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DOSSIÊ: HUMANISMO E BARBÁRIE — A CIVILIZAÇÃO SEM DESCONTENTES 13

A civilização sem descontentes:


sublimação e apaziguamento

OLGÁRIA MATOS

Resumo tragic theater and their reflections on


politics, on the word and on the fragility of
Neste texto são discutidas as formas de the human condition, by the gladiators’
organização da cultura na sociedade de es- amphitheater.
petáculo contemporânea, e o lugar da arte, Key-words: civilization; media; art;
educação e amizade como esteio de uma education; friendship.
imaginação criadora de resistência ao pro-
cesso de transformação do teatro trágico dos
gregos e suas reflexões sobre a política, a Em “O Moisés de Michelangelo”,
palavra e a fragilidade da condição huma- Freud escreve que a escultura represen-
na, pelo anfiteatro dos gladiadores. ta Moisés de maneira inédita, diversa
Palavras-chave: civilização; mídia; arte; da narrativa histórica e da tradição: não
educação; amizade. o profeta que investe contra adoradores
de ídolos, mas aquele que, aos olhos do
Abstract
artista, contém sua cólera, preservando,
assim, de se partirem as Tábuas da Lei.
This article discusses the forms of Freud reconhece, na modificação
organization of culture in the contemporary imagética da versão bíblica, o controle
society of spectacle, and also the place of art, dos impulsos pela força moral:
education and friendship as the supports of
an imagination that creates resistance to the (...) a massa potente bem como a mus-
process of transformation of the Greeks’ culatura exuberante da força da perso-

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nagem tornam-se apenas um meio de do “toca”, “caverna”, “morada”. Antes


expressão totalmente material a serviço de referir-se ao ético – caráter e virtude
da mais alta proeza psíquica de que um – ethos é “o lugar natural” dos seres –
homem é capaz: vencer sua própria pai-
como o corcel que se liberta do que o
xão em nome de uma causa à qual se
prende e galopa veloz até a sua mora-
sabe votado.1
da, lá onde pode sentir-se bem, reaver
Trata-se do tema que percorre a histó- sua identidade, estar “em casa”. Ethos
ria do pensamento – a reflexão acerca é também pertencimento numinoso, a
da experiência civilizatória. Pelo menos partir do qual construir e habitar são
desde Platão, procura-se, pela educação tarefas que participam do sagrado, da
formadora da excelência do caráter, o indivisão antiga entre os homens, a na-
homem justo e bom, de onde a impor- tureza e os deuses. Na mais modesta
tância da tradição, tradição que é trans- casa, o homem imita a obra do deus,
mitida pela educação, por isso ela é por- “cosmizando” o caos, santificando seu
tadora de um atributo fortemente éti- pequeno cosmos, fazendo-o semelhan-
co, incidindo sobre as condutas dos in- te ao divino. Permanecendo em um lu-
divíduos e grupos sociais. E, interrogan- gar determinado e determinável, a ma-
do a linhagem grega, vê-se que sua meta neira de habitar é criação de valores, é
primeira e última era a existência virtuo- ethos pelo qual a perfeição dos deuses
sa: viver de acordo com a razão, perma- se prolonga e se manifesta na ordem e
necer coerente consigo mesmo nos ins- na beleza do Universo – o que, mais tar-
tantes em que o homem atravessa as de, na Grécia clássica, passou a signifi-
maiores provações – e, como Ulisses, na car busca, através da educação, da con-
Odisséia, dizer a si mesmo: “paciência córdia da cidade governada pela justi-
meu logos”. O homem clássico não se ça, na elegância de uma vida de mode-
deseja diferente do que é, nenhum de- ração e autarquia.
sejo de alteridade o habita. Manter o Campo exemplar do conhecimento
domínio de si, colocar na acrópole da de si e do Outro é a pólis grega clássica,
alma a razão, submeter as paixões vis – que inventou, a um só tempo, a filoso-
aquelas que, como Platão as consagrou, fia, a tragédia, a democracia; nela, indi-
dirigem-se ao desejo de ganho e aquisi- víduos se reúnem pelo laço afetivo da
ção de bens materiais – é alcançar a feli- amizade – a phylia –, por uma aproxi-
cidade da alma na contemplação do mação espontânea e consciente, visan-
Bem e na realização da harmonia na ci- do à justiça e à virtude, ao bem-estar e
dade, o que se realizava na vida ética. à paz. A cidade entrecruza-se com o pen-
A palavra ethos aparece pela primei- samento racional, o espetáculo, com a
ra vez em Homero, na Ilíada, significan- especulação e a educação. O pensamen-
to é a operação do olhar e da linguagem,
como o é também a existência em co-
1. FREUD, S. (1974), Obras Completas. Rio de Ja- mum dos cidadãos no espaço da cida-
neiro, Imago, vol. XIII, p. 275. de. Não por acaso os gregos inventaram

