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Sebenta resumida de

Ciência dos Materiais


1º Ano, 2º Semestre

Instituto Superior Técnico


2013

Filipe Quintino 75190


MEMec
Esta sebenta foi feita por um aluno e pode conter erros. Acredito que estes apontamentos
podem ser uma mais valia, no entanto, aconselho precaução e olhar crítico, e agradeço que
me notifiquem caso encontrem algum erro (deixo em baixo o meu e-mail). Estes
apontamentos podem apenas ser considerados um breve resumo e não devem ser portanto, o
vosso único suporte de estudo. Espero que vos vá sendo útil.

Saudações Académicas

Filipe Quintino, MEMec

filipe.marques.quintino@ist.utl.pt

Nota: Este documento foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico.


x Índice

x Ensaio de Tracção ..................................................................................................................................................................... 7

ƒ Fórmulas e Conceitos........................................................................................................................................................... 7

x Materiais Compósitos ............................................................................................................................................................. 11

ƒ Alinhamento das fibras ...................................................................................................................................................... 11

x Isodeformação ........................................................................................................................................................................ 11

x Isotensão ................................................................................................................................................................................. 12

x Estruturas Cristalinas .............................................................................................................................................................. 13

x Estrutura Cúbica Simples (CS) ................................................................................................................................................. 13

x Estrutura Cúbica de Corpo Centrado (CCC) ............................................................................................................................. 14

x Estrutura Cúbica de Faces Centradas (CFC) ............................................................................................................................. 14

x Estrutura Hexagonal Compacta (HC) ....................................................................................................................................... 15

x Densidade Teórica (volúmica) , ρ ................................................................................................................................................... 15

x Outras densidades .................................................................................................................................................................. 15

x Estudo da estrutura de um cerâmico ...................................................................................................................................... 16

ƒ Caso do Cloreto de Sódio, NaCl ......................................................................................................................................... 16

x Cristais..................................................................................................................................................................................... 17

x Coordenadas de pontos em células unitárias cristalinas cúbicas ............................................................................................ 17

x Direcções Cristalográficas em células unitárias cúbicas .......................................................................................................... 17

x Planos Cristalográficos em células unitárias cúbicas ............................................................................................................... 18

x Direcções e Planos Cristalográficos em células unitárias hexagonais ...................................................................................... 18

x Comparação entre estruturas cristalinas (CCC, CFC e HC) ....................................................................................................... 19

x Difracção de Raios-X e Lei de Bragg ........................................................................................................................................ 19

x Defeitos em Sólidos................................................................................................................................................................. 20

ƒ Defeitos Pontuais............................................................................................................................................................... 20

ƒ Lacunas .............................................................................................................................................................................. 20

ƒ Intersticiais ........................................................................................................................................................................ 21

ƒ Substitucionais................................................................................................................................................................... 21

x Concentração de Equilíbrio .................................................................................................................................................... 21

x Defeitos Pontuais em Ligas ..................................................................................................................................................... 21

1
x Defeitos Pontuais em Cerâmicos............................................................................................................................................. 22

x Defeitos Lineares..................................................................................................................................................................... 23

ƒ Deslocação Cunha.............................................................................................................................................................. 23

ƒ Deslocação parafuso .......................................................................................................................................................... 23

ƒ Deslocação Mista ............................................................................................................................................................... 24

x Deformação plástica ............................................................................................................................................................... 24

ƒ Sistema de escorregamento .............................................................................................................................................. 25

x Tensão e Movimento de Deslocações ..................................................................................................................................... 25

x Lei de Schmid .......................................................................................................................................................................... 25

x Escorregamento em Policristais .............................................................................................................................................. 25

x Limites de grão ........................................................................................................................................................................ 26

ƒ Solidificação ....................................................................................................................................................................... 26

ƒ Falhas de empilhamento ................................................................................................................................................... 26

x Observação Microscópica de Defeitos .................................................................................................................................... 26

x Polímeros ................................................................................................................................................................................ 27

x Hidrocarbonetos ..................................................................................................................................................................... 27

ƒ Saturados ........................................................................................................................................................................... 27

ƒ Insaturados ........................................................................................................................................................................ 27

x Reacções de Polimerização ..................................................................................................................................................... 27

ƒ Polimerização em cadeia ................................................................................................................................................... 27

ƒ Polimerização por passos sucessivos ................................................................................................................................. 28

ƒ Polimerização por reticulação ........................................................................................................................................... 29

x Peso molecular da cadeia polimérica ...................................................................................................................................... 29

ƒ Peso molecular médio ....................................................................................................................................................... 29

x Isomerismo ............................................................................................................................................................................. 30

ƒ Estéreo-isomerismo ........................................................................................................................................................... 30

ƒ Formas de estéreo-isomerismo: ........................................................................................................................................ 30

Œ Isotáctico ...................................................................................................................................................................... 30

Œ Sindotáctico.................................................................................................................................................................. 30

Œ Atáctico ........................................................................................................................................................................ 31

ƒ Isomerismo geométrico ..................................................................................................................................................... 31

x Forma das Cadeias .................................................................................................................................................................. 31

x Distância entre extremidades ................................................................................................................................................. 32

2
x Tipos de Polímeros .................................................................................................................................................................. 33

x Termoplásticos vs Termoendurecíveis .................................................................................................................................... 33

ƒ Termoplásticos .................................................................................................................................................................. 33

ƒ Termoendurecíveis ............................................................................................................................................................ 33

x Cristalinidade de Polímeros..................................................................................................................................................... 33

ƒ Formas cristalinas .............................................................................................................................................................. 34

x Copolímeros ............................................................................................................................................................................ 34

x Propriedades Mecânicas ......................................................................................................................................................... 35

x Vulcanização da borracha ....................................................................................................................................................... 36

x Fluência e fractura de polímeros ............................................................................................................................................. 36

x Temperaturas de fusão (Tf) e transição vítrea (Tg) .................................................................................................................. 37

x Ensaio de relaxação de tensão ................................................................................................................................................ 37

x Aditivos ................................................................................................................................................................................... 38

ƒ De enchimento .................................................................................................................................................................. 38

ƒ Plastificantes...................................................................................................................................................................... 38

ƒ Estabilizantes ..................................................................................................................................................................... 38

ƒ Retardantes de chama ....................................................................................................................................................... 38

ƒ Lubrificantes ...................................................................................................................................................................... 38

x Solidificação ............................................................................................................................................................................ 38

x Mecanismos de Nucleação...................................................................................................................................................... 39

ƒ Nucleação homogénea ...................................................................................................................................................... 39

x Energia livre de Volume .......................................................................................................................................................... 39

x Energia de Superfície............................................................................................................................................................... 39

ƒ Nucleação heterogénea ..................................................................................................................................................... 41

x Crescimento ............................................................................................................................................................................ 41

x Estruturas de Grão .................................................................................................................................................................. 41

ƒ Materiais de grão fino e grosseiro ..................................................................................................................................... 41

ƒ Tamanho de grão............................................................................................................................................................... 42

x Monocristais vs Policristais ..................................................................................................................................................... 42

x Difusão .................................................................................................................................................................................... 42

ƒ Difusão por lacunas ........................................................................................................................................................... 43

ƒ Difusão intersticial ............................................................................................................................................................. 43

x Processos industriais utilizando difusão .................................................................................................................................. 44

3
ƒ Cementação....................................................................................................................................................................... 44

ƒ Dopagem ........................................................................................................................................................................... 44

x Difusão estacionária ............................................................................................................................................................... 44

ƒ 1ª Lei de Fick ...................................................................................................................................................................... 45

x Difusão e temperatura ............................................................................................................................................................ 45

x Difusão não-estacionária......................................................................................................................................................... 45

x Difusão rápida vs Difusão lenta ............................................................................................................................................... 46

x Diagramas de fases ................................................................................................................................................................. 46

x Fases Sólidas ........................................................................................................................................................................... 46

x Soluções Sólidas ...................................................................................................................................................................... 46

ƒ Soluções sólidas Substitucionais ........................................................................................................................................ 47

x Equilíbrio de fases ................................................................................................................................................................... 48

ƒ Limite de Solubilidade ....................................................................................................................................................... 48

x Tipos de Diagramas de Fases .................................................................................................................................................. 48

x Regra das fases de Gibbs ......................................................................................................................................................... 49

x Diagramas de Fases Binários: Sistemas Isomorfos ................................................................................................................. 49

x Composição Química............................................................................................................................................................... 50

x Proporção de Fases ................................................................................................................................................................ 50

x Sistemas Binários Eutécticos ................................................................................................................................................... 51

ƒ Reacções do tipo eutéctico ................................................................................................................................................ 51

ƒ Microestrutura em sistemas eutécticos............................................................................................................................. 52

x Sistemas Binários Peritécticos ................................................................................................................................................. 53

ƒ Reacções do tipo peritéctico.............................................................................................................................................. 53

ƒ Microestrutura em sistemas peritécticos .......................................................................................................................... 53

x Exemplo do diagrama Ferro-Carbono ..................................................................................................................................... 54

x Diagramas de Fases Ternários ................................................................................................................................................. 56

x Arrefecimento fora de equilíbrio............................................................................................................................................. 57

x Cinética e microestrutura das transformações de fases ......................................................................................................... 58

x Diagramas TTT (Tempo-Temperatura-Transformação) ........................................................................................................... 58

x Diagrama TTT-TI (Transformação Isotérmica) ......................................................................................................................... 58

ƒ Perlite ................................................................................................................................................................................ 58

x Diagramas TTT-TI dos Aços...................................................................................................................................................... 59

ƒ Elementos de liga............................................................................................................................................................... 59

4
x Diagramas TTT-AC (Arrefecimento contínuo).......................................................................................................................... 60

x Tratamentos térmicos dos aços .............................................................................................................................................. 60

ƒ Recozimento ...................................................................................................................................................................... 60

Œ Relaxação de tensões ................................................................................................................................................... 60

Œ Esferoidização .............................................................................................................................................................. 61

Œ Recozimento após deformação plástica ....................................................................................................................... 61

ΠRecozimento completo ................................................................................................................................................ 61

Œ Normalização ............................................................................................................................................................... 61

ƒ Têmpera ............................................................................................................................................................................ 61

ƒ Revenido ............................................................................................................................................................................ 62

x Transformações da austenite .................................................................................................................................................. 62

x Taxonomia dos Metais ............................................................................................................................................................ 62

ƒ Aços ................................................................................................................................................................................... 63

Œ Aço inoxidável .............................................................................................................................................................. 63

ƒ Ferros Fundidos ................................................................................................................................................................. 63

x Ligas não-ferrosas ................................................................................................................................................................... 63

ƒ Ligas de Cobre (Cu) ............................................................................................................................................................ 63

ƒ Ligas de Alumínio (Al) ........................................................................................................................................................ 64

ƒ Ligas de Titânio (Ti) ............................................................................................................................................................ 64

ƒ Ligas de Níquel (Ni) ............................................................................................................................................................ 64

ƒ Ligas de Magnésio (Mg) ..................................................................................................................................................... 64

ƒ Metais refraccionários ....................................................................................................................................................... 64

x Endurecimento por precipitação ............................................................................................................................................. 64

ƒ Envelhecimento ................................................................................................................................................................. 65

x Materiais celulares .................................................................................................................................................................. 65

x Principais propriedades e vantagens ....................................................................................................................................... 65

