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Vários versículos prediletos daqueles que defendem a dupla predestinação (Deus decretando
salvação e condenação) se encontra no capítulo 9 de Romanos. Mas será que de fato foi essa idéia
que o autor quis passar aos receptores dessa carta? É o que vamos analisar versículo por
versículo.
ALGUMAS CONTRADIÇÕES
Antes de dar partida na leitura, devemos considerar que uma das regras básicas da hermenêutica
é que a bíblia deve explicar a própria bíblia, sem que haja contradição. Sendo assim, como ficaria
essa suposta dupla predestinação em Romanos 9 quando lemos alguns versículos de capítulos
seguintes?
Paulo importa diversas figuras do velho testamento nessa epistolo, a fim de ilustrar a idéia que
queria passar a respeito de Judeus e Gentios.
O Importante é prestar atenção que do começo ao fim Paulo está se tratando de povos e não
indivíduos.
6) Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que
são de Israel são israelitas;
7 nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas:
Em Isaque será chamada a tua descendência. (Gn 21:12)
8 Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os
filhos da promessa são contados como descendência.
9) Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara
terá um filho.
10) E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de
um, de Isaque, nosso pai;
1- Os judeus pensavam que somente por ser descendência de Abraão já seriam salvos, o que
Paulo contradiz de forma tipológica, usando no v7 a passagem em que Abraão coloca pra
fora Agar juntamente com o seu filho gerado fora da promessa.
2- O exemplo do filho de Abraão com Agar reforça a idéia de que somente ser descendente
de Abraão não torna alguém filho da promessa (nem todo Israelita faz parte de Israel
espiritual (v6). É preciso preencher outros requisitos, que no caso da antiga promessa, o
filho de Abraão com Agar não preencheu.
3- Mais a frente no v27 Paulo vai usar uma passagem em Isaías 10:22 para exemplificar esse
requisito necessário (ser um remanescente).
11 porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou
mal ( para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme,
não por causa das obras, mas por aquele que chama ),
12 foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.
13) Como está escrito: Amei Jacó e odiei/aborreci Esaú.
1- De acordo com o contexto, Paulo não trata aqui de indivíduos, mas sim de descendência
(v6, v7,v8). A partir do v9 Paulo começa a trabalhar com antítipos de passagens antigas
para construir a idéia que queria passar de Israel e Gentios.
2- Do v10 ao v13 o antítipo passa a ser os filhos de Isaque, que dentro desse contexto
representa Israel e os Gentios.
3- O v11 trata-se de uma eleição de dois povos que mais tarde se tornariam um. Essa eleição
era segundo um chamado de Deus e por isso, não bastava para o judeu apenas ser
descendente de Abraão. Fica descartada a hipótese da eleição incondicional, pois não
condiz com um chamado, que pode ser cumprido ou não. Se Deus não tivesse elegido dois
povos, não haveria esse chamado para ser atendido e logo suas obras por mais que fossem
boas não seriam frutos de uma consciência salvífica.
4- Paulo importou a frase “o maior servirá o menor” de Gn 25:23 que diz que “o povo
maior servirá o menor”.
6- “Amei Jacó e aborreci Esaú” foi importado de (Ml 1:1-3) e não traz um sentido salvífico.
Deus apenas preferiu Jacó para a finalidade ministerial/patriarcal.
7- Respeitando a construção textual, é anti-bíblico afirmar que Jacó foi predestinado ao céu e
Esaú foi predestinado ao inferno, enquanto todos os contextos trazem a idéia de povos
como elemento base. Do outro modo, teríamos contradição no próprio livro (Rm9:33,
Rm10:9, Rm11:23).
1. Alguns judeus que estavam em Roma cogitavam o fato de Deus ser injusto, pois não
aceitavam a idéia do “povo escolhido por Deus” não serem salvos independente de seus
atos e isso se agravava mais com a inclusão dos gentios. Por outro lado, alguns Romanos
também poderiam estar descontentes pelo fato de Deus ter amado mais o povo de Israel.
N CAP11 Paulo vai explicar que o povo menos amado também estava incluído no plano de
salvação (Rm 11:26).
2. O contexto de Êxodo 33 não trata sobre predestinação ao céu ou ao inferno, mas sim de
Deus ordenando Moisés junto com o seu povo a subir até a terra prometida (v1). Deus
lançaria fora os Cananeus, Amorreus, Heteus, Ferezeus, os Heveus e os Jebuseus (v2). É aqui
que se aplica o dizer “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”.
16) Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas
de Deus, que se compadece.
