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A SOBERANIA DE DEUS (Romanos 9.

1-13)
Os oito primeiros capítulos tratam de como somos justificados e de
como Deus opera em seu povo justo, e por ele.
Romanos 8 termina em um tremendo AUGE de confiança, em
que Paulo explica como Deus garante nossa PERSEVERANÇA final pelo
fato de nossa salvação não ser baseada em nossa vontade ou força
(Ler Rm 8.30, 39).
Mas agora, no final do capitulo oito e inicio do nove, parece-nos
que Paulo antecipa um possível questionamento em sua mente:
“Espere um pouco, Paulo! Você diz que, quando Deus chama alguém,
sempre o conduz por todo o caminho até o final. Mas e quanto aos
judeus? Deus os chamou e veio para eles, mas hoje a maioria dos
judeus rejeita Cristo. Então talvez o chamado e o propósito de Deus
possam ser rejeitados! Se Deus prometeu que Israel seria seu povo,
mas a maioria não creu em Cristo, isso significa que a promessa, o
poder ou a misericórdia de Deus são falhos?”.
Assim, a questão da descrença judaica é de importância vital não
só para as igrejas do primeiro século formadas tanto por judeus
quanto por gentios, mas para nós também. Isso faz com que nos
aprofundemos em quem Deus é e como ele trabalha.
I. Dor Incessante
Talvez um dos aspectos mais impressionantes de Romanos 9 seja
também o menos citado — a agonia emocional de Paulo "... tenho
grande tristeza e incessante dor no coração” (v. 2). Por quê? Por
causa da rejeição do evangelho por parte de “... meus
irmãos, ...segundo a carne. Eles são israelitas...” (v. 3,4). Paulo sabe o
que é conhecer a Cristo e desfrutar de sua justiça; sabe também quais
são as consequências de rejeitar a oferta de salvação de Deus. E por
isso "... eu mesmo desejaria ser amaldiçoado e excluído de Cristo...”,
se isso de alguma forma levasse seus parentes judeus à fé no Messias.
Impressionante! Paulo está dizendo: “Eu abriria mão de todos os
benefícios de conhecer a Cristo de que tenho falado nos últimos oito
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capítulos se de algum modo isso significasse que meus irmãos e irmãs
judeus seriam salvos”. Aqui está um vislumbre do signfica amor ao
próximo.
Paulo nos expoe uma teologia de grande importancia e
complexidade intelectual, no entanto ele faz isso com o coração. Isso
nos ensina demais. Nós precisamos pregar a verdade biblica,
entretanto, o coração precisa ser entregue junto com a mensagem, na
forma de compaixão e empatia.
II. Privilégio rejeitado
Em certo sentido, a rejeição judaica a Cristo é quase inexplicável, já
que eles gozavam de tantos benefícios (v. 4,5) que deveriam tê-los
preparado para Cristo e ter-lhes indicado Cristo.

 A “... adoção...” se refere a Êxodo 4.22 e outras referências nas


quais Israel é chamado de “filho” de Deus. Isso deveria ter
preparado Israel para o ensinamento de Jesus de que, por meio
dele, podemos nos aproximar de Deus em termos tão íntimos
como “Aba” (Mc 14.36).
 A "... glória...” se refere à nuvem da glória visível de Deus —
chamada de shekinah — a MANIFESTAÇÃO de sua presença,
habitando no meio deles no tabernáculo e no templo (Êx 29.42-45;
lRs 8.10,11). Jesus é uma manifestação ainda maior da presença
de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós [...] e vimos a
sua glória...” (Jo 1.14).
 As “... alianças...”se referem a Deus estabelecendo um rela-
cionamento com o povo por intermédio de Abraão (Gn 15),
Moisés (Êx 24.8) e Davi (2Sm 23.5). Em cada um desses casos Deus
cria um relacionamento com eles e promete abençoá-los. Em
todos os casos, no entanto, fala-lhes de um Messias ou
personagem futuro que virá para cumprir o acordo (veja Gn 12.1-
3; Dt 18.18; 2Sm 7.12,13).

