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EXPEDIENTE

Organizador: Mitchel Urbano


Departamento de Evangelismo União Sul Brasileira
Autor: Héctor Urrutia , teólogo formado pela UAP , Médico cirurgião, Mes-
tre em Antigo Testamento , escritor de várias obras sobre Daniel e Apo-
calipse
Revisão: Raymi Link

Publicado pela União Sul Brasileira da IASD


Rua João Carlos de Souza Castro, 562CEP 81.520-290, Guabirotuba,
Curitiba, PR.

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Capa: fotos de Freepik e Lighstock
PARTE 2
SUMÁRIO

MORDOMIA EM GÊNESIS - 1.....................................................................5

MORDOMIA EM GÊNESIS - 2.................................................................. 12

A IGREJA REMANESCENTE EM GÊNESIS - 1......................................... 20

A IGREJA REMANESCENTE EM GÊNESIS - 2.........................................26

LEI DE DEUS E O SÁBADO EM GÊNESIS - 1.............................................36

LEI DE DEUS E O SÁBADO EM GÊNESIS - 2............................................45

O SANTUÁRIO EM GÊNESIS - 1...............................................................55

O SANTUÁRIO EM GÊNESIS - 2..............................................................62

A SEGUNDA VINDA E O FIM DO MUNDO EM GÊNESIS - 1.........................69

A SEGUNDA VINDA E O FIM DO MUNDO EM GÊNESIS - 2......................... 77


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MORDOMIA EM GÊNESIS - 1
Gênesis afirma que Deus criou nosso mundo e os relatos
da criação são claros ao especificar o lugar da espécie hu-
mana em nosso planeta. Adão e Eva foram as únicas espé-
cies criadas à imagem e semelhança do mesmo criador; eles
receberam poder sobre todos os seres vivos e sobre toda a
terra; Deus fez o homem participar da nomeação de sua cria-
ção, algo que nos primeiros três dias era função exclusiva do
criador; Deus dialoga com a humanidade e somente com ela.
Sem dúvida, Deus estabeleceu nossos primeiros pais como
mordomos de sua criação na terra.

1. O QUE SIGNIFICA MORDOMIA?


❝ Respondeu Abrão: SENHOR Deus, que me haverás de dar,
se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o da-
masceno Eliézer?
Gênesis 15:2

Nesse texto, em que as Bíblias em espanhol traduzem “o


mordomo da minha casa”, em hebraico diz literalmente “o fi-
lho da posse da minha casa”, o que corresponderia mais exa-
tamente ao conceito de “herdeiro”. Mas o termo mais próxi-
mo de nossa palavra “mordomo” no hebraico bíblico é a frase,
‘asher ‘al bet, que literalmente significa “aquele que [é] sobre
a casa” (Gn. 43:16, 19; 44:1, 2 , 4, 10, 12), uma frase usada em
Gênesis apenas para o “mordomo” da casa de José quando
ele era senhor no Egito. Uma frase semelhante é usada para
descrever a tarefa de José como mordomo de Potifar quando

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ele chegou ao Egito (Gn 39:4). No restante do Antigo Testa-
mento (AT) esta mesma frase é usada quando se fala de mor-
domos (1 Rei.16:9; 2 Reis.10:5; Isa. 22:15 etc.).
A versão grega do Antigo Testamento (AT) traduz esta fra-
se pela palavra oikonómos que, etimologicamente, significa-
ria “aquele que governa a casa”, sendo o termo usado no Novo
Testamento (NT) com o mesmo significado (Lucas 12:42; 16:1,
2, 3, 8). O substantivo “mordomia” em grego é oikonomia (Lu-
cas 16:2, 3, 4), que não tem equivalente no hebraico bíblico,
do qual deriva o termo “economia” em português.
Nossa palavra “mordomo” vem do latim major domus, que
significa literalmente “o mais velho da casa”, para designar o
principal empregado de uma casa, aquele que administrava
os bens do proprietário. Portanto, em todas as línguas o sig-
nificado é semelhante e refere-se a um servo sob cuja autori-
dade está colocada à administração da casa e os bens de seu
mestre. O significado do termo “mordomo”, portanto, desta-
ca os privilégios especiais que um funcionário tem sobre to-
dos os outros. No entanto, ele não é o dono da casa, goza de
todos os bens do seu senhor e tem toda a autoridade sobre
a sua casa, mas a rigor os bens e a casa não lhe pertencem.

2. ADÃO E EVA COMO MORDOMOS


Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais do-
mésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que ras-
tejam pela terra.
❝ Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os aben-
çoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei

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a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre
as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.
Gênesis 1:26-28

O verbo hebraico radáh, usado em Gên.1:26 e 28, significa


“governar”, “dominar”, “ter poder” ou “governar”. Em Gên.1:28,
também se emprega o verbo cabásh, que significa “subjugar”
ou “subjugar”, o que não implica submissão à força ou à tira-
nia. Esses textos são explícitos ao mostrar o papel de Adão e
Eva como administradores de toda a criação em nosso pla-
neta. Apesar da queda, o homem permaneceu o mordomo
da criação, embora a criação não mais se submetesse facil-
mente ao governo humano (Gn 3:18). Por outro lado, haveria
outro ser que reivindicaria o domínio deste mundo, a antiga
serpente. É por isso que ele ousou oferecer a Cristo “todos os
reinos deste mundo” (Mateus 4:8; Luc.4:5). Satanás buscará
dominar o mundo por meio do assassinato (Gn.4) e da violên-
cia (Gn.6:4-5).
Depois do dilúvio “Deus abençoou Noé e seus filhos e dis-
se-lhes: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra.
Você incutirá medo e medo em todos os animais da terra, em
todas as aves do céu, em tudo o que se move na terra e em
todos os peixes do mar; eles são entregues em suas mãos”
(Gn. 9:1-2). Observamos que Deus restabeleceu o ser humano
como mordomo, mas o homem não vai mais simplesmente
exercer autoridade e domínio sobre outros seres vivos, ago-
ra “você vai colocar medo e medo em todo animal”, nenhum
desses termos é o “temor reverente “ que o homem piedo-
so tem para com Deus, mas é literalmente “terror e temor”.
Além disso, a dieta humana não é mais vegetariana como era
para Adão e Eva (Gn 1:29), mas inclui carne animal (Gn 9:3),
indicando que o domínio do homem sobre os animais inclui o

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assassinato desses animais. A rebelião também se manifes-
tou em um dos filhos de Noé, em Cam (Gn.3:19-28), de Cam
descendente “Ninrode, que se tornou o primeiro poderoso
na terra” (Gn.10:8), ele gostava de matar animais, então ele
foi chamado de “poderoso caçador” (Gn 10:9) e ele foi o cons-
trutor da cidade de Babel (Gn.10:10), ícone da rebelião contra
Deus (Gn.11:1-9).

3. QUE EVIDÊNCIA GÊNESIS NOS DÁ DA SUBORDINA-


ÇÃO DE ADÃO E EVA A DEUS?
❝ Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no
jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E o SENHOR
Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim come-
rás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e
do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás.
Gênesis 2:15-17

O homem era o “mestre” da criação, mas também tinha um


dever para com ela, tinha que trabalhar a natureza e cuidar
dela. Cuidar da terra é um princípio ecológico essencial para
a própria vida do ser humano. Além disso, o ser humano tinha
restrições, embora o criador desse uma grande variedade de
frutas deliciosas à vista para o homem desfrutar, havia uma
que ele não deveria tocar. O homem tinha que reconhecer a
soberania do criador, havia algo que não era permitido. O ser
humano é mordomo em quatro áreas, que por razões mne-
mônicas foram chamadas de os quatro T’s, ou seja: o Templo
do corpo, o Tempo, o Tesouro e os Talentos.

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4. QUAL É A MORDOMIA DO TEMPLO DO CORPO?
❝ E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas
que dão semente e se acham na superfície de toda a terra
e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso
vos será para mantimento.
Gênesis 1:29

O ser humano não é apenas responsável por cuidar da terra


e do meio ambiente, o primeiro sendo dever do homem, de-
pois de sua fidelidade a Deus, é cuidar de própria vida, de seu
corpo, da mente e do espírito, pois somos o templo do Espírito
Santo (1 Coríntios 6:19-20). O próprio Deus proveu e designou
a dieta humana, desenhada sob medida para nutrir, reparar e
prolongar a vida do homem. Não só a dieta original, mas tudo
o que Deus criou e as indicações que deixou ao homem foram
para o bem-estar da humanidade, o rio de água pura que atra-
vessou o Éden foi a bebida escolhida pelo criador para seus fi-
lhos amados. Apesar do avanço da ciência humana, o homem
não foi capaz de inventar uma bebida melhor e mais saudável
do que a água, tendo em vista que o trabalho físico e espiritual
também era benéfico para o bem-estar e para a felicidade da
humanidade. O descanso de cada noite, bem como o descanso
sabático, são indispensáveis para a vida.
Ao trabalhar no Jardim do Éden, o homem não apenas
realizaria atividade física, mas também estaria em contato
com o sol, o ar puro, pisaria no chão e na grama, sentiria o
perfume das flores, ouviria ao canto dos pássaros etc.. Tudo
isso seria benéfico para o homem perfeito e muito mais para
o homem caído. A vida artificial moderna, longe da natureza e
da atividade física, é a principal causa da maioria das doenças
que diminuem a qualidade de vida e da longevidade. Os cien-

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tistas notaram que parece que tudo no universo, não apenas
em nosso planeta, foi feito sob medida para a felicidade hu-
mana: os gases em nossa atmosfera; a única lua do nosso
planeta, com seu tamanho, distância e rotação precisa; bem
como o tamanho, a distância, o tipo de estrela, a composição
atômica, etc., do sol também são precisos para nossa vida
e felicidade. Essa confabulação de tudo o que existe para a
felicidade e a vida do ser humano tem sido chamada de “prin-
cípio antrópico”.

5. O QUE É A MORDOMIA DO TEMPO? (GN. 2:1-3)


❝ Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu
exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua
obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra
que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santi-
ficou; porque nele descansou de toda a obra que, como
Criador, fizera.
Gênesis 2:1-3

O ser humano é o mestre neste planeta, mas como men-


cionamos, ele deve respeitar o que o criador reservou, isso
também pode ser visto no local de trabalho. O Senhor estabe-
leceu que “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o
sétimo dia é descanso para o Senhor teu Deus” (Ex.20:9-10), a
razão é “porque em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o
mar e tudo o que neles há e ao sétimo dia descansou; por isso
o Senhor abençoou o sábado e o santificou” (Êx. 20:11). Como
o Pentateuco é uma unidade literária, o mandato explícito no
livro de Êxodo é para o ser humano desde a própria criação.
Por outro lado, o mandato não foi dado como algo novo, mas
começa com o verbo “lembrar-se do sábado” (Êx. 20:8), o que

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indica que era conhecido. O mesmo no episódio do maná,
onde havia três milagres todos os sábados, primeiro que uma
porção dobrada de maná caiu na sexta-feira, segundo que
não se decompôs ao guardá-lo de sexta para sábado e ter-
ceiro, que só no sábado o maná não caía (Êx. 16). O maná foi
dado assim que cruzaram o Mar Vermelho e continuou a cair
por quarenta anos.
Deve-se notar também que em Gênesis tem um caráter
histórico narrativo, enquanto Êxodo tem um caráter histórico
legal, em que Deus dá leis e instruções do Sinai, então espe-
ramos um mandato sabático em Êxodo, mas não em Gêne-
sis. Por outro lado, foi o próprio Deus que guardou o sábado
na criação, depois de criar o homem, então seu exemplo foi
mais decisivo que suas palavras. No entanto, é possível que
com o tempo os homens tenham esquecido o dia do Senhor,
até mesmo a semente fiel, assim como os ídolos. Apesar do
exposto, é interessante que a semana já era conhecida no
tempo dos patriarcas (Gn. 29:27 e 28), e os períodos de sete
dias são mencionados repetidamente nas histórias de Gêne-
sis (Gn.7:4; 8:10, 12; 31:23; 50:10).

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MORDOMIA EM GÊNESIS - 2

1. O QUE É MORDOMIA DOS TALENTOS?


❝ Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no
jardim do Éden para o cultivar e o guardar.[...] Deu nome o
homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e
a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não
se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.
Gênesis 2:15 e 20

A palavra “talento” era originalmente uma medida de ha-


bilidade usada para quantificar metais preciosos, mas com
o tempo passou a significar “habilidades” ou “dons” que uma
pessoa tem e com os quais ela pode fazer coisas melhor do
que outras pessoas que não têm. Eles têm essas capacida-
des. Há talentos naturais, por exemplo, aqueles que desde a
infância têm a habilidade de desenhar, mas também há “dons
espirituais”, que são os talentos adquiridos depois de se doa-
rem ao Senhor, são chamados dons porque são dados pelo
Espírito Santo , as pessoas não Eles nasceram com essas ha-
bilidades.
No primeiro texto, vemos que Adão teve que usar suas ha-
bilidades físicas para realizar trabalhos que lhe permitissem
não apenas sua subsistência, mas também o cuidado com a
natureza. No segundo texto, vemos as habilidades intelec-
tuais com as quais o criador treinou Adão e não os animais
não possuem. Nomear um animal requer pensar, associar,
conhecer e estudar o animal em particular. Todos os nossos

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talentos, naturais e espirituais, devem ser usados ​​para hon-
rar nosso criador. Somos mordomos de nossas habilidades.
No entanto, o querubim rebelde era dotado de sabedoria, be-
leza e esplendor, mas usou suas habilidades para enganar e
se revoltar contra o criador.

2. O QUE É A ADMINISTRAÇÃO DO TESOURO?


❝ Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto
da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe
das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agra-
dou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta;
Gênesis 4:3-4

A palavra “oferta” em hebraico é minchá, que se refere a


uma oferta animal ou vegetal, consiste em dar a Deus uma
amostra dos bens obtidos com o trabalho. A oferta não é para
cumprir um dever, mas uma expressão de gratidão pelas bên-
çãos dadas por Deus, pela chuva que rega as plantações, pela
saúde para poder trabalhar o campo, etc. O apóstolo Paulo
diz: “Mas digo isto: Aquele que semeia pouco também ceifará
pouco; e quem semeia com fartura também colherá com far-
tura. Cada um dá conforme propôs em seu coração: não com
tristeza ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com ale-
gria” (2 Coríntios 9:6-7). Ao oferecer a Deus, refletimos nossa
generosidade ou nossa ganância. Caim não se ofereceu para
agradar a Deus, mas para buscar seus próprios benefícios,
por isso se irou contra Deus e contra seu irmão, e Deus, que
viu seus pensamentos, lhe disse: “Por que você se irou e por
que seu semblante caído? Se você fizesse o bem, não seria
exaltado?” (Gn.4:6-7). Em outras palavras, uma oferta a Deus
com as motivações de Caim é “fazer o mal”, portanto, o peca-

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do não é apenas prejudicar os outros ou ofender a Deus, mas
também fazer o “bem” e cumprir o que Deus pede o coração.
Embora Caim tenha tomado a iniciativa e ambos os irmãos
tenham apresentado sua minchá a Deus, apenas Abel trouxe
“dos primogênitos de suas ovelhas e de sua gordura”, isto é,
o melhor que tinha. Dar o melhor nem sempre é o mais valio-
so do ponto de vista humano e, também, não tem nada a ver
com quantidade. Jesus ilustrou isso na oferta de uma viúva
pobre: ​​“Levantando os olhos, ele viu os ricos lançando suas
ofertas na arca. Ele também viu uma viúva muito pobre que
jogou dois brancos ali. E ele disse: - Em verdade vos digo que
esta pobre viúva deu mais do que todos eles, porque todos
eles deram o que sobrou para as ofertas de Deus; mas esta,
da sua pobreza, deu todo o sustento que tinha” (Lucas 21:1-
4). No caso de Caim e Abel, é interessante que primeiro Deus
olhou favoravelmente para Abel e depois para sua oferta, ou
seja, o mais importante para Deus são as intenções do cora-
ção ao oferecer e depois a oferta em si. O mesmo com Caim,
Deus não olhou favoravelmente para Caim e, então, também
rejeitou sua oferta.
Da mesma forma, o significado da oferta é importante. A
primeira oferta na história humana não foi a de Caim, mas a
do próprio Deus no Éden. Deus não apenas anunciou a morte
do Messias como um substituto para o homem (Gn. 3:15), mas
também a ilustrou vividamente quando os fez “túnicas de pe-
les e os vestiu” (Gn. 3:21). A palavra peles em hebraico se refe-
re à pele de um animal, de modo que o animal morreu substi-
tuindo o pecado de Adão e Eva e, com sua pele Deus, cobriu a
nudez de nossos primeiros pais. Portanto, a oferta sacrificial,
além de demonstrar amor ao criador e reconhecer que tudo o
que temos vem dele, já que somos apenas mordomos de sua
criação, as ofertas ao mesmo tempo anunciavam a vinda do

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Messias sofredor e demonstravam a fé do ofertante. Por esta
razão, o culto religioso dos patriarcas sempre incluía um sa-
crifício animal (Gn. 8:20; 12:7-8; 13:4, 18; 22:13; 26:25; 33:20;
35:1- 7). Isso também mostra que não importa o preço de
nossa oferta, nunca será igual à oferta inestimável de Deus
que deu seu único filho para nos salvar. Quando Deus pede
nossas ofertas, é porque ele mesmo se dispôs a dar primeiro.

