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Curso EaD Tratamento da Dependência Química no contexto Hospitalar

(Hospital Geral e Hospital Psiquiátrico) e das Clínicas Especializadas


GOVERNO FEDERAL REPRESENTANTE-RESIDENTE ASSISTENTE E
COORDENADORA DA ÁREA PROGRAMÁTICA Apresentação Geral
PRESIDENTE DA REPÚBLICA Maristela Baioni
Jair Messias Bolsonaro COORDENADORA DA UNIDADE DE PAZ
VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA E GOVERNANÇA Olá!
Antônio Hamilton Martins Mourão Moema Freire Bem-vindos ao curso de Tratamento da Dependência Química no contexto Hospitalar (Hospital
GERENTE DE PROJETO
Geral e Hospital Psiquiátrico) e das Clínicas Especializadas.
MINISTRO DE ESTADO DA CIDADANIA
Ronaldo Vieira Bento Rosana Tomazini
A Dependência Química é considerada uma doença multifatorial, crônica e recidivante,
ASSISTENTE DE PROJETO caracterizada pelo uso compulsivo da substância em questão, apesar das consequências
SECRETÁRIO NACIONAL DE CUIDADOS
Aline Santana
E PREVENÇÃO ÀS DROGAS negativas - mas é também, reconhecidamente, tratável.
Quirino Cordeiro Junior
DIRETORA DE PREVENÇÃO, EQUIPE PROJETO EDITAL Nº 02/2021 A complexidade desse transtorno requer, em seu tratamento, estratégias igualmente
CUIDADOS E REINSERÇÃO SOCIAL PRESIDENTE - CEPP complexas. A evolução da ciência da dependência química nas últimas décadas revolucionou
Cláudia Gonçalves Leite Thiago Marques Fidalgo nossa compreensão sobre esse fenômeno, trazendo consigo respostas mais efetivas.
COORDENADORA-GERAL FORMAÇÃO VICE-PRESIDENTE - CEPP
Elis Viviane Hoffmann Andrea de Abreu Feijó de Mello O profissional que atua na área da dependência química se depara com constantes desafios
que permeiam os espectros psicológicos, sociais e biológicos, tornando assim, fundamental
COORDENADOR GERAL DO PROJETO que possua no seu arcabouço teórico conhecimentos sólidos em todas essas dimensões que
Cláudio Jerônimo da Silva
compõem a etiologia da dependência química e através das quais ela se manifesta. Em uma
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS COORDENADORA PEDAGÓGICA DO PROJETO doença em que a recidiva é a regra, não a exceção, cabe ao profissional atuante se aprimorar
PARA O DESENVOLVIMENTO Clarice Sandi Madruga e instrumentalizar de forma constante.
(PNUD)
CONTEUDISTAS ESPECIALISTAS
REPRESENTANTE-RESIDENTE Ana Paula Dias Pereira Reunimos aqui um time único e altamente qualificado de profissionais que atuam nas
Katyna Argueta André de Queiroz Constantino Miguel áreas da clínica psiquiátrica, psicológica, da pesquisa e do ensino, trazendo para você
Leonardo Gomes Moreira uma oportunidade de consolidar e atualizar seus conhecimentos sobre tratamento da
REPRESENTANTE-RESIDENTE ADJUNTO
Maria de Fátima Padim dependência química.
Carlos Arboleda
Ronaldo Ramos Laranjeira
Sérgio Marsiglia Duailibi
Esperamos que o curso proporcione não só o aperfeiçoamento de técnicas e protocolos
Susana Mesquita Barbosa
de atuação para cada modalidade de serviço e profissional atuante, mas também propiciar
Todo o conteúdo do Curso Tratamento da Dependência Química no contexto Hospitalar (Hospital Geral e Hospital Psiquiátrico) e das Clínicas Especializadas, da Secretaria
reflexões e críticas, muitas vezes fundamentais para o estabelecimento de práticas mais
Nacional de `Políticas sobre Drogas, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas, do Ministério do Estado e da
Cidadania do Governo Federal 2022 e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, da Organização das Nações Unidas, está licenciado sob a Licença Pública
efetivas no processo da recuperação.
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nd/4.0/deed.pt_BR

Bons estudos.
BY NC NO
Coordenação do Curso
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MÓDULO 4
Modalidades no tratamento da dependência química
Neste módulo, estudaremos sobre os formatos de tratamentos com evidências
de eficácia, levando em consideração os guias de boas práticas estabelecidos por
instituições, associações e organizações internacionais, tais como NIDA (National
Institute on Drug Abuse-EUA), APA (American Psychology Association-EUA), NICE
(National Institute of Health Excellence-Grã Bretanha), Centro de Dependências e
Saúde Mental (Canadá) e EMCDDA (European Monitoring Centre for Drugs and Drug
Addiction-Europeu).

Abordaremos, também, os modelos de tratamento com evidências de eficácias, como


os de tratamento básico, tratamentos de desintoxicação, atendimento ambulatorial
e internações de curta e longa duração. Apresentaremos os modelos de tratamento
específicos, como os tratamentos para famílias, mulheres, população LGBTQI+,
adolescentes. Por fim, falaremos dos modelos de tratamento realizados no Brasil.
Está curioso para conhecer os ambientes de tratamento? Bons estudos!

Autoria
André de Queiroz Constantino Miguel
Clarice Sandi Madruga
Kátia Isicawa de Sousa Barreto Bons estudos.
Rogério Adriano Bosso

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OBJETIVOS DO MÓDULO sumário

SUMÁRIO
UNIDADE 1 – FORMATOS DE TRATAMENTO COM EVIDÊNCIA DE EFICÁCIA...............................................................05
Determinação de eficácia, efetividade e melhores práticas
Pesquisa multicêntrica
Evidência, níveis de evidência e seu papel na ciência 1. Compreender sobre os formatos
Melhores Práticas
Órgãos de referência que propõem melhores práticas no tratamento da Dependência Química de tratamento com evidências
Boas práticas em tratamento propostas pelo National Institute on Drug Abuse (NIDA) – Estados Unidos
Boas práticas em tratamento propostas pela Associação Americana de Psicologia (American Psychology Association – APA) – de eficácia.
Estados Unidos da América.
Diretrizes SAMHSA (Substance Abuse and Mental Health Services Administration)
Boas práticas em tratamento propostas pelo Centre for Addiction and Mental Health – Canada
Boas práticas em tratamento propostas pelo Instituto Britânico de Excelência em Saúde (NICE- National Institute of Health 2. Apresentar os guias de boas
Excellence) – Reino Unido
Boas práticas em tratamento propostas pelo Centro de Monitoramento Europeu de Drogas e Droga Dependência (EMCDDA- práticas de tratamento da
European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction).
dependência química utilizados
UNIDADE 2 – MODALIDADES DE TRATAMENTO COM EVIDÊNCIAS DE EFICÁCIA.....................................................20 por instituições, associações e
Modalidades de Tratamento Básico
Desintoxicação organizações internacionais.
Tratamento Ambulatorial
Internação Curta
Internação Longa
Modalidades de Tratamentos Específicas 3. Compreender sobre os modelos
Serviço para Família
Serviço para Mulheres de tratamento baseados
Serviço para LGBTQI+
Serviço para Jovens e adolescentes em evidências bem como
Grupos de autoajuda compreender os modelos de
Tratamento para o Tabagismo
Tratamento para dependência de maconha tratamento utilizados no Brasil.

