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MÓDULO 2
A Etiologia da Dependência Química e seu Diagnóstico
Sejam bem-vindos ao módulo 2. Nesse módulo vamos tratar e discutir sobre A Etiologia da Dependência Química e seu Diagnóstico, partindo
da seguinte questão: Por que as pessoas se tornam dependentes químicas?
Responder a essa questão não é uma tarefa fácil. Todas as doenças mentais, em particular os Transtornos por Uso de Substâncias (TUS),
não possuem como causa um fator etiológico único, mas uma série de fatores que interagem entre si produzindo conjunto de sintomas e
sinais conhecidos de Síndrome de Dependência Química. As pessoas se tornam, portanto, dependentes de substâncias porque possuem
fatores que as predispõem a isso.
A ciência já apontou que os fatores predisponentes da dependência química são múltiplos e estão presentes nos diversos domínios da vida:
no domínio biológico (bioquímico e genético); no domínio psicológico, no domínio familiar; no domínio ambiental ou social. Sendo assim,
várias teorias foram desenvolvidas para explicar a gênese da dependência, entretanto nenhuma teoria sozinha foi capaz de abranger todos
os aspectos envolvidos na gênese dessa doença. Por exemplo, é sabido que existe uma predisposição genética para o desenvolvimento
da dependência química, pois estudo entre gêmeos monozigóticos mostraram maior prevalência da doença entre irmãos, entretanto, essa
teoria não explica por exemplo porque não são todos os gêmeos invariavelmente desenvolve dependência quando um deles é afetado.
Do mesmo modo, a teoria do aprendizado social enfatiza a influência dos pares e da sociedade no comportamento de beber, por exemplo,
mas essa também não esgota todos os aspectos envolvidos na dependência química. A teoria cognitivo comportamental enfatiza o papel
da estrutura de personalidade na formação de crenças psicológicas permissivas ao uso de substância, mas não considera com tanta
ênfase o papel do ambiente social.
É preciso que conheçamos as principais teorias que explicam a gênese da dependência química, mas sem perder de vista que todas elas
apresentam uma explicação que pode não abranger todos os casos existentes, justamente pela natureza multifatorial dessa doença.
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SUMÁRIO
UNIDADE 1: O QUE CAUSA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA? A EVOLUÇÃO HISTÓRICA
DA COMPREENSÃO DO TRANSTORNO.........................................................................................................................05
Evolução histórica dos modelos etiológicos
Modelo Moral 1. Conhecer a etiologia da
Modelo da Temperança Dependência Química, a partir
Modelo Clínico (da degenerescência neurológica)
Abordagem proibicionista da perspectiva histórica;
O colapso dos modelos iniciais e seus desdobramentos contemporâneos
Teorias Naturais
Modelo Biológico 2. Compreender a evolução dos
Modelos Teóricos da Psicologia modelos teóricos que explicam
UNIDADE 2: MODELOS TEÓRICOS CONTEMPORÂNEOS.............................................................................................14 os transtornos por uso de
A perspectiva da Aprendizagem Social substâncias;
Modelagem
Reforçadores
Estímulos Ambientais 3. Aprofundar as concepções
Autoeficácia modernas da Síndrome da
Fatores decisórios para o consumo de substâncias e as Teorias Cognitivas
Dependência Química, levando
UNIDADE 3: A PERSPECTIVA DIMENSIONAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA...............................................................21 em conta seu caráter multifatorial,
Modelo Biopsicossocial
Fatores Biológicos apreciando as dimensões
Fatores Psicológicos psicológica, biológica e social;
Fatores Sociais
Fatores de risco e proteção na dependência química
4. Entender o paradigma usado
UNIDADE 4: SISTEMAS DIAGNÓSTICOS: CONCEITOS BÁSICOS E CLASSIFICAÇÕES...............................................25
Manuais de Diagnósticos de Doenças e Transtornos Mentais pelos Manuais Diagnósticos
Critérios Diagnósticos CID-11 para determinar os transtornos
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5-TR
Critérios de Síndrome de Dependência segundo o DSM-5-TR por uso de substâncias;
Encerramento
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................................................30
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UNIDADE 1
O QUE CAUSA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA? A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA COMPREENSÃO DO TRANSTORNO
O S I D ADE
(como a obtenção da tecnologia agrícola e as
Grandes Navegações), as bebidas com altas
RI
C U concentrações alcoólicas (30 a 70%) começaram
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ajuda, interfere no seu processo de recuperação e, por Foram eles que, pela primeira vez, consideraram que a
muitas vezes, dificulta sua reinserção social. intensidade do consumo variava ao longo de um continuum
de gravidade e que os problemas ocorriam ao longo do
Ilustração de castigos aplicados em praças públicas para tempo, ou seja, tinham uma história e um curso natural.
