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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

Procuradoria Regional Eleitoral no Estado do Ceará

Processo nº TRE-CE-RE-0600003-22.2021.6.06.0121 (AIME)


0600352-59.2020.6.06.0121 (AIJE)

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RECORRENTE: ANTONIO JUNIOR RIBEIRO, MARIA ELIANE RIBEIRO, MARIA
EDGLEUMA DE SOUSA, CLEITON PRADO CARVALHO E ÓRGÃO PROVISÓRIO DO
PARTIDO SOCIAL LIBERAL – PSL
RECORRIDO: JOSE OSWALDO SOARES BALREIRA JUNIOR

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PARECER

Tratam-se de Recursos Eleitorais interpostos por Cleiton Prado Carvalho,


Partido Social Liberal - Comissão Provisória, Antônio Júnior Ribeiro, Maria Eliane
Ribeiro e Maria Edgleuma de Sousa em face de sentença proferida pelo Juízo da 24ª Zona
Eleitoral do Ceará (Sobral/CE), a qual julgou procedente Ação de Investigação Judicial
Eleitoral proposta por José Oswaldo Soares Balreira Júnior , candidato ao cargo
de Vereador nas Eleições de 2020 do Município de Sobral (CE), contra Partido Social
Liberal – PSL, Maria Eliane Ribeiro, José Norberto Aguiar Rocha, Francisco Pereira de
Abreu, Francisco Rosálio Martins do Nascimento, Francisco Carlos Rodrigues de Sousa,
Juliana Silva do Nascimento, Francisco Acélio de Sousa, José Nilson Paula Nascimento,
Cleiton Prado Carvalho, Francisco Alex Carlos Paiva, Antônio Júnior Ribeiro,
Francisco José de Sousa Cronemberges, Fábio Régis Crispim dos Santos, Marcos
Antônio Marcelino de Sousa, Marcos Antônio Albuquerque Batista, Jeová Rodrigues
Freres Júnior, José Ronaldo Silva, Maria Edgleuma de Sousa, Cristina Maria Nunes de
Sousa, Rosilene Coelho dos Santos, Ediene de Aguiar Portela, Jocier Cruz de Sousa,
Maria Célia Almeida de Aguiar Guimarães, Maria Vaulene Aragão Sousa, Antônio
Alcides Costa Brandão, Francisco José de Sousa Mequita, Josefa Lima Batista,

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Alexandre Silva de Sousa, Edinaldo Castro Teixeira, Francisco Carlos Fernandes de


Almeida, Antônio Serlene Mesquita Paiva e Marcelo Aragão Ribeiro.
Na inicial, o candidato impugnante alegou a ocorrência de fraude à cota de

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gênero, nos termos do art. 10, §3º, da Lei nº 9.504/97 e art. 17 da Res. TSE nº 23.609/19, em
razão de as promovidas Maria Eliane Ribeiro e Maria Edgleuma de Sousa, postulantes ao
cargo de vereadoras do município de Sobral no pleito eleitoral de 2020, tratarem-se de
candidatas fictícias, sendo registradas apenas para cumprir a quota mínima legal exigida para
candidaturas femininas (sabendo que não fariam campanha), incorrendo assim em fraude
eleitoral.
Requereu, com base no exposto, o reconhecimento da fraude, desconstituindo

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todos os mandatos obtidos pelo Partido, dos titulares e dos suplentes impugnados e, por
consequência, considerar nulos todos os votos atribuídos ao Partido investigado.
Após serem devidamente cientificados da propositura da presente demanda, os
imputados apresentaram suas respectivas contestações.
O requerido Antônio Júnior Ribeiro apresentou a contestação, onde confessa
ter indicado sua irmã Maria Eliane e sua cunhada Edgleuma Sousa para preencher a cota
obrigatória de 30% (trinta por cento) de candidatas mulheres, sendo que explicou ao senhor
Cleiton Prado, Presidente do PSL, que elas não iriam fazer campanha de jeito nenhum, pois
ele mesmo seria candidato e elas iriam atrapalhá-lo.
A requerida Maria Edgleuma de Sousa ofereceu contestação, onde afirmou
que foi convidada pelo senhor Antônio Júnior Ribeiro - "Júnior Megassom", a pedido do
Presidente do PSL, para completar o grupo de mulheres candidatas pelo partido. Afirma ainda
que declarou não ter interesse em se candidatar ao cargo, mas que fora convencida pelos
argumentos dos responsáveis pelo PSL de que não necessitaria fazer realmente campanha,
pois iria apenas auxiliar o partido PSL a compor o grupo de mulheres como candidata. Diz
que em nenhum momento sabia que o fato de colocar seu nome como candidata para ajudar o
partido sem realmente ser candidata configuraria alguma fraude.
A requerida Maria Eliane Ribeiro apresentou sua contestação, onde
igualmente confessa que foi convidada pelo Vereador Cleiton Prado, Presidente do PSL de
Sobral, através do seu irmão, Antônio Júnior Ribeiro ("Júnior Megassom"), para que seu
nome fosse utilizado para completar o grupo das mulheres do partido, não sabendo que o

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partido era obrigado a respeitar a exigência legal da cota de gênero de 30% (trinta por cento).
Alega que no ato do convite informou que não teria interesse em se candidatar, posto que seu
irmão já seria candidato, mas foi informada de que o seu nome seria só para completar o

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grupo de mulheres, que não necessitaria fazer campanha e que o partido providenciaria o que
fosse necessário.
Os demais requeridos apresentaram contestação conjunta, onde suscitam a
preliminar de litispendência com o processo nº 0600352-59.2020.6.06.0121. No mérito,
refutaram os termos da inicial e atribuíram as imputações ao desejo do autor alcançar o
objetivo que não conseguiu nas urnas. E concluem pelo acolhimento da preliminar de
litispendência, ou a improcedência da ação.

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Em decisão preliminar (ID 18946777 - Processo nº 0600003-22), o douto juízo
analisou a preliminar de litispendência, julgando por afastar a preliminar suscitada,
determinando audiência de Instrução e Julgamento para colhimento do depoimento pessoal
dos requeridos Antônio Júnior Ribeiro, Maria Edgleuma de Sousa e Maria Eliane
Ribeiro, além das testemunhas previamente arroladas.
Iniciada a fase instrutória da ação, foi efetivada a audiência, ocasião em que
foram tomadas as oitivas das testemunhas da parte impugnada, CARLOS ANTONIO
NEGREIROS MARQUES, KELVE GUARINHO PRADO e KERGINALDO GUARINHO
PRADO.
Alegações finais constantes nos ID's 18979771, 18979807 (AIJE nº. 0600352-
59.2020.6.06.0121).
Em sede de parecer, a douta Promotoria da 24ª Zona Eleitoral - Sobral/CE
manifestou-se pela procedência de todos os pedidos da exordial, uma vez que vislumbrou
efetiva fraude à cota de gênero, corroborada, principalmente, com as confissões das
candidatas fictas.
Na sentença, o Juízo a quo julgou procedente a AIJE com base nos seguintes
fundamentos, in verbis:

[...]
Tais indícios foram corroborados com a CONFISSÃO das
candidatas MARIA EDGLEUMA DE SOUSA e MARIA ELIANE

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RIBEIRO, as quais confessaram a existência de suas candidaturas tão


somente para atingir o número mínimo de candidaturas femininas.