UNIDADE 3 – MODALIDADES DE TRATAMENTO DISPONÍVEIS NO BRASIL................................................................26


Desintoxicação
Atendimento Ambulatorial
Modelos de Internação para Tratamento dos usuários de Álcool e outras Drogas
Tratamento de Curta Permanência
Tratamento de Longa Permanência

REFERÊNCIAS...............................................................................................................................................................33

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UNIDADE 1
FORMATOS DE TRATAMENTO COM EVIDÊNCIA DE EFICÁCIA
Abordamos anteriormente, de maneira rápida, sobre o que Existem exigências metodológicas específicas para que
consideramos ser uma “evidência científica” e sobre os possamos afirmar que certa intervenção ou programa
critérios para definição das práticas baseadas em evidência. seja considerado eficaz. Primeiramente, é necessário que
Iremos, agora, aprofundar esse conhecimento e aplicá- existam dois grupos de comparação: o chamado grupo
lo para compreender a origem das melhores práticas no teste, ou grupo “experimental”, e um outro grupo chamado
que tange aos formatos e modalidades de tratamento em “grupo controle”. Tal característica irá definir o estudo como
dependência química. sendo Experimental.

Para que possamos comparar os grupos, a única diferença


Determinação de eficácia, efetividade entre eles precisa ser a própria intervenção, ou seja, esses
e melhores práticas grupos precisam ter em sua composição pessoas o mais
semelhantes possível, como, por exemplo, participantes da
Uma determinada intervenção e/ou tecnologia em saúde mesma idade, classe social, residentes na mesma região,
é considerada eficaz quando produz uma melhoria sobre mesmo gênero ou sexo dentre outros. Esses tipos de amostra
um determinado problema, em uma população específica são chamados de amostras pareadas. É importante que haja
(PORTELA, 2000; BRASIL, 2019). A eficácia mede o essa seleção das amostras estudadas, uma vez que uma
funcionamento de uma determinada intervenção e/ou comparação entre grupos que não apresentem o máximo de
tecnologia em saúde, sob condições ideais e controladas, semelhança possível pode levar a resultados distorcidos, o
observada por meio de estudos experimentais. que chamamos em pesquisa de vieses (BRASIL, 2019).
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pesquisas randomizadas é que a alocação aleatória diminui


a possibilidade do fator de confundimento, uma vez que
dispersam igualmente entre os grupos os fatores que poderiam
influenciar nos resultados (OLIVEIRA; CAMARA, 2010).

A realização de pesquisas experimentais, chamadas de


ensaios clínicos controlados e randomizados, é uma das
ferramentas mais poderosas para avaliar intervenções no
campo da saúde. Através dessa metodologia é possível o
A existência de grupos comparativos nos quais o pesquisador estabelecimento de uma relação causal entre a intervenção
“intervém”, ou seja, aplica a intervenção a ser testada e seu efeito. (BRASIL, 2019)
diferencia essa metodologia dos estudos observacionais,
em que só se observa, não se controla ou interfere, apenas
identifica e mede indicadores observáveis. Combinada
à metodologia experimental, faz-se necessário que o
pesquisador aloque a amostra nos grupos de forma aleatória,
eliminando possíveis vieses de seleção, de forma a parear os
grupos a serem comparados, para que se diferenciem, apenas,
quanto a presença da intervenção testada.

A alocação dos participantes da pesquisa de forma aleatória


é chamada de amostragem randomizada. Um ponto forte das

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Pesquisa multicêntrica

É considerado um ensaio clínico multicêntrico todo estudo


cooperativo entre diferentes centros de pesquisa. O objetivo
da parceria entre os centros é obter uma fundamentação
sólida de resultados massivos. Para que seja realizada a
pesquisa multicêntrica, faz-se necessário elaborar um
protocolo das atividades que serão realizadas durante a
pesquisa, se requerido, pelas autoridades regulatórias.
Dessa forma, pode-se garantir a robustez e a uniformidade
operacional dos resultados e, somente assim, esses
poderão ser considerados como parte das observações
finais do objeto de estudo. Diversas são as limitações para a realização de ensaios
controlados randomizados e multicêntricos, uma vez
Os ensaios clínicos controlados e randomizados que requerem grandes financiamentos, infraestruturas
quando replicados em diferentes centros de pesquisa adequadas e equipes qualificadas. Além disso, todos os
(multicêntricos) são considerados o “padrão-ouro” entre resultados devem ser divulgados, fundamentados em
todos os tipos de pesquisa, com o intuito de guiar a toda estatísticas que os assegurem e amparados pela relevância
prática clínica baseada em evidências. clínica (benefícios clínicos) da intervenção, sejam eles
positivos, negativos ou não significativos. Sendo assim,
na avaliação das evidências de eficácia de determinada
intervenção (seja uma modalidade de tratamento, ou

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uma abordagem psicossocial), devemos considerar qual


o grau das evidências disponíveis, ou seja, quais são as
Evidência, níveis de evidência
metodologias utilizadas para a obtenção de cada um dos
e seu papel na ciência
resultados divulgados.
A prática baseada em evidências está organizada em
um sistema de classificação de evidências hierarquizado
DIFERENÇA ENTRE EFICÁCIA E EFETIVIDADE de acordo com o delineamento da pesquisa, isto é, da
Quando alguma intervenção ou tecnologia em saúde se abordagem metodológica escolhida para o desenvolvimento
mostra eficaz e produzem melhorias em uma população, do estudo.
em condições reais, observamos o conceito de efetividade.
Portanto, a efetividade avalia o funcionamento de Baseado na categorização da Agência de Pesquisa e
intervenções em um contexto habitual, fora de ambiente
Qualidade em Saúde (Agency for Healthcare Research and
controlado ou artificial (PORTELA, 2000; BRASIL, 2019).
Quality – AHRQ) dos Estados Unidos da América, a qualidade
A efetividade pode ser considerada, na pesquisa clínica,
das evidências é classificada em sete níveis.
como um passo além da eficácia, uma vez que considera
fatores como aplicação de recursos, viabilidade e Evidências provenientes de revisão sistemática ou metanálise
replicabilidade de algo que já teve eficácia comprovada. Nivel 1 de todos relevantes ensaios clínicos

Evidências derivadas de pelo menos um ensaio clínico


Vale ressaltar que as medidas para determinar eficácia e Nivel 2 randomizado controlado bem delineado.
efetividade de uma determinada intervenção ou tecnologia
Evidências obtidas de ensaios clínicos bem delineados sem
em saúde é feita pelos mesmos indicadores de resultados. Nivel 3 randomização

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Evidências provenientes de estudos de coorte e de caso- Relatório de casos ou dado obtido de forma sistemática, de
Nivel 4 controle bem delineados. Nivel 5 qualidade verificável ou dados de avaliação de programas.

