Gestão Integrada
EFI Policy Brief 4 do Fogo
Francisco Rego
Eric Rigolot
Paulo Fernandes
Cristina Montiel
Joaquim Sande Silva
Mais de 50 mil incêndios florestais ocorrem anualmente nos Estados-Membros mais afectados, registando-se uma média
anual de 500 mil hectares de floresta queimada na UE, com emissões associadas de CO2 e outros gases e partículas.
Este risco elevado de incêndios e a sua crescente dimensão resultaram em enormes áreas queimadas em Portugal em
2003 (mais de 400 mil hectares) e em 2005, e em Espanha em 1985, 1989 e 1994. Em 2007, quando a Grécia registou
temperaturas de 46º C, cinco grandes fogos queimaram 170 mil hectares só na região do Peloponeso.
Para além de provocarem baixas humanas, danificarem propriedades e reduzirem a fertilidade do solo através da perda de
matéria orgânica, os grandes incêndios dificultam a conservação da biodiversidade. Durante o Verão de 2009, pelo menos
30% da área ardida estava localizada em zonas da Rede Natura na Bulgária, França, Grécia, Itália, Portugal, Espanha e
Suécia. As florestas gravemente atingidas nas zonas da Rede Natura 2000 enfrentam grandes desafios para regressar ao
estado anterior aos fogos, sobretudo no que diz respeito à questão da biodiversidade.
Os esforços efectuados pela UE e os seus Estados-Membros para responder à questão da prevenção dos incêndios flores-
tais têm registado um grande aumento e têm-se concentrado na formação, pesquisa, sensibilização e prevenção estrutu-
ral. No entanto, em consequência das alterações climáticas estes esforços precisam de ser maiores. Também existe uma
clara correlação entre a gestão activa das florestas e a redução dos riscos de incêndios: um mercado de bioenergia que
funcione bem, muitas vezes bloqueado pela falta de uma gestão adequada devido à propriedade dividida das florestas,
pode desempenhar um papel fundamental na prevenção de incêndios, ao fornecer incentivos económicos para eliminar
a biomassa que alimenta actualmente os incêndios em florestas abandonadas. Para além disso, conceitos de gestão do
fogo, como os resultantes do projecto de pesquisa da UE denominado “Fire Paradox”, são necessários para garantir a
capacidade da Europa ao nível da prevenção e extinção de incêndios, da forma mais eficaz possível.
Este projecto apresenta um avanço sobre o conceito tradicional de gestão do fogo, uma vez que se apoia nos melhores
conceitos científicos referentes à aplicação do fogo controlado. Apresenta uma abordagem equilibrada relativamente à
gestão de território não arborizado e arborizado, bem como à gestão de fogos indesejados em geral.
Por conseguinte, encorajo a comunidade internacional a utilizar da melhor forma possível os resultados do projecto Fire
Paradox.
Ernst Schulte
Director do Sector da Floresta
DG ENV.B1 Comissão Europeia
Direcção-Geral do Ambiente
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O paradoxo
do fogo
“O fogo é um mau patrão mas um bom servo”
(Provérbio finlandês)
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GFMC
Demonstração histórica de uma queimada
na Floresta Negra alemã, perto de Friburgo.
O procedimento histórico do corte e utiliza-
ção rotativa de árvores de talhadia, a queima
de resíduos, seguido da sementeira e colhei-
ta do trigo, com o posterior período de pou-
sio e repovoamento florestal, ajudaram a
definir muitas paisagens por toda a Europa.
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Carlos Loureiro
Fogo controlado na zona do Marão,
Portugal.
Conceitos importantes
Gestão Integrada do Fogo: Gestão do fogo: Uso adequado das queimadas tradicionais:
Um conceito para sistemas operacionais e de pla- Todas as actividades necessárias para a protecção O uso adequado das queimadas tradicionais
neamento que incluem avaliações sociais, econó- de florestas de outros valores da vegetação con- segundo os requisitos e as boas práticas legais.
micas, culturais e ecológicas, com o objectivo de tra o incêndio, e a utilização do fogo para atingir
minimizar os danos e maximizar os benefícios do objectivos de gestão do território. Fogo técnico:
fogo. Estes sistemas incluem uma combinação O uso controlado do fogo, desempenhado por
de estratégias de prevenção e supressão e técni- Queimadas tradicionais: pessoal qualificado em condições ambientais
cas que integram a utilização de fogos técnicos e A utilização de fogo por parte das comunidades específicas com base numa análise de comporta-
regulam as queimadas tradicionais. rurais com o objectivo da gestão de território e de mento de fogo. Os fogos técnicos dividem-se em
recursos com base no know-how tradicional. fogos controlados, fogos de gestão e fogos tácticos
8 de supressão.
