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ARTIGO ARTICLE
da formação profissional em saúde no SUS
Abstract This paper examines the national pol- Resumo Este artigo analisa a política nacional de
icy and its antecedents for reorientation of pro- reorientação da formação profissional em saúde,
fessional health training implemented after 2003. desenvolvida a partir de 2003, e seus antecedentes.
It highlights landmarks and transformations in Destaca marcos e transformações no percurso tem-
the course of policies between 1980 and 2010, el- poral da política de 1980 a 2010, elementos de con-
ements of continuity and change and the connec- tinuidade e mudanças e conexões existentes entre
tions between past and current policy initiatives. iniciativas anteriores e a política atual. O estudo
The study involved a review of the literature on envolveu revisão de literatura sobre o tema e aná-
the subject and document analysis supported by lise documental apoiados no referencial teórico de
theoretical analysis of public policies, particular- análise das políticas públicas, em especial o insti-
ly historical institutionalism. The results point tucionalismo histórico. Os resultados apontam
to four different moments during the trajectory of quatro distintos momentos da trajetória da políti-
the policy, marked by changes in the initiatives of ca, demarcados por inflexões nas iniciativas de re-
reorientation of higher education in health: an- orientação da formação superior em saúde: ante-
tecedents; initial experiences; university protag- cedentes; experiências iniciais; protagonismo uni-
onism; broadening and enhancement. As an ele- versitário; ampliação e aprimoramento. Como ele-
ment of continuity, there is the permanence of mento de continuidade, nota-se permanência dos
objects in the guiding principles advocated in the eixos norteadores nos objetos preconizados nas
policies. The evidence of implementation expresses políticas. As evidências de implementação expres-
prospects of enhancement, with diversification of sam perspectiva de ampliação, com diversificação
mobilized actors and organizations, and more dos atores e organizações mobilizados, e mais pro-
1
Subsecretaria de Atenção à projects implemented. The accumulated experi- jetos implantados. A experiência acumulada suge-
Saúde, Secretaria de Estado
ence suggests structural maturity of the structur- re amadurecimento das bases estruturantes das
de Saúde do Rio de Janeiro.
R. México 128/1.103, al bases of action and the main changes relate to ações e as principais mudanças referem-se à valo-
Centro. 20031-142 Rio de the enhancement of decision-making bodies of the rização das instâncias decisórias do SUS e à apro-
Janeiro RJ.
SUS and the approximation to the process of de- ximação com o processo de descentralização e re-
hendias@hotmail.com
2
Departamento de centralization and regionalization of national gionalização da política nacional de saúde.
Administração e health policy. Palavras-chave Formação de recursos humanos,
Planejamento em Saúde,
Key words Training in human resources, Hi- Ensino superior, Políticas públicas de saúde
Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo gher education, Public health policies
Cruz.
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Dias HS et al.
formação da graduação em medicina, em decor- mudanças em todo o país com recursos finan-
rência dos projetos implantados na década ante- ceiros executados na ordem de nove milhões de
rior19. Em 2002, foi criado o Programa Nacional reais. Atualmente, o Curso de Ativadores de
de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cur- Mudança é oferecido pela Fundação Oswaldo
sos de Medicina (PROMED), desenhado pelos Cruz, por meio do Programa Universidade Aberta
Ministérios da Saúde, da Educação e a OPAS, além do Brasil (UAB) do Ministério da Educação25.
da parceria com a Associação Brasileira de Edu- No âmbito do AprenderSUS, o projeto deno-
cação Médica (Abem) e a Rede Unida. O progra- minado EnsinaSUS, contemplou uma série de pes-
ma propunha ações no sentido de adequar a for- quisas e experiências inovadoras de mudanças na
mação médica aos preceitos do SUS, provendo formação e educação permanente em saúde, for-
cooperação técnica às reformas curriculares e necendo referenciais teóricos para o campo26,27. O
incentivando a oferta de estágios nos hospitais Fórum Nacional de Educação das Profissões na
universitários e nos serviços de atenção básica à Área da Saúde (FNEPAS), criado em 2004, organi-
saúde22. Ao final de 2002, o programa havia con- zou-se como importante espaço de debates da for-
templado propostas de 19 escolas médicas com mação em saúde19, indicando ampliação do con-
financiamento na ordem de oito milhões de reais junto de atores e instituições mobilizados.