3. O QUE SÃO DÍZIMOS? (GN. 28:19-22)


❝ E ao lugar, cidade que outrora se chamava Luz, deu o nome
de Betel. Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for
comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me
der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que
eu volte em paz para a casa de meu pai, então, o SENHOR
será o meu Deus e a pedra, que erigi por coluna, será a
Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes, certa-
mente eu te darei o dízimo.
Gênesis 28:19-22

Muitos pensam que o dízimo nasce com a instituição do


sacerdócio levítico, mas na realidade vem do Gênesis. A pa-
lavra “dízimo” significa a “décima parte”. Jacó volta para casa
em Labão sem nada, mas promete que separará um dízimo
para Deus “de tudo o que” Deus lhe der. Portanto, o dízimo é
dez por cento de toda a nossa renda. É interessante que essa
decisão de Jacó foi após receber um sonho de Deus e realizar
um ato religioso, que era colocar uma pedra memorial para
Jeová. Isso significa que o ato de dar o dízimo e tudo o que
envolve, não é um ato frívolo, mundano, mas parte de nosso
culto a Deus, próprio de ser feito no templo e no dia de culto
escolhido por Deus.

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Muito antes de Jacó, a respeito do patriarca Abrão, somos
informados de que ele deu um décimo de todos os despojos
que ele resgatou dos reis do norte: “Então Melquisedeque, rei
de Salém, e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho;
e ele o abençoou, dizendo: ‘Bendito seja Abrão pelo Deus Al-
tíssimo, criador do céu e da terra; e bendito seja o Deus Altís-
simo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão
lhe deu o dízimo de tudo” (Gn.14:18-20). Aqui também temos
um contexto cultual, Abraão dá o dízimo a um “sacerdote do
Deus Altíssimo”, após receber sua bênção em nome de Deus.
Os patriarcas viajavam de um lugar para outro, não tinham
terra para cultivar, nem dinheiro ou cheques para isso, então
davam o dízimo dos bens que obtinham. Quando Israel pos-
suía a terra prometida e colhia seus campos, o dízimo incluía
o gado, bem como as colheitas: “‘O dízimo da terra, tanto da
semente da terra como do fruto das árvores, é de Jeová: é
uma coisa dedicado a Jeová’... ‘Todo o dízimo de gado ou
ovelhas, de tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será
consagrado a Jeová’” (Lv. 27:30, 32). A invenção das moedas
é muito posterior à época do Pentateuco, o comércio era fei-
to por escambo ou quando não era possível, eram pesadas
peças de prata ou algum material precioso em troca do bem
adquirido (Gn. 20:16; 23:15-16; 37:28; 45:22). Hoje, no ociden-
te, seria muito difícil entregar gado ou grãos como dízimo, o
mais confortável e prático é fazê-lo por meio de dinheiro, que
é a forma usual de troca comercial em nosso tempo.
O dízimo pertence a Jeová. A quantidade ou a porcen-
tagem das ofertas é decidida pelo adorador, mas o dízimo
é estabelecido por Deus e pertence a ele. Deus não espera
dízimos ou ofertas de incrédulos, apenas daqueles que rece-
beram um novo nome, porque de graça recebemos e damos
de graça. Só o dinheiro dos que amam as almas é agradável

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para a obra de salvar outras almas. O dízimo é devolvido a
Deus mesmo que os líderes religiosos possam fazer mau uso
dele. O profeta Malaquias denuncia os sacerdotes de Jeová
por não usarem os dízimos e as ofertas corretamente: “‘Jeo-
vá dos exércitos vos diz, sacerdotes, que desprezais o meu
nome e dizeis: ‘Em que desprezamos o vosso nome?’ Em que
ofereces pão impuro no meu altar. E você ainda diz: ‘Em que
o desonramos?’ Nisso você pensa que a mesa de Jeová é des-
prezível. Quando você oferece o animal cego para sacrifício,
não é ruim? Da mesma forma, quando você oferece o coxo ou
o doente, não é ruim? Apresente-o, então, ao seu príncipe;
você será agradável a ele ou ele o acolherá?, diz o Senhor dos
Exércitos.
Além disso, você disse: ‘Que incômodo é isso!’, e você me
despreza, diz Jeová dos exércitos. Você trouxe o que foi rou-
bado, ou coxo, ou doente, e me apresentou como uma oferta.
Devo aceitar isso de suas mãos?, diz o Senhor” (Mal.1:6-8, 13).
Por causa do mau uso dos dízimos e das ofertas pelos
líderes religiosos, muitos israelitas não estavam cumprin-
do esse dever religioso, mas Deus não os justifica por isso:
“Roubará o homem a Deus? Bem, você me roubou. E você
ainda pergunta: ‘O que nós roubamos de você?’ Em seus dí-
zimos e ofertas. Você está amaldiçoado com uma maldição,
porque você, toda a nação, me roubou. Tragam todos os dízi-
mos ao celeiro e haja mantimento na minha casa: prova-me
agora nisto, diz o Senhor dos Exércitos, para ver se não abro
as janelas do céu e derramo uma bênção sobre vocês até
que transborde. Também repreenderei por vós o devorador
e o fruto da terra não vos destruirá, nem será estéril a vos-
sa vinha no campo, diz o Senhor dos Exércitos. Todas as na-
ções lhe chamarão bem-aventurada, porque você será uma
terra desejável, diz o Senhor dos Exércitos” (Mal.3:8-12). Não

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dar o dízimo ou não oferecer é roubar a Deus. Deus julgará
os líderes religiosos por sua mordomia, mas não há descul-
pa para não cumprir este mandamento do Senhor. Por outro
lado, reduzir nossa renda em 10% além das ofertas não sig-
nificará diminuição de nosso patrimônio, pois Deus promete
abençoar “até transbordar”. Deus pode fazer nossos negócios
crescerem tremendamente, Ele pode fazer nossas despesas
diminuírem, podemos economizar em saúde etc.
Finalmente, é bom saber que os dízimos e as ofertas não
apenas são anteriores ao sacerdócio levítico, mas também
eram meios de sustento e crescimento para a igreja cristã.
Antes da expansão da igreja primitiva, já que todos moravam
em Jerusalém, os convertidos vendiam suas propriedades e
davam 100% para a pregação do evangelho, pois viviam em
comunidade e comiam de uma “panela comum”, mas uma vez
que o cristianismo começou a se expandir em todo o mundo
a igreja exigia que voltasse ao sistema de dízimos e ofertas
agora aplicado ao Israel espiritual. Afinal, é o único método
de financiamento religioso estabelecido por Deus na Bíblia.
Quando são realizados sorteios, bingos, refeições com doa-
ções etc., não cumprem o propósito evangélico de dar por
graça e amor, pois quem compra uma rifa, participa de um
bingo, de uma rifa etc., receberá algo em troca e, em jogos
de azar, um ganhará e os outros perderão, não representa a
justiça e o amor universal do evangelho. Tudo o que pode es-
timular o egoísmo é do lado do querubim caído, não é do lado
do Messias que se deu apenas por amor.
Paulo defendia seu apostolado, e como tal cabia a ele vi-
ver de dízimos, já que estava totalmente dedicado à prega-
ção do evangelho, então, também tinha o direito de se casar,
mas decidiu não casar e não receber dinheiro de dízimos ou
oferendas: “Contra os que me acusam, esta é a minha defesa:

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não temos o direito de comer e beber? Não temos o direito
de levar conosco uma irmã por esposa, como os outros após-
tolos, os irmãos do Senhor e Cefas? Ou apenas eu e Barnabé
não temos o direito de não trabalhar? Quem já foi um soldado
às suas próprias custas? Quem planta uma vinha e não come
do seu fruto? Ou quem alimenta o rebanho e não bebe o leite
do rebanho? Digo isso apenas como homem? Isso também
não é a lei? Na lei de Moisés está escrito: “Não atarás a boca
ao boi que debulha”. Deus se importa com os bois ou ele diz
isso inteiramente para nós? Sim, para nós isso foi escrito,
porque com esperança você deve lavrar o que ara e o que de-
bulha, na esperança de receber o fruto. Se semearmos o es-
piritual entre vocês, é pedir demais que colhamos o material
de vocês? Se outros compartilham este direito sobre você,
quanto mais nós? No entanto, não temos usado esse direito,
mas suportamos tudo para não colocar nenhum obstáculo ao
evangelho de Cristo. Você não sabe que aqueles que traba-
lham em coisas sagradas comem do Templo, e que aqueles
que servem ao altar participam do altar? Assim também o
Senhor ordenou aos que pregam o evangelho que vivam pelo
evangelho” (1 Coríntios 9:3-14). Quando Paulo fala de “os que
trabalham nas coisas sagradas” e “dos que servem no altar”,
ele está se referindo aos sacerdotes levíticos, que recebem o
dízimo, mas ao aplicá-lo ao cristianismo acrescenta: “Assim
também o Senhor ordenou aos que anunciam o evangelho,
vivam do evangelho”. Se você nasceu de novo, terá percebido
que seu corpo, seus talentos, seu tempo e seus tesouros são
uma dádiva de Deus e que você deve usá-los para sua honra e
glória. Quando o fizer, você dará um passo de fé e experimen-
tará uma bênção muito maior do que já experimentou.

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A IGREJA REMANESCENTE EM
GÊNESIS - 1
A palavra “igreja” em hebraico é kahal, que significa “as-
sembleia” ou “congregação”, ou seja, um grupo de pessoas,
um clã ou cidade em vez de um lugar ou edifício. O termo
grego equivalente é ekklesía, com o mesmo significado, do
qual a palavra “igreja” vem para o português. Deus escolheu
seu povo ou congregação de pessoas da família de Abraão,
mas dentro desse mesmo povo houve constante apostasia e
rebelião ao longo da história. No entanto, sempre houve um
grupo de pessoas fiéis, que constituíam a igreja remanes-
cente em todos os tempos.
Ter um “povo escolhido” foi uma estratégia de Deus, pri-
meiro para manter os fiéis afastados da corrente predomi-
nante entre os rebeldes. Segundo, é mais fácil preparar um
grupo de fiéis para influenciar para o bem e atrair os infiéis,
do que tentar trabalhar com todos ao mesmo tempo. Isso im-
plica, além do fato de que o povo escolhido de Deus pode-
ria conter indivíduos e às vezes ser a maioria apóstatas; do
mesmo modo, encontrar também entre os “gentios”, pessoas
fiéis ao Deus Altíssimo. Deus trabalha por meio de um coleti-
vo, mas a salvação é individual. Isso explica as imagens para
representar o povo dos salvos em ambos os testamentos
como um rebanho de ovelhas, uma videira com muitos ramos
ou um corpo com muitos membros. É mais seguro para uma
ovelha atravessar uma estrada perigosa junto a um rebanho
do que separadamente.

20
1. QUAL FOI A PRIMEIRA IGREJA FUNDADA POR DEUS?
GÊN.1:26-27
❝ Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis
que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou.
Gênesis 1:26-27

O ser humano pode viver sozinho, mas o criador declarou


e, então, o próprio Adão experimentou que “não é bom” es-
tar só. A família humana foi criada para carregar a imagem do
criador e governar o mundo em harmonia com o governo su-
premo de Deus. Esta “igreja” do Éden podia desfrutar de co-
munhão diária com seu criador e um dia especial de adoração
a cada sábado (Gn. 2:1-3; Êx.20:8-11). A família da igreja, que
carrega a imagem de Deus, continua após o pecado não em
todos os filhos de Adão, mas nos descendentes de Sete (Gn.
5), e depois do dilúvio nos descendentes de Abraão (Gn.11) ,
particularmente pela linha de Isaac e Jacob, de quem vêm as
doze tribos de Israel (Gn. 49). O Novo Testamento (NT) usa a
metáfora do casamento para ilustrar o relacionamento entre
Cristo e sua igreja e os novos convertidos são, consistente-
mente, chamados de “filhos de Deus” (Mateus 5:9; Luc.20:36:
João 1:12; 11:52 ; Rom.8:14, 16, 19, 21; 9:8; Gal.3:26; Fil 2:15;
1 João 3:1, 2.10; 5:2), indicando assim que eles pertencem à
“família” celestial, mesmo vivendo neste mundo governado
pelo querubim rebelde.

21
A palavra kahál, “igreja”, “congregação” aparece apenas
quatro vezes no livro de Gênesis, em que se promete aos
patriarcas que deles sairá “uma congregação de povos” ou
uma “congregação de nações” (Gn. 28:3; ​​35:11; 48:4; 49:6).
No entanto, é muito recorrente no restante do Pentateu-
co, escrito por Moisés (Ex. 12:6, 19, 47; 16:1, 2, 9; Lev.4:13m
14, 15; Num.1:2, 16, 18; Deut.5:22, 23:1, 2, etc.) e em todo o
AT (Jos.8:35; Jue.20:1-2; 1 Sam.17:47; 2 Sam.20: 14 etc). A
“igreja” do Antigo Testamento foi criada pelo próprio Deus
(Isa.43:21), para ser “luz para as nações” por meio do Messias
(Isa.42:6; 49:6). A “igreja” do NT foi fundada pelo próprio Cris-
to (Mt.16:16-18), para substituir o povo literal de Israel, porque
rejeitaram o Messias, que era sua única salvação (Lc 19:41-
44). Jesus disse claramente aos líderes judeus: “Por isso vos
digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um
povo que produzirá os seus frutos” (Mateus 21:43).
A igreja apostólica primeiro pregou em Jerusalém, para
os judeus, de acordo com o mandato do Cristo ressuscita-
do (Atos 1:8), mas, finalmente, após o martírio de Estevão e
a perseguição do cristianismo em Jerusalém (Atos 7-8), eles
se espalharam por todo o império (Col.1:6). Foi o próprio Deus
quem chamou Paulo para ser um “apóstolo dos gentios” (Atos
9), e mostrou a Pedro em uma visão que os gentios, também,
fariam parte do Israel espiritual. Pedro admitiu a Cornélio e
aos que estavam com ele: “Você sabe como é abominável que
um judeu se associe ou se aproxime de um estrangeiro, mas
Deus me mostrou que ninguém deve ser chamado de comum
ou impuro” (Atos 10:28) ; portanto, ele não apenas pregou a
eles sobre o Messias judeu (Atos 34-35), mas também os bati-
zou para fazer parte da Igreja da nova aliança (Atos 10:47-48).
Embora Paulo e Barnabé fossem judeus e pregassem primei-
ro aos judeus, eles rejeitaram sua mensagem e procuraram

22
repetidamente matá-los: palavra de Deus em primeiro lugar;
mas, como vocês a rejeitam e não se julgam dignos da vida
eterna, voltamo-nos para os gentios” (Atos 13:46).
Paulo é enfático ao afirmar que os judeus não serão sal-
vos por serem descendentes de Abraão: “porque nem todos
os descendentes de Israel são israelitas, nem por serem des-
cendentes de Abraão, são todos seus filhos” (Rm.9: 6), em
outras palavras, “os filhos segundo a carne não são filhos de
Deus, mas os filhos segundo a promessa são contados como
descendência” (Rm.9:8; Mat.3:9; 8:11; Luc. .13:28), visto que
“aquele que é exteriormente não é judeu, nem é circuncisão
aquela que é feita exteriormente na carne; Mas isto é Ele é
judeu por dentro, e a circuncisão é do coração, em espírito
e não segundo a letra” (Rom.2:28-29; Gal.6:15-16). Por outro
lado, os gentios que aceitam o Messias judaico pela fé, “estes
são filhos de Abraão” (Gal.3:7), e Paulo enfatiza: “E se sois de
Cristo, então de fato sois descendentes de Abraão, e herdei-
ros conforme a promessa” (Gálatas 3:29). Por isso Pedro toma
as promessas da aliança que Deus fez no Sinai com as tribos
de Israel (Ex.19:5-6) e as aplica à igreja da nova aliança: “Vós,
porém, sois raça eleita, descendência real sacerdócio, nação
santa, povo adquirido por Deus, para que anuncieis as virtu-
des daquele que vos chamou das trevas para a sua maravi-
lhosa luz. Você que em outro tempo não era um povo, agora
você é um povo de Deus; antes não alcançavas misericórdia,
agora alcançaste misericórdia” (1 Pe.2:9-10). Por sua par-
te, Judas, ao escrever uma carta universal, ou seja, para os
cristãos de todas as nações, pode dizer na saudação: “Tiago,
servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que
estão espalhadas: Saúde” (Tg.1:1)

23
2. QUE IGREJA DEUS FORMOU APÓS A QUEDA NO PE-
CADO?
❝ Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendên-
cia e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar.
Gênesis 3:15

Neste texto, a “inimizade” é anunciada dentro da família


humana, uma divisão permanente entre dois lados. No entan-
to, por meio da “semente” da mulher haveria continuidade de
fiéis adoradores do lado de Deus até a chegada do Messias.

