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Comunidades cristãs para todos os contextos

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Análise Global de Lausanne · Setembro de 2020 • Volume 9 / Edição 5

os ministérios complementares e transformativos das "novas


expressões"

Michael Moynagh

A pandemia da COVID-19 tem encorajado os líderes de igrejas ao redor do


mundo a buscarem respostas sobre a vida da igreja. Quando sairmos da
crise e entrarmos no “novo normal”, as congregações deverão repensar o
discipulado, missões e igreja? Caso a resposta seja sim, a experiência das
“novas expressões” oferece recursos para esta autoavaliação.

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“As novas expressões da igreja” têm surgido na Europa, América do Norte,
Austrália, África do Sul, e Coréia do Sul, com interesse em outras partes da
África e Ásia. Há novas comunidades cristãs entre os grupos de pessoas que
estão, em sua maioria, fora da igreja institucional.

Exemplos estimulantes

A Wildwood United Methodist Church na Flórida cultivou mais de 14


comunidades desse tipo nos últimos oito anos. Elas incluem:

Arte para o amor

pessoas que gostam de artes se encontram para orar, louvar e criar arte
juntos.

Bolsas de bençãos

um grupo que louva e ora enquanto coleta e distribui itens essenciais aos
moradores de rua.

Conectar

uma igreja para crianças com atividades divertidas, café da manhã,


histórias de Jesus, e louvor que se encontra no Martin Luther King Jr.
Community Center.

Fielmente fitness

pessoas interessadas em fitness e saúde se encontram no parque para


orar, fazer devocionais e caminhar.

Patas de louvor

uma igreja para pessoas que amam cachorros que se encontram no


parque local para orar, louvar, estudar as escrituras e brincar.

Tesouradas de amor no Soul Salon

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um salão pop-up que oferece cortes gratuitos de cabelo, oração e reflexão
bíblica.

Igreja do Estúdio de Tatuagem

tatuagens com temáticas da fé com louvor a Jesus através da Santa Ceia.

Trap Stars para Jesus

traficantes e ex-traficantes aprendem como começar negócios legítimos


apoiados pela oração e das escrituras.

Skate. Orar. Repetir.

um grupo de amigos que se encontra em rinques de skate internos e


externos para andar de skate, orar, e compartilhar sua fé.

Igreja 3.1

jovens profissionais se encontram para correr 5km (3.1 milhas), e depois


orar e debater versículos bíblicos.

Pequenas equipes de cristãos amam e servem as pessoas fora da igreja e


formam uma comunidade com cada um desses grupos. Cada pessoa é
direcionada a Jesus com sensibilidade, oferecendo-a uma vida mais
completa. Em sua jornada com a fé, eles se tornam comunidades de louvor
onde estão, mas ainda são parte do corpo de Cristo.

Começo e crescimento

por the Church of England

A linguagem de “novas expressões” foi introduzida em 2004 pela Igreja


Anglicana em seu relatório seminal Mission-shaped Church[1] (“A igreja com
forma missionária”, em tradução livre), que descreveu as novas formas de
comunidades cristãs que estavam surgindo e encorajou a igreja a apoiá-las.

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O relatório se tornou um dos mais influentes
na história recente da igreja Anglicana. Os
evangélicos estão na vanguarda com essas
novas comunidades, mas o interesse está
mais amplamente espalhado, inclusive dentro
do Conselho Mundial de Igrejas.

A Igreja Anglicana espera plantar em média


uma “igreja de nova expressão” por paróquia
até 2030. A Igreja Metodista da Flórida espera
plantar 500 nos próximos cinco anos. A Igreja
Protestante dos Países Baixos (PKN)
atualmente tem mais de 100 equipes que operam como pioneiras nas
“novas expressões”.

Fundamentos teológicos
As “igrejas de novas expressões” são definidas por quatro valores teológicos:

Missional. Elas participam da missão de Deus para alcançar o

mundo, focando nas pessoas que estão fora da igreja.

Contextual. Assim como o Filho de Deus, em Jesus, se imergiu na

cultura do século I da Palestina, essas igrejas vivem na cultura das pessoas


as quais elas servem, demonstrando o amor de forma prática,
compartilhando o evangelho e formando novas comunidades de fé
contextualizadas.

Transformacional. Em obediência à grande comissão, e através do

Espírito, elas buscam transformar as pessoas à imagem de Cristo.

Eclesiástica. Elas não são degraus para uma congregação existente.

São novas comunidades de fé onde já há pessoas, em meio a suas vidas


cotidianas. Elas também afirmam a importância teológica da igreja ao trazer
a igreja para o cerne da vida cotidiana.

