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5, Nº 1, 79-96
RESUMO
Este estudo verificou o desempenho de ratos em esquema concorrente de intervalo variável (conc VI VI) e o desenvolvimento de
anedonia induzido por estresse crônico moderado (CMS). Os sujeitos foram submetidos a testes de consumo/preferência de líquidos,
sessões operantes (conc VI VI) e CMS. A frequência de respostas em uma barra que correspondia à apresentação de água com sacarose
foi maior antes do CMS do que durante e depois do protocolo de estresse. Durante o CMS, os sujeitos apresentaram aumento no
consumo de líquidos e perda de peso. A perda de peso durante o CMS parece estar relacionada à combinação de estímulos aversivos e
privação intermitente e aumento no consumo de líquidos durante o CMS, e à exposição ao esquema concorrente.
Palavras-chave: estresse crônico moderado, estímulo aversivo, esquema concorrente, intervalo variável, Rattus norvegicus.
ABSTRACT
This study has investigated the performance of rats in concurrent schedule of variable intervals (conc VI VI) and the development
of anhedonia induced to chronic mild stress (CMS). The subjects were submitted to tests of consumption/preference of liquids, ope-
rant sessions (conc VI VI) and CMS. The frequency response on the bar that corresponded to sucrose liberation was greater before the
CMS than during and after the stress protocol. During the CMS, the subjects showed an increase in fluid intake and weight loss. The
weight loss during the CMS seems to be related to the combination of deprivation and intermittent aversive stimuli and increased
consumption of liquids during the CMS in concurrent schedule exposure.
Keywords: chronic mild stress, aversive stimulus, concurrent schedule, variable interval, Rattus norvegicus.
O chronic mild stress (CMS – estresse crô- nosticados com depressão (Willner, Tower,
nico moderado) é um modelo experimental Sampson, Sophokleous, & Muscat, 1987).
de depressão que tem por objetivo verificar Nesse modelo de depressão, a anedonia ou
a relação entre a exposição de sujeitos, co- insensibilidade ao reforço é avaliada por
mumente ratos, a um conjunto de estímu- meio da ingestão (em ml) de pelo menos
los aversivos crônicos e moderados por um duas substâncias, geralmente água e solução
longo e ininterrupto período de tempo (no de sacarose, antes, durante e depois da ex-
mínimo três semanas e no máximo seis se- posição ao protocolo de estresse. Quando os
manas) e o desenvolvimento de anedonia sujeitos apresentam diminuição no consu-
(Willner, 1984). A anedonia, ou insensibili- mo de líquidos (solução adocicada e água)
dade ao reforço em modelos experimentais, durante o protocolo de estresse, comparado
é uma característica comportamental similar com o consumo medido antes da exposição
à perda de interesse ou prazer e sintomas de ao CMS, diz-se que eles apresentam anedo-
melancolia apresentados por humanos diag- nia ou que diminuíram a sensibilidade ao
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reforço (Heyman, 1997; Samson, Pfeffer, & revisão realizada por Willner em 2005 mos-
Tolliver, 1988; Samson, Roehrs, & Tolliver, trou, em linhas gerais, que a submissão dos
1982; Willner et al., 1987). sujeitos (ratos) a um conjunto de estímulos
Nos primeiros estudos realizados com aversivos crônicos e moderados, além de al-
estresse crônico moderado, seguindo o pro- terar a sensibilidade à recompensa, também
tocolo proposto por Willner et al. (1987), ob- provocava alterações em outras características
servou-se que os sujeitos, quando expostos presentes no diagnóstico de depressão. Os su-
aos estímulos aversivos, no decorrer das seis jeitos apresentavam variação na ingestão de
semanas do protocolo, apresentaram redução alimentos (Gamaro, Manoli, Toerres, Silveira,
no consumo de líquidos (água e solução de & Dalmaz, 2003; Tannenbaum, Tannenbaum,
sacarose), comparado com as aferições ini- Sudom, & Anisman, 2002;Weiss, 1997), perda
ciais. Já os sujeitos que não foram submeti- de peso corporal (Willner, 1997), diminuição
dos ao protocolo não apresentaram tal redu- na atividade motora (Strekalova, Spanagel,
ção. A diminuição no consumo de líquidos, Bartsch, Henn, & Glass, 2004), entre outros.
