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ARTIGO – DOI: http://dx.doi.org/10.15689/ap.2018.1702.13662.

03

Evidências de Validade da Escala


de Síndrome Pré-Menstrual
Magno Oliveira Macambira1
Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana-BA, Brasil
Hudson Golino
Department of Psychology, University of Virginia, USA

RESUMO
Os estudos sobre variáveis exclusivamente femininas são raros na literatura nacional. O presente estudo teve como objetivo identificar
evidências de validade da Escala de Síndrome Pré-menstrual (ESPm). O instrumento foi construído a partir de descrições de sintomas
comumente relatados na literatura especializada e passou pelo crivo de juízes que avaliaram os itens e fatores propostos. Posteriormente,
o instrumento foi aplicado em 391 trabalhadoras, por meio de um link disponibilizado virtualmente. Os indicadores de validade foram
identificados, a partir da análise fatorial confirmatória, onde a melhor adequação foi apresentada por um modelo bifatorial, com menor
qui-quadrado, menos graus de liberdade, além de um RMSEA de 0,04 e um CFI de 0,98. Os dois fatores que compõem a escala final
(fator emocional e fator físico) contém ao todo 38 itens.
Palavras-chave: medidas organizacionais e ocupacionais; síndrome pré-menstrual; síndrome disfórica pré-menstrual; mulher; tensão
pré-menstrual.

ABSTRACT – Preliminary Pre-Menstrual Syndrome Scale Validation


Studies on exclusively female variables are rare in national literature. The present study aimed at a preliminary validation of the
Premenstrual Syndrome Scale (PmSS). The instrument was elaborated based on proposals from nursing and nutrition specialists and was
reviewed by judges who evaluated the proposed items and factors. Subsequently, the instrument was applied to 391 workers through a
virtual link. The validity indicators were identified from the confirmatory factor analysis, where the best fit was presented by a two-factor
model, with a lower chi-square, fewer degrees of freedom, in addition to a RMSEA of 0.04 and an CFI of 0.98. The two factors that make
up the final scale (emotional factor and physical factor) contain a total of 38 items.
Keywords: organizational and occupational measurements; premenstrual syndrome; worker's health; premenstrual dysphoric syndrome.

RESUMEN – Validación Preliminar de la Escala de Síndrome Pre-Menstrual


Los estudios sobre variables exclusivamente femeninas, no son muy frecuentes en la literatura nacional. El presente estudio, tuvo
como objetivo realizar una validación preliminar de la Escala de Síndrome Pre-menstrual (ESPm). El instrumento fue construído
a partir de propuestas provenientes de la enfermería y nutrición y pasó por eltamiz de jueces que evaluaron los ítems y factores
propuestos. Posteriormente, el instrumento fue aplicado a 391 trabajadoras, a través de um link disponibilizado virtualmente. Los
indicadores de validez fueron identificados, a partir de análisis factorial confirmatorio, donde la mejor adecuación fue presentada por
un modelo bifactorial, con menor qui-cuadrado, menos grados de libertad, además de un RMSEA de 0,04 y un CFI de 0,98. Los dos
factores que componenla escala final (factor emocional y factor físico) contienenen total 38 ítems.
Palabras clave: medidas organizacionales y ocupacionales; síndrome pre-menstrual; salud del trabajador; síndrome disfórico pre-
menstrual.

Os estudos sobre comportamento do trabalhador já Ao avaliar os estudos que exploram o universo femi-
se apresentam como parte de uma tradição consolidada nino, nota-se que boa parte do conhecimento produzido
de pesquisa e elaboração de estratégias de diagnóstico e vem de estudos que diferenciam a conduta ou a expressão
intervenção para o contexto organizacional no Brasil e no de determinados fenômenos entre os sexos (Magalhães
mundo (Siqueira, 2008). Contanto, apesar do crescen- & Macambira, 2013; Ramos & Jordão, 2014). Contudo,
te espaço ocupado pela mulher no mercado de trabalho, a mulher representa atualmente uma parcela significativa
poucos estudos têm se dedicado a questões exclusiva- da população de trabalhadores no Brasil, estando inserida
mente femininas. em praticamente todas as funções e assumindo posições

