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Aceito a morte como parte da vida e tomo todas as providências e

condutas para oferecer ao meu doente a saúde, definida aqui como o


bem-estar resultante do conforto físico, emocional, familiar, social e
espiritual.

kalotanásia: a morte «bela»

O processo de morrer pode ser muito doloroso para a maioria das


pessoas, principalmente pela falta de conhecimento e habilidade dos
profissionais de saúde ao conduzir esse tempo sagrado da vida humana.

Nem todos os médicos que trabalham com doentes


terminais sabem cuidar de doentes terminais.

A empatia tem o seu perigo; a compaixão, não. A compaixão vai além


da capacidade de se colocar no lugar do outro; ela permite-nos
compreender o sofrimento do outro sem que sejamos contaminados por
ele. A compaixão protege-nos desse risco. A empatia pode acabar, mas a
compaixão nunca tem fim. Na empatia, às vezes cega de si mesma,
podemos ir na direção do sofrimento do outro e nos esquecermos de nós.
Na compaixão, para irmos ao encontro do outro, temos de saber quem
somos e do que somos capazes.

A empatia permite que nós nos coloquemos no lugar do outro e


sintamos a sua dor, o seu sofrimento. A compaixão leva-nos a
compreender o sofrimento do outro e a transformá-lo.

No momento em que
estamos ligados ao outro e dizemos, do fundo do nosso ser, da nossa
essência, «que aconteça o melhor», isso é poderoso. Acontece o melhor,
e é rápido.

Infelizmente, na nossa cultura falta maturidade, integridade, realidade.


O tempo acaba, mas a maioria das pessoas não percebe que, quando olha
o relógio repetidas vezes à espera do fim do dia, na verdade está a
desejar que o tempo passe mais rápido e a sua morte se aproxime mais
depressa. Mas o tempo passa no tempo dele, indiferente ao desejo para
apressar ou retardar sua velocidade.

Quando passamos a vida à espera do fim do dia, do fim de semana,


das férias, do fim do ano, da reforma, estamos a torcer para que o dia da
nossa morte se aproxime mais rápido.

A vida acontece todos os dias, e poucas vezes


as pessoas parecem dar-se conta disso

a. A compreensão do que é o processo de morrer facilita


muito a vida de quem está a cuidar.

A condição terminal não é tempo, e sim uma condição clínica que advém
de uma doença grave, incurável, sem possibilidade de controlo, e diante
da qual, impotente, a medicina cruza os braços.

Quando cada uma das células se dá


conta de que o seu tempo aqui está a terminar, esforça-se por mostrar,
pela última vez, o seu melhor estado de funcionamento.
De repente, todo o seu corpo funciona bem. O que
acontece com a pessoa?
Ela funciona bem, também. É a famosa visita da saúde, as melhoras
antes da morte, a bela força da última chama da vela

A morte, do outro ou nossa, será uma rara, ou até


única, experiência de estarmos verdadeiramente presentes na nossa vida.

O que mata é a doença, e não a verdade sobre a doença.A palavra que mata é a
palavra mal utilizada.

Quando dou ao doente a chance de saber sobre a gravidade da sua


condição, essa verdade traz a oportunidade da pessoa aproveitar o tempo
que lhe resta de maneira consciente, com o protagonismo da sua vida, da
sua história. Ao poupar alguém da verdade, não estamos
necessariamente a fazer o bem àquela pessoa.

O desafio de quem quer


estar ao lado de uma pessoa que está a morrer é saber transformar o
sentimento dela em algo de valor. Transformar o sentimento de fracasso
diante da doença num sentimento de orgulho pela coragem de enfrentar
o sofrimento de finitude.

«Quando estamos perdidos, encontramos lugares


que, se soubéssemos onde estavam, jamais teríamos encontrado.»
Aproveitemos o tempo em que nos perdemos. Permanecer ao lado de
alguém que está a morrer fará com que experimentemos essa sensação
de estar perdidos muitas vezes. Não é o caso para fugir. É nesse espaço
de tempo que conheceremos caminhos absolutamente inéditos dentro de
nós mesmos para chegar a um lugar incrível: a vida.

o. Sagrado é aquilo que fazemos e em que


acreditamos, mesmo que não recebamos nenhuma vantagem por isso,
mesmo que sejamos prejudicados. Integridade é a medida do que
acreditamos e expressamos. Aquele que pensa e sente diferente do que
diz e faz é um ser em desintegração.

Se temos fé em Deus, e
fé em que ele fará o melhor por nós, não importa o que aconteça,
teremos a certeza de que foi o melhor que podia acontecer.

A expectativa da perda, mesmo que ela não ocorra, ou a experiência


da perda só se tornará menos dolorosa se ao longo dela nos entregarmos
e nos transformarmos, e, se possível, se tivermos a oportunidade de
transformar o outro.

O que tem de vir connosco das histórias passadas é a transformação


que elas nos proporcionaram. Não levemos a história, e sim o produto da
história... E a história só terá um produto se tiver mesmo havido um
encontro, se realmente mergulhamos nela por inteiro.

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