pessoas com transtornos relacionados ao uso de substâncias
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A figura ilustra uma representação dos tratamentos físicos este necessariamente levaria os indivíduos a situações ou
aplicados nos tratamentos de “ebriedade”. lugares predisponentes ao abuso do álcool.
SAIBA MAIS
Fonte: Diseases of Inebriety from Alcohol, Opium, and other Narcotic Drugs: Its Etiology, Pathology, Treatment, and Medico-Legal
Relations. JAMA. 1893; XX (21):590. doi:10.1001/jama.1893.02420480018009
Fonte: FLORENTINE FILMS. A Lei Seca Nos Estados Unidos: Um
País Entregue à Bebida. Direção de Ken Burns e Lynn Novick.
Roteiro: Geoffrey C. Ward. Florentine Films. 2011. Disponível
Abordagem proibicionista em https://www.youtube.com/watch?v=c2rsWuIDUpI
Na maior parte do início do século XIX surge nos Estados Para avançarmos para a temática de modelos etiológicos,
Unidos o movimento social “temperança”, um movimento de é importante ter claro até aqui que o processo de uso
leigos, que pregava às massas a abstinência, oferecendo de substâncias na história não é linear e aconteceu em
ajuda individual ao bebedor. O movimento de temperança na diversos momentos e territórios diferentes o que possibilitou
década de 1920, evoluiu para a radicalização, acreditando não só um, mas diversos modelos teóricos.
não ser possível nem mesmo o consumo moderado, pois
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Teorias Naturais
As primeiras teorias naturais têm um caráter determinístico
no sentido que se embasaram no conceito de que os
O colapso dos modelos iniciais e seus homens possuem uma tendência inata e universal ao
desdobramentos contemporâneos consumo de drogas. Podemos considerar que essa
perspectiva muitas vezes representa um retrocesso na
As teorias contemporâneas da dependência química nem compreensão do transtorno, uma vez que defende uma
sempre estão relacionadas a uma evolução das concepções concepção moralista onde o dependente era visto como
estabelecidas até 1950, sendo, muitas vezes, baseadas em “fraco”, ou com uma “convicção enfraquecida”. Por
paradigmas retrógrados e pouco científicos. É importante outro lado, também se observa nas teorias naturais uma
analisar cada modelo teórico sob uma perspectiva crítica perspectiva mais neutra, em que refere que a busca por
e, sobretudo, levando em consideração a importância de
seus elementos originais para a construção do alicerce
que embasa as teorias mais modernas e baseadas em
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Na animação Nuggets você conhecerá o Kiwi. Assim, várias linhas de atuação da psicologia propuseram
Ao ver a sua jornada, reflita sobre os efeitos de explicações sobre como a dependência pelo uso indevido
qualquer substância psicotrópica e encontre de substâncias psicoativas se desenvolve. Trataremos,
nas metáforas os conceitos de tolerância, nesse módulo, sobre as teorias psicológicas que embasam
riscos do uso e desenvolvimento da abordagens terapêuticas com maior evidência de eficácia.
dependência.
SAIBA MAIS
Referência. Animação Nuggets. Produção: Bilder Presents. Roteiro e direção: Andreas
Hycade. 2014. Canal: http://www.hycade.de Disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=HUngLgGRJpo
Saiba mais sobre a perspectiva histórica dos modelos
etiológicos da dependência química no material didático
do acervo da UNIAD.
Modelos Teóricos da Psicologia
Ref: UNIAD – Unidade de Álcool e Drogas – UNIFESP. Disponível em https://
www.uniad.org.br/?s=modelos+etiol%C3%B3gicos. Acesso ago/2022
As teorias psicológicas estão focadas nos indivíduos,
bem como nos processos que os conduziram ao consumo
desregrado de substâncias psicoativas. Nesse sentido,
procuram entender, por meio da psicoterapia, a natureza
e a qualidade da experiência individual que aumentam
a probabilidade e o risco do desenvolvimento da
dependência química.
