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Outra importante característica da Fraternidade é a circularidade do serviço da
coordenação.
➢ Quando se diz “nossa igreja” – quem pertence a ela? Quem pede para irem
juntos?
Quando se diz “nossa Igreja” acentuamos aquilo que popularmente tratamos de
“Igreja de caminhada”. Quer dizer, Igreja que está sempre a caminho. Esta faz sua
jornada lado a lado com o povo. Envolve-se nas suas lutas, chora com suas
tristezas, alegra-se com suas conquistas. Trata-se daquela Igreja Samaritana que
não deixa ninguém à margem. Como diz o Papa Francisco, pastores e pastoras que
trazem em suas túnicas o cheiro das ovelhas. Pertence a esta Igreja todos aqueles e
aquelas que decidem caminhar juntos, sem preconceito de raça, orientação sexual,
opção religiosa. Fazem parte: idosos, jovens, mulheres, homem, heterossexuais,
homossexuais, pessoas de diferentes Igrejas. À “nossa Igreja” pertencem todos os
que lutam a serviço do Reino e que estão a caminho.
III. OUVIR:
Há um texto bíblico que não deixa dúvidas: “Eu vi muito bem a miséria do meu
povo. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por
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isso, desci para libertá-lo” (Ex. 3,7b-8a). A realidade do mundo com os seus
desafios têm a primazia para orientar qualquer percurso pastoral e eclesial. Trata-
se aqui da fé como ato segundo. Ver, ouvir e sentir a situação do povo constitui-se
como elemento essencial para a vivência da fé e a prática do amor. Ouvir e
acolher os excluídos: todos aqueles e aquelas que a sociedade não aceita devido a
sua condição social, racial, cultural, sexual, as vítimas da drogadição, moradores
em situação de rua, os/as que são excluídos da vida eclesial: divorciados e
divorciadas, os LGBTQI+, ...
Por mais que o Papa tenha se esforçado em incentivar maior participação na vida
da Igreja, os desafios ainda persistem. A Igreja, na sua maioria, ainda permanece
clerical. As decisões são centralizadas nas mãos dos bispos e párocos. Quando há
conselhos pastorais, são meramente consultivos. Há pouca transparência financeira
na vida das comunidades e os/as leigos/as são, como dizia a Conferência do Rio
em 1955, meros “auxiliares do clero”.As coordenações, em geral, são escolhidas
por membros dos grupos ou indicadas pelos padres. Mesmo os diáconos
permanentes, que poderiam ser uma inovação, há quem os equipare a “mini
padres”. A consulta nas paróquias carrega alto grau de burocratização, nunca chega
às bases. As mulheres são maioria. Elas é que dão vida às Igrejas, porém, são as
mais excluídas dos processos de participação e decisão. Há paróquias em que até
Ministras Extraordinárias da Sagrada Eucaristia, quando atuam nas missas, são
proibidas de subir ao presbitério. Outras resistem à participação de coroinhas
mulheres. A juventude, embora em grande número, perdeu o papel protagonista e
consciente que tinha no passado quando tínhamos a Ação Católica e,
posteriormente, a Pastoral da Juventude. Contudo, precisamos reconhecer os
esforços de muitos para superar tais limites. As CEBs continuam vivas e atuantes.
O Conselho Nacional de Leigos tem trabalhado de forma vigorosa para inverter o
processo de clericalismo nas Igrejas. As pastorais sociais são também exemplos de
mudança nas quais mulheres e jovens são ouvidos.
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sororidade junto a todo o Povo de Deus. Elas também têm fortalecido a pastoral e
animado a vida missionária das paróquias.
➢ Qual é o espaço para a voz das minorias, dos párias e dos excluídos?
Em meio a esta realidade, como a Igreja transmite a Boa Nova do Reino? Parece-
nos que grande parte da comunidade católica abandonou as periferias. Há uma
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exagerada preocupação com a vida intra eclesial, a missão foi colocada em segundo
plano. A Igreja deixa de ser fermento.
