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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - CAMPUS JOINVILLE

CENTRO TECNOLÓGICO DE JOINVILLE


PROCESSOS DE FABRICAÇÃO – 2021/2

FABRICAÇÃO DE UMA ESTRUTURA DE CUBESAT 6U.

Beatriz Faga*, Hans H. Schulz, Henrique F. Zschornack, Irisson do Nascimento de Lima, Widmark K. S. Cardoso

Universidade Federal de Santa Catarina - CTJ, *beatrizfaga.be@gmail.com

RESUMO

A iniciativa CubeSat foi primeiramente criada com o intuito de promover o estudo e aplicação de atividades
ligadas à exploração espacial. Sendo assim, este trabalho tem como intuito analisar a manufatura e custos de operação
desses equipamentos.

Palavras-chave: CubeSat, Fabricação, Estrutura.

1. INTRODUÇÃO

A iniciativa CubeSat foi primeiramente criada com o intuito de promover o estudo e aplicação de
atividades ligadas à exploração espacial. Entretanto, diante da sua simplicidade, baixo custo, e possibilidade
de realização de missões complexas, esses modelos passaram a ter a atenção de outros setores, que
eventualmente se tornaram mais consistentes com a criação de uma regulamentação mais definida para um
padrão CubeSat.
Para a realização de missões, a qualidade do projeto estrutural de um satélite é de suma importância.
Primeiramente, ele deve garantir que não ocorra danos em nenhuma parte do satélite, como flambagens,
rachaduras e até mesmo fraturas, pois a danificação de um componente pode causar grandes perdas para a
missão, como a perda do controle e da capacidade de coleta de informações. Em situações mais extremas, a
perda pode significar o fracasso da missão (Larson; Wertz, 1999).
Um dos principais componentes na construção desses satélites é a estrutura da frame (Figura 1).
Conhecido também como “Monocoque” são como peles de suporte de carga, que possibilitam maximizar o
volume interno, fornecer maior massa térmica para fontes de calor ou dissipadores, além de permitir mais
pontos de montagem. A construção dessa estrutura é tipicamente extrudada, que é um processo facilmente
fabricável por jatos de água, corte a laser ou usinagem CNC (NASA, 2021).
Figura 1: Estrutura da frame de um CubeSat 6U.

Fonte: PUMPKINS INC, 2021.

2. FUNDAMENTOS DO MATERIAL

2.1. Introdução

Para a produção de estruturas de CubeSats, um dos materiais mais comuns utilizados são ligas de
Alumínio 7075 - T6, T651, devido às suas excelentes propriedades mecânicas e leveza.

2.2. Produção de Ligas 7075

Todo o alumínio 7075 é desenvolvido pelo tratamento térmico de forjamento que alcança por volta
de 370°C. Após isso, essa chapa é recozida a 480°C por duas horas em óleo lubrificante e, depois disso,
submergido em água fria.
Finalmente, é envelhecida por um processo chamado fortalecimento da precipitação por 24 horas a
uma temperatura de 120°C e então resfriada. Dependendo da qualidade da têmpera exigida diferentes
quantidades de temperatura e tempo podem ser aplicados no forjamento do 7075
A liga pode ainda ser melhorada através de um método denominado “temperamento”. Neste método,
a liga é submetida a altas temperaturas (300 - 500 ºC) para reconfigurar a estrutura cristalina e fortalecer suas
propriedades mecânicas.
2.3 Características Metalúrgicas

É relevante destacar as subdivisões da liga em questão. A classe T6 implica no tratamento térmico da


liga por solução e depois envelhecida artificialmente. Já a denominação T651 demonstra também tratamento
térmico por solução, alongamento para alívio de tensão e em seguida, envelhecimento artificial.
As principais características mecânicas e metalúrgicas serão descritas nas tabelas abaixo.

Tabela 1. Composição da liga de alumínio 7075-T6

Metais % na liga Metais % na liga

Alumínio 87,1 - 91,4 Ferro <= 0,5

Manganês <= 0,3 Cobre 1,2 - 2

Magnésio 2,1-2,9 Zinco 5,1 - 6,1

Titânio <= 0,2 Silício 0,4

Cromo 0,18 - 0,28 Outros <= 0,15


Fonte: Arquivo próprio.

Tabela 2. Propriedades Mecânicas da liga de alumínio 7075-T6

Propriedade Valor

Densidade 2.81 g/cm³

Dureza Brinell 150 HBW

Dureza Vickers 175

Resistência à tração (T = 24 ºC) 572 MPa

Resistência à tração (T = 100 ºC) 483 MPa

Resistência à tração (T = -196 ºC) 703 MPa

Módulo de Elasticidade 71.7 GPa

Capacidade Calorífica Específica 0,96 J/g-ºC

Temperatura de Fusão 477 ºC


Fonte: Arquivo próprio.
2.4 Análise de outros materiais

O setor aeroespacial visa evoluir constantemente para alcançar horizontes cada vez mais distantes.
Diante disso, é pertinente analisar outros materiais para questionar ou chancelar a escolha da indústria.
Visando preço e propriedades mecânicas, escolheu-se quatro outros materiais: Aço SAE 4130, Titânio
Ti6Al7Nb, Alumínio 6061-T6 e Alumínio 2024.