Evidências originárias de revisão sistemática de estudos Opinião de autoridades respeitáveis baseada na competência
Nivel 5 descritivos e qualitativos. Nivel 6 clínica ou opinião de comitês de especialistas, incluindo
interpretações de informações não baseadas em pesquisas.
Evidências derivadas de um único estudo descritivo ou
Nivel 6 qualitativo. FONTE: GALVÃO, 2006

Nivel 7
Evidências oriundas de opinião de autoridades e/ou relatório Do nível 1 ao 5 existe uma variação dentro de cada nível que
de comitês de especialistas
vai de A-D, que reflete a credibilidade científica da pesquisa.
FONTE: GALVÃO, 2006.
Por exemplo, se a pesquisa é categorizada no nível 1-A
significa que o estudo tem o delineamento adequado;
Já a qualidade dos estudos baseados em evidências é
entretanto, se a pesquisa é classificada no nível 1-D significa
classificada em seis níveis, conforme apresentado na
que o delineamento possui falhas e a confiança nos
ilustração abaixo.
resultados deve ser questionada.

Nivel 1 Metanálise de múltiplos estudos controlados. Práticas “baseada em evidências” consistem em métodos,
Nivel 2 Estudo individual com delineamento experimental abordagens ou protocolos de atendimento que tiveram sua
eficácia e/ou efetividade comprovadas, através de diversos
Estudo com delineamento quase-experimental como estudo
estudos, utilizando metodologias científicas para a avaliação
Nivel 3 sem randomização com grupo único, pré e pós-teste, séries
temporais ou caso controle. de intervenções terapêuticas

Estudo com delineamento não-experimental como pesquisa Quando consideramos a pesquisa na literatura para a
Nivel 4 descritiva correlacional e qualitativa ou estudos de caso. determinação de intervenções baseadas em evidência,
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uma metodologia chamada METANÁLISE é considerada com SAIBA MAIS


o maior grau de evidência, uma vez que agrupa e valida,
através de técnicas estatísticas, resultados advindos de Um ótimo exemplo da aplicação do método científico para a
diferentes estudos. comprovação de eficácia foi o desenvolvimento das vacinas
para a COVID-19.
A seguir a classificação das diferentes metodologias quanto
a sua capacidade de fornecer evidências científicas. O ano de 2020 foi marcado pela corrida de cientistas
para o desenvolvimento de vacinas contra COVID-19 para
disponibilizar à população, como resposta de enfrentamento à
pandemia de Coronavírus. Não bastava apenas ter uma vacina,
mas ela precisava ser eficaz. Assim, o processo de diferentes
estudos para desenvolvimento de vacinas estava recorrente
nos meios de comunicação.

O desenvolvimento de uma vacina segue exatamente


os mesmos critérios para a determinação de eficácia e
efetividade, além de uma série de critérios de segurança em
saúde pública. Segundo o Instituto Butantã, o processo de
desenvolvimento de uma vacina é dividido em três etapas:

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1ª Etapa: pesquisa básica sobre o vírus e identificação de A partir desse exemplo com estudos de vacinas, podemos
novas propostas de vacinas. compreender que os estudos para medir eficácia de uma
intervenção ou tecnologia em saúde acontecem em condições
2ª Etapa: realização de testes pré-clínicos (in vitro e/
ideais e controladas (PORTELA, 2000; BRASIL, 2019).
ou in vivo), com o objetivo de observar a segurança e o
potencial da vacina.

3ª Etapa: Ensaio Clínico.

Fase 1: Estudos realizados em seres humanos para Melhores Práticas


avaliar a segurança da vacina;
As melhores práticas são aquelas que levam em
Fase 2: Tem como objetivo estabelecer a consideração as evidências científicas, as experiências
imunogenicidade; clínicas e as necessidades do paciente. Podemos ter
práticas embasadas em evidências científicas com
Fase 3: Tem como objetivo estabelecer a eficácia da resultados positivos em experiência clínica que quando
vacina, por meio de ensaio controlado entre o grupo aplicadas para um determinado público, não apresentam
teste (amostra com intervenção) e o grupo controle bons resultados. Assim, é preciso observar as necessidades
(amostra sem intervenção). do paciente.
Segundo a OMS e a ANVISA, a eficácia geral recomendada
é de ao menos 50%. Portanto, se a vacina atinge pelo Pode-se dizer que a definição de boas práticas engloba o
menos 50% de eficácia, ela pode ser disponibilizada para a encontro das melhores formas de intervenção baseadas
população. em evidências disponíveis, até aquele momento, para um
determinado problema a ser solucionado. No caso do uso

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de drogas, pode-se encontrar na literatura muitos manuais associações e organizações internacionais que
de boas práticas que foram elaborados por grupos de desenvolveram guias de referências para os formatos de
pesquisadores de diversas partes do mundo. Esses grupos tratamentos.
tomam como base, os resultados das pesquisas mais atuais
no campo no momento da escrita. Assim, as instituições, associações e organizações nas
quais nos embasamos são:
Agora você sabe que todas as vezes que os pesquisadores • National Institute on Drug Abuse (NIDA) – Estados Unidos da América
se referirem ao uso de “intervenções baseadas em • Associação Americana de Psicologia (APA) – Estados Unidos da
evidências”, eles trarão para a prática clínica abordagens América
de tratamento que já foram, profunda e exaustivamente, • Centre for Addiction and Mental Health – Canadá
• Instituto Britânico de Excelência em Saúde (NICE- National Institute
estudadas em diversos países e com populações distintas
of Health Excellence) – Reino Unido
(BRASIL, 2019).
• Centro de Monitoramento Europeu de Drogas e Droga Dependência
(EMCDDA- European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction)
– Comunidade Européia

Órgãos de referência que propõem


melhores práticas no tratamento
da Dependência Química
Para falarmos sobre as abordagens e formatos de
tratamento com evidência de eficácia, precisamos
compreender as boas práticas propostas por institutos,

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Boas práticas em tratamento 2. O tratamento precisa estar imediatamente disponível. Pelo fato
de muitos usuários de drogas estarem ambivalentes quanto a
propostas pelo National Institute on seu desejo de receber ajuda, é fundamental que os serviços
Drug Abuse (NIDA) – Estados Unidos disponham de uma estrutura preparada para receber um indivíduo
imediatamente após a sua iniciativa de buscar tratamento.
3. O serviço precisa assistir o paciente em suas múltiplas
O Instituto Americano de Abuso Drogas (NIDA) desenvolveu
necessidades e não apenas o uso de drogas.
seu guia de boas práticas baseadas em pesquisas no 4. Aderir ao tratamento é fundamental para que esse seja efetivo.
campo da dependência química. Nele destacam-se 13 Estudos sugerem que permanecer aderente por no mínimo três
pontos que devem ser contemplados e utilizados por meses está associado a melhores prognósticos, como o de
serviços de tratamento da dependência química, a saber: abstinência.
5. Terapias comportamentais individuais, em casal, família ou grupos
1. A dependência química é uma doença complexa, porém tratável, são utilizadas em maior frequência e com maior evidência de
que afeta as funções cerebrais bem como o comportamento do eficácia.
usuário. O abuso de drogas produz alterações cerebrais estruturais 6. Tratamentos farmacológicos podem ser efetivos, especialmente
e funcionais que podem persistir por um longo período após a quando associados a tratamentos psicossociais.
interrupção do uso das substâncias. Isso, em parte, explica porque 7. Todo serviço deve ter um planejamento individualizado para cada
usuários de drogas estão em risco de recaída mesmo após um longo paciente, precisando ser modificado continuamente a fim de
período de abstinência. se adequar às novas demandas que possam emergir durante a
• Não existe um tratamento único apropriado para todos os indivíduos. recuperação do paciente.
O tratamento precisa variar dependendo de características do 8. Muitos dependentes de substâncias também apresentam outras
paciente e do tipo de droga da qual ele é dependente. É preciso comorbidades psiquiátricas (ex. transtornos de humor) bem como
adequar serviços, técnicas e tratamento às demandas específicas complicações clínicas (ex. cirrose hepática). O tratamento integral
de cada indivíduo para que o tratamento possa ser efetivo. do paciente, contemplando todos os possíveis diagnósticos, deve
ser um dos objetivos do serviço.

