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Tradição da poesia visual

(antologia de traduções)

Tekhnopaígnion (“jogo de arte”)


Epigramas visuais gregos

Símias de Rodes (s.III a.C.)

[1]
Oion (“O ovo”)
Tradução 1

Acolhe
da fêmea canora
este novo urdume que, animosa
Tirando-o de sob as asas maternas, o ruidoso
e mandou que, de metro de um só pé, crescesse em número
e seguiu de pronto, desde cima, o declive dos pés erradios
tão rápido, nisso, quanto as pernas velozes dos filhotes de gamo
e faz vencer, impetuosos, as colinas no rastro da sua nutriz querida,
até que, de dentro do seu covil, uma fera cruel, ao eco do balido, pule
mãe, e lhes saia célere no encalço pelos montes boscosos recobertos de neve.
Assim também o renomado deus instiga os pés rápidos da canção a ritmos complexos.
do chão de pedra pronta a pegar alguma das crias descuidosas da mosqueada
balindo por montes de rico pasto e grutas de ninfas de fino tornozelo
que imortal desejo impele, precípites, para a ansiada teta da mãe
para bater, atrás deles, a vária e concorde ária das Piérides
até o auge de dez pés, respeitando a boa ordem dos ritmos,
arauto dos deuses, Hermes, jogou-o à tribo dos mortais
e pura, ela compôs na dor estrídula do parto.
do rouxinol dórico
benévolo,

(José Paulo Paes)

Versão em sequência linear:

Acolhe
benévolo,
da fêmea canora
do rouxinol dórico
este novo urdume que, animosa
e pura, ela compôs na dor estrídula do parto.
Tirando-o de sob as asas maternas, o ruidoso
arauto dos deuses, Hermes, jogou-o à tribo dos mortais
e mandou que, de metro de um só pé, crescesse em número
até o auge de dez pés, respeitando a boa ordem dos ritmos,
e seguiu de pronto, desde cima, o declive dos pés erradios
para bater, atrás deles, a vária e concorde ária das Piérides
tão rápido, nisso, quanto as pernas velozes dos filhotes de gamo
que imortal desejo impele, precípites, para a ansiada teta da mãe
e faz vencer, impetuosos, as colinas no rastro da sua nutriz querida,
balindo por montes de rico pasto e grutas de ninfas de fino tornozelo
até que, de dentro do seu covil, uma fera cruel, ao eco do balido, pule
do chão de pedra pronta a pegar alguma das crias descuidosas da mosqueada
mãe, e lhes saia célere no encalço pelos montes boscosos recobertos de neve.
Assim também o renomado deus instiga os pés rápidos da canção a ritmos complexos.

(José Paulo Paes)


Tradução 2

(Juliana Di Fiori)

Tradução 3 (em linha)

(Juliana Di Fiori)
[2]
Pelekys (“O machado”)

Tradução 1

(Juliana Di Fiori)

Tradução 2

(Juliana Di Fiori)
[3]
Pteryges Erotos (“Asas de Éros”)
Tradução 1

(Juliana Di Fiori)

Tradução 2

Olha: sou rei da Terra de amplo seio, expulsei Urano do trono.


Não te assustes se sou tão pequenino e já tenho buço:
Nasci quando reinava agra Necessidade
e tudo se dobrava a seus desígnios:
bichos terrestres e os que andam
no éter.
Do Caos
sou cria, não da deusa Cípria
e de Ares; sou chamado o asa-rápida.
Não reino à força, mas por gentil persuasão.
Me obedece Céu brônzeo, toda a Terra, mesmo fundo Mar.
Tomei o velho cetro e para os deuses profiro sentenças, juiz.

(Alessandro Rolim de Moura)


Teócrito de Siracusa (c.310-250 a.C.)

Syrinx (“A flauta” ou “Siringe”)


(AP 15.21)

Tradução 1
A concubina de ninguém, a mãe do Luta-de-Longe deu à luz
o pastor ágil da que foi ama-de-leite do Trocado-por-Pedra,
não o Querastas outrora alimentado pela filha do touro
mas aquele a quem a linfa (l por n) fez arder de sede;
o dúplice animal, de nome todo, que tanto desejava
a filha da voz, irmã do vento, a jovem dos finais;
o que à Musa floricoroada a fístula infligiu
estrídula, monumento do seu amor em chamas;
o que soube dar fim à homônima arrogância
do mata-avô, dela salvando a jovem tíria;
aquele a quem Páris Simiquidas ofertou
o doce dom dos de cajado mas não cegos;
ó pisa-pedras e pedestres, ó tormento
da mulher saeta, caixipede, filho
de ladrão, filho de pai nenhum,
que com doçura e de alma alegre
possas tocar para a de lindo
rosto, a jovem muda,
a i n v i s í v e l.

(José Paulo Paes)


Tradução 2

(Juliana Di Fiori)

Tradução 3

(Juliana Di Fiori)
Dosíadas de Creta (s.III a.C.)

Bomos (“O altar”)


Tradução 1

(Juliana Di Fiori)

Tradução 2 (em linha)

(Juliana Di Fiori)
Júlio Vestino (s.IV d.C.)