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As ditas promovidas afirmaram que foram convidadas pelo candidato
“Júnior Megassom” a pedido do Presidente do partido PSL, ora promovido,
Vereador Cleiton Prado, ora promovido, para completar o grupo de
mulheres candidatas pelo partido e que dessa forma, seus nomes teriam sido
colocados à disposição.

Asseveraram ainda não haver interesse em se candidatar, acabando por


aceitar em virtude de dos responsáveis pelo PSL terem dito que não haveria
necessidade de fazer campanha, pois a finalidade seria somente compor o
grupo de mulheres, como, de fato, não fizeram.

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Registre-se que a candidata MARIA ELIANE fez campanha para seu irmão
Antônio Júnior Ribeiro (Júnior Megassom), cunhado da MARIA
EDGLEUMA.
Consta ainda da confissão que, por orientação do partido, chegou a tirar foto
de campanha e recebeu “botons” que não foram distribuídos pra ninguém e
estão guardados em sua casa.
O promovido Antônio Júnior Ribeiro (EVENTO 170441675), afirmou que
apresentou os nomes de sua irmã e de sua cunhada com a finalidade de
preencher o número mínimo de candidatura de mulheres (cota de gênero),
ressaltando que o partido e o promovido Cleiton Prado, na condição de
presidente, desde o início, sabiam que não iriam fazer campanha [...]
A confissão das promovidas, sem pontos contraditórios, ostenta o mesmo
relato e, além disso,se encontra amplamente em consonância com a farta
prova documental acostada (ausência de votos, parentesco e propaganda em
favor de um dos candidatos (Antônio Júnior Ribeiro, o “Júnior Megasom”),
ausência de atos de campanha e de gastos com propaganda revelam de
forma inequívoca que as candidaturas foram fictícias e com a única
finalidade de atender ao percentual de cota de gênero.

Portanto, as provas quanto à existência de fraude sobejam nos autos, uma


vez que o art.10, §3° da Lei de Eleições determina que exige o mínimo de
30% (trinta por cento) para um dos sexos e 70% (setenta por cento) para
outro.

Diante das candidaturas fictícias de MARIA EDIGLEUMA e MARIA


ELIANE, o Partido impugnado concorreu com apenas 8 (OITO) candidatas,
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atingindo, somente o percentual de 26%(VINTE E SEIS POR CENTO) em


relação ao número total de candidatos da lista.

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Portanto, existem provas suficientes para a imposição das sanções legais à
grave conduta de fraude no lançamento de candidaturas femininas .
Por fim, há de se considerar, ainda, por devida cautela, em ações dessa
natureza resultem em cassação de mandado, em homenagem ao PRINCÍPIO
DA SOBERANIA POPULAR insculpido nos arts. 1o, I, e 14, caput da
Carta Magna, além da ampla defesa e contraditório, procedeu-se à instrução
para oitiva das testemunhas arroladas pelo promovido CLEITON PRADO
para que desconstituísse a robusta prova produzida.
[...]

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As provas produzidas afastam a ocorrência de mera desistência de
impulsionamento das candidaturas, ou mesmo a renúncia tácita. Ao
contrário, as circunstâncias fáticas revelam evidente intenção/dolo de burlar
a legislação.

Isto posto, JULGO PROCEDENTE o pedido da parte autora, por fraude a


cota de gênero constante do §3º do art.10 da Lei 9.504/97, bem como com
fulcro no citado dispositivo e do art. 22, XIV da LC 64/90, para:
1). determinar a anulação de votos recebidos pelo Partido Social Liberal -
PSL do município de Sobral, declarando a cassação dos diplomas dos eleitos
e suplentes da referida agremiação partidária, bem como a cassação dos
registros de candidatura dos candidatos nos termos requeridos, impondo
ainda, a sanção de inelegibilidade por 08 anos, contados a partir do término
do mandato para o qual concorreram para os requeridos.

2). Revogar o deferimento e a homologação do Demonstrativo de


Regularidade de Atos Partidários (DRAP) relativo ao PSL – SOBRAL-CE,
tendo como consequência o indeferimento do registro da citada agremiação
partidária para eleição proporcional em 2020 no referido município;

Irresignados com o referido decisum, Jeová Rodrigues Freres


Junior, Francisco José de Sousa Cronemberges e Cleiton Prado Carvalho opuseram
Embargos de Declaração com Efeitos Infringentes sob a alegação de que a decisão padecia de
omissões. Em decisão (ID 18979864), o douto juízo não conheceu dos aclaratórios de Cleiton
Prado Carvalho sob o fundamento de inexistir omissão, obscuridade, contradição, erro
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material, erro de fato manifesto ou manifesta "nulidade" da sentença. Já quanto aos


embargos apresentados pelos demais, conheceu e deu provimento para afastar a pena de
inelegibilidade aos candidatos em relação aos quais não haveria prova robusta de participação

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direta na fraude à cota de gênero.
Ainda inconformados com a decisão, Antônio Júnior Ribeiro, Maria Eliane
Ribeiro e Maria Edgleuma de Sousa interpuseram Recurso Eleitoral (ID 18979870)
aduzindo que "os recorrentes foram INDUZIDOS AO ERRO, pois foram utilizados pelo
presidente do partido para atingir a cota de gênero, pois desde o início este teve pleno
conhecimento de que a indicação dos nomes das duas recorrentes seria unicamente para
completar a cota e que não seriam de fato candidatas." Além disso, aduziram que "[...] é

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admitida a confissão espontânea como atenuante, e, em alguns casos, a delação premiada,
como forma de incentivar a participação dos investigados para a devida apuração de
determinados fatos."
Também inconformados com a sentença, Jeová Rodrigues Freres Junior
e Francisco José de Sousa Cronemberges interpuseram o recurso de ID 18979878,
alegando, em síntese, que "não há razoabilidade no ato de anular todos os registros dos
candidatos com a consequente cassação dos diplomas dos suplentes em razão de fraude
imputada a determinados candidatos, dirigentes do PSL do Município de Sobral, uma vez
não haver espaço na seara do processo eleitoral para o instituto da responsabilidade
objetiva."
Por derradeiro, ainda foi interposto recurso eleitoral por Cleiton Prado
Carvalho e pelo Partido Social Liberal - Comissão Provisória (ID 18979883).
Contrarrazões de José Oswaldo Soares Balreira Júnior constantes no ID
18979890.
Vieram os autos para manifestação da Procuradoria Regional Eleitoral.
É o relato do necessário.