ƒ Principais aplicações .......................................................................................................................................................... 65

x Estrutura dos materiais celulares ............................................................................................................................................ 66

x Estrutura real dos materiais celulares ..................................................................................................................................... 67

x Comportamento mecânico de estruturas 2D .......................................................................................................................... 67

x Comportamento sob-tracção de estruturas 2D ...................................................................................................................... 68

x Propriedades Eléctricas ........................................................................................................................................................... 68

x Lei de Ohm .............................................................................................................................................................................. 68

5
x Condutividade de diversos materiais ...................................................................................................................................... 69

x Bandas de energia ................................................................................................................................................................... 69

x Transporte da carga ................................................................................................................................................................ 70

x Impurezas e resistividade nos metais...................................................................................................................................... 71

x Condução extrínseca e intrínseca ............................................................................................................................................ 71

ƒ Número de transportadores de carga................................................................................................................................ 71

x Anexos

6
x Ensaio de Tracção
ƒ Fórmulas e Conceitos

Tensão (mecânica) - valor da distribuição


de forças por unidade de área de um dado
material;

=Pa (ad.) o adimensional

--------------------------------------

-------------------------------------

Lei de Hooke (def. elástica)

Gráfico 1 - Tensão vs Extensão

--------------------------------------

7
--------------------------------------

Tenacidade – energia necessária para levar


um dado material à fractura;

--------------------------------------

Resiliência – capacidade de um material


absorver energia quando sofre deformação
elástica;

--------------------------------------

Ductilidade – capacidade de um material


deformar sobre tensão;

--------------------------------------

Fluência – deformação plástica de um


material sofrida ao longo do tempo,
quando submetido a uma carga ou tensão
constante;

Gráfico 2-Curva de fluência típica

x Fluência primária – velocidade de


fluência diminui ao longo do tempo
x Fluência secundária (ou estacionária) – velocidade de fluência (praticamente)
constante

8
x Fluência terciária – velocidade de fluência aumenta (rapidamente) com o tempo

--------------------------------------------------------------------------------------------

Dureza – resistência de um material à deformação permanente (plástica);

Tabela 1 - Ensaios de Dureza

--------------------------------------------------------------------------------------------

Fadiga – designam-se por fracturas por fadiga todas as que ocorrem por tensões
cíclicas ou repetitivas;
Œ Pode fracturar em situações tais que: ;
Œ Provoca aproximadamente 90% das falhas em Engª Mecânica;

Gráfico 3- Curva da tensão em função do nr. de ciclos (S/N)

9
Fractura – Separação de um sólido em partes (duas ou mais) quando submetido a uma
tensão;
ƒ Fractura Dúctil – Ocorre após uma deformação plástica prolongada
(grande);
x Fase 1 – estricção no provete, com cavidades no interior da
zona estriccionada;
x Fase 2 – fissura no interior do provete resultante das cavidades
da fase 1;
x Fase 3 – fissura aproxima-se da superfície segundo um ângulo
de 45o com o eixo de tracção;
ƒ Fractura Frágil - Ocorre sem a necessidade de uma deformação
plástica prolongada;
x Etapa 1 – Concentração das deslocações, por meio da
deformação plástica, junto a obstáculos dos planos de
escorregamento;
x Etapa 2 – Tensões de corte junto aos obstáculos em que as
deslocações se encontram bloqueadas;
x Etapa 3 – Propagação de microfissuras provocadas pelas
tensões aplicadas no material;

--------------------------------------------------------------------------------------------

Tenacidade à fractura

Fractura
catastrófica:

Não há fractura:

Ilustração 1 - Tipos de fenda superficial

→ Ver anexo (Coeficiente de Poisson)


10
x Materiais Compósitos

ou

Fase contínua ou matriz – protege as fases em relação ao meio, liga o reforço e transfere
tensão para o mesmo;

Fase dispersa ou reforço – suporta a maior parte da tensão e melhora as propriedades da


matriz;

ƒ Alinhamento das fibras

Œ Contínuas Œ Descontínuas

Anisotrópico Isotrópico

Anisotrópico

x Isodeformação
Deformação uniforme (longitudinal) em todo o compósito, ou
seja, em todas as suas camadas, quando sob tensão;

Ilustração 2 - Representação
da isodeformação
11
7
Multiplicando por obtemos volumes ( ):

De modo a obter uma fracção volúmica, dividimos por Vc:

Como estamos em regime elástico aplica-se a Lei de Hooke ( ):

Na isodeformação, a deformação é uniforme, logo:

Então temos a Lei de misturas linear (ou regra das misturas para compósitos binários):

--------------------------------------------------------------------------------------------

x Isotensão
Deformação igual (perpendicularmente), sobre
camadas de fibra e matriz perpendiculares em relação à
orientação da tensão aplicada;

Ilustração 3 - Representação da
isotensão

Multiplicando por A obtemos volumes ( ):

Dividindo por Vc obtemos fracções volúmicas tal como na dedução para a isodeformação:

Como estamos em regime elástico aplica-se a Lei de Hooke ( ):

12
Na isotensão a tensão é igual, logo:

Então temos a Lei de misturas inversa:

8
--------------------------------------------------------------------------------------------

x Estruturas Cristalinas

Nos metais:

x Densidade elevada devido às distâncias dos motivos aos vizinhos ser pequena,
ser apenas um elemento presente (normalmente) e uma ligação não
direccional (metálica);
x Estruturas Cristalinas Simples.

x Estrutura Cúbica Simples (CS)

NC = 6

Direcção mais compacta { aresta do cubo

Rara (devido à baixa densidade)

Factor de compacidade atómica:

Para a estrutura CS:

13
x Estrutura Cúbica de Corpo Centrado (CCC)

NC = 8

Direcção mais compacta { diagonal maior do cubo

Factor de compacidade atómica:

x Estrutura Cúbica de Faces Centradas (CFC)


E pilha e to ABCABC…

NC = 12

Direcção mais compacta { diagonal da face

Factor de compacidade atómica:

14
x Estrutura Hexagonal Compacta (HC)
E pilha e to ABABAB…

NC = 12

FCA = 0,74

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Densidade Teórica (volúmica) , ρ

Nota:

Em geral –

x Outras densidades

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

15
x Estudo da estrutura de um cerâmico
ƒ Caso do Cloreto de Sódio, NaCl

Pode analisar-se o Cloreto de Sódio como tendo uma estrutura CFC de iões cloreto (Cl-), cujos
interstícios se encontram ocupados por iões sódio (Na+). Como a estrutura CFC é uma
estrutura compacta, e, nestas estruturas, o número de interstícios é igual ao número de
átomos constituintes da estrutura e, segundo o critério da neutralidade eléctrica (todos os
cerâmicos devem assegurar a neutralidade eléctrica), conclui-se que o número de iões Na+ é
11
igual ao número de iões Cl-. Assim, a estrutura pode ser vista como a junção intercalada de
duas estruturas CFC.

Ilustração 4 – Estrutura do NaCl

A estabilidade das estruturas cerâmicas e, neste caso, do NaCl, é influenciada pela razão entre
o raio do catião e o raio do anião (rc/ra). Para assegurar a estabilidade da estrutura cerâmica o
valor desta razão deverá ser maior do que a razão crítica (razão entre o raio do interstício e o
raio atómico, igual a 0,414) e menor do que 0,732. Estes valores correspondem aos valores das
azões pa a os uais os atiões to a os a iões vizi hos .

Ilustração 5 – Significado visual da razão crítica

16
---------------------------------------------------------------------------------------------------------

Polimorfismo (ou alotropia) – Um material polimórfico é todo aquele que tem a capacidade
de apresentar mais do que uma estrutura cristalina.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Cristais
Monocristal – material no qual a estrutura cristalina da amostra é contínua até às suas bordas,
ou seja, não apresenta rupturas.

- Anisotropo, ou seja, as propriedades do material ópti as, e i as… variam com a


direcção.

Policristal – material constituído por uma infinidade de monocristais que preenchem o volume
do sólido (são a maioria dos materiais utilizados em engenharia).

- Isotropo, caso os seus constituintes (grãos ou cristalitos) estiverem orientados


aleatoriamente;

- Anisotropo, caso os grãos estiverem dispostos segundo uma direcção específica


(textura).

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Coordenadas de pontos em células


unitárias cristalinas cúbicas
Utilizam-se os eixos ortogonais cartesianos x, y e
z com os seus sentidos convencionais;

As posições dos átomos nas células são definidas


através das direcções unitárias ao longo dos
eixos cartesianos;

Nota: Para a CCC, de modo a simplificar, muitas


Ilustração 6 – Eixos cartesianos para posicionar
vezes apenas se apresentam duas posições: os átomos
(1,1,1,) e .

x Direcções Cristalográficas em células unitárias cúbicas


Utilizam-se as componentes do vector direcção, reduzidos aos
menores inteiros, como índices das direcções cristalográficas;

Os índices colocam-se entre parêntesis rectos, por ordem


(cartesiana), sem vírgulas a separá-los;

Normalmente utilizam-se as letras u,v e w para indicar os


índices – [u v w];

Ilustração 7 – Exemplos de
direcções numa célula unitária
17
Os índices negativos são indicados através de uma barra horizontal sobre o número ( );

Nota: as direcções paralelas entre si têm índices iguais;

As direcções são cristalograficamente equivalentes se pertencerem à mesma família,


ou seja, se a distância entre os átomos ao longo dessas direcções for o mesmo:

Exemplo:

Neste exemplo são indicadas todas as direcções correspondentes a arestas do


cubo;

Na resolução de problemas é muitas vezes usada a densidade (atómica) linear (pg. 11).

x Planos Cristalográficos em células unitárias cúbicas


Utiliza-se o sistema de notação de Miller – (h k l);

Os índices de Miller para um plano são os inversos


das intersecções que o plano faz com os eixos;

x Para determinar os índices:

o Escolher um plano que não contenha a


origem;

o Determinar os pontos em que o plano Ilustração 8 – Um plano


intersecta os eixos e calcular os inversos; cristalográfico numa célula unitária

o Reduzir as fracções ao mesmo denominador e reduzi-las aos menores inteiros;

No exemplo da ilustração 8 vemos o plano zero-zero-um (0 0 1). Este plano intersecta


os eixos x, y e z em ∞, ∞ e 1 respectivamente. Calculando os inversos temos 0, 0 e 1,
ou seja, o plano (001).

x Para determinar uma família (de planos simétricos) colocam-se os índices entre
chavetas, {h k l}.

o Exemplo: Os planos (100), (010) e (001) pertencem a uma família indicada


através da notação {100};

Na resolução de problemas é muitas vezes usada a densidade (atómica) planar (pg. 11).

x Direcções e Planos Cristalográficos em células unitárias


hexagonais
Utilizam-se quatro eixos coordenados (a1, a2, a3, c), ver ilustração 9;

Para as direcções utiliza-se a notação [u v t w];

Nos planos utilizam-se os índices Miller-Bravais – (h k i l); Ilustração 9 – Quatro eixos


coordenados num hexágono

18
As famílias de planos e direcção são indicadas de forma análoga às estruturas cúbicas
(<u v t w> e {h k i l});

x Comparação entre estruturas cristalinas (CCC, CFC e HC)

Estrutura Cristalina Planos de máxima Direcções de máxima


compacidade (família) compacidade (família)

CCC {1 1 0} <1 1 1>

CFC {1 1 1} <1 1 0>

HC {0 0 0 1} Qualquer aresta do prisma

x Difracção de Raios-X e Lei de Bragg


As distâncias entre os planos atómicos nas estruturas cristalinas é
aproximadamente igual aos comprimentos de onda das radiações da gama dos
raios-X (entre 0,05 e 0,25 nm);

