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Dança Clássica

Vera Sala
Artista

Vera Sala começou sua carreira pelo balé, criadora e pesquisadora em dança,
Vera desenvolve trabalhos de pesquisa e criações artísticas desde 1987.
Atualmente, pesquisa instalações coreográficas dedicadas a observar como o
corpo se transborda para a composição destes ambientes.
Últimas criações:
 Impermanências (2006)
 Pequenas mortes (2007)
 Procedimento Dois – Pequenas Mortes (2008)
 Pequenos fragmentos de Mortes invisíveis (2009/2011)
 Dobras (2011)

Eu fiz uma entrevista com Vera Sala por meio do aplicativo whatsapp e
obtive as seguintes respostas:

Quantos anos você tem? Data de nascimento, de onde você é? E


qual a influência e vivencia do balé? Fale um pouco da sua
formação.

 Bom atualmente tenho 68 anos, nasci em 1952 o meu primeiro contato


com a dança foi com o balé clássico, mas a minha maior formação ai já
adulta foi em outras áreas então na verdade o balé acabou não tendo
muita influência na minha performance como é hoje, eu fiquei anos e
anos fazendo diferenças técnicas de dança moderna, dança
contemporânea, novos modos de pensar o corpo, de mover o corpo e
organizar as ações de corpo em dança então o balé realmente tem
pouca influência. Das técnicas que eu fiz quase 20 anos foi a técnica de
Martha Grahan, então na verdade minha formação em dança vem de
uma diversidade de experimentações em dança.
Então na verdade eu vinha dessa história de fazer muitas aulas
diferentes desde de jazz até as mais diversas experimentações, minha
formação foi muito primeiro na escola do Ismael Guiser que tinha
também uma diversidade de professores como Ivonice Satie, você
encontrava ali praticamente uma história da dança, e depois a partir de
1985 eu fui para a escola da Ruth Rachou onde fiquei praticamente
quase 25 anos na escola da Ruth que foi um espaço muito importante
para a minha formação por que lá além da aulas técnicas de dança tinha
aulas de composição, de música de história da dança e também a
generosidade dela de abrir o espaço para os ensaios e criações e
experimentações.

Desde 1987 que você faz essas criações artísticas certo? Você acha
que a dança mudou muito? Você vê uma mudança no meio artístico
ou não? Como é financeiramente ser uma artista no Brasil? Quais
os desafios ao longo da caminhada?

Eu acho que hoje em dia tem uma quantidade enorme de pessoas


trabalhando em dança, muito maior do que década de 90 e até metade
doa anos 2000, 2005. Muito impulsionados por esses editais que não
vou chamar de politicas públicas, esses editais são completamente
INSUFICIENTES para alimentar uma produção, são até viciantes em um
certo modo, eu acho bem difícil de dizer se é melhor ou pior, eu acho
que as coisas vão mudando de lugar graças a DEUS, então temos uma
grande quantidade de pessoas trabalhando.
Infelizmente temos uma grande limitação de verbas, me deparo até hoje
com uma grande dificuldade de subsistência da dança embora nesses
últimos 15 anos eu tenha conseguido sobreviver com um pouquinho
mais de tranquilidade através de bolsas de fomentos que eu entrei e
também eu dou aula na Puc então a combinação dessas coisas ajudou
na sobrevivência mas continua sendo muito precária.

Vera, você já participou de grupos de dança? Por que escolheu


trabalhar sozinha, fazer performance?

 Então eu vinha desse conjunto de criações e experimentações, tinha um


movimento nessa época de artistas que alguns vinham de Cias e outros
estavam surgindo naquele momento e tinha uma vontade de pensar
seus próprios trabalhos então muitos não queriam mais uma estrutura
de Cia, então era criar uma independência em relação a essa estrutura
de Cia, então vários artistas estavam buscando colocar sua própria
assinatura e foi uma fase muito difícil por que não tinha um
financiamento continuo, então era tudo feito muito na raça mesmo,
quando tinha era muito pontual de algum lugar, então haviam alguns
lugares como Centro Cultural de São Paulo, mas os recursos eram
pouquíssimos, já me deparei com a situação de pagar iluminador do
meu bolso por que a bilheteria não quitava tudo. Então viemos de uma
época bem complicada, no inicio tive trabalho com algumas pessoas
mas tinham duas questões, primeira é eu você precisava como artista
entender primeiro, pensar e fazer o que seria sua proposta dela então,
por que ela não estava dada, não se tratava de organizar uma
coreografia a partir de uma técnica ou a partir de códigos já conhecidos
se tratava de pensar um outro corpo, e dois você não tinha como manter
uma Cia com varias pessoas ensaiando por um ano, dois anos, três
anos, impossível a gente não tinha dinheiro, então em alguns momentos
juntávamos para fazer algumas coisas mas tínhamos essa grande
dificuldade do financiamento mesmo. Então muitos artistas se juntaram
para compartilhar meios de sobreviver através da dança então fizemos
vários projetos de ocupações, teatros, mostras e desse momento criado
lá no início da década de 90 fomos criando essa possibilidade de
começar a discutir políticas públicas para a dança.

