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REVISTA

GOVERNANÇA
E COMPLIANCE
GOVERNANCE AND COMPLIANCE JOURNAL

Número 3 • Ano 2 • 19 de fevereiro de 2019 Issue 3 • Year 2 • February 19, 2019

Publicação Oficial do Conselho Empresarial de Governança e


Compliance da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Official Journal of the Governance and Compliance Business


Council of the Commercial Chamber of Rio de Janeiro

Versão Bilíngue | PT - EN

17 de fevereiro 2019
2 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro
REVISTA
GOVERNANÇA
E COMPLIANCE
GOVERNANCE AND COMPLIANCE JOURNAL

Publicação Oficial do Conselho Empresarial de Governança


e Compliance da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Official Publication of the Governance and Compliance Business


Council of the Commercial Chamber of Rio de Janeiro

Rio de Janeiro Rio de Janeiro


Número 3 - Ano 3 - 19 de fevereiro de 2019 Issue 3 - Year 3 - February 19, 2019
Associação Comercial do Rio de Janeiro Commercial Chamber of Rio de Janeiro
REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE
Publicação Oficial do Conselho Empresarial de Governança e Compliance da Associação Comercial do Rio de Janeiro
PERIODICIDADE SEMESTRAL

GOVERNANCE AND COMPLIANCE JOURNAL


Official Publication of the Governance and Compliance Business Council of the Commercial Chamber of Rio de Janeiro
SEMESTRAL PERIODICITY

CORPO EDITORIAL | EDITORIAL BOARD


PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO RIO DE JANEIRO (ACRJ) | PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL DE GOVERNANÇA E COMPLIANCE |
CHAIRMAN OF THE COMMERCIAL CHAMBER OF RIO DE JANEIRO (ACRJ) PRESIDENT OF THE BUSINESS COUNCIL OF GOVERNANCE AND COMPLIANCE
Angela Costa Humberto Mota Filho

MEMBROS DE GOVERNANÇA E COMPLIANCE | GOVERNANCE AND COMPLIANCE MEMBERS

Alexandre Rodrigues Pereira / Agência de Joice Bandeira Rydval / Bradesco Seguros S/A Priscilla de Paula Ricci / Pontifícia Universidade
Fomento do Estado do Rio de Janeiro - Age Rio Católica do Rio de Janeiro - PUC RJ
Karla Galant Mourão / Scriptorio Comunicação
Carlos Samuel de Oliveira Freitas ABADI / Renata Barbieri Coutinho / IAG - Escola de
Assoc Brasileira das Administ de Imóveis Luciano Medrado Cruz Porto / Porto Advogados Negócios PUC-Rio

Claudia Lacerda / Dufry do Brasil Duty Free Shop Ltda Luis Felipe Mariano de Barros / Sou do Esporte Roberto Duque Estrada / Brigadão Duque-Estrada
Advogados
Cláudio Carneiro Bezerra Pinto Coelho / Luís Fernando Marin / Advogado e Professor
Instituto dos Advogados Brasileiros - IAB Rui Bezerra Silva / Porto Feliz Treinamento Gerencial
Marcelo Abelha / Rio Convention & Visitors Bureau
Cristiana Salles / A. Salles & Cia. Ltda. Thiago Bottino / Fundação Getulio Vargas - FGV
Marcelo Gomes / KPMG Auditores Independentes
Dalton Sardenberg / Fundação Dom Cabral Tiago Martins da Fonseca / BRA Certificadora
Marcos Andre dos Santos Caiado / Franquipar Ltda-Me
Daniel Soares / Ulhôa Canto, Rezende e Guerra Franqueadora e Licenciadora de Marcas Ltda.
Advogados Vera Elias / Instituto Brasileiro de Governança
Marianno de Azeredo Santos Corporativa
Diana Souza Muniz Alves de Oliveira
Nádia de Menezes Pinto Rampi / Fundação Vitor Ferreira Alves de Brito / Sérgio
Flávio Amaral / Juruena & Associados Advogados Dom Cabral Bermudes Advogados

Gedson Oliveira Santos / Bradesco Seguros S/A Patricia Charpentier / Brasif S/A - Administração Yuri Sahione / Ordem dos Advogados do
e Participações Brasil / RJ-OAB
Gisela Pimenta Gadelha Dantas / Federação das
Indústrias do Estado do RJ - FIRJAN Paulo Machado / Instituto Compliance Rio - IC Rio
João Laudo de Camargo / Instituto Brasileiro de Paulo Marcelo de Miranda Serrano / Escritório
Governança Corporativa Almeida Serrano Advogacia

COORDENAÇÃO EDITORIAL | EDITORIAL COORDINATION

Karla Mourão - Vice-Presidente de Comunicação e Marketing ACRJ /


Vice President of Communication and Marketing ACRJ

EDITORA RESPONSÁVEL | LEAD EDITOR

Rua Candelária, 9 / 11º e 12º andares Candelária Street, 9 / 11º and 12º floors
Centro – Rio de Janeiro – RJ Centro - Rio de Janeiro - RJ
CEP.: 20091-904 CEP: 20091-904

CONTATO CONTACT

Roberta Alves - Biblioteca ACRJ Roberta Alves - ACRJ Library


roberta@acrj.org.br | (21) 2514-1215 roberta@acrj.org.br | (21) 2514-1215

As manifestações oriundas dos textos, artigos e estudos aqui publi- The opinions expressed in the texts, articles and studies published
cadas são de responsabilidade dos seus autores e não expressam herein are the sole responsibilty of the authors and do not necessarily
necessariamente a opinião institucional da ACRJ. express the ACRJ’s institutional views.
REVISTA
GOVERNANÇA E
COMPLIANCE ACRJ
GOVERNANCE AND COMPLIANCE JOURNAL

A
Revista de Governança e Compliance da ACRJ, publicação
semestral Oficial do Conselho Empresarial de Governança
e Compliance da ACRJ, conta com a colaboração de espe-
cialistas em diversas áreas do conhecimento humano, para
o debate e fomento da cultura da integridade, com o objetivo de pro-
duzir propostas para a melhoria do ambiente de negócios brasileiro.

The ACRJ’s Governance and Compliance Journal is a semiannual offi-


cial publication of the Governance and Compliance Business Council.
It counts on the collaboration of specialists on several areas of human
knowledge to foster the debate and promotion of the integrity culture,
for the improvement of the Brazilian business environment.
Palavra da
Presidente
Caros Amigos,

Minha gestão apoiou desde o início as iniciativas para fortalecer a cultura da


integridade em nossa Casa do Empresário e no ambiente de negócios cario-
ca e brasileiro. Essa terceira edição da Revista de Governança e Compliance
da ACRJ é mais uma prova do nosso compromisso com uma nova visão da
atividade empresarial identificada com os anseios dos empresários por mais
ética, mais transparência pública, e mais governança, alinhada com nossa
Agenda Positiva.

Seguindo o norte dessa nossa Agenda Positiva, os desafios das empresas e


dos governos não podem nos amedrontar nem nos paralisar. O desenvolvi-
mento econômico sustentado e a geração de riqueza são o caminho a ser
buscado para uma sociedade mais prospera para todos, sempre com base
nos valores da liberdade de comércio e de cooperação público-privada. Para
tanto, é fundamental se inteirar das estratégias e dos avanços institucionais
internacionais, no campo da ética, da governança e do compliance e manter-
nos atualizados com as melhores práticas mundiais, dentro de um ambiente
de negócios cada vez mais competitivo.

Foram com essas certezas que conferimos, quando da realização do primeiro


Seminário Internacional de Governança e Compliance da ACRJ, o Prêmio de
Melhor Software de Compliance às empresas COMPLI.LY Software e Soluções
Digitais Ltda. e ICOMPLY Desenvolvimento de Soluções em Tecnologia Ltda.,
RIOSOFT, SOFTEXPERT SOFTWARE, e reconhecemos as Melhores Práticas
de Compliance das empresas Agência de Fomento do Estado do Rio de Ja-
neiro S.A., Arcellor Mittal Brasil S.A. e Ceptis Indústria e Comércio de Tintas
e Sistemas S.A., a partir de avaliações independentes de comissões de espe-
cialistas, reforçando a mensagem da importância da cultura da integridade
no enfrentamento dos novos desafios globais das empresas e dos governos.

São com essas mesmas certezas que ora saudamos essa terceira edição da
Revista de Governança e Compliance da ACRJ, nascida dos debates ocor-
ridos nesse Seminário Internacional, coordenado pelo nosso benemérito e
Presidente do CE de Governança e Compliance, Humberto Mota Filho.

Desejo uma boa leitura a todos.

ANGELA COSTA
Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro
Word from
the President
My dear friends,

My management supported from the beginning initiatives to strengthen the


culture of integrity in our Casa do Empresário and in the business environ-
ment of Rio de Janeiro and Brazil. This third edition of the ACRJ’s Journal
of Governance and Compliance is further evidence of our commitment to
a new vision of business activity identified with entrepreneurs’ longings for
more ethics, more public transparency, and more governance aligned with
our Positive Agenda.

Going north of our Positive Agenda, the challenges of business and gover-
nment can not frighten us or paralyze us. Sustained economic development
and wealth generation are the way forward for a more prosperous society for
all, based on the values of free trade and public-private cooperation. In order
to do so, it is essential to be informed of international institutional strategies
and advances in the field of ethics, governance and compliance and to keep
abreast of the best global practices within an increasingly competitive busi-
ness environment.

It was with these certainties that, when the first International Seminar on
Governance and Compliance of ACRJ was held, we granted the Award for
Best Compliance Software to companies COMPLI.LY Software and Soluções
Digitais Ltda. and ICOMPLY Desarrollo de Soluções em Tecnologia Ltda.,
RIOSOFT, SOFTEXPERT SOFTWARE, and we recognize the Best Compliance
Practices of the companies of the State of Rio de Janeiro SA, Arcellor Mittal
Brasil SA and Ceptis Indústria e Comércio de Tintas e Sistemas SA, from
independent expert committee evaluations, reinforcing the message of the
importance of integrity culture in addressing the new global challenges of
business and governments.

It is with these same certainties that we now welcome this third edition of
the ACRJ’s Journal of Governance and Compliance, born of the debates that
took place at this International Seminar, coordinated by our meritorious and
CE President of Governance and Compliance, Humberto Mota Filho.

I wish everyone a good reading.

ANGELA COSTA
President of the Commercial Chamber of Rio de Janeiro
Sumário

Editorial
10 HUMBERTO MOTA FILHO

Editorial (English version)


12 HUMBERTO MOTA FILHO

Programa de Integridade como Instrumento de boa Governança


14 Pública em Tempos de (Neo) Constitucionalismo
CLAUDIO CARNEIRO
Pós-Doutorado pela Universidade Nova de Lisboa e Presidente da Comissão Nacional de Compliance e
Governança Corporativa do Instituto dos Advogados Brasileiros - IAB

Integrity Program as Instrument of Good Public Governance in


18 Times of (Neo) Constitutionalism (English version)
CLAUDIO CARNEIRO
Post-Doctorate from Universidade Nova de Lisboa and President of the National Compliance and
Corporate Governance Committee of the Brazilian Lawyers Institute - IAB

Confiança, Transparência Pública e Democracia: O caso brasileiro


26 HUMBERTO MOTA FILHO
Advogado, Doutor em Ciência Política e Presidente do Conselho Empresarial de
Governança e Compliance da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Confidence, Public Transparency and Democracy:


The brazilian case (English version)
28
HUMBERTO MOTA FILHO
Lawyer, PhD in Political Sciences and President of the Governance and Compliance
Business Council of the Commercial Chamber of Rio de Janeiro

How Do You Change “Corporate Culture”?


12 JED S. RAKOFF
Senior Federal Judge of the Southern District of New York and Professor of Columbia Law School

Como mudar a cultura corporativa? (Versão traduzida)


18 JED S. RAKOFF
Juiz Federal Sênior do Distrito Sul de Nova York e Professor da Columbia Law School
How To Achieve Efficiency In Public Integrity Oversight:
30 Lessons from the U.S. System
JENNIFER RODGERS
Lecturer in Law at Columbia Law School. Former Executive Director of the Center for the
Advancement of Public Integrity

Como obter Eficiência na Supervisão da Integridade Pública:


32 Lições do Sistema dos EUA (Versão traduzida)
JENNIFER RODGERS
Professora de Direito na Columbia Law School. Ex-diretora Executiva do Center for the
Advancement of Public Integrity

A Governança Democrática no Brasil


34 GERALDO TADEU MOREIRA MONTEIRO
Doutor em Direito, Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Uerj e Coordenador
do Centro Bras1leiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad)

Democratic Governance in Brazil (English version)


38 GERALDO TADEU MOREIRA MONTEIRO
Doctor of Law, Adjunct Professor of UERJ Law School and Coordinator of the Center for
Studies and Research on Democracy (Cebrad)

42 Agradecimentos / Acknowledgment
Editorial
POR
HUMBERTO MOTA FILHO
Presidente do Conselho Empresarial de Governança e Compliance da ACRJ

