PETICIA CARVALHO

JOGOS CORPORAIS
8 JOGOS PARA AUXILIAR
SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E
DESPERTAR A CRIATIVIDADE
UM GUIA PRÁTICO
DIREITOS AUTORAIS
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 SUMÁRIO
4 Introdução
7 Jogos Corporais: O que é?
10 Por que Jogos Corporais?
14 De onde são os jogos escritos nesse E-book?
18 Jogo 1: Troca de Lugar pelo Olhar
22 Jogo 2: Bexiga-Maçã
25 Jogo 3: Rouba-Pose Salva-Vida
28 Jogo 4: Monta e Desmonta
31 Jogo 5: Desviar: Saltar ou Rolar?
35 Jogo 6: Mapa Coreografado
39 Jogo 7: O desenhista e o bailarino
42 Jogo 8: Folha ao vento
46 Vamos Jogar?
47 Referências Bibliográficas
INTRODUÇÃO
Você já fez aula de dança por muitos
anos, dominou certa técnica, mas
sentiu que aquilo não era suficiente
para se destacar como bailarino? Já se
sentiu desanimado ao ter que criar
uma nova coreografia, com aquela
insatisfação de só saber reorganizar os
passos que já conhece? Já se sentiu
insatisfeito com a ideia de que dança é
somente organizar passos e pensar a
disposição do corpo no espaço?
Este e-book tem o objetivo de
estimular sua criatividade e
apresentar uma abordagem diferente
do fazer-ensinar dança. Para quem já
conhece Jogos Corporais, este e-book
oferece 8 jogos possíveis de serem
experimentados e aplicados com
diferentes grupos. Para quem não
conhece, busco, de maneira simples e
prática, explicar o que são Jogos
Corporais e como utilizá-los.
Trabalhando com dança
artisticamente, chegou um momento
em minha vida que comecei a levantar
muitas questões sobre a tradicional
estrutura de uma aula de dança:
aquecimento, barra, centro, diagonal,
alongamento e relaxamento, ou
qualquer reorganização possível dessa
mesma estrutura. Fui percebendo,
através dos meus estudos sobre
história da dança europeia, brasileira e
história da educação, de onde vêm
as raízes de nossas concepções de
dança e de ensino de dança. Três
fatores principais começam a
esclarecer a nossa tradição de ensino
de dança no Brasil:
• O fato da primeira escola de dança
ter sido criada em 1661, na França,
pelo rei Luiz XIV. Quando estudamos
história da dança, descobrimos que o
inicio do pensamento de um ensino de
dança, como conhecemos hoje, começa
com a dança clássica e o seu
desenvolvimento de como ensinar
dança. Logo, temos um costume no
Brasil, de pensar o ensino de qualquer
dança seguindo a estrutura de ensino
do balé.
INTRODUÇÃO | 4
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
• O fato de, na época acima, prevalecer
aquilo que conhecemos como ensino
tradicional, posteriormente afirmado e
desenvolvido durante o Iluminismo.
O ensino tradicional acredita na
repetição da reprodução de um
modelo pré-concebido, até que essa
repetição chegue o mais próximo
possível de seu original. Somente após
isso o aluno estará apto para criar suas
próprias ideias ou modelos a serem
reproduzidos por outros.
• Finalmente, o fato de, no Brasil, a
criação do primeiro curso
universitário de dança ter se dado
tardiamente, em 1956 na
Universidade Federal da Bahia
(UFBA), fez com que o ensino de
dança estivesse, muitas vezes,
associado com a formação em
Educação Física. Na formação do
educador físico, a dança é pensada em
sua diversidade: do alto desempenho
esportivo à sua importância social.
Porém, a formação do educador físico
não dá conta de um pensamento
artístico. E nem teria que dar. Afinal, a
Arte é outra área de conhecimento, tão
grande e tão complexa quanto a
Educação Física.
Muitas discussões poderiam ser
levantadas a partir desses fatores, e
muitos outros fatores poderiam
também ser apontados, para
tentarmos entender o que prevalece
no ensino de dança no Brasil hoje e
como estão sendo formados nossos
bailarinos, dançarinos e brincantes.
Também é importante dizer que,
apesar de certa tradição de ensino,
atualmente existe uma diversidade de
abordagens e metodologias sendo
desenvolvidas e já disponíveis em
academias, escolas de dança, na
educação básica e em lugares
especializados de formação técnica,
universitária e de pós-graduação.
Normalmente, essas novas abordagens
e metodologias se tornam mais
acessíveis a quem mora nas capitais ou
grandes centros urbanos.
INTRODUÇÃO| 5
Foi como estudante de artes e de
dança que comecei a me inquietar
sobre as relações existentes entre um
pensamento de criação artística e o
fazer dança, levando-me a
experimentar, explorar e criar outras
possibilidades. Dentre elas, a relação
entre dança e brincadeira foi a que
mais me atraiu.