Para um sistema cúbico uma distância interplanar é dada por:

Ao incidirem em planos cristalinos os raios-X são difractados (ilustração 10);

Ilustração 10 – Difracção de raios-X em planos atómicos de uma estrutura cristalina

Considerando os raios incidentes 1 e 2, e, de modo a que estejam em fase, que a


distância adicional percorrida pelo raio 2 é igual a SQ+QT, podemos concluir que esta distância
tem de ser igual a um certo número inteiro de comprimentos de onda λ:

19
Designamos a variável n por ordem de dif a ç o da fo a = , , …

Observando a ilustração 10 podemos deduzir que:

Em que dhkl corresponde à distância interplanar dos planos de índices de Miller (h k l);

Deduzimos assim a Lei de Bragg:

Na maior parte dos casos usa-se a difracção de primeira ordem n=1;

x Células unitárias cúbicas

Tem-se que:

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Defeitos em Sólidos

ƒ Defeitos Pontuais – localizados em posições atómicas de um


cristal (ilustração 11)

ƒ Lacuna – átomo em falta numa determinada posição (11


A);

ƒ Intersticial (ou auto-intersticial) – átomo que ocupa um


interstício entre dois átomos em posições cristalográficas
normais (11 B);

ƒ Substitucional – átomo que substitui um átomo


original numa posição cristalográfica regular (11 C);

Ilustração 11 – Representação gráfica dos defeitos pontuais

ƒ Lacunas

- Qualquer sólido cristalino contém lacunas;

- A sua existência é explicada pela termodinâmica;


20
- A presença de lacunas num cristal aumenta a sua desordem, ou seja,
causa um aumento de entropia;

- É possível calcular a concentração de lacunas em equilíbrio segundo uma


lei de Arrhenius. Esta varia com a temperatura;

- São os defeitos estruturais mais simples.

ƒ Intersticiais

- Podem ser introduzidos por radiação;

- Não ocorrem naturalmente através da distorção.

ƒ Substitucionais

- Ocorrem quando o átomo substituto e o átomo da rede têm tamanhos


semelhantes (diferenças entre raios menores que 15%);

- Podem aumentar a resistência do material.

x Concentração de Equilíbrio

A concentração de equilíbrio varia com a temperatura;

NOTA: Em teoria a concentração de equilíbrio é uma probabilidade em que Nv


corresponde ao número de casos favoráveis e N corresponde ao número de casos total
(Laplace);

A ENERGIA DE ACTIVAÇÃO pode ser determinada experimentalmente:

Gráfico 4 – Recta experimental para determinação de Ev

x Defeitos Pontuais em Ligas


Um átomo B (verde) associado a uma estrutura do átomo A (azul) – Ilustração
12:

21
Ilustração 12 – Soluções sólidas com defeitos pontuais
Df

O aço é um exemplo de uma liga intersticial;

A liga cobre-níquel é um exemplo de uma liga Substitucional;

A segunda fase da liga tem uma composição diferente e, normalmente, uma


estrutura cristalina também diferente.

x Defeitos Pontuais em Cerâmicos

Nota: nestes materiais é necessário manter a neutralidade eléctrica.

Defeito de Frenkel: catião deslocado para um interstício, criando um par


lacuna-intersticial;

Defeito de Shottky: ausência de um catião e de um anião criando um par de


lacunas

Ilustração 13 – Defeito de Ilustração 14 – Defeito de


Shottky Frenkel

Para estes defeitos a concentração de equilíbrio é aproximada a uma


exponencial:

22
x Defeitos Lineares
Deslocações:

- Defeitos ocorrem segundo uma única dimensão, em torno da qual os


átomos abandonaram as posições de equilíbrio;

- Defeito caracterizado pela vector de Burgers, ou seja, medida da


distorção da rede, e pela linha de deslocação;

- O plano de escorregamento é definido pelo vector de Burgers e pela


linha de deslocação.

ƒ Deslocação Cunha

- Dá-se a introdução de um semi-plano de átomos extra na estrutura cristalina;

- O vector de Burgers, ,, é perpendicular à linha de deslocação cunha, e é


determinado a partir do circuito de Burgers.

Ilustração 15 – Deslocação Cunha (a azul claro, o delineamento do


circuito de Burgers)
O T i ve tido i dica u a deslocação cu ha positiva;
Na ilustração 15 identificamos o plano de escorregamento entre os dois
planos no centro da figura;

Ilustração 16 – Representação visual de uma deslocação Cunha


ƒ Deslocação parafuso

-Resultante das tensões de corte é criada uma rampa em espiral de


planos;

-O vector de Burgers, , é paralelo à linha de deslocação, e é


determinado a partir do circuito de Burgers;

23
- O pla o de es o ega e to o t a falha ue se pode observar
na ilustração 17.

Ilustração 17 – Representação visual de uma deslocação parafuso

ƒ Deslocação Mista

- Representa a maioria das deslocações nos cristais;

- Co siste u a o i aç o e t e as deslo ações u ha e pa afuso, e


duas zonas diferentes;

-A linha de deslocação é curva dentro do volume afectado, e contém os pontos


de deslocação parafuso e deslocação cunha.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

Circuito de Burgers (definição): caminho fechado, de átomo a átomo, que contém a linha de
deslocação no seu interior. O caminho é desenhado com saltos de átomo para átomo, com
forma rectangular (m*n). Na região de deslocação o circuito não fecha, sendo assim o vector
de burgers, , completa o circuito.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Deformação plástica
Para estruturas cúbicas e hexagonais metálicas a deformação plástica ocorre
por escorregamento de um plano de átomos sobre um segundo por movimento de
deslocações.

NOTA: Para que ocorra deformação plástica é necessário que haja movimento
de deslocações.

24
ƒ Sistema de escorregamento

-Plano de escorregamento:

ƒ Plano de deslizamento fácil;

ƒ Grandes distâncias interplanares (índices baixos);

ƒ Planos de máxima compacidade, com densidade


atómica planar elevada.

-Direcção de escorregamento:

ƒ É a direcção de movimento;

ƒ Direcções de maior compacidade, com densidade


atómica linear elevada.

Para as estruturas cristalinas (CCC, CFC e HC):

ƒ CCC: escorregamento ocorre em planos {1 1 0} e em direcções <1 1 1>;

ƒ CFC: escorregamento ocorre em planos {1 1 1} (compactos) e em


direcções <1 1 0>, num total de 12 sistemas de escorregamento;

ƒ HC: escorregamento ocorre nos planos basais e direcções prismáticas


(1 plano, 3 direcções)

x Tensão e Movimento de Deslocações


- O escorregamento ocorre por acção de uma tensão de corte
resolvida, designada por ;

- A tensão de corte resolvida pode ser


causada por uma tensão de tracção aplicada ao cristal.

x Lei de Schmid

Ilustração 18 – Representação visual da Lei


de Schmid

x Escorregamento em Policristais
- Limites de grão limitam a deformação. São assim, mais resistentes;

- Cada cristal tem uma tensão de


21 corte resolvida diferente;
10

-Cede primeiro o cristal com maior


0
tensão de corte resolvida;

-Os planos e direcções de escorregamento (φ e λ va ia o soa te o istal;

-Cristais com orientações menos favoráveis cedem mais tarde.

25
x Limites de grão
- São as regiões entre os cristais;

-Zona de transição entre a rede de duas


transições;

-Ligeiramente desordenada;

-Densidade baixa:

Elevada mobilidade atómica;

Difusidade elevada;

Ilustração 19 – Estrutura em grãos Zona de reactividade química.

ƒ Solidificação

Em geral, pode dividir-se a solidificação de um metal ou liga em duas etapas:

1. Formação de núcleos estáveis no líquido, nucleação;


2. Crescimento dos núcleos, originando cristais que tocam uns nos outros, e
formação de uma estrutura em grãos.

Ilustração 20 – Etapas da solidificação. A cinza o líquido. A imagem mais à direita


corresponde à estrutura em grãos com os limites de grão delineados

ƒ Falhas de empilhamento

Em metais CFC a ocorrência de erros na sequência de


e pilha e to dos pla os áBCáBC… - Exe plo: áBáBCáB…
Maclas: Uma reflexão das posições atómicas através do plano

x
de macla
Observação Microscópica de Defeitos Ilustração 20 – Plano de Macla

- É feita à vista desarmada apenas para grãos de elevadas dimensões (da


ordem dos milímetros, mm);

-Para grãos da ordem dos micrómetros (µm) usam-se técnicas de microscopia


óptica e microscopia electrónica de varrimento;

- Para grãos da ordem dos nanómetros (nm), deslocações, maclas e falhas de


empilhamento usa-se a microscopia electrónica de transmissão.

ƒ Microscopia Óptica: limites de grão revelados como linhas escuras;

26
ƒ Microscopia Electrónica de Transmissão: permite ver imagens de
deslocações.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Polímeros
Macromoléculas químicas constituídas por unidades estruturais (meros).

A maior parte destes polímeros são hidrocarbonetos.

x Hidrocarbonetos
ƒ Saturados

Cada Carbono encontra-se ligado a quatro outros átomos:

Ilustração 21 – Exemplo de um hidrocarboneto saturado, o butano

ƒ Insaturados

Carbonos com ligações duplas e triplas reactivas que podem formar


ligações com outros elementos, quebrando as ligações duplas ou triplas:

Ilustração 22 – Exemplo de um hidrocarboneto insaturado, o etileno

x Reacções de Polimerização
ƒ Polimerização em cadeia

Processo químico através do qual se sintetizam polímeros. Neste processo os


monómeros combinam-se através de reacções químicas criando polímeros com longas
cadeias moleculares.

As reacções de polimerização em cadeia podem ser divididas em 3 fases ou


etapas: iniciação, propagação e finalização ou terminação.

Designemos por R um grupo funcional e por M o mero ou monómero, ou


23
unidade de repetição da cadeia polimérica. O ponto designa um electrão livre.
10
0
INICIAÇÃO

Ilustração 23 – Ilustração da 1º etapa (iniciação)

27
Nesta fase um grupo funcional, que actua como iniciador, ao ligar-se à unidade
de repetição, quebra a ligação múltipla que esta apresenta inicialmente. Assim, a molécula
resultante fica com um radical livre susceptível de formar ligações com outras moléculas.

PROPAGAÇÃO

Ilustração 24 – Ilustração da 2º etapa (propagação)

A propagação é o processo de adição sucessiva de meros que provoca o


crescimento da cadeia polimérica.

FINALIZAÇÃO

Ilustração 25 – Ilustração da 3º etapa (finalização)

A finalização pode ocorrer através da combinação entre duas cadeias ou pela


adição de um radical livre final. A terminação da cadeia polimérica pode também ser causada
pela presença de quantidades residuais de impurezas.

Ilustração 26 – Exemplo do polietileno, obtido por polimerização por cadeia

ƒ Polimerização por passos sucessivos

É uma reacção de polimerização, em que os monómeros reagem


quimicamente entre si, formando polímeros lineares. É considerado que a facilidade de
ocorrência destas reacções é independente do tamanho do polímero, ou seja, o tamanho do
polímero não afecta a reactividade dos grupos funcionais que vão formar ligações entre si. Os
monómeros reagem entre si ou com os polímeros produzidos no processo. Muitas vezes
resulta deste processo uma molécula como subproduto, o que faz com que estas reacções
sejam muitas vezes denominadas como polimerização por condensação.

