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DIÁRIO DE MARK EASTON

Eu tenho que admitir.


Eu sempre fui um charlatão.
Eu passei a vida toda enganando pessoas, aplicando pequenos
golpes aqui e ali, até que descobri que elas podiam ser
facilmente manipuladas quando uma situação envolvia religião
e o sobrenatural.
Foi assim que Mike Easton nasceu e ficou conhecido pelas
grandes personalidades de Gotham. Meus shows eram repletos
de viúvas com saudades de seus maridos, mães com saudades de
seus filhos, enquanto eu fingia que era auxiliado por
espíritos.

Mas as coisas mudam, sempre mudam.


Gotham sempre possuiu um ar estranho, uma atmosfera calma
que podia esconder algo muito maior, as pessoas que pensam
isso não estão erradas, pelo contrário, Gotham é um inferno
se você souber para onde olhar e tiver coragem para isso.
Faz muito tempo que isso aconteceu, nos anos 80, então se
você quiser preservar sua sanidade e não ser perseguido pelo
resto da vida, é melhor parar e ir fazer alguma coisa útil
ao invés de ler memórias de um velho.

Eu já disse que sempre fui um charlatão? Que sempre usei o


sobrenatural para ganhar fama e dinheiro? Pois é, as coisas
são tão estranhas em Gotham que tudo isso se voltou contra
mim. De uma hora para outra eu passei a enxergar o outro
lado e eles passaram a me enxergar, a conversar comigo, a
mandar recados para suas viúvas e para suas mães.
Eu estava tentando digerir isso tudo, mas como um chamado
sombrio do destino, ele não me deixou escolhas, naquela mesma
noite eu entrei em um carro e fui em direção a residência de
uma figurona de Gotham, mulher linda e ao mesmo tempo
aterrorizante, na casa dela, mais espíritos.
O que merda estava acontecendo?
Uma oferta de trabalho, uma missão, eu aceitei sem
pestanejar, afinal, o dinheiro estava na mesa se a missão
fosse cumprida.
A missão: entrar na ilha de Downtown e colher o máximo de
informações possíveis sobre o que estava acontecendo naquele
lugar.

INFERNO
Na minha ida para a Ilha Sul, conheci duas pessoas que
chamarei pelas iniciais – J.M e E.D -, não sei que tipo de
gente pode ter acesso a essas memórias e eu não me perdoaria
se algum mal acontecesse a Jayne, nunca me perdoaria.
O mar ao redor de Downtown quase me matou.
Pelo peso dos equipamentos que eu estava carregando, afundei,
me afoguei, se não fosse por J.M eu estaria nadando com os
peixes.
Me pergunto se isso não seria a melhor opção se soubesse o
que encontraríamos.
Eu, J.M e E.D chegamos na Ilha Sul de noite. Por aquela
vista, Downtown era uma cidade em ruinas, mas com forte
segurança militar, para ser sincero, parecia que estávamos
na Normandia.
Naquele momento eu não sabia qual o propósito de J.M e E.D
naquela ilha, à primeira vista éramos pessoas com missões
diferentes, mas unidas pelo acaso.
Foi com minha ferramenta de enganação que se tornou uma
maldição que descobrimos o que ocorreu na cidade. Foi numa
fábrica abandonada que fiz contato com o espirito de uma
garota que era funcionária no lugar, ela me revelou uma
Downtown decadente, falida, que teve como último prego do
caixão uma doença que infectou boa parte da população, foi
nesse momento que o exército sitiou a cidade.
Ocorreram alguns pormenores depois desse encontro, mas ele
foi totalmente esmagado pela lembrança do que viera depois.
É difícil escrever sobre o que ocorreu a partir daqui, ainda
tenho pesadelos.
Eu, J.M e E.D formos perseguidos por uma multidão de pessoas
ensandecidas, eram 20 pessoas? 30 pessoas? Não importa, o
que brotou em nós foi apenas o instinto de sobrevivência.

Gritavam por comida, nós éramos a comida.