”N
Caros amigos,

essa terceira edição da dos do primeiro painel do Seminário


Revista de Governança e ora publicados enfocam a governan-
Temos o prazer de con- Compliance da ACRJ, pu- ça democrática, integridade pública
solidar os artigos pro- blicação oficial do nosso e o controle social ao buscar respon-
Conselho Empesarial, temos o prazer der como tornar o setor público mais
duzidos por ocasião do
de consolidar os artigos produzidos transparente e eficiente. Por sua vez,
primeiro Seminário Inter- por ocasião do primeiro Seminário os artigos gerados do segundo pai-
nacional de Governança Internacional de Governança e Com- nel tratam da responsabilidade em-
pliance da Casa do Empresário, no presarial e da regulação estatal ao in-
e Compliance da Casa dia 27 de novembro de 2018, fruto vestigar como é possível estimular o
do Empresário, no dia 27 dos debates, interações, estudos e desenvolvimento do ambiente ético
temas propostos em nossas reuniões nas empresas.
de novembro de 2018,
mensais com os membros Conselhei-
fruto dos debates, inte- ros e da experiência dos palestran- Assim, Geraldo Tadeu Monteiro abor-
rações, estudos e temas tes, acerca dos novos desafios dos da a governança democrática, enten-
governos e das empresas, no cenário dida como um modo de regulação
propostos. global, a fim de melhorar o ambiente baseado em processos e interações
de negócios, de maneira geral, e os entre o Estado e a Sociedade, no âm-
seus processos decisórios, a trans- bito do qual o Estado aparece mais
parência, a efetividade e fiscaliza- como articulador e indutor de con-
ção de suas ações, em especial. Esse sensos, além de principal (mas, não o
evento consolida a marca dos Semi- único) executor de políticas públicas
nários Nacionais e Internacionais de e analisa como as instituições políti-
Governança e Compliance na ACRJ cas e sociais são capazes de opor re-
no calendário da nossa instituição e sistência às tentativas de restringir o
do nosso Estado, contribuindo para exercício dos direitos democráticos.
avançar e influir no debate da agen- Cláudio Carneiro se dedica a defen-
da positiva da cultura da integridade. der o programa de integridade como
um instrumento de boa governança
Então, nessa linha de reforço da cul- e aponta desde logo o risco de maus
tura da integridade, os artigos oriun- governos, decorrentes de escolhas

10 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ Esse evento consolida a marca dos Seminários Nacionais
e Internacionais de Governança e Compliance na ACRJ
no calendário da nossa instituição e do nosso Estado,
contribuindo para avançar e influir no debate da agenda
positiva da cultura da integridade.

indevidas por seus administradores



apontam uma realidade preocupan-
ou simplesmente por atos de corrup- te no mundo todo: há um problema
ção levarem a comprometer direitos de confiança generalizado nos go-
já assegurados pelo Estado de Di- vernos, instituições e nas empresas!
reito, na contramão da evolução do Assim, identifico que em busca de
constitucionalismo. Como remédio mais legitimidade e da recuperação
para tal risco, ele aponta a busca da da confiança de seus cidadãos, mui-
efetividade, de fato, pela adoção de tos governos democráticos investem
um sistema íntegro de gestão que re- na transparência e na divulgação dos
flita a boa governança. seus atos, na busca de uma presta-
ção de contas mais satisfatória, con-
Por seu turno, Jennifer Rodgers se
siderando a evolução dos conceitos
preocupa em como obter eficiência
de governança pública e de accoun-
na supervisão da integridade pública
tability democrática.
e apresenta algumas lições do Siste-
ma Federal de Supervisão dos EUA,
Por fim, Jed Rakoff questiona como
lembrando que os responsáveis pela
mudar a cultura corporativa e traça
fiscalização do setor público devem
um interessante histórico da rela-
buscar eficiência, mas devem fazê-lo
ção entre advogados corporativos
com cuidado para não prejudicar os
e empresas, avaliando que, de fato,
princípios gerais de responsabilida-
a maioria das reformas legislativas
de, transparência e independência,
acolhidos nesse Sistema. Ao desen- mais recentes nos EUA teve apenas
volver seu relato sobre as experiên- um efeito modesto no fortalecimento
cias de controle público dos EUA, ela de uma cultura corporativa mais éti-
aponta um caminho possível para ca e que na verdade alguns dos seus
um nível satisfatório de supervisão efeitos não pretendidos podem ter
sem gastos desnecessários. realmente aumentado o risco de uma
má conduta corporativa.
Avançando na questão da trans-
parência, apresento pesquisas que Grande abraço a todos e boa leitura.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


17 de fevereiro 2019
11
Editorial
BY
HUMBERTO MOTA FILHO
President of the Governance and Compliance Council of ACRJ

”I
Dear friends,

n this third edition of the ACRJ published focus on democratic go-


The first ACRJ Journal of Governance and Com- vernance, public integrity and social
International Seminar pliance, the official publication control in seeking to answer how to
of our Council, we are pleased make the public sector more transpa-
on Governance to consolidate the articles produced rent and efficient. In turn, the articles
and Compliance on at the first ACRJ International Semi- generated from the second panel
nar on Governance and Compliance, deal with corporate responsibility
November 27, 2018, was on November 27, 2018, as a result and state regulation in investigating
a result of the debates, of the debates, interactions, studies how it is possible to stimulate the
and themes proposed in our monthly development of the ethical environ-
interactions, studies and meetings with the Board Members ment in companies.
themes proposed in our and the experience of the speakers,
about the new challenges of gover- Thus, Geraldo Tadeu Monteiro approa-
monthly meetings. nments and companies in the global ches democratic governance, unders-
scenario, in order to improve the bu- tood as a mode of regulation based
siness environment in general, and on processes and interactions betwe-
its decision-making processes, trans- en the State and Society, within which
parency, effectiveness and oversight the State appears more as articulator
of its actions, in particular. This event and inducer of consensus, as well as
consolidates the brand of ACRJ’s Na- main (but not the sole) executor of
tional and International Governance public policies and analyzes how poli-
and Compliance Seminars in the ca- tical and social institutions are able to
lendar of our institution and our Sta- resist to attempts to restrict the exer-
te, helping to advance and influence cise of democratic rights.
the debate on the positive agenda of
the culture of integrity. Cláudio Carneiro is dedicated to de-
fend the integrity program as an instru-
So, in this line of strengthening of the ment of good governance and points
culture of integrity, the articles from out the risk of bad governments, due
the first panel of the Seminar now to improper choices by their adminis-

12 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ This event consolidates the brand of ACRJ’s National
and International Governance and Compliance Seminars
in the calendar of our institution and our State, helping
to advance and influence the debate on the positive


agenda of the culture of integrity.

trators or simply by acts of corruption, of widespread mistrust in govern-


to jeopardize rights already assured by ments, institutions and companies!
the rule of law, against the evolution In this way, I identify that in search
of constitutionalism. As a remedy for of more legitimacy and the recovery
such risk, he points to the search for ef- of the mistrut of its citizens, many
fectiveness, in fact, by adopting a sou- democratic governments invest in
nd management system that reflects transparency and disclosure of their
good governance. acts, in the search for a more satis-
factory accountability, considering
Jennifer Rodgers is concerned with the evolution of the concepts of pu-
how to achieve efficiency in oversi- blic governance and of democratic
ght of public integrity and presents accountability.
some lessons from the US Federal
Supervisory System, noting that
Lastly, Jed Rakoff questions how to
those responsible for public sector
change corporate culture and tra-
oversight should seek efficiency but
ces an interesting track record of
they must do so with care so as not
the relationship between corporate
to undermine the general principles
lawyers and companies, noting that,
of responsibility, transparency and
in fact, most of the recent US legisla-
independence that are incorporated
tive reforms have had only a modest
into the System. In developing her
effect in strengthening a more ethi-
account of US public control expe-
cal corporate culture and that in fact
riences, she points the way to a satis-
some of its unintended effects may
factory level of supervision without
actually have increased the risk of
unnecessary spending.
corporate misconduct.

Moving forward on the question of


transparency, I present research that Best regards.

points to a worrisome reality throu-


ghout the world: there is a problem

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


17 de fevereiro 2019
13
Programa de Integridade como
Instrumento de boa Governança Pública
em Tempos de (Neo) Constitucionalismo

1. INTRODUÇÃO

A
CLAUDIO corrupção vem assolando ter direitos assegurados em nossa
o mundo moderno, em Constituição Federal e, com isso,
CARNEIRO 1 especial o Brasil. Esse ce- caminhar na contramão da evolução
nário vem exigindo uma do (Neo)constitucionalismo.
Pós-Doutorado pela
mudança comportamental por parte
Universidade Nova de das empresas privadas e não poderia É inegável que a influência de leis es-
Lisboa e Presidente da ser diferente com o Poder Público. trangeiras é cada vez mais forte no
Tomando como base o arcabouço Brasil. O Compliance (integridade),
Comissão Nacional de
constitucional, investigam-se as nor- que traz em sua essência normas de
Compliance e Governança
mas que exteriorizam a transparên- Boa Governança, Gestão de Riscos e
Corporativa do Instituto combate à corrupção e ao suborno,
cia necessária na gestão pública, de
dos Advogados pode ser considerado um importante
modo a evitar os atos de corrupção
Brasileiros - IAB e de má gestão. O gerenciamento instrumento para o avanço do movi-
de ris­cos e a implantação e moni- mento constitucionalista no país. Isto


toramento de Programas de Inte- porque, busca ampliar os instrumen-
gridade são as bases para a edição tos de controle e conferir uma maior
das normas afetas à integridade pú- transparência da gestão dos recursos
blica e privada, como por exemplo, públicos e, com isso, aumentar a efe-
as leis 13.303/16 (Lei das Estatais) e tividade dos direitos fundamentais,
É inegável que a em especial os sociais que exigem
12.846/13 (Lei Anticorrupção).
influência de leis um maior dispêndio de recursos.
A concepção de Boa Governança,
estrangeiras é nos dias atuais, deve ser tratada Assim, a nefasta e frequente alega-
cada vez mais for- como verdadeiro direito fundamen- ção de escassez de recursos torna
te no Brasil. tal, e não como mera recomendação imprescindível que se dê um des-
ao administrador, pois o mau gover- tino cada vez mais responsável ao
no, seja por escolhas indevidas por orçamento disponível. Para tanto, a
seus administradores ou simples- implantação de um Programa de In-
mente por atos de corrupção ou tegridade efetivo é um forte instru-
suborno, acabam por comprome- mento para a Boa Governança.

1 Advogado e sócio do escritório Claudio Carneiro Advogados Associados. Pós-Doutor pela Universidade Nova de Lisboa. Doutor em
Direito Público e Evolução Social. Professor do Programa de Mestrado e Doutorado da Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal).
Professor do Programa de Mestrado da UniFG/BA. Coordenador do curso de Compliance da Fundação Getúlio Vargas. Presidente da
Comissão de Compliance e Governança do Instituto dos Advogados Brasileiros. Coordenador do Centro de Investigação Baiano sobre
Direito, Educação e Políticas Públicas. Auditor de Compliance e Antissuborno. Vice-presidente da Ethic & Compliance International
Institute com sede em Portugal.
2 Preferimos usar a expressão Constitucionalismo Contemporâneo em detrimento de Neoconstitucionalismo. A justificativa para tal
pode ser melhor observada em nossa obra: CARNEIRO, Claudio. Neoconstitucionalismo e Austeridade Fiscal: confronto constitucional-
hermenêutico das cortes constitucionais do Brasil e de Portugal. Salvador: Juspodivm. 2017.org/10.2139/ssrn.2365007

14 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ No Brasil, o grande marco do Constitucionalismo Contemporâneo2
foi a abertura democrática vivida em meados da década de 1980 e


a elaboração da Constituição de 1988.

2. O (NEO) CONSTITUCIONALISMO COMO


MOMENTO CONSTITUCIONAL ATUAL
Em alguns países, tais como, Itália Política. Para STRECK (2009, p. 8) o dignidade da pessoa humana), a ex-
(1947) e Alemanha (1949) e, depois, Neoconstitucionalismo significa rup- pansão da jurisdição constitucional,
Portugal (1976) e Espanha (1978), as tura, tanto com o Positivismo como com ênfase no surgimento de tribu-
Constituições marcaram a ruptura no modelo de Constitucionalismo nais constitucionais, e o desenvolvi-
com o autoritarismo, estabelecendo Liberal. Por esse motivo, o Direito mento de novos métodos e princí-
um compromisso com a paz, espe- deixaria de ser regulador para ser pios na hermenêutica constitucional.
cialmente no que se refere ao desen- transformador. Para este autor há
A Constituição de 1988 sofre algu-
volvimento e respeito aos Direitos uma incompatibilidade paradigmáti-
mas críticas por parte da doutrina
Humanos. No Brasil, o grande marco ca entre o novo Constitucionalismo
(BARROSO, 1999, p. 47), e aqui, para
do Constitucionalismo Contemporâ- (compromissório, principiológico e
sermos sucintos, citaremos apenas
neo2 foi a abertura democrática vivi- dirigente) e o Positivismo Jurídico,
duas. A primeira é o detalhismo de
da em meados da década de 1980 e a nas suas mais variadas formas, e nes-
assuntos que não mereciam estar em
elaboração da Constituição de 1988. se sentido, qualquer postura que, de
um texto Constitucional. A segunda
algum modo, se enquadre nas carac-
A primazia do princípio da dignida- diz respeito a alguns itens considera-
terísticas ou teses que sustentam o
de da pessoa humana, a qual deve dos inalcançáveis ou utópicos, infe-
Positivismo, entraria na linha de co-
ser protegida e promovida pelos rindo que a Assembleia Constituinte,
lisão com esse (novo) tipo de cons-
Poderes Públicos e pela socieda- em alguns momentos, se afastou, so-
titucionalismo (STRECK, 2011, p. 3) .
de passou a ser elemento essen- bremaneira, do mundo dos fatos, ou
cial desse movimento, bem como o Na visão de BARROSO (2005, p. seja, estabelecendo diretrizes intan-
enaltecimento da força normativa 48), são características do Neocons- gíveis ou irrealizáveis.
da Constituição, pois direitos cus- titucionalismo a redescoberta dos
Diante desse contexto, apesar do ar-
tam dinheiro (HOLMES; SUSTEIN, princípios jurídicos (em especial a
tigo 37 da Constituição de 1988 tra-
2012, p. 15). Segundo CARBONELL e
zer os famosos princípios adstritos à


