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SINOPSE : A peça mostra um inocente amor de dois jovens cuja diferença social tenta separá-los.
A história se passa, numa época qualquer, na imaginária cidade de Brogodó, encravada no sertão
nordestino.
ATO ÚNICO.
QUADRO ÚNICO.
CENÁRIO LIVRE.
Após a saída da última integrante do grupo, a voz do speaker ecoa nos bastidores...)
SPEAKER (entusiasmado)
- Que se levante todo mundo
dessas bandas de Brogodó !
Façam silêncio o mais profundo !
Eu anuncio neste momento :
O REI AUGUSTO PRONTO PRÁ CENA !
Vem discordar do casamento
de sua filha Açucena...
REI AUGUSTO
- Gente rica....(tom de voz pejorativo), pobre também,
que tenho aqui no coração,
vivo um momento de desgosto :
minha filha, QUE NÃO PARECE BEM,
talvez movida pela paixão,
quer se casar com Jesuíno,
que cheira a leite e é pobretão.
E isso seria a contragosto,
não merecendo minha aprovação...
SPEAKER
- Já chegando, “chegandinho”...
( exaltado) O CANGACEIRO HERCULANO !
CANGACEIRO HERCULANO
- Que mal pergunte, (irônico) ma-jes-ta-de,
cum qui derêtcho o sinhô
se intrumete prá muda a sina
- Fl. 3 -
desse casá que é tã unido ?
Eu num intendo sua discordança :
Sua Açucena e o Jesuíno
é ASSIM dês criança.
Ela, um doce de minina;
Ele, um cabra trabaiadô...
CANGACEIRO HERCULANO
(Segredando na direção da plateia) – Acauso a gente agora passô a tê RAIZ, é?
CANGACEIRO
(agora para o rei. Irritado) – Eu num sabia (irônico), “DONO DO MUNDO”
Que sua fia er’uma pranta ...
nóis aprendeu dês minino :
QUEM TEM RAIZ É VEGETÁ.
E até onde nóis cunhece ela
Açucena é uma muié
quenessa vida o que mais qué
é se casar cum Jesuíno...
REI AUGUSTO
(mal-humorado. Para o cangaceiro) – Lave sua boca ao falar dela,
Minha Açucena, amada filha
- essa doce maravilha, -
dona de toda a beleza!
E NÃO SE ESQUEÇA QUE É PRINCESA
e só se casa com quem TEM NOME.
Esse seu filho Jesuíno,
nem mesmo é um completo homem,
pois não passa de um menino...
CANGACEIRO HERCULANO
(de novo, segredando para a plateia) – Dinhêro agora mudô de nome, foi? O nome de dinheiro agora
é NOME, é? (arremedando o rei, com deboche) “só se casa com quem tem nome”...Me deixa, viu...?
CANGACEIRO HERCULANO
(furioso. Para o rei) – Seu reizin de “mêa tigela”,
ói cumo fala tu cumigo!
Já ando PURAQUI cum tu !
Tu não atiça meus demôôôôni !
Perdeu a noçã (bate na direção da bainha da peixeira) do pirigo, foi ?
Fl. 4
Eu te aconseio : POPARÁ !
Se tu inseste nessa bestage
de fazê pôco de nóis que é pobre,
tu tá selano a tua sentença :
DAS PROFUNDA NUM VORTARÁ !
REI AUGUSTO
(subindo o tom de voz) – Pois diga então, PODE FALAR,
SEU CANGACEIRO E MALFEITOR :
quanto seu filho tem de dinheiro
prá minha filha sustentar ?
Nada a ela pode faltar.
Ela terá é um destino torto
Se se casar com um joão-ninguém
que não tem nem onde cair morto...
CANGACEIRO HERCULANO
(irritado) - SÔ CANGACÊRO, SIM, SINHÔ !
Defendo os pobre, gente sufrida
intregue à sorte, disassistida.
Pur elas mato e arrebento
prá mantê o seu sustento.
Purqui sô de morrê pur elas,
já inté me cumparáro
cum o Rob Ód, que matáro...
SPEAKER
- Gente, o Rob Ód que o cangaceiro falou,
é, na verdade, o grande herói, Robin Hood...
CANGACEIRO HERCULANO
(rosto na direção dos bastidores) – ‘Gradicido, seu tradutô !
Mais, vortano pro que nóis falava...
(agora fitando o rei) – Se me cuncede ‘turização,
lhe dêxo aqui minha concrusão :
Ocêis que é tido cumo “da grana”
Só veve a vida é na fama.
Mais, in verdade, véve atolado
inté o pescoço num “má” de lama !
SPEAKER
- É...pelo visto, essa história do casamento dos pombinhos, Jesuíno e Açucena, ainda vai dar muito
pano prá manga...ou muito sangue... Será que os dois um dia vão se casar ?
JESUÍNO E AÇUCENA
(ambos falando ao mesmo tempo,
ainda de mãos dadas) –
Nosso destino já tá traçado.
Um grande amor ninguém desfaz.
Se foi Deus que nos uniu
de separar quem é capaz ?
FIM