Depois de escapar da morte, J.M conseguiu que um jipe parasse
a força para nos socorrer, o pobre coitado que tentava
sobreviver nos guiou por um bom caminho antes de E.D espalhar
seus miolos por todo lado.
Era real, eu estava em pânico, como pude me meter nessa
situação apenas pelo dinheiro?
J.M também estava em pleno horror, seus olhos falavam, e
seus olhos sussurravam quatro letras: medo

Para piorar, pude enxergar uma sombra que pairava sobre o


pobre coitado que nunca soube o nome, a sombra foi para E.D
logo depois dele ter atirado.

A sombra sussurrava coisas.

Para piorar ainda mais, o pobre coitado disse que tinham que
conseguir abrigo antes do amanhecer, ao amanhecer a coisa
piorava, as pessoas acordavam, ele dissera.
Para piorar de vez, o estampido do tiro que saiu da pistola
de E.D foi o gatilho para o céu ir clareando, estava
amanhecendo.

SUICÍDIO
Parando para pesquisar depois, nós cruzamos a Ilha Sul de
uma ponta a outra, mas foi em East Park Side que as coisas
ficaram tensas.
As pessoas, as pessoas estavam tomadas por algum tipo de
cólera, algo que as transformava em animais raivosos e
sanguinários, os olhos vermelhos como se estivessem com
sangue coagulado, alguns tinham chifres, partes de animais
incorporadas a sua como uma mistura hibrida saída do inferno.
Para começar, em uma das ruas de acesso nós topamos com uma
esquina cheia de pichações, desenhos, esculturas, montagens
grotescas de um único símbolo.
Acredite em mim, conhecimento é uma benção que pode se
revelar uma maldição, eu já tinha visto aquele símbolo, mas
não tinha dado muita bola, porém o conhecimento resolveu
aparecer na hora ‘‘certa’’.
Por diversas vezes eu tentei reproduzir aquele símbolo, mas
não consegui, por outro lado, o nome que veio com ele ainda
pode ser ouvido quando estou em um lugar silencioso ou quando
o vento sopra entre as árvores.
Quizar, Czar, Kisar. Eu não lembro como diabos escrever o
nome dessa criatura, mas o encontrei em um livro de
Demologia, o tópico dedicado a ele dizia que ‘‘era uma das
mais poderosas criaturas infernais’’.
Depois daquela revelação, J.M, E.D e eu começamos a ouvir um
coro de pessoas reproduzindo um cântico, era assustador ver
milhares de vozes falando coisas que eu nem sabia a origem,
mas todas elas pareciam saber o que dizer, todas elas nos
olhavam como se fossem espectadores de algo muito maior.
Foi ali que eu, J.M e E.D revelamos nossas missões em Gotham,
eu estava ali por dinheiro, J.M para recuperar uma criança
e E.D para investigar o que estava acontecendo. A verdade
nos uniu para sobrevivermos ao último estágio.
Foi ali que eu conheci minha querida Jayne, uma menina
assustada, confusa e que esfaqueou J.M nas costas.
O penúltimo estágio dessa aventura não pode ser descrito,
foi algo que foi restrito ao momento.
Nós conseguimos sair vivos daquele inferno que tinha se
tornado Downtown, formos em direção ao posto do exército e
pedimos socorro, mal sabíamos que os nobres patriotas estavam
ali para nos matar, mas nós conseguimos fugir, eu, J.M, E.D,
Jayne e um bebê que J.M havia trazido da sua aventura no
Park.
J.M e eu conseguimos enganar os soldados e ficamos com todos
os registros daquela expedição ao inferno.
O contato que mantive com J.M e E.D foi pouco, nunca soube
muito deles depois daquele dia, e julgo que foi melhor assim,
éramos fugitivos agora, para sempre.
Tentei escrever um livro e enviar para eles, mas o Inferno
de Gotham nunca chegou as prateleiras e quiçá a J.M e E.D
Finalmente, depois de muito tempo, escrevi tudo que rondava
a minha mente sobre aquele dia, me sinto limpo, embora as
marcas tenham ficado e vão ficar até o dia da minha morte.
Irei guardar esta carta junto com todos os registros que
tenho daqueles dias.
Espero que ninguém encontre esse tesouro maldito.
Mark Easton
09 de Novembro de 2010

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