JARAMILO (2010, p. 154) estas cons-
Administração Pública, a integrida-
tituições contêm amplos catálogos
de na concepção de transparência
de direitos fundamentais: “... lo que
passa a integrar o rol de princípios
viene a suponer um marco muy re-
Ignorar o momento constitucionais. Exatamente por isso,
novado de relaciones entre el Esta-
do y los ciudadanos, sobre todo por constitucional atual se que se deve abordar o Programa de
Integridade e a Boa Governança Pú-
la profundidad y el grado de detalle assemelha a mandar blica à luz da Constituição de 1988 e,
de los postulados constitucionales
que recongen tales derecho”.
confeccionar uma obviamente, interpretá-la com base
vestimenta nova cujo no momento constitucional em que
Para SARMENTO (2009, p. 113), o ela se encontra, isto é, o Constitucio-
Neoconstitucionalismo envolve fe- modelo foi sucesso em nalismo Contemporâneo. Ignorar o
nômenos como a força normativa décadas passadas. “ momento constitucional atual se as-
dos princípios, a rejeição do forma- semelha a mandar confeccionar uma
lismo, a reaproximação entre o Di- vestimenta nova cujo modelo foi su-
reito e a Moral e a judicialização da cesso em décadas passadas.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


17 de fevereiro 2019
15
3. BOA GOVERNANÇA NO SETOR PÚBLICO E A
IMPORTÂNCIA DO PROGRAMA DE INTEGRIDADE
Ao longo de décadas presenciamos es- com a finalidade de preservar e otimi- respeito a um conjunto de mecanismos
cândalos de diversas formas, mas em zar o valor da organização, facilitando práticos de controle que envolvem te-
todos eles o dinheiro público foi o prin- seu acesso ao capital e contribuindo mas afetos à liderança, estratégia e
cipal alvo. A História mundial fez com para a sua longevidade”. informação com o objetivo de execu-
que diversos países passassem a se tar as quatro etapas: a) Identificar as
A legislação brasileira trouxe como um questões sensíveis; b) Tratar as dados
preocupar com aspectos relacionados
de seus pilares, normas sobre a Boa Go- (informações) obtidos; c) Redimensio-
à governança. Nesse contexto, várias
Organizações Internacionais entraram nar o sistema corrigindo as falhas e im-


em cena com o objetivo de promover plementando os modelos pendentes;
a Boa Governança, como por exemplo, d) Monitoramento periódico.
o Banco Mundial e o Fundo Monetário O interesse pela As quatro fases elencadas visam à
Internacional (FMI).
Governança tinha que adequação dos instrumentos para a
No Brasil, ainda que tardiamente, o concretização de políticas públicas e
partir do próprio setor à prestação de serviços de interesse
interesse pelo tema surgiu com mais
intensidade sobre o setor privado. público onde foram da sociedade. Percebe-se, então,
que a governança no setor público
Contudo, se percebeu que o interes- detectados diversos
se pela Governança tinha que partir deve ser analisada sob algumas pers-
do próprio setor público onde foram
“ralos de corrupção”. “ pectivas que otimizarão o campo de
detectados diversos “ralos de cor- observação e que vão proporcionar
rupção”. Dessa forma, tanto no setor a eficácia no cumprimento das eta-
pas a serem seguidas: a) A sociedade
público quanto no privado, passaram
(destinatário) e Estado (agente); b)
e existir iniciativas de melhoria da
vernança por parte da Administração Federalização – A implementação do
governança.
Pública em todas as esferas de Go- Compliance Público carece ser adap-
Assim, a ideia de governança pública verno (Federal, Estadual e Municipal). tado de acordo com a realidade dos
originou-se da governança corpora- Como já visto, a expressão Governan- entes federativos; (c) Órgãos estrutu-
tiva (corporate governance). Segun- ça deriva do termo Governo, e pode rantes e entidades envolvidas no pro-
do a Organização para Cooperação e ter várias interpretações, dependen- cesso de gestão.
Desenvolvimento Econômico, a gover- do do enfoque que lhe é dado. Dessa
forma, deixamos consignado, desde Nessa toada, o Brasil vem editando
nança corporativa é definida como o
já, que adotamos o conceito de Go- importantes diplomas normativos,
conjunto de relações entre a adminis-
vernança, como observância das nor- entres eles a lei anticorrupção e a lei
tração de uma empresa, seu Conselho
mas de boa conduta para a Adminis- das estatais. A primeira, direcionada à
de Administração, seus acionistas e ou-
tração Pública, bem com o respeito iniciativa privada e, a segunda, refere-
tras partes interessadas. Significa dizer
às medidas adotadas pelas leis para se as empresas públicas e sociedades
que é um conjunto de práticas que têm
governar o país em questão dentro de economias mista. A lei 13.303/16
por objetivo regular a administração e
de uma política ética e de combate à também chamada de Estatuto das
o controle das instituições. O Instituto Estatais traz uma única vez em seu
Brasileiro de Governança Corporativa corrupção, ao suborno e às irregulari-
dades administrativas. Entre as prin- texto a expressão Compliance (inte-
(IBGC) define Governança Corporativa gridade) ao determinar que o esta-
cipais características para se alcançar
como “o sistema pelo qual as organi- tuto social deverá prever a possibili-
a ideia de boa governança podemos
zações são dirigidas, monitoradas e dade de que a área de Compliance se
citar, como exemplo, a integridade,
incentivadas, envolvendo os relaciona- reporte diretamente ao Conselho de
a equidade, a responsabilidade dos
mentos entre proprietários, conselho Administração em situações em que
gestores e da alta administração e,
de administração, diretoria e órgãos de se suspeite do envolvimento do dire-
sobretudo, a transparência e a pres-
controle”. Conclui o IBCG que as boas tor-presidente em irregularidades ou
tação de contas.
práticas de governança corporativa quando este se furtar à obrigação de
“convertem princípios em recomen- Em apertada síntese, podemos afirmar adotar medidas necessárias em rela-
dações objetivas, alinhando interesses que Governança no Setor Público diz ção à situação a ele relatada.

16 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


Vale lembrar que as empresas públicas,
sociedades de economia mista e suas
subsidiárias, apesar de serem classifi-
cadas com estatais, são pessoas jurí-
dicas de direito privado. Dessa forma,
“ Ao se falar de integridade é importante interpretar
as leis e as próprias normas constitucionais em
em virtude do disposto no artigo 173 um contexto amplo de constitucionalidade,
da Constituição da República de 1988
todas as entidades privadas que explo-
prevalecendo o conteúdo sobre a forma, os fins a


rem atividade econômica devem ter o que se destinam e o ideal a ser alcançado.
mesmo tratamento e, por isso, as esta-
tais com muito mais razão devem estar
inseridas nas práticas de Integridade.

renciais customizadas em relação ao esfera pública ou privada. Significa


4. CONCLUSÃO escopo da Organização. A segunda dizer que a Administração Pública,
sim, está atrelada ao ordenamento especialmente a Direta (entes fede-
A concepção de Boa Governança Pú-
jurídico nacional e internacional e, rativos), deve dar o exemplo e ser
blica perpassa por vários aspectos,
sobretudo, com o texto constitucio- a primeira a implantar os referidos
contudo, enfatizamos em nosso texto,
nal pátrio. Assim, de acordo com esse sistemas e colocar a devida “ordem
apenas um deles: a obrigatoriedade
segundo pilar, deve se ter em men- na casa”. Afinal, para que se tenha o
do bom uso do dinheiro público utili-
te a importância da identificação do tipo penal relativo à corrupção, faz-
zando-se de instrumentos aprovados
momento constitucional em que vive- se necessária a participação de um
em outros países, como por exemplo,
mos hoje, isto é, o Constitucionalismo agente público. Nesse sentido, andou
o Sistema de Gestão de Compliance
Contemporâneo, pois a Constituição bem a Controladoria-Geral da União
e Antissuborno (Programa de Inte-
não é uma mera folha de papel. Dito (CGU) que, por meio da Portaria nº
gridade). Tal afirmativa parece ser de 57/19 alterou a Portaria nº 1.089/18
de outra forma, ao se falar de integri-
uma obviedade incontestável, con- que regulamentou os Programas de
dade é importante interpretar as leis
tudo, apesar de sê-la de fato, nosso Integridade do Governo Federal e
e as próprias normas constitucionais
país, infelizmente, precisa de leis para concedeu novo prazo para criação
em um contexto amplo de constitu-
punir os maus gestores e tentar criar de programas anticorrupção nos ór-
cionalidade, prevalecendo o conteúdo
uma efetiva mudança comportamen- gãos federais.
sobre a forma, os fins a que se desti-
tal na esfera pública e privada.
nam e o ideal a ser alcançado.
Diante de todo esse complexo con-
É nesse contexto que passa a ser apli- texto, esperamos de maneira bas-
Dessa forma, com o objetivo de bus-
cado no Brasil um rígido sistema de tante otimista, que todos os Poderes
car essa efetividade e, de fato, um
combate à corrupção e a implantação da República e, especialmente os
sistema íntegro de gestão que reflita
de modelos de integridade vividos em novos governantes, estejam, de fato,
a Boa Governança e a observância
outros países, em especial o estaduni- voltados para o exercício digno dos
do movimento constitucional atual,
dense. Contudo, há que se observar mandatos que lhe foram outorgados
surgiram uma série de normas infra-
que um programa de integridade, para com o objetivo de administrar a coisa
constitucionais inspiradas em mode-
ser efetivo, deve se pautar minima- pública de uma forma eficiente e efi-
los estrangeiros.
mente em duas bases de sustentação. caz. Afinal, a sociedade está farta de
A primeira diz respeito à utilização de Ocorre que de nada adianta termos tanta corrupção e não podemos mais
um sistema de gestão anticorrupção, diplomas legais em vigor inspirados tolerar o descaso com o dinheiro pú-
que nada tem a ver apenas com diplo- nos modelos mais rígidos do mun- blico e, sobretudo, com os direitos
mas legais ou aspectos jurídicos, mas do, sem que haja uma efetiva mo- fundamentais assegurados na Cons-
sim com estruturas e ferramentas ge- dificação comportamental, seja na tituição após tanta luta democrática.

BARROSO, Luiz Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição, São Paulo: Renovar, 2013.
Referências:

CARBONELL, Miguel e JARAMILLO, Leonardo Garcia. El Canon Neoconstitucional. Madri: Editora Trota. 2010.
CARNEIRO, Claudio. Neoconstitucionalismo e Austeridade Fiscal: confronto constitucional-hermenêutico das cortes constitucionais do Brasil e de Portugal. Salvador: Juspodivm. 2017.
_________. Compliance e Boa Governança (Pública e Privada). Belo Horizonte: Juruá. 2018.
SUNSTEIN, Cass; HOLMES, Stephen. The cost of rights: why liberty depends on taxes. Nova Iorque: W.W. Norton & Company, 1999.
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC. Código das melhores práticas de governança corporativa. 4.ed. / Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2009. 73 p.
Disponível em: Acesso em: 10 janeiro de 2019.
SARMENTO, Daniel. Filosofia e Teoria Constitucional Contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso. Constituição Hermenêutica e Teorias Discursivas. Da possibilidade à necessidade de respostas corretas em Direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2009.
___________. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica. Uma nova crítica do direito. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense. 2014.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


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17
English version

Integrity Program as Instrument of Good Public


Governance in Times of (Neo) Constitutionalism

1. INTRODUCTION

C
CLAUDIO orruption has been plagu- Federal Constitution and, with this, to
ing the modern world, walk against the evolution of (Neo)
CARNEIRO1 especially Brazil. This constitutionalism.
scenario has demanded
Post-Doctorate at the It is undeniable that the influence of
a behavioral change on the part of
Universidade Nova de the private companies and could not foreign laws is growing stronger in
Lisboa and President of be different with the government. Brazil. Compliance (integrity), which
the National Compliance On the basis of the constitutional brings in its essence rules of Good
framework, the norms that express Governance, Risk Management and
and Corporate Governance
the necessary transparency in public combating corruption and bribery, can
Committee of the Brazilian
management are investigated, in or- be considered an important instru-
Lawyers Institute - IAB ment for the advancement of the con-
der to avoid acts of corruption and


mismanagement. Risk management stitutionalist movement in the country.
and implementation and monitoring This is because it seeks to broaden the
of Integrity Programs are the basis instruments of control and provide
for the edition of the norms affect- greater transparency in the manage-
It is undeniable ing public and private integrity, such ment of public resources and thereby
as Laws 13,303 / 16 (State Law) and increase the effectiveness of funda-
that the influence mental rights, especially social ones
12,846 / 13 (Anti-Corruption Law).
of foreign laws is that require greater resources.
The conception of Good Governance,
growing stronger nowadays, should be treated as a Thus, the disastrous and frequent al-
in Brazil. true fundamental right, and not as a legation of a shortage of resources
mere recommendation to the admin- makes it imperative that an increas-
istrator, because bad government, ingly responsible destination be giv-
whether by improper choices by its en to the available budget. To this
administrators or simply by acts of end, the implementation of an effec-
corruption or bribery, end up com- tive Integrity Program is a strong in-
promising rights guaranteed in our strument for Good Governance.

1 Lawyer and partner at Claudio Carneiro Advogados Associados. Post-Doctor by Universidade Nova de Lisboa. Doctor in Public Law and
Social Evolution. Professor of the Master’s and Doctoral Program of the Autonomous University of Lisbon (Portugal). Professor of the
Master’s Program at UniFG / BA. Coordinator of the Compliance course of Getúlio Vargas Foundation. President of the Compliance and
Governance Committee of the Brazilian Lawyers Institute. Coordinator of the Bahia Research Center on Law, Education and Public Policy.
Compliance and Anti-bribery Auditor. Vice President of the Ethic & Compliance International Institute based in Portugal.

