Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/327186991
CITATIONS READS
0 39
1 author:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Henrique Souza Lima on 23 August 2018.
________________________________________________________________
Imagem
da
capa:
Ernest
Ludwig
Kirchner,
Composer
Klemperer
(1916)
Xilogravura
em
papel
mataborrão.
Matriz:
52
x
41,7
cm;
Suporte:
58
x
42,1
cm.
National
Gallery
of
Art
-‐‑
Open
Access
(http://images.nga.gov)
O
som
como
texto:
desafio
teórico
e
metodológico
para
a
sonologia
minha
mochila.
Olho
para
o
meu
telefone
celular:
nem
os
vejo.
Quando
não
vemos,
quando
nem
nos
damos
conta
da
presença
de
uma
tecnologia
é
que
ela
realmente
faz
parte
de
nossas
vidas,
e
é
neste
ponto
que
se
pode
dizer
que
nossa
percepção
é
efetivamente
mediada
por
técnicas
e
tecnologias,
e
agora
não
mais
exclusivamente
num
nível
de
agenciamento
material
(do
tipo
minha
mão
segura
uma
ferramenta),
mas
também
no
nível
das
condições
de
realização
da
percepção,
das
condições
de
possibilidade
de
uma
experiência
sensível
e
intelectual.
Não
por
acaso
a
presença
das
tecnologias
de
transmissão
foi
abordada
em
relação
aos
conceitos
de
Esquematismo
Ȃ
nǯ
Dialética
do
Esclarecimento
de
Adorno
e
Horkheimer
([1947]1985)
Ȃ;
e
de
a-‐‑priori
(histórico)
na
obra
de
Foucault
(1966).
Ou
seja,
a
tecnologia
preencheu
até
mesmo
os
espaços
cognitivos
para
os
quais
Kant
havia
inventado
estas
noções
de
Esquematismo
e
de
condições
apriori
de
uma
experiência.
No
caso,
a
percepção
nem
mesmo
se
dá
conta
da
mediação
técnica,
uma
vez
que
ela
a
naturaliza
e
passa
a
208 realizar-‐‑ DzdzǤ
×
hábitos,
naturaliza
os
objetos
em
torno
de
si,
e
opera
a
partir
desta
experiência.
Aquilo
que
é
produto
de
artifício
passa
a
ser
Dz×
dz
do
sujeito,
e
assim
se
constitui
uma
percepção
que
capta
conscientemente
alguns
fenômenos,
mas
que
é
ela
mesma
inconsciente
das
mediações
que
formam
sua
base
e
através
das
quais
ela
se
desempenha.
Deste
modo,
uma
pesquisa
cuidadosa
acerca
dos
agenciamentos
materiais
através
dos
quais
a
música
se
realiza,
passa
necessariamente
pela
mediação
técnica
e
tecnológica
da
fonografia,
como
uma
imensa
e
variada
máquina
produtora
de
condições
de
possibilidade
para
a
percepção.
Com
vistas
a
esta
dupla-‐‑articulação
segundo
a
qual
a
mediação
se
configura,
isto
é
material
e
imaterial,
atual
e
virtual
(cf.
DELEUZE;
GUATTARI,
1980),
o(a)
pesquisador(a)
em
sonologia
ganhará
sempre
a
realidade
de
seu
objeto
na
exata
proporção
de
sua
capacidade
de
administrar
tanto
os
dados
materiais
de
sua
pesquisa
quanto
os
impactos
de
ordem
cognitiva
por
eles
exercidos.
Uma
vez
situados
no
contexto
particular
brasileiro
acima
mencionado,
esta
dupla
articulação
entre
os
dados
materiais
de
uma
pesquisa
em
sonologia
e
os
impactos
de
ordem
intelectual
por
eles
exercidos
tem
ainda,
a
possibilidade
de
ser
articulado
a
um
discurso
musicológico
com
o
qual
se
O som como texto: desafio teórico e metodológico para
a sonologia
poderá
tecer
uma
relação
de
natureza
crítica,
ou,
na
melhor
das
hipóteses
crítico-‐‑criativa
(CAMPOS,
1969,
p.
213-‐‑219),
uma
vez
que
a
pesquisa
situa-‐‑se
como
uma
sub-‐‑ Dz
dzǤ
Neste
contexto,
abre-‐‑se
uma
perspectiva
específica
de
relacionamento
com
a
tradição
disciplinar
da
pesquisa
em
música,
bem
como
com
a
tradição
de
pensamento
pautado
na
história.
Deste
ponto
de
vista,
considerada
como
uma
sub-‐‑área
da
pesquisa
em
música,
a
sonologia
não
está
apenas
constrangida
a
prestar
contas
a
um
repertório
textual
musicológico:
ela
pode
também
atuar
mediante
um
modo
de
agência
de
natureza
crítico-‐‑criativa.
Este
modo
de
agência,
por
sua
vez,
implica
um
elemento
básico,
a
saber,
um
conceito
de
história
entendido
como
efeito
textual
e
dimensão
sincrônica
aberta
a
reconfigurações.
Conclusão
O som como texto: desafio teórico e metodológico para
a sonologia
FOUCAULT,
Michel.
Les
mots
et
les
choses.
Une
archéologie
des
sciences
humaines.
Paris:
Gallimard,
1966.
_____________________Vigiar
e
punir:
história
da
violência
nas
prisões.
Trand.
Raquel
Ramalhete,
Petrópolis:
Vozes,
1977.
IAZZETTA,
Fernando.
A
imagem
que
se
ouve.
In:
Prado,
Gilbertto;
Tavares,
Monica;
Arantes,
Priscila
(org).
Diálogos
transdisciplinares,
arte
e
pesquisa.
São
Paulo:
ECA/USP,
2016.
KIM-‐‑COHEN,
Seth.
Against-‐‑Ambience.
New
York:
Bloomsbury,
2013.
___________________.
In
the
blink
of
an
ear:
towards
a
non-‐‑cochlear
sonic
art.
New
York:
Continuun,
2009.
LATOUR,
Bruno.
Nous
n'avons
jamais
été
modernes.
Essai
dǯ±.
Paris:
La
Découverte,
1991.
NIETZSCHE,
Friedrich.
Aurora:
reflexões
sobre
os
pensamentos
morais.
Trad.
Paulo
César
Souza.
São
Paulo:
Companhia
das
Letras,
2004.
OCHOA
GAUTIER,
Ana
María.
Ana
María.
Aurality:
listening
and
knowledge
in
nineteenth-‐‑century
Colombia.
Durham
and
London:
Duke
216 University
Press,
2014.
PLAZA,
Julio.
Tradução
Intersemiótica.
São
Paulo:
Perspectiva,
2003.
ROLNIK,
Suely.
A
hora
da
micropolítica.
In:
Pandemia.
São
Paulo:
n-‐‑1
publications,
2016.