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 A “... lei...” se refere a Deus dando os Dez Mandamentos e toda a
lei por revelação a Israel (Dt 4.8). Paulo nos diz em Romanos 2
que, se de fato compreendermos a lei, veremos que não podemos
merecer a salvação e nos voltaremos para Deus em busca de
provisão.
 O "... culto ...” era uma ordem visível de culto. Hebreus 9.1-5 o
descreve bem. Esboça como o povo podia se aproximar de Deus.
Era preciso haver um sacrifício de sangue, uma lavagem e uma
preparação para a purificação, além de um sacerdote que entrasse
em favor do povo. Todos esses rituais prescritos por Deus mostra-
vam que não podíamos nos aproximar de Deus de qualquer
maneira — necessitávamos de sangue para expiar o pecado e de
um sacerdote-substituto. Jesus é nosso sacrifício, nosso sacerdote,
nossa pureza, nosso pão etc. (Hb 8.1-6).
 As "... promessas” se referem a diversas profecias e promessas do
Antigo Testamento sobre a vinda do Messias. (Observe Gn 3.14-
19; 49.10; SI 2.2-7; 16.9,10; 22; Is 7.14; 9.6,7; 52.13-15; Mq 5.2.)
 Os “... patriarcas...” provavelmente se referem não apenas a
Abraão, Isaque e Jacó, mas também a homens como José, Moisés,
Josué, Samuel e Davi. Ora, todas as nações têm grandes líderes,
mas Paulo parece salientar que Deus falou a Israel por meio
desses homens. Quase todos eles previram e prognosticaram a
vinda do Messias.
 “... deles descende o Cristo segundo a carne...” Isso é evidente,
mas costuma ser negligenciado. Jesus era judeu. Para o Filho de
Deus tornar-se humano, tinha de passar a fazer parte de alguma
raça e cultura. Tornando-se judeu, Deus estava dando a esse povo
não só uma grande honra, mas “facilitando” para que se
relacionassem com seu Filho mais do que quaisquer outras
pessoas.
III. Nem todo Israel é Israel