1
Endereço para correspondência: Avenida Transnordestina, s/n, Novo Horizonte, Módulo 7, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, 44036-900, Feira de
Santana, BA. E-mail: macambira04@gmail.com

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Escala de Síndrome Pré-Menstrual

em toda a estrutura hierárquica nas organizações pública Apesar do aparente caráter fisiológico no controle do
e privada, apesar de ainda cercada por preconceitos e es- ciclo menstrual, outros fatores identificados na literatura
tigmas (Fernandes, 2013). também impactam na intensidade dos seus efeitos. Entre
Neste estudo, elege-se uma variável exclusiva- eles, a nutrição e características da relação da mulher com
mente feminina, a Síndrome Pré-Menstrual (SPM), o ambiente, mais precisamente, nível de estresse e emo-
por se tratar de um fenômeno pouco explorado nos ções vivenciadas (Costa, Fagundes, & Cardoso, 2007).
estudos sobre comportamento organizacional, apesar Em uma revisão de literatura, Souza, Ramos, Hara,
de sugerir um impacto significativo no bem-estar, nas Stumpf, e Rocha (2012) identificam 27 estudos sobre o
emoções, rendimento e humor das mulheres (Espina, Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM). Os es-
Fuenzalida, & Urrutia, 2005; Silva, Gigante, Carret, tudos identificados evidenciam uma leve alteração no
& Fassa, 2006; Mattia, Santos, & Bernauer, 2008; desempenho cognitivo em mulheres sadias ao longo do
Chemin et al., 2012). ciclo menstrual, obtendo menores pontuações na fase
A Síndrome Pré-Menstrual (SPM) pode ser des- lútea. Entre as variáveis revisadas estão: habilidades vi-
crita como o conjunto de sintomas físicos, emocionais suoespaciais e motoras, atenção e concentração, memó-
e comportamentais sofridos pela mulher, na semana que ria verbal, memória visual, memória de trabalho e tempo
antecede o ciclo menstrual e que reduzem de intensi- de reação. Em comparação com mulheres que apresen-
dade com o início do fluxo menstrual (Ishii, Nishino, tavam Síndrome Pré-menstrual e Transtorno Disfórico
& Campos, 2009). Epidemiologicamente, 75 a 80% das Pré-menstrual, as sadias apresentavam sintomas leve-
mulheres apresentam sintomas durante o referido perí- mente mais brandos na fase lútea.
odo, podendo em muitos casos demandar auxílio profis- Mas como identificar a intensidade da SPM?
sional (Brilhante et al., & 2010).Vale ressaltar que, apesar Atualmente o recurso mais utilizado são listas de veri-
de incomum, a literatura descreve episódios de menstru- ficações de sintomas, realizadas no exame clínico. Esses
ação em mulheres com mais de 51 anos, havendo relatos checklists apontam a presença ou ausência de sintomas,
nacionais da ocorrência de menstruação até os 54 anos de e não sua intensidade, o que pode gerar equívocos no
idade (Barcelos, Zanini, & Santos, 2013). prognóstico.
A SPM, em certas mulheres, pode acarretar em Em um estudo que envolveu 4.032 mulheres, em 19
um conjunto de sintomas tão agressivos que, de acordo diferentes países, trabalhadoras foram convidadas a par-
