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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

FISIOTERAPIA

Psicologia Aplicada à Saúde

Relatório: A Partida Final

Ana Clara da Costa Santos

DIVINÓPOLIS – MG

2021
Todos sabemos que um dia estaremos diante da morte, de que é a nossa “única
certeza” como costumamos dizer, mas mesmo com essa certeza diante de nós,
sempre tentamos fugir dela e de até conversarmos sobre tal. Tanto que fazemos
de tudo para mantermos jovens – sinônimo de vida longa.

O documentário “A Partida Final”, originalmente intitulado “End Game”, retrata


os momentos finais de pacientes com doenças terminais e de como eles e seus
familiares lidam com a ideia da morte. Eles são acompanhados pelo médico B.
J. Miler que já viu a morte de perto aos dezenove anos, no Zen Hospice, um
projeto que busca literalmente, prepará-los para esse momento de forma
delicada, mas direta.

Um hospice não é um local específico, mas sim uma palavra que traz o conceito
e a filosofia dos cuidados paliativos.

O documentário mostra pelo Zen Hospice que o cuidado paliativo não é sobre
curar e sim sobre cuidar. É sobre querer que a pessoa tenha uma melhor
qualidade de vida pelo maior tempo possível mesmo em seus momentos finais
e que ela tenha uma morte digna.

A paciente mais assistida, chamada Mitra, que enfrenta um câncer rápido e


devastador é angustiante, pois seus familiares não conseguem entrar em
consenso em relação as decisões necessárias, pois ela já não consegue mais
responder por si mesma. Além disso, eles não conseguem aceitar que Mitra irá
morrer. Então os cuidados paliativos além dos cuidados “tradicionais”, busca
orientar não só os pacientes, mas também seus familiares com apoio psicológico
e atendimento individualizado. Buscando ajudar o paciente e seus familiares a
lidar com a morte.

Uma conversa que me chamou muito a atenção foi entre o médico J. B. Miler e
Thekla Hammond, uma paciente que foi “morrer em casa” que é assim: “Ser
amiga da morte pode ser muito difícil. Mas, acho que o que eu quis dizer é pra
você tentar se relacionar com ela, com esse assunto. Não precisa virar amiga
dela, é só pra se tornar um pouco menos assustadora que esse monstro
desconhecido que a gente nunca olha, nunca vê, nunca toca.” “Sabe, eu acho
que a parte assustadora é o desconhecido e a falta de controle” “E o
desconhecido significa: Como é estar morrendo? ou Como vai ser quando eu
estiver morto? Se não dá pra mudar isso talvez possamos nos acostumar um
pouco com a ideia.” E o que eu entendo, é isso que o projeto tenta trazer, o fato
de aceitarmos a morte, de que um dia todos nós iremos de encontro a ela, não
significa que vamos deixar de sofrer, mas que deixaremos de ter medo e de nos
desligarmos da vida.

“A Partida Final” valoriza bastante o trabalho de cuidados paliativos. A produção


do documentário confere tempo e espaço generoso para que os profissionais
discorram aos interessados sobre as melhores formas de conduzir esse
momento angustiante para todos, principalmente sobre esse medo que se tem
da morte, tanto própria quanto da de quem amamos.

Dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman não tem o intuito de nos trazer
calmaria e sim de nos fazer refletir sobre a nossa relação com a morte. É sobre
conhecer um lado da humanidade que não podemos tocar até que chegue nossa
hora. É buscar sentido e de certa forma um acalento para que possamos
enfrentar da melhor maneira possível e nos tornar mais conscientes da
existência e da beleza de aproveitarmos o tempo que cada um de nós temos.

É possível notar a diferença entre a despedida de Mitra que estava o tempo todo
no hospital e a dos pacientes do Zen Hospice. Enquanto a despedida dela foi
algo muito focado na dor dos familiares em que, principalmente a mãe apesar de
estar farta de ver a filha definhando na cama de um hospital, não queria aceitar
que ela morresse, além de o filho ter sido deixado de lado nesse momento.
Parece que o ambiente hospitalar deixou tudo isso ainda mais pesado. Já os
pacientes do hospice, apesar de mergulhados na dor e melancolia, era notória
uma tranquilidade e um certo conforto de todos no momento final.

Refletir sobre a morte é importante e o luto deve ser vivido. E o documentário


nos leva a essa reflexão de forma abrupta, mas sutil ao mesmo tempo, pois leva
o espectador a um lugar de empatia preservando a intimidade alheia.

Para mim, foi difícil assistir sem deixar que se misturasse com a minha dor de
perder quem a gente ama. Assistir alguém morrer de uma vez ou aos poucos
não é algo fácil em nenhum lugar do mundo. E nunca será. Por mais, que
dissemos que não queremos que aquela pessoa continue sofrendo também
somos egoístas a ponto de não querer sofrer por não a ter mais entre nós. Mas
é possível tornar esse processo um pouco menos doloroso e pavoroso, pois
todos nós teremos de passar por tal.

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