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Marraio
Revista interdisciplinar de psicanálise com criança
A clínica soberana
Formações Clínicas
do Campo Lacaniano
Rio de Janeiro
Sumário
Editorial 9
Maria Anita Carneiro Ribeiro
artigo
clínica
O menino de penas 35
Rainer Melo
Miguilim e as letras 53
Maria Claudia Formigoni
pesquisa
conexões
Editorial 9
Maria Anita Carneiro Ribeiro
article
practice
research
conexions
9
O tempo lógico da adolescência1
Glória Sadala
Marinela Couri
Andréa Magre
André Barcauí
Susana Sabbá
11
ração e de elaboração de escolhas. Os modelos identificatórios idealiza-
dos da infância vacilam na adolescência e já não é mais possível negar
a falta no Outro. O sujeito adolescente se vê diante da constatação de
que o objeto nunca propicia a satisfação plena e que a tão almejada
completude jamais será alcançada.
Na contramão dos discursos jurídico e biológico, que sustentam a
adolescência como uma fase cujas fronteiras são delimitadas pela idade,
a psicanálise não cessa de perguntar: que tempo é esse que ultrapassa o
cronológico e que representa, para o sujeito, uma travessia turbulenta,
marcada por tantas transformações? É possível estabelecer um tempo
limite para essa passagem, feita de maneira tão singular por cada um?
O caso clínico que segue ilustra como as questões próprias à ado-
lescência podem atravessar toda a vida adulta do sujeito.
A paciente S., de aproximadamente cinquenta anos, procurou o
atendimento do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade
Veiga de Almeida no final de 2009, com a queixa principal relacionada
a depressão e angústia.
O discurso da paciente, ao longo das entrevistas preliminares, se
desenvolveu em torno de uma série de cenas vividas de maneira trau-
mática. Dentre elas, um grave acidente que resultou na perda de um
membro, abalando profundamente a sua imagem. Assim, o acidente
representou um ponto de ruptura na vida da paciente, a partir do qual
o seu corpo passou a evidenciar, em seu contorno, a inegável marca da
perda, da castração. Começando pelo relato do acontecimento trau-
mático, S. desliza por uma cadeia associativa marcada por uma série
de lembranças em torno de grandes perdas sofridas em sua vida, tanto
com relação a seus relacionamentos afetivos quanto no âmbito pro-
fissional. Podemos supor que o significante mais presente no discurso
da paciente seja a perda: perda de um membro, perda do pai, perda
de um emprego, perda de uma condição infantil. É justamente num
momento de luto que a paciente vai à procura de uma análise.
Primogênita de uma família com três filhas, desde pequena
demonstrou aptidão para as ciências exatas. Segundo ela, seus pais
queriam um filho homem, particularmente seu pai, que, no discurso
da paciente, comparece de maneira autoritária. Por isso, ela sempre
sentiu necessidade de provar que, mesmo sendo mulher, poderia ser
Referências bibliográficas