3. QUEM FUNDOU A RELIGIÃO FALSA?


❝ Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto
da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe
das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agra-
dou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta ao passo que
de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, so-
bremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. Então, lhe
disse o SENHOR: Por que andas irado, e por que descaiu o
teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás
aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz
à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre domi-
ná-lo.
Gênesis 4:3-7

Podemos ver que tanto Caim quanto Abel realizaram um


ato cultual neste texto, dirigido ao criador, que é o único Deus
verdadeiro. Ainda não temos idolatria ou ateísmo. O tipo de
oferenda em hebraico é chamado minchá, tanto a oferenda
vegetal de Caim quanto à oferenda animal de Abel, um ter-

24
mo que se repete em todo o resto do culto do santuário es-
tabelecido por Deus no Pentateuco. A diferença entre essas
duas “igrejas” é, em primeiro lugar, que Abel ofereceu “dos
primogênitos de suas ovelhas e de sua gordura”, ou seja, o
melhor que ele tinha, não Caim. A segunda diferença é que
apenas externamente havia dois atos de adoração com min-
chá, mas internamente as motivações eram completamente
diferentes. Caim estava usando a religião para seus próprios
fins egoístas, ele queria ser exaltado, não exaltar a Deus, por
isso se zangou com Deus e seu irmão quando Deus não olhou
favoravelmente para sua oferta e é por isso que Deus lhe dis-
se: “Por que você ficou com raiva e por que seu semblante
caído? Se você fizesse o bem, não seria exaltado?” Em outras
palavras, ele queria ser exaltado, mas seu ato religioso não
era uma coisa boa.
A religião falsa é, portanto, mais externa do que interna,
as aparências e a pompa externa são mais importantes do
que a sinceridade espiritual; não produz frutos de bondade
e mudança de vida, mas o verdadeiro Deus é adorado, mas
o mal é feito e a autoexaltação é buscada; a falsa religião é
intolerante, trouxe a ira de Caim e se torna um inquisidor, as-
sassinando seus irmãos. A descendência de Caim foi ficando
cada vez pior até que se esqueceram do criador e zombaram
de sua misericórdia (Gn.4:23-24). Apenas “os homens come-
çaram a invocar o nome do Senhor” com Sete e seu filho Enos
(Gn. 4:26), até que a verdadeira igreja foi reduzida a apenas
Noé e sua família (Gn. 6:1-8), e depois do dilúvio, a falsa re-
ligião de Babel (Gn. 11) rapidamente se tornou a maioria. No
entanto, quando Deus chamou Abrão, Abrão “edificou ali um
altar ao Senhor e invocou o nome do Senhor” (Gn. 12:8), e seus
descendentes continuaram a fazê-lo (Gn. 13:4; 21:33 etc).

25
10

A IGREJA REMANESCENTE EM
GÊNESIS - 2

1. COMO A IGREJA DE DEUS FALHOU ANTES DO DILÚ-


VIO? (GN.6:1-3)
❝ Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes
nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos
homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as
que, entre todas, mais lhes agradaram. Então, disse o SE-
NHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem,
pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.
Gênesis 6:1-3

Em Gên.2:4-4:26 Moisés nos apresenta a queda e os des-


cendentes de Caim; na próxima seção (Gn 5:1-6:8) ele nos
apresenta a descendência de Sete. O nascimento de Caim
e Sete estão no início e no final do capítulo 4 de nossas Bí-
blias, que em hebraico é de suma importância, contrastando
os dois personagens em que RV95 diz: “Adão conheceu sua
esposa Eva, que concebeu e deu à luz Caim”, o hebraico ori-
ginal não diz “Adão”, mas “o homem”, é o substantivo hebraico
ha’adám com um artigo, não tão apropriado nome, mas como
um substantivo, “o homem”. Em contraste, neste texto ele dá
o nome da mulher, é “Eva”. Ao contrário, Gên.4:25 diz: “Adão
conheceu sua mulher novamente, e ela deu à luz um filho, e
ele chamou o seu nome Sete”. Como o RV95 traduz, o assun-
to é invertido, aqui o homem é apresentado com seu nome
próprio, “Adão”, mas “Eva” é apresentada simplesmente como

26
“a mulher”. Isso é de importância crucial, pois o título “o ho-
mem” é dado a Adão quando a queda é relatada (Gn. 38-9, 12).
No contexto do homem caído, ele não recebe o nome próprio
“Adão”, mas é chamado simplesmente de “o homem”, em he-
braico ha’adám. Adão é filho de Deus (Luc.3:38), não apenas
por semelhança ou semelhança, mas também como seu her-
deiro (Gn.1:26, 28; Sal.8). O nome “Eva” foi o nome que Adão
deu à sua esposa após a queda (Gn.3:20), pois antes do peca-
do ele a chamava de “Mulher” (Gn.2:23).
Em Gên.3:15 Deus diz que o Messias salvador virá da “mu-
lher”, sem lhe dar o nome próprio de “Mulher” ou “Eva”, portan-
to, Sete, filho da “mulher” (Gn.4: 25) está do lado do Messias.
Outro detalhe que destaca esse fato é que a mulher diz: “’Deus
me deu outro filho em lugar de Abel, a quem Caim matou’”
(Gn.4:25), mas o original não diz “outro filho”, mas “outro filho”.
semente”, ligando este filho em particular com a “semente”
messiânica prometida em Gên.3:15. Lembre-se de que a
semente que derrotará a serpente deve ser divina, “filho de
Deus”, pois a serpente é inimiga de Deus. Isso fica claro para
Eva, pois onde o RV95 diz: “’Deus me deu outro filho em vez de
Abel’”, o original diz: “Deus colocou outra semente em mim”,
atribuindo origem divina à criança. Assim, podemos dizer que
os descendentes de Caim são “filhos do homem” caídos. Em
vez disso, os descendentes da “mulher” são “filhos de Deus”.
Além disso, em Gên.6:1 onde se diz: “filhas dos homens” no
original diz literalmente “filhas do homem” (ha’adám), o mes-
mo que a frase “quando os homens começaram a se multi-
plicar”, o original diz: “quando o homem (ha’adám) começou
a se multiplicar”. Isso destaca o contraste entre “as filhas do
homem”, descendentes de Caim, com “os filhos de Deus” por
meio da “mulher”. , Observe que esta “semente” divina tam-
bém foi prometida a Abrão e seus descendentes, mas tan-

27
to Sara quanto Rebeca, esposa de Isaque, e Raquel, esposa
de Jacó, eram todas estéreis, mas tiveram o filho prometido
pela intervenção milagrosa de Deus, de maneira para que se
possa dizer que esses filhos dessas mulheres também eram
“filhos de Deus”.
Isso nos ensina que enquanto os descendentes de Sete
ou “filhos de Deus” se casaram com os descendentes de Sete,
eles permaneceram fiéis ao Senhor, mesmo um deles foi le-
vado para o céu com Deus. No entanto, quando os “filhos de
Deus” se casaram com “as filhas dos homens”, isto é, a família
de Caim, todos os homens se tornaram ímpios, até que “toda
a imaginação dos pensamentos de seu coração era apenas
de maldade” (Gn. 6:5), “porque toda a carne corrompeu o seu
caminho na terra” (Gn. 6:12). Portanto, após o dilúvio, os pa-
triarcas procuraram casar seus filhos na família que descen-
dia de Sete e Sem. Se entre todos os filhos de Adão e Eva ha-
via um remanescente na família de Sete, depois que eles se
casaram em jugo desigual apenas um pequeno remanescen-
te permaneceu em Noé e sua família (Gn.5:28-29; 6:8; 7:1).
O erro não foi que “os filhos de Deus” cometeram adultério
ou deixaram a igreja, pois “casaram”, como diz o original, to-
maram “esposas”, o que está de acordo com a vontade divina.
No entanto, o problema é que eles se casaram com pessoas
que não eram do povo de Deus, ou seja, da igreja antediluviana.
Eles não deixaram a igreja, mas trouxeram pessoas não salvas
para a igreja, e toda a igreja se corrompeu até que se tornou o
mesmo que o “mundo”, visto que o casamento implica tornar-
-se “uma só carne” (Gn 2:24), não podemos nos unir em um só
corpo com aqueles que não estão dispostos a mudar de vida.
Lembre-se de que o casamento é mais do que um contrato ou
acordo entre um homem e uma mulher para viverem juntos
pelo resto de suas vidas, o casamento é uma instituição divi-

28
na antes da queda, é começar a viver juntos depois de receber
a bênção divina (Gn.1:28). A corrupção do casamento é o co-
meço da apostasia. Hoje a antiga serpente quer corromper os
dois vestígios do Éden: o sábado e o casamento.

2. O QUE DEUS FEZ PARA COMBATER A RELIGIÃO FAL-


SA? GÊN. 12:1-3
❝ Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua pa-
rentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mos-
trarei de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te
engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os
que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoa-
rem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Gênesis 12:1-3

O episódio da torre de Babel após o dilúvio mostra a per-


sistência dessa falsa religião centrada na grandeza humana
que coloca Deus em segundo lugar (Gn. 11). No entanto, na ci-
dade de Babel, hoje conhecida como Mesopotâmia, havia um
casal que Deus escolheu como seu remanescente fiel, Abrão
e Sarai. No entanto, eles tiveram que deixar sua terra e seus
parentes, porque a influência do mal era muito grande ali
para que sua progênie permanecesse fiel ao Deus criador. No
entanto, a família de Abrão e Sarai também experimentaria
essa “inimizade” entre seus descendentes, mas Deus sempre
levantaria um remanescente fiel dessa “semente” escolhida.
Em Ismael e Isaac, podemos ver essa inimizade; em Esaú e
Jacó também; em José e seus irmãos também. Curiosamen-
te, a semente escolhida não continua com José e seus filhos,
mas com Judá e seus descendentes (Gn. 49:8-12). Embora o
primeiro rei de Israel tenha sido Saul da tribo de Benjamim,

29
foi Davi da tribo de Judá que foi o rei ideal que tipificou o Mes-
sias vindouro, e o restante do AT não mais falará da “semente
da mulher”. ,” nem da “semente de Abraão”, mas da “semente
de Davi” (exemplo: Isa.7:13-14; 9:5-7; 11:1-2; Jer.23:5-6; 30:9;
33:15-16, 21-22; Eze.34:23-24; 37:24-25 etc.).
É interessante que o NT comece dizendo: “Livro da ge-
nealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”, des-
tacando Davi e Abraão na família de Jesus. A palavra que o
RV95 traduz como “genealogia”, em grego é gênese. Dessa
forma, Mateus apresenta Jesus como o cumprimento de to-
das as expectativas e promessas do AT, começando com Gê-
nesis.

3. AS DUAS IGREJAS ESTAVAM PRESENTES NA ÉPOCA


DE CRISTO?
❝ Para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado
sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue
de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o
santuário e o altar.
Mateus 23:35

A tão esperada vinda do Messias, a “semente” prometida


em Gênesis não foi aceita pelo povo de Deus. Jesus de Na-
zaré cumpriu todas as previsões do AT, mas não atendeu as
expectativas dos líderes religiosos do povo de Deus da S.I.
Eles queriam um Messias com aparência externa em vez de
pureza interna, sua expectativa era mais parecida com Caim
ou Nimrob do que ao Messias, o manso Jesus de Nazaré. Não
só os judeus de S. I rejeitaram o Messias, como colaboraram
com as profecias que anunciavam a sua morte, condenando-
-o à cruz. Depois de todas as provas que Jesus deu ao seu

30
povo e das ternas chamadas que lhes dirigiu, dias depois da
sua crucificação, Jesus deu-lhes um sermão imprecatório,
em que desmascarou a sua hipocrisia.
Jesus descreveu os líderes religiosos do povo de Deus de
seu tempo como adoradores que buscam se exaltar acima de
Deus, “fazendo todas as suas obras para serem vistos pelos
homens” (Mt 23:6). Jesus continua: “Aí de vós, escribas e fa-
riseus, hipócritas, porque sois como sepulcros caiados, que
por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de
ossos de mortos e de toda imundícia. Assim também vós por
fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios
de hipocrisia e iniquidade” (Mateus 23:27-28). Aqueles reli-
giosos adoraram “as saudações nas praças e que os homens
as chamam: ‘Rabi, Rabi’. “Mas você não finge ser chamado de
‘Rabi’, porque um é seu Mestre, o Cristo, e todos vocês são
irmãos. E não chame ninguém na terra de seu pai, pois um é
seu Pai, aquele que está nos céus” (Mateus 23:7-9). Jesus os
chama de “Serpentes, geração de víboras!” (Mat.23:34), iden-
tificando-os com a semente da serpente e não com a semen-
te da mulher, a messiânica; seu antagonismo contra Cristo
mostra de que lado eles estão. Nesse contexto, Jesus os
condena como assassinos, porque eles planejaram sua mor-
te, e eles se identificam com o assassino Caim, por isso diz
que eles são responsáveis ​​por todo o sangue inocente der-
ramado, “do sangue de Abel, o justo” (Mat.23:35), narrado em
Gênesis, ao sangue de “Zacarias filho de Barequias”, narrado
em Crônicas, o último livro do AT; ambos mortos em cone-
xão com um altar de sacrifício, e ambos mortos nas mãos de
pessoas religiosas. Portanto, essa “inimizade” entre as duas
sementes percorreu toda a história do AT.

31
4. COMO O ANTAGONISMO ENTRE AS DUAS IGREJAS SE
MANIFESTOU NOS TEMPOS APOSTÓLICOS?

❝ Ouvindo eles isto, enfureciam-se no seu coração e rilha-


vam os dentes contra ele. Mas Estêvão, cheio do Espírito
Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Je-
sus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus
abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus. Eles,
porém, clamando em alta voz, taparam os ouvidos e, unâ-
nimes, arremeteram contra ele. E, lançando-o fora da ci-
dade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas ves-
tes aos pés de um jovem chamado Saulo.
Atos 7:54-58

Apesar do milagre da ressurreição de Cristo e das mui-


tas testemunhas que o viram, os líderes judeus continuaram
a rejeitar o Nazareno na pessoa de seus seguidores e a ma-
nifestar o mesmo espírito assassino de Caim. Este antago-
nismo e perseguição continuou desde o Império Romano e
mais tarde da Igreja Romana na chamada “Santa Inquisição” (1
João 2:18-19; Dan.7:25; Apoc.12:13-16; 13:5 , 8-10; 13-18). As-
sim, o conflito continua contra o remanescente fiel por toda
a Era Cristã, mas o importante é que Deus sempre teve um
remanescente fiel para representá-lo nesta terra, até que ele
volte.

5. ESSA “INIMIZADE” DESSES DOIS SISTEMAS RELIGIO-


SOS CONTINUA NO SÉCULO 21? (APOC.12:17; 18:24)
❝ Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os res-
tantes da sua descendência, os que guardam os manda-

32
mentos de Deus e têm o testemunho de Jesus; e se pôs em
pé sobre a areia do mar.
Apocalipse 12:17

❝ E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos


os que foram mortos sobre a terra.
Apocalipse 18:24

Apo.12-14 é a seção central de todo o livro do Apocalip-


se, onde a batalha final desse conflito entre o bem e o mal é
anunciada a João, por meio de uma visão simbólica. Come-
ça com um cenário celestial (11:19-12:1) que é onde a rebelião
começou; os dois lados são apresentados: “uma mulher” sem
nome próprio (Ap.12:1-2), e um dragão (Ap.12:3-4), que é ex-
plicitamente identificado como “a antiga serpente” (Ap. 12:9).
Em seguida, é introduzida a “semente” da mulher, que é
um Menino (Ap. 12:5), que é aquele que o dragão quer devorar
(12:4). Mas ele ascende ao céu (12:5) e então é a mulher que
é perseguida pelo dragão (12:6, 13-16), que representa a igre-
ja cristã. A perseguição é por 1260 dias proféticos, que sim-
bolizam anos, cada dia profético representa um ano literal
(Ez.4:6), que se refere a 1260 anos de perseguição sangrenta
e isso se cumpriu precisamente no período de supremacia
papal de 538 a 1798. Depois desse tempo, já no “tempo do fim”,
o dragão tenta destruir o “resto da descendência” da mulher.
A palavra “resto” em grego é loipós, que significa “resto”, “res-
to”, ou “o que resta”. Esta é a igreja remanescente do fim dos
tempos, que se caracteriza por guardar os mandamentos de
Deus e o testemunho de Jesus. A igreja remanescente não é
a igreja cristã mais antiga, mas surgiria no fim dos tempos,
ou seja, depois de 1798.

33
A palavra loipós está no plural, refere-se ao “resto”, ou “os
que ficam” da semente da mulher, aquela semente que vem
da mulher que gerou Sete e daquela que gerou o Messias. De
certa forma, somos parte da mesma família de Deus que vem
de Gênesis, somos também irmãos menores de Cristo. Os
que ficam são os últimos descendentes da família messiâni-
ca, vivem no final da história da salvação. Eles são uma pe-
quena porcentagem da igreja dentro do cristianismo, como
a família de Noé nos tempos do dilúvio ou a família de Abrão
nos tempos patriarcais. O termo traduzido pelo RV95 como
“descendência” é a palavra grega spérma, que significa “se-
mente”, é a palavra usada na versão grega de Gên.3:15 para
falar da semente messiânica.
Como em Gên.3:15 são anunciadas duas “sementes” ou “fi-
lhos” antagônicos, o dragão também tem sua última semen-
te para enfrentar o “resto da semente da mulher” no tempo
do fim, é a besta que sobe do abismo de Ap.13:1. Esta besta
se ergue das águas do mar (Ap. 13:1) como Cristo se levantou
das águas do batismo para iniciar seu ministério; o período
de supremacia desta besta é de 3,5 anos proféticos (Ap.13:5)
e o de Cristo foi de 3,5 anos literais; a besta recebe uma fe-
rida mortal, mas é ressuscitada para ser louvada por toda a
terra (Ap. 13:3). No entanto, esta besta não faz parte da fa-
mília de Cristo, apenas o imita, é uma religião falsa, apenas
na aparência. Esta besta se assemelha ao antigo dragão ou
serpente, tem sete cabeças e dez chifres à sua imagem e se-
melhança. “O dragão lhe deu seu poder, seu trono e grande
autoridade”, assim como um rei dá seu trono e poder a seu
filho; ou como Deus deu autoridade e domínio a Adão e Eva
antes da queda. Portanto, os últimos descendentes das duas
sementes antagônicas se enfrentarão como Caim e Abel no
início, esta besta também tentará matar o remanescente fiel

34
(Ap.13:8-9, 15-17). Ambas se apresentarão na forma da reli-
gião cristã, uma falsa, de aparências e outra genuína. Você
quer pertencer à igreja remanescente do fim dos tempos?
Se assim for, prevejo que você estará entre os vencedores
(Ap.12:11).