Busco criar com o espírito de criança

que explora cada coisa com
curiosidade e deseja, a cada momento,
uma novidade.

Espero despertar em você esse lado

criativo e poder contribuir de alguma
forma com seu trabalho! Vamos lá...

INTRODUÇÃO | 6
JOGOS CORPORAIS:
O QUE É?
JOGOS CORPORAIS:
O QUE É?
Jogos Corporais é uma abordagem
metodológica que pode ser usada em
aulas de dança e no processo de
criação de obras coreográficas.

O termo “Jogos Corporais” é ainda

pouco utilizado no meio da dança, mas
surge de uma releitura do termo Jogos
Teatrais, criado pela diretora teatral
norte-americana Viola Spolin (1906-
1994) entre as décadas de 50 e 70.

Apesar de o termo Jogos Corporais

começar a ser utilizado há poucas
décadas no meio do ensino e criação

JOGOS CORPORAIS: O QUE É? | 8

| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
em dança – uma das bailarinas e
educadora brasileira que mais utiliza
esse termo é Angel Vianna (1928-) –, é
importante lembrar que o jogo e a
brincadeira sempre estiveram
presentes no fazer dança da cultura
popular brasileira.
Tendo o jogo corporal como
abordagem, o bailarino/aluno se torna
um brincante. Ao invés de estar
preocupado com a estética visual de
seus movimentos, estará preocupado
em cumprir as regras do jogo, e isso é
de extrema importância para o
processo de formação de um bailarino
ou de qualquer ser humano: aprender
a se envolver no seu próprio
movimento, sem a preocupação de
estar sendo visto. Sentir o prazer de se
mover e fazê-lo com um objetivo claro.
Experimentar novos movimentos e ter
a liberdade de criar ao ser desafiado.
No jogo corporal, o brincante não se
envolve com o ganhar ou o fazer
melhor do que alguém. O jogo corporal
deve envolver o brincante no próprio
prazer do movimento. Se o objetivo
estiver descolado da experiência do
movimento, o jogo não é um jogo
corporal. Afinal, todo jogo exige do
corpo para ser realizado – dentro de
um entendimento de corpo que
conecta movimento e racionalidade
como possibilidades presentes no
corpo, ou seja, um corpo que é corpo-
mente, indivisíveis. Um jogo corporal
deve ter regras bem definidas, para
desafiar o corpo a experimentar
movimentos ainda não vivenciados. As
regras não devem limitar, mas abrir
possibilidades, ampliar o campo da
criação.
Além da sala de aula, o jogo corporal
também pode ser utilizado como
preparação corporal do bailarino,
como experimentação durante um
processo criativo ou até mesmo ir para
a cena, gerando uma estética
denominada Jogo em Cena.
JOGOS CORPORAIS: O QUE É? | 9
POR QUE JOGOS
CORPORAIS?
POR QUE JOGOS
CORPORAIS?

Eu nasci no interior de São Paulo, numa

cidade muito pequena, chamada Pilar do
Sul. Vivi minha adolescência com muito
desejo de fazer arte, dança e teatro
principalmente, mas tendo que me virar
mais com minhas ideias do que com um
aprendizado consistente. Havia poucas
iniciativas de arte-educação em minha
cidade e as que existiam seguiam um
padrão de reprodução de modelos que
não me agradava. Ser criativa era
minha necessidade, quase que a única
possibilidade.