2 We prefer to use the term Contemporary Constitutionalism in detriment of Neo-constitutionalism. The justification for this can be better
observed in our work: CARNEIRO, Claudio. Neo-constitutionalism and Fiscal Austerity: constitutional-hermeneutic confrontation of the
constitutional courts of Brazil and Portugal. Salvador: Juspodivm. 2017.org/10.2139/ssrn.2365007

18 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ In Brazil, the major landmark of contemporary Constitutionalism
was the democratic opening lived in the mid-1980s and the
2


drafting of the 1988 Constitution.

2. THE (NEO) CONSTITUTIONALISM AS THE


CURRENT CONSTITUTIONAL MOMENT
In some countries, such as Italy the rapprochement between Law tutional jurisdiction, with emphasis
(1947) and Germany (1949) and and Morals and the judicialization on the emergence of constitutional
then Portugal (1976) and Spain of Politics. For STRECK (2009, p.8), courts, and the development of new
(1978), the Constitutions marked a Neoconstitutionalism means rupture, methods and principles in constitu-
break with authoritarianism, estab- both with Positivism and the model of tional hermeneutics.
lishing a commitment to peace, de- Liberal Constitutionalism. For this rea-
The Constitution of 1988 suffers some
velopment and respect for human son, the Law would cease to be just a
criticism from the doctrine (BARRO-
rights. In Brazil, the major landmark regulatory mechanism to be a trans-
SO, 1999: 47), and here, to be succinct,
of contemporary2 Constitutionalism formative device. For this author there
we will cite only two. The first is the
was the democratic opening lived in is a paradigmatic incompatibility be-
detail of subjects that did not deserve
the mid-1980s and the drafting of tween the new Constitutionalism and
to be in a Constitutional text. The sec-
the 1988 Constitution. Legal Positivism, in its most varied
ond concerns some items considered
forms, and in this sense, any posture
The primacy of the principle of the unreachable or utopian, inferring that
that somehow fits the characteristics
dignity of the human person, which the Constituent Assembly, at times,
or theses that sustain the Positivism
must be protected and promoted has largely departed from the world
would be in the line of collision with
by the Public Authorities and by so- of facts, that is, establishing intangi-
this (new) type of constitutionalism
ciety, has become an essential ele- ble or unrealizable guidelines.
(STRECK, 2011, page 3).
ment of this movement, as well as
In view of this context, despite the
the enhancement of the normative In BARROSO’s view (2005, page 48),
fact that Article 37 of the 1988 Con-
force of the Constitution, since rights the rediscovery of legal principles (in
stitution brings the famous princi-
cost money (Holmes, 2012, page 15). particular the dignity of the human
ples attached to the Public Admin-
According to CARBONELL and JA- person), the expansion of consti-
istration, integrity in the conception
RAMILO (2010, 154) these constitu-


of transparency starts to integrate
tions contain extensive catalogs of
the list of constitutional principles.
fundamental rights: “... lo que viene
It is precisely for this reason that the
a suponer um marco muy renovado
To ignore the current Integrity Program and Good Public
de relaciones entre el Estado y los
constitutional moment Governance must be approached
ciudadanos, sobre todo por la pro-
in the light of the 1988 Constitution
fundidad y el grado de detalle de los resembles having and, obviously, interpret it based on
postulados constitucionales que re-
congen tales derecho”. a new dress whose the constitutional moment in which it
is found, that is, contemporary Con-
model succeeded in
For SARMENTO (2009, p. 113), Neo- stitutionalism. To ignore the current
constitutionalism involves phenom- past decades. “ constitutional moment resembles
ena such as the normative force of having a new dress whose model
principles, the rejection of formalism, succeeded in past decades.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


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3. GOOD GOVERNANCE IN THE PUBLIC SECTOR AND
THE IMPORTANCE OF THE INTEGRITY PROGRAM
Over the decades we have witnessed Brazilian legislation has introduced, as by correcting failures and imple-
scandals in various forms, but in all one of its pillars, rules on Good Gov- menting the pending models; d) Pe-
of them public money was the main ernance by the Public Administration riodic monitoring.
target. World history has led many in all spheres of Government (Federal,
The four phases listed are aimed at
countries to worry about governance


the adequacy of the instruments for
issues. In this context, several Inter-
the implementation of public policies
national Organizations came on the
and the provision of services of in-
scene to promote Good Governance, The interest for terest to society. It can be seen that
such as the World Bank and the Inter-
national Monetary Fund (IMF). Governance had to start governance in the public sector must
be analyzed under some perspectives
from the public sector
In Brazil, although late, the interest in that will optimize the field of obser-
the subject appeared more intense- itself, where several vation and that will provide efficiency:
ly on the private sector. However, it “corruption scourges” a) The society (recipient) and State
was noticed that the interest for Gov- (agent) ; b) Federalization - The im-
ernance had to start from the public
were detected. “ plementation of Public Compliance
sector itself, where several “corrup- needs to be adapted according to the
tion scourges” were detected. In this reality of federal entities; (c) Structur-
way, both in the public and private ing bodies and entities involved in the
State and Municipal). As we have seen, management process.
sectors, there are initiatives to im-
the expression Governance derives
prove governance.
from the term Government, and can In this regard, Brazil has been issu-
Thus, the idea of public governance have several interpretations, depend- ing important norms, among them
originated from corporate gover- ing on the approach given to it. Thus, the anti-corruption law and the state
nance. According to the Organization we have already established that we owned companies law. The first one,
for Economic Cooperation and De- have adopted the Governance concept, directed to the private initiative, and
velopment, corporate governance is as observance of the rules of good the second, refers to public enter-
defined as the set of relationships be- conduct for the Public Administration, prises. Law 13303/16, also called the
tween the management of a company, as well as respect for the measures ad- State Statute brings only once in its
its Board of Directors, its shareholders opted by the laws to govern the coun- text the expression “Compliance” in
and other stakeholders. It means that try in question within an ethical policy determining that the bylaws should
it is a set of practices that aim to reg- and combating corruption, bribery and provide for the possibility of the Com-
ulate the administration and control of administrative irregularities. Among pliance area reporting directly to the
institutions. The Brazilian Corporate the main characteristics to achieve the Board of Directors in situations where
Governance Institute (IBGC) defines idea of good governance can be men- the Chief Executive is suspected of in-
Corporate Governance as: “the system tioned, for example, integrity, equity, volvement in irregularities or when he
by which organizations are directed, the responsibility of managers and top or she evades the obligation to adopt
monitored and encouraged, involving management and, above all, transpar- necessary measures in relation to the
the relationships between owners, ency and accountability. situation described therein.
board of directors, management and
In a close synthesis, we can affirm It should be remembered that pub-
control bodies.” The IBCG concludes
that Public Sector Governance refers lic companies, and their subsidiaries,
that good corporate governance prac-
to a set of practical control mecha- although classified as state-owned
tices “convert principles into objective
nisms that involve issues related to companies, are private-law entities.
recommendations, aligning interests
leadership, strategy and information Accordingly, pursuant to article 173 of
with the purpose of preserving and
with the objective of performing the the Brazilian Federal Constitution, all
optimizing the value of the organiza-
four steps: a) Identify the sensitive private entities that explore econom-
tion, facilitating its access to capital
issues; b) Handle the data (informa- ic activity must have the same treat-
and contributing to its longevity.”
tion) obtained; c) Resize the system ment and, therefore, state companies

20 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


with much more reason must be in-


cluded in the practices of Integrity.
When speaking of integrity, it is important to
4. CONCLUSION interpret the laws and constitutional norms
themselves with a broad context of
The concept of Good Public Gover- constitutionality, with content prevailing over
nance runs through several aspects,


form, purposes and the ideal to be achieved.
however, we emphasize in our text
only one of them: the mandatory use
of public money using instruments
approved in other countries, such as to this second pillar, we must bear in Administration, especially the federal
the Compliance Management System mind the importance of identifying entities, must set the example and be
and Antisububorno (Integrity Pro- the constitutional moment in which the first to implement such systems.
gram). Such an assertion seems to be we live today, that is, contemporary After all, the corruption crime oc-
an indisputable truism, yet, in fact, our Constitutionalism, because the Con- crus with the participation of a public
country, unfortunately, needs laws to stitution is not a mere sheet of paper. agent. In this sense, the Office of the
punish bad managers and try to cre- In other words, when speaking of in- Comptroller General of the Federal
ate effective behavioral change in the tegrity, it is important to interpret the Government (CGU), which, through
public and private spheres. laws and constitutional norms them- Ordinance No. 57/19, amended Ordi-
selves with a broad context of con- nance No. 1,089 / 18, which regulated
It is in this context that a rigid an- the Federal Government’s Integrity
stitutionality, with content prevailing
ti-corruption system and the implan- Programs and granted a new dead-
over form, purposes and the ideal to
tation of models of integrity found in line for the creation of anticorruption
be achieved.
other countries, especially the Unit- programs in federal agencies.
ed States, are implemented in Brazil. Thus, in order to seek this effective-
However, it should be noted that a ness, and in fact, a sound manage- In the face of all this complex con-
program of integrity, in order to be ef- ment system that provides Good text, we hope in a very optimistic
fective, should be based on two main Governance and observance of the way that all authorities of the Brazil-
points. The first concerns the use of an current constitutional movement, a ian Republic, and especially the new
anti-corruption management system, series of infra-constitutional norms rulers are, in fact, oriented towards
which has nothing to do with legal inspired by foreign models emerged. the new compliance models and eth-
diplomas or legal aspects, but with ical practices. After all, society does
management structures and tools It happens that there is no point in not tolerate corruption anymore and
tailored to the scope of the Organiza- having legal diplomas in force in- we can no longer tolerate disregard
tion. The second is linked to the na- spired by the most rigid models in the for public money and, above all, for
tional and international legal system world, without an effective behavioral the fundamental rights guaranteed
and, above all, to the constitutional change, whether in the public or pri- in the Constitution after so much
text of the country. Thus, according vate sphere. It means that the Public democratic struggle.

BARROSO, Luiz Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição, São Paulo: Renovar, 2013.
References:

CARBONELL, Miguel e JARAMILLO, Leonardo Garcia. El Canon Neoconstitucional. Madri: Editora Trota. 2010.
CARNEIRO, Claudio. Neoconstitucionalismo e Austeridade Fiscal: confronto constitucional-hermenêutico das cortes constitucionais do Brasil e de Portugal. Salvador: Juspodivm. 2017.
_________. Compliance e Boa Governança (Pública e Privada). Belo Horizonte: Juruá. 2018.
SUNSTEIN, Cass; HOLMES, Stephen. The cost of rights: why liberty depends on taxes. Nova Iorque: W.W. Norton & Company, 1999.
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC. Código das melhores práticas de governança corporativa. 4.ed. / Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2009. 73 p.
Disponível em: Acesso em: 10 janeiro de 2019.
SARMENTO, Daniel. Filosofia e Teoria Constitucional Contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso. Constituição Hermenêutica e Teorias Discursivas. Da possibilidade à necessidade de respostas corretas em Direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2009.
___________. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica. Uma nova crítica do direito. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense. 2014.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


17 de fevereiro 2019
21
Confiança, Transparência Pública e
Democracia: O caso brasileiro

É
preciso de confiança para dadãos, governos democráticos inve-
HUMBERTO cooperar, entretanto, tam- stem na transparência e na divulgação
MOTA FILHO bém é preciso cooperar para dos seus atos e políticas públicas, tal
ganhar confiança, seja na como as empresas também investem
Advogado, Doutor em Ciência interação entre empresas, na relação na comunicação dos seus atos com
Política (IUPERJ) e Presidente público-privada ou na relação públi- consumidores e o público em geral.
do Conselho Empresarial de co-público. Pesquisas apontam uma Assim o fazem, por acreditarem que
Governança e Compliance da realidade preocupante no mundo ao se tornarem mais conhecidos e
Associação Comercial do Rio todo: há um problema de confiança compreendidos, a confiança do pú-
generalizado nos governos, institu-
de Janeiro blico em suas ações será recuperada
ições e nas empresas. ou aumentará. Esse parece ter sido


Dada essa realidade, muitos pro- o caminho trilhado pelos sucessivos
prõem um conceito atualizado de governos brasileiros.
governança pública e uma nova
Sem dúvida, é importante saber qual
abordagem do governo, entendido
foi a nossa evolução institucional no
como um processo amplo, plural e
Pesquisas apon- complexo da sociedade, que envolve
campo da transparência pública, ou
tam uma realidade a integração da política e da admin-
seja, na produção e na divulgação
sistemática de informações pelos
preocupante no istração, da gestão e das políticas
governos, pois quanto mais transpar-
públicas e apresenta um foco na
mundo todo: há um ente for um governo, mas fácil é com-
prestação de contas dos administra-
problema de confian- dores públicos como sendo um bem preender se a direção e o resultados
das políticas públicas contribuem ou
ça generalizado básico da democracia – a account-
ability democrática. Diante dessa não para a efetivação dos direitos
nos governos, institui- humanos, das garantias individuais
nova visão, como o governo brasile-
ções e nas empresas. iro tem enfrentado o problema da e para desenvolvimento econômico
confiança desde a nossa redemocra- e social. Para tanto, é válido investi-
tização, há cerca de 30 anos atrás? gar qual a lógica do nosso sistema
Em outras palavras, como auferir a legal, quais os marcos instituciona-
evolução da prestação de contas do is existentes e, principalmente, se e
estado brasileiro? como o brasileiro consegue obter in-
formações do Estado (Administração
Em busca de mais legitimidade e da Pública Direta e Indireta) e do seu
recuperação da confiança de seus ci- órgão externo de controle (TCU).