até o ano de 200322,23. A Política Nacional de Educação Permanente
em Saúde (PNEPS), de fevereiro de 2004, ocupa
As experiências de reorientação posição transversal na articulação de estratégias
da formação profissional em saúde de mudanças nos processos educacionais em saú-
a partir de 2003 de. Naquele ano, as diretrizes da política propu-
seram a implantação do “Polo de Educação Per-
Em 2003, a criação da Secretaria de Gestão do manente para o SUS”, reunindo representantes
Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) via- da gestão e da área da educação, com atribuição
bilizou o desenho de políticas para reorientar a de detectar problemas e elaborar projetos volta-
formação profissional para o SUS, intensifican- dos para a formação e desenvolvimento dos tra-
do, dentre outras ações, o estreitamento das re- balhadores da saúde em um território8.
lações entre instituições formadoras e o sistema Na linha do tempo (Figura 1) é possível visua-
público de saúde. No período entre 2003 e 2004, lizar a cronologia das principais ações que com-
é lançado o Projeto Vivências e Estágios na Rea- põem a evolução da política nacional de reorien-
lidade do Sistema Único de Saúde – o VER-SUS/ tação da formação profissional em saúde, desde
Brasil, cujo desenho reconhecia o sistema de saúde os seus antecedentes (anos 80/90 e 2002) e as pri-
como espaço de ensino e aprendizagem. A sua meiras experiências no âmbito da SGTES até o
implementação contou com um projeto piloto, período mais recente, delimitado pelos anos de
no início de 2004, que envolveu 10 cidades da 2005 e 2010.
Rede de Municípios colaboradores de Educação
Permanente em Saúde e 99 estudantes. Em 2005, Protagonismo universitário na integração
duas edições do projeto VER-SUS/Brasil envol- ensino-serviço (2005 a 2006)
veram, respectivamente, cerca de 50 municípios
de 19 estados e milhares de estudantes; e 10 mu- Em 2005, a partir das experiências acumula-
nicípios de seis estados, com aproximadamente das com as iniciativas prévias e maior aproxima-
250 estudantes18. ção entre a saúde e a educação, é instituída a Por-
Ainda em 2004, foi lançado o AprenderSUS taria conjunta nº 2.118, estruturando a parceria
que teve papel relevante no debate em torno da entre os Ministérios da Saúde e da Educação
integralidade da atenção à saúde como eixo de “para cooperação técnica na formação e desen-
mudança da formação profissional24. Uma am- volvimento de recursos humanos na área da saú-
pla articulação do Departamento de Gestão da de”28. Inspirado no PROMED, no mesmo ano, é
Educação na Saúde (DEGES) da SGTES com a instituído o Programa Nacional de Reorientação
ENSP e a Rede Unida possibilitou a realização do da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saú-
Curso de Especialização de Ativadores de Mu- de), delineado em um contexto de grandes desa-
danças nas Profissões de Saúde, orientado con- fios na implementação das estratégias reformu-
ceitualmente pelo currículo integrado, o cons- ladoras da formação para o SUS. Inicialmente, o
trutivismo e as metodologias educacionais ativas programa (Pró-Saúde I) contemplava os cursos
e de educação a distância19. Até o ano de 2006, de Enfermagem, Medicina e Odontologia29. A
foram formados 597 especialistas ativadores de inspiração do Pró-Saúde no modelo do PRO-
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Política Nacional
Criação da
de Educação Permanente em Saúde
SGTES
Figura 1. Cronologia das principais ações de reorientação da formação profissional em saúde para o SUS.
Brasil, décadas de 1980 e 90 e anos 2000.
