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O Sermão de Santo António aos Peixes

Padre António Vieira

Referente ao capítulo I
1.Indique o referente de “vós” presente no conceito predicável.
No conceito predicável, o pronome pessoal “vós” é o referente de “os
Pregadores”, presente na linha 1 do primeiro parágrafo do sermão.

2.Identifique o conceito predicável e explicite o caráter metafórico do mesmo.


O conceito predicável é “Vós sois o sal da terra”.
A metáfora do sal diz respeito ao facto de sol sal, na época, ser utilizado para
conservar os alimentos, impedindo o apodrecimento dos mesmos. Além disso, o sal é
também um elemento que tem a capacidade de transformar o sabor.
Assim, através do conceito predicável, demonstra-se, com recurso à metáfora,
que os pregadores têm o dever de, pela palavra, prevenir a corrupção, tal como o sal
fazia com a conservação dos alimentos e conseguir a conversão, tal como o sal fazia pela
transformação do sabor dos alimentos.

3.Tendo em consideração o primeiro parágrafo do exórdio, indique o paralelismo aí


estabelecido, referindo a sua intencionalidade.
O paralelismo presente no primeiro parágrafo do sermão visa as ações do “sal”
e da “terra”. A intenção é contrapô-las e apurar a verdadeira causa para a corrupção na
terra.
Assim, com recurso ao “sal” e à análise da sua funcionalidade e eficácia, o
pregador pretende chegar aos motivos que levam à corrupção da terra.

4.Exponha, de forma sintética, o poder argumentativo conferido ao sermão, através


de citações, nomeadamente as que estão presentes no segundo parágrafo.
O pregador recorre a citações para conferir autoridade àquilo que profere, daí a
sua argumentação incidir nos textos sagrados, neste caso nas próprias palavras de
Cristo. O próprio conceito predicável tem por base as palavras sagradas “(…)diz Cristo
Senhor nosso (…)”.
Quer no segundo parágrafo, quer recorrentemente ao longo de todo o sermão o
pregador faz alusão e transcrição de passagens bíblicas, tal como se pode verificar no
que foi retirado do Evangelho de São Mateus.
Assim, o pregador consegue concretizar o objetivo de conceder um caráter mais
persuasivo ao discurso.

5.Relacione o comportamento de Padre António Vieira com o de Santo António,


incidindo nos quarto e quinto parágrafos.
Padre António Vieira vai seguir o exemplo de Santo António, pois os homens do
Maranhão não o ouvem e vai, então, dirigir-se aos peixes, tal como fez Santo António,
em Itália ((…)“quero hoje à imitação de Santo António voltar-me da terra ao mar, e já
que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes”(…)).
No dia 13 de Junho, dia em que se celebra este santo, Padre António Vieira opta
por pregar como ele em vez de pregar sobre ele ((…)”Mas há muitos dias que tenho
metido no pensamento que nas festas dos santos é melhor pregar como eles, que pregar
deles”(…)) e dá, assim, início a toda uma série de apresentações de caraterísticas de
Santo António, ao longo do sermão, e que são tidas como o exemplo a seguir.

6.Indique a classe e a subclasse a que pertence a primeira palavra do último parágrafo


e refira o se contributo para a progressão do texto.
Estamos perante um pronome demonstrativo. Com “isto”, resume-se toda a
argumentação que ficou para trás, ou seja, parte-se do pressuposto de que é melhor
pregar aos homens. Ficam, assim, reunidas as condições lógicas para se progredir no
discurso e iniciar a alegoria.

7. Identifique a invocação que é feita no final e explicite a sua intencionalidade.


No final do exórdio, encontra-se a invocação a Maria, mãe de Jesus, tal como se
verifica em “Maria quer dizer domina maris: “senhora do mar” e posto que o assunto
seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça”.
A intenção do pregador é pedir auxílio para que a sua inspiração seja adequada
ao conteúdo e público, tão pouco usuais. Sendo que a sua intenção é dirigir-se aos
peixes, faz, então, invocação à senhora do mar.
8.Este capítulo inicia um sermão. Comprove esta evidência, apresentando duas
marcas deste género literário.
Consideram-se marcas deste género literário, por exemplo, os seguintes
exemplos: o facto de se partir de uma verdade da doutrina de Cristo (“Vós sois o sal da
terra”), que se pretende provar e desenvolver argumentativamente ao longo do texto;
além disso, o facto de estarmos perante um discurso com intenção didática, visando a
mudança comportamental dos homens.
Através de vários momentos que indiciam localização e descrição espacial, temos
também a clara perceção que o pregador se dirige, de um púlpito, a um auditório.