35
12

LEI DE DEUS E O SÁBADO EM


GÊNESIS - 1
Tanto o termo hebraico traduzido em nossas Bíblias como
“lei”, torá, e a palavra “mandamento”, mitswah são mencionados
apenas uma vez no Gênesis. No entanto, no resto do Pentateu-
co estes termos aparecem mais do que nas outras seções do
Antigo Testamento: Deuteronômio usa o substantivo Torá 22
vezes, Levítico 16, Números 10, Êxodo 7 e Gênesis 1. O substan-
tivo “mandamento”, mitswah, é usado 46 vezes em Deuteronô-
mio, 10 em Levítico, 5 em Números, 4 em Êxodo, 1 em Gênesis.
O verbo “para comandar” em hebraico é tsawáh e é usado pro-
fusamente em todo o Pentateuco: 88 vezes em Deuteronômio,
54 em Êxodo, 48 em Números, 35 em Levítico e 27 em Gênesis.
A palavra “lei”, nas línguas ocidentais modernas, deriva de
lex do latim, que tem uma conotação judicial no contexto da
gravidade do Império Romano. Por essa razão, no Ocidente há
uma rejeição natural desse conceito e é difícil para pensar-
mos que Deus tem uma lei. No entanto, o conceito “lei”, Torá
em hebraico, tem uma definição completamente diferente,
literalmente significando “instrução”. Nesse sentido, a lei é
como uma cerca que não é colocada ao limite, mas para pro-
teger com o propósito de desfrutar da verdadeira liberdade
sem perigo. Especialistas acham que a torá vem do verbo ya-
rah, que significa “jogar” ou “atirar”, geralmente, flechas, uma
prática indispensável naqueles tempos de sobrevivência. Da
mesma raiz, deriva a palavra moréh, que significa “mestre”.
A língua hebraica é muito concreta não sendo tão abstrata
quanto a língua grega. É interessante que o substantivo mais
comum para “pecado”, khatah, em hebraico literalmente sig-

36
nifica “perder a marca”, porque Torá significa “instrução”,
todo pentateuco com suas leis, histórias, louvores etc., foi
chamado no Judaísmo da Torá e quando Jesus fala da “lei e
dos profetas” ele está se referindo ao Pentateuco e ao resto
do Antigo Testamento.

1. O “PAI DA FÉ” MANTEVE A LEI DE DEUS?


❝ Porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou os
meus mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e
as minhas leis.
Gênesis 26:5

Como dissemos, tanto a palavra “lei” (torá) quanto a pa-


lavra “mandamento” (mitswah) aparecem apenas uma vez no
Gênesis e está neste texto. Ambos os termos são plurais,
por isso não se limitam apenas ao comando de deixar suas
terras, mas a diferentes mandamentos, estatutos e leis que
Deus comunicou a Abraão ao longo de sua vida. Muitas das
leis de Deus eram conhecidas pela transmissão oral. Devi-
do à longevidade dos antediluvianos e dos patriarcas, Adão
foi capaz de passar a vontade de Deus para Lameque, pai de
Noé e avô de Sem, e Sem poderia ter feito isso diretamente a
Abraão, Isaque e Jacó.

2. HÁ INDÍCIOS DE QUE OS 10 MANDAMENTOS ERAM


CONHECIDOS DOS PATRIARCAS?
❝ Então, chamou Abimeleque a Abraão e lhe disse: Que é
isso que nos fizeste? Em que pequei eu contra ti, para tra-
zeres tamanho pecado sobre mim e sobre o meu reino? Tu
me fizeste o que não se deve fazer.
Gênesis 20:9

37
Os mandamentos morais de Deus e o conceito de peca-
do como transgressão desses mandamentos (1 João 3:4) não
eram apenas conhecidos entre os patriarcas descenden-
tes de Sete, mas também entre outros povos. Abimeleque,
rei dos filisteus, sabia que dormir com uma mulher casada
era um pecado, embora o mandamento “não cometa adul-
tério” ainda não tivesse sido escrito nas tábuas de pedra. O
incidente de Jacó com Raquel é muito semelhante ao que
Abraão tinha feito muito antes com Sara antes de outro rei fi-
listeu, que tinha a mesma consciência do mal de dormir com
uma mulher casada e que a mentira de Abraão também era
pecado (Gn. 20:9). Mesmo que as cidades perversas de So-
doma e Gomorra não fossem inocentes nem desconheciam o
pecado (Gn. 18:20). Embora Caim, antes de cometer assassi-
nato, soubesse que suas intenções eram pecaminosas, pois
Deus lhe disse que “Se você fizesse o bem, você não seria
exaltado? Mas se você não fizer isso, o pecado está na porta,
à espreita. No entanto, você vai dominá-lo” (Gn.4:7). Aqui fica
claro que o pecado é o oposto de fazer o bem, e que Caim ti-
nha agido erroneamente mesmo em seu ato religioso, então
as intenções também podem ser pecados.
A arqueologia descobriu vários códigos morais do antigo
Oriente Próximo, desde a época dos patriarcas e anteriores,
que refletem o conhecimento universal do bem e do mal. Afi-
nal, quando Adão e Eva comiam da árvore do conhecimento
do bem e do mal, eles sabiam por sua própria experiência tan-
to a bondade quanto o pecado. Nas histórias dos patriarcas e
sua relação com outros povos de sua época, vemos o conhe-
cimento dos Dez Mandamentos, por exemplo, as mentiras
de Jacó (Gn.27); Roubo de Raquel (Gn. 31); a desonra de Ham
de seu pai (Gn.9); o assassinato de Caim (Gn. 4); cobiçando
o status de José por seus irmãos (Gn.42:21) etc. Também os
mandamentos relativos a Deus eram conhecidos, a arqueo-

38
logia encontrou fortes evidências indicando que o monoteís-
mo antecede o henoteísmo e o politeísmo, esses foram uma
degeneração da verdadeira fé no criador. Lameque tomou o
nome de Deus em vão quando zombou de sua misericórdia
em relação a Caim, em contraste com Sete e seu filho que
invocaram o nome de Deus para adorá-lo (Gn. 4); Jacó sabia
que venerar imagens de Deus era idolatria (Gn.35) e os pa-
triarcas eram zelosos para não adorar outros deuses além do
criador.

3. O MANDAMENTO DO SÁBADO ERA CONHECIDO E


PRATICADO PELOS PATRIARCAS? (GN. 2:1-3)
❝ Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu
exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua
obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra
que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santi-
ficou; porque nele descansou de toda a obra que, como
Criador, fizera.
Gênesis 2:1-3

Se Adão foi capaz de transmitir pessoalmente as ordens


de Deus ao pai de Noé, sendo que Noé viveu mais 3,5 sécu-
los após a inundação, é difícil pensar que o Sábado era algo
desconhecido para os patriarcas descendentes de Sete. Por
outro lado, o rápido abandono da lealdade a Deus e o aumen-
to do mal nos homens não tornam estranho que eles rapida-
mente esqueceram os mandamentos de Deus ou os abando-
naram. Por outro lado, alguns teólogos modernos notam que,
embora o sábado tenha sido guardado pelo próprio Deus do
Éden, não há comando do Criador para que Adão e Eva guar-
dassem esse dia.

39
A primeira coisa que devemos lembrar é que Gênesis é
predominantemente narrativa, não normativa, ao contrário
do resto dos livros do Pentateuco, os quais já mencionamos
que tanto a palavra “lei” quanto a palavra “mandamento”, ape-
sar de seu amplo uso no Pentateuco, em Gênesis, eles só são
mencionados uma vez a cada termo, por isso não é estranho
que em Gênesis as doutrinas divinas não sejam expressas
em comandos, mas imersas em relatos históricos. Por outro
lado, Gênesis cobre dezenas de gerações e milênios da histó-
ria, enquanto em Êxodo e Deuteronômio o espaço vivo de um
único homem, de Moisés, é coberto, então Gênesis fornece a
base histórica do povo de Israel e o resto do Pentateuco dá
sua base legal.
Assim como não encontramos um mandamento para
manter o Sábado em Gênesis, também não encontramos um
mandamento para não matar, mesmo que Deus condenou o
assassinato de Caim e o próprio Caim estava ciente de que
seu crime foi um pecado; o mesmo em relação aos outros
mandamentos. Uma vez que a palavra “lei” significa estrita-
mente “ensinar” e deriva do ensino para “atirar flechas”, o que
não era algo a ser ordenado a ser feito, mas algo ensinado
pelo exemplo, o que vemos em Gn. 2:1-3 é Deus dando um
exemplo para suas criaturas, feitas à sua imagem, quando ele
descansou no sábado, mesmo sem que ele precisasse des-
cansar. Há um ditado popular que diz: “um ato diz mais de mil
palavras.”
Por outro lado, o próprio fato de Gênesis cobrir milênios
torna a velocidade narrativa muito rápida e que os dados por
Moisés de cada patriarca são muito seletivos, por exemplo,
de Sete, que é tão importante na história da salvação, só sa-
bemos o nome de um de seus filhos, não sabemos como sua
esposa foi chamada também, o que ele fez etc. Obviamente

40
Caim e Sete se casaram com uma de suas irmãs, mas o texto
também não entra em detalhes sobre isso e vários aspectos.
Portanto, só porque não é dito em Gênesis que Abraão, Noé
ou Enoque guardaram o Sábado não significa que eles não o
fizeram. Os múltiplos períodos de sete dias na conta de inun-
dação (Gn. 7:4; 8:10, 12) dão evidências de que Noé conhecia
o ciclo semanal, lembre-se de que o shekel de sete dias por
semana não pode ser deduzido de observações astronômi-
cas. Que Labão deu a Raquel depois de uma “semana” de es-
tar casada com Leah (Gn.29:27-28) indica que a semana era
conhecida entre os descendentes de Sete e Sem. No texto
hebraico da inundação, é jogado com o significado do nome
“Noé”, que significa “descanso”, o verbo dessa mesma raiz é
o usado pelo Antigo Testamento para falar do descanso do
sábado (Êxodo 16:23-24, 33-34; 20:11; 23:12 etc.).
Estudiosos descobriram que toda a história do dilúvio
forma um chiasmus, ou seja, uma história contada em para-
lelos invertidos, em que o centro de toda a história é a frase
“Então Deus se lembrou de Noé” em Gn.8:1, em que o verbo
“lembre-se”, em Hebraico Zachar, é o mesmo com o qual o
quarto mandamento começa em Êxodo 20:8, “Lembre-se do
Sábado.” Por outro lado, toda a história da inundação é um
contraste intencional com a história da criação em sete dias.
Quando a inundação terminou, Deus se lembrou de “Noé”, cujo
nome significa “descanso”, assim também quando a criação
terminou, Deus instituiu o sábado como um dia de descanso.
Noé é um segundo Adão, que deve povoar e dominar um novo
mundo como o primeiro Adão fez no início. A criação que deu
origem à vida, e o dilúvio que preservou a vida são evocados
na linguagem do quarto mandamento (Ex.20:8-11), de modo
que o Sábado comemora tanto a criação quanto a redenção.
Isso é explicitado nas duas versões do quarto mandamento,

41
em Êxodo 20:8-11 a criação e em Deuteronômio 5:12-15 a re-
denção do Egito, também salva das águas que terminaram
com os ímpios.

4. QUEM INSTITUIU AS LEIS CERIMONIAIS?


❝ Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua
mulher e os vestiu.
Gênesis 3:21

Aqui temos o primeiro sacrifício na história humana e em


todo o universo. É o mesmo criador que fez vestes de peles de
animais para vestir homem e mulher e, assim, corrigir a pri-
meira consequência do pecado, que foi a vergonha. O próprio
Deus forneceu o sacrifício, que ilustra o que já está narrado
no Gênesis 3:15, que Deus fornecerá a semente que salvará
o homem, uma semente que morreria de forma vicária. Mais
uma vez não temos mandato ou lei cerimonial, apenas um
ato divino, o mesmo em relação ao Sábado. Tanto o Sábado
quanto os sacrifícios de Cristo foram instituídos pelo criador
por meio de um ato, sem comando, mas vemos que os pa-
triarcas entenderam que continuariam a realizar sacrifícios
animais em sua vida religiosa, assim como Abel (Gn. 4:4), Noé
(Gn. 8:20-21), Abraão (Gn. 12:7-8; 13:4, 18), Isaac (Gn. 26:25) e
Jacó (Gn. 35:1-7).
O sacrifício de Noé foi uma “oferta queimada” (Gn. 8:20-
21), em hebraico ‘oláh, o mesmo termo usado no resto do
Pentateuco para se referir à “oferta de queimada contínua”
(Êxodo 29:18, 25, 42; Nm. 28:3 etc.), o sacrifício mais comum
do santuário; além de outros sacrifícios particulares também
chamados assim (ahem. Lv.1:3-6). O que todas as “oferendas
queimadas” (‘oláh) têm em comum é que o sacrifício deve ser

42
queimado inteiro. Foi esse termo que deu nome ao altar do
santuário como “altar do holocausto”, em hebraico “olát ba-
mizbéaj” (Êxodo 30:28; 31:9; 38:1 etc.), que aparece assim no-
meado pela primeira vez em Gênesis 8:20. É significativo que
a única vez que o termo “oferenda queimada” aparece em Gê-
nesis é pelo sacrifício de Noé e pelo divino pedido de Abraão
para sacrificar Isaque (Gn.22), que é a experiência mais pró-
xima e clara para representar o sacrifício do Messias no livro
de Gênesis. O mesmo termo para “altar” (mizbeach) usado na
história de Noé e o resto dos patriarcas de Gênesis (ahem.
Gn.12:7-8; 22:9; 26:25 etc.), é o usado no resto do Antigo Tes-
tamento hebraico também. Por seu sacrifício, Noé escolheu
“animais limpos”, um comando explícito nas leis do santuá-
rio, mas que Noé já conhecia antes mesmo da lei dos animais
limpos e impuros (Lev.11; Deut.14).
Todas essas especificações fariam parte das leis cerimo-
niais instituídas por Deus no Sinai para o povo de Israel, mas
já eram conhecidas e praticadas pelos patriarcas, indicando
uma origem divina, embora Gênesis não nos dê detalhes de
tudo o que Deus revelou a Adão e sua posteridade. Curiosa-
mente, Noé é a conjuntura entre o mundo pré-inundação e
pós-inundação, então ele sugere que sua prática religiosa foi
uma continuação da religião praticada pelos descendentes
de Sete (Gn. 4:26), e ao mesmo tempo, é a continuação para
os patriarcas que descendem dele. Também é significativo
o fato de que todas as culturas pagãs ofereciam sacrifícios
de animais aos seus deuses e, também, aos altares. Arqueó-
logos encontraram altares canaanitas com chifres em seus
cantos, semelhantes ao altar sacrificial que Deus ordenou a
Moisés para construir para o tabernáculo (Ex. 27:1-2), mas de
tempos antes da instituição do santuário israelita. Tudo isso
sugere que as leis cerimoniais vêm desde a queda e eram

43
universalmente conhecidas, embora distorcidas em direção
ao politeísmo e em alguns povos pagãos a sacrifícios huma-
nos e outros desvios.
No entanto, também temos diferenças entre as leis ceri-
moniais e o Sábado: o Sábado foi instituído antes da queda,
mas o sacrifício depois dele, então o sacrifício animal, cen-
tral para a adoração do santuário do Pentateuco e do templo
no resto do Antigo Testamento, só serve para ilustrar – vi-
vidamente – o sacrifício do Messias que viria (Gn. 3:15), que
“como um cordeiro deve ser levado para o abate” (Is.53:7),
uma esperança que foi cantada na adoração do santuário e
da sinagoga (Sl. 22). O fato de que as leis de sacrifício foram
instituídas após a entrada do pecado lhes dá um caráter tem-
poral, uma vez que o próprio Deus anunciou a Adão e Eva que
o pecado teria um fim definitivo (Gn. 3:15). Em contrapartida,
o fato de o sábado ter sido instituído antes do pecado entrar
na terra e como parte do trabalho perfeito de Deus na mes-
ma semana de criação nos indica que o sábado permanece-
rá mesmo após o problema de o pecado ser resolvido e por
toda a eternidade (Isa.66:22-23). Por outro lado, sacrifícios
requerem morte, mas na terra restaurada “não haverá mais
morte” (Ap. 21:4), outra evidência de que as leis de sacrifício
foram temporariamente instituídas. Em vez disso, o sábado é
um dia de alegria (Isa.58:12-13), que lembra a alegria da vida
dada pelo criador (Gn. 1:31-2:3), “pois o reino de Deus não é
comida ou bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito San-
to” (Rom.14:17).