II - DA LITISPENDÊNCIA

Para caracterizar a litispendência, de acordo com o que dispõe o artigo 337,

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§§1º a 3º do Código de Processo Civil, é necessária a existência de nova ação repetindo uma
outra anteriormente ajuizada, com as mesmas partes, pedido e causa de pedir, in verbis:

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§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação
anteriormente ajuizada.
§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma
causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.

Desse modo, extrai-se da norma que a ação é idêntica quando “possui as

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mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido“, situação em que a segunda
ajuizada é extinta, mantendo-se o processamento para julgamento somente da primeira.
Sobre a matéria, a jurisprudência do TSE não reconhecia a litispendência entre
as duas ações, tendo em vista serem ações originárias de normas distintas e pela ocorrência
de consequências também distintas em caso procedência. Contudo, em recentes julgados,
Corte têm decidido pela possibilidade de reconhecimento de litispendência entre AIJE e
AIME, como se vê dos seguintes julgados:

AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2016.


PREFEITO. VICE–PREFEITO. VEREADOR. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO
DE MANDATO ELETIVO (AIME). AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). IDENTIDADE. FATOS. PROVAS.
PARTES. LITISPENDÊNCIA. RECONHECIMENTO. PROVIMENTO. 1.
No decisum monocrático, anulou–se aresto do TRE/PI, por meio do qual se
reconhecera a litispendência entre a AIME 1–43 (objeto dos presentes autos)
e a AIJE 554–27, determinando–se o retorno do feito à origem para regular
processamento. 2. A litispendência caracteriza–se quanto há duas ou mais
ações em curso com as mesmas partes, causa de pedir e pedido, hipótese que
gera a extinção do segundo processo sem exame de mérito (arts. 337, §§ 1º e
2º e 485, V, do CPC/2015). Trata–se de instrumento que prestigia a
segurança jurídica, bem como a economia, a celeridade, a racionalidade e a
organicidade da sistemática processual, evitando o manejo de inúmeras
demandas que conduziriam ao mesmo resultado. 3. Nos termos da
jurisprudência desta Corte Superior, " [a] litispendência entre feitos
eleitorais pode ser reconhecida quando há identidade entre a relação

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jurídica–base das demandas, o que deve ser apurado a partir do


contexto fático–jurídico do caso concreto" (RO–El 0601403–89/AC, Rel.
Min. Edson Fachin, DJE de 4/12/2020). 4. Na espécie, verifica–se
inequívoca identidade entre a AIME 1–43 e a AIJE 554–27, circunstância

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que leva ao reconhecimento da litispendência da primeira em relação à
segunda, pois se extrai da moldura do aresto regional que: a) ambas
possuem a mesma base fática e probatória; b) há coincidência do polo ativo
e, no tocante ao polo passivo, o da AIJE é mais extenso; c) a procedência
dos pedidos na AIJE poderá acarretar, além da perda dos diplomas, a
sanção de inelegibilidade, inexistindo nenhum efeito prático no
prosseguimento da AIME. 5. Agravo interno provido para,
sucessivamente, negar provimento ao recurso especial e manter, por
conseguinte, a extinção da AIME 1–43 sem exame de mérito (art. 485, V,

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do CPC/2015) diante da litispendência.
(TSE. REspEl - nº 060053336. Publicação: DJE de 03/05/2021)

ELEIÇÕES 2018. RECURSOS ORDINÁRIOS. AGRAVOS


INTERNOSDEPUTADO FEDERAL E DEPUTADO ESTADUAL.
AÇÕES DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. AÇÃO DE
IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. JULGAMENTO
CONJUNTO. PRELIMINARES. VIOLAÇÃO DO ART. 96–B DA LEI Nº
9.504/97. LITISPENDÊNCIA. AUSÊNCIA DE FORMAÇÃO DE
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. ILICITUDE NA FORMA
DE OBTENÇÃO DE EXTRATOS BANCÁRIOS. APROVEITAMENTO
DE PROVAS ILÍCITAS POR DERIVAÇÃO. NULIDADE DE
DEPOIMENTO TESTEMUNHAL. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INDEVIDAAMPLIAÇÃO OBJETIVA DA DEMANDA. INTERRUPÇÃO
INDEVIDA DO PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES
FINAIS. PRELIMINARES AFASTADAS, À EXCEÇÃO DO
RECONHECIMENTO DE LITISPENDÊNCIA. MÉRITO. DESVIO DE
RECURSOS PROVENIENTES DO FUNDO PARTIDÁRIO E DO
FUNDO ESPECIAL DE FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS. USO
DE CONTABILIDADE PARALELA. ABUSO DE PODER
ECONÔMICO. GASTOS ILÍCITOS DE RECURSOS. CAPTAÇÃO
ILÍCITA DE SUFRÁGIO. EXISTÊNCIA DE LASTRO PROBATÓRIO
SUFICIENTE PARA A CONDENAÇÃO. ELEIÇÕES PROPORCIONAIS.
CASSAÇÃO DE MANDATO EM AÇÃO AUTÔNOMA PELA PRÁTICA
DE ILÍCITO. ANULAÇÃO TOTAL DA VOTAÇÃO. POSSIBILIDADE
DE APROVEITAMENTO PARCIAL, PELO PARTIDO. PRESERVAÇÃO

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DA SEGURANÇA JURÍDICA. APLICAÇÃO DO MARCO JURÍDICO


REGENTE DO PLEITO EM QUESTÃO. DOS AGRAVOS INTERNOS 1.
Nos termos do art. 19 da Res.–TSE nº 23.478/2016, as decisões
interlocutórias ou sem caráter definitivo proferidas nos feitos eleitorais são