especialmente no consumo de sacarose, foi Na maioria desses estudos, foram administra-
interpretada como uma alteração na “sensi- das drogas antidepressivas a fim de reverter
bilidade à recompensa”, ou anedonia, caracte- os sintomas produzidos pelo procedimen-
rística de depressão em humanos. Segundo os to de CMS. Os tratamentos medicamento-
autores, a exposição ao conjunto de estímulos sos proporcionaram aumento no consumo
aversivos provocou tal alteração (ver também da solução de sacarose, restabelecimento do
Muscat, Papp, & Willner, 1992;Willner, 2005). peso corporal, diminuição na variação do
Com o objetivo de reverter esse sintoma de padrão alimentar e aumento na locomoção
depressão (anedonia), os autores submeteram (Di Chiara, Loddo, & Tanda, 1999; Willner,
os sujeitos a um tratamento com um antide- 1997, 2005).
pressivo tricíclico (DMI – desmetilimiprami- Entretanto, três estudos recentes realiza-
na) por um período de quatro semanas. Após dos no Brasil (Dolabela, 2004; Rodrigues,
a administração do antidepressivo, os sujeitos 2005; Thomaz, 2001), mais especificamente
que receberam a droga apresentaram aumento no Laboratório de Psicologia Experimental
no consumo de solução de sacarose, chegando da Pontifícia Universidade Católica de São
próximo aos valores obtidos antes da exposi- Paulo, apresentaram uma característica dife-
ção ao protocolo (linha de base). A resposta rente dos já publicados. Em vez de utilizar
dos sujeitos ao antidepressivo ressaltou que drogas antidepressivas para reverter os sinto-
a diminuição no consumo poderia ser com- mas de depressão, tal como a diminuição no
preendida como insensibilidade ao reforço ou consumo da solução de sacarose, os sujeitos
anedonia. Esse resultado validou a anedonia foram submetidos a situações de controlabi-
como uma característica de depressão, e o es- lidade (sessões operantes). Nessas pesquisas,
tresse crônico moderado como um modelo o delineamento experimental foi composto,
experimental para aferir essa psicopatologia. basicamente por três condições: 1) submissão
Inúmeros trabalhos foram realizados nas dos sujeitos aos testes de consumo e prefe-
últimas duas décadas utilizando o CMS. Uma rência de líquidos; 2) exposição ao proto-
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colo de estresse; e 3) submissão dos sujeitos e consistiam em dispor aos sujeitos, em sua
a sessões operantes antes e depois do CMS gaiola viveiro (lado a lado na parede frontal),
(Thomaz, 2001), ou antes, durante e depois duas garrafas, uma contendo água e a outra,
do CMS (Dolabela, 2004; Rodrigues, 2005). solução de sacarose durante 60 minutos. Os
O primeiro estudo foi realizado por lados da apresentação das garrafas (à esquerda
Thomaz (2001) com o objetivo de investigar ou à direita da gaiola) eram alternados sessão
a influência da exposição ao protocolo de es- a sessão.
tresse no desempenho de ratos submetidos a Thomaz (2001) observou que os sujeitos
um esquema concorrente de razão fixa (FR) submetidos ao protocolo de estresse apresen-
com valores idênticos. O delineamento expe- taram maior perda de peso, comparados com
rimental foi realizado dentro de um ciclo de aqueles que não foram submetidos aos es-
sete dias: durante cinco dias consecutivos, os tressores. Além disso, durante o CMS, os su-
sujeitos eram submetidos às sessões operan- jeitos diminuíram o consumo total de líqui-
tes (com 20 minutos de duração). No sexto dos (água e solução de sacarose), comparado
dia não era realizada nenhuma intervenção, com o consumo anterior ao protocolo. Os
e no sétimo dia os sujeitos eram submetidos sujeitos que não foram submetidos às sessões
ao teste de consumo e preferência de líqui- operantes começaram a diminuir o consu-
dos. Antes do CMS, esse ciclo se repetiu até mo a partir da primeira semana, enquanto
que os sujeitos atingissem a exigência de 15 para aqueles que foram submetidos às sessões
respostas para obtenção do reforçador em operantes antes do CMS a diminuição ocor-
esquema concorrente em razão fixa (conc reu mais tardiamente, a partir da terceira e
FR15 FR15). Depois do CMS, os sujeitos quarta semana de exposição ao protocolo de
foram submetidos a esse ciclo durante três estresse. Após a suspensão do CMS, os sujei-
semanas consecutivas. As sessões operantes tos submetidos às sessões operantes voltaram
tiveram início pela modelagem de resposta a consumir uma quantidade de líquidos se-
de pressão à barra. Em seguida, os sujeitos melhante ao período anterior à exposição ao
foram submetidos a duas sessões em esquema protocolo.