9.Explicite a crítica social específica que o Sermão encerra.


O Sermão visa, de um modo geral, uma crítica aos homens, pelos
comportamentos que demonstram. Aqui, de uma forma muito concreta, o sermão
denuncia a exploração e o tratamento desumano a que os indígenas brasileiros eram
sujeitos por parte dos colonos, no Maranhão.

10.Relacione o conceito de alegoria com o caráter crítico do Sermão.


A alegoria consiste em partir de uma realidade concreta, neste caso o pregador
toma os peixes como elemento concreto, para chegar a conceitos abstratos, aqui o que
se pretende visar são os vícios humanos.
Através da alegoria estabelece-se a crítica em que se abordam os vícios dos
peixes, quando se pretende criticar, de facto, os defeitos humanos, sobretudo aqueles
que estavam presentes no auditório a quem Padre António Vieira estava a pregar.

Referente ao capítulo II
1.Integre este capítulo na estrutura interna do Sermão e explicite a sua importância
no desenvolvimento lógico do discurso.
Este capítulo situa-se no início da Exposição, apresentando o plano discursivo a
desenvolver e as ideias a defender: louvar as virtudes dos peixes, primeiro em geral
através do capítulo II e depois em particular no capítulo III; posteriormente, repreender
os vícios dos peixes, primeiro em geral através do capítulo IV e depois em particular no
capítulo V.
Pretende-se partilhar com o auditório a estrutura do discurso, para que este
possa seguir melhor as suas palavras e aceitá-las.
2.Identifique o destinatário, dado pelo autor, e relacione-o com o caráter alegórico do
Sermão.
Os destinatários são “os irmãos peixes”, nos quais se inicia o discurso alegórico.
Note-se que, considerando-os como “irmãos”, o pregador estabelece uma relação de
proximidade e semelhança com os homens, que são, de facto, aqueles que estão
perante si e a quem quer indiretamente atingir.
Consegue-se, assim, a alegoria e os elementos concretos são os peixes, mas, no
plano abstrato, quer-se alcançar a falta das virtudes mencionadas aos seres humanos.

3.Leia as frases que se seguem. Identifique as falsas e corrija-as:


a. O sal tem a função de preservar o mal e conservar o bem. - É falsa
O sal tem a função de proteger do mal e conservar o bem.
b. Não há semelhança entre o sal e o pregador. – É falsa
O pregador tem a função do sal na sociedade e deve manter a bondade nas
pessoas e afastá-las de maus caminhos.
c. O Sermão será dividido em três partes: os louvores, as repreensões e as obrigações
do sal. – É falsa
O Sermão será dividido em duas partes: louvores e repreensões.
d. O primeiro louvor é que os peixes foram os primeiros animais que Deus criou, os que
existem em maior quantidade e os que têm maior parte. – É verdadeira
e. Embora oiçam a palavra de Deus, os peixes são desobedientes. – É falsa
Os peixes são obedientes e ouvem de modo ordeiro a palavra de Deus.
f. Santo António não era venerado pelos homens, pelas advertências que fazia. – É
verdadeira

4.Explicite o sentido da frase “Aos homens deu Deus uso da razão, e não aos peixes:
mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem a razão”
(linhas 122, 123 e 124).
Padre António Vieira compara o comportamento dos homens com o dos peixes,
quando Santo António, sendo escorraçado pelos primeiros, se voltou para os segundos
para os doutrinar. Acudiram, obedientemente, os peixes e ouviam-no, atentamente,
como se tivessem razão, ou seja, como se tivessem inteligência para o fazerem. Os
homens, a quem tinha sido dada a razão, comportavam-se, no entanto, como seres
irracionais, maltratando o santo.
5.Releia o quinto parágrafo e refira o motivo pelo qual os peixes se devem manter
afastados dos homens, relacionando-o com o objetivo global do Sermão.
Por prudência, os peixes devem manter-se afastados dos homens, de forma a
conseguirem evitar o cativeiro. Até poderiam usufruir de algumas benesses por parte
dos homens, como, por exemplo, comida, mas seriam sempre seus escravos.
Este motivo está relacionado com o objetivo global do sermão, que se refere à
defesa dos escravos do Maranhão e à condenação da exploração de que são vítimas.