28
Ilustração 27 – Caso do Nylon 6,6, obtido por polimerização por passos sucessivos

Na ilustração 27, é possível ver a reacção através da qual se obtém o Nylon 6,6.
Uma molécula de Hexametileno diamina reage com uma molécula de Ácido adípico, de onde
resulta o Nylon 6,6 (ou Hexametileno adipamida) e o subproduto, a água.

ƒ Polimerização por reticulação

á poli e izaç o po eti ulaç o a a a po se u a o da poli e izaç o po


passos sucessivos, ainda que este não seja um termo correcto. Este tipo de reacção ocorre
quando as moléculas reagentes têm mais do que um local de reacção, criando assim uma
rede tridimensional polimérica ao invés de um polímero linear. Este tipo de polimerização
ocorre bastante em plásticos termoendurecíveis.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Grau de polimerização, n – é igual ao número de meros presentes na cadeia polimérica em


questão;

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Material polimérico – conjunto de cadeias polimérica de diferentes comprimentos e


características, em particular, o seu grau de polimerização e peso molecular;

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Peso molecular da cadeia polimérica


É designado por Mi e define-se como o peso de uma mole de cadeias
poliméricas. De forma grosseira, podemos dizer que quanto maior for a cadeia (ou seja,
quantos mais átomos tiver) maior é o seu peso molecular.

ƒ Peso molecular médio

O peso molecular médio pode ser calculado de duas maneiras diferentes, de


modo a obter dois resultados diferentes que cumprem objectivos distintos. O peso molecular
médio pode ser feito através média tendo em conta a fracção numérica de cada molécula ou

29
tendo em conta as suas fracções de peso. O peso molecular médio calculado através da
fracção de peso, Mw, é mais sensível a pesos moleculares mais elevados.

x Isomerismo
Isómeros – compostos químicos que apresentam a mesma fórmula molecular, no entanto,
com estruturas diferentes;

ƒ Estéreo-isomerismo

Tipo de isomerismo percepcionado apenas através das diferenças nos arranjos


espaciais (provocado pela quebra de ligações);

ƒ Formas de estéreo-isomerismo:

Œ Isotáctico

O grupo funcional está sempre do mesmo lado da cadeia principal de


carbonos.

Ilustração 28 – Representação do Estéreo-Isomerismo Isotáctico

Œ Sindotáctico

Os grupos funcionais encontram-se alternadamente dos dois lados da cadeia


principal de carbonos.

30
Ilustração 29 – Representação do Estéreo-Isomerismo Sindotáctico

Œ Atáctico

Os grupos funcionais estão colocados aleatoriamente de ambos os lados da


cadeia principal de carbonos.

Ilustração 30 – Representação do Estéreo-Isomerismo Atáctico

Nota: Estas três formas de estéreo-isomerismo podem ser apresentadas em certa


percentagem nos materiais poliméricos, em particular, em alguns termoplásticos.

ƒ Isomerismo geométrico

O isomerismo geométrico, ou isomerismo cis-


trans, é um tipo de isomerismo que pode representar a posição
relativa dos grupos funcionais numa molécula. O termo cis (que
e Lati sig ifi a do es o lado , apli a-se a quando os grupos
funcionais se encontram do mesmo lado da molécula. O termo
trans ue e Lati sig ifi a do out o lado , apli a-se quando os
grupos funcionais se encontram em lados opostos da molécula.
Neste isomerismo os compostos devem apresentar sempre
simetria relativamente a um eixo ou ponto.
Ilustração 31 – Exemplo de um buteno

x Forma das Cadeias


Conformação – processo que ocorre em cadeias poliméricas e que através da rotação em
torno das ligações permite alterar a sua estrutura, sem quebrar as mesmas.

As cadeias moleculares podem ter diferentes configurações e, com estas,


diferentes resistências mecânicas:

31
Ilustração 32 – Cadeias Moleculares

A resistência mecânica das diferentes cadeias varia segundo a seguinte ordem


crescente: linear < ramificada < lig. cruzadas < reticulada

x Distância entre extremidades


Distância entre as duas extremidades da cadeia polimérica. Designa-se pela
letra r.

Ilustração 33 – Representação da distância entre as duas extremidades de uma cadeia polimérica

32
x Tipos de Polímeros
Os materiais poliméricos dividem-se em dois grandes grupos com bastante
importância industrial:

Os plásticos são um grupo vasto de materiais que são produzidos através de


moldagem ou enformação de modo a adquirirem uma determinada forma. Dependendo do
modo como os seus componentes estão ligados quimicamente podem ser caracterizados
como termoplásticos ou termoendurecíveis.

Os elastómeros (ou borrachas) têm a capacidade de poder sofrer grandes


deformações elásticas sob a acção de uma força conseguindo voltar à sua forma inicial.

x Termoplásticos vs Termoendurecíveis
ƒ Termoplásticos

São enformados com recurso ao calor, e mantêm a forma da enformação após


arrefecimento. Podem ser reaquecidos e reenformados. Na sua maior parte constituídas por
cadeias principais, de átomos de carbono com ligações covalentes. As cadeias moleculares
estão ligadas umas às outras através de ligações secundárias. Têm assim poucas ligações
cruzadas, deformam-se com o aumento de temperatura (amaciam) e são ais dúcteis .
Diminuindo a temperatura dá-se um aumento do Módulo de Young e da tensão máxima, no
entanto, diminui a percentagem elástica. Um aumento da velocidade de deformação causa
efeitos equivalentes à diminuição da temperatura. Exemplos: Poliestireno; Polipropileno;

ƒ Termoendurecíveis

São enformados de forma permanente e endurecidos (ou curados) através de


uma reacção química. Não podem ser refundidos e reenformados. Degradam-se mediante
temperaturas muito elevadas. Têm muitas ligações cruzadas (10 a 50% dos meros), e são por
isso, duros mas frágeis. Não amaciam por aquecimento, ao invés, degradam-se e perdem as
suas qualidades, o que faz com que também não sejam recicláveis.

x Cristalinidade de Polímeros
O estado cristalino, embora raro, pode existir em materiais poliméricos. No
caso dos metais, por exemplo, as estruturas cristalinas dependem apenas de átomos
individuais. Para os polímeros o estudo da cristalinidade torna-se mais complexo porque
envolve moléculas. A cristalinidade de polímeros consiste no arranjo atómico através do

33
empilhamento de cadeias moleculares. Dependendo do tamanho das moléculas que
o stitue o polí e o, este pode te u a aio ou e o te d ia pa a a istali idade ,
sendo que quanto menores forem as moléculas, maior será
esta te dê cia .

Na maior parte dos casos o módulo de


Young, E, do material e a sua resistência mecânica
aumentam com a sua % de cristalinidade.

Ilustração 34 – Representação das regiões amorfas e cristalinas de


um polímero
ƒ Formas cristalinas

Monocristais – É necessário um crescimento lento e cuidado, feito em condições especiais, de


modo a evitar rupturas e limites de grão;

Esferulites – Muitos polímeros, ao solidificarem, formam uma estrutura semicristalina, com


esferulites. Estas estruturas formam-se com uma estrutura aproximadamente esférica.

Ilustração 36 – Esferulites observadas a microscópio


As cruzes observadas na figura designam-se po c uzes de Malta .

Ilustração 35 – Representação gráfica das esferulites

x Copolímeros
São polímeros constituídos por dois ou mais tipos de meros. Podem ser
divididos nas seguintes categorias, dependendo da sua estrutura:

34
Aleatório: Os dois meros estão dispostos
aleatoriamente na cadeia

Alternado: Os dois meros estão dispostos


alternadamente na cadeia

Por blocos: Os dois meros formam blocos que são


dispostos alternadamente na cadeia

Ramificados: A cadeira principal é composta por um


dos meros, ao passo que, as ramificações são
formadas por um segundo

x Propriedades Mecânicas
Em relação aos metais podemos encontrar algumas diferenças nas
propriedades mecânicas. Para os polímeros, o módulo de Young é inferior ao dos metais. A
tensão máxima dos polímeros é, de forma grosseira, aproximadamente 10% da tensão
máxima dos metais. Nos polímeros é possível atingir extensões mais elevadas do que nos
metais. Enquanto que para os metais a extensão máxima é no máximo de 10%, para os
polímeros pode chegar perto dos 1000%. No gráfico 4 é possível observar as curvas tensão-
extensão típicas dos polímeros (frágil, plástico e elastómero).

Gráfico 4 – Curvas tensão-extensão de polímeros

Em tracção: para o polímero frágil, dá-se uma fractura frágil. Para o plástico
dá-se uma fractura dúctil, para o elastómero a deformação é reversível até certo ponto.

35
Observando agora os pontos marcados no gráfico para cada curva:

Polímero frágil (fractura frágil): (1) No início para o caso com ligações
cruzadas, temos as cadeias alinhadas. Para o caso reticulado, temos as ligações sem
deformação alguma. (2) Perto da fractura denota-se u esti a das ligações uzadas devido
à tensão aplicada no material. Para o reticulado, nota-se uma distorção das ligações e da sua
disposição inicial.

Plástico (fractura dúctil): (1) No início temos um polímero semi-cristalino com


regiões cristalinas e regiões amorfas. (2) Ao ser atingida a tensão de cedência as regiões
amorfas alongam-se causando depois que (3) as regiões cristalinas se alinhem. Depois de
alinhadas (4) as regiões cristalinas deslizam criando (5) assim uma estrutura fibrilar que leva à
fractura.

Elastómero: No início temos as cadeias moleculares desalinhadas e ligadas.


Até certo intervalo de extensão no gráfico a deformação é reversível, após esse ponto as
cadeias ficam permanentemente esticadas continuando ligadas.

x Vulcanização da borracha
A vulcanização é um método criado no séc. XIX por Charles
Goodyear. A vulcanização de elastómeros, e neste caso, da borracha natural é
feito na presença de enxofre. A borracha natural é composta por moléculas de
Cis-poliisopreno (ilustração 37). Na borracha vulcanizada as cadeias poliméricas
de Cis-poliisopreno estão ligadas através de átomos de enxofre (S), em
aproximadamente 3% do peso, aumentando a resistência do material. Ilustração 37 – Composição
química da borracha natural

Ilustração 38 – Composição química da borracha vulcanizada e ilustração


gráfica

Gráfico 5 – Curvas tensão-extensão de borrachas

x Fluência e fractura de polímeros


Quando submetidos a uma carga aplicada constante e a temperatura se
mantém a sua deformação aumenta ao longo do tempo. A fluência de materiais poliméricos é
medida pelo módulo de fluência. O módulo de fluência é dado pela razão entre a tensão
i icial aplicada, σo, e a exte são de fluê cia t para cada instante. Quanto maior o módulo
de fluência menor a velocidade de fluência.

36
A fractura de materiais poliméricos pode ser considerada com frágil, dúctil ou
intermédia (entre a frágil e a dúctil). De forma geral, os termoendurecíveis não reforçados
fracturam de modo frágil. Os termoplásticos, no entanto, podem fracturar de forma dúctil ou
frágil. Para os termoplásticos a fractura é tendencialmente frágil abaixo da sua temperatura de
transição vítrea, caso contrário deverá ser dúctil. Para os termoendurecíveis a fractura
continua a ser frágil independentemente da temperatura.