com o Diagnosticans Statistical Manual of Mental Disorders ticipar de um levantamento para identificar o impacto da
– quinta edição (APA, 2014), caracteriza-se como uma Síndrome Pré-Menstrual e do Distúrbio Disfórico Pré-
categoria nosológica específica: o Transtorno Disfórico Menstrual no absenteísmo e na percepção de eficiência
Pré-menstrual. Esse transtorno é categorizado como um a partir de escalas de autorrelato. Os resultados aponta-
transtorno de humor e apresenta prevalência de 2 a 8% ram que as mulheres classificadas com Síndrome Pré-
das mulheres em período fértil, com queixas psíquicas Menstrual e com Síndrome Disfórica Pré-Menstrual,
relevantes (Demarque et al., 2013). Essa inserção no de intensidade moderada à grave alegaram ter um nível
principal manual de transtornos psicológicos e psiquiá- de absenteísmo superior, com mais de oito horas de ab-
tricos do mundo, caracteriza-se como o reconhecimento senteísmo por ciclo menstrual. O resultado do indicador
clínico de um fenômeno que é comumente identificado de eficiência no trabalho apresentou a mesma tendência,
no senso comum como um sofrimento menor, vivencia- com índices superiores aos das participantes com SPM
do rotineiramente pela mulher. leve. (Heinemann, Minh, Lindemann, & Filonenko,
Na SPM, o conjunto de sintomas, de ordem físi- 2012). Apesar de intrigante, o trabalho não apresenta re-
ca e psicológica, pode ocorrer com intensidade variada sultados sólidos, tendo em vista que não houve a apre-
na fase lútea tardia do ciclo menstrual, na semana que sentação de resultados estatísticos robustos para confir-
precede a menstruação e, geralmente, desaparece al- mar as conclusões.
guns dias após o início do fluxo menstrual (Muramatsu, A escassez de estratégias para avaliar o nível da
Vieira, Simões, Katayama, & Nakagawa, 2001). Esse ci- SPM e a indicação de que esse fenômeno pode inter-
clo, é iniciado por estímulos fisiológicos do eixo hipo- ferir em variáveis importantes como bem-estar, quali-
tálamo-hipófise-ovário e controla todo o processo de dade de vida, capacidade produtiva, entre outros, gerou
alterações hormonais. O hipotálamo estimula a produ- a necessidade do desenvolvimento de um instrumento
ção das gonadotropinas que, por sua vez, determinam válido e confiável para a mensuração da intensidade da
a secreção ovariana e a produção dos óvulos. Por fim, síndrome pré-menstrual, sendo útil a diversos objetivos
após o desenvolvimento do óvulo e consequente ovu- clínicos e de gestão de pessoas, por exemplo. Este estu-
lação e formação do corpo lúteo, o estrogênio e a pro- do tem como objetivo descrever a construção e as evi-
gesterona produzidos pela ação das gonadotropinas no dências de validade da Escala de Sintomas da Síndrome
tecido ovariano produzem as condições para o processo de Tensão Pré-menstrual (ESPm) por meio do uso
de descamação do endométrio e a ocorrência do fluxo de análise fatorial confirmatória de diversos modelos
menstrual (Chemin et al., 2012). estruturais.