conc FR4 FR4, quatro sessões em conc FR10 Segundo a autora, a perda de peso duran-
FR10, quatro sessões em conc FR12 FR12 e te o CMS esteve associada à diminuição no
oito sessões em conc FR15 FR15, utilizando consumo total de líquidos em decorrência da
como estímulo reforçador água e solução de exposição aos estímulos estressores. A dimi-
sacarose a 8%. Após as oito sessões em conc nuição no consumo de solução de sacarose
FR15 FR15, os sujeitos foram submetidos ao pode ter ocorrido em decorrência de uma
protocolo de estresse. Durante a exposição alteração no valor reforçador do reforço (sa-
ao CMS, os sujeitos não foram submetidos carose) provocado pela exposição ao CMS. A
às sessões operantes: a única condição que se submissão à situação operante posterior ao
mantinha eram os testes de consumo e pre- CMS proporcionou um restabelecimento no
ferência de líquidos. Os testes de consumo e consumo de líquidos (água e solução de sa-
preferência de líquidos eram realizados uma carose). Esse resultado foi semelhante aos en-
vez por semana durante todo o experimento contrados em estudos que utilizaram drogas
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SUJEITOS
S1 e S2 S3 e S4 S6
Protocolo de Protocolo de
estresse (CMS) estresse (CMS)
Figura 1. Distribuição dos sujeitos em relação às condições experimentais em que foram submetidos ao
longo do estudo.
a utilização de mais de um sujeito para con- sões operantes em esquema conc VI VI com
trole de peso. valores idênticos. De um lado da caixa ex-
Após a resposta de pressão à barra ter sido perimental, eles tinham acesso a uma bar-
modelada, os sujeitos S1 a S4 foram subme- ra correspondente à água; do outro, a uma
tidos a 12 sessões em esquema de reforça- barra correspondente à solução de sacarose.
mento contínuo (CRF), como proposto por Os sujeitos foram submetidos a quatro ses-
Dolabela (2004). As respostas eram conse- sões em esquema conc VI2 VI2; em seguida,
quenciadas com água pura ou com solução a quatro sessões em conc VI5 VI5 e a nove
de sacarose. Tanto a magnitude do reforço sessões em conc VI10 VI10. Essas sessões ti-
(água ou sacarose) quanto o lado (direito nham duração de 20 minutos cada. Após as
ou esquerdo) da caixa experimental em que nove sessões em esquema conc VI10 VI10, os
eram liberadas foram randomizados dia a dia. sujeitos S1 a S4 foram submetidos ao proto-
Em seguida às 12 sessões em CRF, os colo de estresse.
sujeitos S1 a S4 foram submetidos às ses-
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Tabela 1
Distribuição semanal dos estressores que compõem o protocolo de estresse apresentados aos
sujeitos durante seis semanas consecutivas
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Figura 2. Aferição diária do peso corporal dos sujeitos antes, durante e depois do
CMS.
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houve aumento de 3%. Posteriormente a essa entre 9,2 ml e 10 ml por dia, e o consumo de
data, o peso se estabilizou até o final do ex- ração variou entre 21 g e 23,8 g por dia, para
perimento. Para os sujeitos S1, S2, S3 e S4, o os sujeitos S1, S2, S3 e S4. Durante o CMS,
aumento do peso corporal foi menor do que o consumo de água e ração aumentou para
o aumento apresentado por S6. Até o dia an- todos os sujeitos, comparado com o consumo
terior ao início do protocolo de estresse (57o antes e depois da exposição ao protocolo. Com
dia do experimento), os sujeitos apresenta- a suspensão do protocolo de estresse, o consu-
ram aumento progressivo no peso corporal, mo de água e ração foi semelhante ao apresen-
variando entre 4,8 e 23%. Durante o CMS, os tado antes do CMS para todos os sujeitos.
sujeitos S1, S2, S3 e S4 apresentaram estabili-
dade no peso. Após o CMS, todos os sujeitos Teste de consumo e preferência de líquido
voltaram a ganhar peso. O aumento no peso A Figura 4 mostra os resultados obtidos
corporal variou entre 4,2%, apresentado por nos testes de consumo e preferência de lí-
S4; 6,8%, por S2; 14,6%, por S1; e 17%, por S3. quidos antes, durante e depois do CMS.