Ilustração 39 – Representação gráfica da fractura de polímeros

Na ilustração 38 têm-se a fractura dos polímeros representada graficamente. Junto das


microcavidades e das fendas estão cadeias moleculares alinhadas. Na fractura as esferulites
sofrem deformação plástica formando uma estrutura fibrilar. Aparecem assim,
microcavidades e pontes com fibras entre estas.

x Temperaturas de fusão (Tf) e transição vítrea (Tg)


As temperaturas de fusão e de transição vítrea aumentam com a rigidez da cadeia, e
consequentemente, com as características que contribuem para uma maior rigidez. A rigidez
da cadeia aumenta com grupos laterais volumosos, grupos polares ou grupos laterais e com
ligações duplas e grupos aromáticos (apresentam na cadeia principal um ou mais anéis de
benzeno) na cadeia.

x Ensaio de relaxação de tensão


É um ensaio de tracção em que a extensão é mantida constante ao longo do
tempo, procurando uma diminuição da tensão ao longo do tempo.

Módulo de relaxação – é calculado através da


razão entre a tensão em certo instante e a
extensão inicial.

Gráfico 6 – Gráfico do ensaio de relaxação

37
x Aditivos

ƒ De enchimento

Destinados a melhorar a resistência à tracção e abrasão, a tenacidade e


diminuir o custo.

ƒ Plastificantes

Destinados a diminuir a temperatura de transição vítrea.

ƒ Estabilizantes

Muitas vezes protectores de radiação (UV) ou antioxidantes.

ƒ Corantes

Tintas ou pigmentos.

ƒ Retardantes de chama

Cloro, Fluor e Boro.

ƒ Lubrificantes

Destinados a facilitar o escoamento da matriz e para facilitar o seu


processamento.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Solidificação
A solidificação pode ser definida como o resultado do vazamento de um
material líquido. Em geral, divide-se a solidificação em duas etapas:

Nucleação: Formação de núcleos sólidos e estáveis (agregados de átomos) no


líquido.

Crescimento: crescimento dos núcleos criados na nucleação criando cristais,


formando uma estrutura de grão.

Ilustração 40 – Etapas da solidificação com o líquido a cinza

Na ilustração 40 é possível observar os núcleos estáveis da nucleação a evoluir para os


cristais que acabam por formar a estrutura de grãos.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

38
x Mecanismos de Nucleação
Existem dois mecanismos principais pelos quais pode ocorrer o processo de
nucleação: nucleação homogénea e nucleação heterogénea.

ƒ Nucleação homogénea

Este é o caso mais simples de nucleação.


Na sequência de um sobrearrefecimento elevado (tipicamente 80-300oC),
formam-se núcleos no interior do líquido, em particular, no metal líquido.

Na nucleação homogénea temos dois tipos de variação de energia necessárias


de considerar. Em primeiro lugar a energia livre de volume, que é libertada devido à
transformação de líquido para sólido. Em segundo lugar a energia de superfície, que é
necessária para criar as superfícies das partículas que são solidificadas.

x Energia livre de Volume

Considerando por aproximação os núcleos como esferas, podemos obter a


variação da energia livre de volume total, através do produto entre o volume do núcleo, e a
sua energia livre de volume por unidade de volume.

x Energia de Superfície

Tal como para a energia livre de volume consideramos por aproximação os


núcleos como esferas. Assim, a variação da energia livre de superfície é obtida através do
produto da área da superfície da esfera multiplicada pela energia livre de superfície por
unidade de área.

Através da energia livre de volume e a energia de superfície é possível obter a


energia livre total associada à solidificação de um núcleo através da soma das duas. Esta
energia é chamada de energia livre total e designa-se por ΔGT.

Para a nucleação de um certo metal existe um raio crítico para os núcleos


criados pela nucleação para o qual a energia livre total é máxima (ou crítica). Esse raio crítico
designa-se por r* e pode ser deduzido através da expressão da energia livre total.

39
Gráfico 6 – Variação das energias livres em função do raio

A existência deste raio crítico permite prever algumas mudanças espontâneas


causadas pelas mudanças de um estado de energia superior para um estado de energia
inferior. Para as partículas sólidas formadas durante a solidificação que tenham raios
inferiores ao raio crítico, têm tendência a dissolverem-se porque causará uma diminuição de
energia do sistema. No entanto, se as partículas sólidas se formarem com raios superiores ao
raio crítico, estas terão tendência a entrar na fase de crescimento, porque essa diminuirá a
energia do sistema.

A variação da energia livre de volume, ao contrário da energia de superfície,


depende muito da temperatura. Por esta razão, o valor do raio crítico é determinado
principalmente através de . Quanto maior for o sobrearrefecimento do sistema, maior é o
valor de . Podemos então considerar algumas fórmulas:

Assim, podemos concluir que para haver nucleação é necessário ter uma
variação de temperatura positiva ΔT> . Qua to maior é esta variação menor é o raio crítico
e, consequentemente, também a energia livre total máxima. Uma maior variação de
temperatura facilita a nucleação e provoca uma maior taxa de nucleação (número de núcleos
formados por unidade de volume e de tempo, N).

40
ƒ Nucleação heterogénea

A nucleação heterogénea dá-se sobre as paredes do (eventual) recipiente, em


impurezas presentes no líquido ou noutro material estranho à estrutura que diminua a
energia livre crítica necessária para a formação de um núcleo estável. Para que este tipo de
nucleação ocorra, o líquido deve solidificar facilmente sobre o agente nucleante. A nucleação
heterogénea ocorre mesmo com uma variação de temperatura pequena.

Ilustração 41 – Nucleação heterogénea sobre um agente nucleante

x Crescimento
O crescimento é a segunda etapa da solidificação. Este inicia-se quando os
núcleos criados na nucleação atingem o raio crítico, tornando-se assim estáveis. Estes núcleos
estáveis crescem aglomerando-se, formando cristais no processo designado por difusão
atómica. Assim que os cristais atingem um tamanho tal que as suas fronteiras se toquem, o
crescimento esgota-se e forma-se uma estrutura de grãos. A velocidade de crescimento
determina-se a partir da velocidade de difusão, que depende muito da temperatura, T. Assim,
a velocidade de crescimento aumenta com o aumento da temperatura.

x Estruturas de Grão
ƒ Materiais de grão fino e grosseiro

O tipo de grão presente numa estrutura de grão depende fortemente da


variação de temperatura, ΔT. Qua do esta variação de temperatura é baixa (pequeno
sobrearrefecimento) cria-se uma estrutura com poucos grãos e grandes, sendo assim uma
estrutura de grão grosseiro. Quando a variação de temperatura é elevada (grande
sobrearrefecimento) cria-se uma estrutura com muitos grãos pequenos, sendo assim uma
estrutura de grão fino. Um material com estrutura de grão fino é mais duro e mais resistente.

Através da chamada equação de Hall-Petch é possível relacionar a tensão de


cedência do material com o diâmetro dos grãos que o constituem:

41
ƒ Tamanho de grão

O método de medida utilizado para medir o tamanho de grão é o método


ASTM. Neste método define-se o número do tamanho de grão n como:

N = 2 n-1

N é o número de grãos por polegada quadrada (1 polegada quadrada = 6.25


2
cm ). Para uma superfície ampliada 100x, n é o número inteiro designado número ASTM de
tamanho de grão.

» Ver limites de grão na página 22

Na solidificação podemos ter grãos equiaxiais (aproximadamente mesma


dimensão em todas as direcções) ou colunares (grãos alongados). Normalmente, para um
dado material, os grãos colunares encontram-se nas zonas onde temos uma menor variação
de temperatura e os equiaxiais quando a variação de temperatura é mais elevada.

x Monocristais vs Policristais
As propriedades dos Monocristais variam com a direcção, devido à
propriedade de anisotropia (ver pg. 13). Para os Policristais, as suas propriedades podem ou
não variar com a direcção. Caso os grãos estejam orientados aleatoriamente verifica-se a
isotropia (pg. 13), se os grãos estiverem orientados segundo direcção preferencial verifica-se
na anisotropia. (pg. 13).

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Difusão
Mecanismo através do qual a matéria é transportada através da própria
matéria. Para os fluídos (gases e líquidos) o movimento é feito de forma aleatória. Nos sólidos,
o mecanismo pode ser o de difusão por lacunas ou difusão intersticial.

Numa liga metálica, os átomos tendem a migrar para regiões de concentração


baixa vindos de regiões com concentração alta. Este processo chama-se interdifusão.

Ilustração 42 – Representação do processo de interdifusão

42
Quando temos um sólido puro, ou seja, constituído por um único elemento,
temos o processo de auto-difusão, em que da própria espécie migram através do sólido.

Ilustração 43 – Representação do processo de auto-difusão

ƒ Difusão por lacunas

Ao mecanismo na difusão por lacunas dá-se o nome de mecanismo por


lacunas ou mecanismo subtitucional. Se existirem na rede cristalina de um sólido lacunas ou
defeitos, pode dar-se este mecanismo. Neste mecanismo, os átomos trocam de posição com
as lacunas se a energia térmica fornecida pela vibração térmica dos átomos for suficiente. Nos
metais (e ligas metálicas) existem sempre lacunas, e, por isso, pode ocorrer difusão por
lacunas. A taxa a que é feito este mecanismo de difusão depende do número de lacunas
presentes no material e a energia de activação para a migração, que é a soma da energia de
formação de uma lacuna com a energia de activação para mover a lacuna.

Ilustração 44 – Difusão por lacunas

ƒ Difusão intersticial

Este mecanismo de difusão ocorre quando os átomos se movem de um interstício


para um outro interstício vizinho. Para que este mecanismo de difusão tenha lugar, os átomos
que se difundem têm de ser relativamente pequenos, em comparação os átomos da matriz.
Podemos pensar no exemplo de um aço, em que os átomos de carbono de difundem
intersticialmente sem implicar com os átomos da matriz de ferro. Este mecanismo é mais
rápido do que a difusão por lacunas.

43
Ilustração 45 – Difusão intersticial

x Processos industriais utilizando difusão


ƒ Cementação

Consiste na difusão de átomos de carbono numa estrutura de átomos de


ferro na sua camada superficial. A presença destes átomos de carbono têm como objectivo
tornar a estrutura do Ferro mais dura. O metal é aquecido na presença de um material rico
em carbono po exe plo a v o e este absorve o a o o li e tado. (Exemplo: roda
dentada cementada). O mesmo processo dá-se para o azoto (em vez do carbono), com o nome
de nitruração.

ƒ Dopagem

É o processo de adição de átomos (normalmente Índio ou Fósforo) por difusão num


material semicondutor (normalmente germânio ou silício). Neste processo são depositadas
camadas ricas do elemento adicionado seguido de um aquecimento. Assim, o semicondutor
fica com regiões dopadas dotando-os de propriedades de semicondutor controladas,
possibilitando a sua aplicação em dispositivos electrónicos.

x Difusão estacionária
Consideremos dois
planos paralelos a uma distância x
(ilustração 46). Durante um certo
intervalo de tempo a concentração de
átomos no plano 1 é C1 e a concentração
de átomos no plano 2 é C2, ou seja, se
não se der nenhuma variação da
concentração de átomos de soluto com
o tempo. A estas condições chamam-se
condições de difusão estacionárias. Este
tipo de difusão dá-se quando um gás
não-reactivo se difunde através de uma
folha metálica. Ilustração 46 – Difusão estacionária

Observemos a ilustração 46. Se durante um certo intervalo de tempo não se


derem interacções químicas entre os átomos de soluto e solvente, teremos um deslocamento

44
global de átomos entre os planos 1 e 2, das regiões de concentração mais altas para as mais
baixas. Neste tipo de sistemas é possível equacionar o fluxo de átomos, com uma taxa de
difusão, através da chamada 1ª Lei de Fick.

