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ANÁLISE TEXTUAL – Cap. X (página 316 e 317): “-Vamos nós ver as mulheres...”
até “...Todos nós somos lodaçal...”
1- Assunto
2- Desenvolvimento do assunto:
2.3. Como após o segundo parágrafo, todo o discurso vai girar à volta da pessoa de Carlos, o narra-
dor quer marcar, em toda a assistência referida, duas ausências significativas para ele: a condes-
sa de Gouvarinho e Maria Eduarda, sendo esta última «aquela que os olhos de Carlos procura-
vam».
2.4. Por último, e fora da tribuna porque não aguentava a cerimónia das senhoras que ali se
encontravam, estava D. Maria da Cunha a falar com Carlos.
A intenção crítica ressalta em todo o texto como se pode verificar pelos aspetos a seguir referidos:
Falta de à-vontade das senhoras da tribuna que não falavam umas com as outras:
Um segundo quadro que poderemos referir, onde se nota a capacidade de surpreender a vida
em flagrante, é aquele que representa a conversa entre Carlos e D. Maria da Cunha. No primeiro
momento, sentimos gravar-se na nossa retina uma série de gestos para atraírem a atenção de Carlos:
«chamava-o com o olhar, com o leque, com o seu sorriso.»
Em seguida o narrador apresenta-nos, com uma acumulação de pormenores, o seu retrato físico e
psicológico:
- bela mas cabelos grisalhos;
- muito à vontade;
- com os pés pousados na travessa da cadeira;
- o binóculo no regaço;
- cumprimentando a cada instante;
- tratando os rapazes por «meninos.»
Em relação a D. Maria da Cunha o narrador não quer esquecer nenhum pormenor especificando
a sua posição, o seu modo de estar, as suas atitudes, como se se munisse de uma câmara de vídeo
para captar, com mais realismo, as cenas observadas.
4 - Recursos estilísticos
Para além dos recursos de estilo aludidos a propósito das respostas anteriores, podemos ainda
salientar os seguintes:
ANÁLISE TEXTUAL – Cap. X (página 334, 335 e 336): “Agora começava a divertir-
se...” até
“...chuva de placas que ele recolhia rindo no chapéu.”
Descreve-se neste texto uma corrida de cavalos realizada num hipódromo de Belém.
Este hipódromo vai ser o espaço onde decorrerá um dos mais interessantes episódios da comédia de
costumes presente n’ Os Maias.
O assunto desenvolve-se em três partes distintas: a primeira, que engloba o primeiro parágrafo,
funciona como uma introdução ao tema, e justifica o motivo que levou Carlos a apostar em «Vladimiro»;
a segunda começa com o grito de Taveira a incitar o «Minhoto», marcando o início da descrição da
corrida e decorre, numa gradação crescente de emoção e de entusiasmo, até à chegada à meta; a terceira
parte traduz a reacção de desânimo das personagens que perderam a aposta a favor de Carlos.
2- Linguagem e estilo
A segunda parte do texto, que se desenrola, como dissemos, a partir do grito do Taveira, vai ser
dominada por duas sensações - de movimento e de ruído que criam todo um ambiente de excitação,
nervosismo e confusão, próprio de cenas como esta. As referidas sensações aparecem simultaneamente
e são produzidas pelos cavalos de corrida e pela assistência.
No que toca aos cavalos, é «o Minhoto que se arremessava para a frente» e «vinha devorando a
pista», são os dois potros que «chegavam furiosamente (...) os focinhos juntos, os olhos esbugalhados,
sob uma chuva de vergastadas.»
Há uma sugestão do tropear dos cavalos dada através da aliteração «Som surdo» e da repetição do
«a» aberto e de sons nasais na expressão: “Os dois cavalos aproximam-se com um som surdo das patas
trazendo um ar de rajada.»
Quanto à assistência, também as sensações de ruído e movimento estão presentes a marcar o seu
frenesi, o seu descontrolo, a sua animosidade – (notar a expressividade das formas verbais):
São os amigos de Godinho que «precipitando-se para a pista bradam de chapéus no ar: - Minhoto!
Minhoto!»