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Este estudo faz parte de um projeto maior que en- pesquisa estiveram em conformidade com as orientações
volve a relação dos níveis percebidos de sintomas pré- éticas previstas.
-menstruais em trabalhadoras, com outras variáveis De forma a avaliar, inicialmente, sua validade de
comumente estudadas no campo do comportamento or- conteúdo, a versão inicial da ESPm foi submetida à aná-
ganizacional. No entanto, essa escala não é exclusiva para lise de juízes (experts na área de síndrome pré-menstrual).
o contexto organizacional, sendo indicada para a avalia- Foram utilizados cinco juízes, tendo em vista seu grau
ção do fenômeno em qualquer contexto. de especialidade na área. Todos os itens foram avaliados
de acordo com a seguinte escala: +1 (O item refere-se à
Método sintomas de SPM); 0 (Não sei opinar); e -1 (O item não se
refere à sintomas de SPM). Posteriormente, os juízes avalia-
Participantes ram a pertinência de cada item em relação ao conjunto de
Fizeram parte da pesquisa, mulheres de diferentes dimensões de qualidade de vida. Assim, foi questionado
estados do Brasil. A amostra foi por obtida por conve- “A qual fator este item pertence?”. Somente foram man-
niência, respeitando uma busca por variabilidade das tidos os itens que apresentaram no mínimo 80% de con-
participantes, como objetivo de desenvolver uma escala cordância na avaliação dos juízes (Pasquali, 1999). Itens
válida que independa da idade e perfil socioeconômico. que possuíram grande variação no padrão de avaliação do
A coleta em vários estados foi operacionalizada através seu conteúdo foram aperfeiçoados e mantidos na versão
de coleta virtual por meio da plataforma de pesquisa operacional da medida, a fim de que os procedimentos
Survey Monkey. estatísticos possam auxiliar na decisão sobre sua validade
Participaram ao todo 391mulheres, com idade entre de construto.
17 a 54 anos, sendo que 40,4% da amostra apresenta uma No segundo momento, após a análise de juízes, a
idade entre 26 a 35 anos, sendo essa classe a mais repre- escala foi aplicada em sua versão preliminar em algumas
sentativa de toda a amostra, 38,2% está entre 17 e 25 anos, trabalhadoras no formato presencial. Esse procedimen-
18,4% entre 36 e 45 anos e apenas 2,9% tinham mais de to, auxiliou na análise semântica e buscou verificar se
45 anos. Em termos de escolaridade, a parcela mais re- os itens seriam bem compreendidos pelo público-alvo
presentativa tem ensino superior incompleto (51,7%), ou se havia itens que não se adequavam ao nível socio-
seguindo de superior completo e ensino médio completo cultural das possíveis participantes da pesquisa. Para a
(ambos com 15,2%), especialistas (14,5%) e o restante realização da análise semântica, 10 trabalhadoras foram
das participantes tem ensino médio incompleto (3,4%). selecionadas intencionalmente, incluindo diferentes
níveis educacionais e atividades laborais diversifica-
Instrumento das para responder ao instrumento. Foi solicitado que
A Escala de Síndrome Pré-menstrual (ESPm) quaisquer dúvidas na formulação dos itens ou do ins-
foi construída a partir da categorização de listas de trumento como um todo fossem expressas abertamen-
sintomas característicos dessa fase, na literatura es- te. Os itens enquadrados como extensos, complexos ou
pecializada (Muramatsu et al., 2001), em formato de de difícil entendimento foram reformulados para a ela-
uma escala graduada do tipo Likert. O instrumento boração dos itens de teste da ESPm.
foi aplicado por meio digital, garantindo o anonima- Por fim, a escala elaborada apresenta itens de com-
to e segurança dos trabalhadores e integridade das in- plemento à afirmação: “No período que antecede a
formações coletadas. Os dados foram transferidos e menstruação eu…”. Entre os itens temos: “Percebo meu
analisados no software de estatística computacional R humor alterado”, “Tenho pena de mim mesmo”, “Tenho
(R Core Team, 2014) com objetivo de identificar evi- dor de cabeça”, “Tenho dificuldade de concentração”,
dências iniciais de validade por meio de análise fatorial “Sinto raiva”, “Sinto vontade de chorar”, entre outros.
exploratória e confirmatória. O questionário foi dividido em três partes. A primeira
A proposta inicial da escala continha 41 itens, sendo solicita informações sobre o perfil de trabalho, a segunda
subdividido em dois fatores, a saber: 1. sintomas físicos, apresenta a escala de síndrome pré-menstrual e a teceria
que caracterizam os efeitos físicos causados pela SPM e parte levanta informações sociodemográficas.
percebidos pelas trabalhadoras como dor e percepções de
alterações corporais no período menstrual; e 2. sintomas Procedimento de Coleta de Dados
emocionais, descritos pelas alterações de humor, emo- Os dados foram coletados por meio de uma pla-
ções, autopercepção de desempenho e controle de com- taforma virtual de pesquisa: Survey Monkey. Após a
portamentos relacionados ao desempenho no trabalho. elaboração do questionário, foi gerado um link e dis-
Buscando garantir que todos procedimentos éti- ponibilizado por e-mail para as participantes locais. As
cos de coleta e análise de dados, todas as participantes participantes eram convidadas a responder à pesquisa
assentiram com o Termo de Consentimento Livre e e era dada a liberdade para que elas convidassem no-
Esclarecido (TCLE) e, quando menor de idade, o termo vas participantes, respeitando os critérios de inclusão
de assentimento. Todos os procedimentos adotados nesta estabelecidos.

