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CURSO: PSICOLOGIA

DISCIPLINA: DESENVOLVIMETO HUMANO II - DA ADULTEZ A


SENESCÊNCIA

PROFESSORA: PATRICIA RUTISATZ

TRABALHO DE GRAU A:

RESENHA CRÍTICA SOBRE O FILME “DIVÔ

ALUNOS:

DÉBORA DOS SANTOS BOHRER


EDUARDO DA SILVA CARVALHO
ÉMERSON COSTA DA ROSA FONTENELE DE MELO

PORTO ALEGRE, SETEMBRO DE 2022


RESENHA CRÍTICA DO FILME “DIVÔ

O filme Divã teve sua estreia no ano de 2009. Conta a história de


Mercedes, interpretada pela atriz Lilian Cabral, uma mulher de 40 anos que
vive as voltas com as alegrias e desafios da sociedade contemporânea.
Casada e mãe de dois filhos, Mercedes decide, mesmo sem saber bem o
porquê, procurar um terapeuta. E, assim, o que antes era apenas uma
curiosidade, se transforma em uma experiência devastadora, que provoca uma
série de mudanças em sua vida cotidiana.  Começa a questionar o seu
casamento, a realização profissional e seu poder de sedução. A melhor amiga
Mônica, a companheira de todos os momentos, vê de perto a transformação de
Mercedes e participa de suas novas experiências e descoberta, apesar de nem
sempre concordar com suas escolhas. As revelações dela para o analista,
assim como as conversas com a melhor amiga, dão novo rumo à vida de
Mercedes que a princípio parecia boa, estável, mas sem grandes emoções.

No paragrafo acima trouxemos uma breve sinopsia sobre o filme. Em


vista do exposto desenvolvemos essa resenha crítica trazendo algumas
reflexões e conexões com o que já estudamos até aqui referente a adultez
intermediaria contemporânea. Queremos apresentar dois aspectos que
achamos importantes salientar nesses escritos, que são: 1º ser eternamente
jovem e 2º a questão do luto (morte).

Nas cenas iniciais, Mercedes havia sido convidada por sua amiga para ir
a uma atividade, um bingo. A amiga não aparece e Mercedes se vê em um
lugar onde a maioria das pessoas pareciam ser idosas. Percebemos que isso
lhe trazia um desconforto. Uma das senhoras se aproximou para conversar
com ela, percebemos que Mercedes estava entediada com a conversa, e mais
de uma vez tentou se esquivar da referida mulher. A Senhora falou o quanto se
achava parecida com ela, até na maneira de se vestir. Quando chegou em
casa apresentou-se verborreica com o esposo que no momento estava
assistindo o jogo do final do brasileirão e não lhe deu a atenção devida.
Mercedes ao perceber que tinha um acessório de vestuário parecido com o da
Senhora do bingo dá um grito demonstrando espanto. Identificamos através
dessas cenas aqui descritas a dificuldade de aceitação no momento do ciclo
vital em que se encontra, ou seja, de uma mulher acima dos 40 anos. Podemos
fazer uma breve análise em cima do artigo de Virginia Moreira e de Fernanda
Nícia Nunes Nogueira intitulado “DO INDESEJÁVEL AO INEVITAVEL: A
EXPERIÊNCIA VIVIDA DO ESTIGMA DE ENVELHECER NA
CONTEMPORÂNEIDADE”. Tal artigo fala sobre envelhecer em um cenário
marcado pelo culto a juventude e a beleza, que impõe um padrão estético
como ideal a ser conquistado por todos. Isso vemos a partir do momento em
que a protagonista do filme tem um relacionamento extraconjugal, isso com um
homem aparentemente um pouco mais jovem que ela, protagonizado pelo ator
Reinaldo Janequin. Desde então Mercedes quis dar um novo look a aparência,
como um corte de cabelo desfiado e vestimentas estravagantes. Segundo
Moreira & Nogueira (2008):

A prática clínica psicoterápica permite constatar o quão difícil é, para


a maioria das pessoas, aceitar o curso natural do envelhecimento.
Para muitos pacientes, os sinais de amadurecimento são vivenciados
com muita aflição, tornando as pessoas bastante vulneráveis [ao
medo de envelhecer. (pg. 60.)
Além do mais, pode ser identificado o adultecer (comportamento
adolescente) na cena em que Mercedes e seu amante estavam fumando
canabis e a referida tendo uma crise de risadas bizarras, que provavelmente
poderiam ser ocasionadas pelo efeito do barato da canabis.

Após o seu divórcio com o seu cônjuge, entra em outro relacionamento


com um rapaz de 19 anos, personagem interpretado pelo ator Cauã Reymond.
Pede algumas orientações para a jovem filha de sua melhor amiga Mônica, de
como agir, falar gírias da juventude para impressionar seu novo “krunchi”.
Outra vez pode ser observado a situação de adultecer na sena descrita neste
parágrafo.