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irrecorríveis de imediato, ficando os eventuais inconformismos para
posterior manifestação em recurso contra decisão definitiva do mérito.
Precedentes. 2. A natureza jurídica não terminativa da decisão que
reconhece a legitimidade recursal de terceiros prejudicados enseja a sua
irrecorribilidade instantânea, razão pela qual os agravos internos não
comportam conhecimento. DAS PRELIMINARES 1. A presença
cumulativa de identidade fática e diversidade de sujeitos ativos não esgota,
terminantemente, a possibilidade de reunião de processos eleitorais, haja
vista que a norma especial de atração (art. 96–B da Lei n. 9.605/97) coexiste

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com o marco geral da conexão, previsto no art. 55, § 1º, do CPC. Na
jurisdição eleitoral, sempre que exista conexão, a reunião dos processos é
medida que se impõe. 2. A litispendência entre feitos eleitorais pode ser
reconhecida quando há identidade entre a relação jurídica–base das
demandas, o que deve ser apurado a partir do contexto fático–jurídico do
caso concreto. Precedentes. 3. Verifica–se, entre a AIJE nº 0601409–
96.2018 e a AIME nº 0601423– 80.2018, uma absoluta
congruência quanto aos elementos distintivos da ação, em ordem a
indicar situação de litispendência total. As petições iniciais constituem,
praticamente, cópias exatas revelando a sobreposição de demandas
idênticas. (…) DA SÍNTESE DO JULGAMENTO 1. Agravos internos não
conhecidos. 2. Recursos ordinários interpostos por Manuel Marcos de
Mesquita, Thaisson de Souza Maciel, Diego Rodrigues e Wagner Silva
desprovidos. 3. Recurso ordinário interposto por Juliana Rodrigues de
Oliveira parcialmente provido, para o fim especial de anular a condenação
referente aos autos da AIME nº 0601423–80.2018, em função do
reconhecimento de litispendência. Recurso ordinário interposto por André
dos Santos e Railson da Costa provido.
(TSE. RO-El - nº 060142380. Publicação: DJE de 04/12/2020)
[destaques nossos]

Das decisões da Corte Superior Eleitoral acima ressalta-se que o


reconhecimento da litispendência se deu, principalmente, pela verificação, no contexto fático-
jurídico dos casos concretos, de igual situação fática e probatória, sendo a consequência da
AIME, a desconstituição do mandato eletivo, na prática, o mesmo que a cassação do diploma
ocorrida no caso de procedência da AIJE, razão pela qual seria desnecessário o conhecimento
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e processamento também da AIME.


Nesse desiderato, é importante destacar a decisão recentíssima desse TRE-CE,
que confirmou julgamento de extinção da AIME 0600002-35.2021.6.06.0057 por

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reconhecimento da ocorrência de litispendência com AIJE ajuizada pelos mesmos fatos e
fundamentos, nos seguintes termos:

RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÃO 2020. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO


DE MANDATO ELETIVO. FRAUDE À COTA DE GÊNERO. ART. 10,
§3º, LEI Nº 9.504/97. LITISPENDÊNCIA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
JUDICIAL ELEITORAL. IDÊNTICA RELAÇÃO JURÍDICA-BASE.
RECONHECIMENTO. PRECEDENTES TSE E TRE/CE. EXTINÇÃO DA

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AIME SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
1. Tratam os autos de recurso eleitoral interposto contra sentença do Juízo
da 57ª Zona Eleitoral que julgou extinta a presente ação de impugnação de
mandato eletivo proposta pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT, em
face do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB e dos candidatos aos cargos de
vereadores a ela vinculados.
2. Segundo narra a exordial, o Partido Trabalhista Brasileiro - PTB de
Pacatuba teria perpetrado fraude por meio de “candidaturas laranja”, para
atender ao número mínimo de candidaturas femininas exigidas pela
legislação eleitoral (cota de gênero), art. 10, §3º da Lei das Eleições,
valendo-se dos nomes de Elisangela Alves da Silva e Izabel Alves
Rodrigues.
3. Foi arguida em sede recursal questão de ordem pública, qual seja, a
existência de litispendência entre a Ação de Investigação Judicial
Eleitoral nº 0600879-09.6.06.0057 e a presente Ação de Impugnação de
Mandato Eletivo nº 0600002-35.2021.6.06.0057. Em razão de tal fato, os
Impugnados pleitearam a extinção da presente demanda sem julgamento de
mérito.
4. De plano, cabe destacar que as matérias de ordem pública podem ser
conhecidas em qualquer tempo e grau de jurisdição pelo Julgador, não
estando sujeitas à preclusão, conforme estabelece o art.485 § 3º do Código
de Processo Civil. A litispendência está versada no art. 337 do mesmo
diploma legal.
5. O Tribunal Superior Eleitoral entendia pela inexistência de
litispendência entre as ações eleitorais, todavia tal entendimento restou
superado com o objetivo de privilegiar a economia processual e evitar o

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desperdício da atividade judiciante.


6. Definiu a Corte Superior que a litispendência entre feitos eleitorais
pode ser reconhecida quando há identidade entre a relação jurídica-

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base das demandas, o que deve ser apurado a partir do contexto fático-
jurídico do caso concreto.
7. Assim, a partir da análise empreendida das causas de pedir contidas nas
petições iniciais da Ação de Investigação Judicial Eleitoral nº 0600879-
09.6.06.0057 e a presente Ação de Impugnação de Mandato Eletivo nº
0600002-35.2021.6.06.0057 é possível depreender que a matéria fático-
jurídica é idêntica, com idêntico suporte fático e probatório, bem como os
mesmos polos ativo e passivo, tendo, inclusive, toda a instrução probatória
sido realizada conjuntamente.

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8. Some-se a isso que a presente Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo nº 0600002-35.2021.6.06.0057 foi ajuizada em 07/01/2021, e
a Ação de Investigação Judicial Eleitoral nº 0600879-09.6.06.0057 foi
proposta alguns dias antes, em 15/12/2020. Convém ressaltar, ainda, que a
Ação de Investigação Judicial Eleitoral nº 0600879-09.6.06.0057 tem objeto
mais amplo que a presente demanda, contendo o pleito de declaração de
inelegibilidade.
9. Importante destacar que a litispendência se dá, principalmente, pelo
reconhecimento, no contexto fático-jurídico dos casos concretos, de igual
situação fática e probatória, sendo a consequência da Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo, a desconstituição do mandato eletivo, na prática, o
mesmo que a cassação do diploma ocorrida no caso de procedência da Ação
de Investigação Judicial Eleitoral pelos mesmos fatos, razão pela qual seria
desnecessário o conhecimento e processamento também da Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo. Precedentes deste Regional. (TRE/CE –
Recurso Eleitoral nº 0600001-67.2020.6.06.0019 – Relatoria Roberto Viana
Diniz de Freitas – DJe 02/07/2021, e TRE/CE – Recurso Eleitoral
nº 0600004-05.2021.6.06.0057 – Relatoria Des. Raimundo Nonato Silva
Santos, julgado em 08/09/2021).
10. Diante de tais fatos, assiste razão aos Recorridos quando asseveram a
incidência da litispendência, e por conseguinte, a extinção da presente Ação
de Impugnação de Mandato Eleito, extinguindo-se, por consequência, o
feito sem resolução do mérito.
11. Extinção da presente ação de impugnação de mandato eletivo, sem
julgamento de mérito.