1. A inclusão de dois povos no plano salvífico não depende das obras e nem da vontade dos
gentios (Esaú) ou judeus (Jacó), mas apenas da vontade de Deus que teve misericórdia de
dois povos, pois toda raça humana caiu em Adão, mas o cordeiro foi imolado antes da
fundação do mundo, antes mesmo da queda (1Pe 1:19-20), a graça já era acessível antes
do primeiro pecado.
2. Os versículos deixa claro que não depende simplesmente de querer, os Judeus acreditavam
que alcançariam a salvação simplesmente por serem filhos de Abraão e poderiam continuar
cometendo pecados (v6,v7). Porém, essa misericórdia depende exclusivamente de Deus,
que decidiu aplicá-la somente em aqueles que estivessem em Cristo (1 Tm 2:5).
1. Paulo não está dizendo que Deus predestinou Faraó ao inferno, pois o propósito era que o
poder de Deus fosse conhecido e seu nome fosse anunciado em toda a terra (Êx 9:13-21).
Por que Deus precisaria predestinar alguém ao inferno para que o nome dele fosse
anunciado?
2. O contexto raiz que Paulo usou em momento algum está tratando de predestinação. O
contexto mostra que Deus manteve Faraó para mostrar seu poder e para que seu nome
fosse anunciado em toda terra (Ex 9:16).
3. A primeira referência de Deus em relação a faraó nesse contexto é que o mesmo já sabia
que ele não libertaria os hebreus (Ex 3:19), mas em momento algum diz que Deus decretou
isso. A partir daí Deus começa a trabalhar algumas ações de faraó até que os propósitos se
completem, ou seja, fazer com que ele conhecesse o poder de Deus e através disso, o nome
de Deus seria anunciado e o povo hebreu liberto.
4. O foco de Paulo aqui é enfatizar a soberania de Deus e não de trazer uma suposta
predestinação fatalista. Deus levantou/manteve faraó de maneira soberana para uma
finalidade de anúncio do nome de Deus e da libertação do seu povo. Isso não nos dá
margem para saber se faraó foi salvo ou não. Da mesma forma Deus escolheu Abraão de
forma soberana para ser pai de muitos povos (Gn 17:14), mas isso não quer dizer que
Abraão foi incondicionalmente salvo.
2. De modo algum o contexto nos mostra que esse endurecer consiste em Deus fazer as
pessoas se desviar para o mau caminho e nem mostra Deus levantando ira imotivada.
3. A idéia que o texto traz é que esse endurecer significa que Deus entrega/abandona tais
indivíduos segundo suas práticas já pecaminosas, obstinando-as mais ainda para tal
propósito e isso não acontece como causa, mas como conseqüência.
4. No contexto raiz, ‘endurecer’ é: ‘ḥzq’ (qashah), que também quer dizer ‘fortalecer’ ou
‘obstinar (persistir)’. Em nenhum dos textos citados essa ação de obstinar/endurecer implica
em predestinação fatalista.
2. Quando Paulo diz que ninguém pode resistir sua vontade, não se trata do convite geral
para a salvação, pois desse modo teríamos que crer no universalismo, pois o convite foi
disponibilizado a todos. (Rm5:18, Ap22:17)
3. Não faz sentido disponibilizar o convite a todos ao mesmo tempo em que decreta quem
aceite e rejeita.
4. Nem toda a vontade de Deus é obedecida e praticada. Tanto é que Adão desobedeceu a
sua ordem. (Gn2:16-17, Gn3:17)
5. O versículo tem como foco mostrar que ninguém consegue contrariar a vontade de Deus
quando ele decide agir de forma arbitrária/soberana. Contudo, nem sempre ele age dessa
maneira. (veja, por exemplo: Gênesis2:16-17, Jeremias7:31 e Atos7:51).
20 Mas,ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a
formou: Por que me fizeste assim?
1. Esse versículo é uma pergunta que Paulo usa para responder a pergunta anterior. ‘quem a
criatura pensa que é para questionar o Criador?’
2. Paulo importou essa pergunta de (Is 45:9), que não trata de predestinação e muito menos
ampara o fatalismo calvinista.
1- Tanto os que serão lançados no lago de fogo, quanto os que entrarão no novo céu, foram
feitos por Deus, uns serão motivo de honra, outros de desonra, mas o fato de ambos terem
sido feitos por Deus, não quer dizer que Deus predestinou as ações e o fim de cada um
deles.
3- Temos uma passagem em outro livro da Bíblia onde o Apóstolo Paulo também usa o
exemplo dos ‘vasos de honra e de desonra’.
2Tm 2: 20) Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns
para honra, outros, porém, para desonra.
21) De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do
Senhor e preparado para toda boa obra.
4- Em ambas passagens fica clara a questão da ‘condição’, na segunda citação (2Tm2:21) isso
fica mais evidente, na primeira citação (Rm9:21) isso ficará claro no capítulo 11
(Rm11:23), que é a parte da conclusão.