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a tragédia e a comédia – o teatro, ar- De natureza diversa é a sociedade


quétipo do espetáculo: do espetáculo contemporânea, a da
mídia, cujos “valores” de facilidade e
(...) nele (no teatro) tudo é visto por to- consumo rápido de informações passam
dos os lados, tudo está manifesto e re- a impregnar a educação, substituindo
veste-se dos sinais exteriores da visibi- práticas formadoras pelas perfor-
lidade; nele, o “pensamento” está total-
máticas. Educação para a transforma-
mente voltado para o exterior, como o
espaço do teatro se reproduz no espaço
ção requer resistir às mídias desinibi-
da cidade.2 doras da violência, inibidoras do pen-
samento e dissipadoras do gosto – uma
Os gregos assistiam às tragédias não so- vez que neutralizam o bom gosto, o abje-
mente como espectadores, mas sobre- to e o grotesco. Sua antítese são as artes.
tudo, como cidadãos. A phylia está re- Suas “narrativas” – as da mídia, as
servada àquelas e apenas àquelas asso- das artes – não constituem dois discur-
ciações entre os que são verdadeira- sos concorrentes, mas duas maneiras de
mente semelhantes, unidos pelo bem, viver e de comunicar, dois planos dife-
que, pela educação que visa à virtude, rentes de existência em uma cultura: a
imprime-se em um caráter. A phylia é a narração dirige-se a uma comunidade,
dimensão da convivência humana em a informação visa um mercado. A opi-
que há boa educação, leis justas e cida- nião pública midiatizada é tocada por
dãos virtuosos – e ela se institui através imagens e impactos emocionais de
da palavra enunciada e refletida pelos acontecimentos, tão intensos quanto
ouvintes e espectadores: breves. Oscila-se entre a indignação e a
compaixão, mas não se trata de refle-
o orador da assembléia do povo que xão e compreensão. Razão pela qual
“aconselha sua cidade” atrai todos os Deleuze escreveu:
olhares e brilha por sua doxa, no duplo
sentido, do ponto de vista que ele tem (...) vejo no desenvolvimento fenomenal
sobre as coisas (suas opiniões) e do pon- das imagens e das mídias o aprèscoup do
to de vista que se tem sobre ele (sua re- pacto rompido com a palavra. A desbelief
putação, sua fama) [...]. A ética e a política como dizem os ingleses.4
constituem o cruzamento do “pensamen-
to racional” e da pólis, têm um terreno O humanismo moderno e a ética, diver-
tão amplo que seus limites se confundem samente dos procedimentos da mídia,
com os limites do humano. A política não encontram-se indissoluvelmente liga-
passa da realização de si, uma vez que
dos à alfabetização, à educação, à lei-
o “si” é relação com o outro.3
tura. A educação, formadora do ca-
ráter, encontrava na leitura a prática
2. WOLF, F. (1999), Aristóteles e a política. Trad.
A. A. Muñoz e T. C. F. Jummer. São Paulo, Dis-
curso Editorial, p. 13. 4. DELEUZE, G. (1992), Conversações. Trad. Peter
3. Ibid., pp. 11-14. Pál Pelbart. São Paulo, Editora 34.