IV. CELEBRAÇÕES:
Uma mudança de ênfase poderia ser aqui introduzida, para as futuras gerações.
‘Jesus não pediu para ser adorado, mas pediu para ser seguido’. A palavra
‘adoração’ poderia ser mais entendida como ‘seguimento’.
‘Combinar oração e vida’ parece supor que as duas estejam separadas (poderá, é
claro, haver ‘momentos fortes’ em que a ‘oração verbalizada’ tenha ênfase). Para
as futuras gerações, outra ênfase seria a de que ‘viver’ (com interioridade, numa
busca de atenção constante para os efeitos dos mínimos atos e atitudes) já é ‘orar’.
A Eucaristia é o fundamento de nossa fé. Ainda falta muita orientação para a real
compreensão desta celebração e para uma vivência de acordo com a fé que diz que
Cristo está realmente presente no pão.
Necessidade de se repensar os rituais para que sejam menos racionais e mais
próximos da vida da comunidade. A Eucaristia como expressão da presença do
Cristo misturado na realidade em que se vive. Possibilidade de que vários
participantes da comunidade assumam a presidência das celebrações não enquanto
substitutos eventuais de um ministro consagrado mas como cristãos leigos
batizados, responsáveis sem ser de “segunda categoria”. Daí se repensar também o
clericalismo e formas de superá-lo tanto no clero como nos fiéis.
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Liberdade e criatividade no rito. Humanização dos sacramentos por demais formais,
humanizar o ritual para ser mais acolhedor. Falta partilha na celebração. A presença
do sacerdote na comunidade deveria ser de participação mais em comunhão com
seus membros, partindo de uma consensualidade e comensalidade. A Eucaristia não
pode ser símbolo de poder ou satisfazer apenas a piedade devocional.
O ritual da Eucaristia, para a população urbana dos grandes centros poderia ter
momentos de grandes grupos (nas atuais igrejas, paroquiais ou não). A ênfase,
contudo, deveria ser em encontros de pequenos grupos. Nesses encontros, um casal
presidiria a celebração, alternando a recitação dos textos do rito inicial, rito
sacramental e rito final, em perspectiva mais abrangente do ‘sacerdócio comum
dos fiéis’. Dessa forma, a sensibilidade atual para o caráter universal do
chamamento (ainda não presente quando o texto do chamamento dos apóstolos foi
criado) teria expressão plena. O caráter mais tradicional (papa, bispos e padres)
teria seu lugar em celebrações para grupos maiores.
V. CORRESPONSABILIDADE:
Quem relaciona fé com atitudes comprometidas para uma vida mais digna?
Pessoas de coragem, sem heroísmos, pobres que agregam em torno de si
companheiros e companheiras de causas comuns, pessoas que não buscam
promoção pessoal, gente que não quer mudar a fé de ninguém. Pessoas que não se
curvam à institucionalização da fé mas valorizam uma comunidade de fé
comprometida, que vivem o evangelho da amizade. Gente que vive seus momentos
mais difíceis (doenças, perdas) com fé, paciência, testemunhando o Deus
misericordioso.
Várias testemunhas nos inspiram. Alguns bispos deram com coragem seu
testemunho, tais como D. Hélder Câmara, D. Pedro Casaldáliga, D. Luciano
Mendes de Almeida e vários outros que deixaram sua marca na Igreja do Brasil.
Também recordamos nossos mártires, que derramaram seu sangue pela causa do
Reino.
➢ Sentimos que temos uma tarefa na Igreja que nos é confiada pessoalmente?
Como disse Jesus: “Deus escondeu estas coisas aos sábios e inteligentes e revelou
aos pequeninos” Mt. 11,25.
