Você está na página 1de 5

PEÇA TEATRAL

> (Autor : prof. PEDRO ALCÂNTARA LIMA E SILVA).

Título : O DIFÍCIL CASAMENTO DE JESUÍNO E AÇUCENA.


(Paródia, predominantemente em verso, referente a um dos segmentos da novela CORDEL
ENCANTADO ( o amor entre Jesuíno e Açucena)

Gênero teatral : comédia.

Atos / Quadros : 1 (ÚNICO)

Personagens : (pela ordem das falas no texto)

1. SPEAKER (locutor /apresentador. Voz dos bastidores)


2. REI AUGUSTO (pai de Açucena).
3. CANGACEIRO HERCULANO (pai de Jesuíno).
4. JESUÍNO (aspirante a cangaceiro, seguindo os mesmos passos do pai. Apaixonado por Açu-
cena).
5. AÇUCENA (herdeira do trono de Brogodó – a mesma cidade fictícia original da trama -).
Mesmo sabendo das dificuldades para levar esse amor adiante, retribui o amor ao pobretão
e rústico Jesuíno).

SINOPSE : A peça mostra um inocente amor de dois jovens cuja diferença social tenta separá-los.

A história se passa, numa época qualquer, na imaginária cidade de Brogodó, encravada no sertão
nordestino.

ATO ÚNICO.

QUADRO ÚNICO.

CENÁRIO LIVRE.

(Cortinas ainda fechadas. Bastidores iluminados.

Inicia-se neles a sonoplastia da música de Zé Ramalho que diz : “ô, ô, ô / vida de


gado / povo marcado ê.../ povo feliz” ...

Enquanto a sonoplastia se desenrola, as cortinas vão se abrindo lentamente e


chega ao centro do recinto, coreografando a sonoplastia , um grupo de mulheres,
caracterizadas de vaqueiras.

Essa performance é breve e, enquanto a sonoplastia vai diminuindo o volume, o


grupo de mulheres, de uma a uma, vai saindo de cena.
- Fl. 2 -

Após a saída da última integrante do grupo, a voz do speaker ecoa nos bastidores...)

SPEAKER (entusiasmado)
- Que se levante todo mundo
dessas bandas de Brogodó !
Façam silêncio o mais profundo !
Eu anuncio neste momento :
O REI AUGUSTO PRONTO PRÁ CENA !
Vem discordar do casamento
de sua filha Açucena...

(Dos bastidores vem o som de clarins anunciando a aproximação do rei


Augusto.
Este, todo compenetrado – e devidamente caracterizado (vestes reais :
coroa , bengala dourada etc) – em passos comedidos, mas firmes, vem
chegando ao recinto, em cujo centro para.

Com um breve abaixar de cabeça, cumprimenta seus “súditos”).

REI AUGUSTO
- Gente rica....(tom de voz pejorativo), pobre também,
que tenho aqui no coração,
vivo um momento de desgosto :
minha filha, QUE NÃO PARECE BEM,
talvez movida pela paixão,
quer se casar com Jesuíno,
que cheira a leite e é pobretão.
E isso seria a contragosto,
não merecendo minha aprovação...

SPEAKER
- Já chegando, “chegandinho”...
( exaltado) O CANGACEIRO HERCULANO !

(Nos bastidores, o rufar de tambores simultaneamente ao som pesado


de galope de cavalos. Ambos os barulhos cessam repentinamente, pela
chegada - devidamente caracterizado - do cangaceiro ao recinto.
Enquanto se aproxima do centro do recinto, bate as mãos nas vestes, co-
mo que a tentar tirar a poeira ou desamassá-las, e, desajeitado, aproxi-
ma-se cada vez mais do rei. Já ao lado deste, para e dá, em tom amea-
çador, uma volta em torno do monarca.
Agora, já diante do rei, com dedo em riste na direção dele, explode)

CANGACEIRO HERCULANO
- Que mal pergunte, (irônico) ma-jes-ta-de,
cum qui derêtcho o sinhô
se intrumete prá muda a sina
- Fl. 3 -
desse casá que é tã unido ?
Eu num intendo sua discordança :
Sua Açucena e o Jesuíno
é ASSIM dês criança.
Ela, um doce de minina;
Ele, um cabra trabaiadô...

REI AUGUSTO (de pronto)


Minha Açucena é muito nova
e inda é cedo prá se casar.
Quando eu julgar chegada a hora
prá de casa ela ir embora
e mundo afora ser feliz,
só deixo a outro se entregar,
SE FOR GENTE “DE RAIZ” !