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Diante de tais circunstâncias, entende-se que se pode reconhecer a


litispendência entre as duas ações eleitorais, desde que se demonstre que o resultado do
julgamento da AIJE levaria à inutilidade da AIME, pois o objetivo da última já teria sido

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atendido pelo julgamento da primeira. É exatamente o que ocorre no presente caso entre esta
ação 0600003-22.2021.6.06.0121 e a AIJE 0600352-59.2020.6.06.0121.
A esse respeito, Marcus Vinicius Rios Gonçalves assim ensina:

"A partir da propositura da demanda, já existe litispendência. Essa palavra


está empregada aqui no sentido de lide pendente, que produz, como
principal consequência, a atuação do juiz e o impulso oficial no

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desenvolvimento do processo. Desde a propositura, o juiz se incumbirá de
zelar pelo desenvolvimento do processo (o termo ‘litispendência’ pode ser
usado, ainda, como proibição de que, estando em curso o processo referente
a determinada ação, outra idêntica seja proposta. Nesse sentido, é a citação
válida que induz litispendência; prevalecerá o processo da ação em que
ocorreu a primeira citação válida, devendo o outro ser extinto sem resolução
de mérito)." (GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil
esquematizado – 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 397.)

Com efeito, a AIJE também passou a ser ação cabível para a averiguação
de prática de fraude eleitoral, considerado um verdadeiro abuso de poder político por
parte de partidos, candidatos e coligações.
Por conseguinte, uma vez alegada e acolhida a litispendência, em sede de
preliminar, ou reconhecida de ofício pelo juiz, haja vista que se trata de matéria de ordem
pública, o processo será extinto sem resolução do mérito. Destarte, pugna este órgão
ministerial pela extinção da AIME 0600003-22.2021.6.06.0121, processo mais recente,
ajuizada na data de 02 de Janeiro de 2021 e o prosseguimento da AIJE 0600352-
59.2020.6.06.0121, por ser processo mais antigo e completo, ajuizada em 17 de Dezembro de
2020.

III - DA FRAUDE À COTA DE GÊNERO

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Com o objetivo de propiciar e garantir uma maior participação de mulheres no


cenário político nacional, a Lei nº 9.504/97, em seu art. 10, § 3º, estabeleceu a obrigatória
reserva do percentual mínimo de 30% e máximo de 70% de vagas para candidatura de cada

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gênero, conforme se afere abaixo:

Art. 10. Cada partido ou coligação poderá registrar candidatos para a


Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e
as Câmaras Municipais no total de até 150% (cento e cinquenta por cento)
do número de lugares a preencher, salvo:
[...]

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§ 3º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada
partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o
máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo.

Entretanto, a incipiente execução de políticas públicas para incentivar o


lançamento de candidaturas femininas e a relutância levada a efeito por alguns partidos
políticos contra medidas que propiciem a efetiva participação de mulheres na política, não
raro tem tornado a percepção do mencionado dispositivo legal como um mero entrave formal
a ser ultrapassado para fins de deferimento do Demonstrativo de Regularidade de Atos
Partidários (DRAP).
Nesse sentido, verifica-se que tem se tornado comum que as agremiações
partidárias efetivem a prática de pseudo candidaturas femininas, as quais parecem, prima
facie, formalmente regulares, mas que na realidade fática são fictícias/fraudulentas, sendo,
pois, apresentadas à Justiça Eleitoral com o único e exclusivo intento de indicar o
cumprimento formal do percentual estabelecido no art. 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97.
Acerca da prática de fraude ao sistema de cotas de gênero, esclarece José Jairo
Gomes1, in verbis:

[...]
Consiste a fraude em lançar a candidatura de mulheres que na realidade não
disputarão efetivamente o pleito. São candidaturas fictícias. Os nomes
femininos são incluídos na lista do partido tão somente para atender à

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necessidade de preenchimento do mínimo de 30%, viabilizando-se, com


isso, a presença do partido e de seus candidatos nas eleições. Trata-se,
portanto, de burla à regra legal que instituiu a ação afirmativa direcionada
ao incremento da participação feminina na política.

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Embora esse tipo de fraude se perfaça na fase de registro de candidatura, em
geral os indícios de sua ocorrência ficam mais palpáveis depois do pleito,
sendo evidenciados por situações como a ausência de votos à suposta
candidata, a não realização de campanha, a inexistência de gasto eleitoral, a
não transferência nem arrecadação de recursos – nesses últimos casos a
prestação de contas aparece zerada. Em um caso concreto, foram destacados
indícios de maquiagem contábil como a “extrema semelhança dos registros
nas contas de campanha de cinco candidatas – tipos de despesa, valores,
data de emissão das notas e até mesmo a sequência numérica destas” (TSE -

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REspe no 19392/PI – DJe 4-10-2019).
[...]

Atento às peculiaridades da referida prática danosa apontada pelo renomado


doutrinador (especialmente que os indícios de sua ocorrência somente ficam mais aferíveis
após a conclusão do pleito eleitoral), o Tribunal Superior Eleitoral, no julgamento do
REspe nº 193-92/PI (cujo objeto foi a ocorrência de fraudes à cota de gênero por
candidaturas "laranjas" femininas), além de pacificar a viabilidade da apuração do ilícito
através de AIJE e a possibilidade da punição de todos os candidatos beneficiários que
compuseram o quadro do partido/coligação, definiu as balizas a serem aplicadas para a
aferição da fraude, como pode ser observado na ementa abaixo colacionada:

RECURSOS ESPECIAIS. ELEIÇÕES 2016. VEREADORES. PREFEITO.


VICE-PREFEITO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
(AIJE). ART. 22 DA LC 64/90. FRAUDE. COTA DE GÊNERO. ART. 10,
§ 3º, DA LEI 9.504/97.
1. O TRE/PI, na linha da sentença, reconheceu fraude na quota de gênero de
30% quanto às candidaturas das coligações Compromisso com Valença I e
II ao cargo de vereador nas Eleições 2016, fixando as seguintes sanções: a)
cassação dos registros das cinco candidatas que incorreram no ilícito, além
de sua inelegibilidade por oito anos; b) cassação dos demais candidatos
registrados por ambas as chapas, na qualidade de beneficiários.
2. Ambas as partes recorreram. A coligação autora pugna pela

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inelegibilidade de todos os candidatos e por se estender a perda dos registros


aos vencedores do pleito majoritário, ao passo que os candidatos pugnam
pelo afastamento da fraude e, alternativamente, por se preservarem os
registros de quem não anuiu com o ilícito.