Também segundo Moreira & Nogueira (2008):

... Com suporte médico, tecnológicos e mercadológicos, induz-se ao


surgimento de “uma nova velhice”, experienciada por homens e
mulheres que ganham mais tempo de vida, primam por uma
aparência mais jovem, adotam novos valores e revelam
comportamentos identificados com de gerações mais novas. (p. 63.)
Tal passagem mencionada acima pode ser vista no filme, como os
cuidados estéticos, tanto no salão de beleza, como no uso de cosméticos para
ativar o colágeno da pele e nos modelitos de roupas mais joviais utilizados pela
protagonista e sua amiga.

Outro aspecto do filme que pode ser observado foi a questão dos lutos,
alguns referentes a mortes que ocorreram no filme, a morte da mãe de
Mercedes em sua infância e depois a morte de sua melhor amiga na idade
adulta. Segundo Bee (1997)

Como adulto você compreende que a morte é irreversível, que chega


para todos e que significa a interrupção de todas as funções. Mas
quanto ás crianças, contudo, desde quando compreendem este
aspecto da morte? Resultado de uma infinidade de estudos sugerem
que crianças em idade pré-escolar não costumam compreender
qualquer desses aspectos sobre a morte. Elas acreditam que a morte
pode ser revertida, seja pela oração, mágica ou pensamento
expressando desejo, creem que pessoas mortas podem ainda ter
sensações ou respirar, acreditam que a morte pode ser evitada por,
pelo menos, certas pessoas, como os espertos ou sortudos, ou os
membros de sua própria família. (p. 584.)
Nas duas situações de mortes que Mercedes vivenciou em diferentes
momentos do seu ciclo vital pudemos observar as reações emocionais.
Referente a morte da sua mãe, na sua infância, não havia expressado seus
sentimentos, estava observando tudo o que estava ocorrendo no velório, na
idade adulta referiu ao seu analista que chorou por ver seu pai desolado com o
falecimento de sua mãe. Já na morte de sua melhor amiga, Mônica, que
faleceu em decorrência de um câncer estava muito desolada, chorou muito.

Diferente da morte da mãe, que ela não mencionava na terapia, mesmo


que impulsionada pelo terapeuta em falar, ela se manteve alienada, não falava
sobre o assunto. Mas com a morte de Mônica teve uma postura diferente, falou
intensamente da situação, e impactada falou que naquele momento estava
falando da amiga no presente, mas que a partir de então se referiria a ela no
passado, situação que percebemos trazer dor para Mercedes. Mais uma vez
começou a repensar na vida e nas pequenas coisas, da importância de falar as
coisas, como agradecer alguém pela contribuição que pode trazer para a sua
vida. Trazemos aqui um trecho do livro de Prado & Zanonato (2010): “Tudo que
se souber sobre a morte não resolverá o problema para a vida, a morte sempre
é uma derrota”. (p. 87)
A morte faz parte da natureza humana, está imbricada e se manifesta
como fator condicionante em muitas situações. Hipoteticamente acreditamos
que Mercedes possa ter tido um luto mal elaborado referente a morte de sua
mãe. Mas referente a sua amiga pode elaborar e vivenciar todos os processos
do luto. Pois não conseguimos fugir da face da morte, em algum momento da
vida nos depararemos com ela. Mas existe um diferencial, o de como cada
pessoa lida com ela. E de como nos portamos frente a essa temática tão
complexa e assustadora, que é viver com o conhecimento da morte, pois ela
também está presente no ciclo vital de todos os organismos vivos. Diferente
dos demais seres o homem é um ser pensante, e pode se projetar e se
ressignificar em frente o tema da morte e do morrer. Segundo Prado &
Zanonato (2010): “Poder terminar a vida com dignidade e deixar os filhos e
demais familiares bem-organizados, além de poder fazer uma boa despedida
da vida, é uma conquista muito especial”. (p. 95).

Diante do exposto nesses escritos fazemos o fechamento da resenha


crítica do filme, onde podemos observar os diferentes momentos de vida,
vivenciados por Mercedes em diferentes momentos de sua vida e na terapia
que foi um suporte estimulante para o seu desenvolvimento como pessoa
adulta intermediaria em meio ao mar revolto de uma sociedade contemporânea
complexa.

REFERÊNCIA:

BEE, Helen. O Ciclo Vital. Porto Alegre: Artmed, 1997.

ZANONATO, Adriana & PRADO, Luiz Carlos. Trabalhando Com Crianças E


Suas Famílias Casos Clínicos Ilustrados. Porto Alegre, 2010.

MOREIRA, Virginia; NOGUEIRA, Fernanda Nicia Nunes. DO INDESEJÁVEL


AO INEVITAVEL: A EXPERIÊNCIA VIVIDA DO ESTIGMA DE ENVELHECER
NA CONTEMPORÂNEIDADE. 2008.

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