O que você vê de mais difícil na sua dança? E o que é mais


edificante? Fale um pouco das suas inquietações.

 Bom, o processo de criação é algo muito doloroso, por que é um


caminho que você nunca sabe aonde vai dar. Então em primeiro lugar
acho que a gente tem que aceitar essa instabilidade, essa precariedade
que você não saber que caminho que você tá indo, e é se arriscar e não
ter medo de se arriscar primeiramente insistir muito, então pra mim é
muito doloroso um processo de criação, eu nunca estou satisfeita com o
que eu faço, então o dia que eu ficar satisfeita estarei morta, então acho
isso isso faz parte do processo, eu fico uns 2 ou 3 anos para dar a cara
para o trabalho que para mim não é novo mas sim uma continuidade e
na verdade eu só vou para um outro trabalho quando eu vejo que aquele
anterior já começou a não caber mais. Então esse processo todo é muito
longo e precisa muito de uma insistência nisso, então para se trabalhar
com criação nesse caminho da arte primeiro lugar a gente não pode cair
nas armadilhas de mercado, o que está em evidencia, o que faz
sucesso, o que todos estão aplaudindo, temos que ser fieis as nossas
coisas mesmo quando parece que o todo não está te ouvindo, tem que
ter uma insistência muito grande.

Marca registrada: Dualidades

A questão principal para mim quando eu comecei a criar e fazendo esse


conjunto a partir de toda essa experiencia eu olhei para mim e falei
nossa eu quero um outro corpo, um outro modo de pensar, de mover,
por que as discussões que eu queria trazer no corpo parece que não
cabiam naquele modo que eu conhecia até então me interessava muito
mais pensar esses limites de fragilidade, de potência, de animado
inanimado, limites entre morte e vida, então me interessava muito mais
pensar nas fragilidades nesses aparecimentos, nos apagamentos que o
corpo está submetido, na passagem do tempo eu lembro quando eu fiz
um dos primeiros trabalhos, eu vi uma foto em especial de uma fotografa
de uma senhora muito idosa, e ela tinha um olhar assim, esvaziado mas
ela vestia uma sobreposição e laços, e broxes e coisas, um casaco em
cima do outro, parecia que ela tinha carregado naquela foto toda uma
história de uma vida inteira e ao mesmo tempo o que lhe sobrou, e ao
mesmo tempo aquele olhar vazio de um corpo que estava vivo mais ao
mesmo tempo em um limite de vida e morte, então na verdade tudo que
eu fiz foi com esse foco nesses aspectos e inquietações, com seus
desdobramentos e nossas inquietações.

Bom, alguns trabalhos seus tem bastante influencia das artes


visuais, como você busca essa inspiração?

 A partir de 2003 comecei a criar o que eu chamo de corpo instalação


que é esse corpo que dialoga com várias vertentes, então houveram
varias instalações que é exatamente isso a ideia de vivenciar os
ambientes, ambientes mais imersivos, um ambiente como se o corpo se
materializasse em diferentes ambientes, então tive vários trabalhos que
não cabem mais nos palcos, nada proposital, mas o próprio fazer levava
para um outro lugar.

Termino aqui esse pequeno trabalho, uma pequenina síntese da vida artística
de Vera Sala que é um ser humano incrível, ela foi muito disponível com a
minha entrevista por via whatsapp, a escolha de fazer a entrevista por essa
plataforma é justamente para ter os aúdios delas sempre disponíveis para ouvir
e ter a voz dela acessível para mim enquanto estudante é um imenso prazer
assim. Através desse trabalho abri mais a mente a respeito de criação em
performance, a respeito do estudo do corpo e a sensibilidade principalmente
dessa estuda das minhas inquietações pessoais e como posso reagir a isso.
Então finalizo esse trabalho com muita gratidão por esse aprendizado.

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