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A mulher e o ensino da palavra

As passagens que tratam deste assunto são estas: "E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de
homem; esteja, porém, em silêncio." (1 Tm 2:12), e "Priscila e Aquila, o levaram [Apolo] consigo e lhe declararam
mais precisamente o caminho de Deus" (At 18:26).

Muitas irmãs se converteram antes de seus maridos e eventualmente podem conhecer melhor a Palavra, o que às
vezes causa certo desconforto para o varão. A primeira coisa que ele deve fazer é correr atrás do prejuízo e procurar
ler e aprender mais, e não oprimir sua esposa só para não ter seu orgulho próprio ferido por ela conhecer mais.

Pode ser também de a mulher ter uma maior comunhão com o Senhor e melhor discernimento de como agir em
determinadas situações, mas isso não significa que ela esteja atropelando a autoridade do marido. Temos exemplos
disso na Palavra de Deus, como na passagem em que Sara tinha razão e Abraão não. Por isso Deus ordenou ali a
Abraão que escutasse Sara:

"E cresceu o menino, e foi desmamado; então Abraão fez um grande banquete no dia em que Isaque foi
desmamado. E viu Sara que o filho de Agar, a egípcia, o qual tinha dado a Abraão, zombava. E disse a Abraão: Ponha
fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho. E pareceu esta palavra
muito má aos olhos de Abraão, por causa de seu filho. Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos
acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a
tua descendência." (Gn 21:8-12).

Priscila talvez conhecesse melhor as Escrituras que seu marido, e no caso daquela interação com Apolo a mansidão,
graça e suavidade da presença feminina também teria servido para amainar o temperamento forte, energético e
voluntarioso de Apolo. Em empresas onde homens e mulheres trabalham juntos o nível de agressividade dos
homens tende a ser menor. Nas passagens em que esse casal é citado, quando o assunto era a ordem no
matrimônio, sendo o homem cabeça da mulher, o Espírito Santo teve o cuidado de colocar primeiro o nome de
Áquila e depois o de Priscila:

 "E, achando um certo judeu por nome Aquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila,
sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles." (At 18:2).
 "As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áquila e Priscila, com a igreja que está
em sua casa." (1 Co 16:19).

Mas quando o contexto tem a ver com o entendimento da Palavra e a cooperação que Priscila podia dar nessas
situações, o nome dela vem antes do nome de seu marido, muito provavelmente por ela ter maior conhecimento das
Escrituras e um melhor discernimento.

 "E Paulo, ficando ainda ali muitos dias, despediu-se dos irmãos, e dali navegou para a Síria, e com ele Priscila
e Áquila, tendo rapado a cabeça em Cencreia, porque tinha voto." (At 18:18).
 "Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e
lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus." (At 18:26).

Se este raciocínio estiver correto podemos considerar que Romanos 16:3-4 não esteja limitado a uma cooperação do
tipo lavar a roupa, mas efetivamente cooperar na Palavra como ela havia cooperado no caso de Apolo e nesta
passagem está disposta a sofrer por sua fé em Cristo.

"Saudai a Priscila e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida expuseram as suas
cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios." (Rm 16:3-4).

Mas continua sendo mais significativa a passagem em que "Priscila e Áquila, o levaram [Apolo] consigo e lhe
declararam mais precisamente o caminho de Deus.". Ali fica muito claro que ela teve participação ativa em declarar
com maior precisão o caminho de Deus a Apolo, ainda que tenha feito isso dentro da ordem estabelecida por Deus,
que foi em sujeição ao marido e no recôndito de seu lar, e não de forma independente e pública como é comum
encontrarmos na cristandade atual.
Mas como fica essa situação de Priscila à luz da proibição de 1 Timóteo 2? Ali o Espírito Santo deixa claro que à
mulher é vedado ensinar: "E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em
silêncio." (1 Tm 2:12). Quando consulto o dicionário grego vejo que o verbo "ensinar" aí é "didasko", mas lá em Atos
18:26, "Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus", o verbo
"declarar" (ARC) ou "expor" (ARA) é "ektithemi" em grego.

Não sei grego, mas já percebi que para entender o sentido exato de uma palavra é bom procurar onde ela aparece
no grego em outras passagens. No caso de "ektithemi" este verbo no Novo Testamento aparece, além da passagem
de Priscila e Áquila e Atos 18:26, também em Atos 11:4 e 28:23. Veja em que sentido ele é usado nestas duas outras
passagens:

"Mas Pedro começou a fazer-lhes uma exposição [ektithemi] por ordem, dizendo: Estando eu orando na cidade de
Jope..." (At 11:4).

"E, havendo-lhe eles assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava [ektithemi] com
bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos
profetas, desde a manhã até à tarde." (At 28:23).

Fica claro que em Atos 11:4 Pedro apenas expunha os detalhes do que tinha acontecido em sua visita a Jope. Quanto
a Atos 28:23, me parece que o discurso de Paulo teve primeiro a intenção de expor ou declarar [ektithemi] sobre o
Reino de Deus, enquanto persuadia [peitho] seus ouvintes a crerem em Jesus.

Quanto ao termo grego "didasko", da proibição de 1 Timóteo 2:12, ele aparece quase cem vezes no Novo
Testamento e sempre com a conotação de ensino, como quando Jesus ensinava nos evangelhos, como um professor
que ensina seus alunos uma lição que precisam aprender a lição. Enquanto isso, "ektithemi", usado para a exposição
que Priscila fez na companhia e sob a autoridade de seu marido Áquila, tem o sentido de falar a respeito de algo, não
necessariamente de um ensino formal. Existe ainda uma ocorrência de "ektihemi" na versão grega do Antigo
Testamento em Atos 7:21, que em português foi traduzido como verbo criar no sentido da instrução dada por uma
mãe a seu filho. "E, sendo [Moisés] enjeitado, tomou-o a filha de Faraó, e o criou como seu filho.".

Para mim, que tenho por profissão ministrar palestas de assuntos empresariais, fica bem fácil perceber a diferença.
Quando eu lecionava Marketing numa faculdade e num curso de MBA eu ensinava um assunto bem específico aos
meus alunos; mas quando faço uma palestra do mesmo tema faço uma exposição genérica, instrutiva e informativa
sobre um assunto, sem entrar em detalhes ou ter a preocupação de fazer uma prova no final para dar notas à minha
audiência.

Outras dúvidas costumam surgir relacionadas a este assunto quando encontramos as filhas de Filipe profetizando em
Atos 21:8, pois certamente elas tinham esse dom e profetizar significa falar da parte de Deus. Mesmo assim acredito
que sua profecia, que não necessariamente tinha a ver com previsão de eventos futuros, teria mais um sentido
declaratório ou de aviso, como quando em Mateus 28 o anjo, e depois o próprio Senhor, ordenaram a Maria
Madalena e à outra Maria que avisassem os discípulos que ele tinha ressuscitado.

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