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OS MAIAS

De Eça de Queirós

Capítulo X: As corridas de cavalos


RESUMO
O episódio das corridas de cavalos passa-se no capítulo X, depois de Carlos
começar a manifestar enfado da condessa de Gouvarinho, que insistia
naquela relação amorosa extraconjugal.
Mais tarde, Carlos apercebe-se, durante uma conversa com o Marquês, que
a corrida de cavalos tinha sido antecipada para o Domingo seguinte. A sua
reação é de contentamento, pois daí a cinco dias iria, finalmente, conhecer
Maria Eduarda, uma vez que certamente também iria estar nas corridas, um
acontecimento social tão divulgado.
Acompanhado de Craft, Carlos dirigiu-se ao hipódromo, onde iria se
realizar a corrida de cavalos, no seu faetonte, mas ia irritado e melancólico,
porque ainda não tivera oportunidade de ver a mulher que o deixara
enfeitiçado. O espaço apresenta-se sujo e degradado e, naquele domingo de
festa e de sol, as pessoas vestiam casimiras e sedas de missa e apinhavam-
se.
Neste episódio Dâmaso surge como um novo rico que se aproxima de
Carlos, tentando imitá-lo na sua elegância e modos, mas que rapidamente
se vai revelar sem carácter e cínico.

TEMPO E ESPAÇO
Quanto ao tempo este capítulo decorre num domingo, pelas duas da tarde.
Em relação ao espaço a ação ocorre no hipódromo, ao fim do Largo de
Belém. O espaço é descrito com um misto de objetividade e subjetividade.
Certos termos insultuosos acentuam o ridículo mostrando o improviso e a
falta de elegância: «traves mal pregadas», «palanques de arraial».
Socialmente percebe se a falta de preparação para um evento que nada
tinha a ver com os hábitos e costumes da sociedade lisboeta.
Importância do episódio no contexto geral da obra

Este é um dos mais importantes episódios que ilustram o modo de vida da


alta sociedade lisboeta, as corridas de cavalos, organizadas com o objetivo
de transpor para Lisboa o cosmopolitismo de outras cidades europeias.
Também desta vez acontece uma desordem que faz estalar o verniz da
civilização e requinte social. Destaca-se a aparência e a essência
provinciana da mentalidade portuguesa. É um episódio da crónica de
costumes que a visão do narrador focaliza de forma muito critica através da
personagem de Carlos e alguns amigos.

Questões sociais retratadas

Vou passar então a destacar alguns dos aspetos de crítica social presentes
neste capítulo:

 O hipódromo era um espaço caricato, com uma entrada que era uma
«abertura escalavrada num muro de quintarola», apresentava a relva
já um pouco queimada pelo sol, uma tribuna real forrada de baetão
vermelho, «traves mal pregadas, como palanques de arraial», fendas
nas tábuas mal pintadas e um bufete sujo e com aspeto de taberna.

 Os anónimos que estão no espaço são também representados


caricaturalmente:
1. um homem triste, que recebia os bilhetes;
2. gente sem um rumor, numa atitude de
pasmaceira;
3. um cavalheiro parado a olhar para as senhoras;
4. um trabalhador com um filho ao colo
5. as senhoras com vestidos desgadelhados para o
evento.

 Instalou-se uma desordem a partir de uma discussão na qual


participaram grosseiramente algumas personagens, estalando o
verniz dos que frequentavam atividades que imitavam hábitos
estrangeiros, mas que se expunham de forma ridícula, evidenciando
um provincianismo snob. (falta de civismo)
A sociedade feminina

Um dos temas também abordados nesta obra é a sociedade feminina


naquela época.
As mulheres estavam todas na tribuna, todas elas vestidas de forma
inapropriada.

Com vestidos de missa, sérios, algumas delas com chapéus emplumados


que se começavam a usar. O comportamento da assistência feminina que
nada fazia de útil e a sua vida são no seu todo caricaturados. O traje
escolhido não era o mais correto face à ocasião, dai até alguns dos
cavalheiros se sentiam embaraçados no seu chique.

Assim, o ambiente que devia ser requintado, mas, ao mesmo tempo, ligeiro
como compete a um evento desportivo, era deturpado, pela falta de gosto
pelo ridiculo da situação que se queria requintada sem o ser.

É também criticada a falta de à-vontade das senhoras da tribuna que não


falavam umas com as outras e que, para não desobedecer às regras de
etiqueta, permaneciam no seu posto, mas constrangidas.
Posso comprovar o que acabei de dizer com o seguinte excerto do episódio:
“(…) havia uma fila desenhoras quási todas de escuro(…)” até ao final do
parágrafo. (pag.305)

Mas houve uma exceção, pois D. Maria da Cunha que abandonou a tribuna
e foi se sentar perto dos homens.

Tradição estrangeira

As corridas de cavalos não eram de raiz portuguesa, foram trazidas do


estrangeiro pois naquela época a sociedade achava que tudo o que vinha de
lá é que era chique e requintado.

Ao longo do episódio podemos aperceber-nos em como Afonso da Maia,


apesar de ser um inglês, é bastante patriota, pelo que não gosta da ideia da
corrida de cavalos e defende sempre que as touradas é que devem ser feitas.

Mas ao contrário de Afonso temos presente Dâmaso que desvaloriza as


tradições portuguesas e que tenta elevar o seu país copiando o estrangeiro.
Podemos ver esta contradição num diálogo feito entre Afonso da Maia e
Dâmaso:
“- O verdadeiro patriotismo, talvez - disse ele - seria, em lugar de corridas,
fazer uma boa tourada. Dâmaso levou as mãos à cabeça. Uma tourada!
Então o Sr. Afonso da Maia preferia touros a corridas de cavalos? O Sr.
Afonso da Maia, um inglês!.” (pg.299)

Mas como já podemos ver, o hipódromo tinha tudo menos de chique e


requintado. É também necessário destacar o facto de as personagens
recorrerem a expressões estrangeiras utilizadas em corridas de cavalos
«gentleman; jockey»

O estilo queirosiano

O estilo queirosiano é marcado pela utilização de

-adjetivos e advérbios: o objetivo é tornar a sua escrita mais expressiva,


transmitindo ao leitor uma sensação de visualização. Assim, consegue
demonstrar a sua visão crítica sobre a sociedade do século XIX de uma
forma subtil, mas com grande ênfase, fazendo com que a sua sátira nos
pareça objetiva. “Diante deles, o hipódromo elevava-se suavemente em
colina, parecendo, depois dapoeirada quente(…)mais fresco, mais
vasto(…)”(pag.304)

-Eça utiliza também os diminutivos como forma de expressar a sua


opinião, geralmente, depreciativa, como podemos ver na seguinte
descrição: “A boa titi, uma velha pequenina,(…)” (pag.291)

- A grande presença dos estrangeirismos, trata-se de outra característica


muito distinta deste autor, que é uma espécie de “dedo apontado” à
sociedade burguesa que importa os modelos estrangeiros de forma pouco
criteriosa e pouco adaptada à realidade nacional. “O sr,Savaredo que era do
Jockey Club(…)” / “(…)atrás do dog-cart(…)” (pag.304) “Isto é um
horror. E depois que diabo, para corridas é necessário coccotes e
Champagme. Com esta gente séria, e água fresca, não vai!” (pag.304) e
nesta fala etstá também presente outra critica feita á tradição estrangeira
trazida para Portugal.

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