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PRELIMINAR. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.
DIRIGENTES PARTIDÁRIOS. SÚMULA 24/TSE. REJEIÇÃO.
3. O TRE/PI assentou inexistir prova de que os presidentes das agremiações
tinham conhecimento da fraude, tampouco que anuíram ou atuaram de
modo direto ou implícito para sua consecução, sendo incabível citá-los para
integrar a lide como litisconsortes passivos necessários. Concluir de forma
diversa esbarra no óbice da Súmula 24/TSE.
TEMA DE FUNDO. FRAUDE. COTA DE GÊNERO. ART. 10, § 3º,

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DA LEI 9.504/97. ROBUSTEZ. GRAVIDADE. AFRONTA.
GARANTIA FUNDAMENTAL. ISONOMIA. HOMENS E
MULHERES. ART. 5º, I, DA CF/88.
4. A fraude na cota de gênero de candidaturas representa afronta à
isonomia entre homens e mulheres que o legislador pretendeu assegurar
no art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97 - a partir dos ditames constitucionais
relativos à igualdade, ao pluralismo político, à cidadania e à dignidade
da pessoa humana - e a prova de sua ocorrência deve ser robusta e levar
em conta a soma das circunstâncias fáticas do caso, o que se
demonstrou na espécie.
5. A extrema semelhança dos registros nas contas de campanha de cinco
candidatas - tipos de despesa, valores, data de emissão das notas e até
mesmo a sequência numérica destas - denota claros indícios
de maquiagem contábil. A essa circunstância, de caráter indiciário,
somam-se diversos elementos específicos.
6 . A fraude em duas candidaturas da Coligação Compromisso com
Valença I e em três da Coligação Compromisso com Valença II revela-
se, ademais, da seguinte forma: a) Ivaltânia Nogueira e Maria Eugênia
de Sousa disputaram o mesmo cargo, pela mesma coligação, com
familiares próximos (esposo e filho), sem nenhuma notícia de
animosidade política entre eles, sem que elas realizassem despesas com
material de propaganda e com ambas atuando em prol da campanha
daqueles, obtendo cada uma apenas um voto; b) Maria Neide da Silva
sequer compareceu às urnas e não realizou gastos com publicidade; c)
Magally da Silva votou e ainda assim não recebeu votos, e, além disso,
apesar de alegar ter sido acometida por enfermidade, registrou gastos -
inclusive com recursos próprios - em data posterior; d) Geórgia Lima,
com apenas dois votos, é reincidente em disputar cargo eletivo apenas
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para preencher a cota e usufruir licença remunerada do serviço


público.
7. Modificar as premissas fáticas assentadas pelo TRE/PI demandaria

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reexame de fatos e provas (Súmula 24/TSE).
CASSAÇÃO. TOTALIDADE DAS CANDIDATURAS DAS DUAS
COLIGAÇÕES. LEGISLAÇÃO. DOUTRINA. JURISPRUDÊNCIA.
8. Caracterizada a fraude e, por conseguinte, comprometida a disputa,
não se requer, para fim de perda de diploma de todos os candidatos
beneficiários que compuseram as coligações, prova inconteste de sua
participação ou anuência, aspecto subjetivo que se revela
imprescindível apenas para impor a eles inelegibilidade para eleições
futuras. Precedentes.

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9. Indeferir apenas as candidaturas fraudulentas e as menos votadas
(feito o recálculo da cota), preservando-se as que obtiveram maior
número de votos, ensejaria inadmissível brecha para o registro de
"laranjas", com verdadeiro incentivo a se "correr o risco", por inexistir
efeito prático desfavorável.
10. O registro das candidaturas fraudulentas possibilitou maior número de
homens na disputa, cuja soma de votos, por sua vez, contabilizou-se para as
respectivas alianças, culminando em quociente partidário favorável a elas
(art. 107 do Código Eleitoral), que puderam então registrar e eleger mais
candidatos.
11. O círculo vicioso não se afasta com a glosa apenas parcial, pois a
negativa dos registros após a data do pleito implica o aproveitamento
dos votos em favor das legendas (art. 175, §§ 3º e 4º, do Código Eleitoral),
evidenciando-se, mais uma vez, o inquestionável benefício auferido com a
fraude.
12. A adoção de critérios diversos ocasionaria casuísmo incompatível com o
regime democrático.
13. Embora o objetivo prático do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97 seja
incentivar a presença feminina na política, a cota de 30% é de gênero.
Manter o registro apenas das candidatas também afrontaria a norma, em
sentido contrário ao que usualmente ocorre.
INELEGIBILIDADE. NATUREZA PERSONALÍSSIMA. PARCIAL
PROVIMENTO.
14. Inelegibilidade constitui sanção personalíssima que incide apenas
perante quem cometeu, participou ou anuiu com a prática ilícita, e não ao
mero beneficiário. Precedentes.

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15. Embora incabível aplicá-la indistintamente a todos os candidatos,


constata-se a anuência de Leonardo Nogueira (filho de Ivaltânia Nogueira) e
de Antônio Gomes da Rocha (esposo de Maria Eugênia de Sousa), os quais,
repita-se, disputaram o mesmo pleito pela mesma coligação, sem notícia de

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animosidade familiar ou política, e com ambas atuando na candidatura
daqueles em detrimento das suas.
CASSAÇÃO. DIPLOMAS. PREFEITA E VICE-PREFEITO. AUSÊNCIA.
REPERCUSSÃO. SÚMULA 24/TSE.
16. Não se vislumbra de que forma a fraude nas candidaturas proporcionais
teria comprometido a higidez do pleito majoritário, direta ou indiretamente,
ou mesmo de que seria de responsabilidade dos candidatos aos cargos de
prefeito e vice-prefeito. Conclusão diversa esbarra na Súmula 24/TSE.