22 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ Sem dúvida, é importante saber qual foi a nossa evolução institucional
no campo da transparência pública, ou seja, na produção e na divulgação
sistemática de informações pelos governos, pois quanto mais transparente
for um governo, mas fácil é compreender se a direção e o resultados das
políticas públicas contribuem ou não para a efetivação dos direitos humanos,


das garantias individuais e para o desenvolvimento econômico e social.

Segundo os próprios constituintes outro lado, as informações e índices do TCU. Mesmo assim, de forma ger-
de 1988: o acesso às informações quantitativos disponíveis não per- al, hoje o conceito de accountability
dos órgãos públicos é fundamental mitem averiguar, qualitativamente, democrática está longe da realidade
para o aperfeiçoamento da máquina se as demandas respondidas con- dos demais tribunais de contas bra-
de governo, para a correção de even- tinham explicações sobre as ações sileiros. No período da nova repúbli-
tuais abusos, para o combate à cor- ou omissões do governo federal na ca, com exceção do próprio TCU, na
rupção e para o exercício pleno da execução de suas políticas públicas. grande maioria dos órgãos de con-
cidadania. Por essas razões, o direito Um possível aperfeiçoamento pode- trole externo dos entes federativos,
à informação está inscrito no rol de ria se dar pelo desenvolvimento de
direitos e garantias fundamentais da não se verifica uma maior preocu-
índices qualitativos sobre a infor-
nossa constituição. Além disso, o au- pação com esse conceito.
mação fornecida, de modo a revelar
mento do engajamento da sociedade
um conjunto de dados mais rico para Em resumo, houve avanço no mon-
civil brasileira nos assuntos públicos,
o monitoramento da função pública. itoramento das atividades do gov-
corresponderam a uma busca efetiva
erno federal, com um acesso maior,
por mais informações sobre as ações No campo do controle externo, houve
mais institucionalizado e mais direto
de governo. um movimento de aperfeiçoamento
dos brasileiros às informações de en-
dos mecanismos legais de gover-
Na busca dos brasileiros por in- tidades públicas, mas por outro lado
nança, no monitoramento da função
formações do governo federal, é não há informações consolidadas ou
pública, que também foi estimula-
possível afirmar que houve uma conclusivas sobre a qualidade das in-
combinação virtuosa de fatores insti- do pela ação do TCU, que intensif-
formações recebidas pelos cidadãos.
tucionais e esforços administrativos icou e aprofundou suas auditorias
e suas cobranças aos diversos seg- Esse quadro atual não estimula de
e que tal conjunção possibilitou aos
mentos do governo federal e houve forma satisfatória a recuperação da
cidadãos brasileiros demandarem,
uma aproximação maior entre os ci- confiança dos brasileiros nas suas in-
de forma efetiva, informações de di-
dadãos e esse orgão. Ainda assim, stituições governamentais, em geral,
versos segmentos do governo feder-
o cidadão parece se apresentar mais mas, ao mesmo tempo, aponta para
al, ao criar condições para a existên-
cia de elevados índices de resposta como demandante de informações alguns caminhos promissores. É pre-
às demandas por informações e a do que como produtor de novas in- ciso investir mais em transparência
sua manutenção em patamares el- formações, capazes de criticar ou pública e nos laços de confiança que
evados ao longo do tempo. Por contestar os relatórios e as análises surgem daí.

“ O cidadão parece se apresentar mais como demandante de


informações do que como produtor de novas informações, capazes de
criticar ou contestar os relatórios e as análises do TCU.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE
17 de fevereiro 2019
23
English version

Confidence, Public Transparency and


Democracy: The Brazilian case

I
t takes trust to cooperate, howev- panies also invest in communicating
HUMBERTO er, it is also necessary to cooper- their actions to consumers and the
MOTA FILHO ate to gain confidence, either in general public. They do so, believing
the interaction between compa- that as they become better known
Lawyer, PhD in Political
nies, in the public-private relationship and understood, public confidence in
Science (IUPERJ) and
or in the public-public relationship. their actions will be regained or in-
President of the Governance Research shows a worrisome reality creased. This seems to have been the
and Compliance Business throughout the world: there is a prob- path followed by successive Brazilian
Council of the Commercial lem of generalized trust in govern- governments.
Chamber of Rio de Janeiro ments, institutions and companies.
Undoubtedly, it is important to know
Given this reality, many propose an how we had progressed in the field


up-to-date concept of public gover- of public transparency, that is, in the
nance and a new approach to gov- production and systematic dissem-
ernment, understood as a broad, plu- ination of information by govern-
ral and complex process of society, ments, since the more transparent
involving the integration of politics a government is, the easier it is to
Research points to
and administration, management and understand whether direction and
a worrisome reality public policies and focus on the ac- results of public policies contribute
worldwide: there is countability of public administrators or not to the achievement of human
as being a basic asset of democracy rights, individual guarantees and
a problem of wide-
- democratic accountability. Given economic and social development.
spread confidence this new vision, how has the Brazil- In order to do so, it is valid to inves-
in governments, ian government faced the problem tigate the logic of our legal system,
institutions and of trust since our redemocratization, what institutional frameworks exist
about 30 years ago? In other words, and, mainly, if and how the Brazilian
companies! how do you perceive the evolution of obtains information from the State
the Brazilian state’s accountability? and its external control body (TCU).

In search of more legitimacy and the According to the legislators of 1988,


restoration of the trust of its citizens, access to information from public
democratic governments invest in the administration is fundamental for
transparency and disclosure of their the improvement of government effi-
public acts and policies, just as com- ciency, for correcting possible abus-

24 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ Undoubtedly, it is important to know how we had progressed in the
field of public transparency, that is, in the production and systematic
dissemination of information by governments, since the more transparent
a government is, the easier it is to understand whether direction and
results of public policies contribute or not to the achievement of human


rights, individual guarantees and economic and social development.

es, for combating corruption and for ascertaining whether the demands and analyzes of the TCU. Even so, in
the full exercise of citizenship. For answered contained explanations general, today the concept of dem-
these reasons, the right to informa- about the actions or omissions of ocratic accountability is far from the
tion is inscribed in the list of funda- the federal government in the exe- reality of other Brazilian Districts and
mental rights and guarantees of our cution of its public policies. A pos- States control bodies. In the period
Federal Constitution. In addition, the sible improvement in government of the new republic, with the excep-
increase in the engagement of Bra- transparency could be achieved by tion of the TCU itself, in the great ma-
zilian civil society in public affairs developing qualitative indicators on jority of the external control bodies
corresponded to an effective search the information provided to reveal of the federative entities, there is no
for more information about govern- a richer data set for public function greater concern with this concept.
ment actions. monitoring. In summary, there has been prog-
ress in monitoring the activities of
In the search of Brazilians for infor- In the field of external control, there
the federal government, with greater,
mation from the federal government, was a movement to improve the le-
more institutionalized and more di-
it is possible to say that there was a gal mechanisms of governance, in
rect access of Brazilians to the infor-
virtuous combination of institution- the monitoring of the public function,
mation of public entities, but on the
al factors and administrative efforts which was also stimulated by the
other hand there is no consolidated
and that such a combination made TCU’s actions, which intensified and
or conclusive data on the quality of
it possible for Brazilian citizens to deepened its audits and collections
information received by citizens. This
effectively request information from to the various segments of the fed-
current scenario does not satisfacto-
various segments of the federal gov- eral government and promoted more rily stimulate the recovery of the con-
ernment, the existence of high levels interaction between citizens and its fidence of Brazilians in their govern-
of response to the demands for in- bureaucracy. Still, the citizens seems mental institutions, in general, but at
formation and their maintenance at to present themselves more as an in- the same time points to some prom-
high levels over time. On the other formation demander than as a pro- ising paths. We need to invest more in
hand, the available quantitative in- ducer of new information, capable of public transparency and in the bonds
formation do not allow qualitatively criticizing or contesting the reports of trust that emerge from it.

“ The citizens seems to present themselves more as an information


demander than as a producer of new information, capable of


criticizing or contesting the reports and analyzes of the TCU.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


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25
How Do You Change “Corporate Culture”?

B
usiness people in the United of corporate boards that have taken
JED S. RAKOFF States are generally hon- the initiative in curbing executive ex-
Senior Federal Judge of est. Nevertheless, the U.S. cess, as opposed to reacting when
the Southern District of has not escaped repeated such excess is exposed (e.g., Uber).
New York and Professor instances of large-scale fraud, and The reason for this is not only that
of Columbia Law School while these sizable frauds are some- the members of boards typically owe
times perpetrated by lone individuals their selection to the very executives


(e.g., Madoff), more often they involve they are supposed to monitor, but
large corporations (e.g., Enron and also because these same executives
WorldCom). Typically, these frauds largely control what information is
take advantage of periods of market given to their boards.
euphoria, and just as typically they
The U.S. has not are only exposed when the Market
At the other extreme, the Department
of Justice has been busy, in the wake of
escaped repeated collapses. This has led governmental
the Financial Crisis, in imposing crim-
agencies and legislatures in the U.S.
instances of large- to consider how to make “corporate
inal sanctions on banking institutions
scale fraud, and while culture” more ethical, in order to avoid
that engaged in dubious practices in
the marketing of mortgage-backed
these sizable frauds this cycle. But, in my estimation, most
securities. These sanctions typically
of the reforms have had only a mod-
are sometimes per- consist of large fines and enhanced
est effect, and other developments
petrated by lone in- may have actually increased the risk
compliance measures. But, as for the
fines, even aside from the fact that
dividuals, more often of corporate misconduct.
they are paid by shareholders who
they involve large For example, one approach – em- were entirely innocent of the miscon-
corporations. bodied in the Sarbanes-Oxley Act of duct, there is no reason to believe that
2002 – has been to impose greater the fines are viewed by the defendant
obligations on boards of directors banks as anything more than a cost
to monitor executive activity. But, in of doing the very, very lucrative, if le-
the years since the Act was passed, gally doubtful, business in which they
one is hard-pressed to find examples previously engaged. And as for the

“ One approach – embodied in the Sarbanes-


Oxley Act of 2002 – has been to impose
greater obligations on boards of directors
to monitor executive activity.

26 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro
“ The net result is that lawyers no longer serve as ethical
“gatekeepers” when new, lucrative, but dubious corporate
programs are given to them for their approval.

compliance measures, they appear very high price of outside counsel,



ed bureaucratic matter of saving
to be viewed by the employees on companies increasingly created their resources. For a prosecutor to de-
whom they are imposed, not as ideals own in-house legal staffs, headed by termine whether high-level individu-
they should try to adopt, but as bu- a general counsel who, because he als were involved in corporate fraud
reaucratic checklists that are mostly a was dependent for his very job on requires an investigation that may
waste of time. the executives to whom he reported, last for years, involve many prosecu-
found it much more difficult to say tors and agents, and has no advance
In any event, the simple fact of the
“no” than outside counsel once had. guarantee of what it will find. By con-
matter is that a long list of banks
Meanwhile, outside counsel, no lon- trast, under U.S. federal law, a corpo-
and corporations that have been the
ger sure of continuing business from ration can be criminally prosecuted
subject of such sanctions have been
a corporate client, likewise found it for the misconduct of even low-level
found to engage in new misconduct,
harder than in the past to say “no” employees, with the result that cas-
often within a matter of a few years.
to lucrative, but legally risky, propos- es against companies can be made
As these two very different examples als. The net result is that lawyers no quickly and with a virtual certainty of
illustrate, it is not so easy to change longer serve as ethical “gatekeepers” success. But the result is that the de-
a corporate culture that has gone when new, lucrative, but dubious cor- terrent effect of sending a high-level
bad. And, I would suggest, some porate programs are given to them corporate executive to prison for fur-
less-noticed developments of re- for their approval. thering a fraud has been largely lost.
cent years have made it even more
difficult. One such development has At the other extreme, there has been My rather sad conclusion is that some
been the declining ability of lawyers a conscious decline in the desire and recent attempts to change the cor-
advising corporations to say “no” to ability of U.S. prosecutors to criminal- porate culture of U.S. firms that are
dubious business adventures. Prior ly prosecute the high-level individual tempted to break the law have not
to 1970 or so, most large companies executives who, in many cases, ap- succeeded, and that, if anything, some
in the U.S. had a lasting relationship proved the fraudulent practices that prior safeguards have been aban-
with their outside law firms, which later led to their companies’ being doned. If, nonetheless, most U.S. firms
enabled those law firms to feel free prosecuted. While various excuses remain highly ethical, it is a tribute to
to decline to approve legally dubi- have been offered for this decline, in their executives’ personal morality,
ous proposals. But, in reaction to the my view it is primarily a shortsight- and not to recent developments.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


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27
Traduzido

Como mudar a cultura corporativa?