6.Texto de opinião. Apesar de aos homens ter sido dado o “uso da razão”, são várias as
situações em que eles parecem não fazer uso dela. Num texto de opinião, reflita sobre
este tema, apresentando argumentos e exemplos que demonstrem um bom e um mau
uso da razão por parte dos seres humanos. No final, faça a revisão do seu texto. Verifique
a construção das frases, a clareza do discurso, as repetições desnecessárias e a boa
utilização de conectores (seguir os parâmetros da página 338).
O homem, como único animal racional, deveria comportar-se dentro dos limites
da lógica e do bom senso, mas nem sempre o faz.
O bom uso da razão está relacionado com o facto de aproveitar a inteligência em
benefício próprio e da sociedade, por exemplo através de avanços nas áreas no
conhecimento, como a ciência e a medicina, e o consequente desenvolvimento da
tecnologia e equipamentos ao serviço do bem-estar da humanidade. Este bom uso da
razão permitiria maior longevidade e maior qualidade de vida.
Por outro lado, o mau uso da razão, pode estar patente em duas vertentes: para
si próprio ou para a sociedade. Na primeira, pela adoção de um estilo de vida nocivo
com risco para a própria vida, através de vícios como o alcoolismo ou a
toxicodependência. Na segunda, pela escolha de comportamentos nocivos para a
sociedade em geral, com uma visão envolta em guerra, discórdia e ambição desmedida.
Assim, é possível afirmar que esta dicotomia entre o bom e o mau uso da razão,
deveria ser explorada por cada um de nós individualmente, numa perspetiva de
introspeção, e pela comunidade em geral, por exemplo nas escolas, levando os jovens a
pensar nas escolhas que fazem e nas respetivas consequências.

Referente ao capítulo III


1.Tendo o Peixe de Tobias como exemplo, refira quais as caraterísticas deste peixe, os
louvores que lhe são feitos, os exemplos humanos utilizados e de que forma estão
presentes a alegoria e a crítica social.
O Peixe de Tobias é o primeiro peixe utilizado pelo pregador no sentido de iniciar
os louvores. Este peixe é caraterizado como sendo grande e tem as entranhas sagradas,
o seu fel cura a cegueira e o coração afasta os demónios. É comparado a Santo António
e a Padre António Vieira e, ao recorrer a ele, o pregador faz uma alegoria da palavra
sagrada, seja através das do Santo quer através das do pregador, iluminando e afastando
os demónios da vida dos homens. A crítica social que aqui se pretende fazer é o facto de
os homens não se deixarem doutrinar, nem abandonam os seus vícios.
2.Tendo a Rémora como exemplo, refira quais as caraterísticas deste peixe, os
louvores que lhe são feitos, os exemplos humanos utilizados e de que forma estão
presentes a alegoria e a crítica social.
A Rémora é pequena mas com força e poder. O seu poder é tal que consegue
parar o leme das naus. Este peixe é comparado à língua de Santo António, mostrando
que ambos têm a capacidade de mudar o rumo do destino dos homens. É feita uma
alegoria entre a capacidade da rémora parar os navios e o refreamento nos ímpetos
humanos, mostrando, de modo crítico, que os homens se deixam levar pelas paixões.,
ou seja pelas paixões e pelos desejos.
3.Tendo o Torpedo como exemplo, refira quais as caraterísticas deste peixe, os
louvores que lhe são feitos, os exemplos humanos utilizados e de que forma estão
presentes a alegoria e a crítica social.
O peixe Torpedo é pequeno e produz descargas elétricas que constituem a sua
defesa contra quem os quer pescar. Através deste peixe dá-se o exemplo, mais uma vez,
de Santo António através da sua língua. Ou seja, o santo conseguia converter com a sua
mensagem, os homens. Este peixe consegue, pela descarga elétrica que produz,
influenciar quem os quer pescar, de modo consecutivo, primeiro o anzol, depois o fio,
seguidamente a cana e, finalmente, o braço do pescador.
É aqui feita uma alegoria à conversão, levando ao arrependimento e à mudança
de vida.