POR QUE JOGOS CORPORAIS? | 11

| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Quando chegou o momento de pensar
em minha formação universitária, eu já
sabia que queria ser arte-educadora.
Porém, não cogitei fazer dança. Eu
pensava na época que a prova de
aptidão de dança me solicitaria certo
conhecimento técnico que eu não tinha
acesso até o momento. Além disso,
tinha a impressão de que uma
formação em dança não me ofereceria
tanta liberdade, tanto espaço de
criação. Obviamente que este era um
senso comum, e não a realidade das
formações acadêmicas em dança no
Brasil.
Então, fui fazer Educação Artística com
habilitação em Artes Cênicas.
Descobri na universidade um mundo
de liberdade e criação que me
impressionou. Não somente na área
do teatro, mas em todas as linguagens
artísticas, inclusive na dança. Logo no
primeiro ano, me apaixonei pelos Jogos
Teatrais de Viola Spolin e Augusto
Boal e pela sistematização de
conceitos de dança e corpo de Rudolf
Laban. Logo me movi a pensar: "será
que existem jogos corporais?". Lia os
livros de jogos teatrais sempre
pensando: "Quais desses jogos podem
ser aplicados em uma aula de dança?
Quais desses jogos
podem sofrer algumas adaptações para
que se voltem a um pensamento de
corpo e movimento?".
Minha formação em artes cênicas faz
de mim a profissional que sou. São
Paulo me proporcionou estudar dança
de diversas formas e com profissionais
incríveis. Além disso, a experiência
profissional como arte-educadora e
artista da dança me permitiram
aprofundar minha relação com a
criação em dança.
POR QUE JOGOS CORPORAIS? | 12
Hoje sei que existem muitos caminhos
para se tornar um bom artista ou um
bom arte-educador. Uma formação
ampla é muito importante para abrir
caminhos de associação criativa e
ampliar nosso conhecimento de
mundo. Ao mesmo tempo, é necessário
fazer escolhas para se aprofundar e
sentir que realmente possuímos certo
conhecimento. Entretanto, considero
de extrema importância saber que
nenhum artista hoje se destaca
somente por ser um bom reprodutor.
Repetir é importante, mas não vai
produzir o seu diferencial. É preciso
ser criativo, e a criatividade se
confunde muito com o brincar, com o
jogar.
POR QUE JOGOS CORPORAIS? | 13
DE ONDE SÃO OS
JOGOS ESCRITOS
NESSE E-BOOK?
DE ONDE SÃO OS
JOGOS ESCRITOS
NESSE E-BOOK?
Meu nome é Peticia Carvalho. Sou
formada em Educação Artística com
habilitação em Artes Cênicas pela
UNESP, sou Especialista em Dança e
Mestre em Filosofia, na área dos
Estudos Culturais.

Desde que saí da graduação, em 2008,

comecei a dar aulas no curso técnico
de formação em Dança na Escola
Técnica Estadual (ETEC) de Artes na
cidade de São Paulo, estado de São
Paulo, Brasil. Durante estes dez anos,

DE ONDE SÃO OS JOGOS ESCRITOS NESSE E-BOOK? | 15

| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
também tive a oportunidade de dar
aulas de dança e artes para diferentes
faixas etárias e objetivos de formação.
Atualmente, ministro aulas de Ensino
de Dança, Dança Contemporânea,
História da Dança, Estudo do
Movimento e Criação e Composição
nos cursos técnicos em Dança e
Teatro da ETEC de Artes.
Além de educadora, sou diretora da
Cia Mover, companhia que pesquisa
dança para crianças, interatividade,
improvisação e jogo em cena. A Cia
Mover surgiu em 2009 através do meu
interesse em utilizar jogos corporais
como meio de iniciação de um
aprendizado sobre o que é dança
contemporânea para o público leigo.
Desenvolvi um projeto denominado
“Jogos para Dançar”, em que o público
era convidado a brincar em cena, num
ambiente mais descontraído e menos
espetacular. Foi deste projeto, que
durou três anos, que surgiu o início da
pesquisa da Cia Mover em dança para
crianças.
Os Jogos Corporais compartilhados
neste e-book são jogos que foram
desenvolvidos por mim, em
colaboração com diversos outros
artistas que trabalham/trabalharam
DE ONDE SÃO OS JOGOS ESCRITOS NESSE E-BOOK? | 16
comigo e alunos que tenho/tive, e já
aplicados diversas vezes, tanto em
aulas, como nos “Jogos para Dançar”
ou até mesmo nos espetáculos
desenvolvidos hoje pela Cia Mover.
Cada jogo tem sua história de
surgimento, podendo ser resultado de
criações pessoais ou adaptações de
jogos já existentes. Após ler e
experimentar esses jogos você
também pode brincar de criar os seus
próprios jogos corporais a partir de
suas experiências em dança.
MENU DE
JOGOS
JOGO 1:
TROCA DE LUGAR
PELO OLHAR
Não me lembro se experimentei esse
jogo como aluna ou se ele surgiu nas
minhas aulas... Como é um jogo muito
simples, é difícil de lembrar... Porém,
considero, “o jogo dos jogos”, pois
apresenta muitas possibilidades de
como e quando jogar...