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9. A desintoxicação é somente uma das etapas do tratamento. Quando 1. Terapia cognitivo comportamental;
feita de forma isolada e não integrada às outras ações de tratamento 2. Manejo de contingências;
terá pouco efeito na recuperação de longo prazo do paciente. 3. Terapia por reforçamento comunitário com manejo de contingências;
10. O tratamento não precisa ser voluntário para ser efetivo. Sanções 4. Terapia de aumento de motivação;
familiares, de trabalho ou impostas pelo judiciário podem aumentar a 5. Terapia comportamental de família/casal, e
retenção e o sucesso do tratamento. 6. Terapia de facilitação dos 12 passos.
11. O uso de drogas durante o tratamento deve ser monitorado
constantemente. Saber que seu uso está sendo monitorado pode ser Trataremos sobre cada uma das abordagens psicossociais
um grande incentivo ao usuário. Adicionalmente, saber rapidamente baseadas em evidência em momento específico.
da existência de um lapso ou uma recaída pode ser importante para
o serviço repensar as estratégias de tratamento a serem usadas
nestes contextos.
12. Serviços especializados em dependência química devem testar Boas práticas em tratamento
todos seus pacientes para HIV/AIDS, hepatites B e C, tuberculoses propostas pela Associação
e outras doenças transmissíveis (devido à alta prevalência Americana de Psicologia (American
dessas doenças nesta população). Oferecer aconselhamentos em
redução de riscos para essas doenças, bem como, uma rede de
Psychology Association – APA) –
encaminhamento para o tratamento destas doenças é importante. Estados Unidos da América.
A Associação Americana de Psicologia (APA) desenvolveu
Intervenções psicossociais recomendadas pelo NIDA um manual sobre “Práticas de tratamento com eficácia
Entre as intervenções psicossociais com eficácia baseadas baseada em evidência para transtornos por uso de
em evidências, o NIDA sugere as sequintes intervernções substâncias” (Evidence-based treatment practice for
para transtornos da dependência: substance use disorder) (APA, 2005). Uma das principais

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contribuições deste manual foi dividir, de forma clara, o fluxo segundo estágio de tratamento ativo, todo paciente deve receber
de atenção ao paciente em três estágios: um conjunto de intervenções psicossociais e/ou farmacológicas
adequadas para o seu caso, sempre prezando a escolha por
1. Triagem, intervenção breve e encaminhamento. Neste primeiro estágio de abordagens com evidência de eficácia.
triagem, todo indivíduo com necessidade de atendimento em hospitais 3. Engajamento contínuo como parte de um plano de recuperação de
gerais, pronto-socorro, unidades básicas de saúde e ambulatórios longo prazo. No terceiro e último estágio, o manual destaca que a
médicos deve passar por uma breve triagem com um profissional dependência química é uma doença crônica e para que haja uma
treinado, geralmente um enfermeiro. Este enfermeiro deve aplicar um redução dos riscos de recaída é importante manter o paciente
questionário que contemple uso de risco, abuso e dependência para aderente e engajado ao tratamento por um longo período.
as substâncias psicoativas mais prevalentes na região (geralmente Por conta disso, os serviços devem desenvolver ações que
álcool). Importante lembrar que este instrumento precisa apresentar respondam às demandas destes pacientes (geralmente difere
evidência de eficácia, ser estruturado, breve e validado para aquela daquelas dos pacientes que estão iniciando a abstinência) para
população. Após ser feita a triagem, o procedimento deve ser encerrado mantê-los aderidos.
para todos os indivíduos que não estiverem em risco ou apresentando
abuso ou dependênciade substâncias. Intervenções psicossociais recomendadas pelo APA
2. Tratamento ativo que incluam desintoxicação, tratamento Do ponto de vista das intervenções psicológicas, este
ambulatorial e de comorbidades. Aqueles em risco ou apresentando
manual destaca as seguintes intervenções maior evidência
um padrão de abuso são encorajados a receber uma “intervenção
de efetividade:
breve”, realizada no próprio serviço por um profissional treinado,
1. Entrevista motivacional;
com duração de duas a quatro semanas. Todos aqueles com um
2. Terapia de aumento de motivação;
padrão de consumo mais grave e, possivelmente, de dependência,
3. Terapia cognitivo comportamental;
bem como aqueles que não apresentaram uma melhora com a
4. Terapias de casal/família estruturadas;
intervenção breve, devem ser imediatamente encaminhados para
5. Manejo de contingências;
os serviços especializados em dependência química mais próximo à
sua residência. Destaca-se que este estágio do tratamento também 6. Tratamento por reforço comunitário, e
é, na verdade, uma ação de prevenção secundária e terciária. No 7. Terapia de facilitação dos 12 passos.

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Importante enfatizar que tais técnicas não são excludentes, Diretrizes SAMHSA (Substance Abuse and Mental Health
podendo ser praticadas tanto em conjunto como em Services Administration)
parte do tratamento. No que diz respeito aos tratamentos Advindas dos Estados Unidos da América, as diretrizes
farmacológicos, o manual sugere que nem todo paciente SAMHSA (Substance Abuse and Mental Health Services
necessita tratamento medicamentoso e que apenas Administration) trazem modalidades para o tratamento
as medicações com eficácia comprovada devem ser de diferentes substâncias, discriminando a população
utilizadas. Além disso, destaca a importância de aplicá- em que apresentam melhor eficácia bem como o grau de
las em conjunto com intervenções psicossociais, já que evidência disponível:
tal procedimento está diretamente associado a uma maior
eficácia da intervenção.

MODALIDADES DE TRATAMENTO SEGUNDO O SAMHSA


TRATAMENTO SUBSTÂNCIAS POPULAÇÕES GRAU DE EVIDÊNCIA
Desintoxicação Álcool, opióides, cacaína, crack Adultos, pacientes com transtornos psiquiátricos graves, moradores de rua NIVEL 4

Tratamento
Resicencial Álcool, opióides, cacaína, crack Adultos, pacientes com transtornos psiquiátricos graves, moradores de rua NIVEL 5
(internação)
Aconselhamento Álcool, opióides, cacaína, maconha Adultos, adolescentes, pacientes com transtornos psiquiátricos graves, moradores de rua NIVEL 2
Individual
Aconselhamento
em Grupo Álcool, opióides, cacaína, maconha Adultos, adolescentes, pacientes com transtornos psiquiátricos graves, moradores de rua NIVEL 5

Grupos de Álcool, opióides, cacaína, crack, Adultos, adolescentes, pacientes com transtornos psiquiátricos graves, moradores de rua NIVEL 5
Autoajuda maconha

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Boas práticas em tratamento canadense para tratamento e reabilitação de abuso e


propostas pelo Centre for Addiction dependência de substâncias (Best Practice: Substance
Abuse and Rehabilitation).
and Mental Health – Canada
O governo do Canadá, através de seu Ministério da Saúde Este guia propõe um tipo de tratamento considerando as
(Health Canada), desenvolveu o guia de boas práticas substâncias de abuso, bem como seu público-alvo.