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O colapso dos modelos iniciais e seus Com o fim do proibicionismo do consumo de bebida alcoólica,
não era mais possível considerar o álcool um mal por si
desdobramentos contemporâneos só. Desse modo, tanto os indivíduos como a relação que
Até meados do século XX, as classificações diagnósticas
estabeleciam com a substância se tornaram alvos de
dos problemas relacionados ao consumo de álcool e drogas
observações e pesquisas.
traziam dois déficits importantes:
No final do século XX, outras substâncias passaram a ser
1. não consideravam as alterações psicossociais como parte
estudadas como os opiáceos, o tabaco e o café. E, assim, a
da dependência, focalizando em demasia a presença dos
doença do alcoolismo se separou ainda mais das concepções
aspectos biológicos (delirium tremens e complicações
morais e se aproximou da medicina, passando a ser tratada
clínicas);
como uma doença progressiva.
2. não faziam referência a outros modos problemáticos do
consumo.
A partir dos anos 1970, Griffith Edwards e Milton Gross (1976)
propuseram o conceito de síndrome de dependência do álcool
GLOSSÁRIO
(SDA). Tal conceitualização partia de três pressupostos
básicos:
Delirium tremens são sintomas graves de abstinência
de álcool, com possível presença de confusão mental, 1. A dependência é considerada um agrupamento de sinais
agitação e alucinações. A probabilidade de ocorrência e sintomas que se repete com certa frequência em alguns
do delirium tremens está entre o 2º e o 5º dia após a usuários dessas substâncias, sem, no entanto, haver uma
última dose de consumo de álcool, podendo ser fatal causa única ou recorrente;
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UNIDADE 2
MODELOS TEÓRICOS CONTEMPORÂNEOS
A perspectiva da Aprendizagem Social De acordo com essa teoria, o indivíduo inicia o uso de
substâncias quando tem modelos que demonstram
expectativas positivas em relação ao uso. Assim, “o
Diversas vertentes da Teoria Cognitivo-Comportamental
uso inicial é estimulado pela expectativa de reforço do
(TCC) são largamente usadas para compreender os
comportamento envolvendo o uso. Esse reforço pode adotar
transtornos relacionados ao uso de substâncias. A TCC tem
uma variedade de formas e nem todas são diretamente
como alicerce a Teoria de Aprendizagem Social proposta por
decorrentes dos efeitos farmacológicos da substância”
Bandura (1977). Segundo essa teoria, o comportamento de
(ROTGERS; NGUYEN, 2008, p. 276).
uso ou abuso de substâncias é aprendido e sua frequência,
duração e intensidade aumentam em função dos benefícios
psicológicos alcançados.
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A continuação do uso, contudo, Importante ressaltar que esta teoria não desqualifica o
é resultado das propriedades modelo biopsicossocial, apenas lança olhares diferentes para
reforçadoras da substância o convívio com indivíduos ou culturas disfuncionais e propõe
para o indivíduo. Assim, à que a convivência neste ambiente patológico pode aumentar
medida que o indivíduo usa significativamente as chances de uso, abuso ou dependência
a substância repetidamente química, em um continuum.
e desenvolve tolerância aos
seus efeitos, são fortes as A Teoria de Aprendizagem Social apresenta quatros conceitos
expectativas de desfecho (princípios) fundamentais: Modelagem, Reforçadores,
positivo associadas ao uso,
Estímulos Ambientais e Autoeficácia.
ou seja, é a necessidade/
anseio de atingir os efeitos do
primeiro uso que mantém o
comportamento aditivo.