44
13

LEI DE DEUS E O SÁBADO EM


GÊNESIS - 2

1. POR QUE A LEI DA CIRCUNCISÃO EXPIROU?


❝ Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e
a tua descendência: todo macho entre vós será circunci-
dado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso
por sinal de aliança entre mim e vós.
Gênesis 17:10-11

A circuncisão, como o dízimo, já tem antecedentes em


Gênesis e ambos com Abraão. No caso da circuncisão, é um
comando explícito de Deus e esta prática é o sinal da alian-
ça abraâmica. No entanto, o Novo Testamento (NT) é explí-
cito afirmar que essa prática não continua em vigor para o
Israel do novo pacto, além disso, é antagônica ao Evangelho:
“Certamente, eu, Paulo lhe digo que se você for circuncidado,
Cristo não se aproveitará de você” (Gal.5:2). Paradoxalmente,
Paulo traça a nova aliança em Cristo para Abraão (Gal.3:15-18).
No entanto, Paulo esclarece que Abraão foi justificado quan-
do não foi circuncidado: “Porque dizemos que Abraão foi dito
a fé pela justiça. Como, então, foi dito a ele? Não em circunci-
são, mas em incircunciso. E ele recebeu a circuncisão como
um sinal, como um selo da justiça da fé que ele tinha quando
ainda não tinha sido circuncidado, que ele poderia ser o pai
de todos os crentes não circuncidados, que para eles tam-
bém a fé poderia ser contada pela justiça” (Rom.4:9-11).

45
Então por que Deus exigiu a circuncisão dos patriarcas de
Abraão e do povo de Israel depois? O próprio apóstolo Paulo
responde que a circuncisão da Nova Aliança Israel é o batis-
mo, que simboliza a morte à antiga vida (Col. 2:11-13). Essa
circuncisão era um símbolo de uma mudança de vida já é
evidente do próprio Pentateuco, “ Agora, pois, ó Israel, que é
que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu
Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas
ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua
alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus
estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem? ‘... “Circuncidai,
pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa cerviz.
“ (Deut.10:12-13, 16). Circuncisão foi um rito de sangue, para
cortar o prepúcio você tem que derramar sangue (Ex.4:25-
26), e foi uma experiência dolorosa (Gn.34:24-25). Cada is-
raelita deveria fazer um sacrifício sangrento em seu próprio
corpo, experimentar em sua própria vida uma amostra da dor
que o “homem de dores” experimentaria, para carregar o sinal
do Messias que viria derramar seu sangue. Por essa razão, a
circuncisão era apenas para os homens, uma vez que a mu-
lher, após a queda, experimentaria dor em seus nascimen-
tos e derramaria seu sangue para ver a vida nascer (Gn. 3:16),
uma promessa feita à mulher imediatamente após declarar
que da mulher nascerá a semente salvadora (Gn. 3:15). É por
isso que os profetas usam o sofrimento das dores de nasci-
mento para anunciar a vinda do Messias (Isa. 26:17; 54:1, 6,
13). Porque a circuncisão tipificou o sacrifício de Cristo, uma
vez que Cristo veio e morreu na cruz, esse rito doloroso não
é mais necessário, uma vez que ele carregou nossa dor de
forma vicária e já nos deu um novo coração, nas palavras de
Moisés, ele já circuncidou nossos corações.

46
2. ALÉM DOS 10 MANDAMENTOS, EXISTEM OUTRAS
LEIS E PRÁTICAS AT QUE PERMANECEM EM VIGOR
NO CRISTIANISMO?
❝ E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro!
Mata e come. Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Se-
nhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda.
Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não
consideres comum.
Atos 10:13-15

Neste texto, aprendemos que Pedro nunca havia comido


animais impuros, ele afirma que “nunca” comeu, indicando
que Jesus nunca lhes ensinou que as leis de saúde do Anti-
go Testamento haviam expirado. Pedro, por outro lado, sabia
que a visão de animais impuros e o comando para comê-los
não era literal, uma vez que “Pedro estava perplexo den-
tro de si sobre o que a visão que ele tinha visto significaria”
(Atos10:17a), e ao questionar isso os gentios bateram em sua
porta (Atos10:17b). Quando Pedro entrou na casa de Cornélio,
que estava cheia de gentios, “Ele lhes disse: ‘Você sabe como
é abominável que um judeu se reúna ou se aproxime de um
estranho, mas para mim Deus me mostrou que ninguém cha-
ma de comum ou impuro’ (Atos10:28). Uma vez ouviu o tes-
temunho de Cornélio: “Então Pedro, abrindo a boca, disse:
‘Realmente eu entendo que Deus não respeita as pessoas,
mas que em cada nação ele agrada aquele que o teme e faz
justiça’ (Atos 10:34-35).
Pedro entendeu que os animais impuros da visão repre-
sentavam os gentios não circuncidados, porque para ele era
claro que Jesus continuava a distinguir entre animais limpos
para comer e animais impuros que não deveriam ser comi-

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dos. Por exemplo, na parábola da rede (Mat.13:47-50) Jesus
comparou o julgamento final, quando os anjos separam os
salvos e os perdidos, à rede retirada do mar pelos pescado-
res, onde coletam todos os tipos de peixes, mas separam a
limpeza para alimentos dos impuros que retornam ao mar. No
milagre do endemoninhados Gadareno, Jesus não permitiu
que os demônios permanecessem no homem, mas Ele per-
mitiu que eles entrassem nos porcos e permitissem que eles
se afogassem (Mat.8). A Galileia dos Gentios havia deixado
as leis alimentares ditadas por Deus, se os porcos tivessem
sido considerados por Jesus a comida daquela família que
os alimentou, ele não os teria deixado sem comida. Mesmo a
revelação, o último livro do NT, revela que no final da história
humana, a categoria de animais limpos e impuros ainda esta-
rá em vigor (Ap. 18:2). As leis da saúde pertencem ao sexto
mandamento, “não matarás”, porque há muitas maneiras de
matar (Mat.5:21-22), uma delas é diminuir nossa qualidade de
vida e longevidade com um estilo de vida ruim.
Também vimos em um tópico anterior que a lei do dízimo
e das ofertas permanece em vigor na igreja cristã. Dízimos e
ofertas pertencem a Deus, ele é o dono de tudo, somos seus
administradores, portanto esta doutrina pertence ao oitavo
mandamento, que diz “não roubarás”. O critério para saber o
que ainda é válido e o que não está à luz do plano de salvação
inaugurado por Cristo na cruz. Podemos nos perguntar sobre
qualquer prática ou lei e deduzir se os cristãos devem ou não
a observar, por exemplo: as festas do santuário judaico ainda
estão em vigor? A primeira coisa a reconhecer é que as fes-
tas do santuário foram dadas apenas aos israelenses que saí-
ram do Egito, não vêm da criação como no sábado; o segundo
ponto é que em todos eles os sacrifícios animais ocuparam
um lugar central (Núm.28-29), então eles tipificaram o pla-

48
no de salvação que Cristo inauguraria. Além disso, as festas
do santuário estavam diretamente relacionadas com a his-
tória de Israel e, também, apontavam para o futuro Messias,
que inauguraria a Era da Realização, a qual substituiria a Era
dos Tipos. A Páscoa representou a morte e a ressurreição de
Cristo (2 Cor.5:7), Pentecostes representou o nascimento da
Nova Aliança Israel (Atos 2) e as cabanas com suas trombetas
e o dia da expiação representou os eventos culminantes do
plano de salvação de Cristo inaugurado na cruz.
A festa das cabanas (tabernáculos) lembrou Israel de sua
estada no deserto, quando viviam em cabanas, bebiam água
da rocha e comiam maná do céu, precisamente o Evange-
lho de João toma todos esses símbolos para anunciar que
em Cristo eles já começaram a ser realizados. Não só isso,
o Evangelho de João está completamente estruturado com
base nas festas do santuário, cada milagre e sermão escolhi-
do por João ocorrendo em uma festa de santuário. Portanto,
todas as festas vieram até a primeira vinda do Messias, na
verdade, o véu do templo em torno do qual as festas foram
celebradas (Deut.16:16) foi rasgado com a morte do Messias
(Mat.27:50-51), e 40 anos após sua morte o mesmo templo foi
completamente destruído (Mat.24; Luc.21; Mar.13).
Durante os sete dias da festa das cabanas, a cerimônia de
libação da água era realizada todas as manhãs, em que um
sacerdote encheu um pote de ouro no tanque de Siloé e as
pessoas o cercaram enquanto realizavam a cerimônia. Em
seguida, as pessoas o seguiram até o templo, em procissão,
cantando Salmos 113-118. Ao chegar ao altar, o padre lenta-
mente esvaziou a água, levantando o frasco cada vez mais à
medida que as pessoas elevavam suas vozes em seu canto.
No último dia da festa, essa cerimônia se repetiu sete vezes e
com a sétima vez a festa do sétimo mês e todo o ciclo festivo
anual terminou. Na última festa das cabanas da vida terrena

49
de Cristo, no contexto da libação da água, Jesus manifestou-
-se a todos em Israel com as seguintes palavras: “No último
e grande dia da festa, Jesus levantou-se e levantou a voz, di-
zendo: “Se alguém tiver sede, venha até mim e beba. Aquele
que acredita em mim, como diz a Escritura, fluirá de dentro
dele rios de água viva” (João 7:37-38). Dessa forma, Jesus ti-
rou o olhar do povo da festa cerimonial para a realidade que
ele apontou, que é Cristo e sua obra de salvação. Continuar a
celebrar as festas cerimoniais da antiga aliança é não reco-
nhecer o que Cristo está fazendo agora no santuário celes-
tial, em uma forma real, não mais cerimonial.

3. PAULO NÃO DIZ QUE O SÁBADO É ABOLIDO PARA


CRISTÃOS GENTIOS?
❝ Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida,
ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso
tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o
corpo é de Cristo.
Colossenses 2:16-17

Lembremos primeiro que o sábado foi dado pelo criador a


Adão e Eva (Gn.2:1-3), que não eram judeus, mas para todas
as raças; a universalidade do Sábado é repetida pelos pro-
fetas no Antigo Testamento (ahem. Isa.56); Jesus escolheu
intencionalmente iniciar seu ministério público no sábado
(Lucas 4:16) e, também, terminou seu ministério descansan-
do no sábado no túmulo (Lucas 23:54-24:2). O testemunho
de Lucas para Teófilo é importante (Lucas 1:1-4; Atos1:1-2),
pois ambos eram gentios, e se o sábado fosse limitado aos
judeus, aquele que teria percebido que teria sido Lucas,
companheiro de Paulo, que foi o apóstolo dos gentios. Paulo
manteve o sábado, tanto nas cidades dos gentios onde havia

50
uma sinagoga (Atos13:13-14, 42-44; 17:2; 18:4), e naqueles em
que não havia nenhum (Atos 16:11-14). Por que Então Paulo diz
aos colossenses que eles não devem manter o Sábado?
A carta de Paulo aos colossenses revela que a igreja na ci-
dade de Colossos, na Ásia Menor, foi sitiada por um grupo de
cristãos hereges, que tinham uma doutrina que diminuía Cris-
to e seu trabalho na cruz. Só Cristo não foi suficiente para nos
livrar da condenação, era necessário realizar outros ritos pa-
gãos e judeus para isso. Paulo insiste que a morte de Cristo na
cruz é suficiente para nos livrar da condenação dos registros
de julgamento contra o pecador (Col. 2:14), a terminologia gre-
ga não se refere aos mandamentos da lei de Deus, mas às acu-
sações em um registro de julgamento. Nesse contexto, mesmo
os demônios foram derrotados na cruz, de modo que mesmo
eles não têm o poder de nos condenar (Col. 2:15), “portanto,
ninguém te julga”, como sentir-se compelido a manter a festa
do sétimo mês, com seu dia de expiação, em que foi eliminado
das pessoas que não realizaram esses ritos (Lev.23:27-29).
No dia da expiação era necessário jejuar, as palavras tra-
duzidas na RVR95 (Reina Valera, 1995) como “comida” e “be-
bida” em grego são substantivos de ação, isso significa que
devemos traduzir para o português “comer” e “beber”, enfa-
tizando a ação. Uma tradução mais correta seria: “Portanto,
ninguém te julga por comer ou beber”, em outras palavras,
você pode comer e beber naquele dia de jejum obrigatório,
porque os cristãos não mantêm o dia judaico de expiação.
O termo “Sábados” em grego tem a forma plural, no entanto,
esta forma plural é usada no Antigo Testamento em grego
para traduzir o singular hebraico. Além disso, todos os subs-
tantivos neste verso estão no singular, “comer”, “beber”, “a
festa”, “a lua nova”, de modo que a coisa mais natural seria
traduzir “o Sábado”.

51
Embora tradicionalmente se fale de sete festas anuais no
Pentateuco, o texto bíblico sempre fala de apenas três festas
anuais: a Páscoa do primeiro mês, pentecostes ou semanas
do terceiro mês, e as cabanas (tabernáculos) do sétimo mês,
que incluíam o dia das trombetas e o dia da expiação. Houve
um total de sete sábados cerimoniais, mas apenas três fes-
tas (Deut.16:16; Êxodo.23:14-19 etc.). Quando Paulo fala de
uma festa, significa que esses hereges cristãos reconhece-
ram que Jesus com sua morte e ressurreição havia realiza-
do a festa da Páscoa e que com o derramamento do Espírito
Santo em Pentecostes a igreja cristã tinha visto a realização
da segunda festa, mas a terceira e última festa, ou seja, a das
cabanas, com seu típico dia de julgamento incluído, ele ainda
estava no futuro, então os cristãos também foram para cele-
brar esses ritos, e é por isso que Paulo diz: “Tudo isso é uma
sombra do que está por vir”, ao contrário de outros ritos que
eram tons do evento passado da cruz.
Além de destacar uma festa - as cabanas -, Paulo fala de
uma “lua nova”. A lua nova era o início de cada mês, que foi
anunciado com o sopro de trombetas (Núm. 10:1-3, 10). No
entanto, dos doze dias anuais de luas novas, apenas o que
começou no sétimo mês foi um sábado cerimonial, bem
como o restante de sete dias anuais de sábado (Lev.23:23-
25). Mesmo no templo um salmo foi cantado para celebrar
aquele dia: “Sopre a trombeta na lua nova, no dia indicado, no
dia da nossa solene festa, pois o estatuto é de Israel, porta-
ria do Deus de Jacó. “ (Ps.81:3-4). Durante milênios, os judeus
celebraram solenemente a festa do sétimo mês com seu dia
de jejum, sua festa na lua nova e seu sábado.
Que sábado é o do sétimo mês de festa? Sabemos que,
além do sábado semanal instituído pelo criador no Éden,
havia outros sete sábados cerimoniais de um personagem

52
anual, não semanal, espalhados pelas três festas anuais. No
entanto, tanto em grego quanto em hebraico uma palavra
diferente é usada para se referir aos sábados cerimoniais, a
palavra hebraica shabbath e o sábado grego foram reserva-
dos exclusivamente para o sétimo dia da semana e para o dia
da expiação, que caiu no décimo dia do sétimo mês. Portan-
to, neste contexto, o sábado que os cristãos de origem judai-
ca queriam impor aos cristãos de Colossos e que tinha um
senso judicial, era o dia da expiação.

4. COMO UM DEUS DO AMOR SE RECONCILIA COM SUA


LEI?
❝ Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo
o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendi-
mento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segun-
do, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e
os Profetas.
Mateus 22:37-40

Jesus resume toda a lei em uma palavra — “amor”— porque


os quatro primeiros mandamentos que regulam nosso dever
a Deus são resumidos em: “Você amará o Senhor seu Deus
com todo o seu coração” (Deut.6:5); e os últimos seis que re-
gulam nosso dever com nosso vizinho são resumidos em “Você
amará seu próximo como você mesmo” (Lev.19:18). Note que
Jesus não está inventando novos mandamentos, ele está ci-
tando mandamentos do Antigo Testamento, especificamente
da Torá de Moisés. Portanto, Deus nos deu sua lei porque ele
nos ama e cumprindo-a podemos ser verdadeiramente felizes.
Lembre-se de que a palavra hebraica “lei” significa “instrução”.

53
Deus não deu sua lei escrita a Israel no Egito, como condição
para, então, salvá-los da escravidão, mas deu-a depois que Ele
os tirou do Egito e as libertou da ameaça das carruagens do
Faraó. A lei de Deus é para todos aqueles que foram libertados
em Cristo da escravidão do pecado.
Isso significa que todos os mandamentos derivados dos
Dez Mandamentos Morais refletem o próprio caráter de Deus,
uma vez que “Deus é amor” (1 João 4:8). Por esta razão, Jesus,
em todo o seu ministério terrestre, teve conflitos permanen-
tes com os líderes judeus durante o sábado, uma vez que o
dia do descanso físico e espiritual o transformou em um dia
de fardo com suas tradições. Jesus restaurou o Sábado ao
seu propósito original. Embora cristãos e judeus vivam para
Deus todos os dias, trabalho, estudos e deveres diários nos
impedem de ter essa comunhão completa com nosso cria-
dor que só podemos obter no sábado. Além disso, apenas o
Sábado tem a bênção de Deus e apenas o Sábado é um dia
santificado com a presença divina (Gn.2:1-3). Diante disso,
não há dúvida se a lei de Deus terminará (5:17-19), uma vez
que “o amor permanece para sempre” (1 Cor.13), e sua lei re-
flete o próprio caráter do Deus eterno. Você quer entregar
todos os seus fardos a Cristo e descansar nele (Mat.11:28-30;
Heb.4:1-7)?; Você quer se tornar parte do povo de Deus para
experimentar  com antecedência à comunhão com Deus, que
só será plena quando Cristo voltar?

