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Gênesis 2.4 – 3.

24 (Uma Unidade Textual)

O sofrimento contemporâneo pode levar o homem a perder a esperança.

Quando Moisés escreve esse livro o contexto é o povo saindo de um momento de


sofrimento, vivendo a escravidão do Egito. Nesse contexto o povo foi levado a perder a
esperança de alcançar a terra prometida; quando deixaram Canaã pela primeira vez, perderam
toda esperança de algum dia voltar aquela terra. O escritor dessa narrativa do Gênesis deseja dar
esperança ao povo de Deus.
João Calvino “o Livro Gênesis” (Série Comentários Bíblicos Livro 1) (pp. 74-75). CLIRE, diz
que: “O objetivo de Moisés era imprimir profundamente em nossa mente a origem do céu e
terra, a qual ele designa pela palavra gênese [geração]. Pois sempre haveria homens
ingratos e malignos que, ou inventando que o mundo era eterno, ou suprimindo a memória
da criação, tentariam obscurecer a glória de Deus. Assim o diabo, por seus engodos,
afasta de Deus os que são mais engenhosos e habilidosos do que os demais, a fim de que
cada um se torne para si mesmo um deus. Portanto, não é uma reiteração supérflua que
inculca o necessário fato de que o mundo existiu só a partir do tempo em que foi criado,
visto que tal conhecimento nos direciona para seu Arquiteto e Autor”.
Essa narrativa um tanto extensa apresenta vários tópicos que podem ser tratados. Nessa
primeira parte, que é a que vamos meditar hoje, temos a formação dos seres humanos como pó e
sopro (7), o trabalho humano (15) e o casamento (18-25). Esse texto apresenta a primeira
“tôlêdôt” das dez que aparecem nesse livro. Essa estrutura de Gênesis começa universalmente
com a criação geral, afunila para toda a humanidade e se estreita ainda mais para uma única
família e nação: Abraão, Isaque, Jacó e Israel.
Essa formula de Gênesis “essas são as gerações de” apresentam uma nova sequência,
mas nunca com a finalidade de conclusão. A partir desse versículo 4 encontramos essa “gênese
dos céus e da terra quando foram criados”. O que aconteceu ao universo depois que Deus criou
tudo “muito bom”. O capítulo 1 fala de todo o universo, o capítulo 2 centraliza o foco e mira no
jardim e na criação do homem e da mulher.
O narrador não está preocupado em nos dar um relato cronológico preciso do que
aconteceu no princípio. Vimos que em Gênesis 1 temos uma ordem crescente: Separação entre
luz e trevas; entre águas debaixo do firmamento e águas sobre o firmamento; das águas embaixo
dos céus aparecendo a porção seca; depois ordena que apareça relva, ervas, arvores frutíferas
que deem sementes; os luzeiros fazendo separação entre dia e noite, servindo para sinais,
estações, dias e anos; seres viventes nos mares e seres viventes nos céus; animais domésticos,
répteis e animais selváticos; e por fim o homem a sua imagem e semelhança.
Olhando o capítulo 2 vemos que o relato não é cronológico, mas tópico. Embora a narrativa
tenha vários subenredos, ou complicações, ela tem um enredo global, que começa com Deus
formando o cosmos, o mundo e tudo que nela há, formando o homem e a mulher, os colocando
no jardim e que termina com o homem sendo expulso.