4.Tendo o Quatro-Olhos como exemplo, refira quais as caraterísticas deste peixe, os


louvores que lhe são feitos, os exemplos humanos utilizados e de que forma estão
presentes a alegoria e a crítica social.
O peixe quatro-olhos tem, tal como o próprio nome indica, quatro olhos, dois
que olham diretamente para cima e dois que olham diretamente para baixo. Os louvores
que lhe são feitos são o facto de se conseguir defender quer dos perigos da água, quer
dos que vêm do ar. Os exemplos humanos aqui utilizados são David e o próprio Vieira.
A alegoria aqui utilizada é à distinção entre o Bem e o Mal, mais concretamente, de um
ponto de vista religioso, não perder de vista a consciência da existência do Céu e do
Inferno.
5.Explique, por palavras suas, os objetivos da eloquência.
Os objetivos da eloquência são ensinar (“docere”), deleitar (“delectare”) de
modo a persuadir os ouvintes a aceitar e a praticar a doutrina pregada (movere).

6.De que forma se poderá justificar a seguinte afirmação: “O púlpito era um palco e o
pregador um ator”.
O pregador concentra no púlpito, na sua pessoa e nas suas palavras, toda a
atenção do auditório, tal como acontece com os atores em palco.

Referente ao capítulo IV
1.Integre este capítulo na estrutura interna do Sermão, referindo a sua temática
global.
Este capítulo insere-se na Confirmação, sendo a sua temática as repreensões em
geral aos peixes.

2.Faça o levantamento das repreensões aos peixes, ilustrando-as com expressões


textuais.
A primeira repreensão que é feita aos peixes é a de que se comem uns aos outros,
ou seja, utiliza-se a ictiofagia (“é que vos comeis uns aos outros”) para demonstrar, na
verdade, a antropofagia, mais concretamente a antropofagia social, presente entre os
homens. A segunda é que os grandes comem os pequenos (“Não só vos comeis uns aos
outros, senão que os grandes comem os pequenos”). Seguidamente, acusa-os de
ignorância e cegueira (“Outra coisa muito geral, que não tanto me desedifica, quanto
me lastima em muitos de vós, é aquela tão notável ignorância, e cegueira, que em todas
as viagens experimentam os que navegam para estas partes”).

3.Mencione, de modo geral, quais as consequências dos vícios dos peixes.


Em termos gerais, os vícios dos peixes redundam na sua morte, ou por se
comerem uns aos outros, ou por irem direitinhos aos perigos que os hão de matar.

4.Relacione as repreensões aos peixes com o caráter alegórico do Sermão.


As repreensões aos peixes dirigem-se aos homens, facto visível nos exemplos
humanos mencionados. Assim, também os homens se “comem”, no sentido de se
explorarem uns aos outros, sendo um facto que os mais poderosos (“os maiores”)
abusam dos mais frágeis (“os mais pequenos”). Podemos estabelecer uma relação direta
com o propósito alegórico do Sermão, que consiste na admoestação aos colonos pela
exploração dos índios. Quanto à repreensão da cegueira e ignorância, esta revela-se nos
homens através da vaidade – quer na guerra, ao serviço de ordens militares, na
metrópole, quer no vestuário, no Maranhão.

5.Tendo em consideração os dois últimos parágrafos deste capítulo, retire uma


conclusão relativa à consecução dos objetivos da eloquência nesta parte do Sermão.
Nos dois últimos parágrafos são atingidos os objetivos da eloquência, ensinando
a importância de não se deixarem levar pela vaidade que os arruína (“docere”), tal como
se verifica em “e os Bonitos, ou os que o querem parecer, todos esfaimados aos trapos,
e ali ficam engasgados, e presos, com dívidas de um ano para o outro”.
O “delectare” é alcançado através da captação da atenção do público, com
perguntas retóricas e apóstrofes, tal como se verifica em “Não é isto, meus peixes,
grande loucura dos homens, com que vos escusais?”, com a utilização do imperativo e
de verbos que apelam à visão, tal como se verifica em “Vede o vosso Santo António, que
pouco o pôde enganar o mundo com essas vaidades”, com recursos expressivos
abundantes como a gradação, tal como em “engasgados, e presos”, a metáfora, tal
como em “também cá se deixam pescar os homens”.
No que diz respeito ao “movere”, tem como propósito mudar comportamentos,
neste caso, os homens devem parar com a exploração dos mais fracos e seguir a
abdicação que caraterizava Santo António.