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Um método missionário

O diagrama abaixo, conhecido como “O ciclo de amar-primeiro” descreve


como as “novas expressões” surgem.

Por exemplo, Sue conheceu outros pais no portão da escola. Ela os ouviu e
descobriu que muitos gostariam de passar mais tempo juntos.

Portanto, como uma expressão de amor, ela organizou encontros às


quintas-feiras pela manhã na sala de professores da escola. Ela forneceu
café, sucos e croissants. Os pais assistiram um vídeo sobre alguns
problemas da vida com uma perspectiva cristã discreta e compartilharam
suas reações.

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Com o passar do tempo, Sue percebeu que alguns dos participantes
estavam se interessando em Cristo. Então, ela compartilhou sobre Jesus,
dando início a um estudo bíblico exploratório às terças-feiras pela manhã.
As reuniões de quinta-feira continuaram.

Gradualmente os membros do grupo de terças-feiras aprenderam a orar e


começaram um louvor simples. Eles ficaram entusiasmados ao ver a igreja
que se formou entre eles, mas entristecidos com a falta de envolvimento de
seus parceiros e amigos do trabalho, assim como seus filhos que estavam
estudando na escola. Então, eles repetiram o ciclo começando um encontro
para eles aos sábados à tarde com atividades para todas as idades, comida
e um pouco de contribuição cristã.

É claro que a vida é mais bagunçada que um diagrama! Assim, os ciclos se


sobrepõem, e se empilham um sobre o outro, acontecem em outra ordem
e, às vezes, as equipes voltam para uma etapa anterior.

Mesmo assim, um número cada vez maior de equipes está usado o “Ciclo de
amar primeiro” como um mapa para planejar sua jornada, reconhecendo
quão longe vieram e decidindo onde ir depois.

Missão integrada

Cada círculo exemplifica um aspecto do reino de Deus.

Ouvir

respeita o outro, um valor do reino.

Amar

pode tomar a forma de cuidados pastorais, preocupações com o ambiente


ou promover a justiça social – todos esses são traços do reino.

Comunidade

é parte integral do reino.

Compartilhar Jesus

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envolve conversas sobre a pessoa que anunciou o reino de Deus.

Igreja

e o reino se tornarão um quando Jesus voltar.

Repetir

o testemunho da natureza expansiva do reino, que é como uma semente


que cresce e se torna uma árvore grande (Mt 13:31-32).

Portanto, o círculo não é algo que fazemos somente de um passo para o


próximo. Cada círculo possui valores do reino e isso continua à medida que
adicionamos mais círculos.

Além disso, o grande mandamento (de amarmos uns aos outros) e a grande
comissão (de compartilhar o evangelho) são unidos em uma única forma de
missão integrada.

O “ciclo de amar primeiro” ressoa com os cinco marcos de missão que são
usadas em alguns círculos:

Falar

aos outros sobre Jesus.

Ensinar

e batizá-los na fé.

Atender

às necessidades pastorais das pessoas.

Transformar

as estruturas injustas da sociedade.

Apreciar

o mundo natural.

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O ciclo inclui e estende esses pontos. E, mais importante ainda, os junta em
um único processo. Em vez de somente listar os ingredientes da missão
integral, ele oferece um caminho para se chegar lá. Os marcos são
substituídos por passos.

Temos então uma das contribuições das “novas expressões”. Em vez de


novas dimensões florescerem após o estabelecimento de uma nova
congregação, elas estão presentes desde seu nascimento.

Missão em todos os lugares

Apesar de ainda haver muito para se aprender, para a igreja mundial a


significância das “novas expressões” é que elas podem apoiar as missões em
praticamente qualquer contexto.[2]

Missão no trabalho? Novas comunidades cristãs surgiram entre pessoas que


trabalham em escritórios, pacientes de um consultório médico, e, quando
permitido, em escolas.
Missão entre pessoas que estão em situação de rua? Entre mulheres que
foram abusadas? Pessoas requerentes de asilo? Adolescentes que usam drogas?
Pessoas com dificuldades de aprendizado? Uma equipe pequena pode prestar
atenção, amá-los, construir uma comunidade com eles, apresentar os
interessados a Jesus, encorajá-los em uma comunidade segura e que afirma o
cristianismo para emergir e trazer essa comunidade como um presente para a
igreja mais ampla.
Ação missionária pelo ambiente ou justiça social? Os cristãos podem ouvir
pessoas fora da igreja que compartilham de suas preocupações, encontrando
formas de trabalharem juntos e ao fazer isso, explorar como a espiritualidade do
cristianismo adiciona uma cor especial ao seu envolvimento compartilhado.
Missão para uma vida completa? Esporte? Passear com o cachorro? Cantar?
Consertar bicicletas? “Novas expressões” estão conectando pessoas com esses e
outros interesses.
Missão num vilarejo? Em uma cidade pequena? Em um bairro com diversas
carências? Ou então dentro de uma minoria étnica? Novos encontros cristãos
estão oferecendo suas vozes nesses ambientes.