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Então por que os judeus não reconheceram seu rei tão prometido e
por tanto tempo esperado?
“Não é o caso de a palavra de Deus ter falhado...”(Rm 9.6).
Deus transmitira essas promessas e alianças por intermédio dos
“patriarcas” e profetas a Israel; por exemplo, Deus disse a Abraão que
abençoaria seus descendentes (veja Gn 12.1-3).
No entanto, Paulo faz uma distinção importante e radical: "... Porque
nem todos os que são de Israel são israelitas” (Rm 9.6).
Em outras palavras: “Precisamos definir bem o termo ‘Israel’!”. Alguns
que descendem da raça de Abraão, Isaque e Jacó não são o Israel
verdadeiro, e outros que não descendem fisicamente deles são (Paulo
disse isso antes, em 4.11,12,16).
Em seguida, para provar o que está dizendo, ele recorre a dois
exemplos do Antigo Testamento.
Deus prometera a Abraão que seus descendentes, seu “povo”, seriam
abençoados, mas Abraão teve dois filhos — Isaque e Ismael. E era “por
meio de Isaque [que] a tua descendência [seria] chamada” (9.7 —
Paulo está citando Gn 21.12).
Só um dos filhos de Abraão foi aceito por Deus; Ismael era
descendente físico, mas não espiritual de Abraão. Por conseguinte,
explica Paulo, só Isaque era “... [filho] da promessa...” (Rm 9.8) — só
ele nascera de Sara, só ele herdara as bênçãos de Deus (v. 9).
Paulo em seguida demonstra outra vez o princípio nos filhos gêmeos
de Isaque e sua esposa, Rebeca. Embora ambos tivessem ... um mesmo
pai...” (v. 10, NIV) e, portanto, fossem descendentes físicos de Abraão,
só um se tornou seu descendente espiritual e herdou as promessas.
Todavia, ao falar do caso de Jacó e Esaú, Paulo enfrenta outra questão
dificil: “Por que alguns descendentes de Abraão amam a Deus e são o
verdadeiro Israel, e outros não?” (Claro, a partir disso a resposta de
Paulo lidará com a pergunta mais ampla de por que alguém ama a
Deus e por que outros não o amam.)
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Em primeiro lugar, a escolha de Deus em abençoar Jacó e não
Esaú era anterior ao nascimento deles, “pois os gêmeos ainda não
tinham nascido...” (v. 11).
Em segundo lugar, a escolha não fora feita com base no que ele
sabia sobre como seriam os dois meninos. Ela foi feita quando "... os
gêmeos ainda não tinham [...] praticado o bem ou o mal...”. Algumas
pessoas argumentam que Deus simplesmente “antevê” quem aceitará
e quem rejeitará seu caminho, mas o versículo 12 reforça a ideia de
que a bênção vem “... não por causa das obras, mas por aquele que
chama”.
Em terceiro lugar, e como resultado dos dois primeiros aspectos
da resposta (antes do nascimento e sem méritos), a única diferença
entre Esaú e Jacó era "... o propósito de Deus segundo a eleição...” (v.
11).
Além disso, no versículo 13, Paulo parafraseia as palavras de
Deus por meio do profeta Malaquias (1.2,3): "... amei a Jacó, mas
odiei a Esaú...”(Rm 9.13, NIV).
Precisamos ter cuidado para não pensar nesse ódio como algo
idêntico à emoção humana. Existe uma EXPRESSÃO IDIOMÁTICA hebraica
por trás dessas palavras que significa simplismente a escolha de um ao
invés do outro.
Esse ensinamento é fácil de entender, mas difícil de aceitar. Por
isso precisamos esclarecer rapidamente duas objeções particulares.
1. “Quer dizer que Deus é arbitrário? Não. Paulo não está dizendo
que Deus não tem suas razões. Tudo que nos é dito é que as
razões não estão em nós. Não existe nenhuma superioridade dos
que creem em relação aos que não creem.
2. “Por que temos de insistir na doutrina da eleição? Ela causa
tantos problemas." Sim, a “eleição” causa muitas dificuldades.
Mas o melhor motivo para aceitar a doutrina é que toda
alternativa cria mais problemas e dificuldades. A primeira é: sem

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“eleição”, você compromete o ensino central da Bíblia de que
somos salvos só pela graça, não por nossas obras. Se a diferença
entre o ímpio e quem crê está em nós (uma humildade maior,
uma receptividade maior etc.), então somos os verdadeiros
autores da nossa salvação.
IV. A promessa de Deus falhou?
Paulo deu uma resposta abrangente (ainda que talvez desconcertante)
para a pergunta: “A promessa de Deus a Israel falhou?”.
Em primeiro lugar, as promessas de Deus no Antigo Testamento nunca
foram automaticamente dadas a ninguém que descendesse em
sentido físico dos patriarcas. Uma fé espiritual era necessária para
herdar as promessas feitas a Israel.
Em segundo lugar, ele afirma que a fé espiritual que herda as
promessas é, no final, em função da escolha de Deus. O Senhor não
escolheu todo o Israel racial, e, assim, nem todo o Israel racial creu.
Paulo aqui estabeleceu de modo claro a doutrina da eleição: aqueles
que se achegam por livre vontade a Deus são aqueles a quem Deus
escolheu por livre vontade.

SEGUNDA PARTE
Deus é Injusto?
O início de Romanos 9.14 sugere que Paulo já ensinou essa matéria
antes! Ele acaba de declarar que, quando as pessoas não creem, é
porque Deus não as escolheu. Em seguida, de imediato, ele diz: “Que
diremos? Há injustiça da parte de Deus?...”. Ele propõe a pergunta, é
claro, porque sabe que essa é a primeira reação de todos que ouvem
tal ensino! E normal

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