54
14

O SANTUÁRIO EM GÊNESIS - 1
O santuário israelita foi revelado por Deus a Moisés no Mon-
te Sinai, após sua saída do Egito (Ex.25), e o resto do livro de
Êxodo (cap. 25-40) trata da estrutura e construção do santuá-
rio, concluindo com sua inauguração (Êxodo.40). Todo o livro
de Levítico trata das diferentes atividades que ocorreram no
santuário. O livro de Números fala sobre como todas as pes-
soas de Israel e sua rotina diária devem ser organizadas em
torno do santuário (Núm.1-10); o resto dos Números e Deute-
ronômio narram a marcha de Israel para Canaã, onde a adora-
ção do santuário é sempre destacada. Como pode ser visto, o
santuário e seus ritos são centrais para o Pentateuco, exceto
Gênesis, que antecede a revelação e a criação do santuário.
No entanto, este não é assim, o santuário, como todos
os temas do Pentateuco e toda a Bíblia são introduzidos no
Gênesis, que contém a semente de todas as doutrinas e re-
velações de Deus. Já mencionamos em tópicos anteriores
que os sacrifícios do santuário, em particular o holocausto
e a oferta minchah já foram introduzidos no Gênesis. Tam-
bém o altar do holocausto, o maior dos móveis do santuário,
é usado desde Gênesis. É interessante que móveis como a
arca da aliança, o altar do incenso e outros, que ao contrário
do altar da oferenda queimada, foram colocados nos lugares
mais sagrados e são forrados com ouro, não têm menção ex-
plícita em Gênesis. Isso ressalta a centralidade do sacrifício,
que aponta para a cruz de Cristo no Antigo Testamento, sen-
do um dos principais propósitos do santuário israelita é jus-
tamente ilustrar o plano de salvação centrado na morte subs-
titucionária do Messias vindo. Em seguida, vamos mergulhar
no santuário em Gênesis.

55
1. O QUE SIGNIFICA “SANTUÁRIO”? (ÊXODO 25:8)
❝ E me farão um santuário, para que eu possa habitar no
meio deles.
Êxodo 25:8

A palavra “santuário”, neste texto, é o termo hebraico miq-


dahsh, que estritamente falando é um particípio substantivo
que traduziria: “aquilo que é santo”. O outro termo hebraico,
derivado da mesma raiz acima, traduzido para nossa língua
como “santuário” é kodesh, que é o substantivo “santo”. Am-
bos miqdahsh e qódesh vêm da raiz de três consoantes he-
braicas q-d-sh, ambos termos qualificando um lugar ou obje-
to como “santo”. O termo “santo” para se referir a pessoas (2
Reis 4:9), anjos (Dan.8:13) ou Deus (por exemplo, Lev.11:44) é
qahsh. O significado básico da raiz, a partir do qual vem o ver-
bo “santificar” e o adjetivo ou substantivo “santo”, seja para
pessoas ou para objetos, significa “deixar de lado”, portan-
to, santuário significa “separado”. A ideia por trás do termo
é que o que é sagrado é separado exclusivamente por Deus,
de modo que o sábado seja sagrado porque, ao contrário dos
outros dias da semana, é um dia que devemos deixar de lado
exclusivamente para Deus; o mesmo em relação ao santuá-
rio, pois é sagrado significava que Israel deveria colocá-lo de
lado exclusivamente para o lugar de moradia de Deus e uso
sagrado.

2. QUAL FOI A PRIMEIRA COISA SAGRADA NA TERRA?


❝ E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele
descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.
Gênesis 2:3

56
A primeira vez que a raiz q-d-sh aparece na Bíblia é quan-
do o criador santificou o Sábado, o sétimo dia de criação.
Aqui temos o verbo qadash “para santificar”, mas não é em-
pregado para um lugar, mas por um tempo, por isso os ra-
binos desde os tempos antigos chamavam o Sábado de “o
santuário no tempo”. O universo em que vivemos tem duas
dimensões, tempo e espaço, após a saída de Israel do Egi-
to Deus santificou um lugar, mas da própria criação Deus já
havia santificado um tempo. É interessante que na criação
mitos de origem pagã, os deuses ou o deus criador concluí-
ram suas obras criativas santificando um lugar, seja uma ci-
dade ou um templo, que eles deixam como o centro do gover-
no divino-humano para o resto da humanidade, por isso, por
exemplo, os babilônios consideraram sua cidade como uma
cidade santa. Ao contrário desses mitos, Deus santificou um
tempo para comemorar a criação e lembrar de sua regra.
O santuário, a montanha sagrada, a cidade sagrada, e
qualquer outro lugar santificado por Deus na história bíblica
são posteriores ao tempo sagrado, aquele que precede até
mesmo a queda. O santuário tornou-se o centro da adoração
e da vida de Israel ao longo de sua história, mas quando o ca-
tiveiro babilônico veio e seu templo sagrado e cidade santa
foram destruídos, apenas a época sagrada do Sábado con-
tinuou com eles no lugar do banimento. Novamente, quando
Roma destruiu Jerusalém e o templo em 70, os judeus se es-
palharam pelo mundo, o sacerdócio, os sacrifícios, os sadu-
ceus tinham acabado, mas o Sábado continuou como o cen-
tro da identidade do povo judeu.
Sem dúvida, o tempo é mais adequado para refletir a san-
tidade do criador do que o espaço. A história nos mostra que
mesmo os mais sagrados e sólidos podem ser destruídos, sa-
queados, deteriorados ao longo do tempo etc., mas um dia

57
continuará existindo mesmo se mudarmos o calendário; Ele
virá no final de cada semana, não importa onde moramos,
tem aquele caráter de onipresença que nos lembra o cria-
dor. Por outro lado, um tempo sagrado não requer fazer uma
procissão para um lugar distante para encontrar Deus, já que
ele está simultaneamente em todos os lugares. A semana de
criação de Gênesis1:1-2:3 é tradicionalmente vista como a
semana em que Deus criou todas as coisas, mas Deus não
só criou coisas no espaço, mas Deus também criou o tempo.
Observe que a obra divina da criação no Gênesis 1:1 come-
ça com o tempo: “no início”, espaço: “os céus e a terra” são
mencionados no final do verso. Da mesma forma, o trabalho
criativo de Deus termina com a criação do tempo sagrado, o
Sábado (Gn. 2:1-3), portanto, o tempo é no início e no final da
semana quando Deus criou todas as coisas.
Além disso, cada dia de criação, não importa o que Deus
fez naquele dia, termina com a menção da época em que foi
feito: “e foi a noite e a manhã do primeiro dia”, “... do segundo
dia” etc. Estudiosos observaram que os sete dias de criação
estão estruturados em 3-3-1, quando os primeiros seis dias
são divididos em dois grupos de três. O interessante é que o
primeiro e quarto dias, que são os que começam cada tríade,
têm a ver com o tempo, não com o espaço, desde o primeiro
dia Deus separou a luz da escuridão e instituiu o dia terrestre
da tarde e da manhã; e no quarto dia Deus fez os luminares
celestiais para regular os dias, estações e anos. Tudo isso re-
vela que desde o “início” Deus destacou o tempo sobre o es-
paço ou coisas materiais. Isso nos deixa claro por que Deus
santificou um tempo. Podemos mudar o dia de culto de sába-
do para qualquer outro, mas nenhum outro dia foi santificado
por Deus, nem tem Sua bênção.

58
3. QUE OUTRO NOME É DADO AO SANTUÁRIO NO PEN-
TATEUCO? (ÊXODO 25:8-9)
❝ E me farão um santuário, para que eu possa habitar no
meio deles. Segundo tudo o que eu te mostrar para mode-
lo do tabernáculo e para modelo de todos os seus móveis,
assim mesmo o fareis.
Êxodo 25:8-9

Neste texto, o lugar onde Deus habitará no meio de seu


povo é chamado de “santuário” (miqdah, ver.8), mas também
é chamado de “tabernáculo” (mishkan, ver.9), que significa
“moradia” ou “moradia”, que também é um particípio substan-
tivo. A raiz triconsoante do último termo é sh-k-n, que apare-
ce como um verbo em ver.8, onde diz: “Eu habitarei no meio
deles.” A partir deste mesmo termo deriva a palavra shekináh,
habitação ou gloriosa presença de Deus na arca, um termo
que não aparece na Bíblia, mas que segue da terminologia
aqui mencionada. A palavra mishkan, “moradia” ou “moradia”
revela outro dos grandes propósitos do santuário judeu, é
que, apesar do pecado que nos separou do criador, pelo exílio
do Éden, Deus quer morar com seu povo.

4. DEUS ESTAVA PRESENTE AO HOMEM ANTES DA


QUEDA?
❝ E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multipli-
cai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os pei-
xes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal
que rasteja pela terra.
Gênesis 1:28

59
Neste texto, temos a primeira comunicação direta entre
o criador e os seres humanos. Momentos após a criação do
casal humano, a frase: “Deus te abençoou e lhe disse” intro-
duz essa comunicação. No Gen. 2:16-17 a frase: “E o SENHOR
Deus comandou o homem, dizendo”, introduz aquele diálogo
onde Deus adverte o homem sobre a presença do mal no uni-
verso. Então, Deus deu ao homem a faculdade para nomear
animais (Gn. 2:19). Mesmo no capítulo 3, após a queda, Deus
fala com Adão e Eva, para julgá-los e conscientizá-los do
evangelho (Gn. 3:8-19). No entanto, a diferença agora é que
quando Adão e Eva “ouviram a voz de Deus Jeová caminhan-
do no jardim” “o homem e sua esposa se esconderam da pre-
sença de Deus Jeová” (Gn. 3:8). O ser humano foge da pre-
sença de Deus, e é Deus quem o procura e o chama. A partir
desse dia, todo ser humano foge de Deus e Deus nos procura
para nos salvar. Esta é uma das diferenças essenciais entre o
cristianismo e todas as religiões orientais, nestes é o homem
que procura Deus, às vezes com grandes sacrifícios, e deve
tentar alcançá-Lo. No entanto, no cristianismo é Deus quem
nos procura, mesmo ao custo do maior sacrifício.
Essa distância produzida pelo pecado e pelo desejo de
Deus de se comunicar e habitar com o homem é a razão do
santuário que Deus ordenou a Moisés para construir: “Eles
erguerão um santuário para mim e eu viverei no meio deles”
(Êxodo 25:8). O desejo de viver com o homem está intima-
mente relacionado com a vinda do Messias, uma vez que o
Messias é “Deus conosco” (Isa.7:14; Mat.1:22-23). O verbo sha-
kan, do qual vem o myskan, “habitando”, “quarto” ou “taberná-
culo”, foi traduzido para o grego pelos estudiosos judeus pelo
verbo , com o mesmo significado do hebraico e eles usaram
o substantivo skéne para “tabernáculo”. É interessante que
João em seu Evangelho introduza Jesus como divino e cria-

60
dor ao lado do Pai (João 1:1-3), mas em verso14 ele diz: “E a
Palavra se tornou carne e habitou entre nós”, onde ele usa
para o verbo habitar, indicando que o santuário, que era o lu-
gar da moradia de Deus entre os homens, era o próprio Jesus
em sua encarnação. Deus tinha vindo para habitar com os
homens na pessoa de Jesus. O próprio João, contando sua
visão da descida da nova Jerusalém do céu, registra: “Então,
ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo
de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão
povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.” (Ap. 21:3).
Isso significa que o desejo divino de morar novamente com o
homem definitivamente será retomado, porque no final não
haverá pecado e nenhuma consequência, de modo que nada
nos separará (Ap. 21:4).

61
15

O SANTUÁRIO EM GÊNESIS - 2
1. POR QUE O SANTUÁRIO TERRESTRE FOI DADO A IS-
RAEL E NÃO VEM DO PRÓPRIO ÉDEN?
❝ Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no
jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E o SENHOR
Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim come-
rás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e
do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás.
Gênesis 2:15-17

Como o homem podia se comunicar com Deus “cara a


cara” e não havia pecados para expiar, não havia necessidade
de um santuário antes da queda. Na era patriarcal, a essência
do santuário, ou seja, a presença de Deus e a comunicação
com a própria presença de Deus, foi fornecida e constante na
vida de todos os patriarcas. Quanto ao aspecto redentor do
santuário, sua essência também estava presente na religião
dos patriarcas antes e depois das Enchentes, por meio dos
sacrifícios que apontavam para o Messias. Israel tinha sido
brutalizado pela escravidão, e Deus viu a necessidade de algo
mais gráfico e vívido, o que os lembraria permanentemente
das lições do evangelho.
No entanto, apesar da não necessidade de um santuário
no espaço, o próprio Éden, que era a habitação humana, tam-
bém serviu aos propósitos do santuário, ou seja, como ponto
de encontro entre o criador e o ser humano. É interessante
que a tarefa que Deus atribuiu a Adão no Jardim do Éden,

62
“que ele possa trabalhar e cuidar dele”, ambos verbos hebrai-
cos, “abád e shamár”, são empregados no resto do Pentateu-
co para descrever o trabalho dos levitas que serviram no san-
tuário (Num. 1:53; 3:10, 28 etc.). O lustre tinha galhos, frutos
e flores, o que nos lembra a árvore da vida. O primeiro sacri-
fício da história foi feito no Éden (Gn. 3:21) e foi o santuário
quando Israel faria seus sacrifícios. No santuário havia dois
níveis de santidade, o lugar sagrado e o mais sagrado, o se-
gundo era de acesso mais restrito; no Éden também encon-
tramos dois níveis de santidade, todo o jardim era sagrado, já
que o pecado não o havia poluído, mas o centro do Éden era
mais sagrado e restrito para o homem. O lugar mais sagrado
era guardado por dois querubins cobertos esculpidos sobre
a arca; a estrada para a árvore da vida era guardada por dois
querubins de cobertura também (Gen. 3:24).
Por outro lado, há fortes paralelos literários entre a histó-
ria da criação da gênese e a história do edifício santuário em
Êxodo. Já sabemos que Deus criou em sete dias (Gn. 1:3-2:3),
e que cada ato de criação começa com a frase “e Deus disse”;
da mesma forma, as instruções para a construção do santuá-
rio foram reveladas a Moisés pela fala divina, através de sete
oráculos (Êxodo 25:1; 30:11, 17, 22, 34; 31:1, 12). Em cada um
desses sete oráculos, os paralelos podem ser encontrados
com cada um dos sete dias de criação, por exemplo: no sexto
ditado divino Deus chama Bezaleel para fazer os móveis do
santuário, e o encheu “com o espírito de Deus”, como Deus
colocou seu espírito em Adão quando o criou no sexto dia.
Deus deu Bezaleel como companheiro e ajudante para Aoo-
liabe, o que nos lembra da criação de Eva, companhia e ajuda
ideal para Adão. O mesmo verbo hebraico ‘asah ‘to do’ é trata-
do tanto no sexto dia quanto na conta da chamada para Be-
zaleel. O sétimo ditado é o comando divino para Israel manter

63
o Sábado (Ex.31:12-18), que lembra o sétimo dia de criação.
Frases que concluem o trabalho de criação se repetem no
final da construção do santuário, tais como: “E Deus viu tudo
o que tinha feito (Gn. 1:31. 39:43); “Deixe os céus e a camada
estarem acabados” (Gn.2:1 ver Ex.39:32); “No sétimo dia Deus
terminou o trabalho que ele fez” (Gn. 2:2 ver Ex. 40:33); “Deus
abençoou o sétimo dia” (Gn.2:3 ver Ex. 39:43). Tudo isso su-
gere que a construção do santuário e o lugar de Moradia de
Deus nele é uma espécie de retorno ao Éden, como um pre-
núncio da promessa evangélica de Gen.3:15, e uma garantia
da vinda do Messias.

2. COMO O “SANTUÁRIO” DO ÉDEN SE RELACIONA COM


O RESTO DO PENTATEUCO?
❝ Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moi-
sés, com quem o SENHOR houvesse tratado face a face,
Deuteronômio 34:10”

O Pentateuco, que começa com a criação de Gênesis, ter-


mina com a morte de Moisés, que é conhecido por ter falado
com Jeová “cara a cara”, semelhante à situação de Adão an-
tes da queda. Este tema que parece incidental, não é, uma
vez que todo o Pentateuco é um único livro, tem uma con-
tinuidade ininterrupta, e forma uma estrutura quiástica que
une os cinco pergaminhos. Esta estrutura corresponde a pa-
ralelos invertidos, Gênesis começa com a criação da terra em
que Deus coloca o homem como seu governante para desfru-
tar de suas bênçãos e termina em Deuteronômio com uma
nova terra, a terra prometida, uma terra que é dada a Israel
para governá-la e desfrutar de suas bênçãos. O terceiro livro
do Pentateuco é Levíticos, que fica no centro do Pentateuco,

64
este livro tem sete seções, em que o capítulo central, tanto
do livro quanto de todo pentateuco, é Levítico16, que fala do
Dia da Expiação, o dia em que as pessoas foram completa-
mente purificadas de pecados e impurezas, um estado que
só experimentou antes da queda. Naquele dia, também todos
que não se arrependeram foram isolados do povo, ou seja, o
mal foi eliminado. Foi precisamente naquele dia do ano que
um homem, o sumo sacerdote, pôde ver Deus “cara a cara”,
no shekinah da arca, que liga este capítulo central do Penta-
teuco aos primeiros capítulos de Gênesis e ao último capítulo
de Deuteronômio. Portanto, no ritual do santuário, repetido
ano após ano, o plano de salvação que antecipa e anuncia o
retorno ao santuário do Éden foi grafado.