Faixa etária indicada: a partir dos 7

anos.

JOGO 1: TROCA DE LUGAR PELO OLHAR | 18

Como jogar:
Todos os jogadores se dispõem em
roda, sentados ou em pé. Os jogadores
tentam estabelecer contato visual com
os outros jogadores da roda. Quando
duas pessoas estabelecem um contato
visual mais profundo (ambos se olham
e percebem que estão sendo olhados
pelo outro), começam a se mover em
direção a outra pessoa.
Objetivo:
Trocar de lugar com a outra pessoa
sem se desconectar do olhar do outro.
Quando termina:
O jogo termina cada vez que o jogador
chegou no lugar do outro. O jogador
deve recomeçar o jogo tentando
estabelecer contato visual com outro
jogador.
JOGO 1: TROCA DE LUGAR PELO OLHAR | 19
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- Todas as pessoas da roda estão
jogando e podem querer atravessar a
roda ao mesmo tempo. O propositor
deve deixar claro que a dupla pode
esperar para começar a sua troca de
lugar caso o centro da roda esteja
muito cheio.
- A troca de lugar pode ser feita
somente caminhando, mas pode ser
feita dançando. Colocar uma música
para tocar durante o jogo pode ajudar
nessa proposta mais “dançada”.
- Perceba que a conexão pelo olhar e o
o clima de jogo gera muitas relações
diferentes entre as duplas que
atravessam a sala. Incentive essas
relações, diga: “Deixe que surja uma
brincadeira entre vocês dois! Como o
seu corpo se relaciona com o corpo do
outro? ”.
- O propositor pode também definir
qualidades ou movimentações
específicas para essa troca de lugar.
Esta proposta pode estar ligada a
questões que estão sendo estudadas
por esses brincantes (caso sejam
alunos) ou pesquisadas (caso sejam
bailarinos criadores): variação de
velocidade, execução de um passo
específico, uso de uma parte do corpo
específica etc.
- O jogo pode ter outra disposição, que
não seja em roda. Uma ideia é colocar
todos para caminhar pelo espaço e
propor que pausem em algum
momento. Aquele será o lugar da
pessoa e dali ela buscará estabelecer a
conexão visual com o outro e fazer a
troca de lugar. Depois que algumas
trocas acontecerem, os participantes
podem voltar a caminhar pelo espaço e
parar num outro local para recomeçar
o jogo.
JOGO 1: TROCA DE LUGAR PELO OLHAR | 20
É PRECISO QUERER JOGAR
"O jogo é uma atividade voluntária.
Sujeito a ordens, deixa de ser jogo,
podendo no máximo ser uma imitação
forçada."
JOHAN HUIZINGA
JOGO 2:
BEXIGA-MAÇÃ

Inspirado na brincadeira popular da

dança da maçã ou dança da laranja.

Faixa etária indicada: a partir dos 3

anos.