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CONCLUSÃO. MANUTENÇÃO. PERDA. REGISTROS.
VEREADORES. EXTENSÃO. INELEGIBILIDADE. IMPROCEDÊNCIA.
CHAPA MAJORITÁRIA.
17. Recursos especiais dos candidatos ao cargo de vereador pelas coligações
Compromisso com Valença I e II desprovidos, mantendo-se cassados os
seus registros, e recurso da Coligação Nossa União É com o Povo
parcialmente provido para impor inelegibilidade a Leonardo Nogueira e
Antônio Gomes da Rocha, subsistindo a improcedência quanto aos
vencedores do pleito majoritário, revogando-se a liminar e executando-se o
aresto logo após a publicação (precedentes).
(Recurso Especial Eleitoral nº 19392, Acórdão, Relator(a) Min. Jorge
Mussi, Publicação: DJE - Diário da justiça eletrônica, Tomo 193,
Data 04/10/2019, Página 105/107)
[destaques nossos]

Com efeito, restou claro que aquela Corte Superior fixou entendimento de que,
para que seja configurada a fraude à cota de gênero (e por conseguinte, o descumprimento
material da finalidade da norma intrínseca ao enunciado normativo expresso no art. 10, § 3º,
da Lei nº 9.504/97), é imprescindível a existência de quadro probatório robusto que
demonstre que o registro da(s) candidatura(s) feminina(s) teve o objetivo precípuo de
burlar o percentual mínimo determinado pela legislação.
Ressalte-se que esse TRE/CE, em julgado nos autos do processo n. 0600306-
17.2020.6.06.0074, de 05/05/2021, abraçou na íntegra o entendimento mantido pelo TSE no
REspe nº 193-92/PI, nos termos do excelente voto do juiz Relator Dr. Francisco Eduardo
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Torquato Scorsafava, nos seguintes termos:

Depreende-se do leading case citado que a prática de algumas condutas

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direcionam o julgador a reconhecer a configuração da fraude, diante das
balizas ali fixadas pelo TSE:
- disputar o mesmo cargo e pela mesma coligação/partido político que
parentes (cônjuge ou filho), sem nenhuma notícia de animosidade entre eles;
- pedir votos para outro candidato que dispute o mesmo cargo almejado pela
candidata;
- a ausência da realização de gastos eleitorais;
- votação ínfima (geralmente a candidata não possui sequer o próprio voto)

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Estabelecidas as premissas mínimas necessárias para a apreciação de
casos de fraudes ao sistema de cotas de gênero, passemos à análise das circunstâncias
fáticas do presente caso.
O cenário fático delineado nesta demanda demonstra que o diretório municipal
do Partido Social Liberal de Sobral - PSL lançou 32 (trinta e dois) candidaturas ao cargo de
vereador nas Eleições Proporcionais de 2020 no município de Sobral/CE, dentre as quais
constavam, inicialmente, 22 (vinte e dois) candidatura masculinas e 10 (dez) candidaturas
femininas (estas referentes às recorrentes Ediene de Aguiar Portela, Cristina Maria Nunes
de Sousa, Maria Célia Almeida de Aguiar Guimarães, Antônia Serlene Mesquita Paiva,
Maria Vaulene Aragão Sousa, Juliana Silva do Nascimento, Rosilene Coelho dos Santos,
Josefa Lima Batista, Maria Eliane Ribeiro e Maria Edgleuma de Sousa), perfazendo,
formalmente, o percentual mínimo exigido pela art. 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97.
Ocorre que, como bem apontado na sentença hostilizada, a demanda ajuizada
por José Oswaldo Soares Balreira Júnior, candidato ao cargo de Vereador na Eleições de
2020 do Município de Sobral (CE), carreou aos autos provas suficientes da realização de
fraude pela agremiação partidária, demonstrando de forma inconteste que as candidatas
Maria Eliane Ribeiro e Maria Edgleuma de Sousa em nenhum momento participaram, de
maneira efetiva, do pleito eleitoral de 2020, constando na lista de candidaturas do PSL apenas
com a finalidade de superar um obstáculo legal ao deferimento do DRAP do partido.
Com efeito, inúmeras são as evidências da prática de fraude ao sistema de
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cotas eleitorais de gênero: I ) ausência de comprovação da prática de qualquer ato


de campanha eleitoral, inclusive nas redes sociais; II) ausência de realização de despesas
com campanha eleitoral; III) votação inexistente (as duas candidatas não obtiveram

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nenhum voto); I V ) vínculos de parentescos entre as candidatas imputadas e
outro candidato da mesma agremiação que também disputavam o cargo de vereador em
Sobral/CE; e V ) pedido de votos para outro candidato que disputava o mesmo cargo
almejado pelas candidatas (no caso realizavam postagem em favor do candidato
Antônio Júnior Ribeiro - “Júnior Megasom”).
Inicialmente, inobstante toda as evidências de fraudes que serviram como
supedâneo do devido processo legal, a prova maior, inconteste e de certa forma

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surpreendente, são as confissões sobre a irregularidade dos candidatos Antônio Júnior
Ribeiro, Maria Eliane Ribeiro e Maria Edgleuma de Sousa.
O requerido Antônio Júnior Ribeiro apresentou a contestação, onde confessa
ter indicado sua irmã Maria Eliane e sua cunhada Edgleuma Sousa para preencher a
cota obrigatória de 30% (trinta por cento) de candidatas mulheres, sendo que explicou
ao senhor Cleiton Prado, Presidente do PSL, que elas não iriam fazer campanha de jeito
nenhum, pois ele mesmo seria candidato e elas iriam atrapalhá-lo.
A requerida Maria Edgleuma de Sousa ofereceu contestação, onde afirmou
que foi convidada pelo senhor "Júnior Megassom", a pedido do Presidente do PSL,
para completar o grupo de mulheres candidatas pelo partido. Afirma que declarou não
ter interesse em se candidatar a cargo nenhum, mas foi convencida pelos argumentos
dos responsáveis pelo PSL de que não necessitaria fazer realmente campanha , pois iria
apenas auxiliar o partido PSL a compor o grupo de mulheres como candidata. Diz que em
nenhum momento sabia que o fato de colocar seu nome como candidata para ajudar o partido
sem realmente ser candidata estaria cometendo alguma fraude.
A requerida Maria Eliane Ribeiro apresentou sua contestação, onde confessa
que realmente foi convidada pelo Vereador Cleiton Prado, Presidente do PSL de Sobral,
através do seu irmão, Antônio Júnior Ribeiro (Júnior Megassom), para que seu nome
fosse utilizado para completar o grupo das mulheres do partido, não sabendo que o
partido era obrigado a respeitar a exigência legal da conta de gênero de 30%(trinta por
cento). Diz que no ato do convite informou que não teria interesse em se candidatar, posto
que seu irmão já seria candidato. Mas foi informada de que o seu nome seria só para
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completar o grupo de mulheres e que não necessitaria fazer campanha e que o partido
providenciaria o que fosse necessário.
Além das confissões, ressalta-se que as mencionadas candidatas não