ƒ 1ª Lei de Fick

Note-se que para uma variação linear das concentrações o gradiente de


concentração é dado pela divisão das va iações ΔC e ΔX. O sinal de menos usa-se porque a
difusão ocorre das difusões mais altas para as mais baixas.

x Difusão e temperatura
Como o coeficiente de difusão aumenta exponencialmente com a temperatura
para um fenómeno termicamente activado, é possível, através da Lei de Arrhenius equacionar
o aumento do coeficiente de difusão.

A transformação logarítmica da expressão torna-se bastante útil para a


resolução de problemas e para o trabalho experimental:

Sabendo que o coeficiente de difusão é maior para a difusão intersticial (em


relação à difusão por lacunas), é possível concluir que esta é mais rápida que a difusão por
lacunas.

x Difusão não-estacionária
A difusão estacionária não é um caso frequente nos materiais utilizados em
engenharia. A difusão não-estacionária, ao contrário da difusão estacionária, é verificável
quando as condições de difusão, e, consequentemente, o coeficiente de difusão, estão
dependentes do tempo. Nestes casos, passa a aplicar-se a 2ª Lei de Fick da difusão.

A 2ª Lei de Fick tem em conta a variação do coeficiente de difusão ao longo do


tempo, o que a torna aplicável na difusão não-estacionária.

Quando o coeficiente de difusão de um material noutro for independente da


posição, é possível chegar a uma solução para a 2ª Lei de Fick. Temos então:

45
Em que erf(z) corresponde à função erro de Gauss. Tendo em conta o valor do
argumento desta função é possível utilizar valores tablados para saber qual a sua imagem. No
entanto, deixo em anexo um pequeno resumo sobre a função erro de Gauss e o cálculo da
mesma, para a eventual necessidade de a utilizar. → Ver anexo (Função de erro de Gauss)

x Difusão rápida vs Difusão lenta

Difusão Mais Rápida Difusão Mais Lenta

-estruturas cristalinas menos compactas -estruturas compactas

-materiais com ligações secundárias -materiais com ligações covalente

-átomos pequenos -átomos grandes

-materiais de densidade baixa -materiais de densidade elevada

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

x Diagramas de fases
Fase – região que difere de outra, tendo em conta a estrutura e/ou composição, ou
seja, uma região de matéria homogénea com composição e/ou estrutura cristalinas próprias.
As fases de um sistema são separadas por interfaces que se caracterizam pela transição
abrupta da estrutura e/ou da composição química.

Diagrama de fases – representação gráfica que indica as fases existentes num sistema,
para diferentes temperaturas, pressões e composições.

Diagrama de equilíbrio de fases – diagrama de fases de um sistema em condições de


equilíbrio termodinâmico.

x Fases Sólidas
Soluções sólidas – fases com domínios de estabilidade alargados -α, β

Compostos estequiométricos – fases com domínios de estabilidade estreitos ou


composição química fixa (ex: Al3Ti)

x Soluções Sólidas
Para átomos de um elemento B (soluto) adicionados a uma matriz de um
elemento A (solvente) – ilustração 47:

46
Ilustração 47 – Soluções sólidas de um elemento B em A

ƒ Soluções sólidas Substitucionais

A formação de soluções sólidas substitucionais exige algumas


condições. Temos assim as regras de W. Hume – Rothery, referentes
aos átomos do soluto e do solvente:

- Diferença entre raios atómicos < 15%;

- Electronegatividades semelhantes;

- Mesma estrutura cristalina em metais puros;

- Mesma valência;

Uma solução sólida tem componentes, ou seja, os elementos que os


constituem que são os constituintes da mistura, e fases (ex: α e β , as po ções físi a e
quimicamente idênticas desses mesmos materiais.

Ilustração 48 – Exemplo de uma liga com duas fases vista a microscópio

47
x Equilíbrio de fases
Solução – solução líquida é apenas uma fase

Mistura – o conceito mistura aplica-se quando temos mais do que uma fase,
líquidas e sólidas

ƒ Limite de Solubilidade

Este limite representa a concentração máxima para a qual se forma uma


solução, ou seja, uma única fase. Num digrama de fases, este apresenta-se como uma
f o tei a .

Gráfico 7 – Diagrama de fases do sistema açúcar/água

O limite de solubilidade é afectado por variações de temperatura e de


concentração, como é possível ver pelo gráfico 7.

x Tipos de Diagramas de Fases


Podemos dividir os diferentes tipos de diagramas de fases tendo em conta o
número de componentes (substâncias puras) que constituem o sistema em análise. Assim
podemos caracterizar os sistemas através da seguinte classificação:

“iste a u io C= , “iste a i io C= , “iste a te io C= …

A representação gráfica do diagrama é feita recorrendo a eixos, sendo estes


eixos para a composição (com n componentes), para a temperatura e para a pressão. O(s)
eixo(s) da composição são n-1, sendo n o número de componentes do sistema. Em sistemas
condensados o eixo da pressão dispensa-se, assumindo um pressão constante (1 atm.).

48
Gráfico 8 – Exemplo de um diagrama de fases Gráfico 9 – Exemplo de um diagrama de fases Gráfico 10 – Exemplo de um diagrama de fases
unário binário (assume-se pressão constante) ternário (assume-se pressão constante)

x Regra das fases de Gibbs


Através de considerações termodinâmicas, foi possível, por Gibbs, encontrar
uma equação que define o número de fases que podem coexistir num determinado sistema,
em equilíbrio. Esta equação é a chamada Regra das fases de Gibbs:

C ≡ ú e o de o po e tes do
F+V=C+2 F ≡ ú e o de fases u
sistema
determinado sistema
V ≡ ú e o de g aus de li e dade

A variância ou número de graus de liberdade (V), é o número de variáveis


independentes que podem causar alterações no sistema sema ocorrência de transformações
de fases.

Quando temos um sistema binário em que assumimos pressão constante


podemos simplificar a equação acima enunciada para:

F+N=C+1

x Diagramas de Fases Binários: Sistemas Isomorfos


Para sistemas binários (com dois
componentes), em que dois elementos são completamente
solúveis um no outro, existe apenas uma estrutura cristalina.
Por esta razão são designados por sistemas isomorfos. Estas
soluções seguem as regras de Hume-Rothery para soluções
sólidas substitucionais (ver pg. 45). Nem sempre todas estas
regras se aplicam a todos os pares de elementos nestas
condições.

No gráfico 11 é possível observar um


diagrama de fases binário, com as áreas correspondentes às
fases sólida e líquida. A região, entre as linhas liquidus e
solidus, representa uma região bifásica em que coexistem as Gráfico 11 – Diagrama de fases binário da liga
fases líquida e sólida. A partir deste tipo de diagramas é Níquel-Cobre
possível saber o número de fases presentes a partir dos valores de temperatura e
concentração.

49
x Composição Química
A composição dos elementos num diagrama de fases define-se em termos de
percentagens. Temos então duas percentagens que se têm em consideração, ponderal e
atómica.

x Proporção de Fases
Observe-se o gráfico 12. Tendo um diagrama
de fases, à semelhança do gráfico 12 é possível
determinar a proporção de cada fase na região
bifásica. Podemos calcular as proporções através das
seguintes expressões:

Esta é a chamada regra da alavanca e é deduzida Gráfico 12 – Diagrama de fases

sabendo que Mα.S=ML.R. Temos então também que:

A partir do gráfico 13 é possível ter uma melhor


compreensão desta regra.
Tie Line – linha isotérmica que une as várias fases
Gráfico 13 – Diagrama de fases (auxílio explicativo á
em equilíbrio entre si regra da alavanca)

50
x Sistemas Binários Eutécticos

Nos sistemas binários os componentes podem ser apenas parcialmente solúveis um no


outro no estado sólido. As regiões de solubilidade limitada no estado sólido designam-se por
fases alfa α e eta β , se do ada u a destas fases i a u dos o po e tes o stitui tes
do sistema. As reacções eutécticas podem ser chamadas de reacções invariantes, sendo que
em condições de equilíbrio, ocorrem para temperaturas e composições bem definidas.
Durante estas reacções temos três fases em equilíbrio, porque a fase líquida se encontra em
equilíbrio com as duas fases sólidas.

Gráfico 14 – Sistema binário eutéctico (sistema


chumbo-estanho)

ƒ Reacções do tipo eutéctico

α,β e desig a fases sólidas e L u a fase lí uida

51
ƒ Microestrutura em sistemas eutécticos

Nos sistemas binários eutécticos simples temos uma liga com uma composição
específica designada composição eutéctica, que solidifica a uma temperatura inferior à de
todas as outras ligas do mesmo sistema. A temperatura para a qual este fenómeno ocorre é
designada temperatura eutéctica. Num diagrama de fases, a composição eutéctica e a
temperatura eutéctica definem o ponto eutéctico (ver gráfico 15).

Gráfico 15 – Representação do ponto eutéctico num diagrama


de fases

Para uma mesma percentagem ponderal de um dos componentes (ou seja, seguindo
umas das linhas verticais do diagrama de fases (ver gráfico 15)), temos diferentes
microestruturas para diferentes temperaturas. Observe-se então o gráfico 15, e a linha
vertical que corresponde à percentagem de 30% de estanho (Sn). Agora observem-se os
pontos ao longo dessa linha (assinalados no gráfico 15). No ponto 1, que se encontra na região
líquida, temos uma microestrutura 100%líquida. O ponto 2 encontra-se na linha liquidus. No
ponto 3, que se encontra numa região bifásica, temos um microestrutura com uma
pe ce tage lí uida e u a pe ce tage sólida de α (Pró-eutéctico). A pe ce tage de α
presente na mistura aumenta com a descida da temperatura até ao ponto 4. No ponto 5
te os u a liga α + β. (ver ilustração 49)

Ilustração 49 – Representação das microestruturas


52
Podemos ver que a microestrutura no ponto 5 é então constituída
po la elas alte adas de α e β e aglo e ados p o-eut ti os de α. Para
a concentração eutéctica, a microestrutura assume uma forma apenas
co la elas alte adas de α e β (ver ilustração 50)
As ligas que se encontram antes do ponto eutéctico designam-se
ligas hipoeutécticas e as que se encontram depois do ponto eutéctico ligas Ilustração 50 – Microestrutura com
hipereutécticas. concentração eutéctica

x Sistemas Binários Peritécticos

Em diagramas de fase binários mais complexos, em particular quando as temperaturas


de fusão dos dois componentes são bastante diferentes, podem ocorrer reacções peritécticas.
Neste tipo de reacções, uma fase líquida reage com uma fase sólida, originando uma fase
sólida diferente daquela que reagiu.
ƒ Reacções do tipo peritéctico

α e β designam fases sólidas e Lx as fases líquidas

ƒ Microestrutura em sistemas peritécticos

As reacções peritécticas ocorrem para uma temperatura designada


temperatura peritéctica. Num diagrama de fases a temperatura peritéctica e a composição
peritéctica definem o ponto peritéctico. Observe-se o gráfico 16, com as ilustrações das
microestruturas correspondentes a cada ponto da linha traçada.

