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ATIVIDADE PEDAGÓGICA NÃO PRESENCIAL

DISCIPLINA: REDAÇÃO
PROFESSOR: Andreia Tomé de Oliveira
TURMA: 1º TAI I, TAI II, TAI III, TAI IV
PERÍODO: 7ª QUINZENA de 17/08/20 a 21/08/20
CURSOS: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio
LINKS: para assistir à videoaula sobre CRÔNICA: https://www.youtube.com/watch?v=0Gp6_6mugzs
ATIVIDADE PARA LEITURA E REFLEXÃO DE CRÔNICAS DE VARIADOS AUTORES
Refletindo sobre as crônicas
¨O nascimento da crônica¨
Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como
um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua,
outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas,
entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma diria que não pudera
comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias
amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica. [...] (Machado de Assis)
“A crônica é algo para ser lido enquanto se toma o café da manhã, pois ela busca o pitoresco ou o irrisório no cotidiano de cada um. É o fato miúdo: a notícia em
que ninguém prestou atenção, o acontecimento insignificante, a cena corriqueira. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo
humano. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nessa perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança, num incidente
doméstico, torno-me simples espectador”.
Fernando Sabino. (Trecho presente em COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica: 2008.)
Leia as crônicas com atenção:
Escolha 1 delas para explicar o que você entendeu sobre a reflexão apresentada pelo cronista.
CRÔNICA 1
A Bola
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora
não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!". Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho.
Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
- Como é que liga? - perguntou.
- Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho. - Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros.
- Não precisa manual de instrução.
- O que é que ela faz?
- Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
- O quê?
- Controla, chuta...
- Ah, então é uma bola.
- Claro que é uma bola.
- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
- Você pensou que fosse o quê?
- Nada, não.
O garoto agradeceu, disse "Legal" de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame.
Algo chamado Monster Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de bip ele-trônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se
destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conse-guiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
- Filho, olha.
O garoto disse "Legal", mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mental-mente o cheiro de couro. A
bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar. (Luis Fernando Verissimo)
CRÔNICA 2
A Nuvem
Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar!
E meu amigo falou de água, telefone, Light em geral, carne, batata,transporte, custo de vida, buracos na rua, etc., etc., etc.
Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer?
Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quemé que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver
suas queixas no jornal, mas em termos. Além disso, a verdade não está apenas nos buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade que as amendoeiras neste
inverno deram um show luxuoso de Folhas vermelhas voando no ar? E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que
esses encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e
gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as cinzas de meu
crepúsculo.
E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga.
Deixe a nuvem, olhe para o chão—e seus tradicionais buracos. (Rubem Braga)
CRÔNICA 3
Despedida
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma
separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É
melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se
despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será
odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão;
mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos.
O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro
inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações?
Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra:
adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo. (Rubem Braga)
CRÔNICA 4
Feliz por Nada
Geralmente, quando uma pessoa exclama Estou tão feliz!, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os
quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades
envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.
Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque
alguém o elogiou.
Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de
dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.
Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.
Feliz por nada, nada mesmo?
Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza.
“Faça isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia
o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo
igual. Porque felicidade é calma.
Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me
meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se
torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo
tempo ser livre.
Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho
seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso. ( Martha Medeiros)
CRÔNICA 5
A arte do assaltado
Saio da padaria e ando rapidamente até o carro. Quero chegar em casa antes da novela. Eles se aproximam quando abro a porta. Percebo imediatamente que não
perderei apenas a novela mas também o carro. Já estou suficientemente treinado para entregar as chaves antes que falem qualquer coisa. Olho para os dois,
mantenho a calma e digo:
- Tu-tu-do-be-bem!
Sou obrigado a ir no banco do lado. Indico o caminho que leva diretamente à periferia. Ofereço os pãezinhos:
- Aproveitem, estão quentinhos.
Eles me olham, simpáticos. Faço tudo para que o clima seja o mais agradável possível. tento contar uma piada, mas ninguém ri. Sou deixado num viaduto. Gentis,
eles garantem que só querem o veículo para uma fuga. Poderei encontrá-lo no outro dia. Levam os pãezinhos. Quando se vão, respiro fundo. Vitória! Os ladrões
ficaram satisfeitos. Nunca mais achei o carro, mas fui elogiado por todos os amigos porque me comportei bem. É uma loucura. A rapinagem está atraindo tal
número de meliantes em início de carreira que o assaltado é quem deve administrar o roubo.
Uma amiga minha, psicóloga, foi retirar dinheiro num caixa automático de uma avenida importante. Início de noite, e o local tinha movimento. Ao sair, abriu
cordialmente a porta para o adolescente bem vestido que o esperava. Era o assaltante. Empurrada para dentro por ele e um comparsa, foi obrigada a conduzir o
assalto contra ela mesma. Ensinou os dois a usar o cartão magnético e tentou acalmá-los, porque estavam nervosos. Depois explicou que entendia a situação e
não tinha nada contra o fato de ser roubada, algo tão normal atualmente. Até avisou: -- Escondam o revólver, que a polícia está passando.
Tornou-se a cúmplice perfeita. Discordou da ideia de irem embora a pé. Mostrou onde tinha estacionado. Em compensação, negociou o dinheiro do táxi.
E quando a casa é invadida? Um casal que conheço foi mestre na arte de receber diante das escopetas.
- Querem um café enquanto meu marido abre o cofre? Ou preferem uma refeição? -- ela ofereceu.
Um deles quis uísque. O marido sugeriu:
- Meu filho, não beba. Você vai ter de fugir, a rua tem policiamento. É arriscado. Leve a garrafa.
O líder agradeceu o palpite e pediu bifes. Ao mesmo tempo em que os dois rapazes acompanhavam o proprietário em busca de valores, a mocinha de expressão
selvagem foi à cozinha com a hostess. Depois de séculos longe das panelas, esta fez um jantar sofisticado. Serviu na mesa de jacarandá. O casal comeu junto. A
certa altura, ela comentou, charmosa:
- Desculpem, mas foi só um cardápio rápido. Se pudesse, teria feito uma receitinha francesa que vocês iriam adorar. Mas leva tempo. quem sabe...
Todos se olharam. Quem sabe uma outra vez, quis ela dizer? Os da rapina ficaram constrangidos. Um deles foi delicado:
- Não esquenta, dona. Tá muito bão. Despediram-se cortesmente. (...) (Walcyr Carrasco)
RESPOSTAS:
QUAL A CRÔNICA
QUE VOCÊ QUAL A REFLEXÃO APRESENTADO PELO CRONISTA ?
ESCOLHEU?

Sugestões de Referências:
CEREJA, William Roberto. Português contemporâneo: Diálogo, reflexão e uso, vol. 2 / William Roberto Cereja, Carolina Assis Dias Viana, Christiane Damiem
Codenhoto. 1. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
Sugestões de Sites para pesquisa:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28409
https://arteemanhasdalingua.blogspot.com/2019/11/atividade-sobre-o-texto-arte-do.html
https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/10795/nuvens
Disponível em: http://www.releituras.com/machadodeassis_menu.asp
https://receitasdeportugues.wordpress.com/2010/04/23/cronicas-escolares/
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=7243
https://drive.google.com/viewerng/viewer?url=http://ler-agora.jegueajato.com/Rubem+Braga/Ai+de+ti,+Copacabana+(473)/Ai+de+ti,+Copacabana+-
+Rubem+Braga?chave%3D1677cfea7cb1b4e721f78316a481fd9c&dsl=1&ext=.pdf
http://lelivros.love/book/baixar-livro-ai-de-ti-copacabana-rubem-braga-em-pdf-epub-e-mobi/

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