JOGO 2: BEXIGA-MAÇÃ | 22
Como jogar:
Cada dupla deve ter uma bexiga cheia.
A bexiga deve ser colocada entre duas
partes do corpo, uma de cada jogador.
Objetivo: Quando termina:
A dupla deve dançar: mover o corpo e Quando a bexiga cair ou o propositor
se deslocar pelo espaço, sem deixar a finalizar o jogo.
bexiga cair, como na famosa
brincadeira da dança da maçã ou dança
da laranja.
JOGO 2: BEXIGA-MAÇÃ | 23
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- O jogo pode ser pensado numa
progressão de dificuldade. Por
exemplo, começando por posicionar a
bexiga na testa dos dois, depois na
barriga dos dois e depois em um dos
joelhos. Ou começando na parte
frontal superior do tronco, depois
entre os ombros e por último nas
costas.
- Outra possibilidade é explorar partes
diferentes do corpo de cada um. Deixar
os participantes escolherem uma parte
diferente da do outro.
- Uma segunda etapa, dificultando
ainda mais o jogo e mudando um pouco
o objetivo, pode ser transferir a bexiga
para diversas partes do corpo, ainda
em dupla, sem deixar ela cair. Nesta
proposta, a bexiga não fica parada no
ponto do corpo escolhido, mas deve
passar por diferentes partes do corpo.
Por causa do grau de dificuldade, é
importante perceber se os
participantes estão preparados para
esta nova proposta.
JOGO 2: BEXIGA-MAÇÃ | 24
JOGO 3:
ROUBA-POSE
SALVA-VIDA
Este jogo surge em minhas aulas de
dança para crianças e também já foi
utilizado em “Jogos para Dançar”.

Faixa etária indicada:

A partir dos 4 anos.

JOGO 3: ROUBA-POSE SALVA-VIDA | 25

Como jogar: Objetivo: Quando termina:
Os participantes são divididos em dois Roubar a pose do outro e salvar sua Quando o propositor perceber que
grupos. O primeiro grupo se espalha vida, liberando o jogador para todos já experimentaram diferentes
pelo espaço e cada pessoa cria uma experimentar outra pose. poses.
pose. As outras pessoas caminham
pelo espaço observando as poses
criadas. Quando alguém quiser, copia a
pose do outro como em um espelho.

JOGO 3: ROUBA-POSE SALVA-VIDA | 26

| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- Instigue os jogadores a fazerem
diferentes poses em pé, sentados e
deitados, para diferentes direções e de
diferentes tamanhos.
- Proponha que, ao roubar a pose, o
jogador preste bastante atenção no
corpo todo do outro participante, a fim
de copiar a pose o mais fiel possível.
- As imagens criadas podem estar
relacionadas com movimentos que
estão sendo estudados em sala de aula
ou no processo de criação de uma
cena, assim, é possível explorar no
jogo, como cada pessoa assume aquela
forma em seu corpo.
- Para dificultar o jogo, é possível
acrescentar duas regras: a) qualquer
pessoa pode criar uma nova pose a
qualquer momento; b) quando duas
pessoas roubarem uma mesma pose,
todos estão salvos e ninguém precisa
mais assumir aquela pose, a pose some
do jogo.
JOGO 3: ROUBA-POSE SALVA-VIDA | 27
JOGO 4:
MONTA E
DESMONTA
Este jogo é jogado em cena no
espetáculo “As Aventuras de VocEu”
da Cia Mover, surgiu em nosso
processo criativo.

Faixa etária:
A partir dos 4 anos.

JOGO 4: MONTA E DESMONTA | 28

Como jogar:
Um primeiro jogador cria uma pose no
centro do espaço, outros jogadores se
encaixam compondo com a pose do
jogador inicial de forma que uma parte
do corpo do jogador encoste em uma
parte do corpo de um outro jogador.
Objetivo:
Criar uma grande imagem coletiva
tridimensional e desmontá-la.
Quando termina:
Quando o jogador que começou o jogo
não aguentar mais sustentar sua pose,
ele cai e todos caem juntos no chão.
Todos rolam pelo chão até voltar para
seus lugares.
JOGO 4: MONTA E DESMONTA | 29
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- Provoque os jogadores a se
conectarem por diferentes partes do
corpo e não somente colocando a mão
no corpo do outro.
- Além de se conectar, o jogador deve
pensar a sua pose e como esta vai se
compor com todas as outras poses.
- Não pense somente de maneira
bidimensional, a imagem pode crescer
para os lados, para frente, para trás,
para cima e para baixo.
- O momento de maior cuidado é com a
queda. O participante deve observar
se ele não irá cair de forma a machucar
ninguém. É preciso estar atento.
- O propositor deve se preocupar para
que os participantes deem o mesmo
valor ao ato de montar e ao de
desmontar. Experimentar as quedas e
diferentes tipos de rolamento também
faz parte do objetivo do jogo.
JOGO 4: MONTA E DESMONTA | 30
JOGO 5:
DESVIAR: SALTAR
OU ROLAR?
Este jogo foi criado em “Jogos para
Dançar”. Tive muito medo ao aplicar
esse jogo pela primeira vez durante a
execução do projeto, pois ele parece
um tanto perigoso. Aconselho uma
preparação anterior dos jogadores em
relação aos conhecimentos
necessários para jogar.