Tabela 3: Elementos analisados

Nome Preço Tensão de escoamento Densidade

Aço Sae 4130 0.6 USD/kg 460 MPa 7.85 g/cm³

Alumínio 7075 T6 9.8 USD/kg 572 MPa 2.81 g/cm³

Titânio Ti6Al7Nb 44.5 USD/kg 920 MPa 4.51 g/cm³

Alumínio 6061-T6 3,8 USD/kg 276 MPa 2,71 g/cm³

Alumínio 2024 5,27 USD/kg 469 MPa 2,78 g/cm³


Fonte: Arquivo próprio.
2.5 Fundamentos de escolha

Dada a aplicação do projeto, outros custos devem ser levados em consideração, sendo os principais o
peso e a densidade do material, pois, um CubeSat deve operar no espaço. Para guiar a escolha do material o
custo de produção deve ser inferior ao preço de envio cobrado pelo mercado (14-44 mil dólares por quilo).
Assim, fica claro a decisão de escolha do Alumínio no tocante à preço.
É vital salientar que um CubeSat tradicional permanece em uma órbita específica conhecida como
LEO (Low Earth Orbit ou Órbita Terrestre Baixa). Nesta órbita, o satélite passa por grandes variações de
temperatura devido à exposição solar seguida da penumbra (eclipse). Portanto, é necessário que o material
escolhido apresente um bom comportamento diante dessas condições.
Diante do exposto, resta então escolher corretamente qual alumínio será utilizado. Todos os listados
são usados largamente na indústria aeroespacial. O alumínio 6061-T6 é muito utilizado para pequenas
aplicações aeronáuticas, contudo apresenta baixa tensão de escoamento (a metade da tensão permitida para o
7075-T6) podendo assim, prejudicar a estrutura durante o lançamento, visto que, nesta fase do voo, a força
realizada na estrutura pode chegar até 11 G’s. O alumínio 2024 também é uma ótima escolha visto que
apresenta melhor tensão de escoamento e um baixo custo c. Contudo, o alumínio 2024 possui uma maior
concentração de cobre do que os demais alumínios, tornando-o mais susceptível à corrosão. Devido à
hostilidade do ambiente espacial, o alumínio 2024 deixa de ser uma escolha ideal para a parte estrutural.
Finalmente, conclui-se que a melhor escolha é de fato, o alumínio 7075-T6 devido à sua alta tensão
de escoamento, boa operação dentro da grande variação de temperatura, preço aceitável, baixa corrosividade,
alta dureza e alta temperatura de fusão. Vale ressaltar ainda que uma missão de CubeSats gira em torno de 3
a 5 anos de duração. Portanto, a estrutura estará sendo submetida diversas vezes ao dia por vários dias a um
ambiente hostil com grande variação térmica, chancelando mais uma vez a escolha pelo 7075-T6 visto que é
altamente resistente à corrosão e apresenta baixa dilatação térmica.

2.6 Novas Tendências

Como citado anteriormente, a indústria aeroespacial necessita de constante evolução. Segundo


PRASAD (2018), a tendência futura no ramo aeroespacial é a utilização de ligas de Alumínio-Lítio. Tais
ligas são consideradas como materiais avançados pois possuem baixa densidade, grande módulo de
elasticidade e excelente resistência à fadiga e criogênica. Contudo, ainda não aplicado extensivamente pois
tais materiais apresentam baixa ductilidade, resistência à fratura transversal e a necessidade de estarem a
baixas temperaturas para performar no seu auge. Alguns exemplos são a liga Weldalite 049, Al 2090 e Al
8090.

3. FUNDAMENTOS DO PROCESSO

A conformabilidade, característica que dá nome ao processo de conformação, pode ser definida