Bomos (“Altar”)
Tradução 1

(Juliana Di Fiori)

Tradução 2 (em linha)

(Juliana Di Fiori)
Carmina figurata
dos poetas metafísicos ingleses do séc. XVII

George Herbert (1593-1633)

[1]
The altar (“o altar”)

(trad. Augusto de Campos)


[2]
Easter-wings (“Asas de páscoa”)

(trad. Augusto de Campos)


Comentário de Augusto de Campos em Verso, reverso, controverso (1978), p. 129.
Poetas visuais da modernidade

Lewis Carroll (1832-1898)

Tail-poem
“Poema-cauda”
Stéphane Mallarmé (1842-1898)

Un coup de dés (1897)


“Um lance de dados”
Christian Morgenstern (1872-1914)

Fisches Nachtgesang
“Canto noturno do peixe”

Comentário de Haroldo de Campos em O arco-íris branco (1997), p.99


Guillaume Apollinaire (1880-1918)
Caligrammes (1914-1918)

reconheça
essa adorável pessoa é você
sem o grande chapéu de palha

olho
nariz
a boca

aqui o oval do seu rosto


seu lindo pescoço

um pouco
mais abaixo
é seu coração
que bate

aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem

Il Pleut (“chove”)
(trad. Álvaro Faleiros)
Vladímir Maiakóvski (1893-1930)
e
El Lissítzki (1890-1941)

Poemas do livro Dliá Gólossa (“Para voz”) [1923]

[1]
Liubliú
“Amo”

“Todas as homenagens que o poeta rendeu a Lília [...] se resumem numa única palavra que
ele transformou no que hoje chamaríamos de poema concreto. Maiakóvski fez gravar num
anel, que deu a ela de presente, as letras ‘L’, ‘IU’ e ‘B’ – as iniciais do nome completo de
sua amada: Lília IÚrievna Brík. Em disposição circular elas formas a palavra LIUBLIÚ
(amo). [...] Em 1923, saiu em Berlim uma extraordinária coletânea de poemas de
Maiakóvski, Dliá Gólossa (Para Voz). Desenhado por El Lissitski, o livro contém
admiráveis soluções visuais, integrando textos e formas gráficas. Nele as três letras
reaparecem, numa única página, em disposição circular, respondendo no plano gráfico à
estrutura do poema-anel de Maiakóvski”

(Comentário de Augusto de Campos, em Maiakóvski: poemas. São Paulo: Perspectiva, 2008, p.159-160)
[2]
Khorócheie Otnochénie k Lochadiám
“Boa disposição para com os cavalos”

“No poema Khorócheie Otnochénie k Lochadiám (‘Boa disposição para com os cavalos’), em
que o poeta descreve seus sentimentos para com um cavalo que tomba em plena rua, é logo
projetado em corpo destacado, na metade superior da página (dupla), o jogo paronomástico
GRIB GRAB GROB GRUB, isolando-se as vogais que se permutam dentro do esquema fixo
das consoantes. Estas palavras, além de reproduzirem onomatopaicamente o rascar das patas
do cavalo que cai, convocam um âmbito semântico, fragmentário: GRIB, cogumelo, tortulho;
GRAB, imperativo, 2ª pessoa singular, de ‘grábit’, pilhar; GROB, caixão ataúde; GRUB,
grosseiro”

(Comentário de Haroldo de Campos, em Maiakóvski: poemas. São Paulo: Perspectiva, 2008, p.146)
[3]
Moi Mai
“Meu Primeiro de Maio”

“Noutro poema, ‘Meu Primeiro de Maio’, é explorada a similitude gráfica entre as palavras
MOI (meu) e MAI (maio) numa composição circular à qual o nº 1 serve de diâmetro virtual”

(Comentário de Haroldo de Campos, em Maiakóvski: poemas. São Paulo: Perspectiva, 2008, p.146)
[4]
Trietii Intiernazional
“Terceira Internacional”

“Em ‘Trietii Intiernazional’ [...], a letra T de ambas as palavras, alongada, tomando quase dois
terços da página, é que serve de suporte ao título e de umbral ao texto”

(Comentário de Haroldo de Campos, em Maiakóvski: poemas. São Paulo: Perspectiva, 2008, p.146)
[5]
Prikaz po Armii Iskusstv
“Ordem ao exército das artes”
[6]
Nieobitcháinieicheie Plikliutchênie Bívcheie so mnói, Vladímirom Maiakóvskim
“A Mui Extraordinária Aventura Acontecida Comigo, Vladímir Maiakóvski”

“Já em composições mais livres, como ‘Prikaz po Armii Iskusstv’ (‘Ordem ao exército das
artes’) e ‘Nieobitcháinieicheie Plikliutchênie Bívcheie so mnói, Vladímirom Maiakóvskim...’
(‘A Mui Extraordinária Aventura Acontecida Comigo, Vladímir Maiakóvski’), se pode
distinguir toda a finura do agenciamento estrutural e do despojamento geométrico da paginação
construtivista, capaz inclusive de um surpreendente humor gráfico. [...] Outro achado
tipográfico de Lissítzki é o índice-marginália, à direita das páginas, introduzindo cada poema e
anunciando os que lhe sucedem, através de uma ou duas palavras-tema e de um emblema visual
(um traço, traço e ponto, um círculo, um sinal de mais, reticências, etc.). No caso de ‘A Mui
Extraordinária Aventura’, por exemplo, a palavra-chave é ‘solntze’ (‘sol’), pois se trata de um
diálogo do poeta com o Sol, e o símbolo adotado um pequeno quadrado vermelho”

(Comentário de Haroldo de Campos, em Maiakóvski: poemas. São Paulo: Perspectiva, 2008, p.146)
Vassíli Kamiênski (1884-1961)

Poema de concreto armado (1914)


Aleksiéi Krutchônikh (1886-1968)

Fragmento do poema “História da letra Φ” (1918)


Iliazd [Iliá Zdaniévitch] (1894-1975)

[1]
[2]
Página na peça teatral Ostrov Páskhi
(“Ilha de Páscoa”) [1919]
Dylan Thomas (1914-1953)
Vision and prayer (“Visão e prece”)
Comentário de Augusto de Campos em Poesia da recusa (2006), pp. 322-323.

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