3. O QUE SIGNIFICA A EXPULSÃO DO ÉDEN?


❝ Também eu, nesse tempo, implorei graça ao SENHOR, di-
zendo: Ó SENHOR Deus! Passaste a mostrar ao teu servo
a tua grandeza e a tua poderosa mão; porque que deus
há, nos céus ou na terra, que possa fazer segundo as tuas
obras, segundo os teus poderosos feitos?
Deuteronômio 3:23-24

O exílio de Adão e Eva do Éden parece uma crueldade por


parte de Deus, mas é tanto um ato de misericórdia quanto
uma dor, tanto para Deus quanto para o casal humano. Foi
um ato de misericórdia porque se o homem caído comesse o
fruto da vida, ele eternizaria o pecado em sua vida (Gn. 3:22)
e a única maneira de erradicar o pecado do universo seria ex-
terminar o homem. No entanto, a expulsão do Éden, por mais
dolorosa que seja, era a única maneira de redimir o homem
caído. O último ato testemunhado por Adão no Éden foi o sa-
crifício que permitiu a Deus cobrir a nudez do casal humano.

65
Esse ato liga o santuário do Éden ao santuário israelita no
resto do Antigo Testamento.
É interessante que a história desse primeiro exílio, a per-
da do lar santuário, se repita na história de Israel no Penta-
teuco, todo Israel experimentaria o infortúnio de Adão, o livro
de Êxodo começa com o povo exilado de suas terras, e embo-
ra pareça impossível voltar à terra prometida, Deus trabalha
com um poder sobrenatural no Egito para libertar seu povo, o
mesmo poder que Deus exerceu em Sua criação. O êxodo de
Israel é como uma nova criação e o santuário é um prenúncio
do retorno ao Éden. Tanto Levítico.26 quanto Deuteron6o-
mio 28 preveem um novo exílio para o povo de Deus, agora na
Babilônia, este exílio também não será o fim de Israel, já que
Deus perdoará seu povo, dar-lhes-á um novo coração e os de-
volverá à sua terra e ao seu santuário. Esta nova experiência
de exílio e libertação foi necessária quando o povo de Deus
esqueceu seu criador e redentor. Toda a história do Antigo
Testamento gira em torno desses dois exilados, que termina-
ram com um final feliz, e são uma garantia do último êxodo,
quando Cristo retorna em sua segunda vinda para nos liber-
tar do exílio deste mundo e, assim, habitar com Deus “cara a
cara” para a eternidade.

4. COMO PROFETAS APOCALÍPTICOS LIGAM O SANTU-


ÁRIO À CRIAÇÃO DO GÊNESIS?
❝ Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e
o santuário será purificado.
Daniel 8:14

❝ Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evange-


lho eterno para pregar aos que se assentam sobre a ter-

66
ra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em
grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada
a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra,
e o mar, e as fontes das águas.
Apocalipse 14:6-7

Dan.8:14 anuncia a purificação do santuário celestial, algo


que foi anunciado de forma tipica no Dia da Expiação do san-
tuário terrestre, quando foi purificado (Lev.16:16 e 23). Como
o contexto de Dan. 8:10-14 fala do céu e dos seres santos, sa-
bemos que este santuário é o celestial, e que o santuário ter-
restre foi purificado a cada 365 dias, mas deve ser purificado
após 2300 dias, que pelo contexto simbólico deve ser anos. O
interessante é que, de todas as profecias do tempo na Bíblia,
esta é a única entregue em “noites e manhãs”, um elo direto
e único para a semana de criação, em que Deus criou tudo
de bom de uma forma ótima em sete dias de “tarde e manhã”
cada um.
Dan.8:14 começa em hebraico com o verbo “dizer”, na for-
ma chamada qal, no estado singular imperfeito, em terceira
pessoa, com um prefixo que significa “e”, a expressão hebrai-
ca é wayómer, literalmente, “e disse”. Curiosamente, cada dia
de criação começa com esse mesmo verbo e conjugado e
prefixado da mesma forma, wayómer, “e dito, e cada dia de
criação termina com a expressão “era a noite e a manhã do
dia...”, Ambas as expressões são reunidas em Dan.8:14, a pro-
fecia que anuncia a purificação do santuário. Anunciar este
futuro evento na linguagem da criação implica que a purifi-
cação/reivindicação do santuário celestial trará uma restau-
ração definitiva da terra e do universo para um estado seme-
lhante ao do Éden, quando não havia mal e tudo era bom de
uma forma grande.

67
A purificação do santuário celestial requer julgamento in-
vestigativo (Dan.7:9-10, 22), conforme ilustrado em Gen.3:8-
19. Os dois seres santos que dialogam em Dan.8:14 nos lem-
bram dos dois querubins que estacionaram no caminho para
a árvore da vida no santuário do Éden (Gn. 3:22) e os dois
querubins da arca da aliança, um móvel que só foi visto no Dia
da (Ex.25:17-22).
Em Ap.14:6-7 “o evangelho eterno” é pregado, é eterno
porque vem do Éden e até mesmo de antes da fundação do
mundo. O evangelho eterno inclui o ditado do “julgamento
investigativo” em nome do povo de Deus: “chegou a hora de
seu julgamento”. Esta hora é antes da vinda do Filho do Ho-
mem à Terra, quando é proclamado, “chegou a hora do corte”
(Ap. 14:15), por isso é um julgamento antes do advento. Diante
dessa boa notícia, todos são convidados a adorar “aquele que
fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas”, aludindo à
criação perfeita que precede a entrada do pecado, e evocan-
do o quarto mandamento (Ex. 20:8-11), que é a ligação entre
o Éden perdido e o Éden restaurado. A mensagem de Daniel
e Apocalipse é uma mensagem de retorno ao Éden, você
quer fazer parte daqueles que experimentarão o êxodo deste
mundo para o mundo da felicidade eterna?

68
16

A SEGUNDA VINDA E O FIM DO


MUNDO EM GÊNESIS - 1
A segunda vinda de Cristo é o evento climático da história
da salvação e o momento mais querido para os cristãos de to-
dos os tempos. Com esta esperança, os mártires deram suas
vidas louvando a Deus quando morreram. O próprio Cristo
anunciou que voltaria novamente (João 14:1-3), disse que viria
com todos os Seus anjos, e eles tomarão e levarão os eleitos
para o céu (Mat.24:30-31), não só trazer os crentes da geração
final, mas todos os que abraçaram a esperança do reino mes-
siânico de Adão e Eva em diante, pois o Senhor ressuscitará os
mortos em Cristo quando Ele vier (1 Tess.4:13-18), aumentare-
mos em glorificados, para que não morramos mais (Phil.3:20-
21; 1 Cor.15:51-55). Todos nós que somos levados para o céu
viveremos e reinaremos com Cristo por mil anos (Ap. 20:4-6).
Os ímpios morrerão com o brilho de Sua vinda (2 Tess.2:8;
2; Pe.3:10-13), então a segunda vinda de Cristo também é
chamada de o fim do mundo. Os ímpios serão ressuscitados
no final dos mil anos (Ap.20:7), a ser julgado (Ap.20:11-15),
então Satanás os enganará para tentar uma rebelião final
contra Deus e a sua própria, mas serão destruídos em um
lago de fogo com morte eterna (Ap.20:7-10), o mal deixará de
existir para sempre, e viveremos com Deus pela eternidade
(Ap.22:4-5), pois não haverá mais morte, nem nada que cause
dor (Ap. 20:4). Por tudo isso, a segunda vinda de Cristo co-
meçou cada oração cristã (Mat.6:10), e tornou-se a saudação
característica de todos os seguidores de Cristo: Maranata (1
Cor.16:22), e para os cristãos adventistas constitui sua pró-
pria identidade.

69
1. FOI A SEGUNDA VINDA DE CRISTO CONHECIDA E ES-
PERADA TÃO CEDO QUANTO GÊNESIS? (JUD. 14-15)
❝ Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sé-
timo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor en-
tre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos
e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas
as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de
todas as palavras insolentes que ímpios pecadores profe-
riram contra ele.
Judas 1:14-15

O testemunho colhido por Judas, irmão do Senhor, afir-


ma que Enoque, da prole de Sete (Gn.5:21-24) profetizou a
vinda do Senhor com seus santos, para fazer julgamento e
erradicar o mal. O verbo “vir” empregado aqui é o verbo grego
érjomai, que é um dos verbos gregos que significa “vir”, mas
o mais usado no NT para anunciar a segunda vinda de Cristo.
Este verbo é a tradução do verbo hebraico bó’, usado no An-
tigo Testamento para anunciar a vinda do Messias. O verbo
érjomai é traduzido para o aramaico, uma língua falada pelos
judeus na época de Cristo, pelo verbo ‘atháh, que se tornou a
saudação diária entre os cristãos “Maranata”, onde Marán em
Aramaico significa “Senhor”, e athá “vem”.
É interessante que Judas cite um livro religioso judeu (1
Enoque 1:9), que tanto judeus quanto cristãos modernos con-
sideram apócrifo. No entanto, Judas modifica ligeiramen-
te a citação de Enoque. No entanto, o cerne é que os livros
apócrifos coletam o pensamento e as tradições do judaísmo
pré-Cristo. Portanto, nem todo o conteúdo de um livro apó-
crifo é falso, também, algumas verdades não o transformam
completamente em verdade. Um historiador sério pode citar

70
um humorista para destacar uma grande verdade para este
ditado, ou para coletar um testemunho histórico da época e
do lugar em que ele viveu, mas isso não significa que o his-
toriador valide todas as histórias e piadas inventadas por
aquele humorista. Lembremo-nos também da longevidade
dos patriarcas e sua dependência da memória, ao contrário
do homem moderno que depende de livros ou de dispositivos
tecnológicos. Se um autor inspirado retoma uma tradição
religiosa, essa tradição é validada, não o livro inteiro. Desde
que Adão viveu no tempo de Enoque, o próprio Adão pode ter
conversado com ele sobre a vinda do Senhor, e desde que
Enoque caminhou com Deus, ele pode muito bem ter recebi-
do uma revelação mais explícita sobre sua vinda.

2. O PROTOEVANGELHO ENVOLVE DUAS VINDAS DO


MESSIAS (GN.3:15)
❝ Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendên-
cia e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar
Gênesis 3:15

Já tínhamos comentado sobre este texto antes, aqui só


lembraremos que este texto anuncia duas vindas do Messias,
com a frase “ele vai te ferir na cabeça”, a vinda do Messias é
anunciada à serpente para destruí-lo, essa vinda não pode
ser limitada à primeira vinda, já que o verbo hebraico shup,
“ferir” significa “esmagar” ou “pulverizar”, é um fim definitivo
ao mal. Cristo derrotou o inimigo na cruz (João 12:30-33; Col.
2:15; Heb.2:14), mas o inimigo ainda estava vivo e ativo (Ap.
12:10-12). Por sua vez, a frase “você deve feri-la no calcanhar”
não pode se referir à segunda vinda, uma vez que Cristo virá

71
em glória, como um rei vitorioso, em que ele não será ferido,
mas derrotará as forças do mal (Ap. 19:11-21). Uma vez que
os antigos hebreus raciocinavam do efeito para causa, não
de causa para efeito como nós ocidentais modernos, é natu-
ral anunciar a Adão e Eva primeiro o efeito final, isto é, a se-
gunda vinda do Messias como rei vitorioso e, então, a causa
desta vitória escatológica, ou seja, sua primeira vinda para
morrer vicariamente.
Estas duas vindas e, nesta mesma ordem, são imediata-
mente esclarecidas no nascimento das duas sementes de
Adão e Eva em Gên.4, que como dissemos faz parte do mes-
mo capítulo com Gên.3 no original. Embora Gên.4 dê origem
às duas sementes que teriam “inimizade contínua”, em vez de
dois filhos temos três, Caim e Abel; Sete. O par de bons fi-
lhos representam o Messias. Por que dois e não um?, porque
o primeiro que vem para este mundo vem para morrer e não
deixa filhos, então a vinda de um segundo filho é necessária
para representar o Messias em sua gloriosa vinda. Sete dei-
xou uma grande prole (Gn.5) que foi ininterrupta até a primei-
ra vinda de Cristo (Lucas 3:23-38) e continuará até o mesmo
fim (Ap. 12:3-4, 17). Quando Isaías anuncia a primeira vinda
de Cristo, sua vinda como o messias sofrido, ele diz que o
Messias - como Abel - não deixaria nenhuma prole (Isa.53:8).
Portanto, Abel representa a primeira vinda do Messias, quan-
do ele seria mortalmente ferido pela serpente (Mat.23:) e
Sete representa a segunda vinda do Messias, que “verá li-
nhagem” (Isa.53:10), mas esta vinda será depois que ele for
ressuscitado e entronizado (Isa.53:10). Os estudiosos judeus
que traduziram o Antigo Testamento para o grego deixaram
essa esperança clara em duas vindas do Messias traduzindo
o nascimento de Sete como uma ressurreição de Abel (Gn.
4:25), em que o texto diz: “Pois Deus (ela disse) me substituiu

72
por outro filho em vez de Abel”, diz a versão grega: “Deus me
criou. outro filho”, argumentando (os tradutores) que se am-
bos os filhos representam um único Messias, então o Messias
deve vir duas vezes, mas se em sua primeira vinda ele morre-
ria como Abel, então ele deve se levantar novamente para vir
e destruir a serpente.

3. COMO O DILÚVIO ILUSTRA A CONDIÇÃO DO POVO


ANTES DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO?
❝ Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda
do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias an-
teriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se
em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e
não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou
a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem.
Mateus 24:37-39

A condição dos antediluvianos descritos por Jesus não


é tanto do pecado como da indiferença, as pessoas viviam
como se Deus não existisse. O interesse do povo não era em
“chamar o nome de Deus” como Sete e Enoque (Gn. 1:26), mas
em cumprir seus objetivos. Isso é surpreendente por causa
do testemunho de pessoas como Adão e Eva, Enoque, Matu-
salém etc. Ainda mais por causa do testemunho do próprio
Noé, “pregador da justiça” (2 Pet.2:5), que anunciou por 120
anos a inundação vinda (Gn. 6:3). Em um contexto de um fim
iminente, viver sozinho para cumprir planos terrenos é uma
rejeição do criador (Heb.11:7).
Gênesis nos informa: “E o Senhor viu que a maldade dos
homens era grande na Terra e que cada plano dos pensamen-
tos de seus corações era continuamente apenas maligno”

73
(Gn. 6:5). O texto é enfático, não havia apenas pessoas más,
mas todas elas eram ruins; mesmo os descendentes de Sete,
com a única exceção de Noé; além disso, não apenas suas
obras, já que cada desenho de seus pensamentos era ruim
e não, às vezes, mas “continuamente”, diz o original “o tempo
todo”. O pecado era tal que “o Senhor se arrependeu de ter se
tornado homem na terra, e doía em seu coração” (Gn. 6:6). A
descrição continua: “E a terra foi corrompida..., e a terra es-
tava cheia de violência... foi corrompido; toda a carne tinha
corrompido seu caminho na terra” (QUAL O LIVRO? 6:11-12).
Finalmente, “Deus disse a Noé, portanto, ‘Eu decidi o fim de
cada ser, pois a terra está cheia de violência por causa deles;
e eis que vou destruí-los com a terra” (QUAL O LIVRO? 6:13).
O verbo “destruir” da frase “eu vou destruí-lo” em hebraico é o
tláteco, e é o mesmo verbo usado três vezes para descrever o
trabalho dos homens em GÊn.6:11-12, que RV95 traduz como
“corrupto”. Ou seja, o trabalho humano foi destrutivo, este
mesmo verbo é usado no Antigo Testamento para descrever
assassinato (Judg.20:21, 25, 35, 42; 1 Sam.26:9), guerras (2
Sam.11:1; 1 Chr.20:1) e extermínio ou aniquilação (Dan.9:26).
Deus daria ao homem a mesma coisa que já estavam fazen-
do. Esta descrição não é estranha em nosso tempo, na verda-
de, Apocalipse descreve o futuro fim do mundo como o tem-
po “ para destruir aqueles que destroem a Terra” (Ap. 11:18). O
verbo “destruir”, usado para o trabalho humano e obra divina
finalmente, é o mesmo, em diafthéiro grego, e é o verbo equi-
valente ao shachat em hebraico.