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Modelagem Reforçadores
O princípio da modelagem envolve uma noção de O princípio de reforçadores pressupõe que o consumo de álcool
desenvolvimento: em determinadas culturas, o beber ou drogas é fortemente influenciado por reforçadores positivos
faz parte do crescimento, onde as influências da família e negativos. Os reforçadores positivos estão mais associados
formam comportamentos, crenças e expectativas nos à busca pelo prazer: como sensação de euforia, maior
jovens em relação ao uso do álcool. Ou seja, o consumo do sociabilidade, atenção de outras pessoas. Os reforçadores
álcool é influenciado por modelos de consumo, produzindo negativos, por sua vez, associam-se mais a evitação de
expectativas sobre os benefícios do comportamento de beber. sofrimento: redução da tensão, da ansiedade ou de humor
negativo, alívio de dor, redução da inibição.
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Portanto, um plano de tratamento eficaz deve ter, como um Fatores decisórios para o consumo de
dos objetivos principais, o desenvolvimento de uma forte
e realista confiança no paciente para lidar com situações
substâncias e as Teorias Cognitivas
difíceis da vida sem recorrer ao uso de substâncias.
Os paradigmas das teorias cognitivas sustentam uma gama
de abordagens terapêuticas de grande relevância para o
O indivíduo deve estar preparado para fazer mudanças em sua
tratamento da dependência química. Discutiremos sobre as
vida e no comportamento associado ao uso de substâncias
diferentes abordagens de tratamento no Módulo 6, enquanto
(“estar pronto”). Ele deve também ter vontade de sustentar o aqui, focaremos nos fundamentos dessa teoria que trazem uma
esforço empreendido na mudança (“estar com vontade”) e deve perspectiva etiológica do fenômeno da dependência química.
ter as habilidades (cognitivas, afetivas e comportamentais)
requisitadas para efetivar as mudanças desejadas no As teorias cognitivas se fundamentam na racionalidade
comportamento, pensamento e estilo de vida. Neste modelo, teórica de que o afeto e o comportamento de um indivíduo
uma das etiologias para o uso de substâncias é um baixo nível são, em grande parte, determinados pelo modo como ele
de habilidades interpessoais e na resolução de problemas. estrutura o mundo. Neste sentido, mais importante do que
a situação real, é a avaliação que o indivíduo faz a respeito
SAIBA MAIS dela. Uma mesma situação pode, portanto, desencadear
diferentes emoções (tristeza, raiva, ansiedade etc.).
Na animação Hapiness (felicidade), a vida cotidiana é ilustrada
abordando temas importantes como felicidade, sociedade e Com isso, surgem os chamados fatores decisórios. Durante
substâncias. A animação está disponível na Internet. toda situação de escolha entre fazer ou não o uso, as
Referência: CUTTS, Steve. Hapiness. Animação. Diretor e Roteirista. Steve diferentes áreas dos fatores decisórios são evocadas e
Cutts. 2017. Disponível em https://www.stevecutts.com/animation.html
divididas em: Reforçadores, Capacitadores e Predisposições.
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Capacitadores
• Fatores relacionados diretamente ao comportamento decorrente a tomada de decisão frente a
oportunidade de consumo.
• Disponibilidade e acesso.
• Habilidades socioemocionais, e de enfrentamento.
Predispositores
• Características individuais e exposições ambientais.
• Vulnerabilidade genética na forma de temperamentos ou caracteristicas fisiológicas ou falhas
no desenvolvimento.
• Eventos adversos (abuso sexual, violência doméstica).
• Deficits de habilidades sociais.
• Baixa autoestima.
• Conhecimento sobre a droga.
• Percepção de risco.
• Crenças normativas.
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poderia explicar parte da questão da hereditariedade da mas recentemente a epigenética trouxe luz a essa questão,
dependência química. revelando a complexidade da interação do meio ambiente com
a expressão dos genes.
O aprendizado social decorrente de ambientes com
múltiplos fatores de riscos para beber, desempenham
um papel importante na gênese da dependência química.
GLOSSÁRIO
Estudos em epigenética apontam que o uso de substância
precoce e fatores estressores do ambiente podem alterar
a expressão do gene e contribuir para desenvolvimento da Epigenética é uma série de processos bioquímicos que
dependência química e para os aspectos transgeracionais alteram a expressão de genes de um organismo sem
que transcendem o aprendizado social. Certamente mais alterar a sequência de DNA (Deoxyribonucleic Acid/
estudos devem ser realizados para entender melhor como e Ácido desoxirribonucléico). É produto da interação do
quais genes são ativados pelo ambiente nos humanos. ambiente com o genoma do indivíduo, que determinam o
aspecto funcional na saúde e na doença (Nielsen et al.,
SAIBA MAIS 2012; Vassoler et al., 2014; Nestler, 2014 in Dissertação:
Caroline Peres Camilo). Essas alterações podem ser
mantidas por vários anos, inclusive passados de uma
A EPIGENÉTICA: Estudos demonstram que fatores ambientais
também aumentam a frequência de alcoolismo e outras formas geração a outra, persistindo durante as divisões celulares
de adição. Assim como os genes podem reduzir o nível de por meio da mitose e da meiose (Portela, Esteller, 2010).