Tratamento Substâncias População-Alvo


1. Serviço de rastreio (Assessment service) Todas Todo tipo de usuário
2. Serviço médico em dependência (Addiction medical service) álcool, opioides e benzodiazepínicos Todo tipo de usuário
3. Unidade médica de desintoxicação (Medical withdrawal unit) álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco Todo tipo de usuário
álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco, maconha,
4. Tratamento aberto complementar em dependência (outpatient concurrent addictions treatment service) Todo tipo de usuários
cocaína e estimulantes
álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco, maconha,
5. Serviço de internação complementar em dependência (concurrent addictions inpatient treatment service) Todo tipo de usuário
cocaína e estimulantes
6. Serviço para dependência cocaína (cocaine service) cocaína Todo tipo de usuário
7. Clínica de dependência de nicotina (Nicotine dependence clinic) tabaco Todo tipo de usuário
álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco, maconha,
8. Serviço para família Familiares de usuários
cocaína e estimulantes
álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco, maconha,
9. Serviço para mulheres Mulheres
cocaína e estimulantes
álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco, maconha,
10. Serviço arco-íris (Rainbow service) Comunidade LGBT
cocaína e estimulantes
álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco, maconha,
11. Serviço indígena (Aboriginal service) Comunidade Indígena
cocaína e estimulante

12. Serviço para jovens com dependência e/ou transtornos concorrentes (Youth addiction and concurrent álcool, opioides e benzodiazepínicos, tabaco, maconha, Jovens de
disorder services) cocaína e estimulantes 14 a 24 anos

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Boas práticas em tratamento boas práticas do Reino Unido. Neste manual, destaca-se
a importância da triagem e encaminhamento de indivíduos
propostas pelo Instituto Britânico de em risco, abuso ou dependência de drogas para tratamentos
Excelência em Saúde (NICE- National especializados. O manual menciona a importância do serviço
Institute of Health Excellence) – em se adaptar às demandas do paciente, uma vez que estas
Reino Unido se transformam durante todo percurso de recuperação.
Por último, é destacada a importância do acompanhamento
O Instituto Britânico de Excelência em Saúde (NICE)
continuado do paciente mesmo após o término do tratamento
desenvolveu um manual sobre tratamentos psicossociais
(NTA, 2017).
efetivos para dependência química.

As técnicas que se destacam neste guia são: Boas práticas em tratamento


• Intervenção breve dos grupos de autoajuda, baseados
nos 12 passos, e propostas pelo Centro de
• Tratamento de Manejo de Contingências. Monitoramento Europeu de Drogas e
Droga Dependência (EMCDDA-
Esta última técnica vem sendo usada não só para promover European Monitoring Centre for Drugs
abstinência e retenção ao tratamento, como também para and Drug Addiction).
garantir a aderência a tratamentos coadjuvantes, como o de
HIV/AIDS, Hepatite e Tuberculose (NICE, 2017). O Centro de Monitoramento Europeu de Drogas e Droga
A Agência Britânica de Tratamento em Abuso de Dependência (EMCDDA) utiliza como guias de boas práticas,
Substâncias (NTA- National Treatment Agency for entre outros, os manuais do NICE (2017) e NTA (2017).
Substance Misuse), desenvolveu também um manual de Além destes, o EMCDDA sugere o manual da Organização

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Mundial da Saúde - OMS (2009) para o tratamento de • Atividades de lazer;


dependência de opioides. Embora as características do • Moradia;
• Grupos de autoajuda, e
tratamento de opioides (principalmente heroína) sejam
• atendimentos específicos voltados para demandas de mulheres,
diferentes do tratamento para dependência de crack
mulheres grávidas ou amamentando, adolescentes, portadores de HIV/
(principalmente quanto ao tratamento farmacológico), AIDS e Hepatites B e C e pessoas com comorbidades psiquiátricas graves.
existem alguns pontos semelhantes entre o perfil do
usuário de heroína europeu com o do usuário de crack no Como é possível observar, essas diretrizes internacionais
Brasil. Ambos são, em geral, usuários de múltiplas drogas apresentam muitos pontos em comum entre si estando,
que se envolvem em comportamentos de risco para a também, de acordo com as diretrizes brasileiras no que se
contaminação com doenças transmissíveis e muitos refere ao tratamento, recuperação e reinserção social.
se encontram em situação de rua. Por conta disso, vale
considerar alguns pontos importantes destacados pelo
manual da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009).

Primeiramente a OMS destaca que as duas intervenções


psicossociais com mais evidência de eficácia são os
tratamentos cognitivo comportamental e o manejo de
contingências. O manual também destaca a importância
de se oferecer:

• Treinamentos de habilidades sociais;


• Treinamento vocacional;

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UNIDADE 2
MODALIDADES DE TRATAMENTO COM EVIDÊNCIAS DE EFICÁCIA
Modalidades de Tratamento Básico De acordo com os guias de boas práticas apresentados
anteriormente, as modalidades de tratamento básico são:
Nem todo paciente vai se beneficiar da mesma forma • Desintoxicação;
de um mesmo tratamento. Diversos motivos - culturais, • Tratamento Ambulatorial;
sociais, econômicos, psicológicos - além de características • Internação Curta, e
diferentes das dependências fazem com que não exista um • Internação Longa.
único modelo efetivo no tratamento da dependência para
todos os indivíduos. Dependendo dessas variáveis, algumas
pessoas podem precisar de tratamentos mais intensivos
enquanto outras de tratamento mais extensivos. Do
Desintoxicação
mesmo modo alguns requerem tratamento medicamentoso A grande maioria dos programas de tratamento considera a
enquanto outros de tratamentos com abordagens desintoxicação como a primeira fase de tratamento. Nesta
psicoterápicas. Por este motivo, faz-se importante saber fase, período no qual a droga é eliminada do corpo, a maioria
desenvolver uma gama de tratamentos diferentes a fim de dos pacientes passa por diversos efeitos fisiológicos agudos
ajudar o maior número de pessoas com as características e, potencialmente, perigosos de caráter extremamente
mais variadas possíveis. aversivos. Por isso é importante desenvolver um contexto
específico, com auxílio farmacológico adequado, para
minimizar os riscos e sofrimento do paciente.