4. COMO A CRIAÇÃO E O DILÚVIO SE RELACIONAM COM


O FIM DO MUNDO? (2 PEDRO 3:6-7)
❝ pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado
em água. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela

74
mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estan-
do reservados para o Dia do Juízo e destruição dos ho-
mens ímpios.
2 Pedro 3:6-7

As palavras com as quais esses versos começam, “Estes


ignoram”, “estes” referem-se aos “zombadores” (v.3), que não
acreditam que Cristo retornará uma segunda vez para acabar
com o mundo. Eles dizem: “Onde está a promessa de seu ad-
vento? Pois a partir do dia em que os pais dormiram, todas as
coisas permanecem como fazem desde o início da criação”
(ver.4). Não só essas pessoas não acreditam que Cristo vol-
tará uma segunda vez, mas também negam o evento históri-
co da inundação, uma vez que “todas as coisas permanecem
como têm sido desde o início da criação”. Do ponto de vista
dele, se nunca houve um fim do mundo antes, nunca haverá
no futuro. Além de negar, o fim passado e o futuro, eles zom-
bam dos cristãos que aguardam a segunda vinda de Cristo.
O apóstolo Pedro dá três argumentos como prova de que
a segunda vinda de Cristo, que traz o fim deste mundo e o
início de um mundo de felicidade, é real. O primeiro desses
argumentos é baseado nos primeiros capítulos de Gênesis,
no passado remoto Deus já destruiu o mundo por causa do
pecado humano. Se é assim, por que ele não poderia fazê-lo
novamente? Quando o apóstolo enfatiza que “nos tempos an-
tigos, os céus e, também, a terra foram feitos pela palavra de
Deus”, é porque o poder de destruir o mundo inteiro só pode-
ria vir do mesmo criador que tinha poder para criar este mun-
do por sua palavra. O próprio Moisés usa no texto hebraico
várias técnicas literárias para o leitor associar à criação do
mundo com o fim do mundo na inundação, e o mundo após
a inundação com uma nova criação. Não é à toa que muitas

75
pessoas em nosso tempo também não acreditam na segun-
da vinda de Cristo, porque também não acreditam em uma
inundação universal ou na arca de Noé, ou mesmo na criação
sobrenatural.

76
17

A SEGUNDA VINDA E O FIM DO


MUNDO EM GÊNESIS - 2
1. QUÃO UNIVERSAL FOI O DILÚVIO?
❝ Porque estou para derramar águas em dilúvio sobre a ter-
ra para consumir toda carne em que há fôlego de vida de-
baixo dos céus; tudo o que há na terra perecerá.
Gênesis 6:17”

❝ Pereceu toda carne que se movia sobre a terra, tanto de


ave como de animais domésticos e animais selváticos, e
de todos os enxames de criaturas que povoam a terra, e
todo homem. Tudo o que tinha fôlego de vida em suas nari-
nas, tudo o que havia em terra seca, morreu. Assim, foram
exterminados todos os seres que havia sobre a face da
terra; o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus
foram extintos da terra; ficou somente Noé e os que com
ele estavam na arca.
Gênesis 7:21-23

Com a teoria da evolução de Darwin e a teoria de Lyell so-


bre o realismo e o uniformitarismo, ambos do século XIX, os
homens da ciência negaram a possibilidade de uma inunda-
ção que poderia exterminar a vida na Terra. Desde meados
do século XX, a evidência do catastrofismo era inegável, de
modo que a ciência atual aceitava parcialmente a inundação
como um meio de extermínio, mas não aceitava a inundação
bíblica universal, mas apenas inundações locais, em diferen-
tes tempos e lugares.

77
Se a corrupção era universal, uma vez que “toda a carne”
havia sido corrompida (Gn. 6:12), e “toda a terra” foi afetada
(Gn. 6), as afirmações: “destruir todas as carnes em que há
um espírito de vida sob o céu” (Gn. 6:17), “todas as carnes que
se movem na terra morreram” (Gn. 7:21), as águas cobertas “a
face de toda a terra” (Gn.8:9) e, assim, eles também descre-
vem a destruição universal. A história da criação e a história
do dilúvio usam muita linguagem comum, isso sugere que,
como a criação é universal, a inundação também foi, de fato,
a inundação é apresentada como uma ruína da criação origi-
nal e Noé e seus três filhos como um novo Adão com seus três
filhos. Se a inundação não fosse universal, mas apenas local,
não haveria necessidade de construir uma arca para preser-
var os seres vivos; animais e humanos de outros continen-
tes teriam continuado sua existência; Noé e sua família só
teriam que migrar para um lugar mais seguro. Não podemos
dizer que a arca era necessária porque Noé não teve tempo
de emigrar, já que Deus esperou 120 anos antes de trazer a
catástrofe.
O termo “inundação” usado em Gênesis é mabúl, termo
usado no AT hebraico exclusivamente para a inundação de
Noé (Gn. 6:17; 7:6, 7, 10, 17; 9:11, 11, 15, 28; 10:1, 32; 11:10; Ps.
29:10). O texto grego usa a palavra kataklysmós, da qual o
termo “cataclismo” é derivado do espanhol. Nenhuma outra
catástrofe é assim chamada no Antigo Testamento. O dilúvio
foi um evento único, assim como a segunda vinda de Cristo
será um evento único. Uma das evidências de uma inundação
universal é que todas as culturas, dos cinco continentes, têm
um relato de uma inundação universal da qual uma família foi
salva em um barco, advertida por uma divindade. Também
os relatos escritos mais antigos e a iconografia das primei-
ras culturas conhecidas grafam este evento. Além disso, há

78
várias semelhanças nas contas da Ásia, América, África, Eu-
ropa e Oceania, que não nos permitem pensar em uma mera
coincidência ou inundações locais. Os fósseis em si são evi-
dência da inundação, porque os organismos quando morrem
não fossilizam, mas “tornam-se poeira novamente”, pois a
fossilização requer água e destruição súbita. Fora isso, geó-
logos e paleontólogos encontraram inúmeros detalhes que
só se encaixam com uma inundação universal.
Se a inundação do Gênesis fosse realmente universal, as
teorias da evolução e do realismo e do uniformitarismo co-
lapsam, porque não seria possível atribuir milhões de anos
entre cada camada estratigráfica, uma vez que uma catás-
trofe como a descrita no Gênesis seria suficiente para a for-
mação de quase todas ou todas as camadas, afetando um en-
terro maciço. Por esta razão, os teóricos evolucionários não
podem aceitar a evidência do dilúvio.

2. QUE OUTROS PARALELOS TEMOS ENTRE O DILÚVIO


E A SEGUNDA VINDA?
❝ Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para
sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão
cento e vinte anos.
Gênesis 6:3

Deus poderia ter destruído o ser humano naquele exato


momento em que ele avaliou a situação da humanidade, suas
obras mereciam um fim, no entanto, Deus esperaria por mais
120 anos, esse tempo constitui um tempo de graça para a raça
humana. A graça divina não era passiva, pois Deus encarre-
gou Noé de pregar durante esses anos anunciando a inun-
dação. Naqueles anos, Noé também construiria uma arca,

79
que era um objeto visível de sua fé. Noah estava disposto a
investir todos os seus recursos financeiros, seu tempo e o de
sua família para um projeto que se não fosse real, seria uma
grande perda. Um antediluviano só poderia concluir duas coi-
sas, ou Noé realmente recebeu revelação de Deus de que um
fim do mundo virá ou Noé é um mentiroso ou um louco. No
entanto, como as pessoas conheciam Noé, sabiam que ele
era um homem justo, temente a Deus, equilibrado, incapaz
de inventar uma mentira dessa magnitude, eles tiveram que
decidir aceitar seu convite e estar dispostos a desistir de sua
vida pecaminosa, ou rejeitar o chamado de Deus por meio de
Noé e arriscar as consequências. Pelo esforço de Noé, visua-
lizamos o amor paciente de Deus.
Na experiência de Noé, podemos, portanto, ver uma pro-
clamação alta e um tempo de graça. Durante esses 120 anos
que Noé pregou na terra, Deus também fez uma obra no céu.
Gn.6 começa com uma avaliação da humanidade por Deus,
uma avaliação que se concentra nos “filhos de Deus” e sua
apostasia (Gn 6:1-2), a pregação de Noé era para todos os se-
res humanos, independentemente de serem descendentes
de Caim ou Sete, durante esse período de pregação dos “fi-
lhos de Deus” poderia se arrepender na terra e Deus no céu
os avaliaria favoravelmente, o mesmo para uma cainita. Por-
tanto, com esses 120 anos iniciados no céu um julgamento
investigativo antes do fim, este julgamento é mais uma vez
de oportunidade, mas a última vez de oportunidade.

Ao lermos o texto bíblico, percebemos que o tempo de


graça para a geração de Noé não terminou no dia em que co-
meçou a chover, mas sete dias antes: “O Senhor então disse
a Noé: ‘Entre você e toda sua família na arca, pois só você já
viu diante de mim nesta geração’” (Gn.7:1), uma vez que Noé,

80
sua família, e os animais entraram na arca e a porta estava
fechada, a tão esperada tempestade não veio. Deus decla-
rou: “E depois de sete dias, eu vou chover na terra quarenta
dias e quarenta noites; e eu vou apagar da face da terra cada
ser vivo que eu fiz” (Gn 7:4). Noé obedeceu às instruções de
Deus e “No sétimo dia, as águas da inundação vieram sobre a
terra..., todas as fontes do grande abismo foram quebradas
e as quedas do céu se abriram, e havia chuva sobre a terra
quarenta dias e quarenta noites” (Gn 7:10-12). Da mesma for-
ma, antes que Cristo retorne uma segunda vez para pôr fim a
este mundo, a porta da graça se fechará no céu (Ap. 15:5-8),
e Cristo declarará: “Aquele que é injusto, que ele ainda seja
injusto; aquele que é impuro, deixe-o ainda ser impuro; aque-
le que é justo, pratica a justiça ainda, e aquele que é santo,
santifica-se ainda mais” (Ap. 22:11).
A declaração divina, “’Insira você e toda sua família na
arca, pois só você já viu diante de mim nesta geração’” (Gn.
7:1), mostra que Noé e sua família constituíram o remanes-
cente fiel antes do dilúvio, o último e único grupo de pessoas
que acreditaram, esperaram e se prepararam para o fim. Da
mesma forma, Apocalipse nos fala de um remanescente fiel
antes do fim da história deste mundo (Ap. 12:17), este rema-
nescente é chamado de “os 144.000” (Ap. 7 e 14:1-5). Este
grupo também pregou a mensagem de aviso final (Ap. 14:6-
13; 10:11), e foram salvos (Ap. 15:2-4). Outro paralelo entre a
inundação de Noé e a segunda vinda de Cristo é que os dois
cataclismos são de origem divina, Deus pode empregar a
natureza que ele criou, mas é sua intervenção e sua decisão
que pode acabar com o mal sem possível oposição. Além dis-
so, ambos os lados do mundo são seguidos por uma nova ter-
ra, porque o propósito final do fim não é a destruição, mas a
salvação dos fiéis e a erradicação do mal.

81
3. E DEPOIS DO DILÚVIO O QUÊ? (GN.9:1-2, 8-9)
❝ Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fe-
cundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Pavor e medo de
vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as
aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os
peixes do mar nas vossas mãos serão entregues.
Gênesis 9:1-2

❝ Disse também Deus a Noé e a seus filhos: Eis que estabele-


ço a minha aliança convosco, e com a vossa descendência,
Gênesis 9:8-9

Embora o dilúvio tenha sido uma catástrofe trágica, o úl-


timo recurso de Deus para preservar o bem terminou com
bênção, a mesma bênção de frutificar, multiplicar e encher
a terra que havia sido dada ao primeiro homem quando tudo
estava muito bem (Gn 1:28-31). Deus quer começar tudo de
novo. Deus não quer a morte, mas a vida, e para que ela se
multiplique (Eze.18:32). O fim do mundo passado e do mundo
futuro pode ser ilustrado com um câncer, uma pessoa que é
descoberta um tumor cancerígeno, a única alternativa para
ele viver é remover o tumor, mesmo que isso signifique per-
der um membro, um olho, um órgão interno etc. É a última
medida do médico, não com o propósito de amputar ou ex-
terminar uma parte do corpo, mas com o propósito de salvar.
Suponha que um homem da selva, que nunca conheceu a
civilização, seja levado para uma cidade e entre em uma sala
de cirurgia, onde encontra uma pessoa inconsciente, amar-
rada a uma cama, seminua e alguns homens com os rostos
cobertos estão abrindo o peito para remover seu coração
(em uma cirurgia de transplante), provavelmente o aboríge-

82
ne conclui que eles estão matando essa pessoa, ele pensa-
ria que os médicos que tentam salvá-lo são assassinos e é
provável que ele ataque profissionais de saúde e liberte o ho-
mem amarrado sem saber que ele está causando sua morte.
É assim que Deus às vezes é julgado por nós, quando não sa-
bemos a malignidade do pecado ou o risco de sua existência.
É interessante que toda a seção de inundação, que no
texto hebraico seria o capítulo 3 do livro, abrangendo o Gn.
6:9-9:29, começa com estas palavras: “Estes são os descen-
dentes de Noé” (Gn. 6:9); a próxima seção que começa com o
capítulo 10 começa com a seguinte afirmação: “Estes são os
descendentes dos filhos de Noé” (Gn. 10:1). Se você se lembra
que nós dissemos que Gênesis realmente tem 12 capítulos e
todos, menos o primeiro, começam com a palavra hebraica
toledot, que é traduzida nesses textos como “descendentes”.
O interessante é que toda a seção do dilúvio (Gn. 6:9-9:29)
é subdividida em 21 parágrafos, em que cada parágrafo do
início tem um paralelo com um parágrafo correspondente
no final da história, formando o que chamamos de quiasma.
Quiasma pretende revelar o mais importante de cada histó-
ria no centro da estrutura. Bem, o centro de toda a conta da
inundação é Gn.8:1 que diz que “Deus se lembrou de Noé e
todos os animais e todas as bestas que estavam com ele na
arca.” Então Deus não agiu arbitrariamente na inundação, e
não esqueceu a humanidade ou os animais, Deus é um Deus
que sempre nos lembra.
Deus também fez um pacto com Noé, sua família, toda a
humanidade e todos os seres vivos, que a aliança foi de mise-
ricórdia, nunca mais destruindo a terra com uma inundação.
Deus colocou um sinal para esta aliança, o arco-íris que se
forma em uma tempestade quando o sol nasce. Deus, neste
caso, usa as leis naturais que ele criou para dar esperança no
meio de uma tempestade. A bênção divina, a soberania hu-

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mana, a dieta e a aliança de misericórdia (Mangueira 6:7) im-
plicam que Deus deu à humanidade uma nova oportunidade,
em uma nova terra.

4. O MAL PODE SE ERGUER DE NOVO? (GN.9:20-22)


❝ Sendo Noé lavrador, passou a plantar uma vinha. Bebendo
do vinho, embriagou-se e se pôs nu dentro de sua tenda.
Cam, pai de Canaã, vendo a nudez do pai, fê-lo saber, fora,
a seus dois irmãos.
Gênesis 9:20-22

A história da embriaguez de Noé repete o ciclo da que-


da. Gn.9 começa com a bênção de Deus para um novo “Adão”,
em um mundo renovado. Mas a bênção divina é rapidamente
seguida por uma nova maldição, agora de Noé a um de seus
descendentes (Gn. 9:25). Observe as semelhanças: Adão e
Noé pecam consumindo um fruto (fruta proibida; fruto da
videira); os dois são deixados nus; exigir alguém para co-
brir sua nudez; de ambos, três filhos são mencionados pelo
nome; em ambos os casos, um filho é mau (Caim; Cam) e dois
são bons (Abel-Sete; Sem-Jafé). O relato é curto e lacônico,
não temos muito fundo, porém podemos notar que Cam “viu”
a nudez de seu pai como Eva “viu” o fruto proibido. Ver levou
Eva a uma ação pecaminosa, comendo-o; a visão levou Cam a
uma ação pecaminosa, zombando de seu pai. Cam não tenta
cobrir seu pai, mas chama seus irmãos para tirar sarro dele.
Seus irmãos consideram a nudez de seu pai sagrada e o co-
brem sem olhar para ele.
Deus escolheu a família de Abraão, depois o povo de Is-
rael, depois a igreja cristã, mas o mal sempre foi massifica-
do dentro dos eleitos de Deus e Deus teve que separar um
remanescente. Parece que a vitória do bem sobre o mal e o

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extermínio do pecado são sempre temporários, ciclicamente
malignos brotam novamente e se enraíza e cresce a ponto de
afogar a boa semente. No entanto, nem sempre será assim.
A promessa da aparição do Messias (Gen. 3:15) em duas idos
promete a destruição final não só do mal, mas de seu cria-
dor, a “antiga serpente”. Já os profetas no Antigo Testamen-
to anunciaram uma derrota definitiva sobre o mal (no.1:9;
Eze.28:29). A revelação é explícita, a última visão de João so-
bre Patmos, a da nova Jerusalém, evocando a linguagem da
criação fala de novos céus e nova terra (Ap.21:1-2), um lugar
em que “Deus limpará cada lágrima de seus olhos; e não ha-
verá mais morte, chega de choro, chega de choro, chega de
tristeza, pois as primeiras coisas já passaram” (Ap. 21:4). Lá
o próprio Deus e o Messias viverão com o redimido (Ap. 22:3),
em uma cidade “sagrada”, onde o rio da água da vida e a ár-
vore da vida que estavam no Éden voltarão a crescer e nunca
mais desaparecerão (Ap. 22:1-2).
Nesta cidade, não existe mais uma “árvore do conheci-
mento do bem e do mal”, porque todo o universo já conhe-
ceu o mal, especialmente a raça humana. A garantia de que o
mal não se erguerá novamente é o Cordeiro no meio do trono,
cujo sangue redimiu a humanidade e vindicava a justiça de
Deus diante do universo. Esse interminável lugar-tempo será
tão diferente de tudo o que experimentamos que o apósto-
lo Paulo diz: “Aqueles que não viram nem ouviram nem ou-
viram nem subiram ao coração do homem, são aqueles que
Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Cor.2:9). Mesmo
o apóstolo de longa data que deu sua vida pelo evangelho foi
capaz de assegurar: “Tenho certeza de que as aflições do
tempo presente não são comparáveis com a glória que vem
se manifestar em nós” (Rom.8:18). Você quer fazer parte da-
queles que gostam dessa vida sem fim?

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