Você está na página 1de 1

Resumo Dispositivos Residenciais e as máquinas de morar – L. A.

Baptista

 Problematizar o sentido de morar nos dispositivos residenciais criados pela RP no RJ – história das cidades e
micropolítica dos espaços – efeito político da naturalização do habitar ou morar.
 Há uma clínica do morar? Sim – resposta provocativa no intuito de diluir significados cristalizados tanto do
morar quanto da clínica – multiplicar seus díspares sentidos políticos. Desconstrução d lógica manicomial
presente de modo velado ou não.
 Morar – cidadão sec. XIX – concepção de clínica. Morar adequado burguês extrapola necessidades biológicas
ou sociais – morar adequado (parâmetros médicos e educacionais) = promove equilíbrio do espírito,
desenvolvimento psi infantil, conhecimento da sexualidade = saúde da família coesa e estruturda. Casa = lar
= desenvolvimento da essência de existir. Lar = revelação das verdades/ fora = caos, anomia, contágio,
desestrutura, riscos à elevação do psiquismo. Morar burguês – razão científica – ascese no mundo laico do
capitalismo em vias de modernidade. Espaço privado - Intimismo = virtude.
 Morar saudável – grandes cidades – espaço público como território da aridez e da impessoalidade, das
normas e valores sociais X espaço da intimidade onde a essência humana se desenvolveria. Hierarquia de
valores aos espaços. Sem casa e afeto dos seus iguais, o humano ressecaria. Clínica inviolável do morar
isolava-se dos rumores e misturas exteriores ao seu domínio.
 A subjetividade residiria nas profundezas invisíveis do humano – templo laico mobiliado por símbolos e
representações da personalidade do morador. Esta definição de morar, coloca a subjetividade como atributo
individual, antagônica às normas e controles do espaço público.
 As contradições e paradoxos dos modos de viver presentes no dia-a-dia das cidades capitalistas não
caberiam nos cômodos edificados para a hermenêutica do asséptico sujeito perene.
 Perigos da cidade ameaçando o abrigo burguês, que impediriam a ascese individual e a saúde da família
estruturada outra preocupação era a perda da identidade. “Começo permanente” – desmancha coisas e
personalidades sólidas impelia o sujeito a se refugiar no interior do lar. Representações da personalidade
estampadas em cada detalhe do lar – perigo do esmaecimento – clínica do morar fornecendo prescrições
adequadas à solidez da alma era o antídoto – no lar a personalidade era construída e solidificada de forma a
ficar imune à história feita e refeita do lado de fora (assombro, desassossego, fascínio, horror, criação).
 Nós e os outros delimitados por eficientes barreiras do lar, expurgando interpelações e aturdimento. Projeto
burguês de refúgio para desenvolvimento de si.
 O sonho da modernidade – esquadrinhava espaços para domar a desordem e o caos, higienizar a vida social.
Humanidade eterna, perene e imutável. Casa como rígida fronteira entre o dentro e o fora.
 Praças, ruas etc. – desvalorizados como espaço de conhecimento e aprendizagem.
 Mulheres da urbe – guardiãs do lar. Crianças – adultos em miniaturas, sementes frágeis necessitadas de um
adulto para o futuro que as espera. Gerência científica e pedagógica.
 Fiscalização das classes perigosas, vilas operárias. Pedagogia da modernidade – “tornar-se o que se é”.
 Risco iminente da porosidade dos espaços (paradoxos e contradições) – ameaça à modalidade de gerência
da saúde e do sofrimento que se tornou universal prometendo felicidade, desprezando inquietações do
contemporâneo, formando identidades baseadas em um “nós forte”, delimitou e definiu subjetividade como
rastro individual, amorteceu solidariedades miúdas, lutas capilares...
 Nas novas moradias da RP a modernidade dos oitocentos nos adverte que habitar e clínica podem ser um
vagão ferroviário, uma outra máquina, um artifício, uma ferramenta. A modernidade do agora nos sugere
que as portas e janelas destes dispositivos devem estar bem abertas, deixando entrar conflitos, memórias
insurgentes, produzindo experimentações de casa e clínicas provisórias, inacabadas.

Você também pode gostar