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A desintoxicação é um procedimento médico que tem como


objetivo manejar o período de síndrome de abstinência
Tratamento Ambulatorial
comum nas primeiras semanas. Ela é mais utilizada no Os tratamentos ambulatoriais podem variar em estrutura e
tratamento da dependência de álcool e opioides (devido intensidade, ainda assim existe uma gama alta de estudos
às características fisiológicas da abstinência dessas apontando diversas técnicas que possuem evidência de
substâncias). O uso de medicação para minimizar essas eficácia e que devem ser absorvidas por esses serviços.
síndromes é parte integral do tratamento. A desintoxicação O tratamento ambulatorial, quando comparado aos
deve ser feita na primeira fase da internação de curto, tratamentos de internação, têm um custo de investimento
médio ou longo prazo (KLEBER, 1996). menor, no que diz respeito à implantação e execução. Além
disso, o tratamento ambulatorial tende a ser mais adequado
É importante ter claro que a desintoxicação por si para as pessoas que não tiveram suas vidas totalmente
só não resolve os problemas psicológicos, sociais e desestruturadas, por exemplo, que ainda possuem
comportamentais associados à dependência de drogas, empregos ou apoio social e familiar.
portanto, quando aplicadas sozinhas, não produzem
mudanças comportamentais necessárias para a Tratamentos ambulatoriais podem ser de baixa intensidade,
recuperação do paciente. A desintoxicação pode ser oferecendo pouco mais do que informações sobre os riscos,
realizada em hospitais, serviços de desintoxicação ou ou prejuízos ligados às drogas com estratégias para reduzi-los
em contexto domiciliar, com acompanhamento médico. A (como intervenção breve). Outros modelos ambulatoriais
continuidade do tratamento em contexto de internação, podem ser mais intensivos e estruturados, podendo ser
ambulatorial e/ou grupos de autoajuda é altamente sugerido comparável aos programas de internação. Nestes casos,
após o período de desintoxicação (KLEBER; GAWIN, 1986). oferecem um leque de atividade durante todo o dia com
treinamentos profissionalizantes e moradia assistida,

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dependendo das características e necessidades individuais


do paciente. Em muitos programas ambulatoriais, grupos de
Internação Curta
12 passos são componentes importantes do tratamento. As internações curtas geralmente ocorrem em contextos
Alguns programas ambulatoriais também foram hospitalares com períodos que tendem a variar de 3 a 6
desenvolvidos para tratar pacientes com problemas clínicos semanas. Esses programas foram desenvolvidos inicialmente
(ex: cirrose hepática ou tuberculose) e outros diagnósticos para comportar a fase de desintoxicação de alcoolistas nos
psiquiátricos graves (ex: esquizofrenia) concomitante anos 1980, devido a intensa síndrome de abstinência vivida
aos seus transtornos por uso de drogas. Existe alta nessa fase. Nesse período de internação é comum a inclusão
evidência de que tratamentos ambulatoriais que fazem de reuniões de grupos de 12 passos, bem como grupos de
uso de técnicas comprovadamente eficazes são efetivos prevenção de recaída e treino de habilidades.
em aderir o paciente ao tratamento, reduzir o consumo de
drogas, promover abstinência continuada para pessoas Existem evidências de que, assim como para a
com dependências de diversas substâncias. Junto a isso, desintoxicação, a internação curta como forma de tratamento
tratamentos ambulatoriais são efetivos no tratamento de isolada produz pouco resultado. Por este motivo, na
mulheres, adolescentes, moradores de rua e pessoas com imensa maioria das vezes esse tratamento vem associado
comorbidades psiquiátricas graves (DUTRA et al, 2008; a tratamentos ambulatoriais. Nestes casos, existem
BAIRD et al 2014; HOGUE et al 2014; HUBBARD et al 2003; evidências mostrando que, para pacientes refratários que
TANNER-SMITH, 2013). não estão respondendo ao tratamento ambulatorial sozinho,
a internação curta seguida de tratamento ambulatorial é
efetiva em promover a abstinência e aderir o paciente ao
tratamento ambulatorial (BRUNETTE et al, 2001; HUBBARD
et al, 1997; SIMPSON et al, 1997).

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Internação Longa com transtornos mentais graves e indivíduos respondendo ao


sistema de justiça criminal (BUTZIN et al, 2005; INCIARDI et al,
Os programas de internação longa mais conhecidos e 2004; ICIARDI et al, 1993; SACKS et al, 2008;).
difundidos são as Comunidades Terapêuticas (CTs), que têm
períodos de permanência que variam de 6 a 12 meses de Modalidades de Tratamentos
duração. As CTs têm como principal objetivo a manutenção Específicas
da abstinência, mas devem atuar também no processo de
reinserção social do indivíduo. Para isso dispõem de uma
gama de atividades terapêuticas, incluindo outros residentes,
Serviço para Família
funcionários e os contextos sociais do dia a dia da comunidade Serviços para família oferecem atendimento individual e/ou
como componentes ativos de tratamento. em grupo para familiares de usuários de drogas que podem
estar ou não aderidos a algum tipo de tratamento. Esses
O tratamento oferecido em CTs deve ser estruturado e com serviços também disponibilizam terapias de casal ou de
atividades destinadas a ajudar os pacientes a avaliarem família realizadas com o usuário e seus familiares.
crenças prejudiciais, padrões de comportamentos destrutivos
e adotar novas formas mais harmoniosas e construtivas Serviço para Mulheres
para interagir com os outros. Muitas CTs podem incluir outros
serviços de apoio como formação escolar e profissional. Serviços para mulheres oferecem grupos com atividades
Pesquisas mostram que as CTs são eficazes em promover estruturadas exclusivamente para mulheres, os quais
a abstinência podendo também ser modificadas para trabalham questões específicas com diferentes enfoques
tratar indivíduos com necessidades especiais, incluindo tais como planejamento de metas, treinamento de
adolescentes, mulheres, pessoas em situação de rua, pessoas habilidades sociais e prevenção para recaída.

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Serviço para LGBTQI+ no tratamento das dependências químicas. Os grupos de


autoajuda podem ser desenvolvidos isoladamente ou como
Destinado à comunidade LGBT, os serviços oferecem parte dos tratamentos de internação e ambulatoriais. Grupos
grupos com atividades estruturadas exclusivamente de autoajuda são efetivos no tratamento da dependência de
para a comunidade LGBT. Os grupos trabalham questões substâncias (DONOVAN et al, 2013; TONIGAN; BEATTY, 2011;
específicas vividas por essa população, utilizando TONIGAN, 2008; TONIGAN et al, 2002; TONIGAN et al, 1996;
diferentes enfoques tais quais planejamento de metas, DONOVAN; WELLS, 2007; RICE et al, 2014; TONIGAN et al, 2013;
treinamento de habilidades sociais e prevenção de recaída. RYNES et al, 2013; RICE; TONIGAN, 2012).

Serviço para Jovens e adolescentes Os grupos de autoajuda podem ser utilizados em diferentes
tipos de programas de tratamento, mas podem também
Serviços que oferecem tratamentos individualizados e funcionar de forma completamente autônoma. Mais de 90%
personalizados para adolescentes e jovens adultos em das cidades dos EUA possuem pelo menos um espaço onde se
risco, abuso ou dependência de substâncias e outras reúnem gratuitamente grupos de autoajuda para discussão de
comorbidades psiquiátricas. Os serviços oferecem terapias problemas ligados às drogas. De forma resumida, esses grupos
individuais e em grupo, manejo de casos, atendimento buscam, através do diálogo entre pares, ajudar um ao outro a
psiquiátrico e suporte familiar. promover um estilo de vida livre de drogas. Pesquisas apontam
para eficácia e principalmente para custo eficácia (devido ao
Grupos de autoajuda extremo baixo custo dessas intervenções) no tratamento da
dependência química (MAGILL; RAY, 2009; FERRI et al, 2006;
Os grupos de autoajuda, como os Alcoólicos Anônimos (AA) TONIGAN, 2008; TONIGAN et al, 1996).
e Narcóticos Anônimos (NA), possuem uma longa história
Falaremos mais sobre grupos de mútua ajuda em outro momento.
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Tratamento para o Tabagismo dos déficits cognitivos e ajudá-los na melhoria de seu