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Missão através de uma plantação convencional de igrejas? As “novas
expressões” também possuem um papel nesse cenário. Quando a nova igreja
estiver estabelecida, os membros podem perguntar: “Quem não estamos
alcançando?” e começar grupos de “novas expressões” entre os grupos
identificados. Para pessoas com problemas físicos ou mentais, ou trabalhadores
da indústria do sexo, ou motoristas de táxi, ou migrantes, uma pequena
comunidade dedicada a eles pode ser exatamente o que eles precisam. Mais
para a frente, os líderes podem tirar uma equipe destas comunidades para
começar uma igreja em outra região.

“Novas expressões” revelam Cristo em qualquer lugar, e através de qualquer


pessoa. Em Efésios 1:23 temos a promessa de que quando Cristo retornar,
ele irá encher – ou completar – todas as coisas. Quando os cristãos, como o
corpo de Cristo, começarem novas comunidades cristãs nas diversas
configurações da vida, eles demonstrarão o futuro, nos mostrando que não
existe esfera que Cristo e sua igreja não podem fazer seu lar.

Um jovem adulto de Pittsburgh, Pensilvânia, descreveu como foi criado em


uma família cristã. Em sua adolescência acabou se afastando da igreja. Ele
amava jogos de computador. Em um jogo ele tinha que ganhar peso para
poder atravessar uma ponte. Uma mensagem disse que ele poderia
atravessar a ponte de graça se assistisse a um vídeo. O vídeo era sobre
graça.

O jovem assistiu ao vídeo e foi convidado para um grupo de estudo bíblico


online, do qual ele participou. Mais para frente, ele se reconectou com a
igreja off-line. Os cristãos podem estar presentes de forma comunal em
todos os setores da vida, até em um jogo de computador!

Complementação
Na maioria dos casos, as “novas expressões” podem ser compreendidas
como comunidades ou congregações de uma igreja existente. Não são
melhores que congregações tradicionais, mas sim as complementam.

Congregações mais antigas conectam as pessoas às margens da igreja. Elas


salvaguardam e repassam a tradição. As “novas expressões” articulam a
tradição de formas inovadoras em contextos não alcançados. Ambos podem
florescer lado a lado em amor e apoio mútuo.

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À medida que continuamos a trabalhar para compreender as implicações
dessas novas comunidades, podemos antecipar uma “economia mista” de
congregações tradicionais, congregações revitalizadas e as novas formas
criativas de louvor, juntamente com plantação tradicional de igrejas e as
novas expressões?[3]

Notas

1. Graham Cray, ed., Mission-Shaped Church (London: Church House Publishing,


2004). ↑
2. Nota da Editora: Veja o artigo de Allen Yeh: “O futuro das missões é de todos para
todos os lugares” na edição de janeiro de 2018 da Análise Global de Lausanne,
https://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2018-01-pt-
br/o-futuro-de-missoes-e-de-todos-para-todos-os-lugares ↑
3. Fresh expressions have been criticized theologically by Andrew Davison and
Alison Milbank, For the Parish: A Critique of Fresh Expressions (London: SCM, 2010);
John M. Hull, Mission-Shaped Church: A Theological Response (London: SCM, 2006);
John Milbank, “Stale Expressions: The Management-Shaped Church”, Studies in
Christian Ethics 21:1 (2008), 117-28; Martyn Percy, “Old Tricks for New Dogs? A
Critique of Fresh Expressions” in Evaluating Fresh Expressions: Explorations in
Emerging Church, ed. Louise Nelstrop and Martyn Percy (Norwich: Canterbury,
2008), 27-39. For a response see Michael Moynagh, Church for Every Context: An
Introduction to Theology and Practice (London: SCM, 2012); Fresh Expressions in the
Mission of the Church: Report of an Anglican-Methodist Working Party (London:
Church House Publishing, 2012). ↑

Date: 10 set 2020 · Grouping: Análise Global de Lausanne · Topics: Contextualização, Cultura, Parcerias

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