidos, bem cheirosos e as negras também. A partir daí eu fiquei naquela ânsia, pois se eu
tinha que estar todo sábado no baile, eu tinha que trabalhar [...]
Eu saia muito cedo pela manhã, saia três e meia da manhã para encarar uma fila e a única
oportunidade que apareceu foi no Mcdonalds. Consegui ficar lá e era uma escravidão, mas eu
queria meu salário no final do mês porque isso me dava a chance de continuar meu curso
profissionalizante. Eu sempre pensava formas para me profissionalizar. Cursos de computação,
que naquela época estava começando. Sempre esse dinheirinho servia para me divertir, pagar
a minha mãe, fazer o dinheiro esticar. Com essa miséria que eles pagavam: você trabalha por
cinco e recebe por um. Eles têm uma ótica de trabalho que é aproveitar de tu até a última
gota, até tu não ter mais nada para dar. Mas eu ali, firme, forte, resistindo. Me queimava toda,
até hoje tenho marcas no braço, porque fritava batata... Batata transgênica. Eu passei por
tudo isso. [...]
Depois do Mcdonalds, fui ser metalúrgica, consegui trabalho numa fábrica de pedras, a
maioria mulheres. Eram 30 mulheres das sete da manhã até a sete da noite, nós
trabalhávamos. Aí eu já estava com 18, 19 anos. Também sempre na luta, tinha prêmio, quem
não falta um minuto tem direito a uma cesta básica. Não era por mim que não chegava
atrasada, mas sim pela minha família. Eu comecei como auxiliar de fábrica, mas eles viram que
eu destaquei, eu produzia bastante, eu fui para auxiliar de estoque e depois fiquei estoquista
de banho. Aí já é peça trabalhada, vai para banho de prata, ouro, grafite. [...]
Fiquei lutando para ir embora, porque eu não aguentei mais, o processo da fábrica, se tornou
uma mesmice pra mim. Eu não aguentava aquela rotina: “Vai lá montá”. E eles ficavam me
trocando de atividade, mas eu não sosseguei, não quis mais. Mesmo que aumentava um
pouquinho o meu salário, me trocavam, me promoviam para outro setor, mas eu não
sosseguei, continuei com aquela ânsia de liberdade.
Depois da fábrica eu trabalhei em um hospital, que tem Traumatologia, fechou e de 1996 a
1998, eu fiquei desempregada. [...]
Foi nesse período que eu comecei me conscientizar da parte política. Passei a frequentar
encontros de juventude, foi no período de desemprego que comecei a me conscientizar. Mas
foi um período que bateu depressão, eu nunca tinha ficado desempregada tanto tempo. Ficava
um mês, dois meses desempregada, eu sempre conseguia. Fiquei do espaço de 1996 a 1998, aí
fiquei com depressão, fiquei fraca, comecei a sentir uma série de coisas. Me sentia um zero,
fiquei fraca de tanto lutar. Fazia tempo que eu estava lutando, lutando, chega uma hora que
parece que cai no vazio. Fiquei trancada quase um ano no meu quarto. Na minha casa
ninguém entendia. “Será que ela está com problema? Tem que levar no psicólogo. ” Todo
mundo apavorado e eu não queria nenhum psicólogo, não queria ver nada. Esse complexo de
muitas vezes me sentir feia sempre me acompanhou. Porque eu não gosto assim de mim, eu
não quero esse corpo, eu não quero... Comecei a me sentir mal comigo mesma, se o chão
abrisse, eu me enterrava nesse período de 1996 a 1998.
Foi aí que eu encontrei o hip hop, comecei a conhecer algumas pessoas do movimento hip hop.
Acredito que a minha vida tomou um sentido. No hip hop. Automaticamente eu me reergui,
comecei a querer lutar de novo, uma nova Malu começou a me instigar mais: “vai atrás, vai
fazer o que tu gosta. Vai atrás de seus ideais. ” E nesses encontros com o hip hop
automaticamente veio o movimento negro, mesmo muito confuso na época. Eu estava sem
norte sem rumo e ver essa movimentação de jovens da periferia, alegres, bonitos, não vendo
que roupa que tu está, que marca de tênis. Acontecia muito isso com os negros nessa época,
desses trabalhos. Era sempre eu a única e acredito que eu queria ver algo diferente, uma coisa
mais perto de mim, quem eu sou, por que eu sou assim, por que eu falo assim, por que eu me
visto “assado”. Então comecei a participar para me encontrar comigo mesma.

(Depoimento recolhido pelo projeto Narrativas Juvenis. Pesquisa do instituto Cidadania. Cedido
gratuitamente)

Em grupo discuta as seguintes questões:


1. O que levou Malu a buscar seu primeiro emprego?
2. Quais eram as condições de trabalho de Malu no primeiro emprego?
3. E no segundo emprego?
4. Para melhor se qualificar para o mundo do trabalho qual foi a ação de Malu?
5. Para Malu, o que significou estar empregada? E desempregada?
6. O que significou para a vida de Malu o encontro de hip-hop?
7. O que você achou mais interessante na história de Malu? Escreva, no espaço em
branco, os pontos que mais chamaram sua atenção e explique por que.

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