CRIADO DO PÓ DA TERRA
Pode não ser um relato histórico moderno, mas é arte literária. ‫הָ ָֽאדָ֗ ם‬hā-’ā-ḏ ām, O homem,
‫ָ ֣האֲדָ ָ֔מה‬
hā-’ă-ḏ ā-māh, do pó da terra.
Emborra apareçam vários personagens nessa narrativa, Deus, o Homem e a Mulher, a
serpente, o Senhor é claramente o personagem central. Moisés está contando a mesma história
da criação, porém acrescenta detalhes necessários à compreensão de acontecimentos que
ocorreram posteriormente. Ele explica o que havia omitido anteriormente na criação do homem:
que seu corpo foi formado da terra.
Talvez por esse motivo seja importante acreditarmos na historicidade do Livro de Gênesis.
E a Palavra de Deus em 1 Timóteo 2.13,14, nos instrui nessa verdade quando Paulo escreve:
“Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.  E Adão não foi enganado, mas a mulher,
sendo enganada, caiu em transgressão”. Aqui há um dado adicional: não somente Adão é
histórico, porém, Eva em sua rebelião também é vista como histórica. E 2 Coríntios 11.3 testifica
disso: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim
também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da
simplicidade que há em Cristo”. O paralelo aqui é entre mim, você e Eva. Paulo apela a nós,
que somos objetivamente reais — que estamos na história — para que não caiamos numa
situação semelhante. E sem constrangimento, Paulo com clareza espera que seus leitores
pressuponham a historicidade de Eva e dos detalhes propostos em Gênesis.
Note-se também quão claramente é esse o caso em 1 Coríntios 11.8,9: “Porque o
homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi
criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem”. Aqui, o fato de Eva ser
criada depois de Adão também é parte importante do argumento de Paulo.
Também seria necessário levar em conta o modo como Paulo cita a porção inicial de
Gênesis em 1 Coríntios 6.16 e em Efésios 5.31 — e, finalmente, 1 João 3.12 entende Caim como
histórico, e Hebreus 11 trata Abel, Enoque e Noé como paralelos de Abraão e de todos os que o
seguiram na História. Temos, portanto, um forte testemunho da unidade de Gênesis 1 e 2, e da
historicidade de Adão e Eva.
Deus colocou duas árvores especiais no meio do jardim: a árvore da vida e a árvore do
conhecimento do bem e do mal (Gn 2.9, 17; 3.3, 22, 24). Os frutos da árvore da vida conferiam a
imortalidade (v. 22). Os frutos da outra árvore conferiam um conhecimento experimental do bem e
do mal, mas também causavam a morte (Gn 2.17).
Calvino ainda escreve: “Ele deu à árvore da vida esse nome não porque ela pudesse
conferir ao homem aquela vida com que ele fora previamente dotado, mas a fim de que ela
viesse a ser um símbolo e memorial da vida que ele havia recebido da parte de Deus. Pois
sabemos não ser de modo algum incomum Deus nos dá provas de sua graça por meio de
símbolos externos. De fato, ele não transfere seu poder para os sinais externos; mas, por
meio deles, nos estende sua mão, porque, sem assistência, não podemos ascender a ele.
Portanto, sua intenção era que o homem, assim que degustasse o fruto daquela árvore, se
lembrasse de onde recebera sua vida, a fim de que reconhecesse que não vive por seu
próprio poder, mas exclusivamente pela bondade de Deus; e que a vida não é (como se diz
comumente) um bem intrínseco, senão que procede de Deus. Finalmente, naquela árvore
havia um testemunho visível da declaração de que “em Deus existimos, vivemos e nos
movemos”.
Mas, se Adão, até então inocente e de uma natureza impoluta, tinha necessidade de sinais
de advertência que o guiassem ao conhecimento da graça divina, quão mais necessários são
agora os sinais, nesta grande estupidez de nossa natureza, visto que já caímos da verdadeira luz!

CRIADO PARA O TRABALHO


Falado dessas pessoas reais vemos o que deus desejava deles. E interessante que Deus
cria o homem e o coloca para cultivar a terra e para ajudar a produzir o alimento necessário. Os
seres humanos são despenseiros das bênçãos da criação de Deus e devem usar as dádivas do
Senhor conforme ele ordena, pois Deus colocou o homem no Éden para fazer seu trabalho ao
cultivar a terra e cuidar do jardim (v. 15). O trabalho não é uma maldição, mas sim uma
oportunidade de usar nossas aptidões sendo despenseiros fiéis de sua criação.
Nesse magnífico jardim, Deus proveu tanto abundância quanto beleza; Adão e Eva tinham
alimento para comer e a maravilhosa obra das mãos de Deus para se deleitarem. Até então, o
pecado não havia entrado no jardim e transtornado sua felicidade. Depois que o homem pecou, o
trabalho transformou-se em labuta (Gn 3:17-19), mas essa não era a intenção original de Deus.
Todos nós temos aptidões e oportunidades e devemos descobrir o que o Senhor deseja que
façamos com nossa vida neste mundo, para o bem de outros e para a glória de Deus.
A palavra ordem é introduzida nesse ponto, pois é Deus quem determina os termos do
acordo. Deus é o Criador, e o homem é a criatura, o "inquilino real" no mundo maravilhoso de
Deus, de modo que Deus tem 0 direito de dizer ao homem o que ele pode ou não fazer. Deus não
pediu o conselho de Adão; simplesmente lhe deu sua ordem.
Deus havia concedido grande honra e privilégio a Adão ao fazer dele seu vice-regente da
Terra (Gn 1:28), mas o privilégio sempre traz responsabilidades. A mesma Palavra divina que fez
surgir o Universo também expressou o amor de Deus e sua vontade para Adão, Eva e seus
descendentes. A obediência à Palavra manteria os seres humanos dentro da esfera de comunhão
e de aprovação de Deus.
Todas as ordens de Deus são boas e trazem benefícios para aqueles que lhes obedecem
como podemos ver no Salmo 119.39 “Afasta de mim o opróbrio, que temo, porque os teus
juízos são bons”. E em 1 João 5.3 lemos "Ora, os seus mandamentos não são penosos".