como a capacidade que um determinado material tem de ser deformado, atingindo a forma desejada sem
romper. Em relação à fabricação de metais está incluso processos de conformação maciça como extrusão,
laminação e forjamento, além de conformação de chapas por dobramento, repuxo e estiramento,
Na conformação de metais, uma chapa metálica, por exemplo, é plasticamente deformada entre as
ferramentas (ou estampo) para a obtenção da configuração final. Portanto, um componente de geometria
simples é transformado em outro complexo, onde as ferramentas guardam a geometria desejada e aplicam
pressão sobre o material deformando através da interface ferramenta/material.
Dentro do processo, as principais características são a geometria, as tolerâncias, a razão de produção
e os fatores ambientais e humanos do mesmo. Quanto à geometria, cada procedimento de manufatura é capaz
de produzir uma gama de geometrias, que dependendo do desejado só podem ser desenvolvidas com um
grande esforço e custo.
Em se tratando de dimensões, nenhuma peça pode ser produzida exatamente como especificada pelo
projetista. Dessa forma, cada dimensão precisa estar associada a uma tolerância, assim como cada processo
de fabricação permite a obtenção de certas tolerâncias dimensionais, de forma e acabamento superficial. Por
fim, qualquer processo de fabricação deve ser examinado seus impactos ambientais, efeitos fisiológicos e
psicológicos, além do seu uso de materiais e energia.

3.1 Conformação de Chapas de Alumínio

A importância do alumínio nas tecnologias modernas são consequências, de modo geral, da


facilidade com que pode ser conformado nas mais variadas formas úteis, como tubos, chapas finas e a
variedade de acabamento que podem ser aplicados ao metal.
A indústria aeronáutica é a pioneira responsável pelo desenvolvimento do processo de
conformação em prensa de borracha, esse tipo de processo caracteriza-se pela possibilidade de fabricação de
peças com geometrias bastantes complexas. O processo de conformação em prensa de borracha possui
algumas vantagens em relação aos outros processos, como demanda de um ferramental de baixo custo,
garantia nas operações produtivas devido, substituição dos processos de conformações manuais e a precisa
conformabilidade de chapas de alumínio.
O princípio de conformação na prensa de borracha é mostrado na imagem abaixo. O processo recebe
esse nome por conta da borracha exercer um papel importante.

Figura 2: Processo de conformação de chapas de alumínio em prensas de borracha

Fonte: Maroto (2005).

O método de utilização do balão de borracha consiste em aplicar diretamente a pressão hidráulica


(pressão máxima das prensas 1400 psi) sobre a borracha. As chapas de alumínio são fixadas sobre os
gabaritos de conformação, que possuem a forma final da peça, colocados na gaveta e introduzida no interior
da prensa.
Uma câmara flexível na qual é injetado fluído hidráulico, pressiona o colchão principal de borracha,
que por sua vez distribui a pressão por toda a gaveta da prensa. Por sobre a gaveta estende-se um tapete de
borracha para proteger o colchão contra eventuais danos que possam ser provocados pelos gabaritos de
conformação.
3.2 Máquina e Ferramentas Utilizadas

Em geral, a maioria das peças conformadas a partir de chapas finas utilizam prensas mecânicas ou
hidráulicas. Na prensa mecânica a energia cinética é armazenada num volante e transferida para o cursor
móvel do êmbolo da prensa.
As prensas mecânicas são quase sempre de ação rápida e aplicam golpes de curta, enquanto que
prensas hidráulicas são de ação mais lenta mas podem aplicar golpes mais longos.
As ferramentas mais utilizadas em prensas de peças metálicas são a punção e a matriz. A punção,
normalmente o elemento móvel, é a ferramenta convexa que se acopla com a matriz côncava. Como é
necessário um alinhamento acurado entre a matriz e o punção, é comum mantê-los permanentemente
montados em uma sub prensa, ou porta matriz, que pode ser rapidamente inserida na prensa.
Geralmente para evitar a formação de rugas na chapa a conformar usam-se elementos de fixação ou
ação de grampos para comprimir o blank contra a matriz. A fixação é conseguida por meio de um dispositivo
denominado anti-rugas ou prensa-chapas, ou ainda, em prensas de duplo efeito por um anel de fixação.

Empresa Preço

Orbital Sciences 95000 US$/g

SpaceX 20000 US$/g

4. CONCLUSÃO

Dado o preço construtivo e as dimensões do cubesat podemos concluir que a parte mais custosa para
o projeto seria o envio para o espaço. Assim, podemos perceber que o esforço para minimizar o peso ao
máximo, como escolher o alumínio no lugar do titânio ou aço, é realmente contundente, uma vez que, a
adição de uma única grama acrescentaria um custo operacional de 20 mil dólares no melhor dos casos.

5. REFERÊNCIAS

ANWAR, Rizwan; JAHANZAIB, Mirza; ASGHAR, Ghulam. Optimization of Surface Roughness for
Al-Alloy 7075-T in the Milling Process. Technical Journal, University Of Engineering And Technology
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GOMSPACE. 6U Nanosatellite Structure. 2022. Disponível em: https://gomspace.com/shop/subsyst
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PRASAD, N. Eswara; GOKHALE, Amol A.; WANHILL, R.J.H.. Aerospace Applications of Aluminum–
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https://www.aerospacemanufacturinganddesign.com/article/aluminum-alloys-for-aerospace/. Acesso em: 22
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