substância que o cérebro produz, estes fatores também podem.
Pouco se conhecia sobre a forma como os fatores ambientais
e de aprendizagem social promoviam essas mudanças,
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UNIDADE 3
A PERSPECTIVA DIMENSIONAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Modelo Biopsicossocial
Quando pensamos sobre uso de substâncias psicoativas
e, consequentemente, a dependência química, precisamos
compreender que não se trata de um transtorno resultado
de questões relacionadas exclusivamente à saúde física ou
à saúde mental tampouco às questões morais.
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Fatores Psicológicos
Todos os elementos que compõe os fatores para o desencadeamento
• Distúrbios do desenvolvimento.
da dependência química são considerados FATORES DE RISCO.
• Morbidades psiquiátricas: ansiedade, depressão,
déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de
personalidade.
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Em um levantamento realizado por Hanson (2002), IMPORTANTE: um fator de risco isolado não pode levar à
os principais fatores protetores ao uso de drogas por dependência química.
adolescentes incluem os demonstrados na figura a seguir.
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UNIDADE 4
SISTEMAS DIAGNÓSTICOS: CONCEITOS BÁSICOS E CLASSIFICAÇÕES
GLOSSÁRIO
A necessidade de uniformizar a linguagem e contabilizar
dados estatísticos acerca das doenças, estabelecendo
critérios para classificá-las se faz presente desde os Fisiopatologia é um ramo da medicina que se ocupa em
primórdios da Medicina. estudar os fenômenos que provocam alterações anormais no
organismo durante as doenças, com o objetivo de identificar
Para a psiquiatria, uma das áreas da Medicina, chegar a as origens e as etapas de formações das patologias.
um consenso sobre quais seriam os critérios que melhor
definem as doenças mentais é sempre um desafio por dois
motivos particulares:
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A Classificação Internacional de Doenças e Problemas 4. Evidência de tolerância, sendo necessário cada vez
Relacionados à Saúde (também conhecida como mais doses para a obtenção de prazer originalmente
Classificação Internacional de Doenças – CID 11) é publicada produzido por doses mais baixas.
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar 5. Abandono progressivo de interesses e prazeres em
a codificação de doenças e outros problemas relacionados função do uso (estreitamento de repertório).
à saúde. A CID 11 fornece códigos relativos à classificação 6. Persistência no uso da substância, apesar de
de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, evidências claras dos prejuízos.
aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e
Fonte: World Health Organization (WHO). International classification of diseases: ICD-10.
causas externas para ferimentos ou doenças. A cada Geneva; c2010. Disponível em: http:// www.who.int/classifications/icd/en/index.html.
estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual
corresponde um código da CID 11.
Cabe ressaltar que estes critérios tendem a acontecer
simultaneamente explicitando a gravidade do caso.
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terceiros. Ao melhoramos nossas práticas profissionais, CAMILO, C. P. Estudos epigenéticos em dependentes de crack e cocaína: investigação
da metilação global do genoma. Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina
estamos construindo uma sociedade melhor. da USP sob orientação do Prof. Dr. Homero Pinto Vallada Filho, São Paulo, 2015.
(Disponível em Biblioteca USP de Teses).
GRANT, G. F.; DAWSON, D. A. Alcohol and drug use, abuse, and dependence:
classification, prevalence, and comorbidity. In: MCCRADY, B. S.;
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VOLPICELLI, Joseph, Recovery Option. John Wiley Sons, Inc, New York, 2000
ZWEIG, JM, PHILLIPS, BS & LINDBERG, LD. Predicting adolescent profiles of risk:
looking beyond demographics. Journal of Adolescent Health. 31:343-353. 2002.
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