53
Gráfico 16 – Representação do ponto peritéctico e
microestruturas num diagrama de fases

Tal como para os sistemas eutécticos, as ligas do tipo peritéctico podem ser
hipoperitécticas ou hiperperitécticas. As ligas hipoperitécticas ocorrem com excesso de
líquido, ou seja, a tes do po to pe it ti o. ás ligas hiperperitécticas ocorrem com excesso
de componentes sólidos, ou seja, depois do po to pe it ti o. No po to pe it ti o fi a os
com uma microestrutura laminar.

x Exemplo do diagrama Ferro-Carbono


O diagrama Ferro-Carbono, pela sua importância em larga escala, será
abordado aqui como exemplo.
Observe-se o gráfico 17 e façam-se algumas considerações. É possível observar
quatro fases sólidas distintas no diagrama:

Fe ite α: solução sólida intersticial de carbono na rede cristalina do ferro CCC.


Auste ite : solução sólida intersticial de carbono no ferro- . Te est utu a
cristalina CFC.
Fe ite : solução sólida intersticial de carbono no ferro- . Te est utu a
cristalina CCC, mas tem um parâmetro de rede superior à ferrite-α.
Cementite (Fe3C): composto intermetálico frágil e duro com limites de
solubilidade desprezáveis.

54
É possível também dividir o diagrama em duas partes: uma correspondente
aos aços, até aproximadamente 2% de percentagem ponderal de carbono, e a restante
correspondente a ferros fundidos.

Temos também três equilíbrios trifásicos de destacar nos pontos A, B e C


assinalados no diagrama.

Gráfico 17 – Diagrama de fases ferro-carboneto de ferro

A. Peritéctico:

B. Eutéctico:

C. Eutectóide:

Através desta reacção (C) é possível obter o chamado Aço eutectóide (%wt C=0,76%).

55
Temos o aço hipoeutectóide quando %wt C<0,76% e o aço hipereutectóide quando
%wt C>0,76%.

Ilustração 51 – Microestrutura dos aços

x Diagramas de Fases Ternários


Os diagramas de fase ternários são aplicados em sistemas ternários, ou seja,
para sistemas com três componentes. Nestes diagramas, as composições são normalmente
indicadas através de um triângulo equilátero (ver gráfico 10). Normalmente é assumida uma
temperatura e estudam-se as variações da composição para essa temperatura. Nestes
diagramas é possível encontrar regiões monofásicas, bifásicas e trifásicas.

Região monofásica (Liga X): Nesta


região temos presente apenas a fase
α;

Região Bifásica (Liga Y): Nesta região


te os p ese tes as fases L e ;

Região Trifásica (Liga Z): Nesta região


te os p ese tes as fases α, e L;

Gráfico 17 – Diagrama de fases ternário

A proporção das fases, tal como nos diagramas binários, é calculada através da regra
da alavanca.

56
x Arrefecimento fora de equilíbrio
No processo de arrefecimento pode dar-se difusão. Quando este se dá em condições
de equilíbrio, a difusão acontece tanto para o estado líquido como para o estado sólido.
Quando o arrefecimento se dá fora das condições de equilíbrio, a difusão dá-se apenas para o
estado líquido, não ocorrendo para o estado sólido.

A velocidade a que se dá o arrefecimento também define a estrutura de


grãos que se forma no material. Quanto menor for a velocidade de arrefecimento mais
uniforme será a estrutura de grãos formada. Para uma velocidade de arrefecimento elevada
temos uma estrutura de grãos zonados e para uma velocidade de arrefecimento baixa temos
uma estrutura de grãos uniformes.

Ilustração 52 – Estruturas de grãos zonados e uniformes

Quando temos estruturas zonadas a solidificação ocorre para uma


temperatura ligeiramente mais baixa do que em condições de equilíbrio, e é possível
constatar no diagrama de fases um deslocamento da linha solidus.

Qua do fi a os o α p ó-eutéctico zonado, cria-se uma estrutura não lamelar,


sendo esta um eutéctico não lamelar. Este designa-se por eutéctico divorciado.

Nas reacções peritécticas pode ocorrer o fenómeno de encapsulamento,


devido a uma reacção incompleta (ver ilustração 53).

Ilustração 53 – Fenómeno de Encapsulamento

57
x Cinética e microestrutura das transformações de fases
Cinética – velocidade com que um dado processo ocorre, cujas variáveis do processo
são o tempo (t) e a temperatura (T).

As transformações de fase passam por um processo de difusão que requer tempo, é


então um processo cinético.

x Diagramas TTT (Tempo-Temperatura-Transformação)


Os diagramas TTT permitem estudar a cinética das transformações de fases, tendo em
conta a variável do tempo.

x Diagrama TTT-TI (Transformação Isotérmica)


A transformação isotérmica parte de um material monofásico (ex: Austenite) que é
rapidamente arrefecido até uma dada temperatura correspondente ao material. Mantido a
essa dada temperatura constante durante o tempo necessário para ocorrer a transformação,
seguido de arrefecimento.

ƒ Perlite

Considere-se a reacção eutéctica no sistema ferro-carboneto de ferro:

Quando arrefecida, a Austenite, tendo uma concentração de carbono intermédia,


passa a uma fase de ferrite, ficando com uma muito menor concentração de carbono e a uma
fase de cementite com uma maior concentração de carbono. A Perlite é uma microestrutura
resultante desta transformação.

O gráfico 17 demonstra como um diagrama de


transformação isotérmica pode ser gerado a partir da
percentagem de produto formado em função do
tempo (na escala apresentada logaritmo do tempo). No
g fi o s o ap ese tadas duas u vas sólidas . U a
delas representa o tempo necessário para o começo da
transformação a cada temperatura. A segunda, a curva
final, representa o final da transformação. Neste
diagrama a temperatura eutectóide é representada por
uma linha horizontal interrompida, e acima desta
temperatura só existe austenite, com é possível ver
pelo gráfico. Assim conclui-se que de modo a que a
transformação ocorra é necessário um
sobrearrefecimento da liga para uma temperatura
inferior à temperatura eutectóide.
Gráfico 18 – Diagrama TTT-TI do sistema Austenite-Perlite

58
Neste sistema a estrutura de Perlite obtida é mais fina quanto menor for a
temperatura, tendo assim Perlite grosseira para uma temperatura mais elevada (ex: 655oC) e
Perlite fina para uma temperatura mais baixa (ex:487oC).

Ilustração 54 – Microestruturas ao longo da transformação isotérmica (caso da perlite)

x Diagramas TTT-TI dos Aços


Observem-se os gráficos 19, 20 e 21, correspondentes aos diagramas TTT-TI dos aços. É
possível observar que um aumento do teor em Carbono desloca as curvas para a direita e
diminui as temperaturas relacionadas com a transformação isotérmica no sistema.
Relembre-se ue o aço hipoeute tóide te os p ese te fe ite α p i ia p o-eutectóide) e
no aço hipereutectóide temos presente cementite primária (pro-eutectóide).

Gráficos 19, 20 e 21 – Diagramas TTT-TI dos aços

ƒ Elementos de liga

A adição de elementos de liga altera a temperatura de transição, e alguns destes


elementos podem retardar a transformação (em particular Cr, Ni, Mo, Si, Mn).

A adição destes elementos faz variar a temperatura e a concentração eutectóides.

Gráfico 22 – Diagrama TTT-TI da liga com elementos adicionados

59
x Diagramas TTT-AC (Arrefecimento contínuo)
Muitos dos tratamentos térmicos utilizados na indústria são através de arrefecimento
contínuo. Os processos que recorrem ao arrefecimento contínuo são mais lentos que os que
recorrem à transformação isotérmica, sendo que existe um lapso temporal superior entre o
início e o fim do processo.

Gráfico 23 – Diagrama TTT-AC da transformação Austenite-Perlite

x Tratamentos térmicos dos aços


As propriedades dos aços variam com o modo como são aquecidos e arrefecidos.
Existem assim diversos tratamentos térmicos que podem ser aplicados de modo a obter
diferentes propriedades no produto final.

ƒ Recozimento

O processo de recozimento consiste no aquecimento até dada temperatura


(temperatura de recozimento) seguido de um arrefecimento lento da liga. Existem
vários tipos de recozimento que conferem diferentes propriedades à liga.

Œ Relaxação de tensões

O recozimento por relaxação de tensões permite reduzir tensões causadas por:


deformação plástica, contracção de arrefecimento e transformações de fase. O processo
consiste em aquecer ligeiramente a temperatura num valor inferior à temperatura eutéctica.

60
Œ Esferoidização

O e ozi e to po esfe oidizaç o pe ite a a ia os aços au e ta do a sua


maquinabilidade. A estrutura lamelar da perlite é substituída por cementite esferoidizada e
fer ite α. O processo consiste em aquecer ligeiramente a temperatura para um valor inferior à
temperatura eutéctica e mantê-la aproximadamente 15-25h.

Œ Recozimento após deformação plástica

O recozimento após deformação plástica elimina os efeitos do encruamento causado


por deformação plástica a frio, diminui a tensão máxima e aumenta a extensão até a fractura,
ou seja, a sua ductilidade. Este processo é aplicável a ligas macias (Al, Ti, Cu). Consiste no
aquecimento durante aproximadamente 1h e posterior arrefecimento.

ΠRecozimento completo

Este tipo de recozimento permite obter perlite grosseira num aço. Consiste num
a ue i e to de t o de do í io de ou +Fe3C, seguido de arrefecimento em forno.

Œ Normalização

Este tipo de recozimento permite obter perlite fina num aço. Consiste num
a ue i e to de t o do do í io seguido de a efe i e to ao a .

Gráfico 24 – Diagrama de fases com os recozimentos assinalados

ƒ Têmpera

Este processo permite o aumento da dureza e resistência da liga. O processo consiste


num aquecimento e posterior arrefecimento rápido. Neste processo o aquecimento deve ser

61
superior à temperatura eutéctica. A têmpera pode deixar o aço excessivamente rígido e frágil,
como também criar tensões internas na liga.

ƒ Revenido

O revenido é um processo que permite corrigir erros (imperfeições) subsequentes do


processo de têmpera. Este processo é assim, sempre aplicado após a aplicação da têmpera
numa liga. O revenido consiste num reaquecimento da liga para uma temperatura inferior à
temperatura a que a liga é aquecida na têmpera com posterior arrefecimento. Normalmente o
aquecimento é feito durante 1h a 3h. Quanto maior a temperatura aplicada (até certo limite)
maior a tendência do processo corrigir os erros causados pela têmpera. O revenido aumenta
assim a ductilidade e a elasticidade do aço.

x Transformações da austenite

As diferentes fases da austenite têm ductilidade crescente pela seguinte ordem:


Martensite; Martensite revenida; Bainite; Perlite fina; Perlite grosseira; Cementite
esferoidizada.

x Taxonomia dos Metais


Os metais (ou ligas metálicas) podem ser divididos da seguinte maneira:

62
ƒ Aços

Os aços podem ser divididos em aços de baixa liga e aços ligados. Os aços de baixa liga
podem ser divididos tendo em conta o teor de carbono (C) na liga. Temos então os aços de
baixa liga de baixo teor de C (<0,25 wt%C), médio teor de C (0,25-0,6 wt%C) e alto teor de C
(0,6-2 wt%C). Os aços ligados podem ser caracterizados como tendo a adição de um ou mais
elementos de liga (ex: aço inoxidável).

Œ Aço inoxidável

No aço inoxidável é feita a adição de Crómio (Cr) numa percentagem superior a 11%,
formando assim uma camada protectora de óxido de Crómio muito resistente à
corrosão que protege as qualidades da liga.