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Legenda. Modelo unidimensional (superior à esquerda), modelo de dois fatores correlacionados (superior à direita), modelo hierár-
quico (inferior à esquerda) e modelo bifatorial (inferior à direita, a linha pontilhada entre FE e FF aponta uma ausência de corre-
lação, uma vez que os modelos bifatoriais são ortogonalizados)

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Análise de Dados FE), e uma versão hierárquica com duas variáveis laten-
A análise fatorial confirmatória foi empregada tes de primeiro nível (FF e FE) e uma variável latente de
por meio do pacote lavaan (Rosseel, 2012) do software segundo nível (SM). Por último, verificou-se o ajuste
de estatística computacional R (R Core Team, 2014). de um modelo bifatorial com um fator geral de primei-
Devido à natureza politômica dos dados, utilizou-se ro nível (SM) explicando todos os itens, e dois fatores
o estimador wlsmv, que é uma versão robusta do wei- específicos (FF e FE), todos ortogonalizados.
ghted least squares. O ajuste dos dados aos modelos foi
verificado por meio dos índices Root Mean Square Error Resultados
of Approximation (RMSEA) e do Comparative Fit Index
(CFI). Um ajuste adequado aos dados é apontado por A análise fatorial confirmatória mostrou que todos
meio de um RMSEA igual ou menor que 0,05 (Browne os modelos apresentaram adequado grau de ajuste aos
& Cudeck, 1993) e um CFI igual ou maior que 0,95 dados. A Tabela 1 apresenta os índices de ajuste dos mo-
(Hu & Bentler, 1999). A Figura 1 apresenta os modelos delos testados.
fatoriais confirmatórios que foram gerados, utilizando- No entanto, o modelo bifatorial é o que apresenta
-se o pacote SemPlot (Epskamp, 2014). Primeiro veri- o melhor ajuste aos dados, uma vez que possui o menor
ficou-se o ajuste de um modelo unidimensional com qui-quadrado, além de um CFI de 0,98 e um RMSEA de
todos os itens do instrumento. Em seguida, verificou-se 0,04. O modelo é composto pelos seguintes itens e cargas
o ajuste de um modelo com dois fatores latentes (FF e padronizadas pelo fator específico e o geral (Tabela 2).

Tabela 1
Ajuste dos Modelos Testados por meio de Estimador Não Robusto
Modelo χ² Graus de Liberdade p CFI RMSEA
Unidimensional 1363,41 702 0,000 0,94 0,05
Dois fatores 1229,49 664 0,000 0,95 0,05
Hierárquico com dois fatores 1229,49 663 0,000 0,95 0,05
Bifatorial 842,43 627 0,000 0,98 0,04

Tabela 2
Carga Padronizada dos Itens nos Fatores Específicos (Sintomas Físicos e Sintomas Emocionais) e no Fator Geral de Primeiro
Nível do Modelo Bifatorial
Cargas Padronizadas
Item Fatores Fator
Específicos Geral
SF1 Percebo um ganho de peso real. 0,67 0,399
SF2 Tenho uma sensação de ganho de peso. 0,693 0,389
SF3 Tenho sensação de peso no abdômen. 0,221 0,532
SF4 Sinto inchaço em duas ou mais partes do corpo. 0,18 0,542
SF5 Percebo minhas mamas inchadas e doloridas. -0,001 0,021
SF6 Tenho dor de cabeça. -0,062 0,361
Sintomas Físico