Faixa etária:
A partir de 12 anos.

JOGO 5: DESVIAR: SALTAR OU ROLAR? | 31

Como jogar:
Os jogadores se colocam em roda.
Assim como em Troca de Lugar pelo
Olhar, buscam estabelecer uma
conexão pelo olhar, ao perceber que
ambos estão se olhando fixamente e
prontos, os dois correm em direção ao
outro. Para evitar o choque entre os
corpos, os jogadores precisam desviar
assim que perceberem que vão se
bater e depois terminar a sua corrida
em direção ao lugar do outro. Em uma
segunda fase, esse desvio deve ocorrer
com saltos e numa terceira fase, o
jogador pode decidir se quer saltar ou
rolar para fazer o desvio.
Objetivo: Chegar ao lugar do outro
desviando do outro antes de se chocar
com ele.
Quando termina: O jogo termina a
cada troca de lugar estabelecida. O
participante deve buscar um novo
olhar para recomeçar o jogo.
JOGO 5: DESVIAR: SALTAR OU ROLAR? | 32
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- Se possível, não elimine as três fases
do jogo. Porém, essa é uma escolha
didática. Se o propósito não for
didático, é possível jogar direto
escolhendo se quer saltar ou rolar. Isso
ocorria nas ações de “Jogos para
Dançar”, porém os participantes já
tinham realizado vários outros jogos
antes de experimentar este jogo.
- Para este jogo, aconselho que os
corpos já estejam aquecidos e, se
possível, já tenham feito outros
exercícios coletivos para estarem mais
conectados.
- É também interessante trabalhar
experimentações de desvio dos corpos
em caminhada pelo espaço antes,
assim como experimentar alguns
saltos, quedas, rolamentos e até
mesmo giros.
- É normal que surjam giros no meio do
jogo, afinal, este jogo trabalha a
agilidade, a cinestesia e a sinestesia. É
a minha sensação do movimento e a
sensação do movimento do outro que
me faz intuitivamente escolher o lado
para o qual irei desviar. Esse desvio
cria uma força espiralada de
movimento, podendo provocar giros.
- Para este jogo é necessário um
espaço amplo. Se não for possível criar
uma roda bem larga em diâmetro, é
possível fazer duas linhas, uma de cada
lado, olhando uns para os outros. Isso
resolve o problema de salas que são
retangulares.
JOGO 5: DESVIAR: SALTAR OU ROLAR? | 33
JOGO NÃO SE ENSAIA
"Os jogos desenvolvem as técnicas e
habilidades pessoais necessárias
para o jogo em si, através do próprio
ato de jogar"
VIOLA SPOLIN
JOGO 6:
MAPA
COREOGRAFADO
Este jogo surgiu nas minhas aulas de
Estudo do Movimento para que fosse
possível estudar conceitos espaciais.

Faixa etária:
A partir dos 9 anos.