funcionamento cognitivo.
Consiste em tratamento ambulatorial aberto para toda
população que queira reduzir ou cessar o uso de tabaco. O programa é baseado na abstinência durante as seis
São oferecidos um leque de intervenções tais como semanas de tratamento. O aconselhamento e o tratamento
consultas com médicos e enfermeiros especializados são voluntários. O tratamento foca na conscientização
no tema, tratamento farmacológico, terapias de grupo de possíveis déficits cognitivos dos pacientes em sete
semanais estruturadas e abertas, aulas psicoeducacionais. domínios. Estes aspectos são pedagogicamente retratados
Todas as abordagens buscam desenvolver estratégias para por meio de imagens e histórias que ajudam os pacientes
interromper o uso do tabaco. a entenderem as diferenças entre um estado normal (não
intoxicado) e um estado dependente da maconha. As ações
Tratamento para dependência desenvolvidas no tratamento são: informação e apoio,
de maconha aconselhamento, educação (competências, habilidades
etc.), desintoxicação ambulatorial e psicoterapia.
Essa é uma modalidade de tratamento específica proposta
nas diretrizes da rede de assistência no Reino Unido. O
tratamento é baseado na teoria da psicologia cognitiva e
no conhecimento farmacológico da ação dos canabinoides,
como seus efeitos, a dinâmica do processo de eliminação,
neuropsicologia cognitiva e terapia cognitiva, visando
compensar a perda qualitativa do funcionamento cognitivo.
O objetivo principal é ajudar pacientes na identificação

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UNIDADE 3
MODALIDADES DE TRATAMENTO DISPONÍVEIS NO BRASIL
Vamos compreender, agora, as modalidades de tratamento saúde, tipos de atendimentos e tratamentos realizados),
para o Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) utilizadas melhorando, assim, a qualidade da assistência prestada.
no Brasil e como as Redes de Atenção Psicossocial (RAPS-
SUS) e de Assistência (SISNAD) estão organizadas para
contemplar essas modalidades de tratamentos.

Para compreender as diferentes modalidades previstas de


tratamentos para a dependência química, faz-se necessário,
primeiramente, compreender o conceito de REDE.

Consideramos “Rede” o conjunto de serviços, programas,


projetos e benefícios que são prestados diretamente ao
cidadão ou por meio de convênios com organizações sem
fins lucrativos. A formação da “Rede” se dá quando existe O Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de
integração na comunicação entre esses dispositivos. Assistência Social (SUAS), o Sistema Único de Segurança
A integração dessa comunicação permite maiores Pública (SUSP) e o Sistema Nacional de Políticas Públicas
conhecimento em relação ao usuário da REDE (informações sobre Drogas (SISNAD) compõem a rede mais ampla
sobre doenças anteriores, número de acessos à rede de relacionada aos transtornos aditivos. Qualquer serviço

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prestado na área da dependência química deverá se manter Idealmente, cada serviço para tratamento de transtornos
em constante contato com esses sistemas. aditivos deve mapear a rede do seu território, identificando
seus equipamentos e serviços prestados. É importante que
Constituição de uma rede assistencial ampla e diversificada todo profissional atuante na área da Dependência Química
para as pessoas com dependência química para oferta conheça as unidades de referência que sua comunidade
de tratamento de acordo com suas necessidades clínicas pode contar, não só os serviços públicos, mas, também, os
e sociais. Seguem os serviços que devem compor a rede disponíveis na sociedade civil organizada.
assistencial: promover e garantir a articulação e a integração
das intervenções para tratamento, recuperação, reinserção Assim, as modalidades de tratamento são distribuídas em
social, por meio das Unidades Básicas de Saúde, Ambulatórios, grandes eixos: Desintoxicação, Tratamento Ambulatorial,
Centros de Atenção Psicossocial, Unidades de Acolhimento, Acolhimento em equipamentos de longa permanência e
Comunidades Terapêuticas, Hospitais Gerais, Hospitais Internações.
Psiquiátricos, Hospitais-Dia, Serviços de Emergências, Corpo
de Bombeiros, Clínicas Especializadas, Casas de Apoio e Traremos aqui uma descrição breve de cada modalidade. O
Convivência, Moradias Assistidas, Grupos de Apoio e Mútua aprofundamento sobre cada equipamento da RAPS e SUAS
Ajuda, com o SISNAD, o SUS, o SUAS, o SUSP e outros sistemas será feito em outros momentos.
relacionados para o usuário e seus familiares, por meio de
distribuição de recursos técnicos e financeiros por parte do
Estado, nas esferas federal, estadual, distrital e municipal (a Desintoxicação
ampliação da rede de assistência aos dependentes químicos
A desintoxicação é ofertada para atendimentos específicos
segue o que ocorreu com a “Nova Política Nacional de Saúde
para tratamento de intoxicação por uso de substância
Mental”, publicada em dezembro de 2017. (BRASIL, 2020).

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ou crise aguda de abstinência. Segundo o NIDA, a


desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do
Atendimento Ambulatorial
tratamento e por si mesma contribui pouco para mudança O atendimento ambulatorial consiste em um ambiente
a longo prazo de uso de droga. Tendo em vista o risco que de tratamento não intensivo, caracterizado por serviço
a abstinência abrupta de algumas substâncias possui, com equipe multiprofissional composto por médicos,
esta é uma fase essencial e é considerada a abordagem psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais,
introdutória de um processo de recuperação e/ou nutricionistas, dentre outros.
tratamento de longa permanência.
As estratégias ofertadas neste serviço são: Tratamento
Os serviços disponíveis nas RAPS para a desintoxicação farmacológico (psiquiátrico); Psicoterapias individuais ou
são os serviços de Atenção Hospitalar - como Hospital em grupo; Avaliação nutricional; Atendimento em Terapia
Geral, Hospital Psiquiátrico, Pronto Socorro (PS)/Unidade Ocupacional e Acompanhamento Terapêutico.
de Pronto Atendimento (UPA), Clínicas Especializadas - bem
como alguns serviços da Atenção Psicossocial, como CAPS Na RAPS o tratamento ambulatorial está
III, CAPS AD III. previsto nos serviços de Atenção Psicossocial,
notadamente realizado nos CAPS (Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) e nos Ambulatórios
Especializados.
Falaremos com mais profundidade sobre os serviços da RAPS em
outro momento

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Modelos de Internação para dependência grave, está sob risco de morte ou com sua
crítica prejudicada devido ao uso. Sendo assim, o indivíduo
Tratamento dos usuários de Álcool está sem condições de percepção de sua real condição
e outras Drogas e sem possibilidades de avaliar devida e adequadamente
Antes de iniciarmos a temática sobre internação de curta suas escolhas.
e longa permanência, precisamos entender como, no
Brasil, são estabelecidos os modelos de internação para No Brasil, as modalidades de internação para tratamento
tratamento dos usuários de Álcool e outras Drogas. de usuários de álcool e outras drogas foram previstas em
2006, pela Lei 10.216 (também conhecida como Lei Paulo
Você já deve ter ouvido falar nas modalidades de internação Delgado), e dispõe sobre os três modelos de internação:
existentes no Brasil, bem como as discussões e polêmicas voluntária, involuntária e compulsória.
em relação às modalidades de internação involuntária e
compulsória. Mas você as conhece? Sabe como funciona Em 2019, com a publicação da Lei 13.840, que dispõe
cada uma dessas modalidades de internação? sobre o Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas,
estabeleceu-se que o tratamento do usuário de
Antes de prosseguirmos, é importante ressaltar que a substâncias psicoativas deverá ser realizado na rede de
internação, seja ela de qual modalidade for, é sempre atenção à saúde, priorizando a modalidade de tratamento
o último recurso que o profissional que trabalha com a ambulatorial e incluindo, excepcionalmente, a internação
demanda da dependência química deve lançar mão, pois em unidades de saúde e hospitais gerais. Esta lei prevê
as internações são indicadas para casos severos de dois tipos de internação: voluntária e involuntária, e só
dependência, em que a pessoa acometida pelo transtorno serão indicadas quando os recursos extra-hospitalares se
por uso de substâncias fecha critérios diagnósticos para mostrarem insuficientes.