6.Identifique e esclareça o valor dos recursos expressivos presentes nas seguintes


expressões:
a. “(…)ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a
terra(…)”
metáfora – sublinha a exploração dos homens; ainda não se deterioraram
fisicamente e já foram extorquidos por vários elementos da comunidade.
b. “Dir-me-eis (como também dizem os homens) que não tendes outro modo de
vos sustentar”
comparação – enfatiza a alegoria do sermão com a comparação explícita com o
comportamento humano.
c. “A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto, e que mais facilmente
engana os homens”
alegoria – relaciona-se o vício que se pretende condenar, ou seja, a vaidade, com
um elemento concreto, o pescador, que leva à perdição.
7.Explicite de que forma os recursos expressivos encontrados nos exemplos do
exercício anterior contribuem para a construção de um discurso figurativo.
Estes recursos contribuem para a construção de um discurso figurativo, uma vez
que apelam à formulação de imagens ou figuras concretas, por parte do auditório. Essa
materialização serve de base à exploração abstrata dos conceitos ou teses sobre os quais
se argumenta e se quer convencer.

8. Identifique três caraterísticas linguísticas e estilísticas de Vieira presentes neste


capítulo, ilustrando com exemplos.
Padre António Vieira tinha caraterísticas típicas deste género literário.
Encontram-se construções sintáticas paralelas (“Vedes vós todo aquele bulir, vedes
todo aquele andar”, dando ritmo ao texto; a utilização abundante de recursos
expressivos, como por exemplo a metáfora (“muito mais se comem os brancos”),
criando um discurso figurativo, que ocupa a mente do ouvinte; o recurso à apóstrofe e
ao imperativo, que conferem dinamismo ao discurso (“Olhai, peixes, lá do mar para a
terra” e, finalmente, o apelo à visão (“olhai”/”Vedes”).

Referente ao capítulo V
1. Localize este capítulo na estrutura interna da obra.
Este capítulo localiza-se no final da confirmação.

2. Explicite o tema abordado ao longo deste capítulo e de que modo é feita a


progressão temática do mesmo.
O tema patente neste capítulo é o das repreensões e o modo como se encadeia
a progressão temática é pela apresentação de peixes como exemplos de aspetos nos
homens. A cada peixe, é atribuída uma ou várias repreensões, a argumentação que as
justifiquem, os exemplos humanos que as ilustram, o modo de ligação alegórica com a
mensagem crítica que se pretende comunicar e o contraste com Santo António.

3. Tendo este capítulo como exemplo, demonstre a alegoria.


Apontando os vícios dos peixes, em particular, tem por objetivo dirigir-se,
alegoricamente, a determinados defeitos dos homens.
4. Refira de que modo está dividido este capítulo.
O capítulo é dividido por repreensões em geral a quatro peixes específicos.
Inicialmente, os Roncadores, a seguir os Pegadores, posteriormente, os Voadores e, por
último, o Polvo.

