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Radioproteção – 2001

APO-NP-020

FUNDAMENTOS DE RADIOPROTEÇÃO
Teste de Fuga em Fontes Seladas

Programa Específico de Treinamento


Proteção Radiológica

Conceitos Gerais

Preparado por
Matias Puga Sanches

Serviço de Radioproteção - SRP


Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN/SP
TESTE DE FUGA EM FONTES SELADAS
o
Eng Matias Puga Sanches

INTRODUÇÃO
O uso de fontes de radiação ionizante seladas em radiografia industrial, em instrumentação
para controle de processos, em engenharia de controle, em terapia de contato na área médica,
e em outros campos de aplicações, necessita, além das medidas de controle adotadas para
evitar a irradiação externa de pessoas, verificações periódicas de suas condições de uso.
A experiência no uso de fontes seladas tem demonstrado que apesar de serem aplicadas todas
as regras estabelecidas para a construção e para o controle de qualidade destas fontes, assim
mesmo podem ocorrer fugas após diferentes períodos de utilização e operação destas fontes.
Isto quer dizer, que as seguintes características que podem influenciar o comportamento de
uma fonte selada durante o seu período de uso devem ser consideradas:
- corrosão da cápsula da fonte selada;
- influências mecânicas;
- falhas ocultas no processo de fabricação;
- efeitos ocasionados por sobre aquecimento.
Portanto, isto faz com que sejam realizadas, em certos intervalos, verificações quanto ao
estado físico, a integridade, e as fugas apresentadas por estas fontes e quanto as
contaminações de superfícies de contato ocorridas em função da dispersão do material
radioativo devido as fugas apresentadas na superfície da cápsula que envolve a fonte de
radiação.
O procedimento para licenciamento de protótipos de fontes radioativas seladas, e o teste de
fuga aplicado para verificar se o protótipo comporta-se adequadamente durante o período em
que a fonte foi projetada para ser usada ou armazenada para uso, até o presente momento,
não foi definido pela CNEN. Porém existem algumas normas internacionais elaboradas pela
Organização Internacional para Padronização - ISO ( 1,4) que podem servir como orientação
para os fabricantes e usuários de fontes radioativas seladas.

MÉTODOS USADOS PARA EFETUAR O TESTE DE FUGA EM FONTES SELADAS.


a) INSPEÇÃO VISUAL
A inspeção visual de uma fonte radioativa é implementada no sentido de se observar qualquer
defeito mecânico externo causado pelo processo de fabricação ou pelo esforço seguido
durante o uso, tais como rachaduras e deformações; e danos devido a corrosão por agentes
agressivos.
Dependendo do nível de atividade da fonte, esta inspeção deve ser realizada com técnicas
auxiliares apropriadas, por exemplo:
anteparo de vidro para fontes beta,
sistema de espelhos e anteparos de chumbo,
anteparo de vidro plumbífero para fontes gama,
circuito composto por câmara de TV,
microscópio,
telescópio,
ferramentas, tais como, alicates, pinças, manipuladores.

b) VERIFICAÇÃO DAS SUPERFÍCIES DE CONTATO


Para este método, as superfícies que mantém contato com a fonte radioativa, devem ser
verificadas tanto por um processo de medida direta, fazendo uso de um instrumento de medida
da radiação portátil, como por um processo indireto, fazendo uso do teste de esfregaço com
material absorvedor.

c) ESFREGAÇO NA SUPERFÍCIE DA FONTE


A superfície externa da fonte deve ser completamente esfregada com um material de grande
capacidade absorvedora, umedecido com um líquido não agressivo ao material com o qual a
fonte radioativa foi encapsulada.
O tipo de detector de radiação, a distância entre o detector e o material utilizado no esfregaço,
e os ajustes no instrumento de medida, terão que ser ajustados de acordo com o tipo de
radiação emitida pela fonte. Deve-se tomar cuidados para evitar que o material utilizado no
esfregaço não mantenha contato direto com o arranjo geométrico composto por blindagem e
porta esfregaço, e com a sonda empregada para realizar a medida do nível de contaminação,
fazendo uso de uma proteção, tal como um envelope de proteção.
d) IMERSÃO
A fonte deve ser imersa num líquido não agressivo ao material empregado no encapsulamento
da fonte, e que, nas condições deste teste, demonstre ser eficaz na remoção do material
radioativo disperso. Exemplos de líquidos empregados neste teste são: água destilada e
0
soluções fracas de detergentes ou agentes quelantes. O líquido será aquecido a 50 graus
centígrados e conservado nesta temperatura durante 4 horas. Depois disso a fonte radioativa
selada será removida e a atividade residual no líquido deverá ser avaliada.
Por um método similar, a fonte radioativa é colocada em água fervendo por 10 minutos. Depois
disso a fonte radioativa deverá ser resfriada a uma temperatura inferior a 400 C, e lavada com
água fria. Estas operações devem ser realizadas duas vezes. Após a fonte ser removida do
líquido utilizado deve-se avaliar a atividade residual contida no líquido usado.

e) EMANAÇÃO
O teste de emanação é aplicado para fonte contendo 226Ra. A fonte selada a ser testada deve
ser colocada num pequeno recipiente de vidro junto com um material absorvente, tal como,
carbono absorvente, pedaço de algodão ou polietileno; e deixada neste recipiente por um
período de pelo menos 3 horas. Depois disso, deve medir a atividade incorporada no material
absorvente imediatamente em um detector apropriado.
Na tabela-1 são apresentados os testes aplicáveis em fontes radioativas em função do tipo da
fonte e para que propósito se destina.