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Internação Voluntária: deverá ser precedida de declaração escrita Na Atenção Especializada, os Centro de Atenção
da pessoa solicitante de que optou por este regime de tratamento. Psicossocial III (CAPS III) e os Centro de Atenção
Psicossocial Álcool e Droga III (CAPS AD III).
Internação Involuntária: deve ser realizada após a formalização
da decisão por médico responsável; será indicada depois da As Clínicas especializadas, conforme estabelecido no
avaliação sobre o tipo de droga utilizada, o padrão de uso e Parecer do Conselho Federal de Medicina nº 8/2021, podem
na hipótese comprovada da impossibilidade de utilização de realizar tratamentos, uma vez que possuem estrutura para o
alternativas terapêuticas previstas na rede de atenção à saúde; processo de internação, tanto de curta permanência quanto
perdurará apenas pelo tempo necessário à desintoxicação, de longa permanência.
no prazo máximo de 90 (noventa) dias, tendo seu término
determinado pelo médico responsável.
Tratamento de Longa Permanência
Previsto no componente da RAPS “Atenção Residencial de
Tratamento de Curta Permanência Caráter Transitório”, o tratamento de longa permanência
O tratamento de curta permanência está previsto na RAPS é realizado em Unidades de Acolhimento e Serviços de
no Componente de Atenção Hospitalar, bem como alguns Atenção em Regime Residencial, entre os quais estão as
serviços da Atenção Especializada. Este tratamento prevê Comunidades Terapêuticas.
duração de internação de até 15 dias.
A RAPS determina que o tempo de permanência seja
Na Atenção Hospitalar os serviços disponíveis são: Hospital estabelecido de 6 e 9 meses, para Unidade de Acolhimento
Geral e Hospital Psiquiátrico. e CTs, respectivamente.

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Vale ressaltar também que o tratamento de Longa


Permanência poderá ser realizado em Clínicas
Especializadas, conforme estabelecido no Parecer do
Conselho Federal de Medicina nº 8/2021. Nota-se que o
tratamento de longa permanência realizado pelas Clínicas
Especializadas são propostas de internação, seguindo o
conceito de internação estabelecido pela Lei 13.840 de 2018.

De forma geral, pode-se ilustrar a organização das


diferentes modalidades de tratamento quanto a sua
demanda de atenção à saúde, conforme apresentado
na figura ao lado.

A pirâmide representa os dispositivos presentes nas redes


de acordo com a quantidade disponível
de serviços em nossa sociedade. Na
base da pirâmide, por exemplo, constam
as empresas, escolas, ambulatórios
gerais, ambulatórios de especialidades,
Programa de Saúde da Família e
Unidades Básicas de Saúde. Devido
ao seu grau mínimo de especialização,

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esses dispositivos executam ações mais abrangentes, Lei 13.840/2019: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-


2022/2019/lei/L13840.htm
tais como prevenção e ações educativas. Já no topo da
pirâmide, podemos identificar os centros de excelência, Lei 10.216/2006: http://www.planalto.
representados por instituições acadêmicas, centros gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm
especializados em tratamentos etc.

O encaminhamento de cada um desses serviços deve SAIBA MAIS


ser feito de forma individualizada. O importante, enquanto
profissional que trabalha inserido nessa complexa Para compreender mais sobre as legislações
rede, é compreender a inter-relação e a importância da sobre drogas no Brasil, acesse a cartilha com 11
complementariadade entre elas, pois cada dispositivo perguntas para você conhecer a legislação sobre
não deve fazer o papel de outro. drogas no Brasil.
Referência: https://site.mppr.mp.br/arquivos/File/cartilha_11-perguntas-
para-voce-conhecer-a-legislacao-sobre-drogas-no-brasil.pdf

SAIBA MAIS

A lei 13.840/2019 dispõe sobre os modelos de


internação voluntária e involuntária. Já a lei
10.216/2006, Lei Paulo Delgado, dispõe sobre
os três modelos de internação: voluntária,
involuntária e compulsória.

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Curso EaD Tratamento da Dependência Química no contexto Hospitalar (Hospital Geral e Hospital Psiquiátrico) e das Clínicas Especializadas
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Curso EaD Tratamento da Dependência EXPEDIENTE


Curso EaD Tratamento da Dependência Química no contexto Hospitalar
Química no contexto Hospitalar (Hospital (Hospital Geral e Hospital Psiquiátrico) e das Clínicas Especializadas

Geral e Hospital Psiquiátrico) e das CENTRO DE ESTUDOS PAULISTA GESTOR DO PROJETO


Marcello Renato de Souza
DE PSIQUIATRIA - CEPP
Clínicas Especializadas COORDENADOR GERAL DO PROJETO
Cláudio Jerônimo da Silva FACULDADE PAULISTA DE
CIÊNCIAS DA SAÚDE - SPDM
COORDENADORA PEDAGÓGICA DO PROJETO
Clarice Sandi Madruga DIRETOR GERAL FPCS
Nacime Salomão Mansur
CONTEUDISTAS ESPECIALISTAS
Ana Paula Dias Pereira GERÊNCIA ADMINISTRATIVA
André de Queiroz Constantino Miguel Daniela Junqueira Stefani
Kátia Isicawa de Sousa Barreto
Leonardo Gomes Moreira NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Maria de Fátima Padin
Ronaldo Ramos Laranjeira COORDENAÇÃO
Sérgio Marsiglia Duailibi Susana Mesquita Barbosa
Susana Mesquita Barbosa
EQUIPE
CONTEUDISTAS CONVIDADOS Bruna Veroneze Léo
Eduarda de Oliveira Barbosa Claudia Scheidt Guimarães
Gleuda Simone Apolinário Eudes Miranda Bomfim
Guilherme Athayde Ribeiro Franco Expedito Alexandre da Silva Neto
Guilherme S. de Godoy Filho Juliana Prado Ferrari Spolon
Homero Pinto Vallada Filho Maycon Anderson Pires Novais
Joselaine Ida da Cruz
Juliane Piasseschi de Bernardin Gonçalves PROJETO EDITORIAL
Mario Sergio Sobrinho Guerra Comunicação
Neliana Buzi Figlie
Paula Maria Greco Cipro
Quirino Cordeiro Junior
Rogério Adriano Bosso
Zila Van Der Meer Sanchez

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