Observa-se que a quantidade de ingestão de
Ingestão diária de água e ração solução de sacarose oscilou durante todo o
A Figura 3 mostra o consumo de água e experimento para todos os sujeitos (S1, S2,
ração antes, durante e depois do CMS. Antes S3 e S4). O consumo médio de ambos os
do CMS, o consumo médio de água variou líquidos foi maior durante o protocolo de
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Figura 4. Ingestão de água e solução de sacarose apresentada pelos sujeitos nos testes de consumo e prefe-
rência de líquidos antes, durante e depois do CMS.
estresse do que nas outras duas fases do ex- (todos os sujeitos), a frequência de resposta
perimento. Durante a exposição ao CMS, os emitida para cada liberação de reforço na
sujeitos S1, S2, S3 e S4 apresentaram redu- barra correspondente a água foi maior do
ção no consumo de solução de sacarose bem que na correspondente à sacarose. Os refor-
próximo ao término do protocolo. ços produzidos pelos sujeitos antes da sub-
missão aos estressores e com esquemas conc
Frequência de resposta de pressão à barra e número VI VI de menor valor (até por volta da 10a
de reforços obtidos em esquema concorrente de sessão) foram mais frequentes na barra que
intervalo variável fornecia sacarose. Em intervalos maiores, as
A Figura 5 mostra a frequência de res- diferenças observadas são quase inexistentes,
postas sobre o número de reforços obtidos e quando ocorreram deveram-se à distri-
(água e solução de sacarose) em cada uma das buição dos reforços programada pelo com-
barras antes, durante e depois do protocolo putador. Pode ser notado, também, que S1
de estresse. Observa-se que todos os sujeitos produziu menos reforços em ambas às barras
apresentaram maior frequência de respos- durante a submissão ao protocolo do que em
ta emitida por cada reforço obtido na barra períodos anteriores e posteriores a ele, e que
correspondente à sacarose nas primeiras 10 S3 e S4 nas primeiras sessões pós-submissão
sessões (VI 2, 5 e 10 s), antes da exposição aos estressores produziram menos reforçado-
ao protocolo. Quando houve diferença nas res, voltando aos níveis observados em perío-
frequências entre as barras durante (sujeitos dos pré-submissão ao CMS imediatamente
S1 e S2) e após a submissão aos estressores nas sessões seguintes.
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Figura 5. Frequência de respostas sobre o número de reforços obtidos nas sessões operantes em esquema
concorrente de intervalo variável, antes, durante e depois do CMS.
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no peso corporal durante o CMS. Além disso, alimento foram realizadas de acordo com o
durante o CMS houve aumento no consumo protocolo proposto por Willner et al. (1987).
diário de água e ração. A estabilidade do peso Assim, parece que o aumento episódico no
nessa fase pode estar relacionada ao aumen- consumo de água e ração durante o CMS
to no consumo de água e ração. O aumento pode estar associado à combinação de priva-
no consumo de água e ração pode estar as- ção de água e ração apresentada aos sujeitos
sociado a um comportamento compulsivo de forma intermitente.
alimentar episódico, geralmente associado à Depois do CMS, os sujeitos apresentaram
privação intermitente e à apresentação de es- aumento no peso corporal. Esse resultado é
tímulos aversivos (Boggiano et al., 2007). semelhante aos encontrados nos estudos de
Boggiano et al. (2007) mostraram que ra- Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues
tos submetidos a estímulo aversivo severo após (2005), que submeteram os sujeitos às sessões
período de privação de alimento apresentaram operantes em esquema concorrente de razão
aumento no consumo de ração. Para os auto- fixa. Esses autores atribuíram a recuperação do
res, o comportamento compulsivo alimentar, peso à situação de controlabilidade em que os
ou binge, pode ser induzido por associação en- sujeitos foram submetidos. Dolabela (2004)
tre a apresentação de estímulo aversivo e a pri- ressalta que a recuperação foi mais rápida en-
vação intermitente de ração. Os autores ressal- tre os sujeitos submetidos às sessões operantes
tam que o acréscimo na ingestão de alimento durante as três fases do experimento (antes,
não aumentou o peso corporal dos sujeitos. durante e depois do CMS). Comparando os
Considerando essa discussão, a estabilida- resultados desta pesquisa com as realizadas por
de do peso e o aumento no consumo de água Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues
e ração durante a exposição ao protocolo de (2005), parece que a submissão dos sujeitos
estresse podem ter ocorrido em decorrên- ao esquema concorrente com componentes
cia da exposição ao conjunto de estímulos de intervalo variável promoveria estabilidade
aversivos e da privação intermitente de água no peso corporal durante o CMS, diferente
e ração composta no protocolo. Talvez seja dos sujeitos submetidos ao esquema concor-
por essa razão que Thomaz (2001), Dolabela rente com componentes de razão fixa. No
(2004) e Rodrigues (2005) não observaram esquema de razão fixa, os sujeitos perderam
o aumento no consumo de água e ração. Nos peso durante o protocolo de estresse.