P
essoas de negócios nos Es- conter o excesso de executivos, ao
JED S. RAKOFF tados Unidos geralmente invés de reagir quando esse exces-
Juiz Federal Sênior do Distrito são honestas. No entanto, so é exposto (por exemplo, Uber).
Sul de Nova York e Professor os EUA não escaparam de A razão para isso não é apenas
da Columbia Law School casos repetidos de fraude em grande que os membros dos conselhos
escala e, embora essas fraudes con- geralmente devem sua seleção aos


sideráveis sejam às vezes perpetradas próprios executivos que devem
por indivíduos solitários (por exem- monitorar, mas também porque es-
plo, Madoff), mais frequentemente ses mesmos executivos controlam
envolvem grandes corporações (por em grande parte quais informações
exemplo, Enron e WorldCom). Nor- são dadas aos seus Conselhos.
Os EUA não esca- malmente, essas fraudes aproveitam
No outro extremo, o Departamento
param de casos re- os períodos de euforia do mercado e,
de Justiça tem estado ocupado, na
comumente, só são expostos quan-
petidos de fraude do o mercado entra em colapso. Isso
esteira da crise financeira, na im-
em grande escala, levou as agências governamentais e
posição de sanções penais contra
instituições bancárias que se dedica-
embora essas fraudes as legislaturas dos EUA a considerar
vam a práticas duvidosas na comer-
como tornar a “cultura corporativa”
consideráveis sejam mais ética, a fim de evitar esse cic-
cialização de títulos lastreados em
às vezes perpetradas lo. Mas, na minha opinião, a maioria
hipotecas. Essas sanções geralmente
consistem em multas elevadas e me-
por indivíduos soli- das reformas teve apenas um efeito
didas de conformidade aprimoradas.
modesto, e outros desenvolvimentos
tários, mais frequen- podem ter realmente aumentado o
Mas, quanto às multas, mesmo que
temente envolvem risco de má conduta corporativa.
sejam pagas por acionistas que são
totalmente inocentes da má condu-
grandes corporações. Por exemplo, uma abordagem - in- ta, não há razão para acreditar que
corporada na Lei Sarbanes-Oxley as multas são vistas pelos bancos
de 2002 - tem sido impor maiores demandados como algo mais do que
obrigações aos conselhos de ad- um custo de fazer negócios. muito,
ministração para monitorar a ativ- muito lucrativos, mesmo que sejam
idade executiva. Mas, desde que a legalmente duvidosos. E quanto às
Lei foi aprovada, é difícil encontrar medidas de conformidade, elas pare-
exemplos de conselhos corpora- cem ser vistas pelos funcionários a
tivos que tomaram a iniciativa de quem elas são impostas, não como

“ Uma abordagem - incorporada na Lei Sarbanes-


Oxley de 2002 - tem sido impor maiores
obrigações aos conselhos de administração


para monitorar a atividade executiva.

28 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ O resultado líquido é que os advogados não servem mais como
“guardiões” éticos quando novos, lucrativos, mas duvidosos


programas corporativos são submetidos ao seu exame.

ideais que eles deveriam tentar ad- ternas, as empresas criaram cada vez Para um promotor determinar se
otar, mas como listas de verificação mais seus próprios quadros jurídicos indivíduos de alto nível estavam en-
burocráticas que são principalmente internos, cujos chefes jurídicos, em volvidos em fraudes corporativas, é
uma perda de tempo. geral, por serem vinculados a essas necessário que uma investigação,
corporações, encontram muito mais que pode durar anos, envolva muitos
De qualquer forma, é revelador que dificuldade de dizer não do que o promotores e agentes, sem garantia
uma longa lista de bancos e cor- consultor externo já teve. Enquanto antecipada do que encontrará. Em
porações que foram objeto de tais isso, advogados externos, não mais contraste, sob a lei federal ameri-
sanções sejam observadas em novas certos de continuar os negócios com cana, uma corporação pode ser pro-
condutas impróprias, geralmente em um cliente corporativo, também acha- cessada criminalmente por conduta
questão de poucos anos. ram mais difícil do que no passado indevida de funcionários de nível in-
dizer “não” a propostas lucrativas, ferior, com o resultado de que casos
Como estes dois exemplos muito dif-
mas legalmente arriscadas. O resul- contra empresas podem ser feitos
erentes ilustram, não é tão fácil de
tado é que os advogados não servem rapidamente e com boa certeza de
mudar uma cultura corporativa vicia-
mais como “guardiões” éticos quando sucesso. Mas o resultado é que o
da. E, eu sugeriria, que alguns desen-
novos, lucrativos, mas duvidosos pro- efeito dissuasivo de enviar um exec-
volvimentos menos notados nos
gramas corporativos são submetidos utivo corporativo de alto nível para a
últimos anos tornaram esse quadro
ao seu exame. prisão por promover uma fraude foi
ainda mais difícil. Um desses desen-
largamente perdido.
volvimentos tem sido a menor capaci- No outro extremo, houve um declínio
dade de advogados aconselharem as consciente do desejo e da capaci- Minha triste conclusão é que algumas
corporações a dizer “não” a aventu- dade dos promotores norte-ameri- tentativas recentes de mudar a cultu-
ras de negócios duvidosas. Antes de canos de processar individualmente ra corporativa das firmas norte-amer-
1970, a maioria das grandes empresas os executivos de alto nível que, em icanas que são tentadas a violar a lei
nos EUA mantinha um relacionamen- muitos casos, aprovaram as práticas não tiveram êxito e que é provável
to duradouro com seus escritórios fraudulentas que mais tarde levaram que algumas salvaguardas anteriores
de advocacia externos, o que permi- as suas empresas a serem processa- tenham sido abandonadas. Se, no
tia que os escritórios de advocacia das. Embora várias desculpas tenham entanto, a maioria das empresas dos
se sentissem à vontade para recusar sido oferecidas para esse declínio, EUA permanece altamente ética, é
a aprovação de propostas juridica- em minha opinião, trata-se princi- um tributo à moralidade pessoal de
mente duvidosas. Mas, em reação ao palmente de uma questão burocráti- seus executivos, e não aos recentes
preço muito alto das consultorias ex- ca míope de economia de recursos. desenvolvimentos legislativos.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


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29
How To Achieve Efficiency In Public Integrity
Oversight: Lessons from the U.S. System

E
JENNIFER fficiency is a major goal of size of the United States, and the li-
government, as it is in the mitations placed upon our system by
RODGERS private sector. There is a fa- our Constitution. The United States
mous maxim: don’t let per- has a federal system of government
Lecturer in Law at Columbia fect be the enemy of good. Whene- that reserves powers to the states if
Law School. Former ver efficiency suffers, resources are they are not explicitly given to the
Executive Director of the wasted. Accordingly, in public inte- federal government. In terms of our
Center for the Advancement
grity work, as in all things, oversight public integrity oversight system, this
of Public Integrity. Former
officials should strive for efficiency, means that while the federal gover-
federal prosecutor from the
but they should do so carefully so as nment has been able to choose its
United States Attorney’s
not to undermine the goals of over-
Office in Manhattan, own system of oversight of its agen-
New York. sight — accountability, transparency,
cies and federal spending, each state
and independence.
also has the ability to determine how
it will oversee its own state agencies


The U.S. system of integrity oversi-
ght is in large part a product of the and the spending of state monies.

The U.S. system of


GENERAL OVERSIGHT PRINCIPLES
integrity oversight
is in large part a U.S. Federal Oversight System
product of the
The U.S. does not have, as many cou- deral agencies and programs for the
size of the United ntries do, a national anti-corruption purpose of acting as watchdogs to
States, and the agency. Instead, there are a number avoid waste, fraud, and abuse in those
agencies and programs. Federal Ins-
limitations placed of institutions that handle oversight
of the federal government, inclu- pectors General are nominated by the
upon our system by ding the Government Accountability President and confirmed by the Sena-
our Constitution. Office in the legislative branch, the te. Inspectors General are designed to
Office of Government Ethics in the be selected without regard to political
executive branch, and, overseeing affiliation and on the basis of integrity
executive agencies, an Inspector Ge- and demonstrated ability in relevant
neral (IG) system. Inspectors General fields like law, auditing, investigations,
are appointed to more than 70 fe- and public administration.

30 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


In order to ensure their independen- see that some states have multiple for their consideration of charges.
ce from the agencies they oversee, agencies responsible for accountabi- Inspectors General should also have
the federal IGs have a dual repor- lity and oversight, while some have dedicated funding at a level to ensure
ting structure, answering both to none. Of those that have such offices, appropriate operations, protections
the heads of their agencies and to there are various models: ethics bo- against removal without just cause,
Congress. The legislation that cre- ards and commissions, ombudsmen, and a dual appointing structure —
ated the IG system also makes clear local prosecutors, auditors, and ins- i.e., nomination by the executive with
that agency heads cannot limit the pectors general. Some of these wat- confirmation by the legislative branch
IG’s discretion in his or her opera- chdog agencies have large staffs and — to ensure an Inspector General with
tions. IGs conduct investigations sweeping investigative powers, while operational independence.
and audits, provide periodic written others consist of volunteer entities


reports and testimony to Congress, that rarely meet and lack any means
and issue reports, often publicly, to of enforcement. Budgets for these
their agencies with recommenda- offices can be ample or quite small;
tions about agency action. IGs also some have dedicated funding set by Inspectors General
have the power to obtain all agen- statute and others have to rely on the
cy records and to issue subpoenas, largesse of the legislative body for
are appointed to
and they are able to refer probable their income on a yearly basis. more than 70 federal
cases of criminal conduct to the De-
partment of Justice or other appro-
agencies and programs
Lessons for Brazil
priate prosecutorial entity. IGs also for the purpose of
provide education to the agencies
they oversee, give advice, take whis- Because the United States has a bit of acting as watchdogs
tleblower complaints (and have ac- everything, it can serve as a lesson for to avoid waste,
companying protections for whistle- what works and what doesn’t work
blowers), and weigh in on legislation when attempting to provide a reaso- fraud, and abuse in
and rule-making on issues like con- nable level of oversight without ex- those agencies and
flicts of interest and outside income. pending unnecessary resources.
programs.
CAPI A fuller picture of the different mo-
dels and their positives and negati- I believe that the law enforcement
ves emerges from a closer look at our powers that Inspectors General tend
By contrast, the U.S. states are, both
literally and figuratively, all over the work at CAPI. See, for example, this to have means that their investiga-
map in terms of governmental over- synopsis of our state reporting. For tions are thorough and meaningful.
sight and enforcement. Because each purposes of this brief article, however, The full time nature of the office and
state is able to set up its own system, I will just focus on the model that I en- a dual appointment structure, along
including deciding how to fund the dorse: the Inspector General model, with safeguards on removal, lead to
system, there are vast differences which, assuming appropriate resour- appropriate levels of accountability.
between them. At the Center for the ces to support it and that the office Public reporting provides transpa-
Advancement of Public Integrity, we is given the necessary powers, strikes rency. And operational separation
have studied these systems in our 50 the best balance of ensuring both ef- from other parts of government and
State Oversight Survey. On our web- ficient and effective oversight. The a budget that is not easily changed
site, one can both download a com- powers that should be included are by public officials leads to the neces-
prehensive report for all 50 states the ability for the office to start its sary independence. While no form of
(plus one for Washington, D.C., and own investigations (instead of waiting oversight is perfect, I believe the Ins-
one for the federal government, so for a referral), subpoena power, the pector General model is the best way
52 total), and use our clickable map power to hold hearings, the ability to to avoid both gaps in oversight that
to compare states on various bases. issue public reports, and the ability to lead to inefficacy, and redundancies in
For example, using our map, one can refer criminal conduct to prosecutors oversight that result in inefficiencies.

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


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Traduzido

Como obter Eficiência na Supervisão da


Integridade Pública: Lições do Sistema dos EUA

A
JENNIFER eficiência é um dos princi- um produto do tamanho dos Estados
pais objetivos do governo, Unidos e das limitações impostas ao
RODGERS como é o setor privado. nosso sistema pela nossa Constitui-
Há uma famosa máxima: ção. Os Estados Unidos têm um sis-
Professora de Direito na não deixe que o perfeito seja o ini- tema federal de governo que reserva
Columbia Law School. Ex- migo do bom. Sempre que a eficiên- poderes aos estados se não forem
diretora executiva do Center cia não é buscada, os recursos são explicitamente dados ao governo fe-
for the Advancement of
desperdiçados. Consequentemente, deral. Em termos de nosso sistema
Public Integrity. Ex-promotora
no trabalho de integridade pública, de supervisão de integridade pública,
federal da Procuradoria
como em todas as coisas, os funcio- isso significa que, embora o governo
dos Estados Unidos em
nários de supervisão devem buscar
Manhattan, Nova York. federal tenha conseguido escolher
eficiência, mas devem fazê-lo com
seu próprio sistema de supervisão de
cuidado para adequá-las às metas de
suas agências e gastos federais, cada
supervisão - responsabilidade, trans-
estado também tem a capacidade


parência e independência.
de determinar como supervisionará
O sistema americano de supervisão suas próprias agências estatais e o
da integridade é, em grande parte, gasto de dinheiro do estado.