SF7 Tenho dor nas costas. -0,183 0,49


SF8 Tenho dores nas articulações. -0,325 0,659
SF9 Tenho dores musculares. -0,333 0,679
SF10 Tenho cólicas. -0,214 0,414
SF11 Sinto diminuição de apetite. 0,009 0,022
SF12 Sinto mais sede. 0,042 0,553
SF13 Sinto enjoos. -0,189 0,51
SF14 Tenho diarreia. -0,027 0,386
SF15 Tenho prisão de ventre. -0,039 0,427
SF16 Tenho tremores. -0,099 0,393

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Tabela 2 (continuação)
Carga Padronizada dos Itens nos Fatores Específicos (Sintomas Físicos e Sintomas Emocionais) e no Fator Geral de Primeiro
Nível do Modelo Bifatorial
Cargas Padronizadas
Item Fatores Fator
Específicos Geral
SF17 Percebo aumento do desejo sexual. 0,111 0,38
Sintomas Físico

SF18 Percebo que sinto menos desejo sexual. -0,018 0,208


SF19 Tenho aumento do corrimento vaginal. -0,012 0,386
SF20 Meu apetite aumenta. 0,229 0,44
SF21 Sinto desejo por alimentos específicos. 0,119 0,537
SF22 Tenho dor nas pernas. -0,293 0,476
SE1 Me sinto mais irritada. 0,532 0,478
SE2 Percebo meu humor alterado. 0,508 0,464
SE3 Sinto tristeza. 0,617 0,545
SE4 Sinto raiva. 0,051 -0,008
SE5 Sinto vontade de chorar. 0,553 0,462
Sintomas Emocional

SE6 Sinto-me impaciente. 0,058 -0,007


SE7 Sinto ansiedade. 0,017 0,026
SE8 Sinto-me angustiada. 0,028 0,023
SE9 Tenho dificuldade de concentração. 0,221 0,663
SE10 Tenho insônia. 0,111 0,494
SE11 Meu sono aumenta. 0,075 0,481
SE12 Tenho pena de mim mesma. 0,144 0,49
SE13 Me sinto tensa. 0,386 0,579
SE14 Sinto-me desanimada. 0,062 0,003
SE15 Me percebo desinteressada pelos estudos, trabalhos ou afins. 0,229 0,512
SE16 Penso que não sirvo para nada. 0,2 0,511

A Figura 2 apresenta as cargas fatoriais padronizadas Discussão


dos itens nos fatores. Nela é possível visualizar as car-
gas fatoriais padronizadas para cada um dos dois fatores A análise confirmatória da escala de Síndrome Pré-
testados. Menstrual demonstrou ser promissora no esforço em
Golino e Gomes (2015) apontam uma forma de identificar a intensidade desse fenômeno em trabalha-
se verificar a força do fator geral em um modelo bifato- doras. A escala final é composta por 38 itens, dividi-
rial, por meio do cálculo da variância comum (Explained dos em dois fatores específicos (físicos e emocionais),
Common Variance: Reise, Moore, & Haviland, 2010): além de um fator geral de primeiro nível, com bons
indicadores na análise fatorial confirmatória. É inte-
ressante que o modelo com melhor ajuste tenha sido o
∑λ2Gen modelo bifatorial, uma vez que evidencia que é preci-
ECV =
(∑λ2Gen)+(∑λ2F1)+(∑λ2F2)+…+(∑λ2Fk) so considerar, não apenas as especificidades dos sinto-
mas físicos e emocionais, mas também a especificida-
de de um fator único, geral, de condições da síndrome
pré-menstrual.
1. onde λ2Gen é o quadrado das cargas não padroni-
De acordo com Golino e Gomes (2015), há um
zadas do fator geral e λ2Fk é o quadrado das cargas não pa-
conjunto de vantagens de se utilizar o modelo bifato-
dronizadas para cada uma das k variáveis latentes. A ECV
rial na busca pela melhor estrutura de instrumentos de
do modelo bifatorial mostra que o fator geral de primeiro
avaliação. Dentre essas vantagens, vale elencar que esse
nível explica por volta de 51% da variância comum dos
modelo permite que tanto fatores específicos quando um
itens. O restante, 49% é explicado pelos fatores específi-
fator geral de primeiro nível, compitam pela explicação
cos (fator físico e fator emocional).