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por excelência nobre. Atividade pacien- contra seus clientes para que suas cria-
te e concentrada é experiência que tra- ções deixassem de ser tratadas como
balha nossos medos e nossas esperan- mero produto – avaliadas pelo espaço
ças e necessita do tempo, à distância da da superfície pintada e pelo preço das
temporalidade, acelerado, hegemônico tintas empregadas –, até hoje, a cultura
no Ocidente, o tempo dito “real”. tem sido uma resistência para impedir
Proust, em À sombra das raparigas em flor, que a lógica da compra e da venda co-
narra como, progressivamente, foi-se mandasse os bens culturais. Reintroduzir
constituindo para ele a sonata de o reino financeiro em universos que se
Venteuil, cujos compassos acompa- foram constituindo contra ele é colocar
nham toda a Recherche: em risco as mais altas realizações da
humanidade em seus esforços humani-
(...) esse tempo de que necessita um in- zadores – a arte, a literatura, a ciência,
divíduo para ingressar em uma obra a filosofia, isto é, os bens culturais. Nes-
profunda é como o resultado e sím- se sentido, o historiador da cultura suí-
bolo dos anos e, por vezes, séculos que
ço, Burckhardt, escreveu serem grandes
devem transcorrer até que o público
possa apreciá-la verdadeiramente [...]. Platão, Píndaro, Sófocles, Solon,
Foram os próprios quartetos de Galileu, Michelângelo, Rafael, mas não
Beethoven que levaram cinqüenta anos os grandes navegadores, porque a Amé-
para dar vida e número ao público de rica teria sido descoberta, mesmo se
suas composições, realizando o que se- Colombo tivesse morrido recém-nasci-
ria impossível encontrar quando a obra- do. Mas a pintura A transfiguração, de
prima apareceu, isto é, criaturas capa- Rafael, não teria sido realizada se ele
zes de amá-la. não a tivesse feito. Grandes são aqueles
sem os quais o mundo seria incompleto.
As obras de pensamento representam
Humanismo, educação, transformação
partes inteiras de uma vida e de toda
significam: a civilização dos costumes,
uma existência construída de parado-
o abranda-mento das tendências
xos, enganos e liberdade. É preciso ge-
destrutivas na sociedade e as boas lei-
rações para recebê-las e interpretá-las –
turas que conduzem à afabilidade, à
para decifrar a serenidade de Sócrates
amizade, à sociabilidade.
no momento de sua morte, os êxtases
O escritor Jean Paul escreveu serem
de Plotino, as noites atormentadas
os livros cartas, decerto longas, que se
das meditações metafísicas de Descar-
endereçam aos amigos. São eles
tes. Além disso, todas as obras consi-
propiciadores de uma amizade realiza-
deradas universais no campo da cultu-
da a distância por meio da escrita. Di-
ra são o resultado de universos que, aos
ferentemente das “amizades” da
poucos, superando as leis do mundo co-
Internet – que pode ter sua importân-
mum e, sobretudo, a lógica do lucro,
cia na democratização das informações
foram se consolidando. Dos pintores do
e das associações entre lugares espaci-
Quattrocento, que precisavam lutar
almente afastados – a cultura encontra-

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da nas obras da literatura universal re- humanismo antigo, dizendo que só o


quisita o mundo letrado. Sem a inscri- podemos compreender como uma to-
ção da filosofia grega em papiros trans- mada de partido de um conflito entre
portáveis, as mensagens longínquas no mídias, no caso, a resistência do livro
tempo a que se chama tradição não te- contra o anfiteatro, como oposição da
riam chegado até nós. Essa amizade dos leitura filosófica humanizadora – pro-
grandes escritores com o público leitor vedora de paciência e criadora de cons-
de suas mensagens representa um caso ciência – contra as sensações impacien-
de amor à distância. Poderíamos dizer temente arrebatadoras dos estádios
que ao humanismo subjaz a crença em onde se instala a multidão.5 A educa-
uma sociedade literária na qual se des- ção instrumental, não formadora, não
cobre, por intermédio das leituras propicia sociabilidade, mas competição,
canônicas, um amor comum pelos re- rivalidade e desconfiança, o simétrico
metentes que o inspiraram. Só pode- oposto da lealdade e da amizade.
mos, assim, compreender o ideário do Condorcet, nos anos da Revolução
humanismo moderno como tomada de Francesa, anotou:
partido com respeito a um conflito en-
tre mídias “desumanizadoras”. Que se (...) a vida humana não é uma luta na
pense nos entretenimentos desinibidores qual adversários disputam prêmios,
da mídia e em seus filmes-catástrofe. E mas uma viagem que irmãos fazem em
comum empregando suas forças para o
aqui retornamos aos romanos. O que os
bem de todos e recompensados pela
romanos do tempo de Cícero, os roma- doçura de uma benevolência recíproca
nos cultos, denominavam com a pala- e pelo contentamento de merecer reco-
vra humanitas seria impensável sem a nhecimento ou estima.6
exigência de abster-se da cultura de
massa e de seus teatros da crueldade. A educação para a transformação
Tanto para a humanização quanto deve transformar indivíduos, desfazer
para a crueldade, os romanos nos lega- o ressentimento, dispor à tolerância,
ram alguns exemplos – quando se subs- lutar pela inclusão dos deserdados da
tituiu o teatro trágico dos gregos e suas cultura e dos bens civilizacionais e, em
reflexões sobre a política, a palavra ou primeiro lugar, a educação, que desen-
a fragilidade da condição humana pe- volve as potencialidades espirituais e
los anfiteatros de gladiadores. Política morais. Contra a injustiça e a tirania, a
“desumanizadora”, os romanos já ha-
viam instituído a mais bem-sucedida
rede de meios de comunicação de mas- 5. SLOTERDIJK, P. (1987), Critique de la raison
sa do mundo antigo, com açulamento cynique. Paris, Ed. Minuit; e (2001), Regras para
de animais ferozes, seus combates de um parque humano. Trad. José Oscar de Almeida
Marques. São Paulo, Estação Liberdade.
gladiadores até a morte e seus espetá-
6. CONDORCET, M. J. A. C. M. (1994), Cinq
culos de execuções públicas. Razão pela mémoires sur l’instruction publique. Paris,
qual Sloterdjik chama a atenção para o Flammarion, p. 103.