1- A ira de Deus é um castigo para os que amam o pecado e não agem segundo o convite da
graça (Rm1:18), ela não é uma ira gratuita/imotivada.
Rm 2:5) Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da
manifestação do juízo de Deus,
6) o qual recompensará cada um segundo as suas obras,
7) a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e incorrupção;
8) mas indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade;
3- Paulo está se referindo aos judeus teimosos e obstinados (Rm2:5) que, dentre outros
pecados, também procuravam estabelecer sua própria justiça ao invés de se sujeitarem à
justiça de Deus (Rm10:3).
4- A palavra ‘preparados’ no grego koiné é ‘katartismenós’ que vem do verbo ‘Katartizo’, que
quer dizer ‘adequar’, ‘preparar’, ‘aperfeiçoar’.
2- 2- Ele diz que esses vasos de misericórdia foram chamados, e, obviamente podemos
entender que aceitaram o chamado, caso contrário, não seriam vasos de misericórdia;
3- O ato de ‘chamar’ não é algo arbitrário no texto, e, nos versículos seguintes o Apóstolo
compara esses vasos de honra com o ‘remanescente’ (Rm9:27), e em momento algum a
Bíblia diz que o remanescente está ligado a algum tipo de predestinação individual
imutável.
4- No v22 temos a palavra “preparados/ katartismenós” ligado aos vasos da ira que pode ser
traduzido para adequar, trazendo a idéia de que esses vasos se adequam. Porém no v23 a
palavra “preparou/ proetoimazo”, ligada aos vasos de misericórdia traduz somente para
preparar de antemão e o próprio v23 diz que Deus os preparou/ proetoimazo antes. Assim
podemos definir que: Os vasos de ira são aqueles que se adéquam para tal ira, enquanto
os vasos de misericórdia foram preparados por Deus. (detalhe: essa ‘glória’ é futura, ou
seja: ser semelhante ao Cristo ressurreto, por isso são preparados antes)
25 Como também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era
meu povo; e amada, à que não era amada.
26 E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu
povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo.
27 Também Isaías clamava acerca de Israel: Ainda que o número dos
filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será
salvo.
1- Os versículos mostram que a inclusão dos gentios no Israel Espiritual já era um decreto de
Deus, mesmo que isso viesse a contrariar os Judeus.
2- A inserção do sgentios é narrada por Paulo como sendo algo que aconteceu na cruz de
Cristo (Ef2:14-16), porém, se Cristo foi imolado antes da fundação do mundo (1Pe1:19-20),
então a salvação também foi disponibilizada aos gentios antes da fundação do mundo, de
modo que: a cruz do calvário (no sentido literal), foi um antítipo do tipo que aconteceu na
eternidade (Kairosfera).
3- O foco da narrativa se dá a partir de dois povos (detalhe: a palavra ‘povo’ aparece três
vezes na soma dos dois versículos), a saber o povo gentio, que passa a ser amado, e o
povo de Israel (judeus), cujo pode ser numeroso como os grãos de areia do mar que,
apenas o remanescente será salvo (Rm9:27, Is10:22-23);
1- O versículo foi importado de (Isaías1:9), no v3 Deus acusa Jerusalém e Judá de não terem
entendimento, e nos v4 e v5 fazem um alerta ao povo corrupto e diz que essas pessoas o
abandonaram. Não existe a idéia de que tais pessoas estavam predestinadas a isso, até
mesmo porque não teria sentido em Deus reprovar seu próprio decreto.
2- No mesmo contexto da referência importada, v17, deixa isso mais claro ainda.
Is 1:17) Aprendei a fazer o bem; praticai o que é reto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das
viúvas.
18) Vinde, então, e argüi-me, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se
tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.
19) Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra.
20) Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada, porque a boca do SENHOR o disse.
1- O versículo fala dos gentios de forma geral e de Israel como judeus (nação), ou seja: não dá
a idéia de predestinação de indivíduos e, além do mais, fala que os gentios alcançaram a
justiça pela fé.
2- E, claro que essa justiça não passa a ser meritória, pois, se havia uma justiça para ser
alcançada, foi porque Deus, sozinho e soberanamente à disponibilizou, tal como fez com a
graça que nos capacita (disponibilizada a todos antes da fundação do mundo).
1- Israel (com exceção dos remanescentes) buscava a salvação através das obras da lei de
Moisés, por isso não alcançaram a lei da justiça (que é pela fé).
3- Logo, existe uma condição e, essa condição está disponível e possível para todos, caso
contrário, o Apóstolo não faria o uso da locução pronominal indefinida ‘todo aquele que’.