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Macambira, M. O., & Golino, H.

da variância dos dados, sendo uma estratégia adequada sendo um fator suficientemente robusto para considerar
para investigar se os itens de um instrumento avaliam um o instrumento unidimensional. Os fatores específicos e o
fator único comum. O resultado evidenciou que o fa- fator geral dividem quase que de forma igual a explicação
tor geral explica 51% da variância comum dos itens, não da variância dos itens do instrumento.

Legenda. Os valores relacionados à Figura 2 estão na Tabela 2

Os dois fatores identificados pela análise confir- moderar a percepção dos sintomas eliciados pela SPM.
matória refletem dois grandes conjuntos de sintomas da Outra agenda possível, diz respeito aos preditores
SPM, a saber: 1. percepção de sintomas físicos – relacio- dos sintomas emocionais. Respeitando a base hormonal e
nados à retenção de líquido, alteração no apetite, dores suas influências físicas, que fatores psicossociais poderiam
pelo corpo, cefaleia e mastodinia, comumente conhecida moderar o aumento ou redução desses sintomas? As ques-
com dor nas mamas, entre outras alterações no corpo ou tões apontadas nos direcionam para uma agenda de pes-
funcionalidade do organismo; 2. percepção de sintomas quisas de antecedentes, possíveis correlatos e consequen-
emocionais – que podem ser compreendidos como a vi- tes em diferentes níveis de análise (individuais e grupais)
vência de estados emocionais alterados. e contextos (escola, família, organizações, entre outros)
A literatura que aborda a discussão sobre os sinto- que podem se relacionar com a intensidade percebida dos
mas da síndrome pré-menstrual e os dois fatores evi- sintomas pré-menstruais.
denciados na escala elaborada, ainda, é muito pautada na A forma de coleta (on-line), pode ser identificada com
percepção que as mulheres têm no período em que ela uma limitação do trabalho, pois, apesar da conveniência
se apresenta. Esses sintomas remetem à origem orgânica, para as participantes e segurança quando a confidencialida-
assim como a interação entre o sujeito e seu contexto, de das informações comuns às estratégias de coletas on-li-
que se forma em função de histórico de aprendizagem ne (Vieira, Castro, & Schuch Junior, 2010), essa estratégia
individual e social, nível de resiliência frente aos efeitos permite uma gama de equívocos no processo de preenchi-
da SPM e estratégias de enfrentamento. mento da escala, ausência de padronização sobre o contexto
Este estudo abre um campo de possibilidades para de aplicação, abandono do questionário durante o preen-
investigação dos efeitos e relações entre a síndrome pré- chimento, entre outros eventos que podem resultar em da-
-menstrual e outras variáveis de comportamento social, dos não confiáveis. Essa mesma limitação, sugere que, em
incluindo interações com colegas, estereótipos, entre futuras pesquisas, deva-se testar a estabilidade da escala em
outras variáveis já citadas anteriormente que podem coletas presenciais.

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Escala de Síndrome Pré-Menstrual

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recebido em abril de 2017


aceito em fevereiro de 2018

Sobre os autores

Magno Oliveira Macambira é doutor em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia e professor auxiliar da Universidade Estadual
de Feira de Santana.
Hudson Golino é doutor em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor assistente do Programa de Métodos
Quantitativos do Departamento de Psicologia da Universidade da Virgínia (EUA).

Avaliação Psicológica, 2018, 17(2), pp. 180-187 187

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