É «a russa, toda nervosa» que «batia as palmas» que «animava Minhoto com gritinhos, com
pancadas de leque.»
«Até a enorme Craben se erguera»
«O Telas da Gama (... ) berrava por «Vladimiro»
«uma linha de homens contra a corda da pista bracejando»
«Algumas senhoras tinham-se posto de pé nas carruagens»
«Dois cavaleiros corriam à desfilada»
«O jóquei inglês (... ) fez silvar triunfantemente o chicote.»
É uma descrição rica de visualismo onde as imagens dos cavalos com, «os olhos esbugalhados»,
os «homens bracejando», os amigos de Godinho «de chapéu no ar», os dois cavaleiros a correr à
desfilada, nos entram pelos olhos dentro para nunca mais se esquecerem.
Na terceira parte do texto verifica-se um estado emocional de desilusão. Ai aparecem os
galicismos «poule», «gris-perle», «chance» a sugerir um cosmopolitismo snob completo pela fala da
ministra da Baviera em francês, língua que Carlos entende perfeitamente.
Ao longo de todo o texto aparecem-nos diminutivos com sentido depreciativo: uns a ridicularizar
os cavalos - «cavalicoque» - outros a satirizar a assistência - «gritinhos», «mãozinhas».
A adjectivação por vezes é emparelhada: «peito largo e fundo», «potro esticado e lustroso» e
frequentemente muito expressiva como quando se refere à «enorme Craben», à «vasta ministra da
Baviera» ou ao «dedo subtil de Steinbroken».
Há recurso aos advérbios de modo derivados de adjectivos, com intenção expressiva:
«chegavam furiosamente»; «brilhar gulosamente»; «fez silvar triunfantemente».
3- Intenções do texto
Com este texto, que constitui um episódio magnífico da comédia de costumes, pretende o autor
criticar o gosto que têm os Portugueses de supervalorizar tudo o que é estrangeiro e de o introduzir nos
nossos costumes, descuidando as necessárias adaptações.
As corridas, que colhem sucesso no estrangeiro, aqui estão condenadas ao malogro, porque tudo se
improvisa e não se criam as condições que garantam o êxito. E, deste modo, vemos corridas tão
aparatosas terminarem apenas com dois cavalos em prova.
Satiriza-se também o patriotismo provinciano e ridículo do Gouvarinho que «estava contente no seu
peito de patriota» e Teles da Gama que «achava aquilo patriótico» por verem, numa corrida de cavalos
nacionais, o prestígio da sua Pátria.
Critica-se ainda o baixo nível da sociedade elegante portuguesa que se deixa entusiasmar por uma
corrida onde os cavalos de raça são ridiculamente substituídos por meros «cavalicoques».
4- Marcas do autor
A fina ironia que domina toda a descrição.
A crítica sarcástica com que atinge determinadas personagens.
O emprego de adjetivos expressivos, colhidos no léxico corrente mas empregados noutro contexto
semântico:
«a vasta ministra da Baviera», «a enorme Craben».
O emprego do advérbio de modo com uma função metafórica: «chegavam furiosamente».
O uso da linguagem coloquial.
O recurso a cenas de movimento, pois até quando se trata de paisagens estáticas, ele tem delas uma
visão animista.
A acumulação de pormenores descritivos que reforçam a visão que temos da realidade.
A existência de indícios que vão urdir-se todos, ao longo d' «Os Maias», na mesma teia, onde Carlos
se irá enredar:
«Vous connaissez le proverbe: heureux au jeu ... »
(A ministra da Baviera lembra a Carlos que se ponha de atalaia porque quem é feliz no jogo é infeliz
nos amores.)
5- Marcas da época
São marcas da época as corridas de cavalos que acabaram por não se enraizar na tradição portuguesa;
a existência de uma aristocracia decadente que por qualquer coisa se entusiasma e vai perdendo a sua
nobreza de outrora; a grande influência da cultura francesa nos nossos hábitos, na nossa língua.
O texto é um documento vivo de uma época que morreu onde havia condes, carruagens de cavalos, o
chapéu estava na moda e as distracções da alta sociedade eram bem diferentes das nossas.