O sistema america-
no de supervisão da PRINCÍPIOS GERAIS DE SUPERVISÃO
integridade é, em
grande parte, um
Sistema Federal de Supervisão dos EUA
produto do tamanho
dos Estados Unidos Os EUA não possuem, como mui- pelo Presidente e confirmados pelo
e das limitações tos países, uma agência nacional de Senado. Os inspetores-gerais devem
impostas ao nosso combate à corrupção. Em vez disso, ser selecionados sem considerar a
há um número de instituições que afiliação política e com base na inte-
sistema pela nossa lidam com a supervisão do gover- gridade e capacidade demonstrada
Constituição. no federal, incluindo o Gabinete de em campos relevantes tais como o
Responsabilidade do Governo no legal, auditoria, investigações e ad-
ramo legislativo, o Gabinete de Ética ministração pública.
Governamental no ramo executivo
e, supervisionando agências exe- A fim de garantir sua independência
cutivas, um sistema Inspetor Geral frente às agências que eles supervisio-
(IG). Os Inspetores-Gerais são no- nam, os IGs federais têm uma estrutu-
meados para mais de 70 agências e ra de relatórios duplos, respondendo
programas federais com a finalidade tanto aos chefes de suas agências
de atuar como vigilantes para evitar quanto ao Congresso. A legislação
desperdício, fraude e abuso nessas que criou o sistema IG também dei-
agências e programas. Os inspeto- xa claro que os chefes das agências
res-gerais federais são nomeados não podem limitar a liberdade de

32 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


ação do IG em suas operações. Os IGs dessas agências de vigilância possuem confirmação pelo poder legislativo
conduzem investigações e auditorias, equipes grandes e amplos poderes - para assegurar um Inspetor Geral
fornecem relatórios periódicos e tes- investigativos, enquanto outras con- com independência operacional.
temunho ao Congresso e emitem rela- sistem em entidades voluntárias que
tórios, frequentemente públicos, para raramente se reúnem e carecem de Acredito que esses poderes de apli-
tais agências, com recomendações qualquer meio de fiscalização. Orça- cação da lei, pelos inspetores gerais,
sobre suas ações. Os IGs também mentos para esses escritórios podem permitem que suas investigações
têm o poder de obter todos os regis- ser amplos ou muito pequenos; alguns sejam completas e significativas. A
tros da agência e emitir intimações, e têm financiamento dedicado estabe- natureza de tempo integral dessa ati-
eles são capazes de encaminhar ca- lecido por estatuto e outros têm que vidade e uma estrutura de nomeação
contar com a generosidade do corpo dupla, juntamente com salvaguardas
sos prováveis de conduta criminosa
legislativo para sua renda em uma na remoção, levam a níveis apropria-
ao Departamento de Justiça ou outra
base anual. dos de responsabilidade. Relatórios
entidade promotora apropriada. Os
IGs também fornecem treinamento públicos fornecem transparência. E
para as agências que supervisionam, a separação operacional de outras
Lições para o Brasil partes do governo e um orçamento
aconselham, recebem representantes
de reportantes (e têm proteções para que não é facilmente mudado por
Como os Estados Unidos têm um funcionários públicos leva à indepen-
eles) e ponderam sobre a legislação
pouco de tudo, isso pode servir de dência necessária. Embora nenhuma
e a elaboração de regras sobre ques-
lição para o que funciona e o que não forma de supervisão seja perfeita,
tões como conflitos de interesse e de
funciona quando se tenta fornecer acredito que o modelo do Inspetor
remuneração.
um nível razoável de supervisão sem Geral é a melhor maneira de evitar
gastar recursos desnecessários. tanto as lacunas na supervisão que
CAPI
levam à ineficácia quanto as redun-
Em contraste, os estados dos EUA es- Uma imagem mais completa dos di- dâncias na supervisão que resultam
tão, literal e figurativamente, em todo ferentes modelos e seus pontos posi- em ineficiências.
o mapa em termos de supervisão e fis- tivos e negativos surge a partir de um
calização governamental. Como cada olhar mais atento ao nosso trabalho


estado é capaz de montar seu próprio no CAPI. No entanto, para fins deste
sistema, incluindo seu financiamento, breve artigo, me concentro apenas
existem grandes diferenças entre eles. no modelo que endosso: o modelo
No Centro para o Avanço da Integrida- do Inspetor Geral, que, assumindo os Os Inspetores-Gerais
de Pública, estudamos esses sistemas recursos de apoio apropriados e os são nomeados para
em nossa Pesquisa de Supervisão de poderes necessários, atinge o melhor
50 Estados. Em nosso site, é possível equilíbrio para garantir tanto uma su- mais de 70 agências
baixar um relatório abrangente para pervisão eficiente quanto eficaz. Os e programas federais
todos os 50 estados (mais um para poderes que devem ser incluídos são
Washington, D.C. e um para o governo a capacidade do escritório de iniciar com a finalidade
federal, portanto, 52 no total) e usar suas próprias investigações, o poder de atuar como
nosso mapa clicável para comparar de intimar, o poder de realizar audi-
estados em várias bases. Por exemplo, ências, a capacidade de emitir relató- vigilantes para evitar
usando nosso mapa, pode-se ver que rios públicos e a capacidade de dire- desperdício, fraude e
alguns estados têm várias agências cionar os procuradores às acusações.
responsáveis ​​pela prestação de con- Os Inspetores-Gerais também devem abuso nessas agências
tas e pela supervisão, enquanto algu- ter financiamento dedicado em um e programas.
mas não possuem nenhuma. Daqueles nível satisfatório para assegurar ope-
que têm tais escritórios, existem vários rações apropriadas, proteção con-
modelos: conselhos de ética e comis- tra remoção sem justa causa e uma
sões, ouvidorias, promotores locais, estrutura de nomeação dupla - ou
auditores e inspetores gerais. Algumas seja, nomeação pelo executivo com

REVISTA GOVERNANÇA E COMPLIANCE


17 de fevereiro 2019
33
A Governança Democrática no Brasil

A
pós um ano tenso, com cia no Brasil a partir do conceito de
GERALDO eleições extremamente governança democrática que permi-
TADEU MOREIRA polarizadas e permeadas te compreender a complexidade da
MONTEIRO por agressões e notícias condução de um processo de gover-
falsas, muitos se perguntaram se a nança nos dias atuais.
Doutor em Direito, Professor democracia brasileira se encontra
Um dos temas mais sujeitos à polêmi-
Adjunto da Faculdade de em risco. Como se não bastassem as
ca é o conceito mesmo de democra-
Direito da Uerj e Coordenador disputas políticas e eleitorais, o país
do Centro Bras1leiro de cia. A depender do ponto de vista, no
ainda atravessa uma profunda crise
Estudos e Pesquisas sobre a limite, os Estados Unidos da América
econômica, com cerca de 12 milhões
Democracia (Cebrad) podem ser considerados uma demo-
de desempregados e um aumento
cracia ou uma ditadura (do capital).


da desigualdade social. Em paralelo,
Assim, também a “República Demo-
crescem os números da violência e
crática da Coreia” (do Norte) se con-
da criminalidade no país, com 62 mil
cebe como um “genuíno estado dos
homicídios em 2017 e, em especial,
trabalhadores no qual todo o povo é
um aumento expressivo nos casos de
Analistas e operadores completamente livre da exploração e
feminicídio, constituindo-se esses fa-
da opressão” (cf. sítio oficial: http://
políticos não se cansam tos em claras ameaças à Democracia.
www.korea-dpr.com/). Para tentar
de repetir o mantra Por outro lado, no entanto, analistas ver melhor em meio à multiplicidade
de que “as instituições e operadores políticos não se cansam de definições, vamos nos concentrar
estão funcionando”. de repetir o mantra de que “as ins- em três definições: a) a definição pro-
tituições estão funcionando”, isto é, cedimental, segundo a qual demo-
as instituições políticas mantêm sua cracia é um arranjo institucional para
autonomia e decidem soberanamen- atingir decisões através da competi-
te as matérias de sua competência, ção pelo voto; b) a definição Liberal,
tendo suas decisões devidamente que reza que democracia é um regi-
acatadas. Assim, conforme o ponto me que equilibra contestação (liber-
de vista de onde o observador se dade de imprensa, formação de par-
coloque, poderá ter uma visão mais tidos e associações) e participação
otimista ou mais pessimista quanto (direito de voto, extensão do sufrágio
à saúde da democracia no Brasil. O e eleições limpas) e c) a definição
objetivo deste artigo é buscar uma participativa/deliberativa, que exige,
avaliação mais equilibrada do estado por um lado, a ampliação dos espa-
atual da nossa democracia, conside- ços de participação dos indivíduos e
rando as várias dimensões a partir organizações, aliado a uma cultura de
das quais uma democracia pode ser participação e, por outro, exige que
contemplada. Nossa visão buscará o regime se baseie num processo de
estimar a consolidação da democra- busca racional de consenso entre ci-

34 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


“ Em tempos de globalização, de complexidade e de
fragmentação política e social acentuadas, a efetividade


da ação dos governos tem diminuído sensivelmente.

dadãos livres e iguais, implicando pa- resistência às tentativas de restringir do setor, número de membros de
râmetros de efetiva liberdade social e o exercício dos direitos democráti- centrais sindicais, etc.) e pela sua
igualdade entre os atores sociais. As cos. Esta resistência será medida pe- penetração naquele espaço social
três definições, a meu ver, não são las respostas dadas pelos membros ou político (a representatividade de
incompatíveis entre si. Por isso, tere- dessas instituições aos ataques de uma associação profissional ou seto-
mos em mente neste artigo que uma indivíduos ou grupos em situações rial). Quanto maior a força e a legiti-
democracia pode comportar vários concretas e dimensionada pela força midade dessas instituições, associa-
níveis de análise: o procedimental, o e penetração dessas instituições no da a um compromisso declarado de
liberal e o participativo, os quais têm tecido social. Como exemplos, pode- seus membros para com os valores
propriedades complementares. Uma mos citar a resposta dada pelo STF democráticos, maior a capacidade
democracia não pode prescindir de às tentativas de limitar a liberdade que elas terão de se mobilizar em
uma forte dimensão institucional, de expressão em biografias não au- defesa do regime.
nem de um equilíbrio entre contesta- torizadas ou nas tentativas de censu-
Em tempos de globalização, de
ção e participação, além de uma dis- ra a jornais mediante intimidação ou
complexidade e de fragmentação
posição para ampliar os espaços de através de medidas judiciais.
política e social acentuadas, a efe-
participação. Ao usarmos a expres-


tividade da ação dos governos tem
são “disposição” na definição acima,
diminuído sensivelmente. Com a
nos referimos a uma atitude favorável
à participação ampliada, o que alerta Inexistindo um patamar atual globalização tecnológica e
ótimo de “consolidação os sistemas instantâneos de trans-
para a dimensão cultural da democra-
ferência de ativos, os governos na-
cia. Sem um conjunto de pré-disposi- democrática”, pode­mos
cionais têm grande dificuldade em
ções significantes acerca dos valores dizer que uma democracia regular os fluxos financeiros inter-
democráticos não se pode dizer que
se encontra mais ou menos nacionais. As fronteiras nacionais
a democracia como regime político e
social esteja consolidada.
consolidada de acordo estão cada vez mais permeáveis de
com sua capacidade de­ fato e de direito (como no caso das
Inexistindo um patamar ótimo de uniões aduaneiras). A criminalida-
monstrada de impedir
“consolidação democrática”, pode- de é outro fenômeno globalizado,
mos dizer que uma democracia se
retrocessos. que transcende a capacidade dos
encontra mais ou menos consolidada governos nacionais de regular os
de acordo com sua capacidade de- fluxos de armas, drogas e merca-
monstrada de impedir retrocessos. Por outro lado, a dimensão de força dorias. Neste sentido, os analistas,
Como veremos, esta capacidade de- dessas instituições depende do nú- buscando entender o papel da ati-
penderá da existência de instituições mero de pessoas engajadas (número vidade de governo nos novos con-
políticas e sociais capazes de opor de entidades filiadas às associações textos sociais, cunharam a expres-

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35

Para alguns, a governança é um modo A Governança Democrática, por seu
de regulação baseado em processos turno, coloca o problema da relação
e interações entre o Estado e a So- entre atores e fóruns majoritários e
A governança demo- ciedade, no âmbito do qual o Estado não-majoritários (cf. Bevir, 2009,
crática através de re- aparece mais como articulador e in- p.25), isto é, espaços de discussão
dutor de consensos, além de principal entre atores eleitos democratica-
des desenvolveu-se de
(mas, não o único) executor de políti- mente e atores oriundos do mercado
maneira significativa
cas públicas. Preferimos a esta, uma ou da sociedade civil organizada. Em
nos últimos trinta anos. definição mais detalhada: governança que medida as redes de governança
Hoje, a democracia é o processo que envolve interações, como fóruns de deliberação e con-
como prática parti- formais e informais, entre atores co- senso sobre políticas públicas refle-
cipativa encontra-se letivos no âmbito de instituições, com tem o estado da opinião pública (ou
bastante ancorada no vistas ao alcance de decisões pactua- da soberania popular) torna-se um
Brasil. das sobre bens públicos com base no problema para os sistemas políticos.
respeito à soberania popular, às leis,
As redes de governança não são, por
aos direitos fundamentais e aos prin-
natureza, democráticas ou antide-
cípios éticos comumente aceitos.
mocráticas. Elas devem, no entanto,
são governança para lidar com o
A Governança se exerce essencial- estar ancoradas na experiência de-
novo papel do governo na gestão
mente pela constituição de redes de mocrática. Para isso, elas devem ser
das sociedades.
governança. Para Eva Sorensen e Ja- controladas por políticos democrati-
Não cabe, no âmbito deste artigo, cob Torfing: camente eleitos, representar a base
discutir pormenorizadamente o con- dos membros dos grupos participan-
“Quando é o caso de fortalecer
ceito de governança. A “linguagem tes, responder perante a cidadania
a legitimidade dos padrões re-
da governança” (cf. Bevir, 2009) se daquele território e seguir as regras
gulatórios da União Europeia, de democráticas (Sorensen and Torfing,
tornou uma chave para compreender
resolver conflitos sobre reformas 2005, p.201). Em suma, as redes de
uma série de mudanças ocorridas no
das políticas sociais nacionais, governança podem ser poderosos
âmbito da esfera pública nos anos 80
assegurar um planejamento re- instrumentos de política e mesmo de
e 90 do século XX. Essas mudanças
gional mais bem informado ou gestão pública desde que permane-
atingiram os mercados mundiais, que
mobilizar parceiros relevantes em çam sob o controle da cidadania.
se tornaram altamente integrados, e,
esforços locais para combater a
por via de consequência, os Estados, Considerados esses critérios, po-
obesidade, os decisores políticos
que passaram a lidar com um volume demos dizer que a governança de-
apelam crescentemente para for-
de demandas muito mais complexas. mocrática através de redes desen-
mas de governança baseadas em
Vamos, então, partir de uma defini- volveu-se de maneira significativa
rede, construindo interações ho-
ção básica: para (Rosenau, 2000) é nos últimos trinta anos. Hoje, a de-
rizontais entre atores públicos e
“a manutenção da ordem coletiva, o mocracia como prática participativa
privados” (2009. P.234).
atingimento de objetivos coletivos e encontra-se bastante ancorada no
os processos coletivos de regulação A Governança em rede caracteriza o Brasil. Do ponto de vista institucio-
através dos quais a ordem e os objeti- modo atual de gestão pública em to- nal, o país lidou com inúmeras ma-
vos são buscados”. dos os países líderes mundiais. nifestações de massa (impeachment