Dentre as várias expressões ditas por Ir. Carlos, uma tornou-se inspiradora para os
cristãos: “gritar o Evangelho com a vida”. O testemunho dos irmãozinhos e
irmãzinhas de Jesus que buscam seguir as intuições de Charles de Foucauld
demonstra como a fé fala em atos. Não são necessárias longas pregações. Não se
evangeliza com grandes eventos. Não se proclama a fé com marketing. Muitas
vezes, tais métodos tendem ao contrário, distanciam as pessoas do essencial.
Divulgam-se pessoas e estruturas e fala-se pouco para a existência humana. Gritar
o Evangelho com a vida se faz na simplicidade, no testemunho silencioso do dia a
dia. Ocorre por meio da solidariedade aos que necessitam, na escuta aos que
sofrem, no cotidiano vivido com alegria e fé. Acontece com hospitalidade aos que
buscam acolhimento. A fé está relacionada à prática da justiça e à superação do
medo.
A Igreja não pode estar alheia aos problemas da pobreza, discriminação, racismo,
preconceito, degradação ambiental, são temas que devem ser tratados na
comunidade. A Igreja não é uma entidade que paira no ar, ou ser apenas uma Igreja
preocupada com sua própria sobrevivência e dinâmica.
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VII. AUTORIDADE E PARTICIPAÇÃO:
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nem sempre tem encontrado eco nas dioceses. Repetem-se as palavras do Papa e as
práticas são inversamente proporcionais. A escolha dos bispos atuais nem sempre
permitem maior amadurecimento da vida eclesial numa perspectiva sinodal.
A comunidade pode e deve opinar e decidir sobre escolhas que afetam seu
cotidiano. O padre ou o bispo não deveria ter a palavra final. Zelar pelo evangelho
não é a mesma coisa que em nome dele mandar para outros obedecerem. Há bons
exemplos para a prática de comunhão na Igreja, mas se reduzem a poucas
experiências. (recordamos aqui a rica experiência da diocese de Crateús na época
de Dom Fragoso).
Às vezes há consultas aos fiéis; muitas decisões são tomadas pelas autoridades. Ou
os leigos são co-participantes e responsáveis, ou executores de ordens pré-
estabelecidas pela hierarquia da Igreja. Na prestação de contas das paróquias é
importante que também os leigos participem delas; também na elaboração das
atividades organizacionais das paróquias e dioceses. Muito importante também é a
capacitação teológica, bíblica e pastoral dos leigos e leigas com cursos de formação
que vão além de meros cursinhos paroquiais.
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A formação de uma equipe de coordenadores leigos para decidir juntamente com o
clero as ações que são importantes para a Igreja e para a comunidade muitas vezes
não representa a vontade da maioria dos fiéis conscientes. Esse tipo de eleição não
está sob judice de uma decisão democrática, pois nem todos participam desta eleição.
As tomadas de decisões ficam a cargo deste grupo, muitas vezes elitista e pouco
inclusivo, deixando à margem as necessidades urgentes e necessárias. Buscar a
transparência, tanto nas ações como na prestação de contas, envolver a comunidade
em projetos de inclusão e desenvolvimento social e pastoral. Voltar a Igreja nas suas
origens para que seja de fato uma Igreja do povo e para o povo.
Somente a formação para uma Igreja sinodal em todas as suas instâncias (pastoral,
paroquial, diocesana, movimentos, catequese, Comunidades de Base, conselho
paroquial e diocesano) pode verdadeiramente estar á serviço do Reino e não da
estrutura eclesial. Sinodalidade supõe muita conversa e muita escuta verdadeira;
precisamos abrir canais de participação e confiança com as autoridades da Igreja;
todos os batizados têm de caminhar juntos, como Povo de Deus, independente de
pertencerem aos diversos Movimentos ou Espiritualidades, ação sem sectarismos:
Unidos na diversidade! Uma Igreja de fato aberta, à serviço do encontro das pessoas,
menos hierárquica e menos autoritária. Uma Igreja Sinodal, que seus membros
lavem os pés uns dos outros a exemplo de Jesus.
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