Fogo dentro da prescrição:
Um fogo controlado ou um fogo de gestão que
queima dentro da prescrição.
Fogo de gestão:
Um fogo que está circunscrito a uma área pre-
determinada e que produz o comportamento e
os efeitos do fogo necessários para atingir o tra-
tamento de fogo planeado e/ou os objectivos de
gestão de recursos.
Incêndio:
Qualquer fogo em vegetação não planeado ou
incontrolado que, independentemente da fonte
de ignição, exige uma resposta de supressão ou Esta imagem demonstra que a Gestão Integrada do Fogo alia estratégias
de prevenção e de supressão. Estas técnicas incluem a utilização do fogo
outras acções. nas componentes das queimadas tradicionais, fogo controlado, fogo de
gestão e fogo táctico de supressão.
Fogo táctico de supressão:
Também ilustra a importância de ter em consideração todos os tipos de
A aplicação de um fogo para acelerar ou fortalecer fogo – desde benéficos a prejudiciais (eixo horizontal); e todos os tipos
a supressão de incêndios. O contrafogo é um fogo de agentes – de habitantes rurais até aos profissionais do sector (eixo
táctico de supressão. vertical). 9
ollirg/fotolia.com
Tipos de utilização de territó-
rio queimado para pastoreio e
para outras utilizações em Por-
tugal. Imagem: F. Catry.
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Uma contribuição Europeia para a solução de um Paradoxo Global
O projecto Fire Paradox é um projecto integrado Europeu que inclui 30 parceiros europeus e
seis parceiros provenientes da África do Sul, Argentina, Marrocos, Mongólia, Rússia, e Tuní-
sia. Para mais informações, visite: http://fireintuition.efi.int, www.fireparadox.org
Por fim, agradecemos o interesse demonstrado pelo European Forest Institute, no segui-
mento da publicação do documento de debate “Living with Wildfires: What Science Can Tell
Us” (Viver com Incêndios: O que a Ciência nos pode revelar), e do mais detalhado Relatório
de Investigação do projecto actual “Towards Integrated Fire Management” (Rumo a uma
Gestão Integrada do Fogo). Gostaríamos de agradecer a Andreas Schuck e à sua equipa, que
contribuíram como parceiros de projecto, bem como a Ilpo Tikkanen, Risto Päivinen e Minna
Korhonen, que apoiaram o conceito e a elaboração deste Resumo de Políticas.
Autores: Francisco Rego, Eric Rigolot, Paulo Fernandes, Cristina Montiel, Joaquim Sande Silva.
Autor correspondente: Francisco Rego (frego@isa.utl.pt) | Editores da série: Ilpo Tikkanen, Risto Päivinen e Minna Korhonen
ISBN: 978-952-5453-60-7
Declaração de exoneração de responsabilidade: a presente publicação foi produzida com o apoio financeiro da União Europeia. O conteúdo desta publicação
é da exclusiva responsabilidade dos seus autores e não pode, de forma alguma, ser considerado como um reflexo das opiniões da União Europeia.
EFI
Policy
Briefs
Uma informação imparcial baseada na ciência e de
acordo com as políticas é essencial para uma tomada
de decisões consciente. Os Resumos de Políticas do
EFI apresentam questões e desafios actuais referentes
às políticas florestais e definem soluções para resolvê-
los com a ajuda da investigação.
O European Forest Institute é a principal rede de investigação a nível florestal na Europa. É uma orga-
nização internacional criada pelos estados europeus, para a realização e defesa de pesquisa florestal e a
Torikatu 34, FI-80100 Joensuu, Finland evolução da rede de pesquisa florestal por toda a Europa. É também um ponto de contacto reconhecido
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