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amizade. Tanto na acepção grega clás- (...) a natureza, primeiro agente de Deus,
sica quanto em La Boétie, no benfeitora dos homens, criou-os todos
Renascimento, o tirano é o mais infeliz do mesmo modo e, de certa maneira,
de todos os homens porque não tem verteu-os todos na mesma fôrma, para
mostrar-nos que somos todos iguais, ou
amigo nem colaborador fiel e vive no
melhor, todos irmãos [...]. A natureza
medo, tanto no que inflige a seus súdi- deu a todos o belo presente da voz e da
tos quanto naquele que sente, pela des- fala para que nos abordássemos e nos
confiança com respeito àqueles que o confraternizássemos e, através da comu-
cercam. O tirano é obrigado a viezar, nicação e da troca de nossos pensamen-
dissimular suas verdadeiras ações e in- tos, fôssemos levados à comunidade das
tenções para enganar os homens; aque- idéias e de vontades.8
les que o cercam devem, por sua vez,
adulá-lo, simular lealdade, conspirar Natureza, amizade, sociedade cons-
contra os demais, para conseguir os fa- tituem o eixo em torno do qual se arti-
vores do tirano: cula o pensamento sobre a igualdade e
a fraternidade, por um lado, o da servi-
(...) os favoritos de um tirano nunca se dão, da deslealdade, da traição, por
podem garantir contra sua opressão, outro. A amizade é aquela relação
porque eles mesmos ensinaram-lhe que tecida no bem-querer e no bem-fazer,
ele tudo pode, que não há direito nem em que os amigos suprem reciproca-
dever que o obrigue [...]. Que sofrimen- mente as limitações uns dos outros e
to, que martírio, Deus do céu! Estar noite
formam uma companhia de homens li-
e dia querendo agradar um homem e,
vres. Diferentemente da comunidade
no entanto, desconfiar dele mais do que
qualquer outro no mundo; ter os olhos política, sujeita às contingências e às in-
sempre à espreita, os ouvidos à escuta, certezas da fortuna, temporalidade in-
para espiar de onde virá o golpe, para constante, instável e caprichosa, a ami-
descobrir as emboscadas, as tramóias, zade não sucumbe ao poderio do for-
para denunciar quem trai o senhor; rir tuito; ao contrário, só ela tem a força
para cada um, temer a todos sempre, para impedir que as diferenças de pos-
não ter inimigo reconhecido nem ami- ses, fama, glória e honras dividam e se-
go certo; mostrar sempre um rosto sor- parem os amigos, pois o que é de cada
ridente e ter o coração transido; não po-
um é de todos e são todos que agem
der ser alegre e não ousar ser triste.7
para que cada um seja o que é e tenha o
Chama-se a isso viver?, exclama La Boétie. que tem. Passa-se o contrário entre os
Para La Boétie, liberdade e amiza- maus, que,
de encontram-se na natureza e em tudo
(...) quando se reúnem, é um complô e
são opostas à servidão e à injustiça: não companhia; não se entretêm, eles se
entre-temem. Não são amigos; são
cúmplices.
7. LA BOÉTIE, É. (1984) Discurso da servidão vo-
luntária. São Paulo, Brasiliense, p. 107. 8. Ibid.

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La Boétie escreveu que “a amizade é


coisa sagrada e sacrossanta”, não po-
dendo haver amizade onde há cruelda-
de, deslealdade, injustiça. A amizade
imita a felicidade e a auto-suficiência do
divino e diminui os efeitos dramáticos
das incertezas da vida. Aceitamos de
um amigo, pela tolerância mágica da
amizade, algo que não concederíamos
a mais ninguém. Assim, e para finali-
zar, poderíamos dizer que se, “pela po-
lítica nós nos humanizamos, pela ami-
zade nos divinizamos”.

Recebido em 23/5/2003
Aprovado em 30/5/2003

Olgária Matos, professora titular de Filosofia


Política na USP. Autora, entre outras obras, de
Os arcanos do inteiramente outro: a escola de
Frankfurt, a melancolia, a revolução (Brasiliense);
O iluminismo visionário: W. Benjamin, leitor de
Descartes e Kant (Brasiliense); Filosofia: a polifonia
da razão (Scipione).
E-mail: olgaria@netserv.com.br

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