CRIADO PARA O CASAMENTO


No final do sexto dia da criação, Deus viu tudo o que havia feito e declarou que era "muito
bom" (Gn 1.31). Mas, então, Deus diz que há algo em seu mundo maravilhoso que não é bom: o
homem está só. Na realidade, no texto hebraico as palavras "Não é bom" aparecem logo no início
da declaração do Senhor em Gênesis 2:18.
O que "não era bom" na solidão do homem? Afinal, Adão podia ter comunhão com Deus,
aproveitar a beleza do jardim, comer de seus frutos, realizar seu trabalho diário e até brincar com
os animais. O que mais ele poderia desejar? Deus sabia do que Adão precisava: de "uma
auxiliadora que lhe [fosse] idônea (v. 18). Não havia ninguém assim dentre os animais, de modo
que Deus criou a primeira mulher e apresentou-a ao homem como sua esposa, companheira e
auxiliadora. Ela foi o presente especial de amor que Deus deu a Adão (Gn 3:12).
Calvino diz: “Então Moisés explica o desígnio de Deus em criar a mulher, a saber,
para que houvesse seres humanos na terra a cultivarem uma sociedade mútua entre si... as
palavras simplesmente significam que, posto que não era conveniente ao homem viver
sozinho, então lhe seria criada uma esposa que pudesse ser sua auxiliadora. Eu,
entretanto, entendo que o significado é o seguinte: que Deus, de fato, já no início da
sociedade humana, projeta incluir outros seres humanos, cada um em sua própria posição.
Portanto, o ponto de partida envolve um princípio geral: que o homem foi formado para ser
um animal social. Ora, a raça humana não podia existir sem a mulher; e, portanto, na
conjunção dos seres humanos, esse sacro laço é especialmente notável, pelo qual o
esposo e a esposa são combinados em um só corpo e uma só alma”.
O modelo de Deus para o casamento não foi criado por Adão. Como diz a cerimônia
tradicional de casamento: "O casamento nasceu no coração amoroso de Deus para abençoar e
beneficiar a humanidade". Não importa o que os tribunais decretem ou a sociedade permita;
quando se trata do casamento, Deus tem a primeira e terá a última palavra (Hb 13:4; Ap 22:15).
Talvez o Senhor olhe para tantos casamentos contrários ao modelo bíblico e diga: "Não foi assim
desde o princípio" (Mt 1 9:8). Seu plano original era que um homem e uma mulher se tornassem
uma só carne por toda a vida.

Que lições podemos aprender aqui:


Em primeiro lugar, desejava oferecer a Adão companhia adequada, de modo que lhe deu
uma esposa. Concedeu-lhe uma pessoa e não um animal, alguém que era sua igual e que,
portanto, podia compreendê-lo e ajudá-lo. Martinho Lutero chamou corretamente o casamento de
"escola do caráter". Quando duas pessoas vivem juntas em sagrado matrimônio, a experiência
extrai o que há de melhor nelas ou o que há de pior. É uma oportunidade de exercitar a fé, a
esperança e o amor e de amadurecer por meio do sacrifício e do serviço mútuos para a glória de
Deus.
Em segundo lugar, mediante o casamento Deus concedeu o direito de desfrutar o sexo e
ter filhos. O Senhor ordenou: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gn 1:28). Isso não
significa que o amor sexual vise somente a procriação, pois há muitas pessoas que se casaram
que já não podem mais ter filhos. Porém, os filhos são uma parte importante da união matrimonial
(1 Tm 5:14).6
Em terceiro lugar, mediante o casamento há uma relação de mutualidade. Quando Adão
viu sua noiva, irrompeu em alegre louvor (Gn 2:23), como se estivesse dizendo: "Finalmente
tenho uma companheira apropriada!". A identidade dela - "varoa" - serviria para lembrar a todos
que ela havia se originado do "varão".7 Ela foi feita dele e para ele, e ele precisava dela. Assim,
os dois sempre pertencerão um ao outro e servir-se-ão mutuamente em amor.
Em quarto lugar, mediante o casamento Deus nos instrui sobre a unidade matrimonial. A
mulher está unida ao homem tanto no que se refere a sua origem (veio do homem) quanto ao
casamento. Na união sexual e em seus filhos, homem e mulher são "uma só carne". O
casamento é um relacionamento civil regulamentado por lei e deve ser um relacionamento
espiritual e emocional governado pela Palavra de Deus e motivado pelo amor. O homem e a
mulher não são, antes de tudo, "um só espírito" ou "um só coração", por mais essenciais que
sejam essas duas coisas, mas sim "uma só carne". Desse modo, "deixar" pai e mãe e "unir-se" ao
cônjuge (Ef 5:30, 31) é algo importante a ser cultivado e protegido.

Vivemos num mundo criado por Deus, somos criaturas feitas à imagem de Deus e
gozamos várias bênçãos das mãos do Senhor. Como é triste que tantas pessoas deixem Deus
fora de sua vida e tornem-se andarilhos confusos neste mundo nada amistoso, quando poderiam
ser filhos de Deus no mundo de um Pai Amoroso.

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