três estudos, a privação de água durante o Entretanto, a estabilidade do peso duran-
protocolo de estresse não se diferenciou da te o CMS e o aumento após a suspensão do
realizada antes e depois do CMS. Os sujeitos protocolo também podem estar associados ao
ficavam privados de água a fim de manter o consumo de solução de sacarose durante as
peso corporal a 85% ad lib durante todo o sessões operantes. Neste estudo não houve um
experimento. Durante o CMS, os sujeitos fo- grupo de sujeitos que tivesse sido submetido
ram submetidos à restrição de ração, durante ao CMS e recebido solução de sacarose sem
três períodos na semana (ver Tabela 1), con- a exposição às sessões operantes. Além disso,
forme proposto no protocolo. Já no presente até onde se pode observar, na literatura não
estudo, tanto a privação de água quanto a de há um estudo que tenha realizado tal pro-
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cedimento. Em um próximo estudo, poderia ram que a submissão dos sujeitos a uma situa-
ser acrescentado um grupo de sujeitos que ção de controlabilidade atenuaria ou retarda-
fosse submetido ao CMS e que recebesse a ria os efeitos de anedonia proposta por Willner
mesma quantidade (em mililitros por quilo- et al. (1987) em decorrência da exposição ao
grama) de solução de sacarose que os sujeitos CMS. Entretanto, parece que a exposição dos
submetidos às sessões operantes receberiam sujeitos a um esquema de intervalo variável
durante esse procedimento, controlando o antes da exposição ao CMS, além de atrasar a
peso corporal individualmente. Desse modo, diminuição no consumo de líquidos, também
a única diferença entre esses dois grupos seria pode provocar aumento no consumo duran-
em relação ao realizado nas sessões operantes. te essa fase. A submissão dos sujeitos a uma
Além do peso corporal, outra variável situação de controlabilidade em esquema de
importante para medir os efeitos produzidos intervalo parece dificultar o aparecimento de
pela exposição aos estímulos aversivos nos anedonia (diminuição no consumo) com as
estudos com CMS é o consumo de água e características descritas nos estudos realizados
solução de sacarose apresentado nos testes de por Willner et al. (Willner, 1997; Willner et al.,
consumo e preferência de líquidos. 1987). Além disso, o aumento no consumo de
Nos testes de consumo e preferência de líquidos durante o CMS é diferente do que é
líquidos, observou-se que a ingestão de água observado nos estudos que utilizaram esque-
e solução de sacarose oscilou durante todo ma de razão fixa (Dolabela, 2004; Rodrigues,
o experimento para os sujeitos submetidos às 2005). Nos estudos com razão fixa, os sujei-
sessões operantes, apresentando diminuição no tos, mesmo tardiamente (próximo ao término
consumo de solução de sacarose apenas pró- do protocolo), tiveram uma redução do con-
ximo ao término do CMS. Durante o CMS, sumo de água e solução de sacarose. Nesses
os sujeitos apresentaram aumento no consu- dois estudos, o consumo de água e solução de
mo total de líquidos e uma menor oscilação sacarose foi menor durante o CMS do que
na preferência por sacarose, comparado com nos outros dois períodos de avaliação.
o consumo antes e depois da exposição ao Em relação aos resultados obtidos em es-
protocolo de estresse, embora tenham apre- quema concorrente, observou-se que o nú-
sentado uma redução no final da exposição ao mero de reforços obtidos em ambas as mag-
CMS. Nos estudos realizados por Willner et al. nitudes (solução de sacarose ou água pura)
(1987), durante o CMS ocorre uma redução foi semelhante durante todo o experimento.