JOGO 6: MAPA COREOGRAFADO | 35

Como jogar:
Os jogadores desenham um caminho
em uma folha de papel. Para desenhar
este caminho é necessário somente ter
uma folha de papel e um lápis ou uma
caneta. O jogador deve escolher um
local da folha de papel para colocar o
lápis e, a partir daquele ponto, criar um
caminho pelo papel, decidindo um final
para ele. Depois de desenhado, os
jogadores devem se colocar em roda e
cada um coloca seu papel no chão a sua
frente. Cada jogador deve
experimentar mover o corpo
redesenhando aquele mapa. O
propositor deve dizer o momento em
que os participantes devem pular para
o mapa da direita para experimentar
uma nova dança com um novo mapa.
Objetivo: Encontrar diversas
possibilidades de dançar os mapas
criados pelos diversos participantes.
Como termina: Quando cada pessoa
retornar ao seu lugar inicial.
JOGO 6: MAPA COREOGRAFADO | 36
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- Existem muitas maneiras de resolver
esse jogo: posso escolher uma parte do
corpo para desenhar esse caminho
pelo ar; ou posso pensar no caminho
percorrendo meu corpo todo, movendo
minhas articulações como se meu
corpo fosse o papel e eu quisesse
mover somente onde há o caminho
desenhado.
- Caso eu esteja desenhando no ar com
uma parte do corpo, devo pensar: onde
está essa minha folha de papel
invisível? Pois ela pode estar na minha
frente, mas também pode estar ao
lado, atrás, no teto, no chão, deitada,
em pé etc... Ou seja, explorar
diferentes planos: horizontal,
transversal e vertical; níveis: alto,
médio e baixo; e direções.
- Outra proposta legal é instigar os
participantes a mover as folhas de
papel de direção, vendo como isto
muda o movimento produzido a partir
daquele mapa.
- Colocar uma ou diversas músicas
para tocar também pode ser muito
legal neste caso, pois o corpo pode
produzir diferentes leituras de
movimento a partir da sonoridade
escutada.
JOGO 6: MAPA COREOGRAFADO | 37
NÃO SE JOGA PARA GANHAR OU
PERDER
"O prazer em jogar é autotélico, que
vem não do que ele 'ganha', mas de
apreciar as ações em si."
RICHARD SCHECHNER
JOGO 7:
O DESENHISTA E
O BAILARINO
Este jogo surgiu em minhas aulas de
Dança Contemporânea, partindo de
experimentações de improvisação
propostas por William Forsythe
(1949-) e fez parte do processo de
criação de “Rua Flu”, segundo
espetáculo de dança para crianças da
Cia Mover.

Faixa etária:
A partir dos 9 anos

JOGO 7: O DESENHISTA E O BAILARINO | 39

Como jogar:
Os jogadores se colocam em dupla.
Num primeiro momento, um será o
desenhista e outro o bailarino, depois
os papéis se invertem. O desenhista
deve fazer um desenho pelo ar
utilizando o dedo indicador. O
bailarino deve memorizar esse
desenho e depois dançar o desenho,
envolvendo seu corpo todo no
movimento. É como se o corpo do
bailarino percorresse a linha
desenhada pelo desenhista e, por isso,
se assemelha bastante com o Mapa
Coreografado.
Objetivo: Criar uma sequência
coreográfica a partir do desenho
criado pelo desenhista.
Como termina: O jogo termina cada
vez que o bailarino dança o desenho
feito pelo desenhista.
JOGO 7: O DESENHISTA E O BAILARINO | 40
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- É possível colocar todos os
participantes em uma fila, intercalando
desenhista e bailarino. Assim, cada vez
que um desenhista faz o desenho e,
posteriormente, o bailarino dança,
todos os outros participantes assistem.
Depois, a fila inverte os papéis. O jogo
se torna mais demorado, mas ao
mesmo tempo, o desenhista dispõe de
todo o espaço para desenhar e todos
podem apreciar as criações uns dos
outros.
- É importante que o propositor lembre
o desenhista que os desenhos são
tridimensionais, podendo ter altura,
largura e profundidade.
- Importante também incentivar que o
desenho seja feito de maneira clara e
em tal tamanho que possa ser
memorizado pelo bailarino. Ao mesmo
tempo, pode-se incentivar o bailarino a
dançar a partir do desenho que ficou
em sua memória, mesmo não
conseguindo reproduzir todo o
caminho criado pelo desenhista.
- Como todo desenho, este também
pode ter linhas retas, curvas,
tracejados, pontos etc.
- Uma variação possível, sugerida pelas
próprias fotos utilizadas nesse e-book,
é fazer as ações concomitantes, ou
seja, enquanto o desenhista desenha, o
bailarino dança, e continua a observar
o desenho do desenhista. Esta versão
pode ser utilizada inclusive com
crianças menores, a partir dos 3 anos,
pois não exige muito da memória e
correlaciona mais facilmente a
qualidade motora do desenho com a
dançada.
JOGO 7: O DESENHISTA E O BAILARINO | 41
JOGO 8:
FOLHA AO VENTO

Este jogo foi criado em “Jogos para

Dançar”.

Faixa etária:
A partir dos 11 anos.