ƒ Ferros Fundidos

Os ferros fundidos são normalmente ligas ferrosas com uma percentagem ponderal de
carbono na liga superior a 2,1%, normalmente entre 3 e 4,5%. Estas ligas têm uma baixa
temperatura de fusão i que torna fácil a sua produção por fundição. Os ferros fundidos podem
ser cinzentos, nodulares, brancos ou maleáveis. Os ferros fundidos cinzentos contêm flocos de
grafite, e são frágeis sob tracção, resistentes á compressão, bons amortecedores de vibrações
e resistentes ao desgaste. Os ferros fundidos nodulares têm adição de Cério (Ce) ou Magnésio
(Mg) e grafite em nódulos (não em flocos). Os ferros fundidos nodulares têm maior
ductilidade. Os ferros fundidos brancos uma percentagem ponderal de Silício (Si) inferior a 1%
e têm mais cementite. São mais duros e frágeis. Os ferros fundidos maleáveis sofrem
tratamento térmico a 800-900oC e têm grafite em rosetas. São mais dúcteis.

As qualidades das ligas ferrosas são limitas devido á sua densidade elevada e á sua
baixa resistência à corrosão.

Ilustração 55 – Ferros fundidos ao microscópio


x Ligas não-ferrosas
As principais ligas não-ferrosas são as ligas de Cu, de Al, de Ti, de Mg, de Ni e os metais
refractários.

ƒ Ligas de Cobre (Cu)

Latão: Mistura de Zinco (Zn) em Cobre (Cu).

Bronze: Mistura de Estanho (Sn) em Cobre (Cu).

Liga Cu-Be: Mistura de Berílio (Be) em Cobre (Cu).

63
ƒ Ligas de Alumínio (Al)

ás ligas de alu í io ap ese ta u a aixa de sidade ρ= ,7g/ 3). Estas ligas


podem ser produzidas por adição de elementos de liga dos quais se destacam:
Cobre (Cu), Magnésio (Mg), Silício (Si), Manganésio (Mn) e Zinco (Zn). São
endurecidas por solução sólida ou precipitação.

ƒ Ligas de Titânio (Ti)

As ligas de titânio apresentam uma baixa de sidade ρ= , g/ 3). Estas ligas


são muito reactivas a alta temperatura. Estas ligas formam uma camada
superficial de óxido de titânio, que aumenta a resistência do material à
corrosão. Estes materiais têm uma elevada biocompatibilidade e são, por isso,
largamente utilizados em próteses. Têm uma elevada resistência e um baixo
módulo de Young.

ƒ Ligas de Níquel (Ni)

As ligas de níquel são muito resistentes á fluência e à corrosão a temperaturas


muito elevadas.

ƒ Ligas de Magnésio (Mg)


3
As ligas de Magnésio ap ese ta u a uito aixa de sidade ρ= ,7g/ )e
têm uma fácil auto ignição.

ƒ Metais refraccionários

Estes metais têm uma temperatura de fusão muito elevada. Exemplos: Nb, Mo,
W, Ta…

x Endurecimento por precipitação


O endurecimento por precipitação pode ser feito em qualquer sistema que tenha uma
solução sólida terminal com uma elevada solubilidade α , se do ue a solu ilidade desta
solução diminui rapidamente com a temperatura. As partículas de precipitado formadas
impedem o movimento das deslocações, aumentando assim a resistência do material
endurecido.

A tensão de cedência altera-se consoante a distância (D) entre as partículas de


precipitado sendo que:

Existe um envelhecimento óptimo para o qual o tensão máxima atinge uma valor
máximo e a ductilidade um valor mínimo. O aumento da temperatura (T) acelera o processo de
envelhecimento.

64
ƒ Envelhecimento

O envelhecimento consiste o i te valo de te po gasto e i u st ias as uais se


forma uma fina dispersão de precipitados que constituem obstáculo ao movimento das
deslocações, tornando o material mais duro e resistente. O processo pode ser feito de forma
natural (precipitação à temperatura ambiente) ou de forma artificial (precipitação por
aquecimento a temperatura mais elevada).

x Materiais celulares
Considera-se uma material celular um conjunto de células com arestas e faces sólidas
arranjadas de modo a preencher o espaço do material. Célula deriva da palavra latina cella
que significa pequeno compartimento, espaço fechado.

Este tipo de materiais são muito comuns na natureza, e estes são materiais celulares
atu ais ex: o tiça, espo ja… . Ta pode se o tidos ate iais elula es a tifi iais
(tridimensionais (3D) e bidimensionais (2D)). Os materiais celulares encontram-se presentes
em diversos sítios, por exemplo, nos alimentos: o pão, o chocolate, entre outros, são materiais
celulares.

Os materiais celulares podem então ser divididos entre naturais e artificiais, bi- e
tridimensionais e de células abertas e fechadas.

x Principais propriedades e vantagens


A principal vantagem destes materiais é a sua baixa densidade comparativamente a
outros sólidos, no entanto, perdem algumas das propriedades que caracterizam os materiais
t adi io ais .

Ilustração 56 – Diagrama comparativo dos materiais celulares

ƒ Principais aplicações

Os materiais celulares são utilizados principalmente no isolamento térmico, em


embalagens (alimentos), aplicações estruturais, flutuadores entre outros.

65
x Estrutura dos materiais celulares
A estrutura dos materiais celulares de estrutura bidimensional depende da forma das
células que os constituem. Dependendo da forma geométrica das células, as conectividades
(número de arestas num vértice) no material serão diferentes.

Ilustração 57 – Formas das células e respectivas estruturas bidimensionais

Para os materiais celulares tridimensionais as propriedades dos materiais dependem


das propriedades das células 3D isoladas.

Ilustração 58 – Formas das células tridimensionais

Das formas das células tridimensionais os modelos mais utilizados são o Poliedro de
Kelvi e o Polied o de Weai e&Phela .

Ilustração 59 – Modelos celulares 3D mais utilizados


Para as estruturas tridimensionais a conectividade aplica-se a arestas e a vértices.

66
As formas geométricas das células seguem as leis de Euler:

2D: F + V = A + 1

3D: F + V = C +A + 1

x Estrutura real dos materiais celulares


Na realidade as formas geométricas apresentadas acima são aproximações às formas
reais. As células têm diferentes tamanhos e diferentes números de vizinhos (conectividade).
Os materiais apresentam uma estrutura anisotrópica.

x Comportamento mecânico de estruturas 2D


Para este estudo use-se o modelo da estrutura favo-de-mel com
células hexagonais.

No plano pode dar-se flexão elástica, colapso plástico, fractura frágil e


propagação de fendas e encurvadura e varejamento.

Ilustração 60 – Estrutura favo-de-mel

Ilustração 61 – Flexão elástica

Ilustração 62 – Colapso plástico

Ilustração 63 – Fractura frágil

67
Ilustração 64 – Encurvadura/varejamento

x Comportamento sob-tracção de estruturas 2D


Submetido a tracção dá-se um alinhamento das paredes das células, no entanto, não
há varejamento.

Ilustração 65 – Alinhamento das paredes

Nota: os mecanismos de deformação em compressão e em tracção são diferentes.

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x Propriedades Eléctricas
O arranjo dos átomos nos sólidos metálicos é cristalino, apresentando assim uma
estrutura cristalina. A estrutura cristalina e as ligações metálicas na liga permitem o
movimento dos átomos, uma vez que os metais (ou seja, os elementos químicos metálicos) são
pouco electronegativos. Os electrões de valência podem movimentar-se livremente na rede do
metal transmitindo uns aos outros os impulsos eléctricos (energia cinética interna).

x Lei de Ohm
A lei de Ohm permite relacionar a intensidade de uma corrente eléctrica, com a
diferença de potencial aplicada e a resistência (do fio) do material. Assim é possível ver que a
intensidade da corrente é proporcional à diferença de potencial e inversamente proporcional à
resistência.

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Pa ti do da e uaç o da lei de Oh e da elaç o e t e a esistividade, ρ e a
o dutividade, σ, possível deduzi out as e uações i po ta tes pa a o estudo el t i o de
um material:

x Condutividade de diversos materiais


Os metais, em particular devido à sua baixa electronegatividade e à ligação metálica
que criam entre os seus átomos, são os materiais (mais) condutores. Podemos destacar alguns
materiais semicondutores: Silício e Germânio. Os polímeros e cerâmicos, devido à sua baixa
condutividade, são considerados materiais isoladores.

x Bandas de energia
Em átomos isolados, os electrões estão ligados aos seus núcleos e ocupam níveis de
energia bem definidos, correspondentes às orbitais atómicas. De uma forma geral, os electrões
que ocupam orbitais mais energéticas são considerados electrões de valência.

Numa estrutura sólida, devido á proximidade dos átomos, os electrões de valência


ocupam posições deslocalizadas, originando bandas de energia mais largas, do que quando os
átomos estão isolados (ver ilustração 66).

Ilustração 66 – Bandas de energia dos electrões

Hiato – diferença energética entre a banda de valência e a banda de condução eléctrica


(deslocalizada).

Nos materiais condutores, o hiato encontra-se de t o das a das de o duç o e


val ia, se do pa a os ele t ões f il hega a u estado de e e gia de t o da a da de
condução. Nos materiais isoladores, os estados de energia da banda vazia (de condução) não
estão acessíveis devido ao Hiato. Nos materiais semicondutores, os estados de energia de

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valência e de condução estão separados por um pequeno Hiato, que possibilita a
a essi ilidade a esses íveis e e g ti os.

Ilustração 67 – Bandas de energia nos isoladores e nos semicondutores

Para materiais com dois elementos, quanto maior for a diferença de


electronegatividades maior é o intervalo de energia do hiato.

x Transporte da carga
O t a spo te de a ga o ate ial feito at av s da o upaç o su essiva de u a os
pelos electrões livres, que vão deixando esses es os u a os e e g ti os as a das de
valência. Os buracos deixam uma carga positiva, ao passo que os electrões, com a sua carga
negativa os neutralizam.

Ilustração 68 – Representação do mecanismo electrão-buraco

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x Impurezas e resistividade nos metais
Nos metais, os defeitos existentes no material (limites de grão, deslocações, impurezas
e lacunas), causam uma dispersão nas deslocações dos electrões, obrigando-os a fazer
trajectos mais irregulares no seu deslocamento.

x Condução extrínseca e intrínseca


A condução intrínseca ocorre em condições tal que o número de electrões é igual ao
número de buracos no material. A condução extrínseca ocorre quando o número de electrões
é diferente do número de buracos. A condução extrínseca pode ser de dois tipos: tipo-n (n»p),
quando o número de electrões é maior do que o número de buracos; tipo-p (p»n), quando o
número de buracos é maior que o número de electrões.

ƒ Número de transportadores de carga

Na condutividade intrínseca o número de transportadores de carga pode ser


encontrado recorrendo à seguinte expressão:

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Anexos
1. Coeficiente de Poisson
2. Função erro de Gauss

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1. Coeficiente de Poisson

O coeficiente de Poisson (em inglês, Poisson’s Rate) é uma razão que mede a deformação
transversal, num material aproximadamente homogéneo. A razão é definida pela extensão em
dois eixos diferentes e ortogonais:

Em que é o coeficiente de Poisson. Como por convenção se toma o coeficiente como


positivo para materiais comuns, ou seja, em que uma deformação positiva transversal é
acompanhada de uma deformação negativa ortogonal, é incluído o sinal negativo na fórmula.
Usualmente o coeficiente Poisson é positivo, no entanto existe um tipo de materiais,
designados auxéticos (ou na gíria, anti-borrachas), cujo coeficiente de Poisson é negativo.

2. Função erro de Gauss

A função erro foi descoberta por Gauss e permite calcular o integral da distribuição
normal. A expressão desta função é dada por:

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