no consumo de sacarose. Tal redução indica Durante e depois do CMS, houve um dis-
a característica de anedonia desenvolvida pela creto aumento nas respostas de pressão na
exposição aos estímulos estressores. Parece que barra por reforço obtido correspondente à
a exposição às sessões operantes em intervalo água em detrimento da correspondente à
variável interferiu nesse efeito, impedindo a sacarose, diferentemente dos resultados ob-
observação de anedonia medida pelos testes tidos pelos sujeitos submetidos ao esquema
de consumo e de preferência de líquidos. de razão fixa (FR) nos estudos de Dolabela
Os resultados obtidos por Thomaz (2001), (2004) e Rodrigues (2005). Essa diferença
Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) mostra- pode ter ocorrido em decorrência das carac-
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terísticas dos esquemas. O esquema de razão os efeitos dos estímulos aversivos. Durante o
fixa pode ter produzido uma maior taxa de protocolo de estresse, os sujeitos da pesquisa
resposta por uma das alternativas, já que o de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) apre-
custo de resposta era o mesmo em ambas. sentaram redução no número de respostas
Assim, o próprio esquema pode ter determi- emitidas na barra correspondente à sacarose,
nado a permanência (sequência de respostas) mas em nenhum momento foi menor do
maior no esquema alocado à solução de sa- que na correspondente à água. A redução no
carose. Todos os sujeitos desta pesquisa apre- número de resposta chegou a 24% no estudo
sentaram maior frequência de respostas na de Dolabela e 33% no estudo de Rodrigues.
barra correspondente a sacarose quando o Antes do protocolo, a taxa de resposta era de
valor do intervalo era dois e cinco segundos, 100% na barra correspondente à sacarose.
antes da exposição ao CMS. Ainda no perío-
do de avaliação, quando o intervalo variável Referências
foi aumentado para 10 segundos, os sujeitos
apresentaram oscilação na frequência de res- Banaco, R. A. (1988). A igualação como resultado da
postas entre a barra correspondente à saca- escolha (do experimentador). (Tese de doutorado).
rose e a correspondente à água. Entretanto, Instituto de Psicologia da Universidade de São
as taxas de respostas foram maiores na barra Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
correspondente à sacarose. Quando avaliada Boggiano, M. N., Artiga, A. I., Pritchett, C. E., Chan-
a preferência do sujeito durante e depois da dler-Laney, P. C., Smith, M. L., & Eldridge, A. J.
exposição ao protocolo de estresse, a oscila- (2007). High intake of palatable food predicts
ção na taxa de resposta em ambas as barras binge-eating independent of susceptibility to obe-
mostra que não houve uma preferência com sity: An animal model of lean vs. obese binge-
as características apresentadas nos estudos eating and obesity with and without binge-eating.
com FR. Esse resultado mostra que o tipo de Internacional Journal of Obesity, 31, 1357-1367.
esquema de reforçamento empregado pode Di Chiara, G., Loddo, P., & Tanda, G. (1999). Re-
interferir quando se pretende analisar a res- ciprocal changes in prefrontal and limbic dopa-
posta operante sob o CMS. mine responsiveness to aversive and rewarding
Parece que a submissão dos sujeitos ao stimuli after chronic mild stress: implications for
CMS provoca alteração na preferência por the psychobiology of depression. Bio Psychiatry,
sacarose quando medida pela taxa de resposta. 15, 1624-1633.
Nos estudos com CMS, a anedonia tem sido Dolabela, A. C. F. O. (2004). Um estudo sobre as pos-
avaliada pelo consumo de líquidos. Entretan- síveis interações entre o chronic mild stress e o de-
to, poderia também ser investigada pela taxa sempenho operante. (Dissertação de mestrado).
de resposta. Além disso, parece que, para retar- Programa de estudos Pós-graduados em Psico-
dar ou reduzir os efeitos do CMS, não basta logia Experimental: Análise do comportamento,
submeter os sujeitos a uma situação de con- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
trolabilidade. A maneira pela qual o reforço é São Paulo, SP, Brasil.
liberado pode fazer com que essa seja a variá- Forbes, N. F., Stewart, C. A., Matthews, K., & Reid,
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