JOGO 8: FOLHA AO VENTO | 42

Como jogar:
O jogo é desenvolvido em duplas. Uma
das pessoas deve fechar os olhos ou
ser vendada. O jogador de olhos
fechados, deve imaginar que seu corpo
é uma folha de árvore seca, somente
imaginar, sem fazer movimentos. O
outro jogador, deve soprar uma parte
do corpo do jogador que está de olhos
vendados. Ao sentir o vento, o jogador
de olhos vendados deve se mover
como uma folha levada pelo vento. O
jogador que sopra deve também
proteger o corpo do jogador que está
de olhos fechados para que este não
bata em nada ou ninguém.
Objetivo: Sentir o ar tocando uma
parte do corpo e mover-se como se
fosse uma folha de árvore seca.
Quando termina: Quando o propositor
perceber que finalizou o tempo
necessário para a experiência, ele deve
propor a troca dos jogadores.
JOGO 8: FOLHA AO VENTO | 43
| JOGOS CORPORAIS: 8 JOGOS PARA AUXILIAR SUA PRÁTICA ARTÍSTICA E DESPERTAR A CRIATIVIDADE
Dicas e outras formas de jogar:
- Este jogo é mais um jogo de sensação
do que de imaginação, a imagem da
folha seca deve servir somente para
que o participante perceba seu corpo
muito mais leve do que é, fazendo com
que o estímulo do assoprar produza
mais movimento.
- O vento também pode ser produzido
por abanos ou partes do corpo
abanando o corpo do outro.
- Os jogadores devem ser instigados a
produzir “diferentes ventos”, pensando
na sua força, sua direção e sua
duração.
- Quanto mais partes do corpo
expostas, mais fácil é de sentir o vento.
A pele exposta sente melhor o vento
do que as partes do corpo que estão
envoltas em roupas.
- Dois cuidados são extremamente
necessários, principalmente quando
trabalhado com crianças: indicações
para que o participante que assopra
tome cuidado com a tontura que pode
surgir de tanto assoprar o outro, ele
precisa dar pausas entre um assoprar e
outro; e a necessidade de que o
participante que assopra também seja
“anjo” do participante que está de
olhos fechados, o acompanhando pelo
espaço em seus movimentos e
protegendo-o do choque com as
paredes, outros obstáculos e
principalmente outros jogadores que
também estão se movendo.
JOGO 8: FOLHA AO VENTO | 44
A POTÊNCIA CRIATIVA DO JOGO
"Os Jogos Corporais, como Angel Vianna os
concebe, além de contribuírem para o aumento
da percepção corporal e para o desenvolvimento
da parte motora, colaboram também para
desenvolver a rapidez de raciocínio, encontrando
soluções rápidas para as situações que se
apresentam."
ENAMAR RAMOS
VAMOS JOGAR?
Agora que você conheceu estes jogos,
espero que você os jogue e
experimente em diversos contextos e
com diferentes faixas etárias. Só é
possível saber o que dá certo e o que
não dá, testando. Já tive muitas
experiências de sucesso e fracasso
com um mesmo jogo, pois tudo
depende do espaço, das pessoas
envolvidas, de como as regras são
entendidas e como o jogo é conduzido.
Espero que você possa criar uma série
de adaptações e novas versões de
jogos que funcionem melhor para você.
Caso vá aplicar esses jogos com grupos
que não estão acostumados com esse
tipo de abordagem, comece aos
poucos.
Aplique um jogo no meio da vivência
realizada. Estabeleça conexão do jogo
com algo que está sendo estudado.
Faça o bailarino/dançarino/aluno
perceber a relação do jogo com o todo
da experiência. E, principalmente,
faça-o entender que dança é criação.
Que dança ultrapassa a noção de certo
e errado. E que todos dançamos e
brincamos desde que nascemos.
VAMOS JOGAR? | 46
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
HUIZINGA, Johan. Homo ludens: O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2012, p. 10.

RAMOS, Enamar. Angel Vianna: A pedagoga do movimento. São Paulo: Summus, 2007, p. 48.

SCHECHNER, Richard. Jogo. In, SCHECHNER, Richard. Performance e antropologia de Richard Schechner. Seleção de
ensaios organizados por Zeca Ligiéro. Rio de Janeiro: Mauad X, 2012, p. 109.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 2000, p.4.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | 47