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receberam nenhum voto (o que não é nenhuma surpresa, uma vez que ambas admitiram
que não tinham intenção alguma de participar das eleições de 2020).
Outra circunstância candente no presente caso, trata-se do fato de as duas
candidatas possuírem vínculo de parentesco com outro candidato ao cargo de vereador
do próprio Partido Social Liberal - PSL. Maria Eliane fez campanha para seu irmão
Antônio Júnior Ribeiro (Júnior Megassom), cunhado de Maria Edgleuma.
Nesse sentido, restou comprovado pelas próprias teses defensivas de Antônio

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Júnior, Maria Eliane e Maria Edgleuma, constantes em sede de contestações, que as ditas
promovidas foram convidadas pelo candidato “Júnior Megassom”, a pedido do Presidente do
partido PSL, Vereador Cleiton Prado, também ora recorrente, para completar o grupo de
mulheres candidatas pelo partido e que dessa forma, seus nomes teriam sido colocados à
disposição, mas sem real intenção de disputar às eleições de 2020.
Com efeito, tal circunstância deixa clara a movimentação feita pelo partido,
especialmente em relação à arregimentação de mulheres familiares do candidato Antônio
Júnior Ribeiro - “Júnior Megassom” - (que beneficiaram o único candidato eleito do partido,
Cleiton Prado), no sentido de realizar o mero preenchimento formal de candidaturas do
gênero feminino.
Noutra senda, impende ressaltar que, durante toda a tramitação da presente
demanda, restou absolutamente constatada a completa ausência de registros da prática de atos
de campanha pelas candidatas, as quais são imputadas as candidaturas fraudulentas.
De fato, inexiste registro de vídeo, de áudio ou fotográfico que indique,
ainda que minimamente, que Maria Eliane e Maria Edgleuma tenham efetivado
qualquer ato de campanha no período que antecedeu o pleito eleitoral realizado no ano
de 2020, merecendo destaque a circunstância de que nenhuma das candidatas procedeu a
qualquer divulgação de suas candidaturas em suas redes sociais, mas chegaram a divulgar
candidatura de concorrente direto, vide:

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Ora, considerando que as redes sociais assumiram um papel de destaque nas
campanhas eleitorais (em razão de sua grande acessibilidade pelo eleitorado) e que a sua
utilização é, via de regra, gratuita, é impossível se cogitar que a ausência de atos de campanha
pela via digital foi por falta de informação tecnológica ou foi decorrente do não repasse de
recursos financeiros pelo partido (já que também foi comprovado o repasse do fundo
partidário na importância de R$ 2.289,46 (dois mil, duzentos e oitenta e nove reais e quarenta
e seis centavos), senão vejamos:

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O Sr. Cleiton Prado, então presidente da sigla e único detentor de cargo
eletivo, alega que foi vítima de uma grande armação por parte do grupo político de oposição,
tudo com vista a prejudicar não só o partido, bem como enfraquecer o detentor de mandato
eletivo.
Em verdade, entende este órgão ministerial que tais declarações se trataram
apenas de tentativas de justificação, a posteriori, para algo que se tornou evidente, qual seja,
o conluio para fraudar a legislação eleitoral, uma vez que ficou constatada a completa
ausência da prática de atos de campanha pelas referidas candidatas, haja vista que não há, em
nenhum momento, qualquer indicativo de que tenham se portado como efetivas candidatas.
Além disso, frisa-se novamente, as candidatas laranjas confessaram que receberam o convite
para integrar a chapa, mas não tinham nenhum interesse em disputar verdadeiramente o pleito
de 2020.
Assim, restou claramente demonstrada a realização de fraude ao sistema de
cotas de gênero estabelecido no art. 10, § 3º, do Lei nº 9.504/97 pelo diretório municipal do
Partido Social Liberal - PSL de Sobral/CE.
Portanto, na realidade, o partido apresentou somente 8 (oito) efetivas

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candidaturas do gênero feminino, num total de apenas 30 (trinta) candidaturas verídicas


(excluídas, pois, as candidatas Maria Eliane e Maria Edgleuma), representando, assim, menos
de 30% (trinta por cento) da quantidade total de candidaturas, número abaixo do percentual

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mínimo legal estabelecido no art. 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97.
É cediço que, especificamente em casos como o presente feito, no qual se
discute vício na própria regularidade da composição de candidatos aptos a disputar a Eleição,
eventual procedência dos pedidos formulados pelo autor afeta a composição da chapa
proporcional por inteiro, incluindo-se candidatos eleitos e não eleitos, com os respectivos
suplentes.
Nesse sentido, o TSE pacificou que "caracterizada a fraude e, por

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conseguinte, comprometida a disputa, não se requer, para fim de perda de diploma de todos
os candidatos beneficiários que compuseram as coligações, prova inconteste de sua
participação ou anuência, aspecto subjetivo que se revela imprescindível apenas para impor
a eles inelegibilidade para eleições futuras. Precedentes." (Respe nº 19392/PI. Acórdão de
17/09/2019. Relator (a) Min. Jorge Mussi. DJE de 04/10/2019).
Em outros termos, o eventual reconhecimento da obtenção do registro do
partido ou da coligação mediante ato fraudulento, é incindível em relação a todos os
integrantes da chapa, titulares ou suplentes, uma vez que todos concorreram, em maior ou
menor grau, para a obtenção do quociente partidário, um dos elementos determinantes para a
definição do número de cadeiras e da ordem de suplência. Quanto à colaboração das
investigadas (confissão), esta não exime as candidatas de serem apenadas conforme a
legislação eleitoral, assim como não podem as impugnadas alegarem que desconheciam o
caráter irregular da conduta que praticaram, em homenagem ao princípio de que "ninguém
pode se beneficiar da própria torpeza".
Em virtude do exposto, considerando os inúmeros elementos de prova da
ocorrência de fraude às cotas de gêneros estabelecidas pela Lei nº 9.504/97, a Procuradoria
Regional Eleitoral se manifesta pelo conhecimento dos recursos, por serem tempestivos, e
pelo seu não provimento, devendo mantida a sentença proferida pelo Juízo a quo.

Fortaleza/CE, data da assinatura eletrônica.

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Procurador Regional Eleitoral
SAMUEL MIRANDA ARRUDA
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
Procuradoria Regional Eleitoral no Estado do Ceará

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Notas:
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
Procuradoria Regional Eleitoral no Estado do Ceará

1 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral.16. ed. – São Paulo: Atlas, 2020, p. 567/568.

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