5. Tendo os Roncadores como exemplo, refira quais as caraterísticas destes peixes, as


repreensões que lhe são feitas, a argumentação utilizada, os exemplos humanos
utilizados e de que forma estão presentes a alegoria e a crítica social.
Os Roncadores são o primeiro peixe a quem Padre António Vieira faz
repreensões em particular. O pregador diz, então, que estes peixes são, apesar de muito
pequenos no tamanho, as roncas do mar pois fazem muito barulho, como se fossem
peixes grandes. O argumento utilizado para sustentar esta repreensão é o facto de Deus
não querer roncadores e abater e humilhar aqueles que têm comportamento igual ao
destes peixes.
Dá o exemplo de São Pedro, no intuito de demonstrar que até aquele que era
um dos principais discípulos de Cristo, roncava como os roncadores, dizendo que ele
seria o que nunca deixaria de ser fiel e persistente na sua fé por Cristo e, pouco tempo
depois, acabou por ser o primeiro a fraquejar e a adormecer quando deveria ter ficado
vigilante. São dados também os exemplos de Golias, Caifás e Pilatos como homens que
se vangloriavam de serem maiores, mais inteligentes ou mais poderosos,
respetivamente. De modo contrário, Santo António, que se poderia ter vangloriado das
suas capacidades, manteve-se humilde e não se quis exibir.
Há, assim, uma alegoria que utiliza o som do ronco ensurdecedor destes
pequenos peixes para demonstrar a vaidade e presunção daqueles que querem sempre
sobressair perante os demais. Desta forma, o pregador faz uma crítica que visa, a
sociedade do Maranhão, aqueles que anunciam qualidades que, na verdade, não
possuem.

6. Tendo os Pegadores como exemplo, refira quais as caraterísticas destes peixes, as


repreensões que lhe são feitas, a argumentação utilizada, os exemplos humanos
utilizados e de que forma estão presentes a alegoria e a crítica social.
A crítica, ou repreensão, feita a estes peixes, visa, muito objetivamente, a
situação vivida nas colónias, pois aqui está sempre patente uma forma de
aproveitamento social, em que há um certo parasitismo de pessoas que apenas se
aproveitam dos cargos de outros para terem, sem esforço nem trabalho, lucro e
proveito.
Os pegadores são apresentados como sendo peixes pequenos que, pegando-se
aos grandes, vivem dependentes deles, não só fazendo-se carregar, mas também
alimentando-se dos restos deixados pelo peixe com quem estão pegados. Os exemplos
que são dados, além do exemplo do Tubarão que, tem frequentemente, vários
pegadores agarrados a si, são o de Herodes que tinha vários pegadores que deixaram
de ter modo de sustento após a morte deste rei.
De modo, mais uma vez contrário, surge o exemplo de Santo António, que se
pega a Cristo pelo comportamento exemplar que tem uma postura de humildade
perante o Senhor e que não se pega a Cristo numa perspetiva de aproveito próprio mas
sim enquanto servo de Deus.
A alegoria que é feita baseia-se na ilustração do comportamento daqueles que
têm um comportamento parasita na sociedade através do recurso ao comportamento
dos peixes menores que vivem dos restos deixados pelos peixes grandes a quem estão
pegados.
No Maranhão, tal como em qualquer colónia, era frequente que os homens
importantes tivessem agregados a si vários que menor importância e sem qualquer
utilidade que se limitavam a aproveitar a posição social daquele de quem dependiam.