REFERÊNCIAS

BEVIR, Mark. Key Concepts in Governance. London: Sage, 2009


ROSENAU, James Governance without Government: Order and Change in World Politics (Cambridge Studies in International Relations). Cambridge: Cambridge University Press, 2000
SØRENSEN, Eva e TORFING, Jacob. The Democratic Anchorage of Governance Networks. Scandinavian Political Studies, Vol. 28 – No. 3, 2005
SØRENSEN, Eva e TORFING, Jacob. Making Governance Networks Effective and Democratic Through Metagovernance. Public Administration, Vol. 87, No. 2, 2009 (234–258)

36 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


de Collor, 1992; paradas gays; Jorna- do (operações de combate à corrup-
das de Junho (2013); impeachment ção, diminuição da impunidade, leis
de Dilma - 2015-2016), com diversos de transparência, lei da ficha limpa, e
processos eleitorais (19 consultas, 34 de compliance).
votações nacionais – 1° e 2° turnos), Estas são as razões que nos levam
promoveu 46 Conferências nacionais a acreditar que a democracia brasi-
(que geraram 24 políticas públicas), leira encontra-se bem consolidada
criou 50 Conselhos no âmbito federal nas instituições como nas práticas e
e mais de 62 mil conselhos munici- nas mentalidades. O aprofundamen-
pais, além de incontáveis fóruns, con- to da democracia coincide com seu
sultas públicas e mesas de diálogo. enraizamento, ou seja, com a criação
Os atores coletivos foram se forta- de raízes numa população e em sua
lecendo: Partidos (35 partidos cria- cultura política. Este é um processo
dos e 73 partidos em formação), os longo, que exige tempo e persistên-
cia. Os últimos trinta anos têm de-
sindicatos (17.200, com crescimen-
monstrado o quanto o país avançou
to de 89% em relação a 1988) e as
nesta direção. No entanto, como nos
ONGs (eram 290 mil associações,
adverte Larry Diamond, democracia
em 2010). Ampliou-se o acesso aos
é uma história aberta (open-ended).
meios de comunicação com aumento
do acesso à internet e às redes so-
ciais: são 110 milhões que acessam


diferentes redes sociais (58 milhões
de contas no Facebook, 22 milhões
de contas no Twitter, 29 milhões no Houve uma contundente
Instagram). Houve uma contundente mudança nas desigualdades
mudança nas desigualdades sociais
com redução de 67% na pobreza no sociais com redução de 67%
Brasil nos últimos 17 anos. na pobreza no Brasil nos
últimos 17 anos.

Além disso, não houve, neste perío-
do, movimentos, atentado ou ruptura
da legalidade democrática. Por outro
lado, houve várias decisões favorá-
veis aos direitos fundamentais pe-
los tribunais superiores (direitos dos
homossexuais, liberdade de impren-
sa, liberdade de informação, etc.) e,
apesar dos escândalos de corrupção,
a cultura do respeito à lei tem cresci-

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English version

Democratic Governance in Brazil

A
GERALDO fter a tense year, with elec- One of the themes most subject to
tions extremely polarized controversy is the very concept of
TADEU MOREIRA and permeated by aggres- democracy. Depending on the point
MONTEIRO sions and false news, many of view, on the verge, the United Sta-
wondered if Brazilian democracy is at tes of America can be considered a
Doctor of Law, Adjunct risk. As if political and electoral dis- democracy or a dictatorship (of ca-
Professor of UERJ Law School putes were not enough, the country pital). Thus, too, the “Democratic Re-
and Coordinator of the Center still faces a deep economic crisis, with public of Korea” (of the North) is con-
for Studies and Research on about 12 million unemployed and an ceived as a “genuine state of workers
Democracy (Cebrad)
increase in social inequality. At the in which all people are completely


same time, the numbers of violence free from exploitation and oppres-
and crime in the country are rising, sion” (see official website: http: //
with 62,000 homicides in 2017 and, www.korea -dpr. To try to see better
in particular, a significant increase in in the multiplicity of definitions, let
Analysts and political cases of feminicide, and these facts us focus on three definitions: a) the
constitute clear threats to Democracy. procedural definition, according to
operators are always
which democracy is an institutional
repeating the mantra On the other hand, however, analysts
arrangement for reaching decisions
and political operators are always re-
that “institutions are through competition for voting; b)
peating the mantra that “institutions
working”. are working”, that is, political institu-
the liberal definition, which states
that democracy is a regime that ba-
tions maintain their autonomy and de-
lances opposition (freedom of the
cide matters within their competence,
press, formation of parties and asso-
having their decisions duly complied
ciations) and participation (right to
with. Thus, according to the point of
vote, extension of suffrage and clean
view of the observer, it may have a
elections) and c) the participatory /
more optimistic or pessimistic view on
deliberative definition, which focus
the strength of democracy in Brazil.
on, the expansion of the spaces of
The objective of this article is to seek
participation of individuals and orga-
a more balanced evaluation of the cur-
nizations, coupled with a culture of
rent state of our democracy, conside-
participation and, on the other hand,
ring the various dimensions from whi-
requires that the regime be based on
ch a democracy can be contemplated.
a process of rational search for con-
Our vision will seek to estimate the
sensus among free and equal citizens,
consolidation of democracy in Brazil
implying parameters of effective so-
from the concept of democratic go-
cial freedom and equality among so-
vernance that allows us to understand
the complexity of conducting a gover- cial actors. The three definitions, in
nance process in the present day. my view, are not incompatible with
each other. Therefore, we will keep in

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“ In times of globalization, complexity, and marked
political and social fragmentation, the effectiveness of
government action has diminished significantly.

mind in this article that democracy As examples we can mention the res- capacity they will have to mobilize in
can have several levels of analysis: ponse given by the Supreme Court defense of the regime.
procedural, liberal and participatory, to attempts to limit freedom of ex-
In times of globalization, complexity,
which have complementary proper- pression in unauthorized biographies
and marked political and social frag-
ties. Democracy can not last without or attempts to censure newspapers
mentation, the effectiveness of go-
a strong institutional dimension, nor through intimidation or through judi-
vernment action has diminished sig-
a balance between contestation and cial measures.
nificantly. With today’s technology,
participation, and a willingness to
On the other hand, the strength of globalization and instant asset trans-
broaden the spaces of participation.
these institutions depends on the fer systems, national governments
When we use the term “disposition”
number of people engaged (num- have great difficulty regulating inter-
in the above definition, we refer to
ber of entities linked to associations, national financial flows. National bor-
an attitude favoring expanded parti- ders are increasingly permeable (as


cipation, which points to the cultural in the case of customs unions). Crime
dimension of democracy. Without is another globalized phenomenon
a set of significant pre-dispositions
about democratic values one can not
Without an optimal that transcends the ability of national
governments to regulate the flow of
say that democracy as a political and level of “demo­cratic arms, drugs, and commodities. In this
social regime is consolidated. consolidation”, we can sense, analysts, seeking to unders-
Without a single level of “democratic say that a democracy tand the role of government activity
consolidation”, we can say that a de- is more or less consoli­ in the new social contexts, coined the
mocracy is more or less consolidated dated according to its expression governance to deal with
the new role of government in the
according to its demonstrated abi- demonstrated ability to management of societies.
lity to prevent setbacks. As we will
prevent setbacks.
see, this capacity will depend on the It is not within the scope of this ar-
existence of political and social insti- ticle to discuss in detail the concept
tutions capable of resisting attempts of governance. The “language of go-
to restrict the exercise of democratic number of union members, etc.) and vernance” (Bevir, 2009) became key
rights. This resistance will be mea- their penetration in that social or to understanding a series of changes
sured by the responses given by the political space (the representative- within the public sphere in the 1980s
members of these institutions to the ness of an association). The greater and 1990s. These changes have hit
attacks of individuals or groups in the strength and legitimacy of the- the world markets, which have beco-
concrete situations and dimensioned se institutions coupled with a stated me highly integrated and as a conse-
by the strength and penetration of commitment of their members to quence, the States which have come
these institutions in the social fabric. democratic values, the greater the to deal with a much more complex set

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governance. For Eva Sorensen and zenship of that territory and follow
Jacob Torfing: democratic rules (Sørensen and Tor-
fing, 2005, p.201). In short, gover-
Democratic gov- “When it comes to strengthening
nance networks can be powerful ins-
ernance through the legitimacy of EU regulatory
truments of policy and even public
standards, resolving conflicts
networks has devel- management as long as they remain
over national social policy re-
oped significantly in forms, ensuring better informed
under the control of citizenship.
the last thirty years. regional planning or mobilizing Considering these criteria, we can
Today, democracy relevant partners in local efforts say that democratic governance
as a participatory to combat obesity, policy makers through networks has developed
practice is strongly are increasingly appealing to ne- significantly in the last thirty years.
anchored in Brazil. twork-based forms of governan- Today, democracy as a participatory
ce, building horizontal interac- practice is strongly anchored in Bra-
tions between public and private zil. From the institutional point of
actors “(2009. p.234). view, the country dealt with nume-
of demands. Let us then start from a rous mass demonstrations (impea-
Network Governance characterizes
basic definition: for (Rosenau, 2000) chment of Collor, 1992, gay parades,
the current mode of public manage-
it is “the maintenance of collective June Days (2013), impeachment of
ment in all leading world countries.
order, the achievement of collective Dilma - 2015-2016), with various
goals and the collective processes of Democratic Governance, on the electoral processes (19 consultations,
regulation through which order and other hand, poses the problem of 34 periodic elections, promoted 46
objectives take shape. the relationship between major and National Conferences (which gene-
non-major actors and forums (see rated 24 public policies), created 50
For some, governance is a form of Bevir, 2009, p.25), that is, spaces for councils at the federal level and more
regulation based on processes and discussion between democratically than 62 thousand municipal councils,
interactions between the State and elected actors and actors from the as well as countless forums, public
Society, within which the State appe- market or organized civil society. To consultations and dialogue panels.
ars more as articulator and inducer what extent does governance ne-
of consensus, besides being the main Collective actors were strengthened:
tworks such as forums and delibera-
(but not the only) executor of public parties (35 parties created and 73
tion and consensus on public policies
policies. We prefer a more detailed de- parties in formation), unions (17,200)
reflect the state of public opinion (or
finition: governance is the process that and NGOs (290,000 associations in
popular sovereignty) become a pro-
involves formal and informal interac- 2010). Broadened access to the me-
blem for political systems.
tions between collective actors within dia: Increased access to the inter-
institutions, focused on to reaching Networks of governance are not by net and social networks: 110 million
agreed decisions on public goods ba- nature democratic or undemocratic. access different social networks.
sed on respect for popular sovereign- They must, however, be anchored in 58 million Facebook accounts, 22
ty, laws, fundamental rights and com- democratic experience. For this, they million social Twitter accounts, 29
monly accepted ethical principles. must be controlled by democratically million Instagram accounts. There
elected politicians, represent the was a strong social inequality (67%
Governance is essentially constituted base of the members of the partici- reduction in poverty in Brazil in the
by the establishment of networks of pating groups, respond to the citi- last 17 years).

REFERENCES

BEVIR, Mark. Key Concepts in Governance. London: Sage, 2009


ROSENAU, James Governance without Government: Order and Change in World Politics (Cambridge Studies in International Relations). Cambridge: Cambridge University Press, 2000
SØRENSEN, Eva and TORFING, Jacob. The Democratic Anchorage of Governance Networks. Scandinavian Political Studies, Vol. 28 - No. 3, 2005.
SØRENSEN, Eva and TORFING, Jacob. Making Governance Networks Effective and Democratic Through Metagovernance. Public Administration, Vol. 87, No. 2, 2009 (234-258)

40 ACRJ | Associação Comercial do Rio de Janeiro


Moreover, during this period the- Moreover, during this period the-
re were no movements, attacks or re were no movements, attacks or
ruptures of democratic legality. On ruptures of democratic regime. On
the other hand, there have been a the other hand, there have been a
number of decisions favoring funda- number of decisions favoring funda-
mental rights by higher courts (gay mental rights by higher courts (gay
rights, freedom of the press, freedom rights, freedom of the press, freedom
of information, etc.) and, despite cor- of information, etc.) and, despite cor-
ruption scandals, a culture of respect ruption scandals, a culture of respect
for the law has grown. corruption, for the law has grown.
reduced impunity, transparency laws,
These are the reasons that lead us to
clean bill law, and compliance law).
believe that Brazilian democracy is
These are the reasons that lead us to well established in institutions as in
believe that Brazilian democracy is practices and mentalities. The dee-
well established in institutions as in pening of democracy coincides with
practices and mentalities. The dee- its rooting, that is, with the creation
pening of democracy coincides with of roots among the citizens and in its
its rooting, that is, with the creation political culture. This is a long pro-
of roots in a population and in its po- cess that requires time and persisten-
litical culture. This is a long process ce. The last thirty years have shown
that requires time and persisten- how much the country has advanced
ce. The last thirty years have shown in this direction. However, as Larry
how much the country has advanced Diamond cautions, democracy is an
in this direction. However, as Larry open-ended story.
Diamond cautions, democracy is an
open-ended story.

Collective actors were strengthe-


ned: parties (35 parties created
and 73 parties in formation), unions
(17,200, up 89% over 1988) and NGOs
(290,000 associations in 2010). Bro-
adened access to the media: increa-
“ There was a significant
reduction in social inequality
sed access to the internet and social (67% reduction of poverty in


networks: 110 million accesses to
different social networks. 58 million
Brazil in the last 17 years).
Facebook accounts, 22 million social
Twitter accounts, 29 million Insta-
gram accounts. There was a signi-
ficant reduction in social inequality
(67% reduction of poverty in Brazil in
the last 17 years).

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CEP.: 20091-904

Tel.: (21) 2514-1229


Fax (21) 2514-1216
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