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de P rata • E verás

os polvos cor de pedra


-de- ros a e c or
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as, 0 s búzios e
as esp ad as do ma r. E a luz
e -
as co m.: salgado e um caran,
a, l 'qu i· da e O próprio ar
se tor nar
bre um a mesa de pedr a. A tua
1
•cue .
JO .
ira, c or ren do so

ve rás uma escada:
sobe depressa mas sem
dir eita ent ão
e desce de�ag'.11'. E ao cimo
tocar no velho cego qu r de meia idade com ru,
ulhe
da escada está uma m tem ao pescoço uma
oas finas e leves na cara. E
�1 edalha de ouro com
o retrato do filho que morreu .
louro, um ramo de
Pede-lhe que te dê um ramo de
de tel
orégãos, um ramo de salsa e um ramo _hor ã. Mais
s
adiante compra figos p retos: mas os figo não são
pretos mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos
eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de ven­
dedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos,
hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a
escada, sai do mercado e caminha para o centro da
cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes
nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e com­
prida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros
pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol.
Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.
Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhan­
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do o branco das paredes e o brilho azul dos azule­
jos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um
cant� o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua
oraçao em frente do grande Deus invisível.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto, 1998

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