MED teve como uma das suas motivações as nhado de uma carta-compromisso da Secretaria
mudanças ocorridas no DEGES e na SGTES, em Municipal de Saúde (SMS) e apreciado pelos cole-
virtude da substituição do Ministro da Saúde e giados dos cursos de graduação. A seleção de pro-
de dirigentes do departamento e da secretaria19. postas ficava a cargo da comissão assessora naci-
A iniciativa tem como foco a aproximação da onal que avaliava a sua conformidade com as
academia com os serviços públicos de saúde, sus- Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)29.
tentada na reorientação da formação profissio- Como mecanismos de condução nacional,
nal e na abordagem integral do processo saúde- acompanhamento e avaliação, tem-se a consti-
doença a partir da atenção básica. Os objetivos tuição de um conselho consultivo, composto de
incluem o estabelecimento de mecanismos de órgãos e instituições governamentais, do movi-
cooperação técnica entre gestores do SUS e as mento estudantil, conselhos e associações pro-
instituições acadêmicas e a ampliação da dura- fissionais, e as comissões assessora e executiva,
ção da prática educacional nos serviços do SUS, responsáveis pela administração do programa,
dentre outros30,31. apoio técnico e avaliação da execução da política,
Com a implementação do Pró-Saúde, espe- bem como ações de seleção, acompanhamento e
rava-se a substituição do modelo de formação – avaliação dos projetos. O financiamento ficava a
individual, de caráter fortemente especialista e cargo da programação orçamentária do Minis-
hospitalocêntrico – para um processo formati- tério da Saúde29.
vo que levasse em conta os aspectos socioeconô- Os anos 2005 e 2006 configuraram os passos
micos e culturais da população. Preconizava-se a iniciais da política, evidenciando a maior preocu-
articulação com o sistema público de saúde por pação em operar os seus dispositivos estruturais
meio de ações de promoção da saúde e preven- e administrativos – composição das comissões e
ção de agravos; da difusão da educação profissi- conselho consultivo neste primeiro momento do
onal como um processo permanente; da busca Pró-Saúde (Pró-Saúde I) – quando se observa a
pelo equilíbrio entre a excelência técnica e os fa- restritividade quanto ao escopo de profissões
tores de ordem social; e das mudanças no desen- contempladas pela iniciativa. Destaca-se o pro-
volvimento das pesquisas em saúde em prol do tagonismo das Instituições de Ensino Superior
SUS. Tais argumentos, dentre outros, se consti- (IES) na formulação e implementação das pro-
tuem nas bases para o desenvolvimento dos pro- postas e na estruturação das instâncias de acom-
jetos institucionais que o programa propõe32. panhamento e avaliação do programa.
A adesão ao Pró-Saúde I era feita por submis-
são de projeto (um projeto por curso), acompa-
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Tabela 1. Número de cursos e projetos contemplados, IES e Secretarias de Saúde envolvidas e total de
recursos financeiros empregados nas duas edições do Programa Nacional de Reorientação da Formação
Profissional em Saúde – PRÓ-SAÚDE. Brasil, 2010.
Secretarias Recursos
Cursos Projetos IES de saúde financeiros (em
contemplados contemplados envolvidas envolvidas milhões de reais)
PRÓ-SAÚDE I (2005) 90 90 62 49 9
PRÓ-SAÚDE II (2007) 354 68 68 77 53 *
*
Valor aproximado
Fontes: Brasil33,34,35.
1619
Momento Antecedentes
Período/ano Anos 80 e 90 2002
Programas e
projetos IDA UNI PROMED
prioritários
continua
1621
Evidências de Restrito aos cursos de Medicina, Ampliação para as demais profissões de saúde
implementação Enfermagem e Odontologia Valorização das instâncias decisórias do SUS e
Protagonismo universitário da função de tutoria e preceptoria
Foco nos aspectos estruturais Incremento nos incentivos financeiros
e administrativos da implantação Valorização das instâncias de condução
locorregional
Fonte: Elaboração dos autores, 2011.
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Dias HS et al.
Colaboradores
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