CANGACEIRO HERCULANO
(Segredando na direção da plateia) – Acauso a gente agora passô a tê RAIZ, é?

CANGACEIRO
(agora para o rei. Irritado) – Eu num sabia (irônico), “DONO DO MUNDO”
Que sua fia er’uma pranta ...
nóis aprendeu dês minino :
QUEM TEM RAIZ É VEGETÁ.
E até onde nóis cunhece ela
Açucena é uma muié
quenessa vida o que mais qué
é se casar cum Jesuíno...

REI AUGUSTO
(mal-humorado. Para o cangaceiro) – Lave sua boca ao falar dela,
Minha Açucena, amada filha
- essa doce maravilha, -
dona de toda a beleza!
E NÃO SE ESQUEÇA QUE É PRINCESA
e só se casa com quem TEM NOME.
Esse seu filho Jesuíno,
nem mesmo é um completo homem,
pois não passa de um menino...

CANGACEIRO HERCULANO
(de novo, segredando para a plateia) – Dinhêro agora mudô de nome, foi? O nome de dinheiro agora
é NOME, é? (arremedando o rei, com deboche) “só se casa com quem tem nome”...Me deixa, viu...?

CANGACEIRO HERCULANO
(furioso. Para o rei) – Seu reizin de “mêa tigela”,
ói cumo fala tu cumigo!
Já ando PURAQUI cum tu !
Tu não atiça meus demôôôôni !
Perdeu a noçã (bate na direção da bainha da peixeira) do pirigo, foi ?
Fl. 4

Eu te aconseio : POPARÁ !
Se tu inseste nessa bestage
de fazê pôco de nóis que é pobre,
tu tá selano a tua sentença :
DAS PROFUNDA NUM VORTARÁ !

REI AUGUSTO
(subindo o tom de voz) – Pois diga então, PODE FALAR,
SEU CANGACEIRO E MALFEITOR :
quanto seu filho tem de dinheiro
prá minha filha sustentar ?
Nada a ela pode faltar.
Ela terá é um destino torto
Se se casar com um joão-ninguém
que não tem nem onde cair morto...

CANGACEIRO HERCULANO
(irritado) - SÔ CANGACÊRO, SIM, SINHÔ !
Defendo os pobre, gente sufrida
intregue à sorte, disassistida.
Pur elas mato e arrebento
prá mantê o seu sustento.
Purqui sô de morrê pur elas,
já inté me cumparáro
cum o Rob Ód, que matáro...

SPEAKER
- Gente, o Rob Ód que o cangaceiro falou,
é, na verdade, o grande herói, Robin Hood...

CANGACEIRO HERCULANO
(rosto na direção dos bastidores) – ‘Gradicido, seu tradutô !
Mais, vortano pro que nóis falava...
(agora fitando o rei) – Se me cuncede ‘turização,
lhe dêxo aqui minha concrusão :
Ocêis que é tido cumo “da grana”
Só veve a vida é na fama.
Mais, in verdade, véve atolado
inté o pescoço num “má” de lama !

(Congela-se a imagem do rei e do cangaceiro).

SPEAKER
- É...pelo visto, essa história do casamento dos pombinhos, Jesuíno e Açucena, ainda vai dar muito
pano prá manga...ou muito sangue... Será que os dois um dia vão se casar ?

(Açucena e Jesuíno, de mãos dadas, sorridentes, chegam ao recinto, em


cujo centro param. Rei e cangaceiro continuam “congelados”).
- Fl. 5 –

JESUÍNO E AÇUCENA
(ambos falando ao mesmo tempo,
ainda de mãos dadas) –
Nosso destino já tá traçado.
Um grande amor ninguém desfaz.
Se foi Deus que nos uniu
de separar quem é capaz ?

(Começa a sonoplastia da música “Esperando na janela , de Gilberto Gil.

O casal começa a dançar.

Neste instante, o rei e o cangaceiro são descongelados e correm ao encontro dos


filhos.

Todos se juntam num abraço.

Enquanto a sonoplastia continua, mas em volume cada vez mais decrescente, ea


luminosidade do ambiente vai diminuindo, os quatro permanecem abraçados.

Em seguida, desfaz-se o abraço e os 4 se postam em fila lateral, frontal ao público,


curvando os corpos para frente, em cumprimento à plateia).

FIM

Você também pode gostar