7. Tendo os Voadores como exemplo, refira quais as caraterísticas destes peixes, as


repreensões que lhe são feitas, a argumentação utilizada, os exemplos humanos
utilizados e de que forma estão presentes a alegoria e a crítica social.
Aos Voadores é criticada a ambição desmedida pelo comportamento que
apresentam. Estes peixes apresentam uma caraterística que os distingue e que se
prende com o facto de terem barbatanas maiores do que as dos peixes. Em vez de
utilizarem esta capacidade para se destacarem no seu elemento, que é a água,
demonstram uma ambição por ascender a um elemento onde não deveriam estar: o ar.
Estes peixes, então, não se limitam a nadar, mas também voam, o que leva a que sejam
pescados sem haver, sequer, necessidade de algum tipo de esforço por parte do
pescador. Ao voar, vão contra as velas dos navios onde caem, mortos, no convés. Ou
seja, desgraçam-se pela ambição desmedida que têm.
Os exemplos dados são os de Simão Mago e de Ícaro, sendo que ambos
ambicionaram dominar o elemento ar e foram castigados por Deus por esse pecado,
tendo o primeiro deixado de andar e o segundo morrido. Santo António, que tem asas,
não quis nunca voar para cima, mas sim para baixo, no sentido de ter aceite que o seu
lugar era na terra e não no ar e não tendo nunca demonstrado ambição desmedida.
É feita uma alegoria que, através do comportamento confuso destes peixes,
dado que nadam e voam também, ilustra a ambição que está patente nos homens pois
não se limitam ao que têm e querem aquilo que, por natureza, não lhes pertence.
8. Tendo o Polvo como exemplo, refira quais as caraterísticas deste animal, as
repreensões que lhe são feitas, a argumentação utilizada, os exemplos humanos
utilizados e de que forma estão presentes a alegoria e a crítica social.
Com o Polvo, conclui-se a Confirmação e as repreensões em particular. O Polvo
é repreendido por ser o maior traidor que há no mar. Debaixo de uma aparência terna
e de doçura, pois a forma da sua cabeça lembra a de um santo, sem cabelo, o polvo tem
um comportamento condenável pelo pregador.
Este animal disfarça-se de modo a atrair a sua presa e ataca inesperadamente e
de modo traiçoeiro. A comparação feita é com Judas, considerado no universo católico
como sendo o maior dos traidores, ao ter entregue Jesus para ser crucificado. Mas Vieira
diz que o polvo é ainda pior que Judas, pois o polvo não só engana, como também
prende e mata.
Olhando para Santo António vemos o contrário, tendo sido o santo exemplo de
doçura e de sinceridade, sem nunca ter tido qualquer gesto que revelasse falsidade para
com os homens ou a sua fé.
A alegoria aqui relaciona-se com o comportamento de caça e de camuflagem do
polvo comparativamente à atitude de traição e engano que se encontra no
comportamento humano, pois sob uma aparência de doçura encontra-se muitas vezes
um traidor.

Referente ao capítulo VI
1. Insira o capítulo na estrutura interna do Sermão.
Este capítulo insere-se na Peroração, em que se conclui com o julgamento final
dos peixes e a exortação ao louvor de Deus.

2.Clarifique a explicação dada aos peixes e indique a exortação presente no último


parágrafo.
Explica-se, no último parágrafo, o motivo de terem sido excluídos de sacrifícios,
segundo o Levítico, por não serem capazes de chegar vivos ao altar. A exortação é
louvarem a Deus pela distinção positiva, face a todos os outros animais.

3.Explicite a intenção persuasiva e a função da exemplaridade neste excerto.


Nesta última parte do sermão, pretende-se que através do exemplo dos peixes,
animais que não são sacrificados, os homens se deixem persuadir, no sentido de
melhorarem os seus comportamentos, de forma a não chegarem a Deus com a alma
morta, o que os conduziria à perdição.
4.Tendo em consideração o excerto do poema de Fernando Pessoa, em “Mensagem”,
dedicado a Padre António Vieira, escreva um texto de opinião em que defenda este
autor como o “Imperador da língua portuguesa”, tendo por base as temáticas mais
importantes do Sermão e as suas caraterísticas discursivas.

“o céu ‘strella o azul e tem grandeza,


Este, que teve a fama e a glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.”

Vieira é um grande nome da cultura e da sociedade portuguesas, a quem o


epíteto de “imperador da língua portuguesa” se adequa não só pela forma, mas
também pelo conteúdo dos seus sermões, revelando uma grande mestria da arte da
oratória.
Vieira defendeu causas que o colocaram numa posição delicada na sociedade
da sua época. Acusou a situação da exploração do homem pelo homem, de um modo
geral, mas sobretudo na realidade colonial, demonstrava que era urgente não manter
a indiferença pelo sofrimento alheio e apontava o dedo aos abusos de poder, à
vaidade, ao parasitismo, à traição ou à soberba.
O modo como se exprimia eram únicos e inovadores na língua portuguesa, pela
riqueza vocabular, a precisão e a clareza de raciocínio. Destaca-se também pelo modo
harmonioso de expressão e a construção hábil que faz ao longo do discurso e que o
colocam num patamar de domínio absoluto da língua portuguesa.
Assim, tal como Pessoa afirma em Mensagem, este pregador exímio da língua
portuguesa, destaca-se pelo recurso à capacidade comunicativa e de persuasão, sem
nunca demonstrar qualquer tipo de necessidade de se integrar num mundo que ele
criticava e sonhava corrigir.

Bom trabalho!
Professora Paula Pinheiro

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