Tabela-1: Testes aplicáveis

TIPO DE FONTE MÉTODO


Fonte radioativa selada, sem necessidade de obter licença. a) e b)
Fontes utilizadas em instrumentação de processo e a) ; b) e c)
engenharia de controle
Fontes utilizadas em radiografia industrial b)
Fontes gama utilizadas em terapia por contato a); b); c) e d)
Fontes beta utilizadas em terapia por contato a); b); c) e d)
Fontes alfa e beta de baixa energia a); b); e c)
( proteção da fonte 50 mg/cm2 ) com exceção da proteção da
fonte
Fontes contendo rádio a); b); c); d) e e)
Fontes de nêutrons e gama contendo nuclídeos emissores a); b); c) e d)
alfa, exceto rádio

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS


Na execução do teste uma fonte radioativa será considerada isenta de contaminação radioativa
e, portanto, não apresentará fugas, se atividade encontrada no teste for 1850 Bq = 1,85 kBq (
50 nCi ). Este valor é aplicado a cada um dos métodos mencionados. Em geral, costuma-se
observar níveis de atividade muito baixos ou valores de contaminação não detectáveis pelos
sistemas de medida convencionais.
Se o teste indicar que a fonte radioativa selada apresenta problemas, ou que o valor limitante
foi excedido, isto indicará a ocorrência de um evento anormal. A fonte deverá deixar de ser
utilizada,a autoridade competente terá que ser notificada para que possa fornecer informações
quanto ao comportamento a ser aplicado pelo usuário na solução da ocorrência anormal.
A comparação com uma fonte padronizada é a forma mais simples para determinar a atividade
absoluta observada no teste. Com o mesmo arranjo de medida, aplica-se o que se segue:

Ax = __As__. nx
ns
onde,
Ax é a atividade da amostra;
As é a atividade da fonte padrão;
nx é a taxa de contagem observada no detector para a amostra;
ns é a taxa de contagem observada no detector para a fonte padrão.
O quociente ( As / ns ) fixa o fator de calibração ( f ) do sistema de medida.
Se a taxa de contagem observada para a radiação de fundo natural for superior a 5% da n x ,
esta terá que ser subtraída, então:

Ax = f ( nx - n0 )

Se o teste de esfregaço for realizado em superfícies de contato, a contaminação de superfície é


dada por:

k ( Bq / cm2 ) = __f . ( nx - n0 )__


F.Q
onde
2
F é a superfície do esfregaço em cm ;
Q é o fator de remoção da contaminação.

Na determinação da contaminação em superfícies de contato pela medida direta, nas mesmas


condições, o valor observado na superfície será obtido pela correlação:

k = __f . ( nx - n0 )__
Fw
onde,
Fw é a superfície da janela do tubo contador.

FREQUÊNCIA DO TESTE E REGISTROS


A freqüência para o teste dependerá do risco potencial apresentado pela fonte radioativa.
As normas exigem, em situações normais, que as fontes radioativas sejam verificadas pelo
menos uma vez por ano.
As fontes radioativas que geram gases devem ser verificadas uma vez a cada três meses.
As fontes beta aplicadas em terapia por contato, tem ser verificada de acordo com os testes a)
a c), para qualquer aplicação; e a cada três meses de acordo com o teste d).
Os irradiadores com fonte gama devem ser verificados a cada 6 meses.
As inspeções e seus resultados tem que ser registradas, e as informações contidas nestes
registros são as seguintes:
tipo de fonte submetida ao teste;
número de série da fonte;
símbolo químico;
tempo gasto para execução do teste;
data em que o teste foi executado;
método empregado para o teste;
trabalhador que efetuou o teste;
valor registrado no teste aplicado;
valor registrado no levantamento radiométrico;
comentários a respeito das medidas.

REFERÊNCIAS
(1) ISO 1677 - Sealed Radioactive Sources, General , 1977
(2) ISO 2919 - Sealed Radioactive Sources, Classification , 1980
(3) ISO 4826 - Sealed Radioactive Sources, Leak Test Methods , 1979
(4) ISO 9978 - Sealed Radioactive Sources, Leak Test Methods for Recurrent Inspections.
(5) ISO 7205 - Radioelement Gauges, Gauges Designed for Permanent Installation , 1986.
(6) CNEN-NE-3.01 - Diretrizes Básicas de Radioproteção , 1988
(7) CNEN-NE-5.01 - Transporte de Materiais Radioativos , 1988.
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